somos atados por tempos imemoriáveis

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Somos atados por tempos imemoriáveis, num encontro de vidas passageiras e constantes – nossas memórias esvaziadas pela natureza do novo ser, cruzadas pelas linhas do acaso, sete encontra sete, sete vidas, sete naturezas, sete horizontes, sete proibições. Neste oceano, caminha nossos pés sobre as águas somente aquele que se aproxima do sangue de outrora, herdado de pai a pai, todos homens ignorantes, filhos de sua terra e de seu relógio. Um purgo das convivências e do sangue, que não é nobre nem plebeu, humano tão pouco. Vivemos entre suas regras, suas condutas, suas crenças (diferentes e contraditórias), no cosmo, aparentamos o preciso só não chegamos aos extremos de suas linhas, algo a mais nos impede, um dogma invisível talvez. Este dilema de um diário diarista relutante apruma em passos curtos, versos pequenos e flutuantes, lembranças distorcidas, lágrimas pensantes, amores eternos, vidas pulsantes na agonia de vir átona de mil em uma, uma, uma só lâmina que é palavra, é semblante e homem. Toma posse, meu amargo passado, desejoso futuro, por que teu presente é incerto quanto à roupa que visto ou o prato que como, ou a saúde que me abandona. É tudo um risco feito pelo homem, animal que come seu pai-mãe, exige dele tudo, braços, mãos, cabeça, dignidade e até sua alma. A única liberdade que a morte há de dar começo. Nem isso esse mostro deixa escapar, ele passa por nós como matéria escura, átomo por átomo, desde nosso pai, desde nossa mãe antes mesmo da fecundação, está lá ele, esperando nova nascente de vida. Corpo para ser escrito, virtude para ser maculada, tatuagem quase num feitiço, ferrado a ferro no nosso corpo. Não há explicação ao certo, que fenômeno é esse, onde de novo e novo, somos e não somos, vivemos e não vivemos. Na peleja da vida, no suor do trabalho, de gravata ou na enxada, uma cobra devora outra cobra, poucos se fazem de outros bichos nessa selva onde todos se rosnam. É perigoso pensar nisso afinal. Mas onde pode haver tal perigo maior, nas palavras desta pessoa ou entre os homens do poder? Melhor ver no ao vivo e cores isso bem. Os porcos antes da SANTA CEIA, não comem vinho e nem pão, comem nós mesmos como o menino nazareno, só que diferentemente, somos mastigados, o pequeno é na verdade colocado somente a

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Pequeno poema de minha autoria.

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Somos atados por tempos imemoriveis, num encontro de vidas passageiras e constantes nossas memrias esvaziadas pela natureza do novo ser, cruzadas pelas linhas do acaso, sete encontra sete, sete vidas, sete naturezas, sete horizontes, sete proibies. Neste oceano, caminha nossos ps sobre as guas somente aquele que se aproxima do sangue de outrora, herdado de pai a pai, todos homens ignorantes, filhos de sua terra e de seu relgio.Um purgo das convivncias e do sangue, que no nobre nem plebeu, humano to pouco.Vivemos entre suas regras, suas condutas, suas crenas (diferentes e contraditrias), no cosmo, aparentamos o preciso s no chegamos aos extremos de suas linhas, algo a mais nos impede, um dogma invisvel talvez.Este dilema de um dirio diarista relutante apruma em passos curtos, versos pequenos e flutuantes, lembranas distorcidas, lgrimas pensantes, amores eternos, vidas pulsantes na agonia de vir tona de mil em uma, uma, uma s lmina que palavra, semblante e homem.Toma posse, meu amargo passado, desejoso futuro, por que teu presente incerto quanto roupa que visto ou o prato que como, ou a sade que me abandona. tudo um risco feito pelo homem, animal que come seu pai-me, exige dele tudo, braos, mos, cabea, dignidade e at sua alma. A nica liberdade que a morte h de dar comeo. Nem isso esse mostro deixa escapar, ele passa por ns como matria escura, tomo por tomo, desde nosso pai, desde nossa me antes mesmo da fecundao, est l ele, esperando nova nascente de vida. Corpo para ser escrito, virtude para ser maculada, tatuagem quase num feitio, ferrado a ferro no nosso corpo. No h explicao ao certo, que fenmeno esse, onde de novo e novo, somos e no somos, vivemos e no vivemos. Na peleja da vida, no suor do trabalho, de gravata ou na enxada, uma cobra devora outra cobra, poucos se fazem de outros bichos nessa selva onde todos se rosnam. perigoso pensar nisso afinal. Mas onde pode haver tal perigo maior, nas palavras desta pessoa ou entre os homens do poder? Melhor ver no ao vivo e cores isso bem. Os porcos antes da SANTA CEIA, no comem vinho e nem po, comem ns mesmos como o menino nazareno, s que diferentemente, somos mastigados, o pequeno na verdade colocado somente a lngua, delicadamente. Bela falcatrua! Agora me sento, deixo meu olhar ir s nuvens, paro de pensar pensado, penso agora no meu prximo dia nesta terra. Na escolha em que freqentei, nos amigos que achei que tinha, nessas vidas que julguei me possurem. Pobre garoto, pobre de esprito, ainda no me libertei, consigo a tranqilidade, nunca a paz. Que bom que assim, do contrrio, perderia na cadeia alimentar das cidades, dos adversrios, dos conquistadores, dos amores, da vida alheia e desnorteada como formigueiro nas ruas sem humos, nos terminais sem pacincia, coerncia e viver tudo sobreviver enfim, se que isso realmente o fim de tudo isso, ou talvez novos comeos para mim e para meus futuros consangneos.