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50 www.backstage.com.br REPORTAGEM SOM E LUZ P ouco antes do início do espetáculo, que se chama Alegria, um palhaço fica observando o público do palco. Exata- mente às 16 horas – horário marcado para o início - entra a banda, com seis músicos, tocando instrumentos acústicos como violões, percussões e acordeom. A banda começa a dar a volta nos corredores entre as poltronas do circo. O som acompanha a ban- da, fazendo a volta pelas dez caixas JBL MS26 colocadas no en- torno da lona. A luz, discreta, chama atenção para os músicos. A Miguel Sá [email protected] COM ALEGRÍA NO empatia com o público, que começa a bater palmas, é imediata. Isto é apenas o início de um espetáculo no qual música, dança, teatro e circo caminham juntos e onde o som e a luz são funda- mentais para colocar o público dentro do show. Características especiais Para entender o que significa o som e a luz no espetácu- lo, é importante saber como é o pensamento artístico do SOM E LUZ Cirque du Soleil Cirque du Soleil Teatro, circo, dança e música enchem os olhos do público no espetáculo de múltiplas linguagens artísticas do Cirque du Soleil. Som e luz são essenciais para ressaltar a beleza do show circense Fotos: Ernani Matos / Divulgação

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Page 1: SOM E LUZ Cirque du Soleil COM ALEGRÍA NO · 52 REPORTAGEM Cirque. Apesar de se-rem basicamente espetá-culos circenses, os shows do Cirque du Soleil têm uma espécie de enredo,

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REPORTAGEM

SOM E LUZ

Pouco antes do início do espetáculo, que se chama Alegria,um palhaço fica observando o público do palco. Exata-mente às 16 horas – horário marcado para o início - entra a

banda, com seis músicos, tocando instrumentos acústicos comoviolões, percussões e acordeom. A banda começa a dar a volta noscorredores entre as poltronas do circo. O som acompanha a ban-da, fazendo a volta pelas dez caixas JBL MS26 colocadas no en-torno da lona. A luz, discreta, chama atenção para os músicos. A

Miguel Sá[email protected]

COM ALEGRÍA NO

empatia com o público, que começa a bater palmas, é imediata.Isto é apenas o início de um espetáculo no qual música, dança,teatro e circo caminham juntos e onde o som e a luz são funda-mentais para colocar o público dentro do show.

Características especiaisPara entender o que significa o som e a luz no espetácu-

lo, é importante saber como é o pensamento artístico do

SOM E LUZ

Cirque du SoleilCirque du Soleil

Teatro, circo, dança e música enchem os olhos do público no espetáculode múltiplas linguagens artísticas do Cirque du Soleil. Som e luz sãoessenciais para ressaltar a beleza do show circense

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REPORTAGEM

Cirque. Apesar de se-rem basicamente espetá-culos circenses, os showsdo Cirque du Soleil têmuma espécie de enredo,que dá “liga” entre asatrações. O picadeiro éum cenário que no casode Alegría é uma espé-cie de praça; a luz inte-rage com os artistas ecom este cenário, mu-dando o clima entre osnúmeros interligados.Por sua vez, os artistasnão estão no picadeirosimplesmente mostran-do habilidades circen-ses. Eles interpretam personagensque têm f igur inos espec ia lmenteconcebidos.

Os números têm uma espécie defunção dramática dentro do espetá-culo. A música também não é umamera trilha incidental, com tambores

rufando para os números perigosos esons alegres para palhaços. Ela é umatrilha sonora que dá o fio da meada doespetáculo, no caso de Alegría, indi-cada ao Grammy.

Os arranjos são complexos, com ins-trumentos diversos, acústicos e elétri-cos, além de duas cantoras. O som e aluz ajudam o público a entender o es-petáculo, criando o clima do show epontuando os números, no caso do pri-meiro, e ressaltando aspectos do cená-rio e figurino, no caso da segunda.

Som e mixagemO som chega ao público por meio de

trinta caixas JBL 4892 (além das JBL usa-das no surround) e quatro sistemas sub L-Acoustic SB218. As caixas JBL estão distri-buídas nas colunas que sustentam a lona.O crossover é feito por meio de um sistema

XTA AudioCore controlado pelo softwarede mesmo nome. O alinhamento é feitousando Smaart, levando em conta que,pelo fato de estar sonorizando uma lona decirco, a acústica do local não é igual todo

dia, como seria em um tea-tro normal.

Quanto à mixagem, aprimeira coisa que chamaatenção no som é o equi-líbrio. Com a ajuda dosarranjos, é possível perce-ber claramente cada ins-trumento tocado pelosseis músicos, além das duascantoras. Para mixar, sur-preendentemente é usadauma mesa analógica: aMidas Heritage 3000, oque chama atenção porconta da complexidadeda mixagem do espetácu-lo, com vários climas dife-

rentes em uma mesma música. “Este siste-ma está em uso nos últimos cinco anos e ébaseado em um projeto original que játem 14 anos de idade”, comenta o respon-sável pelo som, Alex Ashcroft.

A lista de canais usados na Midas égrande. Alex usa os 48 canais da mesae mais 11 na Yamaha 01V com bateria,bateria eletrônica, percussão comcongas, bongôs e outros instrumentos,percussão eletrônica, baixo, dois tecla-dos estéreo, sampler estéreo, baixo,dois vocais com backup, três saxofones,dois acordeons, dois microfones para ospalhaços, sistemas sem fio para bai-xolão, violão, sax e acordeom (na horado passeio da banda pelo público) edois microfones para os apresentado-res. Os efeitos de reverbs são feitos pormeio de máquinas Lexicon 480 e PCM,além de processadores TC Electronic.

O espetáculo tem como tema a luta

pelo poder. Ela é expressa por meio de

diversos números, que vão da acroba-

cia ao contorcionismo, passando pelo

malabarismo. Entre os personagens,

há crianças, palhaços, mendigos e

Alegria

pássaros. No final, há um número que

mistura ginástica olímpica com o tradi-

cional número do trapézio. Alegria foi

criado em 1994 para comemorar os

dez anos do Cirque du Soleil, criado

em 1984.

O picadeiro é um cenário que no caso deAlegría é uma espécie de praça; a luz

interage com os artistas e com este cenário,mudando o clima entre os números

interligados

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O surround que acompanha a bandaquando ela dá a volta na área da pla-téia é controlado manualmente e tam-bém com o auxílio de uma Yamaha01V com automação MIDI trigada. “AMidas do P.A. tem uma automaçãocom fader virtual que nós não usamos.Preferimos os LEDs que indicam ondecada fader deve estar em cada mudan-ça de cena. É uma forma mais orgânicade mixar. A automação no FoH é, prin-cipalmente, para mutes e surround”,expõe Alex.

Ele já sugeriu o uso de uma YamahaPM5D por conta das facilidades de

Duas mesas de luz Compulite Micron 4D

ETC 96 Sensor Touring Rack

ETC 48 Sensor Touring Rack

ETC 12 Sensor Rack

2 ETC Response e Fleenor Opto-Splitters

150 ETC Source 4 Elipsoidais

47 ETC Source 4 Pars

2-ETC Source 4 Jr’s

12 Par 64 com efeitos de chama

Lista de equipamentos de iluminação

4 Par 20’s

4 Strand fresnéis 2K

18Sky Cycs

6-Clay Paky Stage Scans

3 cnhões seguidores Lycian 1266

40 Chroma Q Spectra Q3’s

6 Apollo DMX Roto Q’s

2 Le Maitre Neutron Pro XS Hazers

1 High End F100 Fogger

automação em uma mesa digital, como jáacontece no setup de monitoração.

Para o monitor, o equipamento ana-lógico já foi trocado. As mixagens paraos músicos são feitas a partir da YamahaPM5D para sistemas in ear Sennheiser3500. São 12 mixagens estéreo diferen-tes e a automação da mesa é bastanteusada nelas. Os microfones usados paraa banda são Countryman e AKG460para percussão; PZM, Sennheiser 421 eSM57 para bateria; DPA 4088 para osvocais, Coutryman B3 para os palhaços;microfones Sennheiser internos nosacordeons e Sennheiser e AMT para os

A equipe de iluminação montou uma espécie dechama artificial especialmente para o espetáculo

No monitor, a Yamaha PM5D dá conta das mixagensdos músicos e das automações

Alex Ashcroft, o responsável pelo som, à frente daMidas Heritage,mesa usada para o som de P.A.

Thomas Duchaine (esquerda), sonorizador chefe(interino) e Rémi Hould, assistente de sonorização

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saxofones. Além de Alex, ainda traba-lham um técnico de som e um assistente.

A iluminaçãoQuando se olha para as colunas que

sustentam a lona, até o alto, o que maisse vê são equipamentos de luz. São cer-ca de 200 de todo o tipo. No entanto, ailuminação do espetáculo é discreta,subordinada ao que acontece no palco.

Quase não se percebe a quantidade deequipamentos gerenciada por meio damesa Compulite Micron 4D. Há equi-pamentos Source 4 PAR, Source 4 Jr,lâmpadas PAR 64 e PAR 20, além deFresnéis e canhões seguidores Lycian1266 entre diversos outros. Os gobossão um recurso bastante usado no espe-táculo. São 16 tipos em 90 Source 4elipsoidais, o que significa dizer quecerca da metade das elipsoidais tem al-gum tipo de gobo nelas.

O espetáculo tem uma imensa varie-dade de “climas” de iluminação. A luztambém é um fator de segurança paraos artistas desempenharem seus núme-ros. “Tudo é gravado em cues. Umaparte do desafio é fazer com que cada

cue aconteça exatamente onde é paraacontecer. Se a luz não estiver certaeles podem se machucar, podem nãover onde estão andando e cair. Temosque trabalhar prestando atenção ao queestá acontecendo com a música e com acoreografia”, conta Gary Bower, o res-ponsável pela iluminação da turnê de Ale-gria. “A maioria das coisas nunca muda,porque os artistas são como máquinas.

Eles fazem sempre a mesma coisa” acres-centa. Além de Bower, a equipe de ilumi-nação tem mais três pessoas. “Temos ain-da 15 pessoas do Brasil que nos ajudam amontar o equipamento de luz no alto, oque é uma tarefa impossível para apenastrês de nós”, acrescenta Gary.

O espetáculoÉ difícil dizer se é circo ou teatro. Os

números têm a sua beleza realçada pelaluz e o som ajuda a música a criar um cli-ma de emoção e envolvimento na platéia,que participa muito durante todo o show.Alegría é uma mostra de como a compe-tência técnica e o bom uso dos recursospodem ajudar ainda mais um espetáculoque já tem, por si só, o que mostrar.

É difícil dizer se é circo ou teatro. Os númerostêm a sua beleza realçada pela luz e o som ajuda

a música a criar um clima de emoção eenvolvimento na platéia, que participa muito

durante todo o show

Gary Bower, o responsável pelailuminação do espetáculo

Luz e som criam clima de emoção no espetáculo