souza, r.a. (2009). analise de necessidades do uso da lingua inglesa

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC-SP Renato Antonio de Souza Análise de necessidades do uso da língua inglesa em contexto profissional: área editorial MESTRADO EM LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM SÃO PAULO 2009

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Inglês para fins especifico

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Page 1: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Renato Antonio de Souza

Análise de necessidades do uso da língua inglesa em

contexto profissional: área editorial

MESTRADO EM

LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

SÃO PAULO 2009

Page 2: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PUC-SP

Renato Antonio de Souza

Análise de necessidades do uso da língua inglesa em

contexto profissional: área editorial

MESTRADO EM

LINGUÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de Mestre em

Linguística Aplicada e Estudos da

Linguagem, sob orientação da Professora

Doutora Rosinda de Castro Guerra Ramos.

SÃO PAULO

2009

Page 3: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

SOUZA, Renato Antonio de. Análise de necessidades do uso da língua inglesa em contexto profissional: área editorial. São Paulo: 108f. 2009 Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Área de Concentração: Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem. Orientadora: Profª. Drª. Rosinda de Castro Guerra Ramos. Línguas para fins específicos, análise de necessidades, tarefas comunicativas, curso de inglês para o ramo editorial.

Page 4: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

Banca Examinadora

___________________________

___________________________

___________________________

Page 5: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

Dedicatória

Para minha querida mamãe,

Manoelina, pela educação, carinho e

incentivo, e ao meu amigo, Eduardo

Monaco, pelo apoio nas horas difíceis.

Page 6: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

EPÍGRAFE

Como seres humanos,

nossa grandeza não está

tanto em sermos capazes

de refazer o mundo,

mas na capacidade

de refazermos a nós mesmos.

Mahatma Gandhi

Page 7: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

Agradecimento Especial

À Professora Doutora Rosinda de Castro Guerra

Ramos, pelo carinho, dedicação, saber

compartilhado e pela competência com que

conduziu a orientação deste trabalho.

Page 8: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

AGRADECIMENTOS

A minha mãe, Manoelina, pelo amor incondicional e dedicação.

Ao meu amigo, Eduardo, pelo apoio nos meus projetos pessoais e profissionais e

pela parceria nos momentos alegres e tristes.

Ao meu amigo, Márcio, pelo incentivo, apoio e orientação que viabilizaram a

realização de mais esta etapa acadêmica.

A Nelson Sayão Filho, pela colaboração, flexibilização e paciência que permitiram a

realização deste trabalho.

Aos meus amigos da Advocacia Sayão Filho, pela colaboração.

Às professoras Dra. Anna Maria Marques Cintra e Dra. Keila Rocha Reis de

Carvalho, pelas orientações e sugestões oferecidas na Banca de Qualificação.

Aos professores do LAEL, em especial às professoras Dra. Anna Rachel Machado e

Dra. Sumiko Nishitani Ikeda, pelo universo linguístico descortinado.

Aos colegas do seminário de orientação, pelas contribuições valiosas e aprendizado

durante todo o trajeto de minha pesquisa.

A minha amiga Marta, por ser tão prestativa e solícita as minhas consultas.

Aos meus alunos da editora e participantes da pesquisa, pela disposição e paciência

em colaborar.

Por fim, agradeço a Deus pela oportunidade de realizar um sonho e por ter pessoas

tão predispostas e capazes, que me ajudaram nesta jornada.

Page 9: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

SOUZA, Renato Antonio de. Análise de necessidades do uso da língua inglesa em contexto profissional: área editorial. 2009. 108f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

RESUMO

Esta pesquisa tem por objetivos (1) identificar quais são as funções desempenhadas por profissionais do ramo editorial, (2) investigar quais são as tarefas comunicativas que esses profissionais desempenham em língua inglesa, (3) investigar quais são as necessidades de aprendizagem desses profissionais e (4) identificar quais subsídios são trazidos por esta pesquisa para delineamento de curso.

O trabalho teve como fundamentação teórica a Abordagem Instrumental segundo Hutchinson & Waters (1987), Robinson (1991), Dudley-Evans & St. John (1998) e Long (2005); o conceito de gêneros, segundo Bakhtin (2000); o conceito de tarefas, segundo Shehadeh (2005) e a proposta pedagógica para implementação de gêneros em curso de Línguas para Fins Específicos, de acordo com Ramos (2004).

Os dados foram obtidos por meio de um questionário aplicado a dois alunos, de um curso particular de Inglês para Negócios; uma entrevista semi-estruturada, aplicada a uma representante da empresa; análises de descrições de cargos, elaborados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, Promérito e pela editora na qual trabalham os alunos do curso acima mencionado e também anúncios de empregos oferecidos no mercado de trabalho aos cargos ocupados pelos alunos do curso citado.

Os dados advindos da análise desses instrumentos de coleta de dados possibilitaram os seguintes resultados: levantamento do perfil dos profissionais que trabalham na área editorial; das funções desempenhadas por eles na área de atuação; das tarefas comunicativas desempenhadas em língua inglesa; de suas necessidades de aprendizagem e também de subsídios para delineamento de um curso instrumental. A partir desses resultados, tracei um esboço de um conteúdo programático baseado em gênero e tarefa, de acordo com os parâmetros de Dudley-Evans & St. John (1998) e com a proposta de Ramos (2004).

Nesse quadro, a presente pesquisa contribui com a Linguística Aplicada por mapear usos e necessidades linguísticas requisitadas pela área editorial; com a formação de professores de Línguas para Fins Específicos, na medida em que, além de fornecer subsídios teórico-metodológicos que definem e caracterizam a abordagem, fornecem informações relevantes de uso da língua inglesa na área pesquisada e também por fornecer subsídios para o próprio professor-pesquisador para reelaborar o curso de Inglês para Negócios ministrado atualmente.

Palavras-chave: Línguas para fins específicos, análise de necessidades, tarefas

comunicativas, curso de inglês para o ramo editorial.

Page 10: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

SOUZA, Renato Antonio de. Análise de necessidades do uso da língua inglesa em contexto profissional: área editorial. 2009. 108f. Dissertação (Mestrado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

ABSTRACT

This research aims at (1) identifying what are the functions performed by publishing professionals, (2) investigating what are the communicative tasks that these professionals perform in English, (3) investigating what are the learning needs of these professionals and (4) identifying which are subsidies for a course design.

This study is based on the theoretical concepts of Language for Specific Purposes, according to Hutchinson & Waters (1987), Robinson (1991), Dudley-Evans & St. John (1998) and Long (2005); on the concept of genre, according to Bakhtin (2000); on the concept of task, according to Shehadeh (2005) and the pedagogical proposal for implementing genres in Language for Specific Purposes courses, according to Ramos (2004).

The data were obtained by a questionnaire administered to two learners of a private business English course; a semi-structured interview conducted with a representative of a publishing house; analysis of Labor Ministry, Promérito and Publisher´s job descriptions and also calls for jobs in the labor market to positions occupied by students.

Needs analysis carried out found out the following results: the professional profiles of those who work in the publishing area; functions performed by them in the area of expertise; communicative tasks performed in English; their learning needs and also subsidies for an English course design. From these results, an outline on a gender-based syllabus and tasks was presented, in accordance with Dudley-Evans & St John´s parameters (1998) and Ramos´ proposal (2004).

In this context, this research contributes to Applied Linguistics by mapping language use and needs of the publishing area; Languages for Specific Purposes teacher development, because, in addition to providing theoretical and methodological subsidies that define and characterize the approach, provide relevant information of English language use in researched area and also for providing the teacher-researcher data to reelaborate the business English course in progress

Keywords: Language for specific purposes, needs analysis, communicative task,

English course for publishing area.

Page 11: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 1

CAPÍTULO 1 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .......................................................... 6

1.1 Origens e desenvolvimento de Inglês para Fins Específicos ................................ 6

1.2 Conceito e características de ensino-aprendizagem de Línguas

para Fins Específicos .......................................................................................... 12

1.2.1 Análise de necessidades ........................................................................... 15

1.3 Ensino-aprendizagem de Inglês Instrumental no Brasil....................................... 20

1.4 Ensino-aprendizagem de Inglês para Negócios .................................................. 23

1.5 Pressupostos teóricos para delineamento de um

curso instrumental de língua ............................................................................... 29

CAPÍTULO 2 - METODOLOGIA DA PESQUISA ..................................................... 31

2.1 Referencial teórico para a coleta de dados ......................................................... 31

2.2 O contexto da pesquisa ....................................................................................... 33

2.3 Os participantes .................................................................................................. 34

2.4 Instrumentos de coleta dos dados ....................................................................... 35

2.5 Procedimentos de coleta dos dados.................................................................... 37

2.6 Procedimentos de análise dos dados .................................................................. 38

CAPÍTULO 3 - APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ................ 41

3.1 Mapeamento das funções de trabalho dos cargos de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e de Analista Contábil Pleno.............................................. 41

3.1.1 Gerente de Divulgação Editorial e Marketing em foco ............................... 43

3.1.2 Analista Contábil Pleno em foco ................................................................ 47

3.2 Identificação das tarefas-alvo, habilidades comunicativas e

interlocutores em relação ao uso da língua inglesa na área editorial ................. 53

3.2.1 Identificação das tarefas-alvo, habilidades comunicativas e

interlocutores para o exercício do cargo de Gerente de Divulgação

Page 12: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

Editorial e Marketing, sob a perspectiva do informante .............................. 54

3.2.2 Identificação das tarefas-alvo, habilidades comunicativas

e interlocutores para o exercício do cargo

de Analista Contábil Pleno, sob a perspectiva da informante ..................... 57

3.2.3 Identificação das tarefas-alvo para o exercício dos cargos de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno,

sob a perspectiva da editora ....................................................................... 61

3.3 Comparação entre as tarefas-alvo e as habilidades comunicativas,

sob as perspectivas dos informantes e da área editorial .................................... 63

3.3.1 Comparação entre as tarefas e habilidades comunicativas

para os cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e

Analista Contábil Pleno, sob a perspectiva dos informantes ...................... 63

3.3.2 Comparação entre as tarefas comunicativas realizadas por

profissionais que exercem os cargos de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno, sob as perspectivas

da área editorial e dos informantes ............................................................ 66

3.4 Necessidades e dificuldades de aprendizagem .................................................. 71

3.5 Subsídios para delineamento de um curso ......................................................... 75

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 79

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 83

ANEXOS ...................... ............................................................................................ 88

LISTA DE FIGURAS

Figura 1.1 - Sub-áreas de Inglês Instrumental,

conforme Robinson (1991, p.3)..............................................................25

LISTA DE QUADROS

Quadro 2.1 Classificação de Marcos em relação ao seu nível atual de inglês .........35

Page 13: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

Quadro 2.2 Classificação de Alessandra em relação ao seu nível atual de inglês ...36

Quadro 3.1 Tarefas executadas em língua inglesa para o cargo de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing, sob a perspectiva de Marcos. ........... 56

Quadro 3.2 Sumário das tarefas, habilidades comunicativas e interlocutores

para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing ............... 58

Quadro 3.3 Tarefas executadas em língua inglesa para o cargo de

Analista Contábil Pleno, sob a perspectiva de Alessandra..................... 59

Quadro 3.4 Sumário das tarefas, habilidades comunicativas e interlocutores

para o cargo de Analista Contábil Pleno. ............................................... 62

Quadro 3.5 Comparação de tarefas-alvo e das habilidades comunicativas,

em língua inglesa, da área editorial ........................................................ 65

Quadro 3.6 Comparação de tarefas realizadas utilizando a língua inglesa, sob a

perspectiva dos participantes em serviço e da representante

legal da editora ....................................................................................... 68

Quadro 3.7 Tarefas-alvo para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial

e Marketing ............................................................................................. 69

Quadro 3.8 Comparação de tarefas e habilidades comunicativas realizadas

utilizando a língua inglesa, sob a perspectiva da informante

em serviço e da representante legal da editora ...................................... 71

Quadro 3.9 Tarefas-alvo para o cargo de Analista Contábil Pleno ............................ 71

Quadro 3.10 Tarefas e habilidades comunicativas para os cargo de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing

e Analista Contábil Pleno ....................................................................... 72

Quadro 3.11 Avaliação dos informantes sobre seus conhecimentos

da língua inglesa .................................................................................... 73

Quadro 3.12 Frequência de uso das habilidades pelos informantes ......................... 74

Quadro 3.13 Gêneros textuais de uso da área editorial ............................................ 77

LISTA DE ABREVIAÇÕES LA – Linguística Aplicada

LAEL – Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem

PUC-SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Page 14: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

EOP – English for Occupational Purposes

EAP – English for Academic Purposes

ESP – English for Specific Purposes

MTE – Ministério do Trabalho e Emprego

ELT – English Language Teaching

Page 15: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

1

INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem por objetivos (1) identificar quais são as funções

desempenhadas por profissionais do ramo editorial, (2) investigar quais são as

tarefas comunicativas que esses profissionais desempenham em língua inglesa, (3)

investigar quais são as necessidades de aprendizagem desses profissionais e (4)

identificar quais subsídios são trazidos por esta pesquisa para delineamento de um

curso. Essa análise de necessidades é um passo inicial para, futuramente, desenhar

um curso baseado nesse levantamento.

Trata-se de uma pesquisa em Linguística Aplicada (doravante LA) que tem

como foco (1) a língua em uso, (2) em contexto específico – de negócios - e (3) com

pessoas específicas, cujo objeto de estudo é a linguagem em seu contexto real de

enunciação.

A presente pesquisa é vinculada à linha de pesquisa Linguagem e Educação,

do Programa de Pós-Graduação em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem -

LAEL – da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC-SP, ao Grupo de

Pesquisa Abordagem Instrumental e Ensino-Aprendizagem de Línguas em

Contextos Diversos, denominado GEALIN, e ao Projeto de Pesquisa Análise de

Necessidades em Contextos Profissionais Diversos, ambos coordenados pela

professora Dra. Rosinda de Castro Guerra Ramos, do qual sou pesquisador-

colaborador.

O Grupo de Pesquisa, conforme proposto no diretório dos Grupos de

Pesquisa no Brasil (CNPq), tem como objetivo mapear tendências que se vão

delineando na Abordagem Instrumental e as questões dela decorrentes,

identificando como se articulam com as demandas emergentes e com as habilidades

profissionais do docente, nessa modalidade de ensino1.

Já o Projeto de Pesquisa, Análise de Necessidades em Contextos

Profissionais Diversos, objetiva mapear necessidades de uso da língua inglesa em

contextos profissionais decorrentes das novas demandas socioeconômicas e

tecnológicas presentes no mercado de trabalho.

1 Descrição do Grupo de Pesquisa disponível em http://dgp.cnpq.br/diretorioc/ . Acessado em 2 de junho de 2009.

Page 16: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

2

Este estudo pretende trazer uma contribuição a esses estudos desenvolvidos

na PUC-SP por fornecer um mapeamento de necessidades de uso da língua inglesa

em contexto profissional, mais precisamente, no mercado editorial, decorrente das

novas demandas socioeconômicas e tecnológicas presentes no mercado de

trabalho.

O ensino-aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, conhecido no

Brasil como Instrumental (Ramos, 2005, 2008) e cuja nomenclatura é adotada neste

trabalho, tem sido foco de inúmeras pesquisas em diversas áreas do conhecimento,

no que diz respeito ao contexto brasileiro, em inúmeras universidades, e nas mais

diversas línguas (Torres, 2005, Flaeschen, 2006, São Pedro, 2006, Oliveira, 2007,

Reis, 2007, Ramos, 2009, entre outros).

Ao que se refere à língua inglesa, muitas pesquisas têm sido feitas com

enfoque nas mais diversas habilidades e contextos. Como exemplo, cito os trabalhos

de Costa (2002), Pinto (2002), Siqueira (2005), Carvalho (2008), Lopes (2008),

Mazin (2009), Monteiro (2009), Onodera (em andamento), entre outros. Embora

esses trabalhos já tenham tratado, ou estão tratando, de mapear as necessidades

linguísticas, em língua inglesa, de alunos e áreas em diferentes contextos, ainda não

são suficientes para identificar todas as situações de uso real da língua inglesa

devido à variedade de contextos. Essa variedade deixa uma lacuna muito grande

para ser preenchida por linguistas aplicados interessados em conhecer o que de

inglês as pessoas precisam saber para desenvolverem tarefas comunicativas.

É parte dessa lacuna que esta pesquisa pretende preencher, para fornecer

mais um mapeamento de usos de inglês, neste caso, em uma empresa do ramo

editorial, em que, além de contribuir com a própria empresa onde será realizada esta

pesquisa, de modo que fornecerá um mapeamento de uso da língua inglesa para

que seus funcionários possam desempenhar adequadamente tarefas comunicativas

na situação-alvo, apresenta uma contribuição maior, no sentido de realizar uma

análise de necessidades de uso de língua inglesa em contexto profissional, e

também com a área de LA, por tratar de questões linguísticas em contextos reais de

enunciação não apenas na e para a sala de aula.

Milhares de pessoas em todo o mundo precisam usar a língua inglesa para

realização de negócios. O inglês é uma língua internacional e, portanto, a língua do

comércio. Quando pessoas decidem estudar Inglês para Negócios (muitas já no

Page 17: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

3

auge de suas carreiras, outras, iniciantes na profissão), esperam que cursos de

língua inglesa oferecidos no mercado atendam suas necessidades, pois, ao se

matricularem neles, essas pessoas despendem dinheiro e com isso esperam um

retorno financeiro com esse investimento.

O ensino-aprendizagem de línguas em empresas pode possibilitar ao

professor trabalhar mais facilmente com as necessidades do aprendiz, pois esses

ambientes oferecem uma experiência muito diferente do trabalho realizado em

ambientes formais de ensino-aprendizagem, pois os alunos, diferentemente

daqueles de ambientes formais, geralmente conhecem suas necessidades de

aprendizagem, uma vez que estão em serviço, exercendo diariamente tarefas em

inglês.

Segundo autores como Ellis & Johnson (1994, p. 3) e Dudley-Evans & St. John

(1998, p. 53), Inglês para Negócios2 é uma área que tem recebido bastante atenção

nos últimos anos.

Apesar dessa constatação, Ellis & Johnson (1994, p. 3) salientam que é ainda

uma área que tem sido negligenciada por linguistas pesquisadores, que têm se

dedicado a outras áreas de ensino-aprendizagem de inglês. No Brasil, por exemplo,

são poucos os trabalhos que abordam essa temática, como Vian Jr.(1999), Lopes

(2008), Onodera (em andamento) e esta pesquisa.

Na concepção de Ellis & Johnson (1994, p. 3), Inglês para Negócios é uma

área que faz parte de um contexto maior, Inglês para Fins Específicos (ou

Instrumental, como ficou conhecido no Brasil, conforme Ramos (2005, 2008), termo

adotado neste trabalho) e tem características importantes como análise de

necessidades, desenho de currículo, desenho de curso e seleção de material. Para

esses autores, “inglês para negócios implica definição de uma língua específica e

ênfase sobre um tipo particular de comunicação em um contexto específico” (Ellis &

Johnson, 1994, p. 3). Entretanto, na visão desses autores, Inglês para Negócios

difere-se de outras áreas de Inglês Instrumental em relação ao conteúdo, pois é uma

mistura de conteúdo específico com conteúdo geral.

Conforme Ellis & Johnson (1994, p. 4), os cursos de Inglês para Negócios,

sobretudo a partir dos anos 80, têm focado as reais necessidades de desenvolver

em seus alunos habilidades específicas para o uso da linguagem, além de levar em

2 Esse assunto é amplamente abordado na Seção 1.4

Page 18: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

4

consideração a função que a língua tem em contextos definidos e o papel da

competência linguística e discursiva.

Por conta dessas informações levantadas na literatura da área e por dúvidas

e inquietações minhas, como professor reflexivo, esta pesquisa surgiu na intenção

de repensar e redirecionar um curso particular de Inglês para Negócios, que está

sendo ministrado pelo professor-pesquisador, em uma empresa do ramo editorial.

Esse curso não pode ser considerado um curso de Inglês Instrumental pois não tem

objetivos claros e definidos, pelo contrário, é um curso de Inglês Geral com léxico

voltado para o mundo dos negócios. Isso não diz respeito somente ao curso objeto

de estudo. Conforme esclarece Ramos (2008), muitos cursos que são oferecidos no

mercado sob a rubrica línguas instrumentais, na verdade, não têm características

dessa área de ensino. Segundo essa autora, são cursos de língua geral apenas com

léxico específico.

Com base nos objetivos e justificativas expostas acima, desenvolvi quatro

perguntas norteadoras deste trabalho:

1- Quais são as funções desempenhadas por profissionais do ramo editorial?

2- Quais são as tarefas comunicativas que esses profissionais

desempenham em língua inglesa?

3- Quais são as necessidades de aprendizagem desses profissionais?

4- Que subsídios são trazidos para um delineamento de curso?

O presente trabalho apresenta a seguinte organização: no primeiro Capítulo,

apresento a Fundamentação Teórica a respeito das principais teorias que embasam

esta investigação, trazendo informações sobre conceito, desenvolvimento e

características de Línguas para Fins Específicos e/ou Instrumental. Apresento

também o desenvolvimento de ensino-aprendizagem de Inglês Instrumental no Brasil

e conceito e características de ensino-aprendizagem de Inglês para Negócios.

No segundo Capítulo, apresento a Metodologia da Pesquisa, trazendo

informações sobre o referencial teórico que norteou a coleta de dados, o contexto de

pesquisa, os participantes, instrumentos, procedimentos de coleta e de análise dos

dados.

Page 19: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

5

No terceiro Capítulo, Apresentação e Discussão dos Resultados, apresento e

discuto os dados, mantendo uma conexão entre as perguntas de pesquisa e a teoria

adotada.

Por fim, nas Considerações Finais, apresento um resumo dos resultados

obtidos, assim como implicações para estudos futuros.

As referências bibliográficas e os anexos encerram a dissertação.

Page 20: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

6

CAPÍTULO 1

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

O objetivo deste capítulo é apresentar os pressupostos teóricos a respeito de

ensino-aprendizagem de Línguas para Fins Específicos3 sobre a qual as análises e

discussões desta pesquisa são articuladas, apresentando informações sobre suas

origens e desenvolvimento, conceito e características, enfatizando sobre a análise

de necessidades, identificada como característica fundamental para essa área de

ensino. Em seguida, apresento informações sobre a origem e desenvolvimento do

ensino-aprendizagem de Inglês para Fins Específicos no Brasil, características do

ensino-aprendizagem de Inglês para Negócios e os pressupostos teóricos para

delineamento de curso de Línguas Instrumentais.

1.1 Origens e desenvolvimento de Inglês para Fins Específicos

Tell me what you need English for and I will tell you the English that you need.

(Hutchinson & Waters, 1987, p. 8)

O ensino-aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, conhecido no

Brasil como Instrumental (Ramos, 2005, 2008), surgiu no pós segunda guerra

mundial (Hutchinson & Waters, 1987; Dudley-Evans & St. John, 1998). Esse período

foi marcado pela expansão científica, tecnológica, econômica e abriu espaço para o

surgimento de uma língua internacional. A língua inglesa ocupou esse espaço,

notadamente devido à supremacia econômica dos Estados Unidos no pós-guerra.

Um dos efeitos dessa expansão parece ter sido o de proporcionar a uma

massa de pessoas o desejo de aprender inglês pelas condições que a língua

representava na época (e ainda hoje representa): acesso internacional à tecnologia

e ao comércio (Hutchinson & Waters, 1987).

Assim, de acordo com esses autores:

3 A interface entre línguas para fins específicos, inglês instrumental e inglês para negócios será apresentada na seção1.4

Page 21: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

7

businessmen and women who wanted to sell their products, mechanics who had to read instruction manuals, doctors who needed to keep up with developments in their field and a whole range of students whose course of study included textbooks and journals only available in English. All these and many others needed English and, most importantly, they knew why they needed it. (Hutchinson & Waters, 1987, p. 6).

Essa necessidade de aprender inglês não era pelo fato de esse aprendizado

representar prestígio ou privilégio, mas pela necessidade que isso significava:

aprender inglês para fazer parte de uma comunidade linguística global e estabelecer

relações comerciais com ela. As pessoas passaram a aprender a língua inglesa

como língua estrangeira de forma consciente e com objetivos (Hutchinson & Waters,

1987).

Nesse mesmo período, a Linguística passava por uma revolução. Instaurava-

se uma mudança de paradigma: da abordagem estruturalista para a funcionalista.

Conforme Widdowson (2005), o aprendizado de línguas passava do foco na forma,

na gramática, no saber sobre a língua, para a comunicação, para o uso da língua de

forma contextualizada. Essa mudança provocou reflexões profundas no ensino de

inglês.

De acordo com Hutchinson & Waters (1987, p. 7), um dos resultados disso foi

a consideração de que tanto a língua escrita quanto a falada variam

consideravelmente de um contexto para outro e, da mesma forma, há variação, por

exemplo, entre a linguagem comercial e a pertinente à engenharia.

Essa nova visão sobre linguagem trouxe para o ensino de Inglês para Fins

Específicos uma nova concepção de ensino de línguas que até então não era

utilizada no ensino de Inglês para Fins Gerais4, por exemplo. Ao considerar que a

língua varia nos contextos situacionais, passou-se a proceder ao levantamento de

características específicas de uma determinada área de ensino e tais características

passaram a ser a base de um curso para grupos específicos (Hutchinson & Waters,

1987, p. 7).

4 Inglês para Fins Gerais, na visão de Holmes (1981, p. 2), são cursos de língua nos quais os objetivos são inalcançáveis ou não são relevantes para as necessidades dos aprendizes.

Page 22: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

8

Segundo Hutchinson & Waters (1987, p. 7), a maioria dos trabalhos

produzidos nesse período dizia respeito à área de Ciência e Tecnologia, que era

vista como sinônimo de Inglês para Fins Específicos.

Além dos fatos apresentados acima, há um outro que teve um desempenho

importante no surgimento desta área de ensino-aprendizagem, Línguas para Fins

Específicos, que considera o aluno como o foco dessa abordagem. Na visão de

Hutchinson & Waters (1987, p. 8), a Psicologia Educacional contribuiu para o

crescimento do ensino de Inglês para Fins Específicos, pois o foco nas aulas de

idiomas passou a ser o aluno, com diferentes interesses e necessidades,

influenciado pela motivação em aprender uma língua com propósitos definidos.

Por fim, em relação às origens, Hutchinson & Waters (1987, p. 8) apontam

que o surgimento do ensino de Inglês para Fins Específicos teve três importantes

fatores que contribuíram para esse fenômeno: a expansão da demanda da língua

inglesa em situações particulares, o desenvolvimento da ciência no campo

linguístico e as pesquisas no campo da Psicologia Educacional.

Parece-me que há um ponto comum entre Hutchinson & Waters (1987) e

Dudley-Evans & St. John (1998) em relação à questão da expansão de Inglês

Instrumental. Para esses autores, a área de Ciência e Tecnologia colaborou em

larga escala para o desenvolvimento de Inglês para Fins Específicos.

Na concepção de Hutchinson & Waters (1987, p. 9), Inglês Instrumental tem

se desenvolvido em ritmos diferentes em diferentes países. A esses ritmos, os

autores atribuíram-lhes fases.

Segundo Hutchinson & Waters (1987, p. 10) a primeira delas iniciou-se na

década de 60 com a análise de registro. Nessa fase, a preocupação estava voltada

para o levantamento de características gramaticais e lexicais de textos provenientes

de diferentes áreas do saber, que refletiria no material usado no curso e,

consequentemente, tornaria um curso de Inglês Instrumental mais relevante.

Ainda segundo Hutchinson & Waters (1987, p. 10-11), na fase seguinte, a

Linguística, principalmente a textual, já impulsionava o desenvolvimento de ensino

de Inglês para Fins Específicos. Segundo esses autores, as pesquisas nessa área

mudavam de paradigma: enquanto na fase anterior os estudos voltavam-se para a

sentença, nesse momento havia uma tendência de pesquisas voltadas para o

estudo do discurso, em entender como as sentenças eram combinadas no texto para

Page 23: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

9

a produção de sentido. Continuam os autores esclarecendo que os resultados

desses estudos refletiram no conteúdo de cursos de Inglês Instrumental. Hutchinson

& Waters (1987, p. 10-11) informam que nessa fase havia uma outra preocupação,

especificamente com as estratégias retóricas usadas nos discursos provenientes de

diferentes áreas do conhecimento.

Assim, nessa fase, o desenvolvimento do ensino-aprendizagem de Inglês

para Fins Específicos estava voltado para análise do discurso e da retórica. Em

relação à análise do discurso, o que se entendia na época por discurso era como as

sentenças eram combinadas em um texto e não como discurso é entendido

atualmente, com combinação de informação textual, contextual e as relações

ideológicas veiculadas por ele (ver Fairclough, 1997 para maiores informações).

Na terceira fase, de acordo Hutchinson & Waters (1987, p. 12), o foco dos

estudos voltava-se para a análise da situação-alvo, mais conhecida como análise de

necessidades. Para o autor, “o objetivo do ensino de Inglês Instrumental é capacitar

os alunos a realizar tarefas em uma situação-alvo” (Hutchinson & Waters, 1987, p.

12), utilizando-se de meios linguísticos. Desse modo, para que o aluno realizasse

tarefas por meio da língua, era necessário que se procedesse à análise da situação-

alvo para identificar as características linguísticas importantes e necessárias que

seriam usadas na realização de tarefas e, consequentemente, fariam parte do

conteúdo do curso.

Na quarta fase, conforme informam Hutchinson & Waters (1987, p. 13), “a

preocupação maior não era estudar a língua com um fim em si mesma, mas como

processos cognitivos que permeiam seu uso”. Para os autores, nesse período, a

maioria das pesquisas desenvolvidas estava voltada para o estudo de habilidades e

estratégias no uso de uma língua.

Para Ramos (2005, p. 113), os cursos desenhados nessa fase tinham

necessidades específicas, voltavam-se para áreas específicas ou habilidades

também específicas, focando habilidade ou habilidades identificadas por meio de

análise de necessidades, com a intenção de preparar o estudante para o mundo do

trabalho.

Conforme explicam Hutchinson & Waters (1987, p. 14), as fases anteriores

focaram muito na descrição de língua em uso e isso foi enfraquecendo a visão da

Abordagem Instrumental, pois “não podemos simplesmente assumir que a descrição

Page 24: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

10

e exemplificação do que as pessoas fazem com a língua capacitará alguém a

aprendê-la” (Hutchinson & Waters, 1987, p. 14).

Ainda, segundo Hutchinson & Waters (1987, p.15), a quinta fase é chamada

de abordagem centrada na aprendizagem de uma língua e o foco passou a ser a

aprendizagem de uma língua estrangeira, isto é, entender os processos de

aprendizagem de língua. A esse respeito, os autores esclarecem o seguinte:

... our concern in ESP is not with language use – although this will help to define the course objectives. Our concern is with language learning (Hutchinson & Waters,1987, p. 14).

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 30) consideram que Inglês Instrumental “é

uma mistura de diferentes abordagens, materiais e metodologias” e que é ensinado

por muitos professores não nativos. Outro fato importante é a expansão do Inglês

para Negócios, que será tratado ainda neste capítulo, em seção própria, área em

que este trabalho está inserido e, na visão de Dudley-Evans & St. John (1998, p.

31), “é a maior área em crescimento” atualmente.

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 4-5) também trazem um aspecto novo em

relação a Inglês Instrumental: a questão dos gêneros. Ao apresentarem uma das

características de Inglês Instrumental, os autores pontuam o seguinte:

ESP is centred on the language (grammar, lexis, register), skills, discourse and genres5 appropriate to these activities (Dudley-Evans & St. John, 1998, p. 5).

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 31) citam Swales (1990) e a importância

de seu trabalho, que assumiu um papel de destaque em Inglês Instrumental e que

tem influenciado o trabalho de análise de gêneros, sejam eles orais ou escritos.

Como afirma Dudley-Evans (2000, p.2), ao longo de sua história, Inglês

Instrumental tem adotado várias abordagens para a análise do texto. Para o autor, a

abordagem funcional adotada a partir da década de 90 é a melhor já adotada, pois

aborda itens lexicais que ocorrem naturalmente no gênero e, além disso, ela

descreve a noção de estrutura associada com quantidade de características

gramaticais típicas de um gênero.

5 Grifo do pesquisador

Page 25: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

11

Segundo o autor,

The findings of genre analysis, however, bring together the insights of these earlier approaches to text analysis, but also a greater sophistication in the examination of the writers' purpose (Dudley-Evans, 2000, p. 2).

Ramos (2004) também tem defendido uma proposta de trabalho que

fundamenta o ensino de línguas baseado no conceito de gêneros textuais. Alguns

trabalhos na área de Língua Instrumental têm sido implementados sob essa

perspectiva, como o próprio trabalho de Ramos et al. (2004), Vian Jr.

(2003, 2006), entre outros.

Entre as inúmeras definições de gênero existentes atualmente na área da

Linguística Aplicada parece que todas se originam da proposta de Bakhtin (2000, p.

279) como sendo “tipos relativamente estáveis de enunciados”.

Conforme esclarecem Dudley-Evans & St. John (1998, p. 32), há um outro

fator que também tem exercido um papel importante em cursos de Línguas

Instrumentais: a abordagem baseada em tarefas.

Há na literatura diversas definições de tarefas. Adoto neste trabalho a

proposta por Shehadeh (2005). Segundo o autor,

A language learning task is an activity that has a non-linguistic purpose or goal with a clear outcome and that uses any or all of the four language skills in its accomplishment by conveying meaning in a way that reflects real-world language use. (Shehadeh, 2005, p. 18-19).

Pelo exposto, em relação ao desenvolvimento de ensino-aprendizagem de

Línguas para Fins Específicos, a Linguística foi uma das áreas que exerceu papel

importante em seu desenvolvimento, pois os direcionamentos que essa área tem

tomado estariam relacionados com os progressos da ciência da linguagem.

A partir do início do século XXI, pesquisas que têm por objetivo promover

análise de necessidades na área de Línguas para Fins Específicos no Brasil, como

por exemplo Pinto (2002), Ramos et al. (2004),Torres (2005), Vian Jr. (2006),

Carvalho (2008), Mazin (2009), Ramos (2009) Onodera (em andamento), esta

própria pesquisa, entre outros trabalhos, foram desenvolvidas.

Page 26: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

12

A análise de necessidades é um fato recorrente em todas essas pesquisas, o

que é uma questão central dentro da área de Línguas para Fins Específicos.

Na próxima seção, abordo o conceito e características dessa área de ensino-

aprendizagem.

1.2 Conceito e características de ensino-aprendizagem de Inglês para Fins

Específicos

Diante do exposto na seção anterior, a respeito das origens e

desenvolvimento de Inglês para Fins Específicos, o leitor pode perguntar-se o que

de fato é essa abordagem. Por esse motivo, tratarei aqui de conceituar o que é

Inglês para Fins Específicos ou Instrumental, como ficou conhecida essa abordagem

no Brasil, já mencionado anteriormente, e apresentar suas características.

Hutchinson & Waters (1987, p. 19) concebem o ensino-aprendizagem de

Inglês para Fins Específicos como uma abordagem centrada na aprendizagem da

língua, baseada nas razões de aprender do aluno, isto é, baseado nas necessidades

do aprendiz. São essas necessidades que vão ditar o ponto de partida para todo o

trabalho posterior que envolve o planejamento e elaboração de um curso intitulado

para fins específicos.

Para Robinson (1991, p. 1), Inglês para Fins Específicos é visto como uma

área que comporta múltiplas abordagens que são usadas em aulas de Inglês para

Fins Específicos, em lugares múltiplos e envolve três grandes áreas do

conhecimento: “Linguagem, Pedagogia e conteúdo específico de interesse dos

alunos”.

Na visão de Robinson (1991, p. 1), o conhecimento sobre Linguagem tem

implicação no trabalho do professor de línguas, pois envolve descrição, ensino,

material didático e elaboração de cursos de línguas. Para a autora, o professor

precisa ter conhecimento, ou no mínimo, acesso a esse tipo de informação.

Para Hutchinson & Waters (1987, p. 14), o conhecimento sobre Pedagogia

resultará também nas ações do professor, uma vez que Línguas para Fins

Específicos “devem ser baseadas no conhecimento dos processos de aprendizagem

da língua”.

Page 27: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

13

Holmes (1981, p. 4) esclarece que o conhecimento sobre o conteúdo

específico de interesse dos alunos é de fundamental importância pois, além de ter

uma função motivadora para o aprendizado da língua, também norteará as ações do

professor no que diz respeito à seleção do material didático e na implementação de

atividades, visando sempre à meta a ser atingida. Para Robinson (1991, p. 1), o uso

de material didático autêntico, que vá ao encontro das necessidades dos alunos, é

um dos fatores responsáveis pelo sucesso de um curso instrumental de línguas.

Robinson (1991, p. 2-3) aponta dois critérios básicos para Inglês Instrumental:

primeiro, objetivos dos alunos em estudar uma língua e, segundo, análise de

necessidades, que servirá para mapear as necessidades linguísticas dos estudantes

e direcionar o curso. Segundo ela, as “abordagens baseadas em conteúdo”6

(Robinson, 1991, p. 2) estão sendo bastante discutidas. Outro fato relevante trazido

por essa autora é a questão do tempo do curso, que precisa ser bem definido, e a

idéia de que um curso instrumental de língua pode ser frequentado por alunos

iniciantes ou não (Robinson, 1991, p. 3).

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 121) partilham da visão de Robinson

(1991) no sentido de que a análise de necessidades7 é um dos pontos-chave do

ensino de Línguas para Fins Específicos e enfatiza também o papel do desenho de

curso, seleção de material, ensino-aprendizagem e avaliação, como estágios que

merecem atenção na implementação de um curso instrumental de língua.

O ensino de Inglês para Fins Específicos não tem uma metodologia própria,

pois utiliza-se do mesmo processo de ensino-aprendizagem de Inglês para Fins

Gerais (Hutchinson & Waters, 1987, p. 18). A esse respeito, os autores esclarecem o

seguinte:

There is, in other words, no such thing as an ESP methodology, merely methodologies that have been applied in ESP classrooms, but could just as well have been used in the learning of any kind of English. (Hutchinson & Waters, 1987, p. 18)

Strevens (1988, p. 2-3), por sua vez, faz uma distinção entre características

absolutas e variáveis de Inglês Instrumental.

6 Todas as traduções das citações entre aspas, neste trabalho, foram feitas pelo pesquisador. 7 Essa característica de Inglês Instrumental será tratada na próxima subseção deste capítulo.

Page 28: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

14

Para esse autor, as características absolutas são quatro: (1) elaboração de

um curso que vá ao encontro das necessidades do aprendiz; (2) relação do

conteúdo com as disciplinas, ocupações e atividades do aluno; (3) foco sobre a

linguagem apropriada com atividades, em termos de sintaxe, léxico, discurso, etc.,

além de (4) essas características contrastarem com o Inglês Geral. As

características variáveis são duas: (1) a possibilidade de restringir-se ao aprendizado

das habilidades a serem aprendidas e (2) essas habilidades não deveriam ser

ensinadas de acordo com qualquer metodologia, embora a metodologia

comunicativa tenha sido a mais apropriada.

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 4-5) advogam por duas características

absolutas em relação a Inglês Instrumental: “curso elaborado em face das

necessidades dos aprendizes” e “o uso de atividades e metodologia básicas de

disciplinas que fazem uso de inglês instrumental”, ou seja, para esses autores, a

metodologia é uma das características centrais de Inglês instrumental, fato não

considerado por Strevens (1988).

Para Robinson (1991, p. 2), uma das características centrais de Inglês

Instrumental é o propósito do curso, pois os alunos se interessam em estudar inglês

por conta de necessidades que dizem respeito a seus estudos ou por questões de

trabalho. Então, o curso tem de focar nas necessidades dos alunos. Um outro fator

importante também, segundo a autora, é a autenticidade de materiais, que exerce

um papel de destaque no ensino-aprendizagem de Inglês Instrumental. A esse

respeito, West (1995, p. 3) complementa que a autenticidade não é só de material,

mas também de habilidades e estratégias. Isso significa que as tarefas devem ser

desenvolvidas de modo que os aprendizes possam empregar as mesmas

habilidades e estratégias que seriam requeridas no mundo real. Por isso, as

atividades propostas nas aulas devem ser relevantes para eles.

A outra característica central, de acordo com Robinson (1991, p. 3), é a

análise de necessidades, que deve levar em conta as necessidades iniciais do

aprendiz e suas necessidades de aprendizagem linguística. O professor que

trabalha com Inglês Instrumental deve ser guiado pela análise de necessidades para

a elaboração ou manutenção de um curso, pois “o processo de análise de

necessidades não é definitivo e sim contínuo, o que também se aplica aos

instrumentos utilizados” (Ramos et al., 2004, p. 21).

Page 29: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

15

Além disso, Robinson (1991, p. 3) relata que esses cursos envolvem

linguagem especializada e conteúdo, têm um período limitado em que os objetivos

têm de ser alcançados dentro desse tempo e geralmente são elaborados para

adultos com objetivos semelhantes de aprendizagem.

Holmes (1981, p. 8) partilha da visão dos autores apresentados nesta

subseção no sentido de que as necessidades dos aprendizes são características

típicas de Inglês Instrumental. O autor ressalta a relevância que se tem dado à

escolha dos textos para as aulas de Inglês Instrumental e apresenta três

características básicas, a partir de seu envolvimento com o Projeto Ensino de Inglês

Instrumental em Universidades Brasileiras, o qual será ainda apresentado neste

capítulo. A primeira delas são as necessidades dos alunos, que o autor considera a

mais importante. Segundo ele “se a necessidade dos alunos é ler, então não há

razão para não começarmos com a leitura” (1981, p. 8). Na sequência, apresenta

como características habilidades e estratégias e ainda enfatiza que Inglês

Instrumental não significa linguagem específica. Assim, na elaboração de um curso,

devem ser privilegiadas as habilidades e estratégias específicas que o estudante

necessitar. Por fim, o autor advoga que o conhecimento prévio do aluno está entre

as três principais características do ensino-aprendizagem de Inglês para Fins

Específicos, mesmo se esse conhecimento for proveniente apenas da língua

materna. Dessa forma, ainda, segundo o autor, devemos nos concentrar no que o

aluno já sabe para então construir sentido na língua estrangeira em estudo.

Como tentei demonstrar nesta seção, um fato que é recorrente na literatura

levantada é a análise de necessidades.

1.2.1 Análise de necessidades

De acordo com West (1995, p. 8), a análise de necessidades foi mais

fortemente estabelecida na década de 70, quando então os elaboradores de cursos

começaram a prepará-la com foco no aluno.

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 121) conceituam análise de necessidades

como “o processo em que se estabelece o que e como de um curso”. É a partir das

necessidades que estágios como “elaboração de curso; avaliação, produção ou

Page 30: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

16

avaliação de material; ensino-aprendizagem e avaliação” serão implementados. Os

autores ainda acrescentam que esses estágios representam fases interdependentes.

Na visão de Dudley-Evans & St. John (1998, p. 125), a análise de

necessidades procura identificar informações profissionais e pessoais sobre os

aprendizes; o nível e as deficiências linguísticas dos alunos; informações sobre

meios efetivos de aprendizagem; que aspectos da língua é usada e como é usada

nas situações-alvo pelos aprendizes; o que é desejável de um curso e, por fim,

informações sobre o meio em que o curso será desenvolvido.

Para Cintra & Passareli (2008, p. 61), que trabalham com Língua Portuguesa

Instrumental, a análise de necessidades permite ao professor definir conteúdos

relevantes para o fim específico, partindo dos conhecimentos prévios que os alunos

já têm, para lhes proporcionar um melhor desempenho de “funções acadêmicas ou

profissionais com a utilização de níveis de linguagem adequados, vocabulário e

gêneros textuais compatíveis com o esperado na situação em que se colocam”.

Ainda para essas autoras, é importante que o professor conheça, mesmo que

parcialmente, a área na qual vai atuar, para propor algo que seja compatível com o

nível de dificuldades de seus alunos e com suas necessidades de aprendizagem.

Isso demonstra a importância do papel do professor na construção do

instrumento que visa à identificação de necessidades dos alunos para que esse

mapeamento de necessidades não se afaste da realidade específica da área na qual

o aluno tem de atuar.

Como enfatizam Cintra & Passarelli (2008),

análise de necessidades insere-se no universo não de uma avaliação propriamente dita, de um procedimento classificatório com base no qual se determinam pontos ou notas para os alunos. Pelo contrário, o instrumento situa-se como atividade articulada, em que o conhecimento prévio e o conhecimento construído interferem no fazer da própria análise (p. 69).

Questionário de pesquisa, segundo Long (2005, p. 38) é um dos instrumentos

mais utilizados em pesquisas a respeito de análise de necessidades. Além disso,

para o autor, esse instrumento é caracterizado como forma relativamente rápida e

barata de obter informações relevantes dos participantes de uma pesquisa. Por outro

lado, segundo o autor, esse instrumento pode oferecer algumas limitações, como

Page 31: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

17

uso de perguntas predeterminadas. Para solucionar essa limitação, pode-se lançar

mão de entrevistas estruturadas ou não como meio de obter informações mais

esclarecedoras acerca de alguma questão que, por ventura, apresente-se de forma

limitada.

Conforme explica Long (2005, p. 38), esse instrumento pode ser elaborado

com perguntas abertas e fechadas. De acordo com o autor, as questões abertas

permitem coletar um número grande de informações detalhadas, como tarefas

comunicativas realizadas pelos participantes, e menos padronizadas, o que, por

outro lado, pode ser mais difícil de categorizar e interpretar seus dados. Já as

perguntas fechadas, conforme ensina Long (2005, p. 38-39), fornecem informações

mais padronizadas e fáceis de quantificar.

Segundo Long (2005, p. 22), há motivações de sobra para o uso de tarefas

como unidade de análise em análise de necessidades, como é o caso do presente

estudo, que permitem coerência na elaboração de um curso centrado nas

necessidades dos alunos.

De acordo com Long (2005, p. 22) há cinco razões para uso de tarefas como

unidade de análise.

A primeira delas, de acordo com o autor, é o fato de as descrições de cargos,

elaborados previamente pelas empresas, serem formulados em termos de

conhecimento que o funcionário deve ter de sua função e as tarefas que ele tem de

executar. O autor salienta que muitas vezes esse documento não traz especificado o

que é necessário o funcionário saber em termos de língua estrangeira e as vezes o

documento nem especifica se há necessidade de uso de língua estrangeira.

A segunda razão, conforme especifica Long (2005, p. 22), está ancorada no

fato de que uma análise de necessidades baseada em termos linguísticos possui a

tendência de apresentar listas de itens estruturais descontextualizados e que não

leva em consideração a tarefa a ser desenvolvida.

A terceira razão, conforme explica Long (2005, p. 22), refere-se ao fato de

“que a análise de necessidades baseada em tarefa revela muito mais que uma

análise baseada em textos sobre as qualidades dinâmicas do discurso alvo”.

Segundo o autor, textos, se simplificados ou autênticos, são resultados de

comunicação entre as pessoas.

Page 32: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

18

A quarta razão, para Long (2005, p. 23), reside no fato de onde não houver

análise de necessidades já pronta, como é o caso do contexto pesquisado por este

trabalho, há razão de sobra para o mapeamento de uma. Além disso, o autor

salienta que uma análise de necessidades realizada para um grupo específico não

tem função para outros contextos, de modo que se torna necessária a realização de

uma análise de necessidades para cada contexto no qual se pretende implementar

um curso instrumental de língua. Complementando essa informação, Long (2005,

p.23) informa que, em muitos casos, pessoas com conhecimento amplo da função

em análise podem fornecer informações válidas em termos de tarefas a serem

executadas, mas não em termos de língua a ser aprendida-ensinada.

Por fim, a quinta e última razão, na visão de Long (2005, p. 23), tem relação

com a relevância dos resultados obtidos com a análise de necessidades baseada

em tarefa para a elaboração de um conteúdo programático, pois esses dados

funcionam como insumos que podem ser harmonizados em um curso centrado nas

necessidades dos aprendizes.

Ramos et al. (2004, p. 21) salientam a importância de a análise de

necessidades ser constante, ou seja, pré-curso, durante o curso, para reorientar o

seu planejamento e pós-curso, para verificar a validade das necessidades dos

alunos identificadas no estágio pré-curso. Ainda, segundo os autores, a análise de

necessidades propicia “a oportunidade de identificar objetivos imediatos, bem como

aqueles que devem ser atingidos a médio e longo prazo” (Ramos et al., 2004, p. 19).

Além disso, na visão dos autores, a análise de necessidades dá condições de

identificar possíveis gêneros que poderão ser explorados durante o curso e,

portanto, fica evidenciada a importância desse procedimento em um curso

desenhado com base em gêneros textuais.

Na visão de Hutchinson & Waters (1987, p. 22), a elaboração de um curso

pressupõe a inter-relação de quatro fatores: o fator central é o próprio curso de

Línguas para Fins Específicos, com o qual estão inter-relacionadas as teorias de

aprendizagem, a análise de necessidades e as teorias linguísticas.

Para os autores citados acima, a questão para que deveria ser o ponto inicial

de qualquer curso, seja ele para fins gerais ou específicos. O que diferencia esses

dois tipos de cursos não é a necessidade mas a consciência da necessidade

Page 33: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

19

(Hutchinson & Waters, 1987, p. 53). É nesse ponto que a análise de necessidades

torna-se fator central dentro de qualquer curso de Línguas para Fins Específicos.

A partir desse princípio, Hutchinson & Waters (1987, p. 55-62) dividem a

análise de necessidades em dois grupos: as necessidades-alvo – o que o aprendiz

precisa fazer na situação-alvo - e as necessidades de aprendizagem – o que o

aprendiz precisa aprender para atuar na situação-alvo.

Hutchinson & Waters (1987, p. 55) explicam que o primeiro grupo, que se

refere às necessidades-alvo, identifica o que o aluno precisa saber, em termos

linguísticos, na situação-alvo. Nessa etapa, pode aparecer, não somente as

necessidades, mas também lacunas e desejos dos aprendizes no aprendizado de

alguma tarefa linguística. As necessidades correspondem ao que o aprendiz

necessita saber para atuar na situação-alvo. As lacunas correspondem à diferença

entre o que o aluno já sabe em termos de língua e o que precisa saber. Por fim, os

desejos dizem respeito ao conflito entre o que o aluno acha que precisa aprender e

o que de fato ele necessita, identificado pela análise de necessidades.

O segundo grupo, necessidades de aprendizagem, considera as lacunas

como o ponto inicial e as necessidades como o destino (Hutchinson & Waters, 1987,

p. 60). É nesse trajeto que aparecem as necessidades de aprendizagem. A questão

aqui é como o aluno vai aprender para comunicar-se de forma efetiva, em termos de

linguagem, habilidades e estratégias, na situação-alvo.

Para Brindley (1989, p. 63), “análise de necessidades é um pré-requisito vital

para a especificação dos objetivos de aprendizagem de língua”. A partir dessa

definição, o autor divide necessidades em dois tipos: orientados para o produto e

para o processo. O primeiro tipo, segundo o autor, refere-se à linguagem que os

aprendizes precisarão utilizar em determinada situação de comunicação, seja

imediata ou a longo prazo, isto é, a análise de necessidades, sob essa perspectiva,

tem por objetivo identificar as necessidades linguísticas de uso corrente ou futuro,

por parte dos aprendizes, antes do início de um curso. Já o segundo tipo, ainda

segundo o autor, refere-se às necessidades individuais do aprendiz. Nesse caso, o

autor explica que a análise de necessidades tem por objetivo identificar não somente

aspectos linguísticos a serem ensinados, mas também aspectos como motivação,

como se aprende, desejos, etc., cujos fatores afetam o processo de aprendizagem

dos aprendizes.

Page 34: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

20

Pelo exposto, a análise de necessidades é uma característica central em toda

a teoria apresentada neste capítulo, pois busca identificar as necessidades dos

alunos para, a partir delas, elaborar um curso instrumental de línguas.

Com relação a este trabalho, cujos objetivos gerais são identificar quais são

as funções e tarefas comunicativas desempenhadas na área editorial, quais são as

necessidades de aprendizagem desses profissionais e quais subsídios são trazidos

para um delineamento de curso, utilizo as definições e nomenclaturas propostas pela

teoria exposta.

A seguir, apresento um breve histórico sobre ensino-aprendizagem de Inglês

Instrumental no Brasil.

1.3 Ensino-aprendizagem de Inglês Instrumental no Brasil

Como esclarece Ramos (2008, p. 3), é impossível abordar a história do

ensino de Inglês Instrumental no Brasil sem tecer comentários ao Projeto Nacional

de Inglês Instrumental em Universidades Brasileiras (doravante Projeto).

Segundo Celani (2005, p. 14), a necessidade de criar-se um centro de

excelência, no Brasil, voltado para a formação de professores e ao ensino de Inglês

Instrumental, surgiu no fim da década de 70. Conforme explica Ramos (2008, p. 3),

muitos fatores contribuíram para a criação desse centro de excelência. Um deles foi

o grande número de professores universitários de várias partes do país,

matriculados no curso de mestrado da PUC-SP, que demonstraram profundo

interesse na área de Inglês Instrumental por não se sentirem bem preparados para

ministrar cursos desse tipo em suas instituições. Outro fator importante foi a

consideração que esses professores tinham a respeito de Inglês Instrumental: uma

atividade menos nobre que o ensino de língua e literatura inglesa.

De acordo com Ramos (2005, p. 114), foi nesse contexto que surgiu o Projeto

Nacional, com apoio do Conselho Britânico, cuja professora coordenadora era Maria

Antonieta Alba Celani, da PUC-SP, e Tony Deyes, John Holmes e Mike Scott,

representantes do Conselho Britânico.

Após várias visitas realizadas em várias universidades brasileiras, chegou-se

à conclusão de que de fato havia interesse nacional e necessidade que justificavam

a abrangência do Projeto (Celani, 2005, p. 15).

Page 35: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

21

Conforme explica Ramos (2008, p. 4), o Projeto tinha por objetivos: formação

de professores, produção de material didático e ensino de habilidades de leitura para

textos acadêmicos.

De acordo com Celani (2005, p. 15), uma das características do Projeto era

integração da formação de professores com preparação de material didático, mas

que disso não resultasse em livro didático, muito comum em outros projetos que

estavam em andamento naquela época, mas que resultasse em desenvolvimento de

uma série de princípios compartilhados entre os professores participantes do

Projeto, convidando-os a refletir sobre a natureza de seu contexto de trabalho e

sobre a melhor maneira de satisfazê-lo.

Na visão de Celani (2005b, p. 395), essa concepção de formação de

professores requeria mudanças no papel do professor. Para a autora, mudanças são

sempre difíceis por várias razões, pois geram incertezas, surpresas, ansiedade e

para que elas de fato ocorressem, dependeria, entre outros fatores, de ajustes no

relacionamento entre as pessoas envolvidas: professores, estudantes, colegas,

direção, etc.

A autora ainda acrescenta que a resistência a essas mudanças também é

natural, pois mudar significa correr riscos. Conforme explica Celani (2005b), os

professores

“devem estar preparados para responsabilizar-se pelas decisões que afetam o universo social da sala de aula, assim, evitando tornar-se vítima de demandas alheias, como métodos, livros didáticos escolhidos pelas razões erradas ou porque estão na moda, etc.” (p. 395).

Na visão de Celani (2005b, p. 396/397), a concepção adotada para a

formação de professores em serviço focava o desenvolvimento de atividades de

pesquisa, para que o professor pudesse ter subsídios para atuar de forma autônoma

em seu contexto de trabalho. Segundo a autora, o professor passaria do papel de

único detentor do saber para um professor pesquisador e mediador, que compartilha

e constrói conhecimento na sua prática. Em vez de ser treinado e a seguir regras, já

que nesse período (décadas de 70/80) havia uma longa tradição já estabelecida que

privilegiava a formação docente em métodos (Celani, 2005b, p. 395), a abordagem

estabelecida pelo Projeto visava justamente quebrar essa tradição.

Page 36: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

22

Outra área que recebeu prioridade também no Projeto, de acordo com Celani

et al. (2005, p. 399), foi a de preparação de material. Celani et al. (2005, p. 400)

esclarecem que, ao pôr o foco em o que e por que, em vez de como, o plano de

trabalho estabelecido privilegiou troca de experiências e preparação de material

didático organizados em seminários regionais e nacional. Ainda, segundo a autora,

esse trabalho envolvia auto-avaliação relacionada ao trabalho desenvolvido e dava a

oportunidade aos professores de usar sua própria experiência em sala de aula na

elaboração de material didático, em um trabalho de ação e reflexão.

A abordagem do Projeto, que integrava formação de professor com produção

de material didático, era baseada em um conjunto de princípios (Celani, 2005b, p.

398) e era posta em prática a partir da conscientização de questões como a

natureza do ensino de Inglês Instrumental em particular, do ensino de Língua

Estrangeira, do ensino em geral e do papel do professor, sobretudo, de Inglês

Instrumental. Segundo Celani (2005b, p. 398), o conhecimento dessas questões

dava aos professores a possibilidade de tornarem-se “agentes de sua própria

formação”.

De acordo com Celani (2005a, p.17), esse Projeto ficou conhecido por sua

abordagem. Primeiro, o ensino-aprendizagem partia do conhecimento que

professores e alunos traziam consigo. Segundo, conforme explica Ramos (2008, p.

5), do Projeto resultou uma metodologia de ensino de habilidades de leitura e

tópicos relacionados ao desenvolvimento dessas habilidades, como por exemplo,

estratégias de leitura, gramática mínima do texto, análise textual, elaboração de

curso, discurso e discurso científico, uso de palavras cognatas, papel do material

didático e do professor como pesquisador, etc. Para a autora, essa metodologia até

hoje é usada e/ou adaptada por muitos cursos instrumentais de língua oferecidos no

Brasil.

Já na segunda fase do Projeto (1986-1989), outras instituições, como escolas

técnicas, integraram-se às demais, trazendo contribuições muito ricas para o

contexto do Projeto (Celani, 2005a, p. 18).

O Projeto, pela sua visibilidade, atraiu profissionais envolvidos com o ensino

de outras línguas, como Portuguesa e Espanhola, que se beneficiaram de estudos

desenvolvidos em todos esses anos, como atesta Celani (2005a, p. 18).

Page 37: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

23

Ainda para essa autora, a sustentabilidade do Projeto deveu-se ao fato de

que o interesse e a necessidade de adesão a ele partiu dos professores e não de

instituição governamental ou afins e isso garantiu sua sobrevivência ao longo de

quase trinta anos.

Embora o Projeto tenha trazido contribuições enriquecedoras, segundo

Ramos (2008, p. 10/11), alguns mitos também foram criados a partir das

necessidades de aprendizagem identificadas pelo projeto. Entre eles, segundo essa

autora, criou-se o mito de que Inglês Instrumental é sinônimo de leitura. Leitura foi

apenas a habilidade identificada, por meio de uma análise de necessidades

realizada na época, como única a ser ensinada. Isso, segundo a autora, não

significa que em todo curso de Inglês Instrumental deve ser ensinado apenas leitura.

A habilidade ou habilidades a serem ensinadas, em qualquer curso de Inglês

Instrumental, será ou serão identificadas por meio de uma análise de necessidades.

Para Ramos (2008, p. 13), a partir dos anos 90 surgiram outras demandas em

termos de habilidades a serem ensinadas como a escrita de resumos, apresentação

oral em congressos, palestras e muitas outras. Como consequência disso, o

contexto de atuação do professor de Língua Instrumental foi ampliado, seja em

termos de área do conhecimento ou de habilidades a serem ensinadas, sem

mencionar a questão da tecnologia que se tornou latente não só no mundo

corporativo mas também no contexto de educação.

1.4 Ensino-aprendizagem de Inglês para Negócios

Alguns autores como Dudley-Evans & St. John (1998, p. 4) e Robinson (1991,

p. 2) concebem Inglês Instrumental como área maior e que, dela, há ramificação de

duas grandes áreas: Inglês para Fins Acadêmicos (EAP - English for Academic

Purposes) e Inglês para Fins Ocupacionais (EOP – English for Occupational

Purposes).

A primeira área, conforme Robinson (1991, p. 2), diz respeito às

necessidades de ensino-aprendizagem voltadas para o contexto acadêmico e tem

relação com estudo de uma disciplina específica, que pode estar relacionada com

momentos diferentes de aprendizagem: (1) que antecede a entrada do aluno na

Page 38: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

24

universidade, pré-estudo, (2) durante sua permanência no curso, em estudo, ou (3)

mesmo após o término do curso, pós-estudo.

Entretanto, para essa autora, Inglês para Fins Ocupacionais diz respeito às

necessidades de ensino-aprendizagem voltadas para o contexto de trabalho, área

em que se insere esta pesquisa. Para Robinson (1991, p. 2), o período de

aprendizagem também pode variar, tal qual em Inglês para Fins Acadêmicos, pois o

aluno pode estudar EOP para adquirir experiência de determinada área, o que a

autora chama de “pré-experiência”, para, posteriormente, ingressar-se no mercado

de trabalho. A autora também menciona o período “em serviço”, isto é, o aluno

estuda Inglês para Fins Ocupacionais ao mesmo tempo em que exerce uma

profissão e há também aquele que se interessa por um curso de EOP mas que se

encontra em uma posição “pós-experiência”, ou seja, ele já tem um conhecimento

avançado mas quer atualizar-se profissionalmente.

Para ilustrar o que foi exposto a respeito das duas grandes áreas de Inglês

Instrumental, reproduzo abaixo a figura extraída de Robinson (1991):

Pré-experiência

Simultâneo / Em serviço

Pós-experiência

Inglês para

Fins Ocupacionais

Inglês Instrumental

Inglês para Fins Acadêmicos

Para estudo em uma disciplina específica

Como conteúdo escolar

Pré-estudo

Em estudo

Pós-estudo

Independente

Integrado Figura 1.1 – Sub-áreas de Inglês Instrumental, conforme Robinson (1991, p. 3)

Page 39: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

25

Há autores também, como Ellis & Johnson (1994, p. 4), que trabalham com

Inglês para Negócios, que diferenciam Inglês para Fins Específicos e para Fins

Gerais. Segundo esses autores, no final dos anos 60 e início dos 70, o que

diferenciava Inglês para Fins Específicos e para Fins Gerais era o vocabulário

específico, focado pela maioria dos cursos em andamento. Para eles, nesse

momento, perguntas de compreensão de texto e exercícios de vocabulário eram

privilegiados em cursos intitulados Inglês para Negócios (uma das áreas de Inglês

para Fins Específicos) e não havia consideração de como os alunos utilizariam esse

aprendizado em situações de vida real.

Para esses autores, já em meados dos anos 70, a abordagem envolvia a

aprendizagem das quatro habilidades comunicativas (compreensão escrita e oral e

produção escrita e oral), mas as habilidades necessitadas por alunos dos cursos,

que poderiam ser identificadas por meio de uma análise de necessidades, ainda não

eram focadas. No entendimento de Ellis & Johnson (1994, p. 4), a abordagem na

estrutura da língua ainda era o foco desses cursos.

Na fase seguinte, conforme esclarecem Ellis & Johnson (1994, p. 4), a partir

de meados dos anos 70 e início dos anos 80, o foco passou a ser a funcionalidade

da língua, isto é, ensino-aprendizagem de habilidades que poderiam ser utilizadas

em contexto real de interação como dar opinião, fazer recomendação, aceitar uma

idéia, pedir esclarecimentos, etc.

Ellis & Johnson (1994, p. 4) apontam que, a partir dos anos 80, todas as

características das abordagens anteriores continuaram a ser desenvolvidas em

cursos mas “com muito mais ênfase na necessidade de desenvolver habilidades

para o uso da língua aprendida”. Ainda segundo esses autores, “o reconhecimento

da necessidade de os empresários serem proficientes nas habilidades de

comunicação nos negócios teve um impacto muito grande sobre ensino-

aprendizagem de Inglês para Negócios” (Ellis & Johnson, 1994, p. 5).

Conforme explicam os autores, nos anos 90, algumas variedades de Inglês

para Negócios surgiram. Para Ellis & Johnson (1994, p. 5), uma delas foi o

surgimento de cursos desenhados para pessoas, geralmente adultas, que se

preparam para ingressar no mercado de trabalho e para aquelas que já estão (sejam

elas com pouca ou muita experiência), ou seja, alunos que ainda estavam

estudando para entrar no mundo dos negócios (pré-serviço) e alunos já experientes

Page 40: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

26

(em serviço), em atuação, que traziam para os cursos conhecimento relevante, já

adquirido em língua materna, de suas atividades profissionais. Ainda, na visão

desses autores, desse momento em diante, a importância sobre o uso da linguagem

ficou mais evidente que o conhecimento teórico sobre a linguagem.

Ellis & Johnson (1994, p. 17) apontam algumas razões, entre tantas, pelas

quais esses alunos desejavam e ainda desejam aprender inglês. Para os autores,

com a globalização, inúmeras empresas ampliaram seus negócios a outros países,

tendo de contratar funcionários nessas filiais e, consequentemente, essas pessoas

têm de comunicar-se com os funcionários da matriz; com o advento da internet, o

livre comércio entre as nações tornou-se algo cotidiano e, mais uma vez, há a

necessidade de comunicação entre essas empresas, seja por telefone, correio

eletrônico ou videoconferência, só para citar alguns dos meios de comunicação.

Vian Jr. (1999) esclarece essa transformação que os meios de comunicação

empresarial têm sofrido de forma bastante elucidativa, para ele

o avanço tecnológico, portanto, obrigou as empresas a desenvolver meios cada vez mais rápidos e eficientes para a comunicação, mudando assim as práticas de produção de documentos escritos, que antes eram baseados em livros e manuais com modelos preestabelecidos de cartas, funcionando como uma fonte de frases feitas para as pessoas que necessitassem produzir algum documento escrito (Vian Jr., 1999, p. 11).

Ellis & Johnson (1994, p. 22) informam que os cursos direcionados a esse

segmento eram, e ainda são, ministrados em escolas de línguas e também

diretamente em empresas, como é o presente estudo de caso, seja para pequenos

grupos ou para somente um aluno, que, muitas vezes, prefere ter aula particular

para não se expor perante outras pessoas.

Segundo Ellis & Johnson (1994, p. 25), é difícil descrever um típico professor

de Inglês para Negócios mas é possível traçar um perfil desse profissional. Para

esses autores, o professor de Inglês para Negócios não precisa ser um profundo

conhecedor da área de negócios, pois muitas vezes, o aluno, que já atua no

mercado de trabalho, traz esse conhecimento para a sala de aula. Seguem

esclarecendo os autores, o professor deveria ser visto como especialista na

Page 41: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

27

apresentação e explicação da língua e no diagnóstico de problemas de linguagem

apresentados pelos alunos, isto é, professor tem de estar informado sobre como a

língua funciona.

Segundo Dudley-Evans & St. John (1998, p. 70), “o que um profissional que

trabalha com ensino-aprendizagem de Inglês para Negócios precisa é entender a

interface entre princípios de negócios e linguagem”.

Conforme explicam Ellis & Johnson (1994, p. 25), essa postura do professor

de Inglês para Negócios traz riscos para o profissional, pois ele atua em um

ambiente de ensino-aprendizagem de instabilidade, imprevisível. Essa nova

demanda traz para o professor de Inglês para Negócios uma nova exigência, uma

competência para trabalhar com essa abordagem.

O que caracteriza a língua dos negócios, segundo Ellis & Johnson (1994, p.

7), é o propósito com que as pessoas a usam. A língua é usada para um fim, um

propósito, e o sucesso desse uso é medido pelos resultados de transações de

negócios e eventos alcançados.

O mundo dos negócios é um mundo competitivo e essa competição é

existente entre empresas e mesmo entre funcionários de uma mesma empresa. Por

esse motivo, na visão de Ellis & Johnson (1994, p. 7), os objetivos relacionados ao

desempenho do profissional dentro da instituição têm prioridade em relação aos

objetivos educacionais ou aos próprios objetivos de aprendizagem de uma língua,

pois tem relação direta com sua carreira. Entretanto, o desempenho linguístico que o

profissional terá na empresa vai depender, inclusive, dos objetivos educacionais

identificados por meio de uma análise de necessidades, que deverá ser realizada no

contexto, e que deverão ser abordados no curso a ser proposto. Portanto, parece

um pouco arriscado afirmar que os objetivos educacionais, em cursos de Inglês para

Negócios, estão em segundo plano. Acredito que se deve estabelecer uma interface

entre os níveis profissional, educacional, linguístico e até cultural.

De acordo com os autores, o uso da linguagem implica elemento de risco;

erros e desencontros de informações podem custar caro a uma empresa, então o

uso de uma língua em transações de negócios tem como finalidade persuadir o

outro, aceitar propostas, analisar situações e tomar posição, por exemplo. Essa

posição assumida aqui pelos autores contradiz a idéia de que os objetivos de

desempenho do profissional sobressaem aos objetivos educacionais.

Page 42: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

28

Parece que os autores também acreditam que a interface entre desempenho

profissional, curso de língua e aspectos culturais é necessária nos cursos de Inglês

para Negócios, pois, Ellis & Johnson (1994, p. 8) destacam duas posições

importantes a esse respeito, que podem ser cruciais, em interação com propósitos

de negócios: são os aspectos sociais, que devem ser levados em consideração na

comunicação e também na elaboração de currículo de cursos para fins de negócios,

e a comunicação clara, que permite a minimização de enganos e desentendimentos

linguísticos.

O atual estágio de globalização demanda mudanças tecnológicas. Isso

alterou sensivelmente os meios de comunicação em geral e mais especificamente, a

comunicação empresarial, que exige rapidez e efetividade nas mensagens

veiculadas. Essa mudança propiciou à língua inglesa uma inserção maior em países

não falantes de inglês, como é o caso do Brasil. Isso mostra a relevância da teoria

adotada para a análise de dados desta pesquisa.

Assim, o ensino-aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, neste caso,

Inglês para Fins Ocupacionais – de negócios – encontra relevância em nossa

sociedade, por tudo que foi exposto nesta seção.

1.5 Pressupostos teóricos para delineamento de um curso instrumental de línguas

O conteúdo programático de um curso instrumental de língua pode ser

delineado baseado nos resultados de uma análise de necessidades previamente

realizada.

Dudley-Evans & St. John (1998, p. 146) sugerem alguns parâmetros para a

elaboração de um curso instrumental de língua. Estabelecem os autores questões

relacionadas, por exemplo, à extensão e foco do curso, tipos de alunos, papel do

professor e tipos de conteúdo.

Cursos de Inglês para Negócios geralmente são ministrados por professores

particulares e em empresas, onde os alunos trabalham. A extensão de um curso

instrumental é prevista em virtude de o número de habilidades e necessidades de

seus alunos. Esses cursos podem ser intensivos ou extensivos, dependendo do

número de habilidades a serem ensinadas aos alunos (Dudley-Evans & St. John,

Page 43: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

29

1998, p. 146). Seu público-alvo pode ser alunos que ainda não ingressaram no

mercado de trabalho ou ainda alunos que já atuam profissionalmente. Esses cursos

têm por objetivos concentrar-se em vários eventos comunicativos para fornecer aos

alunos, estejam eles ou não atuando profissionalmente, subsídios linguísticos para o

desenvolvimento de suas tarefas profissionais por meio da língua inglesa. Cursos

sob a rubrica instrumental podem, ainda, serem flexíveis e negociáveis, ao passo

que tem por finalidade atender às necessidades específicas desses alunos,

conforme salientam Dudley-Evans & St. John (1998, p. 146).

O professor, em cursos instrumentais de línguas, é visto como um consultor,

pois esse profissional pode não ser um especialista na área de atuação de seus

alunos mas usa seu conhecimento sobre linguagem para ajudá-los a interpretar

situações específicas de uso da língua em contextos também específicos (Dudley-

Evans & St. John, 1998). Assim, esse professor é considerado consultor de

linguagem para a área em que ensina.

Em relação à seleção de conteúdos, deve-se estabelecer uma interface entre

conteúdos gerais e específicos. Os conteúdos gerais são conteúdos comuns tanto a

cursos de línguas para fins gerais quanto para cursos instrumentais (Dudley-Evans &

St. John, 1998, p. 152). Já os conteúdos específicos são aqueles típicos de uma

área de conhecimento e que, para sua implementação, dependerá da extensão do

curso, conforme atestam Dudley-Evans & St. John (1998, p. 152).

Ramos (2004) sugere a implementação de cursos instrumentais de línguas

baseados em gênero. Segundo essa autora, gênero

é entendido como um processo social dinâmico, com um ou mais propósitos comunicativos, altamente estruturado e convencionalizado, reconhecido e mutuamente compreendido pelos membros da comunidade em que ele rotineiramente ocorre. Além disso entende-se que ele opera não só dentro de um espaço textual, mas também discursivo, tático (estratégico) e sócio-cultural. (Ramos, 2004, p. 115).

A respeito da implementação desses cursos, há um trabalho prévio a ser

desenvolvido pelo professor que se refere ao levantamento na literatura do que já foi

feito e dito sobre o gênero que se pretender ensinar. Isso possibilita ao professor

ampliar ou construir conhecimentos sobre o gênero em questão.

Page 44: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

30

Conforme orientação de Ramos (2004, p. 119), alguns passos podem ser

seguidos para a implementação desses gêneros identificados na análise de

necessidades, no curso particular de Inglês para Negócios.

Segundo Ramos (2004, p. 119), o primeiro passo é a “apresentação” do

gênero para que os alunos possam familiarizar-se com ele em relação ao contexto

de produção, função comunicativa, papéis sociais dos interlocutores envolvidos,

características estruturais e discursivas e mecanismos de textualização. Atividades

que visem a esse reconhecimento poderiam ser propostas aos alunos.

O segundo passo, segundo a autora, trata do “detalhamento”, ou seja, um

trabalho mais específico como a organização retórica dos tipos textuais e discursos

mobilizados pelo gênero e suas características léxico-gramaticais com o objetivo de

proporcionar aos alunos a vivência do gênero em estudo, seja em termos de

produção ou compreensão, para que possam apreender esse gênero e incorporá-lo

ao exercício de sua atuação profissional. Novamente, atividades nesse estágio

podem ser realizadas para verificação de aprendizagem dos alunos em relação ao

trabalho desenvolvido nessa fase.

O terceiro e último passo, segundo Ramos (2004, p.124), refere-se à

aplicação, a fase mais importante considerada pela autora. É nessa fase que ocorre

a articulação dos estudos realizados nas fases anteriores, em que se espera que os

alunos se apropriem do gênero em estudo, seja para sua produção oral ou escrita ou

para compreensão oral ou escrita. Atividades também podem ser propostas nesse

estágio final com intenção de verificar se os alunos apreenderam o gênero estudado,

se conseguem compreender ou produzi-lo, mobilizando discursos, por exemplo,

específicos da área editorial, veiculado neles.

O ensino baseado em necessidades e tarefas reais, traduzidas em gênero,

pode propiciar ao aprendiz uma atualização de sua carreira, em termos de

linguagem. Ensino-aprendizagem de Línguas para Fins Específicos, sobretudo o

inglês, terá seu sentido assegurado se soubermos claramente responder à

declaração de Hutchinson & Waters (1987, p. 8) trazida na epígrafe deste capítulo,

“diga-me para que você precisa de inglês e eu lhe direi o inglês que você precisa”.

Page 45: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

31

CAPÍTULO 2

METODOLOGIA DA PESQUISA

O objetivo deste capítulo é apresentar o referencial teórico que norteou a

coleta dos dados, o contexto em que essa coleta aconteceu, a caracterização dos

participantes, os instrumentos utilizados para a coleta e os procedimentos seguidos

para a análise dos dados.

2.1 Referencial teórico para a coleta de dados

Com o propósito de obter informações sobre o perfil dos participantes, de

identificar as necessidades de uso e de aprendizagem da língua inglesa na situação-

alvo (Hutchinson & Waters, 1987; Brindley, 1989), optei por desenvolver uma

pesquisa com características de Estudo de Caso.

Segundo Yin (1989), esse tipo de pesquisa enfoca um fenômeno

contemporâneo em contexto real, na qual o pesquisador e pesquisados interagem

de modo cooperativo e participativo para a resolução de um problema, seu

esclarecimento ou propor soluções que ampliem o conhecimento sobre os fatos

observados.

Stake (1998, p. 88) caracteriza o tipo de estudo desenvolvido nesta pesquisa

como Estudo de Caso Intrínseco, pois um contexto particular é estudado a partir de

interesses intrínsecos do pesquisador e não para o entendimento ou construção de

teorias. O autor salienta ainda que, embora o caso e seu contexto sejam

examinados com profundidade, não é possível compreender o caso estudado em

toda a sua complexidade. Cabe ao pesquisador ter isso em mente e definir o que

deve ser entendido de um estudo de caso particular. Segundo Stake (1998), o que

aprendemos de um caso particular deriva das similaridades e diferenças de um caso

específico relacionado a outros. De acordo com o autor, o caso estudado deve ser

bem descrito a fim de permitir ao leitor comparações com outros estudos.

Dentro dessa orientação, a presente pesquisa, portanto, apresenta-se com

Page 46: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

32

características de um Estudo de Caso Intrínseco, uma vez que há o interesse do

professor-pesquisador em investigar quais são as funções e tarefas comunicativas

desempenhadas por profissionais da área editorial e quais são suas necessidades

de aprendizagem, em termos de língua inglesa.

Na busca de definir os estágios de um Estudo de Caso, Chizzoti (2006a, p.

102) apresenta três fases que delimitam o trabalho do pesquisador. A primeira

compreende a seleção e delimitação do caso que será estudado; a segunda, o

trabalho de campo do pesquisador, que se refere à coleta e organização dos dados

que nortearão as inferências e o relatório do caso e, por fim, a terceira, organização

e redação formal dos resultados do estudo.

Na primeira fase desta pesquisa, selecionei e delimitei o caso a ser estudado,

ou seja, investiguei quais são as funções e tarefas comunicativas desempenhadas

por profissionais da área editorial e quais são suas necessidades de aprendizagem,

em termos de língua inglesa, que os informantes em serviço, de um curso particular

de Inglês para Negócios, ministrado pelo professor-pesquisador, em uma empresa

do ramo editorial, descrita no item 2.2 deste capítulo, têm de desempenhar utilizando

a língua inglesa.

Na segunda fase, que compreende a coleta e organização dos dados, não fiz a

observação in loco dos participantes. Os dados foram obtidos por meio de um

questionário e uma entrevista semi-estruturada (Long, 2005, p. 59), o que permitiu

um estreitamento nas relações entre alunos e professor-pesquisador. Além disso,

foram analisados documentos internos da empresa, como e-mails e ferramentas

computacionais, aos quais os participantes têm acesso, descrição dos cargos (West,

1984; Long, 2005) dos participantes, fornecida pela empresa na qual trabalham,

descrição dos cargos que os participantes ocupam, de acordo com a Classificação

Brasileira de Ocupações, elaborados pelo Ministério do Trabalho e Emprego - MTE -

e 6 anúncios de empregos oferecidos para as funções relacionadas ao exercício da

profissão dos participantes deste estudo de caso, que ainda serão descritos neste

capítulo.

O fato de a escolha dos meios para o levantamento do corpus deste trabalho

serem múltiplos deve-se à orientação de West (1984), Stake (1998) e Long (2005)

no uso de múltiplas percepções para o levantamento de dados para dar mais clareza

aos resultados, reduzir o risco de interpretações erradas e minimizar a redundância

Page 47: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

33

de dados, ou seja, lançar mão de mecanismos que permitam olhar o caso estudado

de múltiplas maneiras.

Na terceira e última fase, organizei e analisei os dados segundo os

pressupostos, que serão relatados em capítulo próprio.

A seguir, descrevo o contexto de pesquisa.

2.2 O contexto da pesquisa

Este estudo foi realizado em uma empresa multinacional, do setor editorial, da

cidade de São Paulo. A empresa, com sede nos EUA, atuante em mais de 140

países, é uma das maiores no ranking nacional e mundial do mercado de

publicações.

Especificamente no mercado brasileiro, a empresa tem publicado inúmeros

títulos voltados para o ensino de línguas inglesa e espanhola em todos os

segmentos educacionais, do ensino básico ao superior, inclusive títulos voltados

para o ensino de Línguas para Fins Específicos. Além de atuação nessa área

educacional, a empresa tem um vasto catálogo direcionado ao ensino superior,

contemplando muitas áreas do conhecimento como administração, marketing,

publicidade, engenharia, educação, entre outras.

As necessidades de aprendizagem da língua inglesa e as tarefas-alvo relatadas

e discutidas neste trabalho foram pesquisadas em dois departamentos:

Departamento de Divulgação Editorial e Marketing, duas áreas que compõem um

único departamento, e o Departamento Financeiro.

Por tratar-se de uma empresa multinacional, o uso do inglês no exercício das

diversas funções desempenhadas pelos seus funcionários, em diversos

departamentos, é cotidiano, principalmente no segmento de ELT (English Language

Teaching), cujos funcionários trabalham diariamente com materiais totalmente

elaborados em língua inglesa.

Na intenção de mapear usos em dois departamentos, cujos participantes são

alunos do professor-pesquisador, e de repensar o curso particular de Inglês para

Negócios em andamento, é que surgiu a presente pesquisa.

A seguir, apresento os participantes deste estudo e faço uma breve descrição

de perfil de cada um deles. Essas informações foram obtidas por meio de um

Page 48: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

34

questionário (Anexo I), que será descrito no item 2.4 deste capítulo.

2.3 Os participantes

Os participantes deste estudo foram dois alunos de um curso particular de

Inglês para Negócios, ministrado pelo professor-pesquisador na empresa descrita no

item 2.2 deste capítulo, e uma Diretora Financeira, representante legal da mesma

editora multinacional.

O primeiro deles, Marcos8, com faixa etária entre 31 e 35 anos, ocupa o cargo

de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing em uma empresa do ramo editorial.

Ele é graduado em Fisioterapia e aluno de um curso de especialização em

Administração de Marketing, em andamento. Atua no mercado editorial há onze

anos e é funcionário da editora pesquisada desde 2005. Já estudou nas escolas de

idiomas CNA e Instituto Kentucky e classifica seu inglês atualmente conforme

quadro 2.1 indicado abaixo:

Habilidades

Comunicativas

Nível

Ouvir Regular

Falar Bom

Ler Bom

Escrever Bom

Quadro 2.1 Classificação de Marcos em relação ao seu nível atual de inglês

A segunda aluna, Alessandra, com faixa etária também entre 31 e 35 anos,

ocupa o cargo de Analista Contábil Pleno. Ela é graduada em Administração de

Empresas, com curso de pós-graduação em Controladoria. Atua no mercado

editorial há sete anos e é funcionária da editora pesquisada desde 2002. Já estudou

nas escolas de idiomas CNA e Yazigi e classifica seu inglês atualmente conforme

quadro 2.2 indicado abaixo:

8 Os nomes dos alunos e da representante legal da editora, utilizados neste estudo, são fictícios a fim de manter suas identidades sob sigilo, conforme protocolo do Comitê de Ética da PUC-SP.

Page 49: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

35

Habilidades

Comunicativas

Nível

Ouvir Regular

Falar Regular

Ler Bom

Escrever Bom

Quadro 2.2 Classificação de Alessandra em relação ao seu nível atual de inglês

A Diretora Financeira Cibele trabalha na área editorial há cinco anos, desde

que assumiu a representação legal da editora multinacional pesquisada, descrita no

item 2.2. Sua participação nesta pesquisa teve por finalidade conhecer as

necessidades da área editorial sob a visão de alguém que não exerce as funções

dos alunos pesquisados, mas que exerce uma posição hierárquica superior a eles9

e, portanto, tem expectativas em relação à atuação de profissionais da área de

Marketing e Contabilidade, desenvolvidos na área editorial.

Em pesquisas que envolvem análise de necessidades, segundo Long (2005,

p. 26) os envolvidos na realização das tarefas pesquisadas, neste caso, os alunos

participantes do curso particular de Inglês para Negócios e a Diretora Financeira da

empresa na qual atuam, têm papel de destaque na participação do levantamento de

dados, pois eles têm conhecimento, muitas vezes maior que o professor, sobre o

contexto em que atuam e por isso podem fornecer informações relevantes para o

pesquisador.

Após a apresentação dos participantes deste estudo de caso, apresento no

item seguinte os instrumentos de coleta de dados utilizados para a coleta de dados

deste trabalho e suas justificativas de uso.

2.4 Instrumentos de coleta dos dados

Os instrumentos de coleta de dados aqui relatados foram diversos. Os alunos-

participantes responderam a um questionário (Anexo I) e a representante legal da

9 Os alunos-participantes desta pesquisa são subordinados à representante legal da editora.

Page 50: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

36

editora respondeu a uma entrevista semi-estruturada (Anexo 2), ambos realizados

por e-mail.

Além desses instrumentos, compõem o material coletado descrições de

cargos fornecidos pela editora pesquisada, pelo Ministério do Trabalho e Emprego –

MTE e pelo portal Promérito (http://www.promerito.com.br - acessado em 23.03.09);

seis anúncios de empregos, sendo três para o cargo de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e três para o cargo de Analista Contábil Pleno, cargos

exercidos pelos participantes desta pesquisa, descritos no item 2.3 deste capítulo,

pesquisados e capturados dos sites Hays Specialist Recruitment

(http://www.hays.com.br/, acessado em 30.03.09), Via6 (http://www.via6.com,

acessado em 30.03.09) e Infojobs (http://www.infojobs.com.br, acessado em

30.03.09).

Elaborei o questionário respondido pelos participantes (Anexo I) com

perguntas abertas e fechadas, conforme orientação de Long (2005, p. 38). De

acordo com esse autor, as questões abertas permitem coletar um número grande de

informações detalhadas e menos padronizadas, o que, por outro lado, pode ser mais

difícil de categorizar e interpretar seus dados. Já as perguntas fechadas, conforme

ensina Long (2005, p. 38-39), fornecem informações mais padronizadas e fáceis de

quantificar. Utilizei as perguntas abertas para o levantamento de tarefas realizadas

linguisticamente pelos participantes, enquanto que as perguntas fechadas, para o

levantamento de seu perfil.

A entrevista semi-estruturada teve como eixos balizadores (1) o tipo de

tarefas que os participantes deste estudo de caso têm de realizar utilizando o inglês

e (2) o que eles precisam saber, em termos de língua inglesa, para desempenharem

bem essas tarefas.

O uso desses instrumentos está respaldado nas orientações de Jasso-Aguilar

(2005, p. 149), aos estudiosos em pesquisas de análise de necessidades, no uso de

múltiplos meios e métodos de identificação das necessidades dos alunos.

Depois da apresentação e justificativa dos instrumentos de coleta, apresento,

no item seguinte, os procedimentos realizados para a coleta dos dados utilizada no

presente estudo de caso.

Page 51: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

37

2.5 Procedimentos de coleta dos dados

A coleta de dados foi realizada em abril de 2009. Primeiramente, enviei o

questionário aos participantes desta pesquisa, por e-mail, para que eles

respondessem, também por e-mail, a fim de facilitar e agilizar a coleta dos dados.

Entre o envio do questionário e o seu retorno, transcorreu-se uma semana.

Após receber os questionários devidamente respondidos, solicitei aos

participantes deste estudo que solicitassem, junto ao departamento de recursos

humanos da empresa em que trabalham, documentos que descrevessem suas

respectivas funções e que fossem enviados ao professor-pesquisador via e-mail.

Quando recebi as descrições dos cargos, decidi fazer uma leitura desses

documentos. Como alguns pontos não ficaram totalmente claros, optei por fazer uma

entrevista semi-estruturada (Long, 2005, p. 38) com a representante legal da

empresa (Diretora Financeira), a fim de obter esclarecimentos a respeito das

descrições dos cargos fornecidos pela empresa.

Posteriormente a essa etapa, realizei uma pesquisa junto ao portal do

Ministério do Trabalho e Emprego - MTE para levantamento de descrições oficiais

dos cargos, a fim de confrontar as funções constantes desse documento e daqueles

fornecidos pela empresa pesquisada e pelo Promérito, a respeito das funções

exercidas pelos participantes deste estudo de caso.

O uso de descrições de cargos está apoiado nos fundamentos de West

(1984), citado por Jasso-Aguilar, (2005, p. 129). West (1984) também defende a

idéia de que se use descrições de cargos, entre outros instrumentos, pois podem

fornecer informações-chave sobre as necessidades de uso de uma língua na

execução de um trabalho.

Por fim, pesquisei nos portais de empregos Hays Specialist Recruitment, Via6

e Infojobs seis vagas de empregos relacionadas aos cargos exercidos pelos

participantes desta pesquisa, sendo três anúncios para cada cargo.

Apresento a seguir os procedimentos utilizados para a análise dos dados

coletados por meio dos instrumentos descritos no item 2.4.

Page 52: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

38

2.6 Procedimentos de análise dos dados

Considerando as questões de pesquisa deste trabalho, que objetivam (1)

Identificar quais são as funções desempenhadas por profissionais do ramo editorial,

(2) investigar quais são as tarefas comunicativas que esses profissionais

desempenham em língua inglesa, (3) investigar quais são as suas necessidades de

aprendizagem e (4) identificar quais subsídios são trazidos para um delineamento de

curso, os procedimentos de análise dos dados coletados para esta pesquisa foram

elaborados baseados em Long, (2005), Chizzotti (2006a; 2006b) e Franco (2008).

Como minha pesquisa contou com o uso de questionário, como um dos

instrumentos de coleta de dados, optei pelas técnicas de análise de conteúdo

(Franco, 2008) e do discurso para a sua análise, por permitirem uma vasta

possibilidade de inferências e de interpretação dos conteúdos.

Em relação ao questionário, as perguntas de número um, dois, três, sete, oito

e nove tinham como objetivo levantar informações a respeito do perfil dos

pesquisados. As perguntas de número quatro, cinco e seis tinham como objetivos

conhecer quais os cargos ocupados pelos participantes, suas funções e tarefas

desenvolvidas, utilizando a língua inglesa. A pergunta de número dez tinha como

objetivo conhecer as expectativas da empresa, em termos de realização de tarefa

por seus funcionários pesquisados, utilizando a língua inglesa, sob a visão do aluno-

funcionário pesquisado. As perguntas de número onze e doze objetivaram saber se

a editora pesquisada tem conhecimento do que os informantes deste estudo

precisam saber em termos de língua inglesa para desenvolverem tarefas

relacionadas a seus cargos. A pergunta de número treze teve por objetivo conhecer

as expectativas dos informantes em relação a um curso de inglês. A pergunta de

número quatorze procurou identificar o nível de inglês dos informantes. Já a

pergunta de número quinze teve como objetivo identificar a frequência com que

usam a língua inglesa na realização de tarefas profissionais. As perguntas de

número dezesseis, dezessete e dezoito tinham por objetivos identificar o interlocutor

ou interlocutores com os quais os informantes interagem linguisticamente, assim

como possíveis dificuldades nessa interação e, ainda, as formas de contato com que

realizam essas interações. A pergunta de número dezenove teve como objetivos

identificar as tarefas realizadas fazendo uso da língua inglesa, nas quatro

Page 53: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

39

habilidades comunicativas, e seus interlocutores. Essa pergunta teve também como

objetivo confirmar ou refutar respostas das perguntas de número seis e dezesseis,

formuladas de maneira diferente. A pergunta de número vinte objetivou identificar

quais as dificuldades dos informantes na execução de tarefas fazendo uso da língua

inglesa. Essa pergunta também teve como objetivo confirmar ou refutar respostas

fornecidas pelos informantes na pergunta de número dezessete. Por fim, a pergunta

de número vinte e um teve como objetivo conhecer algumas tarefas que os

informantes realizam utilizando a língua inglesa e também possíveis dificuldades em

sua realização. Essa pergunta também teve por finalidade cruzar informações

obtidas nas respostas das perguntas de número seis, que solicitava ao informante

para descrever as tarefas que realiza utilizando a língua inglesa, e dezenove, que

solicitava ao informante para citar exemplos de tarefas realizadas fazendo uso da

língua inglesa e também quais delas ofereciam dificuldades.

Seguindo orientação de Long (2005, p. 29), utilizei o que ele denomina de

triangulação de métodos e fontes. Para esse autor, a triangulação de métodos diz

respeito ao uso de diferentes procedimentos para obtenção de dados, no caso deste

estudo, o questionário, a entrevista, os documentos fornecidos pela empresa ou

obtidos fora dela, como é o caso dos instrumentos de coleta utilizados nesta

pesquisa. As fontes são os participantes desta pesquisa: os dois alunos e a Diretora

Financeira.

Para Long (2005, p. 63), a triangulação dos múltiplos meios de obtenção dos

dados e de seus resultados oferece significados importantes de validação dos dados

obtidos. Conforme explica o autor, a triangulação “pode envolver comparações entre

dois ou mais meios de obtenção de dados, métodos, investigadores ou teorias e

algumas vezes a combinação disso tudo” (Long, 2005, p. 29).

Dessa forma, triangulei as informações obtidas pelas diversas fontes com a

intenção de confirmar ou refutar informações obtidas por meio dos informantes, da

representante legal da editora, dos documentos que descrevem os cargos ou dos

anúncios de empregos.

Após a coleta dos dados por todos os meios já descritos no item 2.5 deste

capítulo, os dados foram categorizados por departamento em relação a funções,

tarefas e necessidades de aprendizagem em termos de língua inglesa.

Page 54: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

40

No capítulo seguinte, apresento os resultados e a discussão dos dados deste

estudo de caso.

Page 55: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

41

CAPÍTULO 3

APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

O objetivo geral deste capítulo é apresentar e discutir os resultados da análise

de dados, mantendo uma conexão com os pressupostos teóricos, apresentados na

Fundamentação Teórica, e com os procedimentos de análise, apresentados na

Metodologia.

Os objetivos do presente trabalho são (1) identificar quais são as funções

desempenhadas por profissionais do ramo editorial, (2) investigar quais são as

tarefas comunicativas que esses profissionais desempenham em língua inglesa, (3)

investigar quais são as necessidades de aprendizagem desses profissionais e (4)

identificar quais subsídios são trazidos por esta pesquisa para delineamento de um

curso.

Para atingir esses objetivos, este capítulo tem a seguinte configuração: em

primeiro lugar, apresento o mapeamento das funções relativas aos cargos de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e de Analista Contábil Pleno; em

segundo lugar, identifico as tarefas-alvo que são realizadas por meio da língua

inglesa em relação aos cargos pesquisados e, em terceiro, identifico as

necessidades e problemas pessoais de aprendizagem dos informantes em serviço

deste estudo de caso.

3.1 Mapeamento das funções de trabalho dos cargos de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e de Analista Contábil Pleno

Nesta seção, apresento o mapeamento das funções de trabalho para os

cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e de Analista Contábil Pleno

exercidos por dois alunos em serviço, do curso particular de Inglês para Negócios,

ministrado atualmente pelo professor pesquisador, em uma empresa multinacional

do ramo editorial.

Em primeiro lugar, apresento o mapeamento para as funções de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing e de Analista Contábil Pleno segundo o Ministério

Page 56: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

42

do Trabalho e Emprego – MTE – órgão da administração pública federal responsável

pelas diretrizes trabalhistas no Brasil e pela fiscalização do cumprimento da

legislação trabalhista em todo o território nacional. A seguir, apresento o

mapeamento desses cargos sob a ótica do Portal Promérito

(http://www.promerito.com.br), empresa privada de consultoria e treinamento

empresarial na área de descrição, avaliação, classificação e funcionamento de

cargos e salários. Por fim, apresento o mapeamento dos dois cargos, sob a visão da

editora e dos participantes em serviço, deste estudo de caso.

3.1.1 Gerente de Divulgação Editorial e Marketing em foco

O Ministério do Trabalho e Emprego - MTE indica as seguintes funções para o

cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, ocupado pelo participante

Marcos:

- Elaborar planos estratégicos das áreas de comercialização, marketing e comunicação

- Elaborar, implementar e coordenar atividades de comercialização, marketing e comunicação

- Assessorar a diretoria e setores da empresa - Gerenciar recursos humanos - Administrar recursos materiais e financeiros - Promover condições de segurança, saúde, meio ambiente e qualidade - Demonstrar competências pessoais

Em relação ao uso de língua no exercício das funções elencadas acima, o

MTE indica que, para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, é

necessário que os ocupantes desse cargo, exercido na área editorial, “comuniquem-

se” e “comuniquem-se em outro idioma”. O MTE aborda a tarefa de comunicar-se de

forma geral e não indica o que é necessário que esses profissionais saibam realizar

em termos de língua estrangeira, mais especificamente em língua inglesa. Talvez,

por se tratar de um documento oficial, trataram de não “privilegiar” uma língua

estrangeira em detrimento de outra.

Para o exercício dessas funções, o MTE indica também os recursos

necessários para sua realização. Entre esses recursos, saliento os abaixo indicados:

- Data-show

Page 57: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

43

- Fax - Internet e correio eletrônico - Microcomputador e periféricos - Telefones fixo e celular

Os dados acima indicam a necessidade de letramento dos profissionais da

área de divulgação editorial e marketing em relação à tecnologia, pois ela está

presente no seu dia-a-dia de trabalho e o domínio desses recursos parece ser

condição sine qua non para o bom exercício do cargo.

O portal Promérito indica as seguintes funções para o cargo de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing, ocupado pelo participante Marcos:

- Desenvolver e acompanhar os planos de prospecção de mercado - Acompanhar as tendências do mercado e o comportamento da concorrência - Definir e supervisionar a elaboração de pesquisas e estudos na área de

marketing - Planejar e definir os padrões para as campanhas de promoções de vendas - Identificar sistemas e canais alternativos de vendas - Elaborar análises estratégicas de custos e outros documentos - Racionalizar portfólio de produtos da empresa - Montar cenário mercadológico do negócio - Criar, planejar e coordenar a realização de eventos - Administrar a comunicação externa da empresa - Planejar e supervisionar a elaboração e execução de campanhas

publicitárias - Definir e supervisionar a elaboração e execução de catálogos de produtos - Planejar e supervisionar os trabalhos que envolvem comunicação visual - Supervisionar a preparação dos jornais interno e externo da empresa - Controlar a verba destinada à publicidade

Parece que a questão da comunicação é crucial para profissionais que

exercem essas funções, pois são responsáveis pela manutenção, alteração ou até

mesmo criação da imagem de uma empresa e o uso de língua é uma constante

ferramenta no exercício profissional da área de marketing. Entretanto, em relação à

utilização de língua para a realização das funções indicadas acima, referentes ao

cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, o portal Promérito não

menciona nem a necessidade de conhecimentos de língua estrangeira para a

realização dessas funções e nem faz menção à língua inglesa.

É possível estabelecer um ponto comum entre as indicações feitas pelo MTE

e Promérito para as funções pertinentes ao cargo de Gerente de Divulgação Editorial

e Marketing, de modo que essas funções parecem ser similares nas descrições de

Page 58: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

44

cargo fornecidas pelos dois órgãos, seja pelo MTE ou Promérito. Já em relação ao

uso de língua, sobretudo língua inglesa, ambos os documentos que descrevem

cargos não estabelecem e indicam as necessidades de uso dessa língua na

realização de tarefas profissionais pertinentes à área de marketing desenvolvida no

ramo editorial. O MTE menciona a necessidade de “comunicar-se em outro idioma”,

mas não estabelece o que deve ser comunicado e nem em qual idioma, enquanto

que o Promérito nem faz menção ao uso de língua, seja materna ou estrangeira,

para o exercício das funções indicadas para o cargo de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing.

Conforme sugestão do MTE, há a necessidade de essas descrições de

cargos, funções e responsabilidades serem aprimoradas com a ajuda de usuários e

empresas. Seguindo essa orientação, a editora pesquisada elaborou a descrição

dos cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, acrescentando funções

não indicadas pelo MTE e pelo Promérito, funções que atendem suas necessidades

particulares. Entre as funções não indicadas pelo MTE e Promérito, a editora

pesquisada indica as seguintes:

- Utilizar o PIPE (ferramenta de mensuração do trabalho da equipe

coordenada por ele)

- Utilizar o JDE (ferramenta centralizadora de informações fiscais, financeiras e comerciais)

- Fornecer suporte e treinamento para os principais distribuidores e livreiros - Definir um plano de marketing para cada um dos lançamentos publicados

pelo departamento editorial - Definir merchandising para pontos de venda

Conforme demonstram os dados acima, embora a editora tenha ampliado a

descrição das funções para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing,

não faz menção ao uso de língua estrangeira na realização de tarefas no

desenvolvimento de atividades profissionais. Há de se destacar nesses dados a

relevância de conhecimento de tecnologia para o bom desenvolvimento das funções

nessa área, assim como foi indicado pelo MTE, pois a editora informa a necessidade

de utilização de softwares próprios como o PIPE, que armazena dados sobre o

desenvolvimento de ações de marketing em relação a livros publicados pelo

departamento editorial, e o JDE, sistema integrado de informações da empresa com

Page 59: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

45

dados contábeis, de contas a pagar e receber, estoques, etc.. O software JDE,

inicialmente foi totalmente elaborado em inglês e, mais tarde, foi traduzido para o

português para facilitar o armazenamento de dados. Embora a editora tenha

aprimorado a descrição de cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, ela

não inseriu nesse documento nenhuma referência a uso de inglês no

desenvolvimento de funções pertinentes a esse cargo, talvez por motivo de

desconhecimento do que é necessário saber em inglês para a realização de tarefas

na área editorial.

Conforme apresentam os dados, tanto o MTE quanto o Promérito e a editora

não foram capazes de identificar quais funções na área de marketing, exercidas no

ramo editorial, são realizadas por meio da língua inglesa.

Em levantamento realizado no mercado de trabalho, por meio de anúncios de

empregos capturados dos sites Hays Specialist Recruitment, Via6 e Infojobs, a

respeito de vagas oferecidas ao cargo de Gerente de Marketing, pude constatar que

as funções requeridas pelas empresas anunciantes das vagas não diferem muito

daquelas indicadas pelo MTE, Promérito e pela própria editora pesquisada, embora

a questão da necessidade de uso de inglês para o exercício de funções pertinentes

ao cargo esteja bem marcada, como pode ser visto das transcrições a seguir:

Hays Specialist Recruitment: Reportando-se ao Diretor de Negócios, suas principais atribuições consistem em: assegurar a máxima rentabilidade das marcas sob sua responsabilidade em um cenário mercadológico extremamente competitivo; identificar oportunidades e desenvolver estratégias de mercado que contribuam para o crescimento do negócio de forma sustentável; alinhar recursos e processos de diversas áreas (fornecedores internos e externos) para a obtenção dos resultados planejados; harmonizar os interesses da matriz com as necessidades e oportunidades do mercado brasileiro. Buscamos profissionais graduados em Medicina Veterinária, Administração ou Marketing. Organização, pró atividade e perfil empreendedor completam o perfil. Fluência em inglês é fundamental para exercer a função, bem como o domínio da língua espanhola. (grifos do pesquisador)

Via6: Responsabilidades: Desenvolvimento do planejamento estratégico de MKT; Gerenciamento da equipe regional de MKT – 6 regionais; Elaboração dos planos de BTL e ATL. Experiência necessária: 10 anos de experiência em planejamento estratégico e marketing, com ênfase em posição gerencial. Perfil de liderança e orientado para

Page 60: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

46

resultados a curso prazo. Inglês fluente necessário. (grifos do pesquisador)

Infojobs: GERENTE DE MARKETING; para atuar no mercado do Rio, Inglês fluente, seria um diferencial. Se valoriza Administração – Comércio exterior – Relações públicas – Comunicação social – Publicidade e propaganda – Administração – Marketing, Comunicação social – Jornalismo. Se valoriza inglês. (grifos do pesquisador)

Conforme demonstram as transcrições, a necessidade de uso de inglês no

exercício da função de gerente de marketing é mencionada pelos três anúncios de

emprego, mas da mesma forma que o MTE, o Promérito e a editora, o próprio

mercado de trabalho também não tem conhecimento do que é necessário saber, em

termos de língua inglesa, para o desenvolvimento das funções pertinentes ao cargo

de gerente de marketing, indicando apenas que a fluência na língua inglesa é

necessária ou valorizada.

Por fim, na intenção de conhecer as funções para o cargo de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing desempenhadas na área editorial, sob a visão do

participante, em serviço, deste estudo de caso, solicitei a ele, por meio do

questionário de pesquisa, que indicasse as funções exigidas pelo cargo que ele

ocupa na editora. Sua resposta está transcrita a seguir:

Marcos: Planejamento Estratégico de Marketing, Desenvolvimento de Campanhas para produtos, Orientação das equipes de promoção, vendas e marketing, Atingir as metas de vendas, Trabalhar Branding, Eventos internos e externos, Gerar Relacionamento com professores universitários, livreiros e alunos, trabalhar Merchandising no Ponto de Vendas, acompanhar as equipes em campo, acompanhar o desempenho de cada produto e buscar alternativas de acordo com o resultado apontado.

Esses dados informam que o participante, funcionário do ramo editorial há

onze anos, portanto, um informante em serviço, tem conhecimento das funções

exigidas pelo seu cargo na editora, de modo que fornece indicações de funções

semelhantes às indicadas pelo MTE, Promérito e mesmo às requeridas pelo

mercado de trabalho, no sentido de desenvolver campanhas para produtos, voltadas

para resultado de vendas, e acompanhar sua implementação. Mas, da mesma forma

Page 61: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

47

que o MTE, Promérito e a própria editora, o participante não indicou se há

necessidade de conhecimentos em língua inglesa para a realização de suas funções

na editora e, se há, também não indicou que funções são realizadas por meio da

língua inglesa e, ainda, o que é necessário saber, em termos de língua, para a

realização dessas tarefas com êxito.

Em resumo, as descrições de cargos fornecidas pelo Ministério do Trabalho e

Emprego, Promérito, pela editora e pelo participante trazem indicações semelhantes

em relação às funções pertinentes ao cargo de Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing exercido na área editorial. Entretanto, nenhum dos documentos

analisados, nem mesmo o depoimento do informante, em serviço, foram capazes de

indicar quais funções requerem conhecimento de língua inglesa para seu

desenvolvimento e também o que é necessário saber de inglês para realizá-las. Esta

questão, da realização de tarefas por meio da língua inglesa, um dos objetivos deste

estudo de caso, será amplamente discutida na seção 3.2.

3.1.2 Analista Contábil Pleno em foco

O Ministério do Trabalho e Emprego – MTE - indica as seguintes funções para

área de contadores e afins:

- Legalizar empresas - Administrar os tributos da empresa - Registrar atos e fatos contábeis - Controlar o ativo permanente - Gerenciar custos - Administrar o departamento pessoal - Preparar obrigações acessórias - Elaborar demonstrações contábeis - Prestar consultoria e informações gerenciais - Realizar auditoria interna e externa - Atender solicitações de órgãos fiscalizadores - Realizar perícia - Comunicar-se - Demonstrar competências pessoais

Entretanto, na editora pesquisada, essas funções são dividas entre dois

cargos, sendo atribuídas ao cargo de Analista Contábil Pleno na área editorial,

Page 62: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

48

exercido pela participante Alessandra, as seguintes funções, ainda de acordo com o

MTE:

- Administrar os tributos da empresa - Registrar atos e fatos contábeis - Prestar consultoria e informações gerenciais - Realizar auditoria interna e externa - Comunicar-se - Demonstrar competências pessoais

Conforme indicação do MTE, para o uso de língua no exercício das funções

mencionadas acima, para os cargos de contadores e afins, o cargo de Analista

Contábil Pleno faz parte dessa área, é necessário que o ocupante desse cargo na

área editorial comunique-se e demonstre conhecimento de outras línguas. Em

relação a demonstrar conhecimento de outras línguas, o MTE apenas faz essa

indicação de forma genérica e não menciona que tipo de conhecimento é necessário

ter e tampouco em que língua os ocupantes desse cargo devem comunicar-se, o

que parece natural por se tratar de um documento ministerial. Entretanto, o MTE

também não indica que tipos de tarefas devem ser realizadas, utilizando uma língua

estrangeira, por ocupantes do cargo de Analista Contábil Pleno. Isso confirma a

afirmação de Long (2005), de que, muitas vezes, documentos oficiais não sabem

precisar que tipos de tarefas devem ser realizadas utilizando-se de língua

estrangeira.

Para o exercício dessas funções, o MTE indica também os recursos

necessários para sua realização. Entre esses recursos, saliento os seguintes:

- Celular - Computadores e periféricos - Internet e intranet - Software específicos - Telefone

Os recursos indicados acima sugerem a necessidade de letramento dos

profissionais da área contábil e afins em relação à tecnologia, pois ela está presente

no seu dia-a-dia de trabalho e o domínio desses recursos torna-se essencial para o

desenvolvimento das funções pertinentes a esse cargo.

Page 63: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

49

O portal Promérito indica as seguintes funções para o cargo de Analista

Contábil Pleno, ocupado pela participante Alessandra:

- Planejar e supervisionar a preparação dos relatórios contábeis - Orientar e acompanhar os lançamentos e rotinas contábeis - Apurar mensalmente o imposto de renda devido - Supervisionar a conciliação de todas as contas de ativo e passivo e de

resultados - Orientar os demais setores da empresa quanto à classificação contábil - Fazer estudos e análises sobe os números do balanço anual - Conferir e ajustar os saldos das contas patrimoniais - Analisar as informações contábeis e preparar relatórios de custo de

produção - Elaborar a declaração anual de imposto de renda, incluindo a escrituração

nos livros pertinentes - Manter controles e realizar inventários dos bens patrimoniais - Atender à fiscalização municipal, estadual e federal

Conforme sugerem os dados apontados acima, em relação à utilização de

língua para a realização das funções indicadas pelo Promérito, referentes ao cargo

de Analista Contábil Pleno, o portal não menciona a necessidade de conhecimentos

de língua estrangeira para a realização dessas funções na área de contabilidade e

muito menos menciona a língua inglesa como fator necessário para sua realização.

Um ponto comum entre as indicações feitas pelo MTE e Promérito, para as

funções pertinentes ao cargo de Analista Contábil Pleno, são as funções similares

estabelecidas nas descrições de cargos fornecidas pelos dois órgãos, tanto pelo

MTE ou pelo Promérito. Já em relação ao uso de língua estrangeira, sobretudo

língua inglesa, as descrições de cargos elaboradas pelo MTE e Promérito não

estabelecem necessidades de uso dessa língua na realização de tarefas

profissionais pertinentes à área de contabilidade desenvolvida no ramo editorial. O

MTE menciona a necessidade de “comunicar-se” e de “demonstrar conhecimento de

outras línguas” mas não estabelece o que deve ser comunicado e nem em qual

idioma, enquanto que o Promérito tampouco menciona a necessidade de uso de

língua estrangeira e, consequentemente, língua inglesa, no exercício das funções

indicadas para o cargo de Analista Contábil Pleno.

Da mesma forma que a editora procedeu em relação à elaboração da

descrição do cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, ela o fez em

relação ao cargo de Analista Contábil Pleno, seguindo sugestão do MTE na

Page 64: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

50

complementação da descrição de cargo fornecida pelo Ministério. Nesse

complemento, a editora acrescentou funções não indicadas pelo MTE e pelo

Promérito, funções essas que atendem, também, suas necessidades particulares.

Entre as funções não indicadas pelo MTE e Promérito, a editora indicou as

seguintes:

- Conferir, controlar e autorizar pagamentos de T&E - Proporcionar informações aos auditores para o cálculo do transfer pricing - Registrar provisões no sistema JDE - Elaborar relatórios de despesas por centro de custos, comparando com o

plan

Conforme demonstram as indicações acima, em primeiro lugar destaco a

indicação feita pela editora em relação à necessidade de utilização de documentos

próprios como o “T&E” – travel expense reports – e o plan – planejamento anual de

despesas - em seguida, destaco a necessidade de uso também de softwares

próprios, como o sistema JDE, o SAP e o Datasul, os dois últimos posteriormente

informados pela participante, como softwares próprios da área contábil utilizados

pela editora. Mas embora a editora tenha também ampliada a descrição para o cargo

de Analista Contábil Pleno, ela também não indicou necessidade de uso de língua

estrangeira, sobretudo língua inglesa, na realização das funções pertinentes à área

de contabilidade exercida no mercado editorial.

Como mostram os dados, tanto o MTE como o Promérito e a editora não

foram capazes de identificar quais funções na área contábil, exercidas no ramo

editorial, são realizadas por meio da língua inglesa.

Em levantamento realizado no mercado de trabalho, por meio de anúncios de

empregos capturados do site Hays Specialist Recruitment, a respeito de vagas

oferecidas ao cargo de Analista Contábil Pleno, pude verificar que as funções

requeridas pelas empresas anunciantes das vagas não diferem daquelas indicadas

pelo MTE, Promérito e pela própria editora, embora o mercado de trabalho enfatize a

necessidade de uso de inglês para o exercício de funções pertinentes ao cargo, fato

não registrado nas descrições de cargos analisadas neste trabalho, como pode ser

verificado nas seguintes transcrições:

Page 65: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

51

Hays Specialist Recruitment:Reportando-se a Gerente Financeira suas principais responsabilidades incluirão a elaboração das demonstrações contábeis local de acordo com as legislações brasileiras; conciliação e movimento operacional; atendimento a auditores externos e órgãos de fiscalização. (...) Bons conhecimentos em elaboração e validade de roteiros contábeis são fundamentais para o sucesso na função. Perfil analítico diferenciado, dinamismo e bons skills de comunicação completam o perfil. Inglês fluente é mandatário. (grifos do pesquisador)

Hays Specialist Recruitment: Reportando-se ao Gerente de Controladoria,

podemos destacar como suas principais atividades: Análise e conciliação contábil, fechamento contábil, atendimento a auditoria de balanço e de Sarbanes-Oxley além do suporte as áreas operacionais. Buscamos um potencial profissional com formação em Ciências Contábeis, com CRC. Facilidade de relacionamento interpessoal e adaptabilidade, alinhados a pró-atividade são essenciais. Completam o perfil, Inglês avançado. (grifos do pesquisador)

Hays Specialist Recruitment: Reportando-se ao Gerente de Controladoria,

suas principais responsabilidade incluirão: Suporte à elaboração das demonstrações contábeis em padrões locais e internacionais (IFRS); Elaboração das demonstrações financeiras para arquivamento na CVM; Elaboração, revisão e divulgação de políticas, normas e procedimentos de controles internos, atendendo a SOX. Graduação em Ciências Contábeis, com experiência em auditoria externa Big Four ou posições similares ao exigido pelo cardo em empresas de grande porte. Dinamismo e senso de urgência são características importantes do perfil. Inglês intermediário no mínimo é obrigatório. (grifos do pesquisador)

Segundo indicam as transcrições, a necessidade de uso de inglês no

exercício da função de Analista Contábil Pleno é mencionada pelos três anúncios de

emprego como “inglês fluente é mandatário”, “inglês avançado” e “inglês

intermediário no mínimo é obrigatório”. Isso demonstra que o mercado de trabalho

tem consciência da necessidade de uso da língua inglesa por profissionais que

trabalham na área de contabilidade, mas da mesma forma que o MTE, o Promérito e

a editora, o mercado de trabalho também não sabe informar o que é necessário

saber, em termos de língua inglesa, para desenvolver funções relativas ao cargo de

Analista Contábil Pleno.

Page 66: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

52

Por fim, com intuito de conhecer as funções para o cargo de Analista Contábil

Pleno desempenhadas na área editorial, sob a visão da participante em serviço,

deste estudo de caso, solicitei a ela, por meio do questionário de pesquisa, que

indicasse as funções exigidas pelo cargo que ocupa na editora. A seguir transcrevo

sua resposta:

Alessandra: Experiência anterior na área contábil; Formação acadêmica na área contábil; Dinâmico, pró ativo e trabalho em equipe desejável inglês intermediário.

Esses dados revelam que a participante, funcionária do ramo editorial há sete

anos, portanto, uma informante em serviço, tem conhecimento das funções exigidas

pelo seu cargo na editora, de modo que fornece indicações de funções semelhantes

às indicadas pelo MTE, Promérito e mesmo às requeridas pelo mercado de trabalho,

como experiência anterior na área de contabilidade, ter um perfil dinâmico e proativo.

Ao contrário do participante Marcos, Alessandra demonstra ter consciência de

necessidade de uso de língua inglesa no desenvolvimento de suas atividades

profissionais ao citar “desejável inglês intermediário”, mas, da mesma forma que o

MTE, Promérito e a própria editora, a participante não é capaz de indicar o que é

necessário saber em língua inglesa para a realização de suas funções na editora.

Em resumo, as descrições de cargos fornecidas pelo Ministério do Trabalho e

Emprego, Promérito e pela editora trazem indicações semelhantes em relação às

funções pertinentes ao cargo de Analista Contábil Pleno exercido na área editorial.

Entretanto, nenhum dos documentos analisados nesta pesquisa, nem mesmo o

depoimento da informante, em serviço, foram capazes de indicar quais funções

requerem conhecimentos de inglês para desenvolvê-las e tampouco o que é

necessário saber em termos de língua inglesa para realizá-las, mas, quando essa

questão é investigada por meio do questionário de pesquisa, fica claro que

profissionais da área contábil têm necessidade de utilização da língua inglesa para a

realização de tarefas comunicativas. Essa questão será amplamente discutida na

seção 3.2.

Finalmente, comparando os resultados deste estudo em relação às funções

referentes aos cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e de Analista

Contábil Pleno, exercidos na área editorial, constatei que as descrições de cargos

Page 67: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

53

elaboradas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, Promérito e pela editora

apresentam funções semelhantes para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing e procede do mesmo modo em relação ao cargo de Analista Contábil

Pleno.

Por outro lado, os anúncios de empregos relacionados a esses dois cargos

não só enfatizam a necessidade de língua estrangeira, mas indicam que essa língua

é inglesa. Além disso, indicam também o nível de proficiência desejado.

Embora esses anúncios indiquem o nível de proficiência (fluente, avançado,

etc.) desejado, esses níveis não são de muita valia para o docente, pois são muito

imprecisos (cf. Pinto, 2002 para aprofundar-se na questão) para auxiliar o professor

de línguas a planejar um curso instrumental. Nesses casos, seria necessário que

especificassem que tipos de funções são realizadas por meio da língua inglesa, para

que o planejador de cursos pudesse ter dados mais precisos para melhor especificar

que tipos de conhecimentos da língua inglesa são necessários para que esses

profissionais possam desempenhar suas tarefas de modo eficiente.

Mesmo que essas fontes não indicam necessidades de uso da língua inglesa

para esses cargos, destaco que esse mapeamento das funções desenvolvidas por

profissionais do ramo editorial, em relação aos cargos de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno, traz informações valiosas que podem

contribuir para um melhor entendimento, por parte do analista, das áreas nas quais

vai atuar, conforme já apontado por Cintra & Passareli (2008).

A seguir, identifico as tarefas-alvo, habilidades comunicativas e os

interlocutores em relação às tarefas desenvolvidas por meio da língua inglesa, no

ramo editorial.

3.2 Identificação das tarefas-alvo, habilidades comunicativas e interlocutores em

relação ao uso da língua inglesa na área editorial

Nesta seção, identifico, sob a perspectiva dos informantes em serviço, as

tarefas-alvo executadas em relação às funções de trabalho pertinentes aos cargos

de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e de Analista Contábil Pleno,

desempenhadas na área editorial, utilizando-se da língua inglesa para sua

realização, assim como as habilidades comunicativas mobilizadas nessas tarefas.

Page 68: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

54

Identifico, também, os interlocutores com os quais o Gerente de Divulgação Editorial

e Marketing e a Analista Contábil Pleno relacionam-se no exercício de suas tarefas.

Apresento em seguida uma comparação com semelhanças e diferenças, sob o

enfoque dos informantes e da representante legal da editora, dessas tarefas em

relação aos cargos pesquisados.

3.2.1 Identificação das tarefas-alvo, habilidades comunicativas e interlocutores para

o exercício do cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, sob a

perspectiva do informante

Na intenção de identificar quais são as tarefas-alvo realizadas por meio da

língua inglesa sob a perspectiva do cargo de Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing, desenvolvido na área editorial, solicitei a Marcos, informante em serviço e

participante deste estudo de caso, que relacionasse as tarefas que exerce em língua

inglesa no seu cotidiano. A seguir, transcrevo sua resposta:

Marcos: Participação anual no encontro de vendas que ocorre nos EUA e é todo apresentado em Inglês, leitura de e-mails, respostas para os e-mails vindo do internacional, leitura da ficha técnica para os produtos internacionais, relatório “Talent Manager – PTM”, para avaliação de RH para os funcionários das minhas equipes e utilização de ferramenta de intranet INSIDE.

Pela resposta do informante, é possível depreender que, quando solicitado,

ele tem conhecimento de tarefas que tem de executar por meio da língua inglesa,

pois menciona participação em encontro de vendas, realizado nos EUA, leitura e

escrita de e-mails, leitura de ficha técnica para produtos internacionais mas não

especifica qual é a tarefa realizada em relação ao relatório “Talent Manager – PTM”

e à ferramenta intranet.

Com a finalidade de cruzar informações fornecidas pelo informante em

serviço, por meio do questionário de pesquisa, solicitei a ele que descrevesse as

tarefas executadas no exercício de seu cargo, fazendo uso da língua inglesa, e que

indicasse com quem essas tarefas eram realizadas e quais as habilidades

comunicativas eram mobilizadas. A fim de facilitar a visualização das respostas do

informante, apresento o quadro 3.1 a seguir:

Page 69: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

55

Tarefas Habilidades Comunicativas Interlocutores Conferências Ouvir Responsáveis por produtos e contatos de marketing Reuniões Falar Funcionários da matriz Reuniões Falar-Ouvir Funcionários da matriz E-mails Escrever Autores, profissionais de marketing e produtos E-mails Ler Responsáveis por produtos e ferramentas de tecnologia Quadro 3.1 Tarefas executadas em língua inglesa para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, sob a perspectiva de Marcos.

A partir desses dados, fornecidos pelo informante, pode-se perceber que ele

faz menção a tarefas novas, como conferências e reuniões, não abordadas

anteriormente por ele (participação em encontro de vendas, leitura e escrita de e-

mails e leitura de ficha técnica). Em relação aos seus interlocutores na realização

das tarefas apontadas pelo quadro acima, são pessoas responsáveis por produtos e

contatos de marketing, funcionários da matriz, autores, profissionais de marketing e

produtos e pessoas responsáveis por ferramentas de tecnologia. Mais uma vez a

questão tecnológica faz-se presente no desenvolvimento de funções e tarefas

relacionadas ao cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, exercida na

área editorial. Já em relação às habilidades comunicativas (ouvir, falar, ler e

escrever), pode-se notar que as quatro habilidades são mobilizadas na realização de

tarefas relacionadas ao cargo de Gerente de Marketing desempenhado na área

editorial, de modo que é necessário ter competência linguística para mobilizar

conhecimentos para compreensão oral e escrita e produção oral e escrita.

Em outra questão formulada no questionário de pesquisa, na intenção de

confirmar os interlocutores nas tarefas executadas, por meio da língua inglesa, em

relação ao cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, o informante em

serviço apresenta a seguinte resposta:

Marcos: Fornecedores estrangeiros; Funcionários da matriz

Page 70: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

56

A partir dessa informação, é possível concluir que os interlocutores

mencionados pelo informante no quadro 3.1, como pessoas responsáveis por

produtos e contatos de marketing, funcionários da matriz, autores, profissionais de

marketing e produtos e pessoas responsáveis por ferramentas de tecnologia,

resumem-se em interlocutores internos, funcionários da editora, sejam eles de filiais

ou da matriz, e externos.

Ainda em relação à identificação das tarefas-alvo relativas ao cargo de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, é pertinente identificar também quais

são os meios de realização dessas tarefas. O informante, ao ser questionado sobre

com quem realiza essas tarefas, forneceu a seguinte resposta:

Marcos: Face-a-face Telefone E-mail Videoconferência Conference call

A partir dos dados acima, é possível inferir que as quatro habilidades

comunicativas requisitadas para o exercício do cargo de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing no ramo editorial são realizadas face-a-face, por telefone, e-

mail, videoconferência e conference call. Isso demonstra também a existência de

novas tarefas que são realizadas no exercício da função de Gerente de Marketing no

ramo editorial, não informado anteriormente pelo participante deste estudo de caso,

como conversa telefônica, videoconferência e conference call e, ao mesmo tempo,

reitera tarefas já mencionadas anteriormente pelo informante em serviço como

leitura e escrita de e-mails.

Pelo exposto nesta seção, as tarefas-alvo executadas por meio da língua

inglesa, sob a perspectiva do informante em serviço, no exercício do cargo de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, assim como as habilidades

comunicativas mobilizadas para sua realização e com quem essas tarefas são

executadas podem ser sumarizadas de acordo com o quadro 3.2 abaixo:

Page 71: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

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Tarefas Habilidades Comunicativas Interlocutores Participar de apresentação oral Ouvir – Falar Funcionários da

matriz e fornece- dores estrangeiros

Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Funcionários da matriz e fornece- dores estrangeiros

Ler ficha técnica de produtos Ler Escritor por meio do texto Participar de conference calls Ouvir Funcionários da

matriz Participar de reuniões Falar – Falar / Ouvir Funcionários da

matriz Participar de conversa telefônica Ouvir / Falar Funcionários da

matriz Participar de videoconferência Falar – Ouvir Funcionários da matriz e filiais Quadro 3.2 Sumário das tarefas, habilidades comunicativas e interlocutores para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing

Esses resultados mostram que, para o exercício do cargo de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing, desenvolvido na área editorial, é necessário

participar de apresentação oral como ouvinte e também como palestrante, para

funcionários da matriz e fornecedores; ler e escrever emails para funcionários da

matriz e fornecedores estrangeiros; ler ficha técnica de produtos, interagindo com o

texto; participar de reuniões apenas como condutor e ou mobilizando habilidades

comunicativas de fala e escuta com funcionários da matriz; participar de conversas

telefônicas, mobilizando habilidades de fala e escuta e, por fim, participar de

videoconferências, interagindo na fala e escuta com funcionários da matriz e filiais.

3.2.2 Identificação das tarefas-alvo, habilidades comunicativas e interlocutores para

o exercício do cargo de Analista Contábil Pleno, sob a perspectiva da

informante

Na intenção de identificar quais são as tarefas-alvo realizadas por meio da

língua inglesa sob a perspectiva do cargo de Analista Contábil Pleno, desenvolvido

na área editorial, solicitei à Alessandra, informante em serviço e participante deste

estudo de caso, que relacionasse as tarefas que exerce em língua inglesa no seu

dia-a-dia de trabalho. A resposta fornecida foi a seguinte:

Page 72: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

58

Alessandra: Recebimento e resposta a e-mails de outras filiais do exterior diariamente. Preenchimento de Relatórios (reports) com dados financeiros e contábeis e questionários da área em língua americana. Manuseio de documentos em língua e moeda americana como por exemplo invoices.

Pela resposta da informante, é possível verificar que ela tem conhecimento de

quais tarefas executa utilizando a língua inglesa, já que menciona receber e-mails e

redigir respostas a eles, escrever relatórios com dados financeiros e contábeis,

preencher questionários da área contábil e ler documentos como faturas.

Com a finalidade de triangular informações (Long, 2005) fornecidas pela

informante em serviço por meio do questionário de pesquisa, na questão n°

dezessete, solicitei à informante Alessandra que descrevesse as tarefas executadas

no exercício de seu cargo, utilizando a língua inglesa, e que também indicasse com

quem essas tarefas eram realizadas e quais as habilidades comunicativas que

utilizava. Na intenção de facilitar a visualização de suas respostas, apresento o

quadro 3.3 a seguir:

Tarefas Habilidades Comunicativas Interlocutores Participar de conversas Ouvir Funcionários de filiais estrangeiras Participar de treinamentos Ouvir Funcionários de filiais estrangeiras Participar de conversas Falar Funcionários de filiais estrangeiras Participar de treinamentos Falar Funcionários de filiais estrangeiras Participar de conversas Ouvir / Falar Funcionários de filiais estrangeiras Participar de treinamentos Ouvir / Falar Funcionários de filiais estrangeiras Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Funcionários de filiais com pedidos de solicita- estrangeiras ções de esclarecimentos Escrever relatórios Escrever Funcionários de filiais estrangeiras Ler questionários Ler Funcionários de filiais estrangeiras Quadro 3.3 Tarefas executadas em língua inglesa para o cargo de Analista Contábil Pleno, sob a perspectiva de Alessandra.

Page 73: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

59

A partir dos dados fornecidos pela informante em serviço, pode-se perceber

que ela reitera tarefas mencionadas anteriormente (ler e escrever e-mails, escrever

relatórios, escrever questionários) mas menciona outras tarefas que não tinha

indicado antes, como participar de conversas com funcionários de filiais estrangeiras

apenas como ouvinte, em situações apenas como falante e também em situações

em que mobiliza fala e escuta para interagir linguisticamente; participar de

treinamentos com funcionários de filiais estrangeiras, em situações apenas como

ouvinte, em outras, apenas como falante e também em situações nas quais tem de

interagir falando e ouvindo outros. Em relação ao item questionários, anteriormente a

informante tinha mencionado que apenas escrevia questionários, mas em resposta à

pergunta do questionário de pesquisa analisada neste momento, ela complementa

que também precisa ler questionários em inglês. Em relação a ler faturas, a

informante não mencionou quando questionada novamente sobre tarefas que

executa em inglês.

Em outra questão formulada no questionário de pesquisa, no intuito de

confirmar os interlocutores nas tarefas executadas, por meio da língua inglesa, em

relação ao cargo de Analista Contábil Pleno, a informante declara o seguinte:

Alessandra: Funcionários de filiais

A partir dessa informação, é possível confirmar que os interlocutores

mencionados pela informante no quadro 3.3 são de fato funcionários de filiais

estrangeiras, conforme mencionado anteriormente por ela.

No questionário de pesquisa havia uma última questão na qual solicitei à

informante que desse exemplos de tarefas realizadas no exercício do cargo de

Analista Contábil Pleno e que representasse dificuldades10. A seguir transcrevo sua

resposta:

Alessandra: Quando ocorrem visitas de estrangeiros e tenho que conversar com eles e principalmente entender o que falam dentro da área contábil. Responder a questionários específicos da área contábil via e-mail.

10 Esta seção tem como foco identificar as tarefas comunicativas, independente de elas apresentarem dificuldades ou não na sua execução. A questão das dificuldades enfrentadas pelos participantes na realização de tarefas comunicativas por meio da língua inglesa será abordada na seção 3.4.

Page 74: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

60

Pela declaração da informante, pode-se perceber que ela reitera as tarefas de

participar de conversas, interagindo linguisticamente, e escrever questionários da

área contábil, já mencionadas por ela nesta subseção.

Ainda em relação à identificação das tarefas-alvo relativas ao cargo de

Analista Contábil Pleno, procurei identificar também quais são os meios de

realização dessas tarefas. A informante, ao ser questionada sobre com quem realiza

essas tarefas, apresentou a seguinte resposta:

Alessandra: Face-a-face Telefone

E-mail Conference call

A partir de sua resposta, é possível inferir que as quatro habilidades

comunicativas requisitadas para o exercício do cargo de Analista Contábil Pleno, no

ramo editorial, são realizadas face-a-face, por telefone, e-mail e conference call. Isso

demonstra também a existência de novas tarefas que são realizadas na área de

contabilidade no ramo editorial, não informada anteriormente pela participante deste

estudo de caso, como conversa telefônica e conference call e, ao mesmo tempo,

reitera tarefas já mencionadas anteriormente como leitura e escrita de e-mails.

Pelo exposto nesta subseção, as tarefas-alvo executadas por meio da língua

inglesa, sob a perspectiva da informante em serviço, no exercício do cargo de

Analista Contábil Pleno, assim como as habilidades comunicativas mobilizadas para

realizar essas tarefas e com quem são executadas podem ser sumarizadas de

acordo com o quadro 3.4 abaixo:

Page 75: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

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Tarefas Habilidades Comunicativas Interlocutores Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Funcionários de filiais Escrever relatórios Escrever Funcionários de filiais Ler e escrever questionários Ler / Escrever Funcionários de filiais Ler faturas Ler Escritor por meio

do texto Participar de conversas Ouvir – Falar – Falar / Ouvir Funcionários de filiais Participar de treinamentos Ouvir – Falar – Falar / Ouvir Funcionários de filiais Ler e escrever pedidos de solicita- Ler / Escrever Funcionários de ção de esclarecimentos filiais Participar de conversas telefônicas Ouvir / Falar Funcionários de filiais Participar de conference calls Ouvir / Falar Funcionários de filiais Quadro 3.4 Sumário das tarefas, habilidades comunicativas e interlocutores para o cargo de Analista Contábil Pleno.

Segundo esses resultados, para o exercício do cargo de Analista Contábil

Pleno, desenvolvido na área editorial, é necessário interagir com outros funcionários

de filiais ao ler e escrever e-mails; escrever relatórios; ler faturas, neste caso

interagindo com o próprio texto; participar de conversas; participar de treinamentos;

ler e escrever pedidos de solicitação de esclarecimentos; participar de conversas

telefônicas e de conference calls.

A seguir, apresento as tarefas-alvo, realizadas em língua inglesa, para o

exercício dos cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista

Contábil Pleno, sob a perspectiva da editora.

3.2.3 Identificação das tarefas-alvo para o exercício dos cargos de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno, sob a perspectiva

da editora

Ao ser questionada sobre quais tarefas são realizadas, utilizando-se a língua

inglesa, no exercício do cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing,

Cibele, Diretora Financeira da editora pesquisada, forneceu a seguinte resposta:

Page 76: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

62

Cibele: Para [Marcos] o inglês é essencial, porque ele participa da reunião anual da (editora) para a apresentação de novos produtos que estão sendo lançados nos EUA. O material que ele recebe para o melhor desempenho do seu trabalho também é todo em inglês. A [empresa] hoje apresenta um vasto catálogo em inglês que importamos. O inglês é essencial para que ele consiga selecionar o que há de melhor nestes catálogos para que ele apresente a seus clientes aqui no Brasil. Também o [Marcos] participa do plano de estratégia da empresa, o que implica em apresentações que devem ser em inglês. Existe a necessidade do inglês também para as comunicações entre as Cias do grupo, para que ele se mantenha informado das novidades e políticas implantadas para o bom desempenho do seu trabalho.

A partir da declaração acima, pode-se inferir que, para o exercício do cargo

de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, exercido na área editorial, sob a

perspectiva de uma editora, é necessária a realização das seguintes tarefas

comunicativas mobilizadas em inglês:

- participação de reuniões como ouvinte

- leitura de releases

- leitura de propagandas

- leitura de catálogos

- participação de apresentação oral como palestrante

- leitura e escrita de e-mails

- leitura de políticas internas da empresa

Por outro lado, quando a Diretora Financeira é questionada sobre quais são

as tarefas realizadas, fazendo uso da língua inglesa, pela informante que exerce o

cargo de Analista Contábil Pleno, a representante legal da editora declarou o

seguinte:

Cibele: Embora a [empresa] seja uma empresa localizada no Brasil e os reports internacionais são para o México, o contato com os EUA é diário, ou para responder as dúvidas ou fazer solicitações de ajustes no sistema contábil que hoje a [empresa] utiliza. Temos também vários conference call sobre melhorias de processos internos e políticas adotadas para padronizar a operação de acordo com os padrões internacionais. Recebemos também várias visitas internacionais, onde

Page 77: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

63

temos que preparar apresentações de resultados e estratégias para melhorar a rentabilidade da empresa.

A partir dessa informação, pode-se inferir que, para o exercício do cargo de

Analista Contábil Pleno, exercido na área editorial, sob a perspectiva de uma editora,

é necessária a realização das seguintes tarefas comunicativas mobilizadas em

inglês:

- ler e escrever e-mails

- participar de conference calls

- participar de conversas cotidianas

- participar de apresentação oral como palestrante

A seguir, apresento uma comparação entre as tarefas-alvo e habilidades

comunicativas, identificadas para os cargos de Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing e de Analista Contábil Pleno, sob as perspectivas dos informantes em

serviço e da área editorial.

3.3 Comparação entre as tarefas-alvo e as habilidades comunicativas, sob as

perspectivas dos informantes e da área editorial

Esta seção objetiva, em primeiro lugar, apresentar uma comparação das

tarefas-alvo e habilidades comunicativas, sob a perspectiva dos informantes em

serviço, entre os cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista

Contábil Pleno, na intenção de identificar semelhanças e diferenças na realização de

tarefas para, em seguida, apresentar uma comparação das tarefas comunicativas

identificadas pelos informantes com aquelas identificadas pela área editorial.

3.3.1 Comparação entre as tarefas e habilidades comunicativas para os cargos de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno, sob a

perspectiva dos informantes

Page 78: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

64

Com a finalidade de facilitar a visualização da leitura dos resultados, o quadro

3.5 apresenta as tarefas-alvo desenvolvidas na área editorial, sob a perspectiva dos

informantes em serviço.

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing Analista Contábil Pleno

Tarefas Habilidades Tarefas Habilidades Comunicativas Comunicativas Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Ler e escrever e-mails Ler / Escrever

Participar de conversa telefônica Ouvir / Falar Participar de conversa telefônica Ouvir / Falar

Participar de conference calls Ouvir Participar de conference calls Ouvir / Falar

Ler ficha técnica de produtos Ler Escrever relatórios Ler / Escrever

Participar de reuniões Falar – Falar / Ouvir Ler e escrever pedidos de solici-

tacão de esclarecimentos Ler / Escrever

Participar de videoconferência Falar – Ouvir Ler faturas Ler

Participar de apresentação oral Ouvir – Falar Ler e escrever questionários Ler / Escrever

Participar de conversas Ouvir-Falar.

Falar/Ouvir

Participar de treinamentos Ouvir–Falar.

Falar/Ouvir

Quadro 3.5 Comparação de tarefas-alvo e das habilidades comunicativas, em língua inglesa, da área editorial Como pode-se observar, há poucas tarefas-alvo em comum que são

realizadas pelos dois cargos na área editorial. Essas tarefas-alvo são:

- ler e escrever e-mails

- participar de conversas telefônicas

- participar de conference calls

Esses resultados mostram que poucas tarefas são semelhantes entre a área

de marketing e contabilidade, por serem duas áreas que exercem papéis distintos

dentro da área editorial.

A área de marketing está mais voltada para a comunicação, tanto interna

quanto externa da empresa, até mesmo pelas funções que são desenvolvidas por

pessoas que exercem esse cargo, como por exemplo a criação, planejamento e

realização de eventos; administração de comunicação da empresa; planejamento,

supervisão, elaboração e execução de campanhas publicitárias, entre tantas outras.

É possível que essas funções requeiram tarefas que exijam mais interação com

outros interlocutores e isso justificaria a realização de tarefas-alvo como participação

de apresentação oral, conference call, conversa telefônica, reuniões e

Page 79: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

65

videoconferência, que são tarefas que para sua execução necessitam de

mobilização das habilidades comunicativas de produção e compreensão oral,

habilidades que recebem ênfase no exercício do cargo de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing. Já as habilidades comunicativas de compreensão e produção

escrita para essa função restringem-se a ler e escrever e-mails e ficha técnica de

produtos. Em suma, esse cargo requer profissionais que tenham competência

comunicativa para realização de tarefas que, em primeiro lugar, requerem

mobilização de fala e escuta, mas que também tenham competência leitora para a

compreensão de textos escritos e, por fim, que também mobilizem competência de

escrita, ou seja, que saibam mobilizar as quatro habilidades comunicativas na

realização de tarefas profissionais.

Já em relação à área contábil, para o exercício do cargo de Analista Contábil

Pleno parece ser crucial a leitura e escrita de documentos, como demonstram os

dados do quadro 3.5, indicando como tarefas-alvo privilegiadas as de escrita de

relatórios, leitura e escrita de pedidos de solicitação de esclarecimentos e

questionários e leitura de faturas, além de tarefas semelhantes às da área de

marketing, como leitura e escrita de e-mails, participação de conference calls e

conversas telefônicas. Ao contrário das tarefas-alvo realizadas pela área de

marketing, as tarefas realizadas na área contábil demandam, em primeiro lugar,

competência comunicativa para compreensão e produção escrita, de modo que o

profissional de contabilidade interage muito com documentos, no caso deste estudo

de caso, com documentos escritos em língua inglesa. Isso talvez seria justificado

pelas funções exercidas por esses profissionais como registro de atos e fatos

contábeis, elaboração de demonstrações contábeis, atendimento de solicitação de

órgãos fiscalizadores, que são funções que requerem competências para ler e

escrever textos. Por outro lado, essa área também requer um profissional que tenha

competência comunicativa para produzir e compreender textos orais, devido ao fato

de intercâmbio realizado entre funcionários de filiais, como indicado pela informante

em serviço.

Ao que se refere às habilidades comunicativas mobilizadas na realização de

tarefas necessárias ao bom desenvolvimento dos cargos de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno, a partir do quadro 3.5 pode-se

Page 80: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

66

concluir que, embora sejam poucas as tarefas semelhantes aos cargos em análise,

ambos necessitam das quatro habilidades comunicativas.

Na área de marketing são realizadas cinco tarefas que mobilizam

competências para falar e ouvir (participar de apresentação oral, conference call,

conversa telefônica11, reuniões e de videoconferência), uma tarefa que se utiliza da

leitura (ler ficha técnica de produtos) e uma que mobiliza leitura e escrita (ler e

escrever e-mails).

Na área contábil são realizadas três tarefas que mobilizam competências para

ler e escrever (ler e escrever e-mails, pedidos de solicitação de esclarecimentos e

questionários), quatro tarefas que se utilizam de habilidades para falar e ouvir

(participar de conversas telefônicas, conference call, conversas e treinamentos),

uma para leitura (ler faturas) e apenas uma outra para escrever (escrever relatórios).

Na próxima subseção, apresento uma comparação entre as tarefas

comunicativas realizadas em língua inglesa, identificadas sob a perspectiva da área

editorial e dos informantes.

3.3.2 Comparação entre as tarefas comunicativas realizadas por profissionais que

exercem os cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista

Contábil Pleno, sob a perspectiva da área editorial e dos informantes

De acordo com a área editorial, profissionais que exercem o cargo de Gerente

de Divulgação Editorial e Marketing precisam executar as seguintes tarefas

comunicativas em língua inglesa:

- participação de reuniões como ouvinte

- leitura de releases

- leitura de propagandas

- leitura de catálogos

- participação de apresentação oral como palestrante

- leitura e escrita de e-mails

- leitura de políticas internas da empresa

11 Neste trabalho, optei por usar conversa telefônica como sinônimo de chamada telefônica.

Page 81: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

67

Como podemos notar, na visão da área editorial, há tarefas exercidas no

cargo que não foram consideradas pelo informante em serviço, como leitura de

releases, propagandas, catálogos e políticas internas da empresa. Mas também há

tarefas mencionadas pelo informante que não foram consideradas pela

representante legal da editora como participar de conference calls, videoconferência

e conversa telefônica, tarefas que envolvem letramento em tecnologia para sua

realização.

A esse respeito, Hutchinson & Waters (1987) explicam que na análise de

necessidades é possível determinar dois fatores. O primeiro são as necessidades-

alvo, ou seja, as tarefas que os informantes pesquisados realizam utilizando a língua

inglesa, identificadas por meio de informantes, no caso desta pesquisa, os

ocupantes dos cargos pesquisados e a Diretora Financeira, o segundo são suas

necessidades de aprendizagem, que tratarei em seção própria ainda neste capítulo.

Segundo Jasso-Aguilar (2005, p. 149), “o uso de múltiplos meios de pesquisa

também mostraram que diferentes atores em um ambiente social têm percepções

diferentes de situações e tarefas similares”. Esse fato reforça a constatação da

autora, pois, pela comparação de tarefas sob perspectivas diferentes, embora os

participantes deste estudo pertençam ao mesmo ambiente de trabalho, ambos têm

percepções distintas a respeito de tarefas que são realizadas no exercício do cargo

de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing.

O quadro 3.6, a seguir, apresenta a comparação de tarefas realizadas na área

editorial sob a perspectiva do Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e da

representante legal da editora.

Tarefas realizadas sob a perspectiva do Tarefas realizadas sob a perspectiva da cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing representante legal da editora

Tarefas Habilidades Tarefas Habilidades Comunicativas Comunicativas Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Ler e escrever e-mails Ler / Escrever

Participar de apresentação oral Ouvir – Falar Participar de apresentação oral Ouvir – Falar

Participar de reuniões Falar – Falar / Ouvir Participar de reuniões Ouvir-Falar

Ler ferramentas computacionais Ler Ler catálogos Ler

Ler ficha técnica de produtos Ler Ler propagandas Ler

Participar de conversa telefônica Ouvir / Falar Ler políticas da empresa Ler

Participar de conference calls Ouvir Ler releases Ler

Participar de videoconferência Falar – Ouvir

Quadro 3.6 Comparação de tarefas realizadas utilizando a língua inglesa, sob a perspectiva dos participantes em serviço e da representante legal da editora

Page 82: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

68

É importante salientar que, na visão da área editorial, as tarefas que devem

ser realizadas por profissionais de marketing requerem mais habilidades de leitura

(quatro tarefas) que habilidades de escrever (apenas uma tarefa) e de ouvir e falar

(duas tarefas).

Os resultados indicam que para o exercício pleno do cargo de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing, exercido na área editorial, são importantes tanto as

habilidades de leitura, devido ao volume de textos que esses profissionais precisam

ler, quanto as habilidades de ouvir e falar, por conta de comunicação veiculada entre

funcionários da matriz e outras filiais.

A seguir, o quadro 3.7 apresenta todas as tarefas e habilidades comunicativas

que são realizadas no exercício do cargo de Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing, exercido na área editorial.

Tarefas Habilidades Comunicativas

Ler catálogos Ler Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Ler ficha técnica de produtos Ler Ler políticas da empresa Ler Ler propagandas Ler Ler releases Ler Participar de apresentação oral Ouvir – Falar Participar de conference calls Ouvir Participar de conversa telefônica Ouvir / Falar Participar de reuniões Falar – Falar / Ouvir

Participar de videoconferência Falar – Ouvir Quadro 3.7 Tarefas-alvo para o cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing

Em relação ao cargo de Analista Contábil Pleno, a área editorial apresenta as

seguintes tarefas comunicativas:

- ler e escrever e-mails

- participar de conference calls

- participar de conversas cotidianas

- participar de apresentação oral como palestrante

Page 83: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

69

Segundo informam esses dados, duas das tarefas requeridas pela área

editorial não foram consideradas pela informante em serviço (participar de conversas

cotidianas e de apresentação oral como palestrante), no entanto, ela considerou

outras duas tarefas que a área editorial considera necessária para o exercício do

cargo de Analista Contábil Pleno, como ler e escrever e-mails e participar de

conference calls. Apesar de a representante legal da editora considerar que

Alessandra, Analista Contábil Pleno, precisa fazer apresentação oral em inglês, os

dados não sustentam isso categoricamente, pois, como hipótese, o gerente ou

diretor de contabilidade poderia ser incumbido dessa função, já que ela não ocupa

esses cargos. Esse impasse poderá ser resolvido quando da aplicação de uma

análise de necessidades durante o curso, conforme orientação de Dudley-Evans &

St. John (1998), com a finalidade de confirmar as necessidades identificadas na

análise de necessidades realizada no início do curso, inclusive a necessidade de

ministrar apresentação oral ou até mesmo identificar outras necessidades que

possam surgir no decorrer do curso.

Há também tarefas mencionadas pela informante em serviço que não foram

consideradas pela representante legal da editora como escrever relatórios, ler e

escrever pedidos de solicitação de esclarecimentos, ler e escrever questionários, ler

faturas, participar de conversas, conversas telefônicas e treinamentos.

Isso demonstra que a área editorial tem uma percepção diferente em relação

a tarefas realizadas no exercício do cargo de Analista Contábil Pleno, assim como

demonstrou em relação ao cargo de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing, o

que, mais uma vez, corrobora os estudos de Long (2005) que indicam que diferentes

atores, embora no mesmo ambiente social, possuem percepções diferentes em

relação às tarefas realizadas.

O quadro 3.8 abaixo indica a comparação de tarefas e habilidades

comunicativas realizadas na área editorial sob a perspectiva da Analista Contábil

Pleno e da representante legal da editora.

Page 84: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

70

Tarefas realizadas sob a perspectiva do Tarefas realizadas sob a perspectiva da

cargo de Analista Contábil Pleno representante legal da editora

Tarefas Habilidades Tarefas Habilidades Comunicativas Comunicativas Participar de conversas Ouvir-Falar. Falar/Ouvir Participar de conversas Ouvir - Falar

Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Ler e escrever e-mails Ler e escrever

Participar de conference calls Ouvir / Falar Participar de conference calls Ouvir - Falar

Escrever relatórios Escrever Participar de apresentação oral Ouvir - Falar

Ler e escrever pedidos de solici-

tacão de esclarecimentos Ler / Escrever

Ler e escrever questionários Ler / Escrever

Ler faturas Ler

Participar de conversas telefônicas Ouvir / Falar

Participar de treinamentos Ouvir–Falar. Falar/Ouvir

Quadro 3.8 Comparação de tarefas e habilidades comunicativas realizadas utilizando a língua inglesa, sob a perspectiva da informante em serviço e da representante legal da editora

A partir dos resultados indicados pelo quadro, cabe ressaltar que, na visão da

área editorial, as tarefas que devem ser realizadas por profissionais de contabilidade

requerem mais habilidades de produção e compreensão oral (três tarefas) que

habilidades de produção escrita (apenas uma tarefa), entretanto, quando as tarefas

identificadas sob a perspectiva da informante e da área editorial são somadas,

percebe-se então que o uso das quatro habilidades comunicativas estão presentes

no cotidiano de profissionais da área contábil.

A seguir, o quadro 3.9 apresenta todas as tarefas e habilidades comunicativas

realizadas fazendo uso da língua inglesa, que são desenvolvidas no exercício do

cargo de Analista Contábil Pleno, exercido na área editorial.

Tarefas Habilidades Comunicativas

Escrever relatórios Escrever Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Ler e escrever pedidos de solici- tacão de esclarecimentos Ler / Escrever Ler e escrever questionários Ler / Escrever Ler faturas Ler Participar de apresentação oral Ouvir - Falar

Participar de conversas Ouvir - Falar. Falar/Ouvir Participar de conference calls Ouvir / Falar

Participar de conversas telefônicas Ouvir / Falar Participar de treinamentos Ouvir – Falar. Falar/Ouvir

Quadro 3.9 Tarefas-alvo para o cargo de Analista Contábil Pleno

Page 85: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

71

3.4 Necessidades e dificuldades de aprendizagem

Esta seção objetiva apresentar as necessidades e dificuldades de

aprendizagem dos informantes em serviço (do Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing e da Analista Contábil Pleno) em relação à língua inglesa, baseadas nas

orientações de Hutchinson & Waters (1987).

O quadro 3.10 abaixo indica as tarefas-alvo, realizadas por meio da língua

inglesa, desenvolvidas no exercício dos cargos de Gerente de Divulgação Editorial e

Marketing e Analista Contábil Pleno.

Gerente de Divulgação Analista Contábil Pleno Editorial e Marketing

Tarefas Habilidades Tarefas Habilidades Comunicativas Comunicativas

Participar de conference calls Ouvir Participar de conference calls Ouvir / Falar

Ler e escrever e-mails Ler / Escrever Ler e escrever e-mails Ler / Escrever

Participar de conversas telefônicas Ouvir / Falar Participar de conversas telefônicas Ouvir / Falar

Participar de apresentação oral Ouvir – Falar Participar de apresentação oral Ouvir - Falar

Ler catálogos Ler Ler faturas Ler

Ler políticas da empresa Ler Escrever relatórios Escrever

Ler ficha técnica de produtos Ler Participar de conversas Ouvir-Falar. Falar/Ouvir

Ler releases Ler Participar de treinamentos Ouvir-Falar. Falar/Ouvir

Ler propagandas Ler Ler e escrever questionários Ler / Escrever

Participar de videoconferência Falar – Ouvir Ler e escrever pedidos de solici-

Participar de reuniões Falar – Falar / Ouvir tacão de esclarecimentos Ler / Escrever

Quadro 3.10 Tarefas e habilidades comunicativas para os cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno

Observando esses dados, pode-se verificar, então, que a realização dessas

tarefas por meio da língua inglesa são as necessidades da situação-alvo dos

participantes deste estudo de caso, o que eles precisam realizar, identificadas por

meio de tarefas.

Long (2005, p. 22-23) argumenta que a análise de necessidades baseada em

tarefas permite coerência na elaboração de um curso e, particularmente, fundamenta

esse curso nas necessidades da situação-alvo desses alunos, dito de outra forma, o

ensino de língua baseado em tarefas é centrado no aluno. Portanto, o que esta

análise de necessidades indica é que provavelmente profissionais que exercem

cargos na área de marketing e contabilidade, no ramo editorial internacional,

precisam desempenhar linguisticamente as tarefas elencadas no quadro 3.10. Para

que isso possa ocorrer mais efetivamente, é necessário também que se conheça o

Page 86: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

72

nível de conhecimento desses profissionais para que se possa, na elaboração do

curso, propor atividades que estejam em conformidade com esse conhecimento

linguístico. No caso específico dos alunos do curso particular de Inglês para

Negócios, ministrado atualmente pelo professor-pesquisador, o quadro 3.11 indica

como os alunos auto-avaliam seu conhecimento da língua inglesa.

Classificação Habilidade Marcos Alessandra Comunicativa Ouvir Regular Regular Falar Bom Regular Ler Bom Bom Escrever Bom Bom

Quadro 3.11 Avaliação dos informantes sobre seus conhecimentos da língua inglesa

Os dados do quadro acima demonstram que há pontos de diferenças e

semelhanças entre o desempenho dos informantes em relação às quatro habilidades

comunicativas. As semelhanças são representadas pelas habilidades de ouvir, ler e

escrever. A habilidade de ouvir é classificada por Marcos e Alessandra como regular.

As habilidades de ler e escrever são classificadas por ambos como bom. Já a

diferença é representada pela habilidade de falar, pois Marcos a classifica como

bom, enquanto que Alessandra a classifica como regular. Pode-se concluir a partir

desses dados que ambos os informantes encontram-se no mesmo nível de

conhecimento em relação às habilidades de ouvir, ler e escrever. Já em relação à

habilidade de falar, os informantes encontram-se em níveis diferentes de

conhecimento.

Esses resultados são importantes pois fornecem informações relevantes para

subsidiar um curso centrado nas necessidades dos alunos, pois torna conhecido

que, entre as quatro habilidades comunicativas, a habilidade de ouvir é a que é

percebida como mais difícil (declarada pelos informantes como regular), em segundo

lugar, a habilidade de falar, declarada apenas por Alessandra como regular.

Portanto, as habilidades que apresentam-se problemáticas para os alunos (ouvir e

falar) podem ser enfatizadas no conteúdo programático do curso.

Entretanto, cabe ressaltar que, além de as tarefas-alvo que os informantes

têm de realizar, há de se considerar também quais são as habilidades comunicativas

Page 87: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

73

mais utilizadas para que se possa enfatizá-las no curso para fins específicos. Com

essa intenção, a questão n° quinze do questionário de pesquisa, visava identificar

quais sãos as habilidades de uso mais frequente pelos participantes deste estudo de

caso. O quadro 3.11 traz esses resultados:

Frequência de uso Habilidades Marcos Alessandra

Ouvir outros Até uma vez por semestre Até uma vez por semestre Falar para outros Até uma vez por semestre Até uma vez por ano Ler Diariamente Diariamente Escrever Até três vezes por mês Diariamente Conversar Até uma vez por semestre Até uma vez por semestre

Quadro 3.12 Frequência de uso das habilidades pelos informantes

Segundo esses dados, a habilidade de ouvir outros é realizada pelos dois

informantes em até uma vez por semestre. A habilidade de falar para outros é

realizada em até uma vez por semestre, por Marcos, e em até uma vez por ano, por

Alessandra. A habilidade de ler é realizada diariamente pelos dois informantes. A

habilidade de escrever é realizada em até três vezes por Marcos e diariamente, por

Alessandra. Por fim, a habilidade de conversar é realizada por ambos os informantes

em até uma vez por semestre. A partir desses resultados, poder-se-ia concluir que,

seguindo o critério de frequência de uso, a necessidade de aprendizagem imediata é

leitura para ambos os informantes, seguida da necessidade de escrita. As

habilidades de ouvir outros, falar para outros e conversar seriam as necessidades de

longo prazo.

Com intuito de triangular informações constantes dos quadros 3.11 e 3.12,

fornecidas pelos informantes, esses foram questionados, por meio da questão n°

dezessete do questionário de pesquisa, a respeito de dificuldades que têm de se

comunicar em língua inglesa. Suas respostas são transcritas a seguir:

Marcos: compreensão e oratória

Alessandra: A principal dificuldade é entender o que falam, pois falam rápido, usam gírias e termos específicos.

A partir de suas respostas, parece que de fato a habilidade que demonstra

mais dificuldade para ambos os informantes é a de compreensão oral, corroborada

pelos resultados apresentados no quadro 3.11.

Page 88: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

74

Embora Alessandra tenha informado que sua habilidade em falar é regular

(ver quadro 3.11), ela não ratificou essa informação na pergunta de n° dezessete do

questionário de pesquisa. Parece que sua dificuldade maior está na compreensão

oral, conforme pode ser verificado em sua resposta abaixo transcrita, fornecida

quando solicitada a dar exemplos de tarefas que oferecessem dificuldades na sua

realização.

Alessandra: Quando ocorrem visitas de estrangeiros e tenho que conversar com eles e principalmente entender o que falam dentro da área contábil. Responder a questionários específicos da área contábil via e-mail. (grifo do pesquisador)

Pela sua resposta, pode-se perceber que de fato ela enfatiza a dificuldade de

compreensão oral, principalmente quando envolve léxico próprio da área contábil,

seja na compreensão oral ou escrita.

Já em relação ao informante Marcos, ele corrobora a informação contida no

quadro 3.11, ao informar que tem dificuldade em compreensão oral. A esse respeito,

quando solicitado a dar exemplos de tarefas que representam dificuldades na sua

realização, o informante declara o seguinte:

Marcos: Participar de conferências e entender as perguntas realizadas por participantes que falem em Inglês. Participar de encontros internacionais, onde os produtos são expostos e precisamos entender os detalhes, que nem sempre são compreendidos, devido à minha falha em compreensão do que está sendo falado.

Isso demonstra a consciência do informante em relação a sua dificuldade de

compreensão oral e nos traz uma informação relevante, de modo que nos informa

que o nível de compreensão de que precisa não é geral, mas detalhado. Assim,

quando se propuser atividades baseadas nas tarefas-alvo que requeiram a

compreensão oral, será necessário privilegiar estratégias de compreensão

detalhada, sobretudo de verificação de compreensão de texto oral, como por

exemplo, perguntas de esclarecimentos e paráfrases.

Entretanto, na visão de Marcos, conforme resposta tabulada no quadro 3.11,

sua proficiência em falar é boa. Já na resposta à pergunta de n° dezessete do

Page 89: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

75

questionário de pesquisa, ele declara que tem dificuldade com a produção e

compreensão oral resposta também na pergunta de n° vinte do questionário de

pesquisa.

Em resumo, foram apresentadas nesta seção as necessidades e dificuldades

de aprendizagem dos alunos do curso particular de Inglês para Negócios, ministrado

atualmente pelo professor pesquisador.

As necessidades de aprendizagem são as tarefas-alvo constantes do quadro

3.10. As habilidades comunicativas imediatas para ambos os alunos, levando em

consideração sua frequência de uso, são compreensão escrita, em primeiro lugar e,

produção escrita, em segundo. As habilidades de produção oral monológica (Dudley-

Evans & St. John, 1998), ou seja, representada por situações em que os alunos

devem apenas produzir output, e produção e compreensão oral são necessidades

de uso a longo prazo. Entretanto, é interessante lembrar que as dificuldades de

aprendizagem reveladas pelos alunos foram produção e compreensão oral, que são

habilidades que nas situações-alvo de uso da língua não são necessárias de

imediato.

Esses resultados, portanto, poderão fornecer subsídios para se propor um

curso para esses cargos na área editorial e, ao mesmo tempo, um curso que possa

melhor ser direcionado para esses alunos específicos. Esse é o ponto que abordo a

seguir.

3.5 Subsídios para delineamento de um curso

Baseado nos resultados apresentados e discutidos nas seções e subseções

anteriores deste capítulo, apresento nesta seção implicações desses resultados no

delineamento de um possível conteúdo programático para o curso particular de

Inglês para Negócios, ministrado atualmente pelo professor-pesquisador, na área

editorial.

Ao reelaborar o curso particular de Inglês para Negócios, será necessário

estabelecer sua extensão com base no número de habilidades a serem ensinadas,

identificadas na análise de necessidades realizada, pensar sobre o papel do

professor, do aluno e também em relação ao conteúdo que fará parte do currículo,

tudo conforme os parâmetros de Dudley-Evans & St. John (1998) e a proposta de

Page 90: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

76

Ramos (2004) de aplicação de gêneros textuais em cursos instrumentais de línguas,

apresentados no capítulo de Fundamentação Teórica.

Por conta dos aspectos atribuídos a gêneros por Ramos (2004) é que

considero relevante sua implementação no curso particular de Inglês para Negócios

que será reestruturado. Acredito que o ensino baseado em gêneros e tarefas possa

instrumentalizar os alunos desse curso em termos de discursos, estratégias e

aspectos socioculturais, para que, em primeiro lugar, minimize as dificuldades de

compreensão oral salientadas por eles como fatores de dificuldades de

aprendizagem e, em segundo lugar, possa construir conhecimentos nesses alunos a

respeito do funcionamento dos gêneros utilizados por eles na realização de suas

tarefas profissionais, propósitos comunicativos e discursos veiculados por meio

deles.

Com o propósito de identificar quais gêneros são utilizados na realização de

tarefas desenvolvidas na área empresarial, elaborei o quadro 3.13 a seguir, baseado

nas tarefas identificadas para o exercício dos cargos de Gerente de Divulgação

Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno (ver quadro n° 3.5), desenvolvidos na

área editorial.

Gerente de Divulgação Analista Contábil Pleno Editorial e Marketing

Gêneros Habilidades Gêneros Habilidades Comunicativas Comunicativas

apresentação oral compreensão e produção oral apresentação oral compreensão e produção oral

conference call compreensão oral conference call compreensão e produção oral

conversa telefônica compreensão e produção oral conversa telefônica compreensão e produção oral

catálogo compreensão escrita relatório produção escrita

e-mails escrita solicitação de compreensão e produção escrita

esclarecimento

políticas interna da empresa compreensão escrita fatura compreensão escrita

propaganda impressa compreensão escrita conversa compreensão e produção

release compreensão escrita

reunião compreensão e produção oral

videoconferência compreensão e produção oral

gêneros outros que circulam nos

e-mails compreensão e produção

Quadro 3.13 Gêneros textuais de uso da área editorial

Esses gêneros poderiam proporcionar um trabalho que privilegiasse as

habilidades comunicativas necessárias aos alunos do curso particular de Inglês para

Negócios, inclusive focar as habilidades de uso mais frequente, consideradas

Page 91: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

77

imediatas (compreensão e produção escrita), mas sem deixar de abordar as

habilidades de uso a longo prazo (compreensão e produção oral). É importante

considerar, em relação à habilidade de compreensão oral, a necessidade de

compreensão em nível detalhado, como foi verificado neste estudo, pois os alunos

necessitam compreender, por exemplo, conteúdos de apresentações orais para que

possam implementá-los em seus departamentos. Saliento também a necessidade de

realização de outra análise de necessidades durante o curso (Dudley-Evans & St.

John, 1998) para ratificar as necessidades identificadas neste estudo ou ainda

identificar outras que possam surgir no transcorrer do curso.

A partir da identificação de quais são os gêneros textuais utilizados na área

editorial (relatados no quadro 3.13), o trabalho seguinte seria elaborar materiais

conforme os passos sugeridos por Ramos (2004) e já apresentados na

Fundamentação Teórica deste trabalho.

Em resumo, acredito que esse esboço apresentado nesta seção, que

pretende articular gênero e tarefa no ensino de língua inglesa, possa contribuir com

a formação de profissionais que desenvolvam atividades na área editorial.

Page 92: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

78

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta etapa final, apresento um resumo da pesquisa e das conclusões a que

cheguei, assim como implicações para estudos futuros.

Esta pesquisa teve por objetivos (1) identificar quais são as funções

desenvolvidas por profissionais do ramo editorial, (2) investigar quais são as tarefas

que esses profissionais desenvolvem por meio da língua inglesa, (3) investigar quais

são as necessidades de aprendizagem desses profissionais e (4) identificar quais

subsídios são trazidos por esta pesquisa para delineamento de um curso.

Conforme explicam Ellis & Johnson (1994, p. 4), cursos de Inglês para

Negócios, sobretudo a partir dos anos 80, têm focado as reais necessidades de

desenvolver em seus alunos habilidades específicas para o uso da linguagem

aprendida, além de levar em consideração a função que a língua tem em contextos

definidos e o papel da competência linguístico-discursiva.

Por conta disso e por dúvidas e inquietações minhas, esta pesquisa surgiu na

intenção de repensar e redirecionar um curso particular de Inglês para Negócios,

que está sendo ministrado pelo professor-pesquisador, em uma empresa do ramo

editorial. Atualmente, esse curso não pode ser considerado um curso de Inglês para

Fins Específicos, pois não tem objetivos claros e definidos, pelo contrário, é um

curso de Inglês Geral com léxico voltado para o mundo dos negócios. Com a

presente pesquisa, o curso pode ser reformulado para adequar-se às orientações de

cursos instrumentais de línguas resenhadas neste trabalho e que, como eixo

balizador, traz os resultados de uma análise de necessidades realizada no contexto

de ensino-aprendizagem-alvo.

Com a presente pesquisa, pude identificar as tarefas-alvo que os alunos e

profissionais que ocupam cargos de Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e

Analista Contábil Pleno, desenvolvidos na área editorial, precisam desenvolver, as

habilidades comunicativas e os gêneros necessários para a realização dessas

tarefas.

O presente estudo identificou as seguintes tarefas-alvo a serem realizadas,

utilizando-se da língua inglesa, para profissionais que exercem o cargo de Gerente

de Divulgação Editorial e Marketing, exercido pelo informante Marcos:

Page 93: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

79

- Ler catálogos

- Ler e escrever e-mails

- Ler ficha técnica de produtos

- Ler propagandas

- Ler releases

- Participar de apresentação oral

- Participar de conference calls

- Participar de conversas telefônicas

- Participar de reuniões

- Participar de videoconferência

Identificou também as seguintes tarefas-alvo para profissionais que exercem

o cargo de Analista Contábil Pleno, exercido pela informante Alessandra:

- Escrever relatórios

- Ler e escrever e-mails

- Ler e escrever pedidos de solicitação de esclarecimentos

- Ler faturas

- Participar de apresentação oral

- Participar de conversas

- Participar de conference calls

- Participar de conversas telefônicas

- Participar de treinamentos

Em relação às habilidades comunicativas, foram identificadas o uso das

quatro habilidades: compreensão e produção orais e escritas para os dois

participantes desta pesquisa.

Entretanto, em relação à área de Divulgação e Marketing, a habilidade de

compreensão escrita é a que tem uso mais frequente, seguida das habilidades de

produção e compreensão oral. A habilidade de produção escrita é a menos usada.

Já em relação à área de Contabilidade, as habilidades de produção oral e escrita e

compreensão oral e escrita são utilizadas no mesmo nível, ou seja, profissionais

Page 94: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

80

dessa área precisam mobilizar as quatro habilidades comunicativas para

desempenharem suas funções.

Por fim, os seguintes gêneros foram identificados para atuação no cargo de

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing:

- Catálogo

- Políticas internas da empresa

- Propaganda impressa

- Release

- Apresentação oral

- Conference call

- Conversa telefônica

- Reunião

- Videoconferência

Para a atuação no cargo de Analista Contábil Pleno, os seguintes gêneros

foram identificados:

- Relatório

- Solicitação de esclarecimento

- Fatura

- Conversa

- Conference Call

- Conversa telefônica

Entre essas conclusões, saliento a importância de realização da presente

análise de necessidades para levantamento de tarefas, habilidades e gêneros pelos

quais os participantes desta pesquisa se comunicam para, então, fornecer subsídios

para delinear um curso futuro que de fato atenda às necessidades desses alunos,

pois, como advogam Cintra & Carreira (2007, p. 7), “a abordagem instrumental não

ensina o que o aluno já sabe, mas precisa (re) conhecer esses saberes para utilizá-

los a favor do processo de aprendizagem”.

Page 95: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

81

Especificamente, em relação a gêneros, os resultados deste estudo mostram

a possibilidade de um conteúdo programático para um curso futuro ser baseado em

gêneros textuais, corroborando a proposta pedagógica de implementação de

gêneros em sala de aula de Ramos (2004) e, assim, contribuir para a formação de

profissionais capacitados a realizarem eventos comunicativos fazendo uso de uma

língua estrangeira, neste caso, língua inglesa. Além disso, “a análise de

necessidades visa a integrar os sujeitos a seus contextos profissionais” (Cintra &

Passarelli, 2008, p. 61).

Acredito que este estudo de caso traz algumas possíveis contribuições para a

área da Linguística Aplicada, formação de professores e o próprio curso particular de

Inglês para Negócios

Contribui com a Linguística Aplicada ao tratar de questões de linguagem em

contexto próprio de enunciação, mais precisamente, por mapear usos e

necessidades linguísticas requisitadas pela área editorial e, dessa forma, propor-se a

resolver problemas de uso de língua.

Contribui com a formação de professores de Línguas para Fins Específicos,

na medida em que, além de fornecer subsídios teórico-metodológicos que definem e

caracterizam a abordagem, fornecem informações relevantes de uso da língua

inglesa na área editorial, uma vez que desconheço pesquisas que identificam

necessidades linguísticas de profissionais que atuam no mercado editorial,

exercendo funções na área Contábil e Marketing.

Contribui com o próprio professor-pesquisador por possibilitar um repensar

sobre o curso em andamento para que ele possa vir ao encontro das reais

necessidades de aprendizagem de seus alunos e que possa satisfazê-las no menor

período de tempo. Entretanto, há de se considerar a possibilidade de essa análise

de necessidades ser repetida durante o curso para verificar se as necessidades aqui

identificadas continuam de fato sendo relevantes para seus alunos, pois, no decorrer

do curso, outras podem surgir.

Esta pesquisa traz também implicações de ordem educacionais, na medida

em que estabeleceu as necessidades de aprendizagem, baseadas em tarefas do

mundo real, e conhecimentos envolvidos na sua realização.

Este trabalho fez uma análise de necessidades para identificação das tarefas-

alvo, habilidades comunicativas e gêneros textuais apenas para os cargos de

Page 96: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

82

Gerente de Divulgação Editorial e Marketing e Analista Contábil Pleno,

desenvolvidos na área editorial e, além disso, buscou subsídios, a partir dos

resultados da análise de necessidades, para o delineamento de um curso

instrumental. Entretanto, isso pode ser estendido a outros cargos e departamentos

da empresa e, consequentemente, fornecer um mapeamento completo de

necessidades de uso da língua inglesa para, futuramente, propor à empresa, e

outras do ramo editorial, um curso para todos os seus funcionários baseado em

necessidades reais de uso da língua inglesa. Outra implicação deste trabalho é a

possibilidade de desenvolvimento de materiais didáticos, baseados em gêneros

textuais, para compor um conteúdo programático para compor um curso futuro.

Esses são uns dos desdobramentos do presente estudo. Acredito que muitos

outros poderão ser feitos no intuito de continuar fornecendo um mapeamento de

necessidades linguísticas, sejam em língua inglesa, como o presente estudo, ou em

língua materna, para serem desempenhadas por profissionais no mundo do trabalho

e assim contribuir também com as pesquisas que estão sendo ou já foram

desenvolvidas no Brasil, citadas neste trabalho.

Como apresentado na introdução desta pesquisa, parece que não há

trabalhos sobre análise de necessidades na área editorial, sobretudo, relacionados a

Línguas para Fins Específicos. Em função disso, é apropriado retomar um

pensamento de Hutchinson & Waters (1987, p. 8) trazido neste trabalho: “diga-me

para que você precisa da língua e eu lhe direi a língua de que você precisa”.

Page 97: Souza, R.a. (2009). Analise de Necessidades Do Uso Da Lingua Inglesa

83

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ANEXO I

QUESTIONÁRIO DE PESQUISA12

Este questionário tem por objetivo identificar o perfil dos participantes desta pesquisa, quais são as tarefas comunicativas que esses profissionais desempenham em língua inglesa e conhecer quais são as necessidades de aprendizagem desses profissionais. Nome do participante : _________ Data: Telefone: _____________ e-mail*: _________ *Os dados acima apenas serão utilizados pelo pesquisador, caso haja necessidade de maiores esclarecimentos sobre informações contidas neste questionário. 1) Assinale com um “X” sua faixa etária. ( ) 18 a 25 anos ( ) 26 a 30 anos ( ) 31 a 35 anos ( ) 36 a 40 anos ( ) acima de 41 anos. 2) Assinale com um “X” qual é a sua formação acadêmica. ( ) pós-graduação cursando ( ) graduação concluída ( ) graduação cursando ( ) Ensino médio concluído 3) Se você assinalou a opção “pós-graduação” e/ou “graduação”, indique sua (s) área (s) de formação

abaixo. _________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

4) Que cargo você ocupa na empresa em que trabalha? ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 5) Quais são as funções exigidas pelo cargo que você ocupa na empresa onde trabalha? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 6) Descreva detalhadamente quais são as tarefas que você realiza utilizando a língua inglesa no dia-a-dia

de seu trabalho. ______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

12 Adaptado de Onodera (em andamento).

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_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ __________________________________________________________________________________________

_____________________________________________________________________________________ 7) Há quanto tempo você trabalha na área editorial? _______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 8) Você já estudou inglês antes? ( ) Sim. Quanto tempo? ______________________ ( ) Não 9) Caso a resposta da pergunta anterior tenha sido sim, assinale com um “X” onde você estudou inglês? ( ) Na universidade/faculdade Quanto tempo? ________________ ( ) Com professor particular Quanto tempo? ________________ ( ) Em cursos no exterior Onde? _______________________ ( ) Em escola de idiomas. Qual?: __________________________________ ( ) Outras: ___________________________________________________ 10) Na sua opinião, o que a empresa em que você trabalha espera que você seja capaz de realizar

utilizando a língua inglesa? Indique detalhadamente abaixo: __________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 11) Há algum documento na empresa em que você trabalha que especifique o que é necessário saber, em

termos de língua inglesa, para o desenvolvimento de tarefas relacionadas ao seu cargo? Responda com um “X” uma das alternativas abaixo:

( ) Sim ( ) Não 12) Caso a resposta da pergunta anterior tenha sido “sim”, indique abaixo, de forma detalhada, as especificações desse documento.

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 13) O que você espera de um curso de inglês que atenda suas necessidades? ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

___________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 14) Assinale com um “X” como você classifica seu nível de inglês em relação à: Ouvir ( )Ótimo ( )Bom ( )Regular ( ) Fraco Falar ( )Ótimo ( )Bom ( )Regular ( ) Fraco Ler ( )Ótimo ( )Bom ( )Regular ( ) Fraco Escrever ( )Ótimo ( )Bom ( )Regular ( ) Fraco 15) No quadro abaixo, assinale com um “X” a freqüência com que você utiliza a língua inglesa para:

Diariamente Até 3 vezes por semana

Até 3 vezes por mês

Até 1 vez por semestre

Até 1 vez por ano

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Ouvir outros (palestras, reuniões, etc.)

Falar para outros (palestrar, conduzir reuniões, etc.)

Ler Escrever Conversar

16) Assinale com um “X” as pessoas com as quais “você” utiliza a língua inglesa na empresa. Se

necessário, assinale mais de uma alternativa. ( ) Clientes estrangeiros ( ) Fornecedores estrangeiros ( ) Funcionários da matriz ( ) Funcionários de filiais ( ) Auditores internacionais ( ) Outros. Quais?: 17) Caso utilize inglês com essas pessoas, que dificuldades você encontra? Indique-as abaixo. ____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ 18) Assinale com um “X” quais são as formas de contato com estrangeiros. Se necessário, assinale mais

de uma alternativa. ( ) Face-a-face ( ) Telefone ( ) E-mail ( ) Videoconferência ( ) Conference call ( ) Outros: Qual? _________________ 19) Descreva as tarefas que você executa “utilizando o inglês” no seu trabalho e com quem você

utiliza a língua nas habilidades abaixo:

Ouvir: _______

Falar:

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Falar-Ouvir (conversar): Escrever: Ler: 20) Quais habilidades oferecem dificuldades na execução de tarefas do seu departamento quando você

utiliza a língua inglesa? Se necessário, assinale mais de uma alternativa. ( ) Ouvir ( ) Falar ( ) Falar-Ouvir ( ) Escrever ( ) Ler 21) Dê exemplos de tarefas do seu departamento que utilizam a língua inglesa e ofereçam dificuldades a

você na execução.

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Suas informações são muito valiosas para minha pesquisa. Muito obrigado pela sua contribuição ao responder este questionário. Renato Antonio de Souza – Abril-2009 e-mail: [email protected]

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ANEXO II

Roteiro de Entrevista

1- Na visão da editora, que tipos de tarefas o ocupante do cargo de Gerente de

Divulgação Editorial e Marketing realiza utilizando-se da língua inglesa?

2- Na visão da editora, que tipos de tarefas a ocupante do cargo de Analista Contábil

Pleno realiza utilizando-se da língua inglesa?