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SONETOS DE APRENDIZ

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SONETOS DE

APRENDIZ

FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA

SONETOS DE

APRENDIZ

25 Sonetos de estreia

Prefácio de VERIDIANA SGANZELA SANTOS

1ª Edição

© Copyright – 2014, Fagner Roberto Sitta da Silva Imagem da capa: Cupido encordoando seu arco. Museus

Capitolinos, Roma.

Capa e diagramação do autor

Prefacio: Veridiana Sganzela Santos

1ª. Edição (abril de 2014)

Contato do autor:

[email protected]

Todos os direitos reservados e protegidos por lei.

Nenhuma parte deste livro, sem autorização prévia por escrito do autor ou da editora, poderá ser reproduzida ou

transmitida, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, fotográficos, gravação ou quaisquer

outros.

Perse Editora: www.perse.com.br

www.facebook.com/fagner.sitta

twitter.com/FagnerSitta

Biblioteca APEG, abril de 2014

Sumário

Prefácio ................................................................................................................. 11 Infância ............................................................................................................... 15 O Menino e o Papagaio .......................................................................... 16 A Mario Quintana ...................................................................................... 17 Meninos ............................................................................................................... 18 Anjos....................................................................................................................... 19 Arte de Pegar Passarinho .................................................................... 20 Pássaro ................................................................................................................. 21 Página Deserta ............................................................................................. 22 O Poeta e o Outono .................................................................................... 23 Poética .................................................................................................................. 24 À Florbela Espanca ....................................................................................25 Cidadezinha ................................................................................................... 26 Da Vida e Do Tempo ................................................................................ 27 Do Efêmero e do Eterno .......................................................................... 28 Minha Alma ................................................................................................... 29 Coração............................................................................................................... 30 Amor ...................................................................................................................... 31 Medalha Milagrosa ................................................................................... 32 Meditação .......................................................................................................... 33 Ama-me .............................................................................................................. 34 Marinha .............................................................................................................. 35 Distância ............................................................................................................ 36 Gestos ..................................................................................................................... 37 Vida ........................................................................................................................ 38 Oficina de Soneto ........................................................................................ 39 Minibiografia ................................................................................................. 41

Aos Meus

“Todo aquele, pois, que se fizer pequeno como este menino, este será o maior no reino dos céus.”

Evangelho de Mateus, 18-4

Prefácio

Veridiana Sganzela Santos Soneto. Até eu que sou meio boba e que só agora me

aventuro pelo universo maravilhoso das letras, sei do poder mágico do soneto. Vejo como uma mistura de poesia, música, recado, desabafo, brincadeira; uma arte tão complicada pra mim, motivo de inveja até. Eu não sei fazer sonetos, mas sei me deliciar com eles. É como o vinho. Eu não sei colher, nem pisar e nem tratar o suco da uva. Mas sei degustar o resultado.

Assim, posso dizer que este livro é como uma pequena adega, cheia de bons vinhos. Alguns brancos, outros rosados, uns tintos, mas todos de safras especiais. Safras que remetem à brancura da infância e às meninices que todos vivemos; safras da vida adulta com o vermelho intenso de seus amores e desamores. Em cada um destes sonetos, ou melhor, em cada uma destas garrafas, estão a doçura da infância, o perfume da mocidade, o amargor da saudade.

E ao abrir essas garrafas, o poeta nos serve lições de liberdade: um menino, que um dia, preso no “Alcatraz da palidez, num íntimo calvário”, deu asas à poesia, e através dela visitou e revisitou lugares e tempos, falou sobre a fugacidade das horas, cantou Fernando Pessoa – que era Pessoas -, soltou pipas e passarinhos, pintou o céu de outras cores, provou como é gostosa a melancolia do outono, contou-nos sobre como até mesmo os anjos podem ser invejosos. Brindou à bela Florbela; a poetisa que viveu de amores tão doloridos e incompletos – até por si mesma.

E que por isso, talvez, deixou-nos sonetos tão intensos, de perfume tão carregado, com feridas sempre sangrando.

E sangrando deu vida a outros sonetos, como estes sonetos de aprendiz; do aprendiz que, com seu modo delicado de ver a vida, estanca o sangue, cura a ferida, e nos oferece mais um gole do bom vinho que só os bons poetas sabem produzir.

Salute!

SONETOS

DE APRENDIZ

SONETOS DE APRENDIZ

15

Da Infância

Vivi outrora num país chamado

Infância, uma terra onde surgia

O sol no azul sem nuvens, mundo alado

De quem viveu a sua fantasia.

Hoje, existe um país imaginado

Também chamado infância: e que dia

E noite vou buscando no passado

Para ver novamente tal magia.

E percorro esta pátria só de aurora

Como quem busca a mais perfeita imagem

Que junte as peças do ontem e do agora...

Mas sei que vivo apenas de passagem

E, na vida que foge sem demora,

Sou viajante e parte da viagem.

FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA

16

O Menino e o Papagaio

A breve infância presa num momento

No branco fio, frágil armadilha,

Enquanto o papagaio pelo vento

Segue um curso invisível, sua trilha.

Nada, porém, distrai o pensamento

Do menino que ali se maravilha

Com seu brinquedo antigo, um leve alento

Que é, pelo céu imenso, simples ilha.

A tarde segue em sonho, céu e infância

Junto do papagaio na distância

Celeste dos seus tantos vãos idílios,

Como um barco cruzando o grande mar,

Sem pressa alguma, por querer ficar

Onde brincam os ventos andarilhos.

SONETOS DE APRENDIZ

17

A Mario Quintana

“Fui um menino por trás de uma vidraça – um menino de aquário.”

Mario Quintana

Também fui um menino num aquário...

Por um breve momento vi por trás

De uma vidraça o caminhar fugaz

Da vida num cortejo extraordinário.

Um menino doente e solitário

Que não brincava - às vezes incapaz

De um sorriso... Um menino no Alcatraz

Da palidez, num íntimo calvário...

Porém, passava as horas desenhando

Sentado em minha cama e vendo o céu

Azul com brancas nuvens deslizando

Como rebanhos pelo grande véu

Enquanto a lápis ia recriando

Todo um mundo no branco do papel.

FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA

18

Meninos

Em que rua, em que esquina, em que cidade

Paramos de buscar pelos meninos

Que se foram nas trilhas dos destinos,

Cheios das ilusões da Eternidade?

Quando vemos que a vil velocidade

Das mudanças trouxeram desatinos

E que eles vão manchando os cristalinos

Rios, campos e céus da mocidade?

Mas dos relógios que ora estão parados

Vão deslizando céleres momentos

Entre os ponteiros já desencontrados...

E os meninos se foram... Em instantes

Descortinam-se os séculos nevoentos:

São nossos sonhos mínimos e errantes!

SONETOS DE APRENDIZ

19

Anjos

Vezes os anjos saltam dos poleiros,

Fartos de tudo, até da Eternidade,

Ou de inveja da pobre humanidade,

Das suas vidas breves, sem roteiros.

Ora os relógios perdem os ponteiros...

Quem sabe pela impossibilidade

De traçar outro rumo em liberdade

Adentrando países forasteiros?

Pássaros cantam desde a madrugada

Que tudo está perdido ou que perdi

O olhar de ver a vida organizada.

Mas sigo dentro desta escuridão,

Farto também de tudo que vivi

À procura da minha assombração...

FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA

20

Arte de Pegar Passarinho

Felicidade é pássaro mansinho

Que, pousado no dedo de um menino,

Tece um mágico canto cristalino,

Pois ali encontrou seguro ninho.

É pura como alegre passarinho

Que vai compondo pela tarde um hino,

Sem a gaiola por cruel destino,

Triste sina de muito canarinho.

Quem procura tal arte dominar

Deve ficar sabendo que é preciso

Ter muita calma e não desanimar,

Pois aves alçam voo num momento

Inesperado e vão levar o riso

Que pintava de azul o pensamento.

.

.

SONETOS DE APRENDIZ

21

Pássaro

Voar pelos espaços infinitos

Como um alegre pássaro liberto,

Sem sentir as barreiras ou atritos

De um universo a ser redescoberto.

Sentir morrer a dor e antigos mitos

Que presos na alma e no viver incerto

Viraram pó com obsoletos ritos

Pelo descortinar do céu aberto.

Adentrar novamente as velhas casas

Antes deixadas sem saber por quê,

Raptado pelas ondas, vento ou asas.

Ah, ser livre de tudo na viagem

E ter o olhar de um estrangeiro que vê

E sente estar apenas de passagem.

.

FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA

22

Página Deserta

Escrevo numa página deserta

A palavra que sinto ser alada,

Que salta da caneta e agitada

Fica buscando uma janela aberta.

Ânsia da liberdade aprisionada,

Se num simples instante for liberta

Voará na minha alma tão incerta

Mesmo que para sempre engaiolada.

Frêmito de asas para procurar

Pelo azul infinito uma cidade,

Um sonho ou a ilusão suspensa no ar.

Minha alma mais parece um alçapão,

Um cárcere onde os ventos da saudade

Vêm soprar as canções da solidão.

SONETOS DE APRENDIZ

23

O Poeta e o Outono

O poeta sentiu-se em abandono

Porque somente o Belo perseguia,

Porém nunca pensara ser seu dono

Só por sentir que o Belo lhe fugia.

Seguiu pisando as folhas que no outono

Cobriam a calçada em tarde fria

Com a alma presa em flocos do seu sono

Dentro da grande solidão do dia.

Agora não sentia o coração,

Pois estava a sentir com a razão

O que durava apenas um momento.

No entanto, este poeta despertou

Com o som de um poema que brotou

Como uma tradução da voz do vento.

FAGNER ROBERTO SITTA DA SILVA

24

Poética

Sinto que sou apenas pensamento.

Sou um poeta: ouvi uma canção

Vinda de longe, além da vastidão,

Mas sem sentido e feita só de vento,

Como um cavalo da imaginação

Que segue solto no ar, no firmamento

E que foge assustado num momento

Pelo medos da densa escuridão.

Às vezes penso ser somente um verso

De pé quebrado e não um universo,

Que é feito da matéria mais singela.

Mas também sou canção e sei que devo

Seguir ao léu cantando enquanto levo

Uma rosa dos ventos na lapela.