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O Sistema Público de Escrituração Digital, Sped, promete acabar com a sonegação. Saiba como ele impacta a economia, as empresas e a sua vida FISCALIZADO SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO PERFIL: O LEGADO DE ANTÔNIO LOPES DE SÁ, O MAIOR CONTABILISTA DO BRASIL SOFTWARES: PROGRAMAS QUE AJUDAM A EVITAR FALHAS NA CONTABILIDADE PASSO A PASSO: TODO O CUIDADO É POUCO NA HORA DE IMPLANTAR A NF-ELETRÔNICA nota fiscal eletrônica Edição exclusiva Mastermaq 3 de setembro de 2010 | Edição II www.revistaencontro.com.br

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O Sistema Públicode EscrituraçãoDigital, Sped,

promete acabarcom a sonegação.

Saiba comoele impactaa economia,as empresase a sua vida

FISCALIZADOSORRIA,VOCÊESTÁSENDO

�PERFIL: O LEGADO DE ANTÔNIOLOPES DE SÁ, O MAIORCONTABILISTA DO BRASIL

�SOFTWARES: PROGRAMASQUE AJUDAM A EVITAR FALHASNA CONTABILIDADE

� PASSO A PASSO: TODOO CUIDADO É POUCO NA HORADE IMPLANTAR A NF-ELETRÔNICA

nota fiscal eletrônica

Edição exclusiva Mastermaq3 de setembro de 2010 | Edição II www.revistaencontro.com.br

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Encontronota fiscal eletrônica

6 PerfilAntônio Lopes de Sá: uma vida aserviço da contabilidade brasileira

8 EntrevistaO Sped e a Nota Fiscal Eletrônicavistos por Antônio Lopes de Sá

13 TecnologiaEscritórios contábeis e empresasficammais integrados

14 CapaConheça o novo Sistema Públicode Escrituração Digital, o Sped

18 Passo a passoNa hora de implantar a NF-e,todo cuidado é pouco

22 SoftwaresProgramasque evitamproblemasna emissãodaNF-e

25 ArtigoBomba tributáriade efeito retardado

26 EmpresasUsiminas: pioneira naadoção da nota eletrônica

27 ArtigoComprei mercadoria comNF-e denegada. E agora?

28 Tira-dúvidasPerguntas e respostas sobrea Nota Fiscal Eletrônica

30 ArtigoAlexandre Atheniensee os riscos da fiscalização

Fotos: Cláudio Cunha

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4 ||Encontro

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Diretor Geral/Editor André Lamounier

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carta do editor

André Lamounier – Diretor/[email protected]

Encontro

Uma das qualidades do bom jornalista é saber traduzir em linguagem comumtermos técnicos e muitas vezes incompreensíveis para a maioria dos leitores. En-contro decidiu fazer um suplemento sobre Nota Fiscal Eletrônica por entender queo assunto pode mudar a vida das empresas e, por consequência, das pessoas e da so-ciedade. Mas o que significa Nota Fiscal Eletrônica? Como vai afetar nosso cotidiano? Exa-

tamente para responder a questões como essas é que nos propusemos decifrar otema. A maioria de nossos leitores, seguramente, cresceu ouvindo dizer que o Brasilé um país de elevada carga tributária. Ou seja, uma nação cujos impostos que recaemsobre a sociedade e suas empresas são muito maiores do que a média mundial e doque seria razóavel supor. Isso asfixia os negócios e muitas vezes exige que empresase pessoas físicas busquem na sonegação um instrumento para fugir das garras doLeão. O Brasil, todos sabem, é também um país de elevada sonegação fiscal. O novomodelo de escrituração contábil proposto pelo governo, denominado Sped, quer aca-bar com isso. Será possível? Vai implicar aumento nos custos das indústrias e co-mércio e, consequentemente, maior valor para os produtos consumidos? Isso otempo vai nos dizer. Fato é: muita coisa pode mudar com o novo sistema. Para a tarefa de tradução convocamos o jornalista Deca Furtado, experiente pro-

fissional que durante anos trabalhou na revista Exame, das mais respeitadas publi-cações de economia e negócios do país. Coube a Deca, por um capricho da natureza,o desafio de ter sido o último jornalista a entrevistar o professor Lopes de Sá, consi-derado o papa da contabilidade no Brasil, que veio a falecer, subitamente, alguns diasdepois. “Foi uma conversa maravilhosa”, disse Deca. “Ele era um homem encantadore nada dizia que a morte o rondava”. A simpatia entre o professor e o jornalista foi imediata e, por alguns momentos,

Deca esqueceu a formalidade, deixou o gravador de lado e se envolveu numa pales-tra leve, tenra e bem-humorada. “Demos muitas risadas”, disse. “Falamos de vinhos,música e viagens”. O resultado desse agradável momento pode ser conferido em duasmatérias deste suplemento. Numa delas, um perfil, que pelas circunstâncias impla-cáveis e incompreensíveis da vida se transformou numa homenagem póstuma queDeca fez sobre Lopes de Sá, num texto absolutamente primoroso e de arrepiar. Naoutra, uma entrevista para discutir tecnicamente a questão em pauta: o novo modelofiscal proposto pelo governo. A revista Encontro pensou também numa maneira de externar seu sentimento

pela perda do professor Lopes de Sá. Assim como fazem habitualmente os veículosde televisão, concluímos que a forma mais adequada seria o silêncio, suprimindo asúltimas linhas deste editorial. Fique em paz, professor.

Até a próxima, caro leitor.

O silêncio que fala

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Deca Furtado

Aos 83 anos de idade, completadosem abril, Antônio Lopes de Sá, a maiorautoridade em contabilidade no Brasil,quiçá no mundo, foi-se no dia 7 de ju-nho, surpreendido por um infarto.Completamente lúcido, e no auge dopoder de gerar conhecimento, ele mor-reu ainda encantado pela vida, queamava tanto quanto a esposa Édila, ostrês filhos, a contabilidade, os vinhos, osqueijos, os autores clássicos, comoDante Alighieri, a ópera – La Traviataera a sua predileta – e Portugal, país quepelo qual foi distinguido com o títulode cidadania.Doze dias antes, nada dizia que a

morte rondava o professor, como Lopesde Sá era mais conhecido. Ele dera entãoà revista Encontro sua última entrevista,reproduzida logo adiante e, para come-morá-la, regou o pós-bate-papo com umbom vinho do Douro, acompanhado pordelicioso camembert. Alegre, divertido (tinha uma gostosa

e às vezes irônica risada), contador depiadas, ele não precisava de mais do quealguns minutos para cativar quem querque fosse, ou por ser culto e pela arte deesgrimir as palavras sem parecer pe-dante, ou pelo lado pessoal, pois pareciater nascido gentleman.

As ciências contábeisperdem Antônio Lopesde Sá, sua maiorestrela no país e talvezem todo o mundo

Cláudio Cunha

perfil

6 ||Encontro

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Um fabricante de conhecimentoLopes de Sá, belo-horizontino de nas-

cimento – sua família habitava o Curraldel-Rei antes mesmo da fundação da ci-dade –, também era cidadão do mundo.Duas, três e até mais vezes por ano ele iaà Europa atrás das óperas, gosto que de-senvolveu ainda na juventude, quandotambém se apaixonou pela química. “Fizo primeiro ano de engenharia química”,revelou na entrevista. Mas, como a família era pobre, ele se

viu obrigado a trancar a matrícula. Tra-balhava então na extinta Mesbla e era oresponsável pela contabilidade de custosda oficina. O gerente lhe abriu os olhos.“Ele me disse: ‘Você já trabalha na área.Ora, por que não faz ciências contábeis?A faculdade é mais barata do que a dequímica’. No mesmo dia me matriculeina Faculdade Brasileira de Comércio”,contou Lopes de Sá. Isso foi em 1943.Depois disso, o professor trabalhou,

durante muitos anos, para o moinho deFelício Brandi, ex-presidente do Cruzei -ro, time da sua paixão. Mas, desde crian -ça, o mestre não dedicou muito tempoao futebol. Ele preferiu dar bola para oaprendizado de línguas – aos 9 anos deidade, garantiu à Encontro, escrevera umpequeno dicionário de grego. Por issonão teve maiores problemas para se tor-nar fluente nesta língua e em inglês,francês, italiano, latim e alemão. Tampouco para escrever 158 livros –

seu Dicionário de Contabilidade, de 1950,é um best seller: vendeu, segundo ele,50 mil exemplares no país e foi tradu-zido para vários outros, além de merecercitações de inúmeros autores de todo omundo. Por isso, até hoje qualquer es-tudante de contabilidade se forma nosclássicos contábeis escritos por Lopes de

Sá, que são tão imorredouros quanto alei das Partidas Dobradas, pedra filosofalda contabilidade. Esse lado, de gerador de conheci-

mento contábil, é destacado por todos osque com ele conviveram. “Ele dizia queo contador precisa compreender os pon-tos filosóficos e científicos da contabili-dade, porque ela tem três finalidades:atender o empresário, o mercado de ca-pitais e o fisco. No Brasil, o viés fiscal pre-ponderou e levou o contador a uma pos-tura tecnicista. Ora, para auxiliar oempresário na tomada de decisão, aquestão filosófica é mais importante doque a técnica. Ele queria que o contadorpensasse mais”, diz Roberto Dias Duarte,autor do livro Big Brother Fiscal – O Bra-sil na Era do Conhecimento.A sapiência e a produtividade vi-

nham mais da transpiração do que dainspiração. Às 4h da madrugada ele selevantava para ler, na internet, jornaisamericanos e europeus. A jornada detrabalho ia até as 23h e era quebrada ape-nas às 14h30 pelo almoço, sempre re-gado a um bom vinho e um bate-papocom a mulher, com quem conversavaolhando, da varanda da casa de quatroandares, o belo panorama que se des-cortina Serra do Rola-Moça abaixo. Ao al-moço se seguia uma sesta, que ninguémé de ferro. “Não fosse assim eu não dariaconta”, disse Lopes de Sá, sem se queixar. É que ele era consultor do Ministério

da Defesa, para quem verificava, com ri-gor ímpar, as contas das Oscips ligadasao ministério. Vale, Gerdau, Bradesco,Visa, Shell e uma penca de outras gran-des empresas o mantinham ocupadocomo perito contábil. Por isso, pelasmãos de Lopes de Sá passavam grossas

demandas judiciais, inclusive uma de800 milhões de reais, a maior do país nomomento, a envolver a Gerdau e a SulAmérica Seguros, numa disputa causadapela explosão em um alto-forno dausina de Barão de Cocais. “Meu clientevai ganhar por causa também do meuconhecimento acumulado”, profetizou. No pouco tempo que sobrava, Lo-

pes de Sá palestrava em Minas Gerais epaís adentro – nos últimos tempos par-ticipou de várias reuniões onde se dis-cutia a implantação do Sped, temadesta edição, e também para dar suasopiniões sempre bem embasadas. Eleainda se desdobrava para escrever arti-gos para sua página na internet. Ali,mesmo sem falar de sexo, futebol e ou-tros assuntos menos áridos que a con-tabilidade, já acumulara mais de 3,5 mi-lhões de acessos registrados, umrecorde. Cerca de 60 sites de todo omundo o honraram com convites, acei-tos, para escrever como colunista. Masele nunca abandonou sua coluna se-manal, publicada desde 1950, no Diáriodo Comércio, de Belo Horizonte.Durante a maior parte de sua vida, o

professor pertenceu à irmandade ma-çônica – o edifício-sede da maçonariaem Belo Horizonte foi construídotendo-o como Grão-Mestre, o quemuito o orgulhava. Por causa tambémdessa atividade, Lopes de Sá, que nuncafoi de se omitir em nada, andou metidoem política. “Nos idos de 1964, as pri-meiras reuniões de oficiais generais ecivis, que acabaram resultando na dita-dura militar e nos anos de chumbo, fo-ram feitas em minha casa. Eu me arre-pendi amargamente de ter participadodisso”, penitenciava-se. Amém. �

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entrevistaDeca Furtado

Antônio Lopes de Sá Fotos: Cláudio Cunha

“O Estado invadiu o domicílio”

Considerado a maior autoridade em contabilidade do país,professor Lopes de Sá critica ânsia fiscalista do governo

e a adoção de normas “americanas” de auditoria8 ||Encontro

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ouco antes de mor-rer, Antônio Lopes de Sá con-cedeu esta entrevista emque aplaude a criação daNota Fiscal Eletrônica (NF-e),rejeita o Sped, Sistema Pú-

blico de Escrituração Digital e as nor-mas internacionais de auditoria, clamapor reforma tributária, prevê maus diaspara os escritórios contábeis e critica oensino de contabilidade. Leia os princi-pais trechos.

ENCONTRO – O que o senhor tem contra as nor-mas americanas de auditoria?LOPES DE SÁ – Não tendo empresa de au-ditoria, meu interesse é indireto. Masveja, sou brasileiro e líder intelectual.Legiões de contabilistas se formaramnos meus livros, reeditados já há 50anos. Não existia, por exemplo, livrobrasileiro sobre auditoria. Eu escrevi oprimeiro. Eu poderia, com a idade ecom a situação econômica que tenho,ficar quietinho. Que é que eu tenhocom isso? Mas estou botando a boca notrombone mesmo sabendo que remocontra a maré. Ela é poderosa, pois in-clui os bancos. Eu não tenho por queter medo disso. Então, estou denun-ciando, porque meio século com prefe-rência do mercado quer dizer algumacoisa, penso eu. É um atestado de lide-rança. Ela me dá responsabilidades éti-cas e eu morreria intranquilo caso nãodenunciasse estas normas.

ENCONTRO – O que há de errado com elas?LOPES DE SÁ – Elas favorecem o engodocontábil. Porém, é preciso explicar quehá uma guerra pelo mercado mundialde auditoria. Algumas poucas e pode-rosas auditorias americanas queremdominá-lo em nível mundial, por meioda formação de um oligopólio. As nor-mas servem de armas. Vale lembrarque, no crashde 1929, houve um calotedas empresas com ações listadas nabolsa de Nova Iorque. Elas enganaramos aplicadores apresentando balançosfavoráveis quando, na verdade, esta-vam rotas. Era tudo uma miragem, osbalanços estavam maquiados. E, nãopodemos esquecer, a crise econômicamundial de agora é semelhante àquela.Só que, em 2008, bancos e fundos depensão é que mais fajutaram suas de-monstrações contábeis.

ENCONTRO – Com todo o aparato tecnológico hojeexistente, como se explica isso? LOPES DE SÁ – Graças aos auditores ame-ricanos. Eles são coniventes. Veja ofundo Madoff, a maior corrente da(in)felicidade do mundo, pois causouprejuízos de incontáveis bilhões de dó-lares. Ele era auditado! E muitos de seusfundos, que eram seus acionistas, tam-bém. Quando arguidas na justiça, asauditorias disseram: “Seguimos as nor-mas”. Ora, quem fez as normas, a partirde 1929, foram elas. A finalidade eratornar os balanços iguais, padronizadose seguidores de determinados princí-pios. Até aí, tudo bem. Acontece que asforças econômicas presentes nas bolsastêm seus interesses. São os bancos eseus fundos de investimentos. Eles sãoacionistas das empresas; reservam ofilé para si e o osso ao pequeno acio-nista.

ENCONTRO – É por isso que, nas comemorações dosbalanços, eles sempre erguem um brinde “aos nos-sos acionistas”? LOPES DE SÁ – (Rindo). Claro. Como a in-formação é muito importante, era pre-ciso produzir informações que davamgrandes lucros ou grandes perdas, por-que na grande perda os bancos com-pravam, mas já sabendo que havia umlucro embutido. No outro ano haviagrande lucro? Todos corriam para com-prar. Eles vendiam e assim, entre 1929 e1970, nunca perderam.

ENCONTRO – E isso continua?LOPES DE SÁ – Esse conluio foi estourado

na década de 1970 pelo Senado ameri-cano, que abriu um inquérito graças àsrevelações de um livro escrito pelo pro-fessor Abraham Briloff, da Universi-dade de Nova Iorque. O inquéritorendeu mais de 1.700 páginas. Chegou-se à conclusão de que o instituto ame-ricano dos contadores, o Fasb,dominado pelas forças das transnacio-nais de auditoria, estas por sua vez do-minadas pelas forças econômicas,faziam as normas ao jeito delas.

ENCONTRO – E então?LOPES DE SÁ – As oito maiores auditoriasda época, hoje reduzidas a quatro, asbig four (NR: KPMG, PriceWaterhouse-Coopers, Deloitte Touche Tohmatsu eErnst Young), fizeram novas normas econtinuam usando o Fasb para atenderaos seus particulares interesses. O jogoda mentira seguiu acobertado pela im-prensa americana. Ela mente. Mentepoderosamente, dizendo que é umamaravilha, porque o dinheiro correatrás disso. E o nosso governo, que temelementos das transnacionais entre osseus quadros, cuida da adoção dessapatifaria entre nós.

ENCONTRO – Mas as normas são as mesmíssimas?LOPES DE SÁ – Os interessados dizem queas normas são da inglesa Iasb ( Interna-tional Account Standards Board). A Iasbé o próprio Fasb, uma vez que na es-sência suas normas são as mesmas. “Euestou brigando com você”, dizem pelosjornais. Só pra inglês ver: as normas sãoas mesmas, a convivência é perfeita.Quem preside a Iasb é um dos sócios daKPMG, uma das big four. Meu Deus, étudo tão evidente!

ENCONTRO – Que perigos corremos com a adoção?LOPES DE SÁ – Aqui poderá ser pior, poisos fundos de pensão das estatais estãona bolsa e serão contaminados. As em-presas já mostram lucros fantasiosos

Com as normasamericanas de auditoria,as empresas vão sevalorizar artificialmentena bolsa”

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entrevistaporque, pelas normas americanas, sehipervaloriza o intangível, o fundo decomércio. Há uma maneira técnica decalculá-lo, como demonstro em meulivro Fundo de Comércio.Porém, depoisde dizerem, em 27 páginas, pode isso,não pode aquilo, as normas que estãoimpondo dizem: “Salvo se não houveroutro critério eleito pela empresa”. É ri-sível, pois os valores a serem lançadosno balanço passam a ser os de mercado.Na prática, os que a empresa quiser.Geralmente, elas lançam valores peloque se poderia vender.

ENCONTRO – Mas isso não é só uma probabili-dade?LOPES DE SÁ – Não. Na crise americana, osujeito comprava uma casa de 2 mi-lhões de dólares, com 40 anos de prazo.E o banco financiador nem queriasaber de verificar a capacidade de pa-gamento. Ele se embriagava com osjuros, que elevavam o total a 5 milhões.O banco então emitia um título, rela-tivo à probabilidade do lucro – chama-se derivativo. Ou seja, em cima dopoderia. A seguir, o comprador do tí-tulo lançava no balanço como futurode lucro, mais valorizado ainda. E ven-dia a outro. Essa corrente da felicidadeestourou porque veio a crise e o com-prador do imóvel se tornou inadim-plente. No Brasil poderá ocorrer omesmo. As empresas vão se valorizarartificialmente e levantarão dinheironas bolsas. Espertalhões se aproveita-rão para fazer dinheiro às custas de po-bres otários. Mais adiante, teremos

uma crise produzida por nós mesmos.Enfim, não há vantagem na adoção dasnormas. “A vantagem é a economia glo-balizada”, dizem. Mas nós não temosquase nada no mercado internacional!

ENCONTRO – Mas, porque o mercado aceita, seisso é uma coisa de futuro?LOPES DE SÁ – Esta é a pergunta e eu atéescrevi, recentemente, um artigo cujotítulo é: “O balanço é de futuro ou depresente”? O balanço não é uma foto-grafia do presente? Ou quando eu posopara uma fotografia você está me foto-grafando aos 98 anos? Isso é tão irra-cional que chega a ser risível. O pior éque a CVM, o Banco Central, o ConselhoFederal de Contrabilidade, nos obrigama seguir uma patifaria dessas. Que hou-vesse normas. Eu não sou contra isso.Mas facultativas. Do tipo “eu te aconse-lho a fazer isso”. Mas não obrigatórias. Ea consciência profissional? A ética?

ENCONTRO – O que o senhor diz da Nota FiscalEletrônica, a NF-e?LOPES DE SÁ – Boa ideia. Ela poupa mi-lhares de árvores e evita aquele pro-cesso enorme que travava tudo, o deobter talão para emitir nota fiscal, poispedida a autorização, está dada. Issomelhorou muito, muito mesmo.

ENCONTRO – E do Sped? LOPES DE SÁ – Como todo sistema, temprós e contras. Se a intenção era acabarcom a sonegação, a NF-e bastava. Euvejo no Sped um grave demérito: oprincípio constitucional da privacidadegarante o sigilo fiscal e contábil daspessoas. E empresas são pessoas jurídi-cas. Com o Sped, o Estado armou umBig Brother fiscal e invadiu o domicílio.Imagine uma indústria qualquer. Umaconcorrente, por vazamento, pode ficarsabendo onde ela compra, o que com-

pra, a que preço, como vende. Então,isso é grave, pois acaba com os segre-dos. A Coca-Cola, por exemplo. A fór-mula do refrigerante é um segredoindustrial. Ora, sabendo as quantida-des, pode-se deduzir a fórmula.

ENCONTRO – Mas o Leão não tem computado-res supervigiados?LOPES DE SÁ – A despeito de toda a segu-rança oferecida pela Receita Federal,quem pode garantir o não vazamentoem 100%?

ENCONTRO – O Sped fornece muitas informa-ções. Elas não podem ser usadas para melhorara gestão?LOPES DE SÁ – O Sped como um todo, não.A nota eletrônica, sim. Tanto o Spedquanto as normas não servem para ad-ministrar. A contabilidade gerencial émuito específica. É a própria empresaque vai determinar realmente o que in-teressa, porque cada uma é um uni-verso. O Sped é mais um custo Brasil,um complicador a aumentar a buro-cracia. Para piorar isso, o Sped introduznova exigência, o livro de controle daprodução. Nele se declara tudo: com-pras, produção, vendas, estoque... Nomundo existe paralelo para a NF-e.Para o Sped, não. Ele é pior do que o re-gime de Stalin.

ENCONTRO – O senhor vê alguma alternativa?LOPES DE SÁ – Há como escapar a ele:basta constituir uma nova firma e nelaoptar pelo lucro arbitrado. Neste re-gime não há escrita, o Sped é só paraaquelas empresas que declaram pelolucro real. Em troca, a empresa se sujei-tará a uma taxação maior.

ENCONTRO – Mas o Governo quer o Sped paratodas as empresas...LOPES DE SÁ – É o caso de entrar no Judi-ciário. Nenhuma empresa entrou;todas têm medo do aparato da re-pressão fiscal. A Receita Federal fezacordo com a Previdência e com ou-tros ministérios para cruzar as infor-mações. Fez até com a AgênciaBrasileira de Informações, a Abin.Virou policialesca. Mas é preciso en-trar, sim.

ENCONTRO – Com o Sped, como vão ficar as nor-mas de auditoria?

Dá para escapar do Sped. Basta abrir umanova empresa e optar peloregime do lucro arbitrado.Só que a taxação é maior”

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LOPES DE SÁ – Piora para todo mundo. Asnormas levam ao mascaramento darealidade e atingem tanto o investidorquanto o governo. Vai haver problematanto na área fazendária como na bolsa.A Receita poderia fazer o Sped de doisjeitos, com ou sem normas. Mas, sefizer pelas normas, a empresa podeapresentar um prejuízo que não teve.Então, não pagará imposto. Caberá àReceita descobrir a manipulação.

ENCONTRO – E como reverter tudo isso?LOPES DE SÁ – Só com outro Estado. Onosso é totalitário; a democracia é apa-rente. Depois dos militares, quemtomou conta do poder foram grupos.Golbery [NR: o general Golbery doCouto e Silva, todo-poderoso ministrodo Governo Geisel e criador do SNI-Ser-viço Nacional de Informações, por elemesmo reconhecido como “um mons-tro”] previu isso. Ele tinha seus defeitos,mas via longe; por isso acertou na pre-visão. Desde Sarney é assim. ‘Eu te douesse ministério e você vota isso pramim’. É o “dando que se recebe”, feitopara preservar o poder.

ENCONTRO – O que o senhor diz da nossa legis-lação fiscal?LOPES DE SÁ – Outro problema que sesoma aos demais. Temos uma legis-morragia, pois há duas modificaçõestributárias por hora no Brasil. Isso en-doidece qualquer contador e não é àtoa que sua carga de trabalho só au-menta. Ele já tinha de preparar de-monstrações contábeis diferenciadas

para a CVM, acionistas, Receita Federale secretarias da fazenda dos estados.Agora terá de fazer também para oSped federal e o estadual.

ENCONTRO – A diminuição do número de im-postos não aliviaria a carga dos escritórios con-tábeis?LOPES DE SÁ – Com certeza. O grosso dareceita do país é produzido por umnúmero bem pequeno de empresas.São as indústrias, o grande atacado, ogrande varejo e as grandes prestado-ras de serviços. Se o fisco as controla,pode muito bem deixar de lado oresto. Como não fazem assim, tiram acapacidade de iniciativa de todo omundo. Uma vez, na década de 1950,fui contratado pela prefeitura do Re-cife para simplificar seus impostos.Havia dezenas. Um deles não cobria ocusto de arrecadação. Reduzi-os amenos de 10 e a arrecadação subiu.Por isso posso dizer de cátedra queseria muito interessante para todoscaso o governo instituísse poucos im-postos. Uns três ou quatro seriam su-ficientes. Isso simplificaria muito osistema e baixaria o custo. Mas alega-se que a variedade dos impostosajuda a fazer a política econômica.Com mais impostos, o governo podeincentivar isso, desincentivar aquilo,etc. Acho completamente desnecessá-rio.

ENCONTRO – Não deveríamos nos espelhar emalgum outro país? Ou sermos criativos e instituiro imposto único, uma nova CPMF com alíquotamaior?LOPES DE SÁ – Não há país que adote umúnico imposto. Mas os Estados Unidos,por exemplo, têm o income tax. Por ele,quando compra gasolina, o consumi-dor paga todos os impostos, cabendo àUnião tirar a sua parte e repassar a dosestados e municípios. Quer dizer, se tri-butar na fonte, principalmente na in-dústria, o problema estará resolvido.

ENCONTRO – Tendo em vista o Sped, o que o se-nhor aconselha aos donos dos escritórios de con-tabilidade?LOPES DE SÁ – Eles vão ter de arrumarum bom sistema, um bom apoio deeletrônica, e treinar o pessoal parasaber utilizar o Sped, pois o sistemapode gerar prejuízos, já que basta di-gitar errado para gerar uma multa.Não é à toa que, nos encontros seto-riais, ou nos congressos de contabilis-tas, vejo estandes das companhias deseguro. Elas já descobriram mais umfilão lucrativo. Pensando bem, devemmesmo constituir um seguro de res-ponsabilidade civil, porque com oSped aumentará a probabilidade deerros e omissões e o governo está pe-dindo mais do que os escritóriospodem dar. Agora, eu estou vendopouca gente se mexendo. Muitos es-critórios estão ignorando o sistema. Éum grave erro: ele veio para ficar.

ENCONTRO – Os contadores estão muito aco-modados diante ao Sped?LOPES DE SÁ – Receio que muitos dosmais de 60 mil escritórios de contabi-lidade brasileiros venham a quebrar.A tendência daqui pra frente, casoestas exigências não sejam afrouxa-das, é da sobrevivência apenas dosgrandes escritórios. Haverá concen-tração e os pequenos terão de se fun-dir sob pena de seus donos terem dese empregar. Estou muito admiradocom o silêncio dos órgãos de classe,como os conselhos regionais de con-tabilidade e os sindicatos, que têmverbas enormes das contribuições obrigatórias e nada fazem.

ENCONTRO – O que o senhor acha do atual en-sino da contabilidade?LOPES DE SÁ – Para mim comete-se umcrime de lesa-pátria contra os estudan-tes ao se supervalorizar a parte instru-mental e fiscal em detrimento dafilosófica. Contabilidade, hoje, é umaciência e não apenas o levantamentoda informação. Ela estuda as relaçõesdo movimento da riqueza. Do jeito quevai, vamos produzir apenas apertado-res de parafusos para os escritórioscontábeis, pois as faculdades não estãoensinando a pensar, só a ler. Delas sósaem robôs. Esse é o crime. �

Golbery previu que o Brasil ia cair nas mãos de grupos.Acertou em cheio”

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Professor Roberto Dias Duarte

artigo

Passados mais de 10 anos da histeria causada pelo ‘Bug doMilênio’, quando praticamente nada aconteceu com o fun-cionamento dos sistemas, agora nossas empresas enfrentamprocesso mais grave. A implantação do Sistema Público de Escrituração Digital

(Sped) e da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) pode não ter o mesmoefeito psicológico do Bug, mas causará enorme impacto na eco-nomia. E é aí que mora o perigo.

É isso mesmo, pois além do atraso nessa nova etapa,com milhares de empresas obrigadas a emitir a NF-e aindaausentes do sistema e com isso atuando ilegalmente , mui-tos ainda desconhecem vários aspectos delicados dessa ques-tão. Trata-se, sem dúvida, de uma bomba de efeito retar-dado, que explodirá num futuro bem próximo. O Bug doMilênio perto desse problema tecnológico não passa de umestalinho de criança, acredite. O Sped e a NF-e estão obrigando o mercado a rever alguns

conceitos sobre segurança da informação. Na verdade, é amaior transformação empresarial – nunca vista antes nestepaís -, na qual até as micros, pequenas e médias empresas te-rão de aderir a padrões de gestão e tecnologia tão eficientesquanto as de grandes corporações.

Esse, certamente, é um dos maiores desafios: integrar acadeia produtiva tecnologicamente, de tal modo que a trans-missão, a recepção pelo cliente e a guarda do documento ele-trônico não sofram danos de qualquer espécie. Para se ter uma ideia, existe atualmente um comércio clan-

destino de notas fiscais em papel, no qual se chega a pagar 50reais por folha. E com a NF-e, quanto vai custar um CD de da-dos circulando de forma marginal no mercado? Há pouco tempo, falar de segurança da informação ou de

software pirata era apenas para empresas grandes, mas agorao assunto vale para milhões organizações menores espalhadaspelo país. Assim, a legalização de softwares é fundamental para evi-

tar que dados sigilosos sejam enviados para outros locais,caindo até mesmo nas redes sociais. O uso de programas pi-ratas torna as empresas extremamente vulneráveis. Todos precisam pensar, mais do que nunca, em um modelo

de gestão confiável para as informações que trafegam. Hoje,muitos já utilizam sistemas hospedados em datacenter paraprover serviços tecnológicos e contábeis. É um outsourcingcompleto. Mas isso não basta. A preocupação número um deve ser o softwarepara auxi-

liar na gestão da empresa que tenha também a capacidade decompartilhar conhecimento armazenado na NF-e a seus clien-tes, fornecedores, contadores, transportadores e fisco. Esse é o grande desafio das empresas que entraram no sé-

culo XXI, em sua grande maioria, ainda com a mentalidade deEra Industrial, embora estejamos todos-querendo ou não; sa-bendo ou ignorando – participando intensamente da Era doConhecimento. Há muito se fala em alinhamento estratégico da tec-

nologia. Mas são raras e honrosas as exceções que conse-guem entender o caráter inovador e humano disso tudo. Chegou a hora de massificar o uso da tecnologia a favor

dos negócios e saber que são as pessoas que a fazem de fatofuncionar. Isto dá um enorme trabalho, porque implica sairda zona de conforto, uma vez que atender esse mercado tãogrande e diferente do usual não é uma tarefa nada fácil,convenhamos. Mas, como diz o ditado: “Sucesso só vem an-tes do trabalho no dicionário”. Não é?

Professor Roberto Dias Duarte, diretor da Mastermaq e coordenador acadêmico da ENC Escola de Negócios Contábeis, de São Paulo (SP)

Blog: www.robertodiasduarte.com.br

Seus tesourosestão protegidos?

12 ||Encontro

Page 13: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

A contabilidade está se digitalizando,e quem não está acompanhando esteritmo, seja por resistência ou descrença,está ficando para trás. Conversando coma contabilista e sócia-diretora da Asse-cont Assessoria Contábil, Arlete FerreiraRodrigues, este novo cenário se tornaclaro.Para ela, as novas formas digitais de

fiscalização reforçam a necessidade deaperfeiçoamento das rotinas contábeis eestreitamento no relacionamento com ocliente, que está ficando cada vez maisvirtual através da troca de arquivos digi-tais.Arlete encontrou vantagens nos soft-

waresda Mastermaq que facilitam o re-lacionamento com seus clientes e oatendimento às novas obrigatoriedadesda legislação, como a nota fiscal eletrô-nica mercantil (NF-e) e a de serviços(NFS-e).Dentre as vantagens de se utilizar o

NFS-e Web, solução da Mastermaq paraNFS-e, ao invés do software público, acontabilista destaca o “menor volumede erro, maior segurança na retenção

das notas, cadastro completo de clien-tes e serviços e o recebimento automá-tico dos dados de confirmação da notapor e-mail”. Outra grande vantagem ci-tada é a integração que o NFS-e Webproporciona, realizando a importaçãode dados da nota emitida diretamentepara o NGFiscal/MasterFiscal e conse-quentemente para o NGContábil/Mas-terContábil. Este processo de importa-ção e conferência de dados é muitomais rápido e seguro nos sistemas daMastermaq do que no público, em queas notas devem ser digitadas uma auma, conclui Arlete.A Assecont oferece diferenciais a seus

clientes, buscando inovações constantesatravés da tecnologia. Em seu site (www.as-secont.cnt.br), o escritório promove infor-mações relevantes com envio de informa-tivos periódicos, além de muitos outrosrecursos, tais como remessa de relatórios efolhas de pagamento, otimizando os ser-viços prestados aos clientes. A Assecontaderiu à tecnologia e essa escolha fez comque se tornasse uma empresa consolidadano mercado. �

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A contabilidade no contexto da era digital

Jean Michel Freire e Marilia Sodatelli Britto

tecnologia

Uso das novas tecnologias facilita comunicaçãoentre a prestação da contabilidade e os clientes

Sócia-diretora da Assecont, ArleteRodrigues: Buscamos inovalçõesconstantes através da tecnologia

Page 14: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

capaDeca Furtado

Há anos a sociedade brasileira so-nha com a eliminação de um cancroque corrói a economia, a sonegaçãode impostos, estimada em um terçodo PIB. Com o Sistema Público de Es-crituração Digital, o Sped, baseado naNota Fiscal Eletrônica, a NF-e, a utopiaficou mais próxima. “O Sped dificul-tará muito a sonegação”, diz Hermano

Lemos de Avellar Machado, superin-tendente da Receita Federal em Mi-nas.Desenvolvido de modo integrado

pela Receita Federal, estados, entes re-guladores, e, principalmente, os pró-prios contribuintes (como ressalta aReceita Federal), o Sped, que obriga asempresas a enviar suas demonstra-

Big BrotherFiscal

Se você não sabe o que significa Sped, é bom ir se acostumando. O novo sistema de controle fiscal e contábil do governo pode mudar a vida de sua empresa – e a sua também

14 ||Encontro

Page 15: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

ções contábeis e fiscais mensalmentepara o fisco, por meios eletrônicos,permitindo assim um controle muitomais efetivo, abre ótimas perspecti-vas: o número de sanguessugas da na-ção vai diminuir e a arrecadação su-birá nos níveis federal, estadual emunicipal.“O Sped induzirá à concorrência

justa e promoverá, de uma forma queo fisco não poderá controlar, a desbu-rocratização tributária, além de redu-zir o custo da arrecadação”, prevê LuizAlberto Noronha, gerente de planeja-mento tributário da Usiminas, pio-neira na emissão de NF-e no país. É verdade, o Sped traz benefícios.

Haverá ganhos ecológicos por causada economia com papel. Outro: a dis-pensa dos livros fiscais em papel e embreve de arquivos eletrônicos hoje jáexigidos. Outros mais: o Sped trazsimplificação, racionalização e padro-nização das informações. Adicionalmente, a informalidade

diminuirá. Era comum, por exemplo,a indústria vender diretamente ao vi-draceiro, um crime contra a ordem tri-

butária. O fisco pegará isso on line,pelo CPF do prestador de serviços. Asaída é este cidadão se tornar micro-empreendedor individual, o que serábom para a Previdência. Por sinal, játem indústria pagando a contribuiçãomensal para o vidraceiro e colocandoseu contador à disposição dele. O sistema é ainda um suporte para

acabar com a guerra fiscal interesta-dual e fazer as reformas fiscal e tribu-tária. “Isso também é Custo Brasil, poisé o contribuinte quem paga”, diz Pe-dro Meneguetti, secretário-adjunto deFazenda de Minas Gerais. “Logoadiante o governo poderá devolver àpopulação os ganhos que obtiveragora”, acrescenta. Talvez, quem sabe,isso virá na forma de redução de im-postos. Bom, muito bom mesmo! Contudo, além de aumentar os pre-

ços – a sonegação os mantêm artifi-cialmente mais baixos –, para empre-sários, contabilistas e tributaristas oSped é um Big Brother Fiscal desne-cessário, já que a NF-e daria conta deacabar com a sonegação. “Nada foifeito de supetão. Preparamos os con-tribuintes bem antes”, rebate OsvaldoScavazza, gerente do projeto de NF-eda Secretaria de Fazenda de Minas, aSefaz-MG. Meneguetti acrescenta: “Asempresas que querem crescer têm deagir de maneira legal”. O problema é o grande apetite, a

incontrolável sede do fisco por con-trole – leia-se poder (veja o quadro). Afim de devassar tudo, o Estado brasi-leiro quer ser onisciente e onipre-sente. E está a um clique da meta, poisas autoridades estão utilizando as

mais modernas ferramentas para su-portar a inteligência fiscal. “Há muitosanos profissionais extremamentecompetentes vêm planejando a inser-ção das entidades fiscais no contextoda Sociedade do Conhecimento, comobjetivo de aumentar absurdamente aeficiência fiscalizatória em nosso país.A fórmula mágica: muito investi-mento em hardware, software e nacapacitação de pessoas”, afirma Ro-

Secretário-adjunto de FazendaPedro Meneguetti: “Governo

devolverá ganhos”

Geraldo Goulart

O SPED JÁ PEGOUNF-e autorizadas e valor (acumulado até a data)

Quantidade: 265.672.732R$: 4.853.105.827.601,24

Quantidade: 145.630.826R$: 2.174.877.500.079,14

Quantidade: 351.297.709R$: 5.461.590.988.601,82

Quantidade: 1.034.298.374Total em R$: 38.933.803.953.162,54

Julho de 2009

Abril de 2009

Setembro de 2009

Maio de 2010

Encontro || 15

Page 16: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

capaberto Dias Duarte, especialista em im-plantação de NF-e.O Leão já tem hardware, software,

gente. O que ele ainda não tem – masterá em breve – é banco de dados. “Po-dendo comparar uma empresa comoutra, e ela consigo mesma ao longodo tempo, ele terá a média. Tendo mé-dias, terá tudo”, diz Roberto. Para ele, o Big Brother levará as empre-

sas a adotar a mesma fórmula mágica. Asorganizações terão de encarar os valores eos princípios da Era do Conhecimento oufechar as portas. “Faça a sua escolha ou o BigBrother escolherá por você”, aconselha o especialísta. Neste sentido, em Minas, a Sefaz já

deu mais uma volta no parafuso ao

instituir um Sped mineiro. Trata-se dolivro eletrônico de inventário. O deta-lhe é que ele agora é contabilizado nãomais pelo valor final, mas pela quanti-dade física. Verificar se o estoque batecom as compras e vendas vai virarbrincadeira de criança. Em nível federal, o Leão prepara

dois complementos para breve. Um éo projeto Brasil ID. Com ele, nenhumatransação escapará dos olhos doGrande Irmão: as mercadorias serãorastreadas, via satélite e por tagsde ra-diofrequência, da emissão da NF-e atéo destinatário. O objetivo do programa é liberar ra-

pidamente as cargas nos postos fiscaise, ainda, combater fraudes, bem como

roubos de cargas e veículos. Quando oBrasil ID estiver operacional, para fe-char de vez as porteiras da sonegaçãojá estará funcionando o CET-Conheci-mento Eletrônico de Transporte, a NF-e do setor. Por sua vez, o CET encontrará várias

novidades já em desenvolvimento emMinas. “Nossa tecnologia vinha desdea década de 1980, quando tínhamosmuitos postos de fronteira e um anelem volta de Belo Horizonte, todos fi-xos. Acabamos com estes”, diz GilbertoSilva Ramos, superintendente da Se-faz-MG. Eles deram lugar a postos volantes

equipados com leitores ópticos e ou-tros sistemas que leem a NF-e deforma dinâmica. O CET vai agilizar isso,pois os dados serão jogados num sis-tema de controle de carga em trânsito.Ele conterá o cadastro do contribuinte.Se o histórico for ruim, o destinatáriosofrerá fiscalização desde que a NF-efor emitida. “Todo o processo será apri-morado”, revela Ramos.Os novos sistemas exigirão menos

investimentos que o Sped (64 servido-res são empregados pelo Leão federal.A capacidade de armazenamento giraem torno de 150 terabytes de disco rá-pido e 120 TB de conteúdo fixo). Nasua implantação, os fiscos federal, es-tadual e municipal investiram cente-nas de milhões de dólares em hard-ware, software e capacitação – só naReceita Federal terão sido 157 milhõesde reais até o final de 2010. O investi-mento em grande escala só vai pararem 2012, pois até lá mais de 1 milhãode empresas vai migrar para as NF-e,uma inestimável contribuição doChile, que a inventou, a todo o mundo. Foi graças à brilhante concepção da

NF-e que o fisco centuplicou a capaci-dade de fiscalizar, já que, entre outrascoisas o comprador é forçado a vigiaro fornecedor. “O sonegador – por erroou má-fé –, se torna um exportadorde vírus fiscal”, diz Roberto. “O vírusinfecta a escrita fiscal e contábil dequem compra, pois a NF-e permeia to-dos os processos. Resultado: empresascom experiência já compram somentede quem emite de forma correta”. Duas medições dizem que a NF-e já

deu certo. Uma é o número de empre-sas emitentes. A outra é o número de

O MÉDICO E O MONSTRO, DOIS LADOS DO NOVO SISTEMA

O Sped tem um lado Dr. Jekyll,criação de Robert Louis Stevensonem O estranho caso do Dr. Jekyll e doSr. Hyde, popularizada como O Mé-dico e o Monstro. É o dos benefíciosà sociedade, como o ecológico – onão uso das notas fiscais vai preser-var milhares de árvores. Mas Mr.Hyde também está presente. OSped é o Big Brother total, tal comoprevisto por Orwell no romance1984. “Atrás do Sped tem coisa”, ad-verte o advogado Geraldo Vieira,presidente do grupo GV, de Belo Ho-rizonte. Para ele, o Estado brasileiro dourou

a pílula do Sped. Os indícios: em SãoPaulo, a partir de janeiro, até para to-

mar um cafezinho o consumidor teráde apresentar o CPF; todos os docu-mentos (passaporte, CPF, carteiras deidentidade e de habilitação) foram uni-ficados num único; as movimentaçõesdos contribuintes já são informadasao Leão por empregadores, bancos,cartões de crédito, Detran e cartórios.“Em 2011, se quiser, a Receita fará a suadeclaração de IR e a enviará para a suaconferência e assinatura”, diz Vieira. De acordo ainda com Vieira, poucos

perceberam a ação orquestrada do Es-tado, que aprimorou a legislação. O fis-cal da prefeitura, por convênio, podeatuar como um posto avançado do go-verno federal, que assim multiplicousua força-tarefa. O Ministério Públicovirou cobrador de impostos. Agora, seo sonegador não paga, o dinheiro podeser sacado da sua conta. “E não pagarimpostos dá cadeia. O empresáriodeve temer, pois se fornecer sem nota,o governo o junta ao comprador. De-pois, ele pega dois consumidores eacusa a todos de formação de quadri-lha, um agravante que aumenta apena”. Deu mais de cinco anos? É re-clusão, sem direito a liberdade vigiada.“Acabar com o Estado-vigia será muitodifícil; só com representantes com-prometidos com uma mudança quepreserve os interesses da sociedade e os do governo”.

Geraldo Vieira:”Atrás do Spedtem coisa”

Eugênio Gurgel

Page 17: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

Por causa do Sped, em cinco anoso Brasil estará na liderança do com-bate à sonegação na América Latina.Em 10 anos, estará pari passu com ospaíses desenvolvidos no combate àsonegação. No sistema, o cerco à so-negação começa antes mesmo daemissão da NF-e, pois a venda temde ser autorizada, via internet, pelaSecretaria de Fazenda. Ou seja, a mer-cadoria nem circulou e o fisco já sabeda transação. Ademais, na NF-e errar é proibido;

basta digitar errado e lá vem multa.Fora isso, 0 NCM, um código comumao Mercosul (cada mercadoria tem oseu) dedura o sonegador. Cruzandoas informações de compra e vendafornecidas pelo NCM com as de esto-que e outras, o fisco desmascara amaioria das falcatruas. Assim, quemcomprar um boi e vender dois cora-ções do mesmo animal pagará o pato.O fisco ainda lavrou mais um

tento porque daqui em diante o pesoda legislação se fará sentir por inteiro.Aspectos antes ignorados, como res-ponsabilidade solidária em qualquerproblema fiscal ou tributário, vão ga-nhar nova tonalidade. Ninguém sepreocupava com isso porque oLeão não tinha como fiscali-zar o universo deempresas brasilei-

ras. Ele pegava uma nota com alí-quota errada a cada milhão emitido.E sempre se podia alegar erro. “Com aNF-E, não. O Leão pode fiscalizar to-das. E ele é mais esperto do que todosos contribuintes juntos, além de termais aparato”, adverte Roberto DiasDuarte, guru da NF-e.A fiscalização na NF-e é só a pri-

meira instância. Se ela estiverok, vema segunda, via Sped fiscal e contábil.Cruzando as informações fiscais econtábeis com os dados da NF-e, ogoverno tem como saber tudo sobreas empresas. E ele vai “bater o caixa”.Para tanto, irá verificar a exatidão detodos os itens das declarações, bemcomo sua consistência. Ou seja, o es-toque terá de estar em conformidadecom as compras e as vendas.

O CERCO AO SONEGADOR

Tags (chips de radiofrequência)colocados nos produtos e em outroslocais serão embarcados noscaminhões. Nos postos fiscais, aconferência será quase como o semparar dos pedágios

Conectados a satélites de GPS, carga e caminhãoestarão seguros. Mas desde a saída da fábricaaté a entrega estarão também sob os olhosvigilantes do Grande Irmão

NF-e emitidas (veja o gráfico). Mas amelhor prova, talvez, é a arrecadação.Enquanto o PIB brasileiro cresceu 9%no primeiro trimestre, a arrecadaçãofederal subiu 15% mesmo com IPI re-duzido para veículos e outros produ-tos. Em Minas, onde 45% da arrecada-ção já é feita em cima da NF-e (aprevisão é de 92% em 2011), o cresci-mento foi parecido. “Ainda não esta-mos autuando por meio do Sped, umavez que só o primeiro módulo deleestá pronto”, revela Ramos. Por enquanto, entre os mais de 10

milhões de empresas do país, só estãoobrigadas a emitir NF-e e enviar os da-dos as que declaram pelo regime delucro real. O governo escolheu as pri-meiras levas a dedo: indústrias, ataca-distas-distribuidores e grandes vare-jistas – até o final de 2010, todas elasestarão obrigadas (veja, no site da Se-faz-MG, se a sua empresa já deveria es-tar emitindo NF-e. O desconhecimentocustará multa elevada). Porém, a partir de dezembro, toda

empresa que vender fora do estado deorigem, ou vender ao governo pormeio de licitação, passa também a es-tar sujeita. Com isso, na prática, apenaso pequeno comércio estará livre doGrande Irmão. Mas não da fiscaliza-ção: segundo José Eduardo FrançaNeto, da Sefaz-MG, as vendas delas porcartão de crédito, que antes passavambatidas, agora também estão sendomonitoradas pelo radar do fisco. Con-clusão: ninguém escapa. �

COM O BRASIL ID, O GRANDE IRMÃO VIGIARÁ TUDO

Cláudio Cunha

Roberto Dias Duarte:“O Leão é mais espertodo que todos oscontribuintes juntos”

Page 18: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

passo a passoDeca Furtado

A Nota Fiscal Eletrônica, a NF-e, vaiacabar com a nota fiscal em papel dostipos 1 e 1A, usadas em transações entreempresas. Até 2012, todas as firmas dealgum porte terão de emitir NF-e. Comisso, a empresa que baseia seu negócioem sonegação vai desaparecer. De acordo com Roberto Dias Duarte,

autor do livro Big Brother Fiscal – O Bra-sil na Era do Conhecimento, já na suaterceira edição, diante do inevitávelvocê deve adotar o quanto antes a NF-e,pois ela abre uma oportunidade de me-lhoria da gestão e de corte de custos.Há empresas que conseguem o retornoem até 15 dias. “Porém, antes de adotara NF-e, as empresas devem seguir umpasso a passo, o que evitará problemasmais adiante”.

O processo de implantação é maischato do que o fundo de uma chata. Háminúcias em demasia e por isso ele de-mora, em geral, de 1 a 3 meses (veja ográfico). Depende, por exemplo, daquantidade de produtos que a empresavende. Quanto maior o rol, mais de-morado. Se a empresa for muito pe-quena, em poucos dias tudo se resolve. Segundo Roberto, a NF-e não diz res-

peito a uma parte isolada e sim à em-presa inteira. Ele tem rodado o país afim de ajudar a implantá-la, mas sem-pre impõe uma condição: juntar odono da firma e todos os funcionários,por até 6 horas, para explicar que o pro-cesso permeia a empresa toda e nivelaro conhecimento de uma só vez. “Eu co-meço a explicar e de repente o moto-

rista diz: ‘Epa, quando eu entregar amercadoria, vai acontecer isto ouaquilo’. Assim, cada problema levan-tado encontra uma solução”. “Uma grande marcha se começa

pelo primeiro passo”, disse Mao TséTung. No caso, é a assinatura digital,nada mais do que um algoritmo. Ela énecessária porque a NF-e é um arquivo,do tipo XML (arquivo-texto), que viradocumento após ser assinado e passa ater validade depois de receber a assina-tura criptografada do presidente daempresa ou de prepostos. Para conseguir essa firma digital re-

conhecida, você, o dono – não pode seroutra pessoa – não vai a nenhum car-tório, mas à autoridade certificadora(Caixa Econômica Federal, Certisign,

Na hora de implantar,

Processo exige paciência, mas especialista garante: vale a pena investir

Fotos: Cláudio CunhaO administrador Roberto Dias Duarte: “Antes de passar à NF-e as empresas devem seguir um passo a passo para evitar problemas mais adiante”

todo cuidado é pouco

18 ||Encontro

Page 19: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

Correios, Prodemge, Serasa/AssociaçãoComercial de Minas e Sindicato dosContadores) com documentos pessoaise da empresa. Existem três tipos de assinatura di-

gital: a A1 (válida por um ano. É insta-lada no computador), a A3 (válida portrês anos, pode ser instalada num to-kemou smart card) e a Hsm (destinadaa grandes empresas). Antes de obter aassinatura digital, é bom ver –- paranão jogar dinheiro pela janela – qualé aceita pelo software da sua empresa.“É importantíssimo conversar com ofabricante de software”, aconselha Ro-berto. Quando você for ver isso, apro-veite para definir também questões dapolítica de TI da empresa, do tipo se aemissão vai ser hospedada ou se vai serlocal. Pode-se alugar um data centeroucriar ou aproveitar uma estrutura pró-pria, por exemplo.Bem, você assina em Belo Horizonte

e tem a validade da assinatura reco-nhecida, em segundos, no país inteiro.Beleza de tecnologia, né? Pois aí moraum perigo. A assinatura eletrônica podetrazer um monte mais um punhado deaporrinhações. Uma delas: entregue-a, com a senha,

a um funcionário qualquer e você terádado a ele, salvo se resguardado em pro-curação, um cheque em branco. “Se ofuncionário tem uma procuração ir-restrita e a senha, ele pode vender a tuaempresa, te casar, te descasar. Podetudo”, afirma Roberto. É preciso também se precaver contra

o mercado-negro de notas fiscais. Eleexiste porque, como você, seu concor-rente adora saber preços pagos e prati-cados pelos rivais, ainda mais se a in-formação custa uma merreca -- uns 50reais por documento xerocado. “Com aNF-e, o perigo aumenta”, lembra Ro-berto. Na verdade, mais do que duplica,

pois segundo pesquisas já realizadas,em 85% das fraudes eletrônicas quemtem culpa no cartório são os funcioná-rios. Se aquela moça que parece tão ino-fensiva pegar um pen drive e copiar to-dos os arquivos, aquele sigilo maisrecôndito, que você guardava a setechaves, já era. As duas providências a seguir são

mais simples e vão ocupar menos a suaatenção. Uma é comprar um software

para gerar a nota – existem mais de mildeles, mas poucos são realmente com-pletos (há um software, gratuito, dispo-nibilizado no site da Receita Federal.Contudo, ele é bem limitado). Outra é irà Secretaria de Estado de Fazenda, a Se-faz, e credenciar a empresa a emitirnota fiscal, o que é bem rápido. Feito o credenciamento, escolhido o

software, calma lá, pois ainda restamalgumas coisas a fazer antes de expedirNF-e. Ajustar o cadastro do cliente éuma. O CNPJ, a inscrição estadual, o en-dereço, tudo tem de estar certinho. O cadastro de produtos é ainda mais

importante. Cada um deve ter a alí-quota, a base de cálculo, enfim, todos osparâmetros contábeis e fiscais corretos.Configurá-los antes da emissão da notaé a boa; sem isso será um deus nosacuda. “E é o que mais acontece: o fatu-ramento errado”, afirma Roberto. Assim, errar está proibido. Antes da

internet, isso passava batido. A cada mi-lhão de notas, a Sefaz pegava uma, tal-vez duas. Depois da internet, não. A Se-faz não deixará de aprovar a emissãocaso algum desses parâmetros não es-teja nos conformes; não cabe a ela evi-tar erros (a autorização só não será dadaem caso de tentativa de fraude, já queos computadores da Sefaz verificam osaspectos legais, caso do cadastro do

contribuinte, mas não os mínimos de-talhes).Por isso, escreveu e não leu? Seu ór-

gão mais sensível, o bolso, vai gemer dedor. “Nota preenchida erradamenteatrairá multas, uma vez que no mundovirtual os erros e acertos se propagamna velocidade do pensamento e não nado papel. Em milissegundos um fiscalpoderá perceber e multar”, diz Roberto.Para piorar, o regime fiscal brasileiroparece ter copiado o jogo do bicho: nele,se você não acerta o primeiro prêmio,pode ser premiado do primeiro aoquinto. Já o fisco tem cinco anos para tepegar. Ou seja, em 2015, ela poderá temultar por um erro cometido em 2010.Mas, com o sistema configurado,

tudo certinho, você pode começar abrincar de soltar NF-e. É isso mesmo:em ambiente de teste, chamado de am-biente de homologação, a nota é emi-tida sem validade jurídica. Testado, aprovado, pode-se, enfim,

emitir a NF-e? Bingo. Só que, uma vez odocumento assinado, ele ainda não éuma nota e sim um arquivo que assi-nado virou documento. Ou seja, ele tema validade jurídica mas não a fiscal. Paraser válido, tem-se que, via internet, en-viar para a Sefaz. Ela analisa mais de400 campos e coloca um selo eletrô-nico com data, hora, minuto e segundo,nota a nota. Leva apenas alguns segun-dos para a Sefaz devolver. Depois disso, a nota é transmitida

pela Sefaz ao Portal Nacional da NotaFiscal Eletrônica, da Receita Federal, àSefaz do estado de destino da merca-doria e, quando for o caso, para a Su-frama-Superintendência da ZonaFranca de Manaus, Susepe-Superinten-dência de Seguros Privados e o Detran.Ou seja, o Grande Irmão tem ao menos6 pares de olhos bem grandes focadosem você – sem contar os incontáveissubolhos dos postos de fiscalização nasestradas e os das patrulhas volantes. Não fique caolho por conta disso. A

fila tem de andar: mande transportara mercadoria. Porém, a nota é virtual.Como o transportador vai provar à fis-calização que a mercadoria em seu po-der está acobertada por documentofiscal?Para resolver esta questão, foi inven-

tado o Danfe-Documento Auxiliar daNota Fiscal Eletrônica, que não tem

Por acordo com a Serasa, na Associação Comercial de Minas se pode obter certificação digital

Encontro || 19

Page 20: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

passo a passo

validade jurídica, só fiscal. “O Danfe éuma cópia da NF-e impressa em papelnormal, passível de falsificação”, dizRoberto. Cabe ao destinatário da mer-cadoria digitar o número do Danfe noPortal Nacional da NF-e – de imediatoele mostrará a imagem da nota—econferir tudo. Um doce para quem imaginou que

mais de 60% das empresas não estãoconferindo e correm o risco de com-prar mercadoria, na prática, sem nota.Ou com dados incorretos. Pela legisla-ção, quem recebe é solidário. Por isso, émuito importante conferir o Danfe,pois o fisco não manda flores nemaceita desculpas. Segundo ainda Roberto, as empre-

sas devem encarar a NF-e como umprojeto empresarial, de gestão. Todoseles, para darem certo, têm objetivos acumprir. No da nota eletrônica, omaior é o calendário fiscal. Os demaissão subalternos, mas é a partir delesque se chega ao objetivo maior. “Defi-nidos os objetivos, tem-se um crono-grama e um orçamento”. Se a empresadeseja ter 100% das NF-e emitidas ematé 30 segundos, haverá implicaçõesseriíssimas, pois ela vai precisar tertudo redundante: links de internet,computadores, softwares e centros deemissão. Isso porque, se a empresaemite 3 mil notas fiscais por dia, comofará se cair a energia num deles? Esta é uma falha que o fisco não

aceita. Consequentemente, tambémnão aceita a emissão de nota em papelno lugar da NF-e. Para resolver o pro-blema, foram criados três mecanis-mos de contingenciamento. A Sefazcolocou seus computadores em ma-nutenção; a empresa vai deixar de fa-turar por causa disso? Não. Ela avisa aocontribuinte e a autorização para aemissão de nota é dada pelo Scan-Sis-tema de Contingenciamento de Âm-bito Nacional, sediado em Brasília, econtinua tudo como antes.Outra forma de resolver a contin-

Antes de a mercadoria passar pelo posto fiscal, a Sefaz teráenviado cópia da nota para aReceita Federal e, se for o caso,para outras autoridades, como a Sefaz do estado de destino dos produtos e o Detran.

Após obter a assinatura digital, credenciar-se na Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz),escolher o software, cadastrar produtos e clientes, o fornecedor gera a NF-e e a envia para aSefaz, que lhe devolve um selo eletrônico de autorização. Fornecedor então emite o Danfe,documento impresso que acompanha a mercadoria e despacha a carga

20 ||Encontro

ROTA PERCORRIDA PELA NF-E ATÉ A ENTREGA DA MERCADORIA

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gência é o uso de formulário especialde segurança para o Danfe. Ele é com-prado sob autorização da Sefaz e deveser adquirido em pequena quanti-dade, pois custa caro – de 700 a 1.700reais o milheiro. O Danfe em formu-lário de segurança é impresso em duasvias. Uma seguirá com a mercadoria ea outra ficará com o emissor, que temprazo de até sete dias após a emissãoda autorização para retransmitir a NF-e. O prazo é um alerta para quem re-

cebeu a mercadoria por Danfe em for-mulário de segurança. Ele tem de con-sultar se a nota existe, pois o Danfe éuma nota com prazo de validade. “Senão consultar e o emitente se esque-cer de regularizar, o comprador jogarána contabilidade um documento ini-dôneo e vai vender mercadorias que,na prática, comprou sem nota fiscal. Amulta é muito grande”, avisa Roberto. O terceiro modo de resolver as con-

tingências é um dispositivo tecnoló-gico chamado Dpec-Declaração Préviade Emissão em Contingência. Ele só éusado por quem emite muitas notas.“Há casos de empresas que nunca usa-ram Dpec nem formulário de segu-rança, só planejamento”, diz Roberto.São as que têm redundância paratudo. “Sai mais barato do que entrarnos formulários de segurança”. Por fim, o guru recomenda prestar

atenção à questão da obrigatoriedadeda emissão. Há duas normas, super-postas, que a regulam. A primeira esta-beleceu a obrigatoriedade por atividadeeconômica efetivamente executada.Um atacadista de refrigerante e chás,por exemplo. O chá pode não estar o -bri gado, mas o refrigerante sim. Se elevendeu refrigerantes nos últimos 12meses, fica obrigado a emitir NF-e paratodos os produtos.

Em 2010, surgiu um novo proto-colo que mudou a forma de enqua-dramento. Agora não é mais pela ati-vidade e sim pelo Cnae-CódigoNacional de Atividade Econômica, queconste ou deva constar do cadastro nofisco. E empresas que venderam –basta uma vez – para fora do estado deorigem, ou a qualquer órgão de go-verno (federal, estadual ou municipal)por meio de licitação, também foramenquadradas.Muitos espertinhos pensam em

mudar o Cnae para ficarem fora daobrigatoriedade. É bobagem; o fisco émais esperto do que eles. Um exem-plo muito claro é o da empresa de Ro-berto, uma consultoria. Ela vende li-vro. Em julho de 2010, todas asempresas que distribuírem livros es-tarão obrigadas a fornecer NF-e. “Sópelo fato do Cnae ser diferente ela nãoestará desobrigada”, diz Roberto. �

No futuro, com um novo programa, o Brasil ID, que deve estrear em até 3 anos,o fisco vai aprimorar os controles nos postos fiscais de modo a liberar a cargamais rapidamente, combater os furtos – isso envolverá satélites e GPS – eaprimorar os controles a fim de fechar possíveis brechas para a sonegação.

Tempo gasto pelas empresaspara implantar a NF-e

Até 1 mês31%

De 1 a 3meses

48%

Mais de1 ano

0,5% De 7 mesesa 1 ano

3,5%De 4 a 6meses

17%

Encontro || 21

ROTA PERCORRIDA PELA NF-E ATÉ A ENTREGA DA MERCADORIA O destinatário recebe as mercadorias, o Danfe e o confere no PortalNacional da NF-e. A notaeletrônica terá chegadobem antes, via internet, e não precisará serimpressa. Em grandesempresas, como asmontadoras, que recebemmilhares de peças ecomponentes todos osdias, isso permite planejarmelhor o recebimento das cargas e também o fluxo de produção

Tal como as notas fiscais em papel, as eletrônicas precisam ser armazenadaspor fornecedores e clientes por pelo menos 5 anos. O custo do armazenamentodigital é bem menor do que o de papel. Para as empresas, esta é uma dasgrandes vantagens do sistema criado a partir da NF-e

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softwaresDeca Furtado

O Sped – Sistema Público de Escritu-ração Digital, denominado de Big Bro-therFiscal, ao que tudo indica veio paraficar. Como a Nota Fiscal Eletrônica, aNF-e, é a base do Sped, todas as empre-sas têm de se aparelhar para expedi-lassem erros, o que requer programas paraa sua confecção, transmissão e integra-ção aos bancos de dados. Isso trouxe para as software houses

de todo o país uma boa oportunidadede novos negócios. Em Minas Gerais,quem saiu na frente foram a Master-maq, de Belo Horizonte, e a Sankhya,de Uberlândia. A Mastermaq já vendeu mais de 2

mil cópias do NF-Express, seu pro-grama para emissão de notas lançadoem novembro de 2008, cerca de umano após a Sankhya ter lançado um mó-

dulo do seu ERP (software de gestão)que incorpora o da NF-e. A Sankhya,que deve faturar 30 milhões de reaisneste ano, por sua vez comercializou800 cópias.Não é pouco. As mais de 170 mil em-

presas que emitem NF-e em todo o paíspodem escolher entre mais de 1.400softwares, mas boa parte delas usamesmo é o programa gratuito do fisco.

Faça a coisa certaNovos softwares garantem a emissão segura da NF-e e são importantesaliados para empresas de todos os tamanhos na hora de prestar contas

Carlos Alberto Tamm,presidente daMastermaq: “Vamoscrescer 20% em 2010porque semprecumprimos ocompromisso demelhorar aprodutividade nosescritórios contábeis”

Eugênio Gurgel

22 ||Encontro

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Porém, um bom softwaredeve mos-trar se uma nota foi ou não atualizada,se há nota em formulário de segurançae as pendências junto à Secretaria de Es-tado da Fazenda, a Sefaz. Deve conterainda um mecanismo que não deixeemitir-se a nota sem que haja o pro-duto no estoque e cadastre os produtose os clientes a fim de evitar nova digi-tação a cada nota emitida. Memória para os códigos também é

imprescindível. Se preenchido errado, oCFOP, o Código Fiscal de Operação, porexemplo, dá problema: há um de vendapara fora do estado e outro para dentro.Trocar um por outro dá multa. Enfim, osoftware deve permitir ao emitente danota eletrônica que ele faça a coisa certalogo de início. “No nosso módulo é mostrada qual

a margem de lucro no total da nota etambém nos produtos”, diz RobertoSanzio Moreira Campos, diretor execu-tivo da Sankhya em Belo Horizonte. “Eletambém garante agilidade na trans-missão da NF-e para a Sefaz e no re-torno desta para a empresa”.O programa da Mastermaq foi pen-

sado para empresas de porte pequenoe médio e que já contem com uma boabase de clientes e produtos cadastra-dos. Por isso todos os requisitos cita-dos acima estão presentes. Já o do fiscoé bem limitado: não permite dar baixano estoque, contabilizar, etc. “O soft-ware gratuito também não oferece su-porte”, diz Carlos Alberto Tamm, presi-dente da Mastermaq, empresa criadahá 18 anos.

Apesar de ter todos estes bons atri-butos, a Mastermaq não partiu paraações maciças de vendas. Pelo contrário,a empresa cerca pelos lados. O motivoé que seu público-alvo são os escritóriosde contabilidade, não as firmas. É porindicação deles que, na maioria das ve-zes, a empresa realiza as vendas. “Apreocupação do contador é ter um soft-ware de confiança no cliente, pois nãopode haver erro na origem”, diz Tamm. Com o Sped, isso se tornou ainda

mais importante, já que se sair algumacoisa errada, o fisco vai pegar on line.Como a Mastermaq tem um relaciona-mento de longa data com os escritó-rios de contabilidade, em especial comos de Belo Horizonte, onde detém 80%do mercado, bastou demonstrar que o

programa é confiável para que as ven-das se tornassem boas. Mesmo assim o software ainda re-

presenta muito pouco do faturamentoda Mastermaq, previsto para 60 mi-lhões de reais em 2010. Só que, isolada-mente, ele é o produto com potencialpara ter o maior número de clientes.“Nós o vendemos pontualmente. Masem mais da metade dos casos vai umERP junto. Ele é o aríete que estáabrindo muitas novas portas para aMastermaq e nos permitindo atuar emum segmento onde não estávamos pre-sentes, o de empresas que estão nafronteira entre pequenas e médias”, dizTamm. Em pelo menos um aspecto o NF-

Express cumpre um compromisso daMastermaq que tem lhe trazido ex-pansão de vendas: o de proporcionaraumento de produvitidade: se o clientedo escritório estiver usando o sistema,o contador vai eliminar a digitação detodas as notas deste cliente. Na contabilidade dos que vendem

mercadorias e não serviços, isso é umamão na roda. Há empresas que emitem30 mil notas fiscais/mês, cada umacom inúmeros campos de preenchi-mento, sem que o contador digite ne-nhuma. De um lado, isso significa me-nos trabalho. De outro, possibilidadede prestação de serviço de melhor qua-lidade, pois há mais informação a ana-lisar para o cliente.Contador que sabe tirar proveito dos

softwares até reinventa o negócio. É ocaso da Gescon-Gestão de ConsultoriaEmpresarial, de Belo Horizonte, fun-dada por Gilson Vieira e Renato Nery.Meses atrás, ela era só mais um escritó-rio de contabilidade. A Gescon se dife-renciou oferecendo novos serviços.“Agora somos uma butique de contabi-lidade. Fornecemos informações deapoio à gestão”, diz Gilson. “Nosso ne-gócio passou a ser mais um suporte aoplanejamento estratégico e seus pro-cessos do que o operacional, o serviçobraçal”.A Gescon tem não mais do que 80

clientes. Desses, aproximadamente 40já emitem, por eles mesmos, a nota fis-cal eletrônica. Mas, para a Ideia, a em-presa de consultoria de Roberto DiasDuarte, o guru da NF-e, a Gescon vaialém. “A sede da Ideia, fiscal e física, fica

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softwaresno nosso escritório. Nós somos a em-presa dele”, explica Renato. Normal-mente, o blog de Roberto vende o livro.O pedido cai na Gescon, que emite aNF-e e entrega o livro ao consumidorvia Correios. Ela ainda cuida do esto-que, das contas a pagar e a receber.Como tudo funciona interligado ele-tronicamente, basta um clique paraque cada nova venda alimente auto-maticamente a gestão fiscal e contábilda Ideia. “Assim o empreendedor podecuidar apenas do core business.”Outro escritório de contabilidade, a

Assecont, também de Belo Horizonte,vai na mesma direção. Além de emitirNF-e para os clientes, ela já pensa criaruma central administrativa. “Vamoscuidar das contas a pagar, a receber, dosestoques e de tudo o mais”, diz ArleteFerreira, sócia-diretora da Assecont.Os programas da Mastermaq, da

Sankhya e outros existentes no mer-cado garantem a emissão eletrônica danota fiscal. Pode não ser suficiente.Quem garante que tudo foi feito corre-tamente? Só outro programa, capaz defazer a auditoria dos lançamentos.Percebendo esta lacuna no mercado,

o Grupo GV, de Belo Horizonte, for-mado por seis empresas, aproveitou oadvento do Sped para criar mais umaempresa, a GV Engenharia de Software.Desde janeiro ela colocou na praça oSafetax, um programa que audita osdados fiscais e contábeis eletrônicos.“Só o Safetax faz o cruzamento dos im-postos com as guias de recolhimento eas obrigações acessórias”, garanteAdriana Campolina, diretora do grupoGV. Ele é como uma auditoria física.Porém, o contador trabalha sob amos-tragem. Já o Safetax cruza 100% das in-formações. Um programa assim tem sua utili-

dade: o Sped é muito mais complexo einteligente do que a sistemática de fis-calização anterior. As vendas são cru-zadas pela Receita Federal com os lan-çamentos contábeis e financeiros, como estoque, enfim, com tudo – no total, ofisco cruza mais de 3 mil campos. Ora,empresas geram centenas de milharesde informações por ano. Erros e omis-sões acontecem diariamente. O pro-blema é que, com o Sped, cada um de-les poderá gerar uma multa. Paracomplicar, agora há a assinatura digital

do dono. “Não há como argumentarque uma informação foi enviada erra-damente”, diz Adriana. “Portanto, nãodá mais para culpar o contador, princi-palmente o terceirizado. Acabou a erado contador que se vire”.O Safetax veio para evitar as mul-

tas. “Todas as regras do fisco estão im-plantadas nele. Portanto, ele pega errosde processo e de software antes de elasserem enviadas ao fisco. O Safetax fun-ciona como uma proteção tributáriadigital”, explica a auditora Maria Apa-recida Silva, da GV Auditores. Mas o Safetax tem outras vantagens

acessórias. Uma delas é que ele já vemcom algumas ferramentas de gerencia-mento. O programa fornece dados queum ERP não consegue captar. Porexemplo: identificação automática decréditos fiscais. Em geral, os empresá-rios nunca os reclamavam junto aofisco. Alegavam que isso iria chamar aatenção sobre a empresa e assim de-sistiam desse direito. “Agora, como tudoestá na mira do fisco, não há por quenão aproveitá-los”, diz Adriana.

A estratégia da GV não é vender osoftware, mas o serviço de proteção tri-butária. Por isso o custo vai dependerdo número de horas dedicado à im-plantação, da quantidade de produtos eoutras variáveis. Numa empresa ataca-dista ele vai custar mais caro do quenuma indústria que produza apenastrês ou quatro itens. Por enquanto oSafetax é uma ferramenta para grandese médias empresas. “No ano que vemqueremos atingir a massa”, diz Adriana. Além do Safetax, o grupo GV ofe-

rece um serviço de consultoria. Elaajuda o cliente a verificar se o sistemadele está recolhendo e distribuindo asinformações necessárias à nota fiscaleletrônica e à escrituração contábil efiscal digital. “Ele pode ser comparti-mentado ou integrado. Pode ser im-plantada apenas a consultoria para aNF-e. Ou só para escrituração fiscal.Ou só contábil”, diz Ana Tereza Ber-nardes, gerente de negócios do grupoGV. O custo depende também do ta-manho da empresa, do sistema e donúmero de horas dedicadas. �

AdrianaCampolina,diretora do grupo GV:

“Acabou a era do ‘contador que se vire’ ”

Eugênio Gurgel

24 ||Encontro

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Professor Roberto Dias Duarte

artigo

A falta de emissão da Nota Fiscal Eletrônica (NF-e) estácriando dois fatos graves, tanto para quem ainda está traba-lhando com notas fiscais em papel modelo 1 ou 1/A – e deve-ria emitir a NF-e – quanto para quem aceita recebê-las juntocom as respectivas mercadorias adquiridas. O primeiro risco enfrentado, para quem vende, é o paga-

mento de pesada multa sobre o valor da mercadoria co-mercializada, conforme a legislação de cada Estado. Parale-lamente, quem compra fica privado de se utilizar doscréditos oriundos de ICMS – Imposto sobre diante da Circu-lação de Mercadorias e Serviços. A situação é uma verdadeira bomba tributária de efeito re-

tardado, pois apenas 275 mil empresas conseguiram se ade-quar até 28 de agosto. Diante da estimativa das autoridades fis-cais de que cerca de 1 milhão de pessoas jurídicas estarãoobrigadas a emitir o documento.

Dados do IBGE mostram que existem 567 mil indústriasde transformação e 213 mil estabelecimentos de comércioatacadista. Só nesses dois segmentos são quase 800 mil em-presas obrigadas a emitir NF-e até outubro de 2010. A má notícia é que mais de 40% dos obrigados à emissão

de NF-e estão omissos! Para os que perderam o prazo, é recomendável iniciar um

processo de denúncia espontânea, pois assim se obtém, aomenos, redução de multa. “Para isso, é necessário consultar alegislação vigente no estado em que se situa a empresa, poishá diferenças importantes, como a porcentagem da multaaplicada”, diz o especialista. Antes de qualquer coisa, e para demonstrar zelo e boa in-

tenção, a empresa deverá comprovar o lançamento e a apu-ração dos impostos nos livros contábeis/fiscais, além da efe-

tividade do pagamento dos impostos devidos. Por fim, o con-tribuinte precisará formalizar o questionamento e a prováveldenúncia espontânea Em São Paulo, por exemplo, o Regulamento do ICMS

(RICMS), frisa que “o imposto é não-cumulativo, compen-sando-se o que for devido em cada operação ou prestação como anteriormente cobrado por este ou outro Estado, relativa-mente à mercadoria entrada ou à prestação de serviço rece-bida, acompanhada de documento fiscal hábil, emitido porcontribuinte em situação regular perante o fisco (Lei 6.374/89,art. 36, com alteração da Lei 9.359/96).”. Quase todos os esta-dos têm normas similares quanto ao tema. Como não haverá a presença de “documento hábil” – leia-

se NF-e – não será possível fazer a compensação dos créditosdo ICMS pelo comprador. Enfim, o destinatário poderá ser penalizado por trans-

porte/recebimento de mercadoria desacompanhado de do-cumento fiscal e ainda sofrer a glosa das NFs modelo 1/1A queescriturar. O entendimento geral das autoridades fiscais é que, a priori,

a empresa incorreu em ilícito, ficando assim sujeita às sançõesprevistas na legislação tributária de seu estado. A grande questão é: qual o motivo do descumprimento do

cronograma? Em minhas andanças pelo país, descobri que empresas

não estão emitindo NF-e por que: (1) muitas não sabem queestão obrigadas; (2) algumas sabem e fingem que não sabem;e (3) outras tantas, sabem, fingem que não sabem e têm raivade quem sabe. Fica evidente que falta divulgação sobre bene-fícios e ameaças. Os empresários não têm noção do tamanhodo passivo fiscal que estão gerando.

Professor Roberto Dias Duarte, diretor da Mastermaq e coordenador acadêmico da ENC Escola de Negócios Contábeis, de São Paulo (SP)

Blog: www.robertodiasduarte.com.br

Bomba tributária de efeito retardado

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A Usiminas S.A. foi a primeira firmado país a emitir uma nota fiscal eletrô-nica. Em junho de 2006, quando o BigBrother fiscal ainda era uma grande ne-bulosa, a empresa o ignorou aderindo,como voluntária e sem medo de ser fe-liz, ao Sped ( Sistema Público de Escri-turação Digital) nacional. Cerca de umano depois veio a nota pioneira, expe-dida a partir de um dos 40 centros deemissão da siderúrgica, localizado noRio Grande do Sul (em Minas ainda de-morou dois meses porque foi precisoesperar a Secretaria de Fazenda mineiraaprontar seus sistemas). Desde então a empresa só emite NF-

e. “Os resultados são ótimos”, diz o ge-rente de planejamento tributário daUsiminas, Luiz Alberto Noronha. “A im-plantação levou à compra de softwarese equipamentos. Investimos tambémem consultoria, treinamento e absor-ção de novas tecnologias. Tudo isso sepagou em apenas 14 meses”.Não é para menos: a redução de cus-

tos com papel é grande. Este ano, porexemplo, a empresa deve emitir até 2,5milhões de notas eletrônicas. Antiga-mente, a nota era impressa em quatrovias, duas em papel tipo moeda e duasem papel normal. Hoje só se imprimeuma via do Documento de Acompa-nhamento da Nota Fiscal Eletrônica, oDanfe, em papel comum. “Economiza-mos com tintas, desgaste de equipa-mentos, controle e armazenagem de do-cumentos fiscais”, afirma Noronha. A temporada de caça aos ganhos

não terminou. Os 40 centros de emis-são ocupam vários funcionários. No fu-turo breve, em cada um deles haverámenos pessoas. “Teremos mais máqui-nas e só um centro de gestão”, diz No-ronha. Em compensação o Sped vaiocupar mais inteligência humana.“Ainda não podemos dimensionar isto,

pois estamos no início da transição.Nesta fase, nas equipes que trabalhamna gestão do Sped, haverá redução noquadro de cargos menores e aumentono de analistas”.Mas o processo como um todo, por-

tanto já englobando o Sped, traz ou-tros ganhos, como a simplificação e aagilidade no cumprimento das obriga-ções acessórias e no atendimento aofisco. Ademais, os relatórios que em-basam a diretoria na tomada de deci-sões eram feitos mais devagar e ocu-pavam mais mão de obra. Hoje elestêm menos custos, são feitos mais ra-pidamente e há a garantia de precisãomuito maior.Noronha diz que o desenvolvi-

mento interno do Sped, feito com o au-xílio da consultoria Mastersaf, levou aoutros ganhos, intangíveis. A implan-tação estimulou e obrigou a equipe arepensar tudo nesta parte. Ela foi umindutor de melhoria. O resultado é que

o processo de gestão fiscal está menospropenso a erro. “Deixamos de come-ter erros”, assegura Noronha. “Alémdisso, há a redução da atividade de fis-calização que nós sofremos em Minas,ligada também a ouras providências.Hoje, em comparação com 5 anos atrás,somos qualificados pela Secretaria deEstado de Fazenda como um contri-buinte muito mais transparente”.Na Usiminas o desenvolvimento do

Sped ainda não terminou. “No mo-mento trabalhamos no Sped fiscal, queengloba todas as obrigações acessóriase os demonstrativos. Esta etapa vai atéo final de 2011. É a primeira onda. De-pois virão as ondas de melhorias, quevão racionalizar o processo”, explicaNoronha. �

empresasDeca Furtado

Usiminas foi uma das primeiras que adotaram a prática. Hoje, colhe resultados

Ela deu o exemplo

Eugênio Gurgel

Luiz Alberto Noronha, gerentede planejamento tributário da

Usiminas: “Hoje, somosqualificados pela Secretaria de

Estado da Fazenda como umcontribuinte muito mais

transparente”

26 ||Encontro

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Professor Roberto Dias Duarte

artigo

Um contador amigo enviou-me seguinte pergunta:“Meu cliente recebeu uma mercadoria com o Danfe.

Ele já revendeu o produto e me enviou o Danfe para con-tabilização. Quando fomos conferir, a NF-e relativa a esseDanfe está com a situação ‘denegada’. O que devemos fa-zer?” Para responder, comecei pelo básico:

Danfe é Danfe, nota é NF-e. Nota Eletrônica é um documento digital, emitido e ar-

mazenado eletronicamente, para documentar uma opera-ção de circulação de mercadorias. Ou seja, é um arquivo, gerado pelo computador, com os

dados exigidos pela legislação e em formato XML – uma es-pécie de arquivo-texto mais evoluído. Para transformar oarquivo em documento, com validade jurídica, ele deveser assinado utilizando-se o certificado digital do emissor. O arquivo assinado ainda não é um documento fiscal.

Para isto, ele deve ser autorizado pelo fisco estadual.O fisco recebe o XML assinado, faz uma breve validação

e gera um protocolo de autorização da NF-e. Tudo via in-ternet. Nota a nota. O Danfe é o Documento Auxiliar da NF-e. Uma repre-

sentação simplificada que serve para acompanhar a mer-cadoria em trânsito e colher a firma do destinatário paracomprovação de entrega das mercadorias.

Rejeição Caso o fisco detecte erros ou problemas no reconheci-

mento da autoria ou da integridade do arquivo, no for-mato de campos, numeração ou com o credenciamento doemitente, a NF-e será rejeitada. A NF-e rejeitada pode ser gerada, assinada e transmitida

novamente. O inconveniente é que, enquanto não houverautorização, a mercadoria não pode circular. Os bons softwares não permitem a impressão do Danfe

sem a autorização da NF-e. Tal procedimento evita proble-mas graves.

Denegação O CNPJ e a Inscrição Estadual do emitente devem estar

regularizados. Caso contrario, a NF-e será gravada pelo fiscocomo “denegada”. Portanto, o cliente do meu amigo contador comprou

uma mercadoria sem documento fiscal hábil, e de umaempresa com a situação fiscal irregular.

Várias perguntas: 1.Como foi impresso o Danfe de uma NF-e denegada?2.Por que o fornecedor não enviou o documento fiscal

(XML da NF-e) para o destinatário?3.Como o comprador recebeu a mercadoria sem docu-

mento hábil? Uma resposta: ou era esta a intenção ou foi negligência.

Se não foi intencional, por que negligência? 1. O emitente é obrigado a encaminhar ou disponibili-

zar o arquivo XML da NF-e para o destinatário e o trans-portador.

2. Para verificar a validade da assinatura, autenticidadee dados do arquivo digital (XML) o destinatário e o trans-portador podem usar o aplicativo ‘Visualizador’, da ReceitaFederal do Brasil. Há ainda sistemas comerciais que rece-bem, validam e escrituram a NF-e automaticamente. 3. O emitente e o destinatário da NF-e deverão conservar

a NF-e em arquivo digital pelo prazo previsto na legislação. 4. Por fim, a empresa não é obrigada a escriturar a NF-e

automaticamente, mas deverá sempre verificar a autenti-cidade do arquivo digital da NF-e e seus dados, medianteconsulta ao Portal da NF-e.

E agora? Como arrumar a bagunça? Graças ao criterioso contador, que conferiu o DANFE no

Portal da NF-e, os contribuintes agiram antes do fisco, evi-tando o pior. Perguntei a diversas autoridades qual deve ser o proce-

dimento para casos como este. A mensagem foi unânime:denúncia espontânea.

Professor Roberto Dias Duarte, diretor da Mastermaq e coordenador acadêmico da ENC Escola de Negócios Contábeis, de São Paulo (SP)

www.robertodiasduarte.com.br

Comprei mercadoria comNF-e denegada. E agora?

Page 28: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

nota fiscal eletrônica

1. Quais os tipos de documentos fiscais em papelque a NF-e substitui? Apenas a nota fiscal modelo 1 / 1A, uti-lizada para documentar transaçõescomerciais entre pessoas jurídicas.

2. O que muda para meu cliente se minha em-presa usar a NF-e em suas operações?Agora é obrigatório verificar a vali-dade da assinatura digital e a autenti-cidade do arquivo digital, bem comoa concessão da autorização de uso daNF-e mediante consulta aos sítios dassecretarias de fazenda ou Portal Na-cional da Nota Fiscal Eletrônica(www.nfe.fazenda.gov.br).Importante: o emitente da NF-e obri-gado a encaminhar ou disponibilizardownload do arquivo XML da NF-e eseu respectivo protocolo de autoriza-ção para o destinatário.

3. A NF-e e o Documento de Acompanhamentoda Nota Fiscal Eletrônica, o Danfe, podem ser uti-lizados para documentar vendas de mercadoriasa órgãos públicos (administração direta ou indi-reta) e empresas públicas?Sim.

4. Uma empresa credenciada a emitir NF-e devesubstituir 100% de suas notas fiscais em papelpela NF-e?O estabelecimento credenciado aemitir NF-e que não seja obrigado àsua emissão deverá emitir, preferen-cialmente, NF-e em substituição ànota fiscal em papel. Os estabelecimentos obrigados à NF-e

devem emiti-la em todas as operaçõesnas quais emitiriam nota fiscal empapel (salvo situações de exceção pre-vistas na legislação). No caso de a em-presa obrigada ou voluntariamentecredenciada emitir também cupomfiscal, nota fiscal a consumidor (mo-delo 2) ou outro documento fiscal(além de mod. 1 ou 1-A), deverá conti-nuar emitindo-os, concomitante-mente à NF-e.

5. Como a Sefaz já recebe NF-e, as informaçõesnela contidas ainda precisarão ser fornecidas aofisco na entrega de arquivos de escrituração ele-trônica? Sim. Mas a tendência é que, futura-mente, estas informações já estejamtodas contempladas nos diversos mó-dulos do sistema. Até lá, as informa-ções têm de ser fornecidas ao fisco.

6. Como a Sefaz já recebe a NF-e, a empresa emi-tente ainda precisa guardar a NF-e? Sim. Caso o comprador não tenhacondições de receber o arquivo digi-tal, deverá armazenar o Danfe peloprazo decadencial.

7. As empresas deverão guardar a NF-e ou oDanfe? O emitente e o destinatário deverãomanter em arquivo digital as NF-epelo prazo estabelecido na legislaçãotributária. Assim, o emitente deve ar-mazenar apenas o arquivo digital. Aempresa destinatária, emitente deNF-e, também não precisará guardar

As respostas às questõesmais importantes

Tira-dúvidas(Baseado no livro Big Brother Fiscal – O Brasil na Era doConhecimento, de Roberto Dias Duarte)

Page 29: SPED NFe NFSe Cartilha Revista Encontro

o Danfe. Caso o destinatário não sejacredenciado para a emissão de notaeletrônica, ele poderá, alternativa-mente, manter em arquivo o Danfe re-lativo à NF-e.

8. Em caso de sinistro ou perda do arquivo eletrô-nico das NF-e, seriam estas disponibilizadas pararecuperação por parte da Sefaz ou SRF? Não. A guarda cabe aos contribuintes.

9. A NF-e pode ser emitida também pela digita-ção no site da Sefaz?Não, o modelo pressupõe a existênciade arquivo eletrônico autônomo ge-rado pelo contribuinte a partir de seussistemas, de sistema adquirido de ter-ceiros ou a partir do programa emissorde NF-e da Sefaz.

10. É possível alterar uma Nota Fiscal Eletrônicaemitida? Após autorizado pela Sefaz, uma NF-enão poderá sofrer alteração. Mas oemitente poderá, dentro de certas con-dições; cancelar a NF-e mediante a ge-ração de um arquivo XML específicopara isso. O pedido de cancelamentode NF-e também deverá ser autorizadopela Sefaz; emitir uma NF-e comple-mentar, ou uma de ajuste, conforme ocaso; sanar erros em campos específi-cos da NF-e, por meio de carta de cor-reção eletrônica transmitida à Sefaz.Como esta modalidade de emissãoainda não foi implantada, o contri-buinte poderá emitir carta de correçãocomplementar em papel.

11. Que NF-e pode ser cancelada? Apenas a que tenha sido previamenteautorizada pelo fisco e desde que nãotenha ocorrido a saída da mercadoriado estabelecimento. Atualmente, oprazo máximo para cancelamento é de168 horas (7 dias), contado a partir daautorização de uso. O pedido de cancelamento deverá serassinado pelo emitente com firma di-gital certificada. O pedido de cancela-mento também deverá ser autorizadopela Sefaz

12. Como serão solucionados os casos de erros co-metidos na emissão de NF-e (há previsão de NF-ecomplementar)? E erros mais simples como nomedo cliente, endereço, erro no CFOP—como alteraro dado que ficou registrado na base da Sefaz?

Se os erros forem detectados pelo emi-tente antes da circulação da mercado-ria, a NF-e poderá ser cancelada. Seráentão emitida uma NF-e com as corre-ções necessárias. Esta possibilidadeestá prevista na legislação para as se-guintes hipóteses: I — no reajustamento de preço ou deoutra circunstância que implique au-mento no valor original da operação; II — na exportação, se o contrato decâmbio acarretar acréscimo aovalor da operação; III — na regularização em virtudede diferença no preço, ou na quan-tidade de mercadoria; IV — para lançamento do impostoem virtude de erro de cálculo ou declassificação fiscal; V — na data do encerramento dasatividades do estabelecimento; VI — em caso de diferença apuradano estoque de selos especiais decontrole fornecidos ao usuáriopara aplicação em seus produtos,desde que a emissão seja efetuadaantes de qualquer procedimentodo fisco.

13. Como proceder em caso de recusa do recebi-mento da mercadoria por NF-e? Ou o destinatário emite uma nota fis-cal de devolução de compra, ou recusaa mercadoria no verso do próprioDanfe, destacando os motivos que olevaram a isso. Neste caso, o emitenteda NF-e irá emitir uma NF-e de en-trada para receber a mercadoria de-volvida. Importante: como houve circulaçãoda mercadoria, a NF-e não poderá sercancelada. Caso a nota fiscal de devo-lução também seja eletrônica, esta de-verá, como todas as NF-e, serpreviamente autorizada e enviadapara o destinatário da NF-e que deuorigem à NF-e de devolução.

14. As pessoas físicas também receberão a NF-e? É possível que as empresas emitam anota fiscal 1 ou 1A também a consu-midores pessoas físicas. As notas empapel poderão ser substituídaa pelaNF-e, de forma que a pessoa física re-ceberá o Danfe como representaçãodo documento fiscal e poderá consul-tar a sua existência e validade pela in-ternet. �

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“A previsão é que dentro dos próximos três anos todos os dados fiscais estarão

intercambiados e à disposição dafiscalização federal, estadual e municipal.”

Alexandre Atheniense

artigo

Riscos da fiscalizaçãoa partir da nota fiscal As empresas e pessoas físicas em Minas Ge-

rais que não recolhem corretamente os seustributos estão sujeitas, a partir de 2010, a umrisco maior do que imaginado. Os fatos tribu-tários verificados até então podem ser fiscali-zados e autuados dentro dos próximos cincoanos, no mínimo. No entanto, no futuro este li-mite cronológico não mais existirá, pois a ten-dência, em virtude do contínuo processo deadoção de recursos de tecnologia como ins-trumento de fiscalização, é a adoção de um efe-tivo monitoramento dos tributos e da fiscali-zação em tempo real. A criação de Sistema Público de Escrituração

Digital – Sped, fiscal e contábil, mais a nota fis-cal eletrônica, a NF-e, pela Receita Federal eparceiros, está proporcionando um enorme in-tercâmbio de dados fiscais em tempo real emvários níveis. Com a implantação da nota fiscaleletrônica federal, estadual e municipal, a Fa-zenda terá o mais eficiente e célere meca nismode monitoramento, cruzamento de dados eautuação fiscal, sem precisar da visita presen-cial à sede da empresa para fiscalizar os seus li-vros fiscais. Os indícios relativos a qualquer irregulari-

dade fiscal passarão a ser coletados pela Re-ceita em formato digital. Como os registros dastransações efetuadas serão armazenados vianota fiscal eletrônica, a autuação fiscal ou aeventual tipificação do crime de sonegação fis-cal será bem mais rápida, pois eliminam-se vá-rios trâmites burocráticos inerentes ao manu-seio do papel. O Sistema Público de Escrituração Digital –

Sped, que inclui, entre outros projetos, a notafiscal eletrônica no âmbito nacional e a Escri-turação Contábil e Fiscal Digital está sendo im-plantado progressivamente pela Receita emvários estados e, neste ano passa a vigorar emMinas Gerais. A previsão é que dentro dos pró-ximos três anos todos os dados fiscais estarãointercambiados e à disposição da fiscalizaçãofederal, estadual e municipal.O Sped é a mais nova estratégia de fiscaliza-

ção eletrônica do Fisco, deve ser alvo de atençãoe reestruturação tributária preventiva de to-das as empresas. A partir da implantação obri-gatória e completa de sistemas de processa-mento de dados, que vão priorizar a obrigato-riedade das empresas de aderirem à Nota FiscalEletrônica (NF-e) e à Escrituração Contábil eFiscal Digital, todas as pequenas diferenças dearrecadação serão facilmente visualizadas, con-frontadas e analisadas, sem se depender depessoas físicas para fiscalizar internamentecada empresa, o que elimina a corrupção nestecampo. O uso da nota fiscal eletrônica impõe uma

mudança cultural e procedimental imediata.Por este motivo é necessário que ocorra umamudança de postura dos contribuintes na ges-tão tributária de sua empresa e de sua própriapessoa física, evitando perda de bens pessoais,além da aplicação de multas punitivas que pos-sam inviabilizar a continuidade de algumasatividades empresariais. Afinal, a administra-ção empresarial eficiente é aquela que privile-gia a prevenção de riscos, pagando correta-mente os tributos e gerando lucro.

Advogado, sócio do escritório Aristoteles Atheniense Advogados, Coordenador e Professor do Curso de Pós-Graduação de Direitoe Tecnologia da Informação da Escola Superior de Advocacia da OAB-SP e do Instituto Praetorium.

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