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Tecnologia Educacional – ANO XXXI – N OS 161/162 – Abr./03 – Set./03 77 Lições aprendidas em experiências de tutoria a distância: fatores potencializadores e limitantes 1 Taís Rabetti Giannella 2 Miriam Struchiner 2 Regina Maria Vieira Ricciardi 2 Resumo: Muito embora diferentes classificações sobre o papel do tutor/orientador a distância venham sendo amplamente discu- tidas na literatura, ainda há poucos dados ancorados em pesqui- sas sobre a prática de tutoria em contextos a distância, mediados pelas novas tecnologias da informação e da comunicação. Tendo em vista que estas informações são de fundamental importância para o planejamento de ambientes e processos educativos a dis- tância, este trabalho tem como finalidade oferecer subsídios para esta discussão, com base na análise dos resultados obtidos – as lições aprendidas – sobre os fatores potencializadores e limitantes do trabalho de tutoria/orientação a distância, em três estudos so- bre programas de EAD, via web. Palavras-chave: Tutoria/orientação a distância; fatores potencializadores e limitantes 1 Apoio: CNPq, CAPES, PAPED/SEED/MEC 2 Laboratório de Tecnologias Cognitivas NUTES/UFRJ. [email protected]; [email protected]; [email protected]

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Tecnologia Educacional – ANO XXXI – NOS161/162 – Abr./03 – Set./03 77

Lições aprendidas emexperiências de tutoria adistância: fatorespotencializadores elimitantes1

Taís Rabetti Giannella2

Miriam Struchiner2

Regina Maria Vieira Ricciardi2

Resumo: Muito embora diferentes classificações sobre o papeldo tutor/orientador a distância venham sendo amplamente discu-tidas na literatura, ainda há poucos dados ancorados em pesqui-sas sobre a prática de tutoria em contextos a distância, mediadospelas novas tecnologias da informação e da comunicação. Tendoem vista que estas informações são de fundamental importânciapara o planejamento de ambientes e processos educativos a dis-tância, este trabalho tem como finalidade oferecer subsídios paraesta discussão, com base na análise dos resultados obtidos – aslições aprendidas – sobre os fatores potencializadores e limitantesdo trabalho de tutoria/orientação a distância, em três estudos so-bre programas de EAD, via web.Palavras-chave: Tutoria/orientação a distância; fatorespotencializadores e limitantes

1 Apoio: CNPq, CAPES, PAPED/SEED/MEC2 Laboratório de Tecnologias Cognitivas NUTES/UFRJ. [email protected]; [email protected]; [email protected]

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Abstract: Although the roles of distance education tutors havebeing widely discussed in the literature, there are still few dataanchored in research based on tutor’s praxis in real distanceeducational contexts Considering that this information is of greatimportance for planning distance learning processes andenvironments, this paper has the objective to offer arguments tothis discussion, based on the results and analyses from threedistance education experiences. Based on the lessons learned wepresent the factors that may facilitate or limit the distance tutoring/orientation work.Keywords: distance tutoring/orientation; influencing factors.

1. Introdução

A pesquisa e o desenvolvimento deambientes de aprendizagem a distânciatêm contribuído com o movimento dereflexão e questionamento sobre o campoeducacional. Este movimento aponta paraa necessidade de integrar novosconhecimentos e materiais que contribuampara a melhoria da qualidade do ensino,viabilizando não apenas mudançascurriculares, mas também, um ensinoativo, que enfatize a autonomia e apesquisa, bem como a cooperação entreas pessoas envolvidas no processo deaprendizagem (DEMO, 1994;JONASSEN, 1998; LAURILLARD,1999; STRUCHINER et al., 1998). Valeressaltar que, embora os desafios lançadospor este movimento não sejam, eminstância alguma, peculiares à educaçãoa distância (EAD), o desenvolvimentodestes ambientes de aprendizagem temcriado oportunidades de repensar velhosmodelos, a partir de novas modalidades.

É com a visão de que a EAD não di-fere da educação presencial em sua es-sência, mas em aspectos pontuais, quedevemos discutir o modelo de EAD quedesejamos e suas implicações. Isto signi-

fica que grande parte dos conhecimentosenvolvidos no processo educativo e nasatividades de ensino-aprendizagem sãofundamentais para a EAD que, para su-prir a distância física, lança mão de ins-trumentos, materiais e meios adequadospara que todos os participantes tenhamacesso às fontes de informação, parti-cipem ativamente do processoeducativo, trocando experiências e re-lacionando-as ao mundo em que vivem,recebendo apoio e orientação para estefim (STRUCHINER & GIANNELLA,2001). Neste sentido, um dos elementoscruciais de reflexão e renovação do pro-cesso educativo é a relação professor-aluno. Em especial, a reformulação do pa-pel do professor na relação pedagógica éuma das características fundamentais daEAD, que se apóia na “tutoria/orientação”realizada com o suporte de diferentesmeios e ferramentas pedagógicas. Estareformulação ganha relevo quando a pro-posta educacional está pautada em umaabordagem inovadora, que está centradano papel ativo do sujeito na atividadeeducativa. Principalmente, quando o atoeducativo é entendido como um momen-to de construção de conhecimento, de in-tercâmbio de experiências e de criaçãode novas formas de participação.

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É neste contexto que o presente ar-tigo se desenvolve, tendo como objeti-vo fundamental discutir, a partir da aná-lise de três experiências de EAD, osprincipais fatores potencializadores elimitantes da atividade de tutoria/orien-tação a distância.

2. O papel do tutor/orientadora distância: competências eestratégias

Alguns autores questionam o con-ceito de tutoria, ressaltando que o “pro-fissional potencializador da aprendiza-gem” além de complementar e facilitara mediação pedagógica deve estabele-cer uma “comunicação empática” como estudante (COELHO, 2003; GOLD,2001; GUTIERREZ, 1996). Pensar nes-te mediador ultrapassa o conceito de tu-toria já que, analisando o significado dapalavra, tutor é aquele que tutela, queampara, confere proteção, dependên-cia e sujeição (STRUCHINER et al.,1998). Essas características não fazemparte do perfil de um profissional de umambiente de aprendizagem que buscaa potencialização do ato educativo numaação participativa, criativa, relacional e,principalmente, reflexiva. Assim, esteprofissional será mais bem denomina-do facilitador, orientador pedagógico ou,como optamos neste texto, tutor/orientador: integrar o conceito de ori-entação valoriza a idéia de educar pelapesquisa. Portanto, remetendo ao con-texto universitário, ressalta-se que o pro-fessor deve assumir o papel deorientador e, assim como em sua rela-ção com seus orientandos de pesquisa,deve se caracterizar como alguém que,tendo produção própria, motiva o alunoa produzir também (DEMO, 1994).

Para os tutores/orientadores apoiaremo processo de aprendizagem dos alunos,Jonassen (1998) propõe os seguintes ní-veis de orientação: Tutoramento(scaffolding), Treinamento (coaching)e Modelagem (modeling). O tutoramentodá um suporte sistemático ao estudante,até que este seja capaz de agir sozinho,como, por exemplo, iniciando uma tarefa,demonstrando os procedimentos e, pos-teriormente, deixando que o aprendiz dêseguimento à atividade de maneira autô-noma. O treinamento objetiva motivar osalunos, analisar suas atividades, promo-ver feedback e dar conselhos, provocarreflexões e articular os conhecimentosadquiridos. A modelagem caracteriza-sepor oferecer ao aluno um exemplo docomportamento ou da atividade pretendi-da, por meio de relato de casos pareci-dos, mostrando como as soluções foramtomadas ou demonstrando como um es-pecialista perseguiria a solução de umdeterminado problema. O aluno analisaos procedimentos e as soluções, compa-rando-os com o problema que precisaresolver, e tenta encontrar suas própriasrespostas. Desta maneira, percebe-se aexistência de três níveis de atividade e desuporte para o aluno, que vão desde umacompanhamento mais estruturado e di-reto até o mais aberto, que possibilita alivre iniciativa do aluno (STRUCHINERet al., 1998).

Aretio (2001) aponta que a quanti-dade de características e competênci-as recomendadas para a atividade deorientação a distância é muito extensae, neste sentido, procura enfatizar qua-tro principais qualidades, sem as quaistodas as demais podem fracassar: Cor-dialidade: fazer com que os alunos sesintam “bem-vindos”, respeitados e con-

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fortáveis; Aceitação: aceitar/compre-ender a realidade do aluno que, em seuscontatos com o tutor/orientador, devese sentir participante ativo do proces-so; Honradez: ser verdadeiro e autên-tico; não deixar que o aluno crie expec-tativas falsas sobre o que se pode ofe-recer; manifestar honestidade, não as-sumindo uma postura de “professordono da verdade”; Empatia: colocar-se no lugar do outro; envolver-se comos sentimentos dos alunos, aproximan-do as relações.

Aliada a estas qualidades, Aretio(2001) ressalta ainda mais uma: a ca-pacidade de desenvolver uma escuta/leitura inteligente, isto é, o tutor deveprocurar escutar/ler o que se diz/escre-ve intencionalmente, ou inconsciente-mente. Com isso, espera-se animar o es-tudante a expressar seus sentimentos epreocupações sem constrangimento.Para o desenvolvimento desta qualida-de, Aretio (2001) indica as seguintes re-comendações: (1) procurar remeter aidéia dominante que o aluno acabou dedizer/escrever, resumindo ou parafrase-ando suas palavras, evitando emitir opi-nião ou crítica, de maneira a estimularsua reflexão e fazendo-o prosseguir; (2)evitar perguntas que podem ser respon-didas com “sim” ou “não”, ou aquelasiniciadas com “Por que”; estas pergun-tas tendem a quebrar o fluxo natural dopensamento dos alunos, são restritivas epor possuírem uma natureza de interro-gatório, podem colocar os alunos em umapostura defensiva; (3) compreender o si-lêncio; muitas vezes, um espaço de tem-po sem diálogo é necessário para a re-flexão e a tomada de decisão pelo alu-no; o tutor/orientador deve procurar es-tar atento se o silêncio indica desânimo

ou possível desistência, ou tempo neces-sário para a reflexão/ação individual.

O desenvolvimento de todas estasqualidades revela a importância doaspecto humano das relações, que deveser elevado ao máximo, possibilitandoo estabelecimento de um processoeducativo onde haja uma relaçãoemocional de confiança, amizade ecumplicidade (SANTOS, 2002).Segundo Krelling (2001), este tipo derelação é essencial para o crescimentodo aluno, contribuindo para minimizarproblemas como a alta evasão noscursos de EAD.

Muito embora estas classificaçõessobre o papel do tutor/orientador adistância venham sendo amplamentediscutidas na literatura (ARETIO, 2001;BERGE, 1995; GUTIERREZ, 1996;JONASSEN, 1998; KRELLING, 2001;SANTOS, 2002), ainda há poucos dadosancorados em pesquisas sobre a práticade tutoria em contextos a distância,mediados pelas novas tecnologias dainformação e da comunicação. Tendoem vista que estas informações são defundamental importância para oplanejamento de ambientes e processoseducativos a distância, este trabalho temcomo finalidade oferecer subsídios paraesta discussão, com base na análise dosresultados obtidos em três estudos sobreprogramas de EAD, via web.

3. Análise das trêsexperiências de EAD

A presente análise foi realizada apartir do levantamento e da caracteri-zação dos principais fatores identifica-dos como potencializadores e limitantes

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do trabalho de tutoria/orientação, noscursos investigados. Os estudos anali-sados contaram com três principais fon-tes de dados: observação do desenvol-vimento dos cursos, realização de ques-

tionários e entrevistas (com alunos, tu-tores/orientadores e coordenadores).

No quadro 2, são apresentadas ascaracterísticas gerais destas três ex-periências.

Em relação ao curso A, verificou-se que não houve um processo de sele-ção de tutores/orientadores. Os profes-sores, que integravam o departamentoque oferecia o curso, foram convida-dos a participar da experiência, rece-bendo remuneração para cada alunoque completasse as atividades do cur-so. Uma das razões, segundo o coorde-nador do curso, para utilizar os profes-sores do próprio departamento, era apossibilidade de associar os recursos dainstituição ao programa de EAD. Os tu-tores foram orientados para o desem-penho de suas atividades em workshopcom duração de dois dias, coordenadopela assessora pedagógica. No início do

curso, havia a proposta de uma reuniãopresencial mensal com os tutores, o queocorreu apenas durante os três primei-ros meses, já que os tutores não conse-guiam mais conciliar seus horários. Foiverificado que a comunicação entre tu-tores e alunos foi bastante falha, nãoapenas por problemas tecnológicos (ofórum, única ferramenta disponível,apresentou diversos problemas), comopor uma falta de entendimento e com-preensão sobre o papel da orientaçãono curso (ALCÂNTARA, 2001).

Em relação ao modelo de tutoria/ori-entação do curso B, o curso contou comduas tutoras, profissionais com domíniodo conteúdo tanto do ponto de vista teó-

Quadro 2: Características básicas das experiências descritas

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rico quanto prático. Vale ressaltar queas tutoras tinham também prática do-cente no ensino presencial, mas nuncahaviam participado de cursos a distân-cia. Foram orientadas pela coordena-dora (que participara da elaboração docurso), em relação ao modelo do pro-grama, às atividades pedagógicas e aodesenvolvimento de suas funções deorientador/facilitador, numa abordagemconstrutivista de aprendizagem. A co-municação entre alunos, tutores/orientadores e coordenação foi facili-tada pela existência de diferentes fer-ramentas de comunicação: quadro deavisos, e-mail e fórum de discussão(CARVALHO, 2000).

Como o curso C fazia parte de umaexperiência piloto, não se planejouoferecê-lo para um grande número departicipantes. Assim, visando estabele-cer uma dinâmica aberta e informal, nãose previu a existência de um modelo detutoria/orientação formal, mas sim de umcoordenador para orientar as atividades,preferencialmente por meio de espaçoscoletivos, como o fórum e a monitoria.Posteriormente, como o curso contoucom um grande número de inscrições,optou-se por dividir, aleatoriamente, osalunos entre três orientadoras, para queos participantes pudessem direcionar osproblemas ou as dificuldades pessoaisque preferissem não publicar nas áreasde comunicação coletiva, não sobrecar-regando assim a coordenação. Nestesentido, o papel das orientadoras foi o deatender e orientar dúvidas e/ou questõesmais pessoais provenientes dos alunos.A coordenadora, que era uma dasorientadoras, foi quem assumiu o papelde gerenciamento, mobilização e orien-tação do processo educativo, no sentidocoletivo. A interação entre os participan-

tes contou com as mesmas ferramentascomunicacionais oferecidas no curso B(GIANNELLA, 2002).

3. Lições aprendidas

A partir das três experiências rela-tadas, apresenta-se uma síntese dos fa-tores que potencializaram ou limitaramas atividades de tutoria/orientação adistância.

Os fatores que potencializaram asatividades podem ser classificados emtrês categorias: fatores pedagógicos,tecnológicos e gerenciais.

Fatores pedagógicos:Estratégia pedagógica baseada

na resolução de situações-problemaEste modelo pedagógico, utilizado

no curso (B), permitiu envolver as ex-periências dos alunos, estimulando odesenvolvimento de uma aprendizagemativa e autônoma. Ao mesmo tempoem que exigia maior dedicação e ela-boração por parte do tutor/orientador,tornou a atividade de tutoria/orienta-ção mais aberta e flexível. Esta estra-tégia não é a melhor, nem a única quepropicia os elementos acima citados,mas, configura um exemplo oportunopara o desenvolvimento de ambientesconstrutivistas de aprendizagem.

Diversidade de ferramentas comu-nicacionais

A possibilidade de utilizar ferramen-tas comunicacionais com funções es-pecíficas (quadro de avisos, e-mail efórum de discussão, por exemplo) faci-lita o trabalho do tutor/orientador, poispermite atender diferentes estilos deconversação (interação mais pessoal ou

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coletiva, por exemplo). As ferramentascomunicacionais possibilitam diminuir asensação de isolamento nos cursos deEAD, potencializando a construção co-letiva de conhecimento.

Familiarização dos tutores comtodos os elementos e estrutura do curso

O habitual, em cursos a distância, éque haja equipes especializadas para asdiferentes etapas de desenvolvimento eimplementação. Normalmente, este pro-cesso envolve especialistas de conteúdo,desenhistas instrucionais, programadoresvisuais e de informática, além de tutores/orientadores. Os tutores/orientadores qua-se nunca participam do processo de con-cepção e planejamento do curso. Portan-to, é necessário que se familiarizem tantocom o conteúdo, como com a abordagempedagógica e o ambiente de aprendiza-gem. Esta familiaridade garante maiorsegurança e domínio em relação ao pro-cesso educativo, o que potencializa a ati-vidade de tutoria/orientação.

Fatores tecnológicos:Existência de ferramentas de acom-

panhamento das atividades do cursoUma vez que todas as atividades

acontecem a distância, as ferramentasde acompanhamento facilitam as ativi-dades dos tutores, criando estratégias deorganização do trabalho e gerenciamentodas atividades dos alunos. Assim, a par-tir destas ferramentas, os tutores/orientadores podem visualizar o númerode acessos, os caminhos percorridos, osmateriais consultados e enviados etc. Nocurso (A), os tutores podiam acompa-nhar as atividades a partir do históricode navegação dos alunos. Embora faci-lite o trabalho, esta ferramenta ainda

deverá ser aperfeiçoada, já que sua “lei-tura” e interpretação não é tão amigá-vel. No curso (B), os tutores/orientadorescontaram com a ferramenta de Alunospor orientador (cadastro dos alunos re-lacionados ao orientador), Controle deAcesso (disponibiliza os dados sobre arotina de utilização do curso pelos alu-nos sob sua orientação) e Análise dostrabalhos (dá acesso à visualização ecorreção dos trabalhos dos alunos). Nocurso (C) os tutores não contaram comqualquer ferramenta de gerência.

Fatores gerenciais:Liderança da coordenação do cursoÉ fundamental que a coordenação do

curso se coloque no papel dos tutores paraconhecer e vivenciar o processo educativoe melhor gerenciar a dinâmica do curso.A coordenação deve assumir o papel deintegração da equipe, potencializando asatividades dos tutores.

Apoio de monitores tecnológicosTendo em vista as inúmeras dificul-

dades com o uso da tecnologia, aindaapresentadas pela maioria dos partici-pantes (coordenadores, tutores e alunos),o apoio de monitores especializados é umelemento muito importante para auxiliaras atividades de tutoria. Os monitores nãoapenas apóiam as dúvidas dos alunos,como as dos próprios tutores. Os tuto-res, assim, ficam liberados da sobrecar-ga das dúvidas dos alunos em relaçãoao uso da tecnologia e podem se con-centrar na orientação pedagógica.

Na classificação dos fatores que li-mitaram as atividades de tutoria/orien-tação, além das três categorias apre-sentadas acima, identificou-se a cate-goria “fatores culturais”.

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Fatores pedagógicos:Falta de experiência com a prática

de orientação a distânciaAs atividades de EAD ainda são

uma novidade para a maioria dos pro-fessores, lançando inúmeros desafiospara as suas práticas docentes. Dificil-mente será possível transferir os mes-mos hábitos/estratégias da sala de aulapara as atividades de EAD, o que traz,de início, uma certa insegurança paraos professores. Com a prática, novascompetências são desenvolvidas parao melhor aproveitamento das atividadesde tutoria/orientação.

Falta de uma compreensão sólida ecomum sobre a abordagem pedagógicaproposta

Embora, atualmente, grande partedos cursos de EAD sejam apresentadoscomo propostas inovadoras econstrutivistas, nem sempre isto é com-patível com os modelos oferecidos. Alémdisso, nem sempre existe uma compre-ensão sólida sobre este modelo, que sejacompartilhada por todos os profissionaisenvolvidos. No processo de planejamentoe desenvolvimento de um curso, é fun-damental, além da análise profunda ecrítica sobre qual a visão educativa queo curso pretende oferecer, propiciar es-tratégias de discussão e integração des-ta visão com toda a equipe. Isto pos-sibilita o desenvolvimento profissionale pessoal de cada um e favorece aconcretização de um projeto coletivo.

Problemas nas ferramentas comuni-cacionais – limitação da interatividadeentre os participantes

Como as ferramentas comunica-cionais são o principal meio de contatoe diálogo entre os participantes, quan-

do há problemas técnicos as ativida-des de tutoria ficam prejudicadas, li-mitando a interatividade e distancian-do a comunidade.

Capacitação de tutores limitadaaos aspectos técnicos do curso

Grande parte dos cursos decapacitação para tutores se limita aosaspectos técnicos relacionados ao usodas ferramentas do curso. Os aspectospedagógicos e os elementos e estraté-gias peculiares da EAD são, muitasvezes, deixados em segundo plano ounem abordados, o que acaba prejudi-cando o desempenho dos tutores. Istose deve a dois principais motivos: 1) àfamiliaridade ainda pequena em relaçãoaos aspectos pedagógicos envolvidos naEAD e 2) ao fato de se considerar que,sendo professores, estes já são compe-tentes na prática pedagógica.

Fatores tecnológicos:Limitações técnicas do uso da

tecnologiaAs limitações tecnológicas de nossa

rede de computadores ainda são bastanteintensas, o que dificulta muito as ativida-des a distância pela internet; dentre aslimitações, pode-se citar a lentidão darede e o seu custo de uso. A dificuldadede acesso à internet é um dos elementosque mais provoca a desistência e oinsucesso desta modalidade de EAD.

Fatores gerenciais:Pequeno tempo de dedicação dos

tutoresA falsa idéia de que a EAD exige

menos tempo de dedicação dos profes-sores ainda persiste. Na verdade, as ati-

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vidades de EAD, quando realizadas comseriedade e com a visão de priorizar osprocesso de autonomia, interação e co-operação, acabam requerendo dos pro-fessores um tempo de dedicação maiordo que o imaginado. Isto pode acabartrazendo conflitos e desorganização parao processo educativo, dificultando as ati-vidades de tutoria/orientação. É neces-sário ter sempre em mente que as ativi-dades de EAD requerem, além das de-mandas normais de qualquer atividadeeducativa, uma reorganização das rela-ções de ensino-aprendizagem, o que éum grande desafio e exige maior tempode dedicação e compromisso.

Fatores culturais:Desafios do modelo pedagógico

que privilegia uma postura mais ativae autônoma dos alunos

A cultura da transmissão do conheci-mento ainda está enraizada em nossa so-ciedade, dificultando o desenvolvimentode propostas educativas mais abertas queestimulem uma postura ativa e autônomados alunos. Geralmente, os alunos man-têm uma postura passiva, esperam que oprofessor dite todo o andamento do pro-cesso educativo e desejam receber sem-pre respostas prontas para as suas dúvi-das. Um dos papéis dos orientadores/tu-tores é procurar transformar esta visão,redirecionando suas práticas para umaação de apoio ao aprendizado.

Limitações culturais do uso datecnologia

O primeiro passo para o orientadorpassar confiança e segurança para osseus alunos a distância é demonstrarconforto com a tecnologia, procurandoconhecer a fundo todo o ambiente, seus

recursos e ferramentas. Isto tambémfacilitará o atendimento às dúvidas téc-nicas dos alunos.

Dificuldade de lidar com situaçõesonde os alunos apresentam maior conhe-cimento sobre determinado conteúdo

Pela facilidade de enviar perguntase comentários diversos (a qualquer hora,quando desejar) e pela abertura e flexi-bilidade propostas em muitos ambien-tes de aprendizagem, pode acontecerde os orientadores receberem questõesque não saibam responder. Isto pode serembaraçoso para os professores, quedevem aprender a lidar com estas situ-ações. É sempre bom poder relembrarque a atividade educativa é uma ativi-dade de construção social, que se dápor meio da troca e cooperação de di-ferentes conhecimentos e expertises.

Dificuldade de exposição, devidoà linguagem escrita

A falta de familiaridade com o for-mato de interação viabilizado pelainternet, onde idéias e posicionamentossão registrados de forma permanente,através da expressão escrita, pode serum fator de inibição que explica a par-ticipação de caráter mais observadorde alguns participantes. Esta posturamais observadora pode acabar limitan-do as atividades dos tutores, que de-vem procurar alternativas para orien-tar estes alunos.

4. Conclusões

Tendo em vista a idéia de que o alu-no a distância deve encontrar em si mes-mo as motivações e as necessidades paraaprender, sendo capaz de fazer opções

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sobre seu próprio processo de educação,apresenta-se um grande desafio para aEAD, que é o de estabelecer pedagogiamenos diretiva, onde os alunos possamdefinir seus ritmos, preferênciascurriculares e de metodologias de apren-dizagem. O planejamento do processoeducativo deve levar em conta as habili-dades e competências dos participantes,assim como suas condições socioculturais(situação familiar, profissional, social,ambiental). Como discutem Struchiner etal. (1998), a mediação pedagógicaconstrutivista pode ser traduzida em com-petências do tutor/orientador, que deverácompreender a construção do conheci-mento como um processo dinâmico erelacional; deverá ter uma visão clara dametodologia a ser realizada, dos proces-sos adequados de avaliação e desenvol-ver uma postura de atuação compatívelcom esta visão. Desta maneira, o tutor/orientador possui um papel fundamental,direcionando seus esforços napersonalização da EAD, mediante umapoio sistemático e organizado, que ajudeos alunos na utilização dos materiaiseducativos oferecidos, que propicie o es-tímulo e a orientação individual e coletiva,facilitando e motivando as situações deaprendizagem. No entanto, esta inegávelimportância relegada ao tutor/orientadordeve vir acompanhada da compreensãode que sua atuação, como foi apresenta-do neste trabalho, é influenciada por umasérie de elementos. Assim, como pode serobservado em nossas Lições aprendi-das, os fatores envolvidos no trabalho detutoria/orientação a distância contemplamdesde aqueles relativos à concepção pe-dagógica do curso (fatores pedagógicos),passando pelos relacionados aos recur-sos e ferramentas disponíveis para auxili-ar o seu trabalho (fatores tecnológicos e

gerenciais), indo até a postura e expecta-tiva dos alunos, além da visão sobre o pro-cesso de ensino-aprendizagem, contem-plada por todos os participantes envolvi-dos (fatores culturais).

Finalmente, vale ressaltar que aliteratura define tantas listas dequalidades e recomendações para otrabalho de tutoria/orientação a distânciaque, para alcançá-las, precisaríamos deperfeitos “super-homens” (ARETIO,2001); na verdade, mais do que procurarseguir recomendações, é necessário tera oportunidade de refletir sobre elas, coma prática e com os possíveis erros.

5. Referências bibliográficas

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