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FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA
SONETOS DE
APRENDIZ
25 Sonetos de estreia
Prefácio de VERIDIANA SGANZELA SANTOS
1ª Edição
© Copyright – 2014, Fagner Roberto Sitta da Silva Imagem da capa: Cupido encordoando seu arco. Museus
Capitolinos, Roma.
Capa e diagramação do autor
Prefacio: Veridiana Sganzela Santos
1ª. Edição (abril de 2014)
Contato do autor:
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Biblioteca APEG, abril de 2014
Sumário
Prefácio ................................................................................................................. 11 Infância ............................................................................................................... 15 O Menino e o Papagaio .......................................................................... 16 A Mario Quintana ...................................................................................... 17 Meninos ............................................................................................................... 18 Anjos....................................................................................................................... 19 Arte de Pegar Passarinho .................................................................... 20 Pássaro ................................................................................................................. 21 Página Deserta ............................................................................................. 22 O Poeta e o Outono .................................................................................... 23 Poética .................................................................................................................. 24 À Florbela Espanca ....................................................................................25 Cidadezinha ................................................................................................... 26 Da Vida e Do Tempo ................................................................................ 27 Do Efêmero e do Eterno .......................................................................... 28 Minha Alma ................................................................................................... 29 Coração............................................................................................................... 30 Amor ...................................................................................................................... 31 Medalha Milagrosa ................................................................................... 32 Meditação .......................................................................................................... 33 Ama-me .............................................................................................................. 34 Marinha .............................................................................................................. 35 Distância ............................................................................................................ 36 Gestos ..................................................................................................................... 37 Vida ........................................................................................................................ 38 Oficina de Soneto ........................................................................................ 39 Minibiografia ................................................................................................. 41
“Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, este será o maior no reino dos céus.”
Evangelho de Mateus, 18-4
Prefácio
Veridiana Sganzela Santos Soneto. Até eu que sou meio boba e que só agora me
aventuro pelo universo maravilhoso das letras, sei do poder mágico do soneto. Vejo como uma mistura de poesia, música, recado, desabafo, brincadeira; uma arte tão complicada pra mim, motivo de inveja até. Eu não sei fazer sonetos, mas sei me deliciar com eles. É como o vinho. Eu não sei colher, nem pisar e nem tratar o suco da uva. Mas sei degustar o resultado.
Assim, posso dizer que este livro é como uma pequena adega, cheia de bons vinhos. Alguns brancos, outros rosados, uns tintos, mas todos de safras especiais. Safras que remetem à brancura da infância e às meninices que todos vivemos; safras da vida adulta com o vermelho intenso de seus amores e desamores. Em cada um destes sonetos, ou melhor, em cada uma destas garrafas, estão a doçura da infância, o perfume da mocidade, o amargor da saudade.
E ao abrir essas garrafas, o poeta nos serve lições de liberdade: um menino, que um dia, preso no “Alcatraz da palidez, num íntimo calvário”, deu asas à poesia, e através dela visitou e revisitou lugares e tempos, falou sobre a fugacidade das horas, cantou Fernando Pessoa – que era Pessoas -, soltou pipas e passarinhos, pintou o céu de outras cores, provou como é gostosa a melancolia do outono, contou-nos sobre como até mesmo os anjos podem ser invejosos. Brindou à bela Florbela; a poetisa que viveu de amores tão doloridos e incompletos – até por si mesma.
E que por isso, talvez, deixou-nos sonetos tão intensos, de perfume tão carregado, com feridas sempre sangrando.
E sangrando deu vida a outros sonetos, como estes sonetos de aprendiz; do aprendiz que, com seu modo delicado de ver a vida, estanca o sangue, cura a ferida, e nos oferece mais um gole do bom vinho que só os bons poetas sabem produzir.
Salute!
SONETOS DE APRENDIZ
15
Da Infância
Vivi outrora num país chamado
Infância, uma terra onde surgia
O sol no azul sem nuvens, mundo alado
De quem viveu a sua fantasia.
Hoje, existe um país imaginado
Também chamado infância: e que dia
E noite vou buscando no passado
Para ver novamente tal magia.
E percorro esta pátria só de aurora
Como quem busca a mais perfeita imagem
Que junte as peças do ontem e do agora...
Mas sei que vivo apenas de passagem
E, na vida que foge sem demora,
Sou viajante e parte da viagem.
FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA
16
O Menino e o Papagaio
A breve infância presa num momento
No branco fio, frágil armadilha,
Enquanto o papagaio pelo vento
Segue um curso invisível, sua trilha.
Nada, porém, distrai o pensamento
Do menino que ali se maravilha
Com seu brinquedo antigo, um leve alento
Que é, pelo céu imenso, simples ilha.
A tarde segue em sonho, céu e infância
Junto do papagaio na distância
Celeste dos seus tantos vãos idílios,
Como um barco cruzando o grande mar,
Sem pressa alguma, por querer ficar
Onde brincam os ventos andarilhos.
SONETOS DE APRENDIZ
17
A Mario Quintana
“Fui um menino por trás de uma vidraça – um menino de aquário.”
Mario Quintana
Também fui um menino num aquário...
Por um breve momento vi por trás
De uma vidraça o caminhar fugaz
Da vida num cortejo extraordinário.
Um menino doente e solitário
Que não brincava - às vezes incapaz
De um sorriso... Um menino no Alcatraz
Da palidez, num íntimo calvário...
Porém, passava as horas desenhando
Sentado em minha cama e vendo o céu
Azul com brancas nuvens deslizando
Como rebanhos pelo grande véu
Enquanto a lápis ia recriando
Todo um mundo no branco do papel.
FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA
18
Meninos
Em que rua, em que esquina, em que cidade
Paramos de buscar pelos meninos
Que se foram nas trilhas dos destinos,
Cheios das ilusões da Eternidade?
Quando vemos que a vil velocidade
Das mudanças trouxeram desatinos
E que eles vão manchando os cristalinos
Rios, campos e céus da mocidade?
Mas dos relógios que ora estão parados
Vão deslizando céleres momentos
Entre os ponteiros já desencontrados...
E os meninos se foram... Em instantes
Descortinam-se os séculos nevoentos:
São nossos sonhos mínimos e errantes!
SONETOS DE APRENDIZ
19
Anjos
Vezes os anjos saltam dos poleiros,
Fartos de tudo, até da Eternidade,
Ou de inveja da pobre humanidade,
Das suas vidas breves, sem roteiros.
Ora os relógios perdem os ponteiros...
Quem sabe pela impossibilidade
De traçar outro rumo em liberdade
Adentrando países forasteiros?
Pássaros cantam desde a madrugada
Que tudo está perdido ou que perdi
O olhar de ver a vida organizada.
Mas sigo dentro desta escuridão,
Farto também de tudo que vivi
À procura da minha assombração...
FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA
20
Arte de Pegar Passarinho
Felicidade é pássaro mansinho
Que, pousado no dedo de um menino,
Tece um mágico canto cristalino,
Pois ali encontrou seguro ninho.
É pura como alegre passarinho
Que vai compondo pela tarde um hino,
Sem a gaiola por cruel destino,
Triste sina de muito canarinho.
Quem procura tal arte dominar
Deve ficar sabendo que é preciso
Ter muita calma e não desanimar,
Pois aves alçam voo num momento
Inesperado e vão levar o riso
Que pintava de azul o pensamento.
.
.
SONETOS DE APRENDIZ
21
Pássaro
Voar pelos espaços infinitos
Como um alegre pássaro liberto,
Sem sentir as barreiras ou atritos
De um universo a ser redescoberto.
Sentir morrer a dor e antigos mitos
Que presos na alma e no viver incerto
Viraram pó com obsoletos ritos
Pelo descortinar do céu aberto.
Adentrar novamente as velhas casas
Antes deixadas sem saber por quê,
Raptado pelas ondas, vento ou asas.
Ah, ser livre de tudo na viagem
E ter o olhar de um estrangeiro que vê
E sente estar apenas de passagem.
.
FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA
22
Página Deserta
Escrevo numa página deserta
A palavra que sinto ser alada,
Que salta da caneta e agitada
Fica buscando uma janela aberta.
Ânsia da liberdade aprisionada,
Se num simples instante for liberta
Voará na minha alma tão incerta
Mesmo que para sempre engaiolada.
Frêmito de asas para procurar
Pelo azul infinito uma cidade,
Um sonho ou a ilusão suspensa no ar.
Minha alma mais parece um alçapão,
Um cárcere onde os ventos da saudade
Vêm soprar as canções da solidão.
SONETOS DE APRENDIZ
23
O Poeta e o Outono
O poeta sentiu-se em abandono
Porque somente o Belo perseguia,
Porém nunca pensara ser seu dono
Só por sentir que o Belo lhe fugia.
Seguiu pisando as folhas que no outono
Cobriam a calçada em tarde fria
Com a alma presa em flocos do seu sono
Dentro da grande solidão do dia.
Agora não sentia o coração,
Pois estava a sentir com a razão
O que durava apenas um momento.
No entanto, este poeta despertou
Com o som de um poema que brotou
Como uma tradução da voz do vento.
FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA
24
Poética
Sinto que sou apenas pensamento.
Sou um poeta: ouvi uma canção
Vinda de longe, além da vastidão,
Mas sem sentido e feita só de vento,
Como um cavalo da imaginação
Que segue solto no ar, no firmamento
E que foge assustado num momento
Pelo medos da densa escuridão.
Às vezes penso ser somente um verso
De pé quebrado e não um universo,
Que é feito da matéria mais singela.
Mas também sou canção e sei que devo
Seguir ao léu cantando enquanto levo
Uma rosa dos ventos na lapela.