sociologia da educação

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  • Universidade do Sul de Santa Catarina

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2007

    Sociologia da Educao

    Disciplina na modalidade a distncia

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  • CrditosUnisul - Universidade do Sul de Santa CatarinaUnisulVirtual - Educao Superior a Distncia

    Campus UnisulVirtualAvenida dos Lagos, 41 Cidade Universitria Pedra BrancaPalhoa SC - 88137-100Fone/fax: (48) 3279-1242 e3279-1271E-mail: [email protected]: www.virtual.unisul.br

    Reitor UnisulGerson Luiz Joner da Silveira

    Vice-Reitor e Pr-Reitor AcadmicoSebastio Salsio Heerdt

    Chefe de Gabinete da ReitoriaFabian Martins de Castro

    Pr-Reitor AdministrativoMarcus Vincius Antoles da Silva Ferreira

    Campus SulDiretor: Valter Alves Schmitz NetoDiretora adjunta: Alexandra Orsoni

    Campus NorteDiretor: Ailton Nazareno SoaresDiretora adjunta: Cibele Schuelter

    Campus UnisulVirtualDiretor: Joo VianneyDiretora adjunta: Jucimara Roesler

    Equipe UnisulVirtual

    Avaliao InstitucionalDnia Falco de Bittencourt

    BibliotecaSoraya Arruda Waltrick

    Capacitao e Assessoria ao DocenteAngelita Maral Flores (Coordenadora)Caroline BatistaEnzo de Oliveira MoreiraPatrcia MeneghelSimone Andra de Castilho

    Coordenao dos CursosAdriano Srgio da CunhaAlosio Jos RodriguesAna Luisa Mlbert

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    Criao e Reconhecimento de CursosDiane Dal MagoVanderlei Brasil

    Desenho EducacionalDaniela Erani Monteiro Will (Coordenadora)

    Design InstrucionalCarmen Maria Cipriani PandiniCarolina Hoeller da Silva BoeingFlvia Lumi MatuzawaKarla Leonora Dahse NunesLeandro Kingeski PachecoLigia Maria Soufen TumoloMrcia LochViviane BastosViviani Poyer

    AcessibilidadeVanessa de Andrade Manoel

    Avaliao da AprendizagemMrcia Loch (Coordenadora)Cristina Klipp de OliveiraSilvana Denise Guimares

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    Disciplinas a DistnciaEnzo de Oliveira Moreira (Coordenador)Vanessa Francine Corra Strambi

    Gerncia AcadmicaMrcia Luz de Oliveira Bubalo

    Gerncia Administrativa Renato Andr Luz (Gerente)Valmir Vencio Incio

    Gerncia de EnsinoAna Paula Reusing Pacheco

    Logstica de Encontros PresenciaisGraciele Marins Lindenmayr(Coordenadora) Aracelli AraldiCcero Alencar BrancoDouglas Fabiani da CruzFernando SteimbachLetcia Cristina BarbosaPriscila Santos Alves

    Formatura e EventosJackson Schuelter Wiggers

    Gerncia de LogsticaArthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)Francisco Asp

    Logstica de MateriaisJeferson Cassiano Almeida da Costa (Coordenador)Jos Carlos TeixeiraEduardo Kraus

    Monitoria e SuporteRafael da Cunha Lara (Coordenador)Adriana SilveiraAndria DrewesCaroline MendonaCludia Noemi NascimentoCristiano DalazenDyego RachadelEdison Rodrigo ValimFrancielle Arruda

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    Relacionamento com o MercadoWalter Flix Cardoso Jnior

    Secretaria de Ensino a DistnciaKarine Augusta Zanoni Albuquerque (Secretria de ensino)Ana Paula Pereira Andra Luci MandiraAndrei RodriguesCarla Cristina SbardellaDeise Marcelo AntunesDjeime Sammer Bortolotti Franciele da Silva BruchadoJames Marcel Silva RibeiroJanaina Stuart da CostaJenni er CamargoLamuni SouzaLiana Pamplona Marcelo Jos SoaresMarcos Alcides Medeiros JuniorMaria Isabel AragonOlavo LajsPriscilla Geovana PaganiRosngela Mara SiegelSilvana Henrique SilvaVanilda Liordina HeerdtVilmar Isaurino Vidal

    Secretria ExecutivaViviane Schalata Martins

    TecnologiaOsmar de Oliveira Braz Jnior(Coordenador)Je erson Amorin OliveiraMarcelo Neri da SilvaPascoal Pinto VernieriRicardo Alexandre Bianchini

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  • Apresentao

    Este livro didtico corresponde disciplina Sociologia da Educao.O material foi elaborado, visando a uma aprendizagem autnoma. Com este objetivo, aborda contedos especialmente selecionados e adota uma linguagem que facilite seu estudo a distncia. Por falar em distncia, isso no signi ca que voc estar sozinho(a). No se esquea de que sua caminhada nesta disciplina tambm ser acompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da UnisulVirtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade. Nossa equipe ter o maior prazer em atend-lo(a), pois sua aprendizagem nosso principal objetivo.Bom estudo e sucesso!Equipe UnisulVirtual.

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  • Viviani Poyer

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2007

    Design instrucional

    Viviani Poyer

    Sociologia da Educao

    Livro didtico

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  • Copyright UnisulVirtual 2007 Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta instituio.

    Edio --- Livro Didtico

    Professora Conteudista Viviani Poyer

    Design Instrucional

    Viviani Poyer

    ISBN 978-85-7817-053-0

    Projeto Grfico e Capa Equipe UnisulVirtual

    Diagramao

    Evandro Guedes Machado

    Reviso Ortogrfica Amaline Boulus Issa Mussi

    306.43 R24 Poyer, Viviani

    Sociologia da educao : livro didtico / Viviani Poyer ; design instrucional Viviani Poyer. Palhoa : UnisulVirtual, 2007.

    154 p. : il. ; 28 cm.

    Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7817-053-0

    1. Sociologia educacional. I. Ttulo.

    Ficha catalogrfica elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul

  • Apresentao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 03

    Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 09

    Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    UNIDADE 1 O pensamento sociolgico: conceitos

    e processo histrico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17

    UNIDADE 2 Produo social, ideologia e sujeitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55

    UNIDADE 3 Brasil: as mltiplas facetas da sociedade moderna . . . . . . 81

    UNIDADE 4 A educao no sculo XX rumo ao XXI: novos caminhos? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

    Para concluir o estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143

    Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149

    Comentrios e respostas das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . . 151

    Sumrio

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  • Palavras da Professora

    Caro(a) aluno(a), Convido voc a iniciar os estudos de mais esta disciplina que compe a grade curricular do seu curso. Uma disciplina de tanta importncia quanto todas estudadas at aqui ou as prximas que viro para a sua slida formao enquanto pro ssional da educao e enquanto cidado. Parto do pressuposto que todo cidado , de certa forma, um educador, por isso o estudo de disciplinas como Psicologia, Antropologia, Histria da Educao, Sociologia da Educao e tantas outras podem e devem nos ajudar num sentido muito mais amplo do que o de simplesmente formar pro ssionalmente. Acredito, como educadora e cidad, pela prpria experincia que tive, que tais disciplinas nos ajudam na transformao pessoal e social. Ou, como diria uma aluna do curso de Pedagogia de uma dada universidade, quando da oportunidade de realizar um sonho quase impossvel oportunizado a partir da modalidade de educao a distncia: Prof. nos ns de semana quando me reno com meus familiares, percebo que j no sou mais a mesma. Agora que estou fazendo um curso superior, tenho coragem de expor minhas idias, de me posicionar diante dos outros e de pensar diferente...Espero que esta disciplina possa modi car a sua maneira de ver as coisas mais simples, mais naturais, mais inexpressivas como resultado das aes dos homens e mulheres que todos somos e enquanto sujeitos histricos e sociais. Que ela lhe possibilite brotar ares de descon ana e que o(a) encoraje a ir em busca de respostas, no prontas e acabadas, verdadeiras ou falsas, mas construdas e interpretadas luz do conhecimento

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  • e da pesquisa, de acordo com o contexto social e cultural em que estejam inseridas. Que os temas aqui brevemente introduzidos tragam caminhos possveis de serem trilhados em busca de uma sociedade mais justa e de uma educao transformadora da realidade atual.Sucesso e bons estudos!Viviani Poyer

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  • Plano de estudo

    O plano de estudos visa a orient-lo(a) no desenvolvimento da disciplina Sociologia da Educao. Nele, voc encontrar elementos que o(a) ajudaro a ter uma viso geral da disciplina e a organizar os seus estudos. O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva em conta instrumentos que se articulam e se complementam. Assim, a construo de competncias se d sobre a articulao de metodologias e por meio das diversas formas de ao/mediao.So elementos desse processo:

    o livro didtico; !o Espao UnisulVirtual de Aprendizagem ! EVA;as atividades de avaliao (complementares, a !distncia e presenciais).

    Ementa

    O pensamento social contemporneo e seus conceitos analticos sobre o processo educacional na sociedade moderna; produo e reproduo social, ideologia, sujeitos, neoliberalismo, poder e dominao, incluso e excluso, educao escolar, familiar, gnero.

    Carga horria

    60 horas-aula -- 04 crditos

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    Objetivos da disciplina

    Objetivo GeralInstrumentalizar o acadmico no desenvolvimento de uma re exo crtica sobre as mais diversas relaes sociais, educacionais e polticas da sociedade contempornea para alm do mbito formal da escola, capacitando o discente de pedagogia a relacionar sua experincia como educador escolar com as transformaes sociais que ocorrem a sua volta.Objetivos Espec cos

    Conhecer a constituio do pensamento sociolgico !brasileiro.Compreender as transformaes sociais da sociedade !moderna com base nas abordagens sociolgicas estudadas.Compreender o papel da educao escolarizada nos !diferentes momentos histricos enquanto transformadora das relaes sociais e como instrumento ideolgico na efetivao de polticas pblicas.

    Contedo programtico

    Veja, a seguir, as unidades que compem o Livro Didtico desta disciplina e os seus respectivos objetivos. Estes se referem aos resultados que voc dever alcanar ao nal de uma etapa de estudo. Os objetivos de cada unidade de nem o conjunto de conhecimentos que voc dever possuir para o desenvolvimento de habilidades e competncias necessrias sua formao.Unidades de estudo: 4

    Unidade 1 - O pensamento sociolgico: conceitos e processo histrico

    Nesta unidade, voc ir relembrar alguns aspectos importantes do contexto de surgimento do pensamento social no mundo e no Brasil. E perceber como esta disciplina se estabeleceu enquanto cincia no Brasil. Conhecer os diversos movimentos

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    educacionais ocorridos no Brasil nos anos 50 e 60, bem como as formas de abordagem das diferentes correntes sociolgicas acerca da educao.

    Unidade 2 - Produo social, ideologia e sujeitos

    Aqui, voc conhecer as relaes determinantes na produo e reproduo da sociedade, do sujeito e o papel que a escola desempenhou e desempenha nessas relaes. Estudar o conceito de ideologia, sua complexa de nio e sua aplicabilidade nas mais diversas relaes sociais.

    Unidade 3 - Brasil: as mltiplas facetas da sociedade moderna

    A terceira unidade traz algumas noes de como a escola se tornou, ao longo do processo histrico, um instrumento de aplicabilidade das polticas governamentais, polticas muitas vezes carregadas de teor preconceituoso e discriminatrio. E conhecer tambm como atualmente a questo do gnero pode ser abordada na educao escolarizada, o que lhe possibilitar um outro olhar sobre a construo dos sujeitos.

    Unidade 4 - A educao no sculo XX rumo ao XXI: novos caminhos?

    Por m, nesta ltima unidade, voc poder estudar os principais elementos que caracterizam o discurso e a poltica neoliberal e o papel desempenhado pelas diversas agncias nanceiras internacionais na delimitao de polticas educacionais para a Amrica Latina. Conhecer alguns aspectos sobre a de nio do conceito de globalizao e o surgimento dos meios de comunicao de massa e sua relao com a educao.

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    Agenda de atividades / Cronograma

    Veri que com ateno o EVA, organize-se para acessar !periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus estudos depende da priorizao do tempo para a leitura, da realizao de anlises e snteses do contedo e da interao com os seus colegas e tutor.

    No perca os prazos das atividades. Registre no espao !a seguir as datas com base no cronograma da disciplina disponibilizado no EVA.

    Use o quadro para agendar e programar as atividades !relativas ao desenvolvimento da disciplina.

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    Atividades

    Demais atividades (registro pessoal)

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  • UNIDADE 1

    O pensamento sociolgico: conceitos e processo histrico

    Objetivos de aprendizagem

    ! Relembrar aspectos importantes do contexto em que surgiu o pensamento social no mundo e no Brasil.

    ! Compreender como a Sociologia se estabeleceu enquanto cincia no comeo do Sculo XX, no Brasil.

    ! Entender o carter social dos diversos movimentos educacionais ocorridos no Brasil, nos anos 50 e 60.

    ! Conhecer as formas de abordagem da educao empreendidas por diferentes correntes sociolgicas.

    Sees de estudo

    Seo 1 Razes do pensamento social

    Seo 2 Brasil: Sociologia moda europia?

    Seo 3 A Sociologia na escola: novos expoentes

    Seo 4 Movimentos de educao popular

    Seo 5 Educao enquanto anlise sociolgica

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Convido voc a iniciar, a partir de agora, os estudos em torno da disciplina Sociologia da Educao. Nesta primeira unidade, de carter mais introdutrio, voc ter contextualizado o momento histrico em que a Sociologia surgiu como cincia no mundo e no Brasil. Tambm ver enumerados os seus principais pensadores e detalhadas as correntes tericas de que so titulares. Ver como ocorreram os primeiros estudos de carter social no Brasil, antes mesmo de se falar em Sociologia; e, tambm, quem foram os primeiros socilogos brasileiros envolvidos diretamente com as questes educacionais. Relacionar a insero desta disciplina nos currculos escolares e os movimentos populares que marcaram todo um perodo, os quais tiveram como principal caracterstica viver intensamente a democracia que se instalara no pas. Sobretudo, conhecer, em alguns aspectos, a vida de um dos grandes expoentes da educao popular brasileira, Paulo Freire, o qual se tornou um nome reconhecido e respeitado em praticamente todos os pases de lngua portuguesa, pelo carter inovador e social de seu pensamento.Por ltimo, conhecer diferentes correntes tericas da Sociologia que in uenciaram o pensamento sociolgico brasileiro e o modo de pensar a educao no Brasil.Estes estudos podero lev-lo(a) a perceber e entender, de uma nova forma, a educao atual. Vamos l?

    SEO 1 Razes do pensamento social

    Ao iniciarmos a discusso em torno do pensamento sociolgico no Brasil, faz-se necessrio trazer luz alguns aspectos j vistos por voc na disciplina Sociologia. que, a partir deles, se con gurar, com bastante clareza, o contexto de surgimento desta cincia no mundo e, muito especialmente, no Brasil.

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    Sociologia da Educao

    Voc lembra como e quando surgiu a Sociologia enquanto cincia?

    Bem, a Sociologia enquanto cincia surgiu e se desenvolveu com o advento da modernidade, mas, principalmente, a partir do fortalecimento do capitalismo. Dois grandes fatos polticos e sociais marcaram signi cativamente um processo que j vinha delineando-se desde o Renascimento comercial e urbano na Europa e foram decisivos para iniciar o que se convencionou chamar de mundo contemporneo: a Revoluo Industrial e a Revoluo Francesa.Em 1750, temos o surgimento da mquina a vapor nas fbricas da Europa, o que marcou o incio da Revoluo Industrial e alterou de nitivamente o cenrio socioeconmico da poca. Para uma burguesia cada vez mais forte economicamente, alcanar o poder poltico era apenas uma questo de tempo. O advento das mquinas trouxe mudanas nunca antes vistas nas relaes de produo, principalmente em funo do estabelecimento do sistema fabril em larga escala e a decorrente diviso do trabalho. A agricultura tinha aumentada a produtividade com a aplicao de novas tcnicas. E a revoluo nos transportes contribuiria, igualmente, para o deslocamento em massa da populao rural em direo s cidades. No sculo XVII e XVIII, diversas revolues ocorreram na Europa: as chamadas revolues burguesas, entre elas a Revoluo Gloriosa, na Inglaterra, e a Revoluo Francesa. Ambas, de forma geral, propunham o m dos privilgios herdados pela nobreza e a igualdade de direitos e oportunidades. A Revoluo Francesa tem como marco inicial a Queda da Bastilha em 1789e foi fundamental para o estabelecimento da burguesia no poder poltico. Pode-se dizer, portanto, que a Revoluo Industrial desencadeou efetiva revoluo no sistema econmico da poca; e, assim, a

    Por volta do sculo XI, o comrcio ressurge na Europa, e as moedas comeam a circular novamente. Em funo do renascimento comercial, as cidades tambm crescem, feiras so realizadas em diversas regies da Europa e lutas contra o poder do senhor feudal vo delineando o surgimento de um novo grupo social e econmico a burguesia.

    Figura: A Liberdade guiando o povo. Delacroix, 1830. Fonte:

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Revoluo Francesa, no sistema poltico. Ambas provocaram profundas transformaes sociais e podem ser consideradas, como j a rmado anteriormente, marcos de transio para a chamada Era Moderna.

    Em sntese: a partir de ambas as revolues, Industrial e Francesa, d-se a ascenso de um novo grupo/classe, a burguesia; tambm, o aumento da capacidade de produo humana determinar profundas mudanas no setor econmico.

    Alm do episdio que comeou a mudar a cara da Europa politicamente, no se pode esquecer que o sculo XVIII foi marcado pelas Idias Iluministas -- por isso cou conhecido como o Sculo das Luzes. O poder da razo deveria predominar e constituir o guia para a interpretao de episdios humanos, com vistas reorganizao do mundo. Num processo que j vinha acontecendo desde o Renascimento Artstico e Cultural, a razo deveria predominar sobre qualquer explicao religiosa. O antropocentrismo, num primeiro momento, presumidamente, j superava o teocentrismo, e, com o passar do tempo, o racionalismo e a revoluo cient ca foram acentuando tal tendncia. No sculo XVIII, o homem era dotado de tamanha con ana, que deixa de sacralizar a natureza, tornando-a objeto de pesquisa no mbito do conhecimento cient co. Pode-se dizer que, ento, a natureza passava ao

    domnio do homem.Este pensamento se acentuou ainda mais, como num processo sem volta, a partir do sculo XIX, com o advento do Positivismo. Desenvolvido a partir das idias de Augusto Comte, tinha como principal pressuposto abandonar qualquer vestgio de religiosidade e emoo no mbito do mtodo cient co. Segundo Meksenas (2002), para Comte o conhecimento era positivo quando fundado na observao, porm em observao orientada por um mtodo. Para isso, ele de nia dois tipos de observao: a emprica e a positiva. A primeira

    Figura: Augusto ComteFonte:

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    emprica era vista por ele como uma espcie de observao vulgar, em que simplesmente se observavam os fatos em si, sem se estabelecer relao entre os demais fatos observados. A segunda positiva precisava seguir algumas regras, entre elas: selecionar, desmembrar, relacionar, comparar, medir e estabelecer similaridades, estudar o todo, perceber as repeties e, por m, estabelecer leis que possibilitem a previso de movimentos, regularidade e comportamentos futuros do fato estudado. (MEKSENAS, 2002, p.78).Consoante essas idias, temos o que se pode chamar de cienti cismo, uma viso bastante reducionista, segundo a qual a cincia e suas leis constituiriam o nico conhecimento vlido, referido na observao, experimentao e matematizao de seu objeto, e aplicvel no s s cincias naturais, mas a diferentes reas, entre elas as cincias humanas. Alm do reducionismo cient co a que conduzia esse mtodo, temos tambm o que se chamou de determinismo, seja ele biolgico, geogr co ou histrico, em que se atribua [...]ao comportamento humano as mesmas relaes invariveis de causa e efeito que presidem as leis da natureza. (ARANHA, 2001, p.139).

    Comte foi um dos precursores da Sociologia e considerado, tambm, o fundador desta cincia, a qual acabou de nindo como fsica social. Suas idias foram posteriormente desenvolvidas e aprimoradas por mile Durkheim, que trouxe para o campo das Cincias Sociais, o mtodo e a objetividade do positivismo na anlise dos problemas sociais.

    Durkheim tinha como objetivo principal descobrir as leis de funcionamento da sociedade. Por esse motivo considerado um dos sistematizadores da corrente funcionalista. Sua obra Educao e Sociologia um marco inovador para aquela poca. Enfatiza a origem social da educao com a nalidade de superar sua caracterizao predominantemente intelectualista e individualista. Para Durkheim, a educao satisfaz, antes de tudo, as necessidades sociais e toda educao consiste num esforo contnuo para impor criana maneiras de ver, de sentir e de agir s quais a criana no teria espontaneamente chegado. (PEREIRA, 1995, p.42 apud ARANHA, 2001, p. 167). A

    Para Comte, o ato humano no livre, j que determinado por causas das quais no se pode escapar, como raa (determinismo biolgico), o meio (determinismo geogr co) e o momento (determinismo histrico).

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    partir de uma educao imposta de acordo com os padres sociais, possvel criar o ser social, e, nesse processo, os pais e professores so apenas intermedirios.

    Durkheim instituiu a pedagogia como disciplina autnoma, sem dependncia obrigatria de outras reas do conhecimento como, at ento, da loso a, da moral e da teologia. No campo educacional, ressalva as crticas ao mtodo positivista, foi o primeiro socilogo a colocar a escola como instituio de fundamental importncia na formao do indivduo. Porm fundamental termos presente que, para Durkheim, Pedagogia e educao eram duas coisas diferentes:

    A educao a ao exercida, junto s crianas, pelos pais e mestres. permanente, de todos os instantes, geral. No h perodo na vida social, no h mesmo, por assim dizer, momento no dia em que as novas geraes no estejam em contato com seus maiores e, em que, por conseguinte, no recebam deles in uncia educativa. (DURKHEIM, 1978, p.57).

    Procurando interpretar as suas idias, possvel perceber que, para ele, educao se dava por meio de aes exercidas cotidianamente, tanto de maneira formal, por mestres e nas escolas, como de maneira informal, pela famlia; j, a Pedagogia era uma rea de conhecimento terico, como voc pode ver a seguir:

    As teorias chamadas pedaggicas so especulaes de gnero muito diverso. Seu objetivo no o de descrever ou explicar o que ou o que tem sido, mas, de determinar o que deve ser. No esto orientadas nem para o presente nem para o passado, mas para o futuro. No se propem a exprimir elmente certas realidades, mas a expor preceitos de condutas. Elas no nos dizem: eis o que existe e por que existe. Mas, sim: eis o que ser preciso fazer. (DURKHEIM, 1978, p. 64).

    Figura: Emile Durkheimfonte:

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    Apesar de diferenciar Pedagogia e educao, podemos perceber que Durkheim aponta, de certa forma, a existncia de uma relao e dependncia entre ambas. Indo alm, no que diz respeito a seu entendimento sobre a funo da educao e da escola, podemos perceber, sobretudo, que Durkheim atrela a educao s necessidades sociais. Sendo o m ltimo da educao socializar e renovar as condies da existncia social, v a escola e a sociedade como duas instituies que se completam e interagem.Desta forma, a escola torna-se uma instituio fundamental para a formao moral do indivduo e tem a funo de adapt-lo s regras sociais por meio da reproduo de hbitos e valores transmitidos pelos adultos s crianas. importante lembrar que, alm de Comte e Durkhein, houve outros dois grandes pensadores envolvidos com estudos sociolgicos e que tiveram grande in uncia para a educao daquele momento: Max Weber e Karl Marx.

    Para ampliar seus conhecimentos sobre a concepo de educao e sociedade desenvolvida por Marx, leia o texto complementar que se encontra no Saiba Mais, no nal desta unidade.

    De um ponto de vista crtico, podemos apontar, ainda, ao encerrar esta seo, a grande contribuio das idias positivistas para a educao, a saber, a sua atuao no iderio de escolas estatais, quando defendia um ensino leigo contra a tradicional educao humanista e religiosa de ns do sculo XIX e incio do sculo XX. Pode-se dizer, ento, sobre o Positivismo, que foi um movimento de carter inovador, o qual [...] impregnou todo o ambiente cultural do sculo XIX, universalizando a experincia e resolvendo nela toda a realidade. (RIBEIRO, 2001, p.55). J, olhado por outro ngulo, no de forma to favorvel assim, necessrio lembrar que o Positivismo est diretamente relacionado ao mito do progresso, interessante, talvez, para a implantao de muitas polticas de Estado naquele perodo, principalmente nas Amricas; todavia, por outro lado, uma sria e perigosa concepo acerca das transformaes da sociedade.

    Por questes didticas, achei melhor no abordar estes autores aqui, pois voc j acompanhou uma discusso a respeito deles, bastante ampla e esclarecedora, na disciplina Sociologia.

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    Vamos ver, a seguir, como essas idias adentraram o continente americano e os primeiros passos do pensamento sociolgico em terras tropicais. Acompanhe a seo 2.

    SEO 2 Brasil: Sociologia moda europia?

    Inicio esta seo com alguns questionamentos:

    Como foram recebidas pelos brasileiros as idias positivistas?

    E como se con gurou aqui este processo que j vinha ocorrendo na Europa?

    Ser que idias oriundas de um continente to distante tiveram in uncia na poltica e na sociedade brasileira?

    Enquanto, na Europa, o Positivismo justi cava as atitudes da burguesia, referido na idia do progresso retilneo da humanidade, no continente americano essas idias traziam no bojo discusses de forte carter poltico. No Brasil, as idias de cunho positivista, liberal e evolucionista se fortaleceram nas cidades, devido principalmente identi cao que as camadas letradas tinham com essas correntes polticas, sociais e los cas. Cabe lembrar que elas se difundiram, aqui, de maneira um tanto distinta do modelo europeu.Segundo Ribeiro,

    O evolucionismo social ou darwinismo social, de maneira geral, contm-se na crena de que as sociedades mudariam e evoluiriam em um mesmo sentido e que tais transformaes representariam a transposio de um nvel menos elevado para um estgio superior. De maneira anloga ao desenvolvimento do homem, tambm as sociedades estariam sujeitas lei da seleo natural. Dentro de um determinado contexto, prevaleceriam as sociedades mais aptas e capazes, sendo as outras extintas, quer pela luta com as mais desenvolvidas, quer pela di culdade de superar obstculos naturais.

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    A princpio, o positivismo resultou em uma mentalidade cient ca generalizadora, alheia s particularidades sul-americanas. Porm, a pouco e pouco, aproveitado como mtodo de trabalho, juntamente com o evolucionismo de Spencer e as idias democrtico-liberais do constitucionalismo norte-americano, servir de esteio aos que advogam uma repblica democrtica, fruti cando-se, assim, em um instrumento terico a ser utilizado na transformao da realidade concreta. (RIBEIRO, 2001, p.65).

    No Brasil, tais doutrinas tiveram aceitao entre os polticos republicanos. Entre os nomes de reconhecimento nacional e que eram adeptos dessas idias, destacamos Benjamin Constant, fundador da Escola Normal do Rio de Janeiro e professor da Escola Militar, o qual ensinou as bases do positivismo a jovens o ciais. Estes, posteriormente, iriam lutar pela instituio da Repblica Brasileira.

    Voc se lembra do que est escrito no centro da bandeira brasileira?

    Caso tenha respondido Ordem e Progresso, acertou!

    E sabe qual a relao deste lema com o que estamos discutindo aqui?

    Talvez voc j esteja imaginando, no ?

    Pois bem, a clebre frase que se encontra no centro de nossa bandeira nacional um lema inspirado nas idias positivistas, relacionadas ao mito do progresso. E voc sabe por que, no nal da seo 1, a rmei que o mito do progresso era uma idia perigosa? Porque, a partir desta concepo, se estabelece a idia de evoluo contnua da sociedade e da humanidade, e ns sabemos que a realidade no bem assim. A nal, em prol deste suposto progresso e / ou evoluo, tm sido justi cadas muitas aes desastrosas e, por que no dizer, catastr cas, empreendidas por poucos sobre muitos. Como exemplo disto, aponto o genocdio de indgenas por toda a Amrica e o massacre do povo judeu durante a Segunda Guerra Mundial.

    Benjamin Constant foi ministro da Instruo, Correios e Telgrafos e empreendedor da reforma educacional de 1890. Somente em 1930, criou-se o Ministrio da Educao e Sade no Brasil.

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    A nossa bandeira, com o seu lema, atesta a intensa repercusso da doutrina positivista na poltica e sociedade brasileira. Dominando o pensamento das classes mais abastadas, o Positivismo repercutiu em diversos setores da sociedade: na educao, propondo uma reestruturao do ensino; na poltica, a separao entre a Igreja e o Estado; e, na religio, a liberdade de cultos. In uenciou, tambm, a mocidade intelectual que,

    ento, passava a adotar um foco mais cient co do que literrio sobre temas espec cos ou gerais, e comeava a se preocupar mais efetivamente com estudos de carter social, sob a gide no s desta teoria, mas tambm das teorias liberais e evolucionistas. Deste modo, podemos perceber que, constitudas o fundamento para a soluo de problemas atravs do mtodo cient co, as idias positivistas, liberais e evolucionistas passaram a ser discutidas abertamente nos mbitos poltico e cient co. A bem da verdade, este foi um processo desencadeado no Brasil a partir da segunda metade do sculo XIX, e que se acentuou diante de alteraes no cenrio econmico e poltico, com repercusso, inclusive, nas reas de atuao das elites intelectuais nacionais. Fernando Azevedo resume bem as mudanas intelectuais da poca:

    [...] em um perodo em que as cincias matemticas tomam novo impulso com Otto Alencar, entra em atividade o Museu Paraense fundado por Emilio Goeldi, em 1855. Hermann von Ihering chamado a dirigir o Museu Paulista em 1893, que lhe d alto cunho cient co; Barbosa Rodrigues reorganiza o Jardim Botnico e Nina Rodrigues empreende na Bahia pela primeira vez um estudo rigorosamente cient co de parte considervel de nossa populao constituda pelo elemento afro-americano. Alm do Museu Nacional que passa por grande transformao sob a impulso de Batista Lacerda. (SCHWARZ apud Azevedo, 1995, p.25).

    Figura: A Ptria de Pedro BrunoFonte: hemi.nyu.edu//Ricardo Brugger/image009.jpg

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    Foi, tambm, neste clima que os estudos sociais nas universidades de Direito do Recife e de So Paulo comearam a se delinear. Preocupados em estabelecer um cdigo nacional, os estudantes da faculdade de So Paulo adotaram, em sua maioria, os modelos liberais de anlise, enquanto que, no Recife, predominava o social-darwinismo.A partir dos anos 70, as inovaes nas diversas reas da sociedade brasileira j eram muito visveis:

    Com efeito, esse perodo coincide com a emergncia de uma nova elite pro ssional que j incorporara os princpios liberais sua retrica e passava a adotar um discurso cient co evolucionista como modelo de anlise social. Largamente utilizado pela poltica imperialista europia, esse tipo de discurso evolucionista e determinista penetra no Brasil a partir dos anos 70 como um novo argumento para explicar as diferenas internas. [...] Os mesmos modelos que explicavam o atraso brasileiro em relao ao mundo ocidental passavam a justi car novas formas de inferioridade. Negros, africanos, trabalhadores, escravos e ex-escravos classes perigosas a partir de ento nas palavras de Silvio Romero transformavam-se em objetos de sciencia (prefcio a Rodrigues, 1933/88). Era a partir da cincia que se reconheciam diferenas e se determinavam inferioridades. (SCHWARZ, 1995, p.28).

    No Brasil do nal do sculo XIX e incio do sculo XX, muitas eram as perguntas que instigavam os diversos grupos de intelectuais. Perguntas do tipo O que o Brasil? e Como a sociedade brasileira? levaram muitos estudiosos a se preocuparem em compreender as relaes e a composio da sociedade daquele momento. De incio, temos em Machado de Assis e Euclides da Cunha importantes pensadores sociais. Enquanto o primeiro retratava as relaes sociais urbanas em obras como Esa e Jac, o segundo voltava seu olhar para questes sociais do Brasil rural -- um exemplo o seu clssico Os Sertes, em que relata o trgico episdio de Canudos.

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    Machado de Assis dizia: Homem de cincia, s de cincia, nada o consterna fora da cincia (Machado de Assis apud SCHWARCZ, 1995, p.28). Com esta frase, ele resumia uma tendncia da poca: ver a cincia no apenas como pro sso, mas como sacerdcio.

    Posteriormente, outros estudiosos foram surgindo como representantes do pensamento social brasileiro, entre eles Srgio Buarque de Holanda, com a obra Razes do Brasil, e Caio Prado Junior, com Histria Econmica do Brasil, ambos seguidores de diferentes concepes tericas. Cabe assinalar a importncia de Ansio Teixeira, educador de grande expresso no apenas por pensar a questo educacional brasileira, mas por propor mudanas no sistema de ensino pblico nacional; e, ainda, Fernando Azevedo, um dos idealizadores do ensino pblico e laico no Brasil. Na primeira metade do sculo XX, um outro nome teve grande destaque no contexto dos estudos sociolgicos e se tornou um dos grandes expoentes da sociologia brasileira: trata-se de Florestan Fernandes, com obras importantes como Ensaios de Sociologia Geral e Aplicada.Bem, at aqui voc conseguiu relembrar alguns aspectos do surgimento da Sociologia enquanto cincia e a sua insero no contexto poltico e social brasileiro. Convido-o(a) a dar continuidade a seus estudos, descobrindo nas prximas sees um pouco mais sobre esta cincia e a sua relao com a educao.

    SEO 3 - A sociologia na escola: novos expoentes

    No Brasil, diversos fatores contriburam para a insero de novas idias na educao e incluso da Sociologia nos currculos escolares. Entre eles, temos: o m da Primeira Guerra Mundial; a industrializao e a urbanizao, estas que traziam tona um novo grupo nacional, uma espcie de pequena burguesia, a qual almejava o acesso educao, algo principalmente reservado aos grupos aristocratas espalhados pelo Brasil. Esses fatores, e tantos outros, contriburam para mudar a estrutura econmica e poltica do pas. Neste contexto, o estudo da Sociologia passou a ser

    Enquanto Srgio Buarque de Holanda era adepto das idias positivistas de Max Weber, Caio Prado Junior sofria forte in uncia das concepes marxistas.

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    visto como de fundamental importncia na educao das futuras geraes, contemplando a formao de per s de liderana nos diferentes setores da sociedade brasileira.

    Esta cincia foi introduzida como disciplina primeiramente em cursos de formao de professores. Posteriormente, por volta de 1928, com a criao de cadeiras de Sociologia no tradicional Colgio Pedro II e na Escola Normal do Rio de Janeiro e, do Recife. A partir da Reforma Francisco Campos (1931-1932), tivemos o ensino secundrio dividido entre o ciclo fundamental e complementar. Ento a Sociologia permaneceu fazendo parte do segundo ciclo. Somente aps esse perodo, teramos a insero desta disciplina nos currculos de ensino superior: primeiro, na Escola Livre de Sociologia e Poltica de So Paulo; depois, na prpria Universidade de So Paulo.

    Ento, a Sociologia passa a atender a algumas exigncias, entre elas estudar o Brasil por meio de uma perspectiva nossa nacional, deixando de lado padres produzidos pelos europeus nica e exclusivamente; incentivar o nacionalismo, unindo as camadas sociais em torno de um projeto poltico, econmico e social brasileiro; e, por m, explicar a realidade nacional com os olhares voltados para a modernizao do pas.Nesse contexto, houve alguns movimentos muito importantes em favor da educao nacional, entre eles: o entusiasmo pela educao e o otimismo pedaggico, os quais acabaram in uenciando um grupo de educadores nacionais em prol do movimento conhecido como Escola Nova. Educadores, entre eles Ansio Teixeira e Fernando Azevedo, introduziram o pensamento liberal-democrtico na educao, em defesa de uma escola pblica para todos, com o objetivo de alcanar uma sociedade igualitria e sem privilgios.

    Voc j efetuou estudos sobre esses diferentes movimentos na educao, precisamente na disciplina Histria da Educao.

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    Segundo Machado (2002), este movimento defendia o ensino pblico como a nica forma de se alcanar uma sociedade mais justa e democrtica. O grupo desejava uma escola nica e para todos, gratuita, leiga, nacional e, principalmente, organizada pelo Estado e no, pela Igreja. Em 1932, publicado o Manifesto dos Pioneiros da Educao Nova, encabeado por Fernando Azevedo e assinado por outros 26 educadores de expresso nacional.

    Coube aqui lembrarmos aspectos referentes Escola Nova, porque esse movimento teve importncia signi cativa para o avano das discusses sobre a educao no Brasil, redirecionando e trazendo para o bojo do debate a educao enquanto problema social.

    Passado o perodo da ditadura Vargas, muitas mudanas comeam a marcar o cenrio nacional. A partir da segunda metade da dcada de 40, a realidade brasileira ir passar por novas transformaes, com efetivos re exos nos enfoques selecionados pela Sociologia. No curso da dcada de 50, os socilogos preocupam-se com a constituio de uma sociedade mais justa e democrtica. E, em meio escolha de governos democrticos, a populao cultiva a esperana de ver mudanas e desenvolvimento no pas, atravs de um projeto poltico que prometia crescer 50 anos em 5.Desde ento, a Sociologia consolida-se no pas, com uma nova gerao de socilogos que busca independncia das idias europias, passando a analisar os diferentes problemas sociais brasileiros a partir de sua prpria realidade. Entre os problemas em pauta, temos a educao que, principalmente a partir da dcada de 60, passa a constituir objeto de pesquisa da Sociologia Brasileira. Naquele momento, tinha-se como mote das discusses o papel da educao na mudana social e no desenvolvimento econmico do pas, entendendo-se a educao como fator de transformao social.

    Figura: Ansio TeixeiraFonte:

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    Entre os pensadores que buscaram compreender o papel da educao na construo de uma nova realidade social, destacou-se Florestan Fernandes com sua inegvel contribuio para a educao e sua grande capacidade de produo terica e crtica sobre a realidade brasileira.

    In uenciado pelas idias marxistas, suas contribuies projetaram-se alm da teoria. Sua sociologia buscava resgatar a realidade histrica do Brasil, analisando a forma de pensar dos grupos e classes sociais brasileiras. Em seus estudos, faziam-se presentes, alm de discusses sobre as relaes e a organizao da sociedade, questionamentos a respeito do modelo de capitalismo dependente que se instalara no Brasil e a funo do intelectual na sociedade. Estudos mais espec cos sobre a cultura brasileira tambm eram alvo de suas pesquisas, como os que discutiam e questionavam o mito da democracia racial. Florestan Fernandes sustentava que existia no Brasil muita discriminao e excluso social em relao aos afrodescendentes, diferentemente de Gilberto Freyre, o qual a rmava haver uma suposta harmonia entre as raas.Especi camente sobre a educao no Brasil, Florestan a via como excludente das classes trabalhadoras e pobres, no que dizia respeito no somente ao acesso escola, como tambm, continuidade dos estudos. Para ele, as instituies de ensino no Brasil no se adequavam realidade nacional, nem em termos de qualidade, nem em termos de quantidade. Isto se devia, principalmente, s ultrapassadas tcnicas de interveno na realidade do estudante e falta de investimentos na educao.Para ele, o descaso com a educao no Brasil era uma forma de perpetuao no poder pelas classes dominantes, barrando, assim, uma possvel ascenso das classes trabalhadoras. Defendia a idia de que a educao poderia oferecer situaes que contribuiriam na construo de uma realidade social mais justa e democrtica; e a rmava que a escola, do modo como estava organizada, servia para convencer a sociedade e no, para transformar a realidade.

    Figura: Florestan FernandesFonte:

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    SEO 4 - Movimentos de educao popular

    Consoante voc pde ver na seo anterior, tivemos, na dcada de 50, alm de mudanas polticas e econmicas, mudanas

    na forma de pensar uma sociedade mais justa; e ideais nesta direo. Foi nesse contexto poltico, sobretudo democrtico, que comeou a se fazer visvel a presso por melhoria das condies de vida e de acesso s polticas pblicas no Brasil. Temas como mobilidade e excluso sociais compuseram a agenda poltica de grupos e movimentos sociais, trazendo a precria situao de oferta da educao para uma dimenso predominantemente social. (BOMENY, 2001, p. 60).

    As cincias sociais ofereceram contedo intelectual e legitimidade acadmica aos apelos populares, tanto pela interveno de intelectuais na poltica, quanto pela criao de instituies especializadas de pesquisa. Nos anos 50, por meio da criao do Centro Brasileiro de Pesquisa Educacional, efetivou-se nalmente o encontro entre cincias sociais e educao. Ento, expoentes como Ansio Teixeira, Darcy Ribeiro, Florestan Fernandes e Oracy Nogueira conduziam pesquisas sociolgicas sobre os problemas brasileiros, entre eles a dvida que o Brasil tinha com relao ao oferecimento de educao bsica.Neste perodo a orou a demanda pela educao popular e pelo aumento na oferta de ensino s classes at ento excludas deste processo. Como um ressurgimento de questes sociais to antigas e caracteristicamente brasileiras, este velho problema precisava ser pelo menos amenizado. No apenas cientistas sociais renomados, como os que citamos, se envolveram com a questo: a prpria Igreja Catlica trouxe tona valores da teoria da libertao, tornando militantes alguns segmentos do clero e quebrando, de certa forma, a homogeneidade no modo de pensar e agir que se veri cara naquele mbito, na dcada de 30. As diferenas de paradigmas entre os setores mais conservadores e mais progressistas eram visveis e a chamada teoria da libertao deslocou da elite para as camadas excludas da populao o foco da Igreja.

    Figura: Era JKFonte:

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    Pode-se a rmar que, na dcada de 50 e incio dos anos 60, a atmosfera a impregnar a cultura brasileira contagiou tambm a educao. Temas polmicos, como mobilidade e excluso social, eram recorrentes na agenda poltica de grupos integrantes de movimentos sociais, os quais avaliavam a precria situao de oferta da educao a partir de uma tica predominantemente social.

    Foi nessa atmosfera que surgiram diversos movimentos de educao popular. Com diferentes concepes ideolgicas e de in uncia tanto marxista quanto crist, atuavam de formas variadas. Atravs de peas de teatro, atividades nos sindicatos e nas universidades; promoviam cursos, exposies, publicaes, exibio de lmes e documentrios visando ao acesso educao; alfabetizavam a populao rural ou urbana marginalizada; e treinavam lderes locais, propondo uma maior participao poltica em suas comunidades.Os principais movimentos foram os seguintes:

    Movimento de Educao de Base ! (MEB): dirigia-se s classes trabalhadoras com o objetivo de ampliar o universo cultural e educacional de setores da populao brasileira. Foi criado em 1961 pela CNBB (Conferncia Nacional dos Bispos do Brasil) e era mantido economicamente pelo governo federal;Centros Populares de Cultura ! (CPC): surgiu em 1961, por iniciativa da UNE (Unio Nacional dos Estudantes), caracterizando-se tambm como de carter pedaggico-cultural de conscientizao poltica e mobilizao social. Levavam teatro, cinema, artes plsticas, literatura e outros bens culturais ao povo;Movimentos de Cultura Popular ! (MCP): tendo sido o primeiro ligado prefeitura de Recife, iniciou suas aes em 1960 e tinha como objetivo ampliar o universo cultural dos segmentos populares brasileiros. Paulo Freire integrou este movimento.

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    Podemos dizer que o movimento pela educao andava de mos dadas com os movimentos de cultura popular, e que a pedagogia do oprimido de Paulo Freire encontrava na defesa da educao pblica sua base de apelo social. Escola, conscientizao, ascenso social e transformao poltica sintetizam os quatorze anos de efervescncia interrompidos com o Golpe de 1964 e a subseqente suspenso da experincia democrtica no Brasil. (BOMENY, 2001, p.61).

    4.1 - Paulo Freire: saberes necessrios prtica educativa

    Na aurora do tempo em que, coletivamente, pela nica vez alguma educao no Brasil foi criativa e sonhou que poderia servir para libertar o homem, mais do que, apenas, para ensin-lo, torn-lo domstico. (BRANDO, 2001, p. 17).

    Quando se fala em educao popular no Brasil, no podemos deixar de referir Paulo Freire, um dos grandes educadores da atualidade no s aqui, mas no mundo, e que se tornou referncia, graas sua prtica e experincia, ao pensar a sociedade brasileira e a educao.

    Vamos conhecer um pouco sobre a vida desse grande educador?

    Paulo Reglus Neves Freire nasceu em 19 de setembro de 1921, em Recife, capital pernambucana. Era lho de famlia de classe mdia, que, aos poucos, foi empobrecendo devido crise mundial de 1929 - esta crise tambm abalou o Brasil. Quando tinha oito anos de idade, sua famlia se mudou para Jaboato, arredores de Recife. Aos 13 anos, perdeu seu pai e teve que parar com os estudos. Aos 16 anos, voltou a estudar e ingressou no ginsio, graas a uma bolsa de estudos que conquistou. Aos 20, entrou na faculdade de Direito de Recife, sendo que, desde os 17 anos, j dava aulas de portugus. Foi casado com Elza Maia Costa de Oliveira, com quem teve quatro lhos. Morreu em abril de 1997.

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    Paulo Freire era cristo, e de seu cristianismo vinha parte de suas inspiraes e aes enquanto educador. Oriundas do cristianismo, mas embasadas em uma teologia libertadora, suas prticas estavam constantemente preocupadas com o contraste entre a pobreza e a riqueza no Brasil, riqueza esta que resultava em privilgios sociais e desigualdades entre os mais pobres. Escreveu inmeras obras que ajudaram e ajudam os educadores a pensar constantemente a educao e a sociedade brasileira. Tais obras tm como caracterstica a relao entre a teoria e a prtica, relao esta que sempre deve levar em conta a realidade do aluno. Segundo Piana (2002), a marca de seus escritos a relao entre o contexto e o texto, que expressa a sua orientao terico-metodolgica.Em Educao como prtica da liberdade (1965), caractersticas como a viso idealista marcada pelo pensamento catlico se apresentam no texto. J, na famosa obra Pedagogia do Oprimido (1970), faz uma abordagem dialtica da realidade, cujos determinantes se encontram nos fatores econmicos, polticos e sociais. (ARANHA, 2001, p. 206). Entre suas obras, podemos dar destaque, ainda, s seguintes: Carta Guin Bissau, Vivendo e aprendendo, A importncia do ato de ler e sombra desta mangueira. Esta ltima apresenta a tica poltica do autor com a abordagem de temas polmicos, a saber, a sua experincia no exlio e a sua viso sobre o neoliberalismo e organismos internacionais, como o FMI e o Banco Mundial.

    Estudioso rduo, buscou continuamente, em outras fontes, embasamento poltico e los co para suas propostas pedaggicas. O marxismo, o anarquismo e a Teoria da Libertao podem ser apontados como importantes correntes tericas que in uenciaram o seu pensamento.

    Figura: Paulo FreireFonte:

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    Paulo Freire se entendia e entendia os sujeitos como seres humanos em construo, construo que se daria por meio da constante busca de conhecimento. Entendia que:

    A leitura do mundo precede a leitura da palavra, da que a posterior leitura desta no possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreenso do texto a ser alcanada por sua leitura crtica implica a percepo das relaes entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1992, p.11-12).

    Partindo do princpio de que vivemos em uma sociedade dividida em classes e que uma tem privilgios sobre as outras, considerava que a vocao humana de ser mais s se concretiza pelo acesso aos bens culturais [...], e que, entre esses bens culturais, est a educao, qual, geralmente, grande parte da populao, principalmente de pases do chamado Terceiro Mundo, no tem acesso. Para ele, haveria dois tipos de pedagogia: a pedagogia dos dominantes, na qual a educao existe como prtica da dominao, e a pedagogia do oprimido tarefa a ser realizada -, na qual a educao surge como prtica da liberdade. (ARANHA, 2001, p. 207).Sua pedagogia problematizadora, como ele mesmo a classi cava, estava voltada alfabetizao de adultos e era a expresso da sua crena no poder libertador pela conscincia e pelo conhecimento. Acreditava ele que o homem tem vocao para ser sujeito ativo e participativo e no, mero objeto da histria. Libertar o homem do povo de seu habitual mutismo era a misso e a motivao para a mobilizao pedaggico-poltica que deu vida ao mtodo de Freire. (BOMENY, 2001, p.59). Esta concepo problematizadora da educao considera que conhecer deve ser um processo estabelecido no contato do homem com o mundo vivido: um processo dinmico e em contnua transformao.

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    Unidade 1

    Paulo Freire cou conhecido pelo mtodo de alfabetizao criado e idealizado por ele. Neste, priorizava ensinar despertando a conscincia e levando a aprender a partir das experincias concretas de cada um. Entendia que Todo ato educativo um ato poltico.

    Como nos coloca Brando (2001, p.15), o mtodo foi s a botina que calaram nos ps para caminhar, pois Paulo Freire no props apenas um mtodo psicopedagogicamente diferente, entre tantos outros, mas, antes disso, pensou sobretudo uma educao contra tantas j estabelecidas. A sua forma de pensar a educao se colocava contra outras, e assim tambm o seu modo de ver o mundo.Temos de ter claro que, de acordo com o posicionamento los co, o mtodo pensado por Freire no poderia ser reduzido a mera tcnica de alfabetizao, bem como, os educadores no deveriam ser compreendidos como os sabidos que j saberiam de antemo o que tratar e trabalhar com os educandos. Precisava-se, acima de tudo, ter conscincia das diferenas regionais e culturais que caracterizam o Brasil. Em decorrncia, as cartilhas teriam de ser rejeitadas, pois acabavam, na maioria das vezes, tratando de assuntos bastante distantes da realidade vivida pelo estudante. Dentro desta tica, os educadores deveriam superar a postura autoritria e estar abertos ao dilogo, procurando ouvir os educandos. Diferentemente de mtodos meramente tcnicos de alfabetizao, Paulo Freire pensou num mtodo construdo com base na idia de um dilogo entre educador e educando. A partir dessa idia, tal mtodo no poderia se apoiar em materiais j prontos, como cartazes, cartilhas, cadernos de exerccio, que trouxessem de seu mundo (educador) um material e uma fala distante da realidade do educando. Sendo assim, esse mtodo partia do pressuposto de que ningum educa ningum e ningum se educa sozinho. A educao deveria ser um ato coletivo, solidrio e de amor, nunca imposta, uma vez que educar deveria constituir uma tarefa de troca e jamais realizada por um sujeito isolado: at aauto-educao um dilogo a distncia. (BRANDO, 2001, p. 22).

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    Voc j parou para pensar como seria para um operrio adulto, depois de uma longa jornada de trabalho, chegar a uma sala de aula e ter que repetir as seguintes frases:

    Eva viu a uva.

    A ave do Ivo.

    Ivo vai na roa.

    Percebe?

    Pois bem: Freire pensava que a educao no poderia ser resultado do depsito de conhecimento de quem supostamente possui todo o saber, sobre aquele que foi obrigado a pensar que no possui nenhum saber. A partir do exposto, acreditava ser necessrio fazer o que ele chamava de levantamento do universo vocabular, com o intuito de escolher palavras geradoras, as quais variavam conforme o local ou a regio. Por exemplo: numa regio de Pernambuco, as palavras escolhidas foram tijolo, voto, siri, palha, doena, emprego, mangue... J, em favelas do Rio de Janeiro, seriam chuva, terreno, comida, batuque, trabalho, salrio, governo... Ento, a partir deste universo vocabular pertencente realidade do educando, dar-se-ia incio a um processo de alfabetizao voltado leitura no s das palavras, mas tambm do entendimento delas dentro do seu mundo.

    [...] aqui, as palavras no so s um instrumento de leitura da lngua; so tambm instrumentos de releitura coletiva da realidade social onde a lngua existe, e existem os homens que a falam e as relaes entre os homens. (BRANDO, 2001, p.30-31).

    Neste sentido, o processo educacional seria baseado num dilogo de constante troca, em que o educador no mais aquele que apenas educa, mas aquele que educado enquanto educa. Emana deste processo, assim, um conhecimento crtico e re exivo que possibilita aos envolvidos posicionarem-se de forma poltica, a m de transformar o mundo.

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    Apesar de ter sido um educador que contribuiu para alterar o pensamento acerca de metodologias de ensino e, sobretudo, da educao, Freire sofreu muitas crticas: dos catlicos conservadores, por se utilizar dos pensamentos marxistas para orientar suas aes; de intelectuais esquerdistas, que o acusavam de sucumbir ao nacional-desenvolvimentismo; e, por m, dos que diziam ser sua pedagogia demasiado espontanesta, e no, diretiva. Sobretudo, inegvel a sua contribuio educao e o seu compromisso com a transformao do indivduo apto a empreender uma transformao social.

    SEO 5 Educao enquanto anlise sociolgica

    Ao discutir a educao enquanto objeto de anlise sociolgica, temos que nos reportar novamente aos clssicos da Sociologia. Cientistas sociais como Durkheim, Marx e Weber tambm se envolveram com a questo educacional e tentaram, cada qual sua maneira, compreend-la. Resumidamente, podemos apontar como pensavam os aspectos educacionais: Marx defendia uma transformao na educao daquele momento; via-a, da forma como estava organizada, a servio das classes dominantes; Weber se preocupava em compreender as formas de dominao e relaes de poder presentes nas instituies educativas; e, por m, Durkheim considerava que a educao tinha o papel de perpetuar as normas e regras sociais para os indivduos. (PIANA, 2002).No Brasil, a Sociologia da Educao se institucionalizou enquanto disciplina cient ca bem mais tarde. E, somente a partir da segunda metade da dcada de 60, a educao se ir constituir em campo de pesquisa sociolgica, como voc j pde perceber em sees anteriores.

    Figura: alunos em sala de aula Estado do PiauFonte:

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    Aqui a Sociologia da Educao foi in uenciada fortemente por duas correntes do pensamento sociolgico: a funcionalista e a con itualista.

    Pode-se dizer que Durkheim desenvolveu a fundamentao da corrente funcionalista, tanto no que diz respeito estrutura social quanto evoluo sociohistrica. Para ele, a educao era eminentemente social. Via tanta importncia na educao, que a rmava ser esta responsvel pela transformao do indivduo biolgico socialmente indeterminado no indivduo socialmente integrado [...].(PETITAT, 1994, p.13).Segundo ele, a ao pedaggica para a infncia deveria ser responsvel pelo desenvolvimento de contedos morais e intelectuais sempre em concordncia com a estrutura social vigente. Assim, a sociedade deveria ser harmnica e solidria, e os con itos sociais somente surgiriam onde estes elementos no se zessem presentes. Contrrio a outros socilogos, ele no via aspectos positivos nos con itos sociais, a rmando no acreditar que o estado con ituoso entre as classes sociais, nesse caso burgueses e proletrios, concorresse para a gerao de uma nova sociedade.

    Dentro de seu ponto de vista, a educao deveria inculcar, nas crianas, idias, prticas e sentimentos semelhantes e essenciais sociedade, sem levar em conta as diferenas sociais. Nas sociedades em que o ensino fosse mantido pelo Estado, certos valores comuns a uma sociedade democrtica e industrial deveriam ser respeitados. Tais valores s poderiam, claro, reforar a ordem social estabelecida a capitalista.

    Essa educao, supostamente igual para todos, no deveria ser aplicada por toda a idade escolar, sendo que, a partir de certa idade, a criana deveria ser preparada para a pro sso que iria ter. De acordo com o ramo que o indivduo viesse a ocupar quando adulto, ele teria uma educao espec ca e complementar.

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    Para a corrente funcionalista, de forma geral, a educao seria uma estrutura crucial da sociedade. Esta corrente pode ser subdividida, ainda, em funcionalismo estrutural: partindo da idia de que o funcionalismo analisa a sociedade como um corpo humano, a educao nesta sociedade seria uma das garantias de sobrevivncia deste corpo. Esta teoria se preocupava principalmente com a questo da escolarizao; sobretudo, com a forma como se dava a integrao entre os indivduos por meio da educao e o modo como se organizavam os espaos escolares. Aspectos como a transformao social e os con itos sociais eram negados por esta corrente, a qual os percebia como uma doena. Com o intuito de manter a ordem social, a escola tinha como um dos principais objetivos interiorizar a hierarquia social nos indivduos, com base no modelo capitalista. Esse clima de diferenas e hierarquias era mantido tambm dentro das prprias escolas, local onde a obedincia s regras sociais e disciplina era indispensvel e fundamental manuteno de uma boa educao.

    Estas caractersticas lhe so familiares? A escola em que voc estudou tinha incutidos, na forma de se organizar, aspectos semelhantes a estes?

    Bem, estes aspectos que voc viu e talvez tenha at identi cado nas suas experincias escolares foram, praticamente, os nicos a nortear os projetos pedaggicos brasileiros at a dcada de 60, sendo que, a partir das diversas mudanas polticas surgidas no Brasil desse perodo, outros ventos comearam a soprar e novas in uncias estariam a se anunciar. Ao contrrio da corrente funcionalista, que via o con ito como um axioma da sociedade que precisava ser tratado, a corrente con itualista o percebia enquanto parte integrante da sociedade e responsvel por transformaes sociais. Para a primeira corrente estudada aqui, a sociedade era vista como um sistema integrado, enquanto que, para a con itualista, a sociedade era composta por elementos contraditrios cuja estabilidade se dava de acordo com as relaes de dominao.

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Os cientistas sociais adeptos dessa corrente acreditavam que os con itos de classe, entre a burguesia e o proletariado, seriam permanentes, at que se dissolvessem para dar lugar a uma nova sociedade. Para eles, a burguesia s se mantinha no poder devido doutrinao ideolgica que a mesma exercia, principalmente, por meio de instituies como a escola, a qual acabava reproduzindo a sua ideologia e, consequentemente, a sua dominao. Esta corrente, apesar de inspirada em pensamentos los cos como o marxismo e no pensamento socialista do sculo XIX, surgiu no Brasil a partir dos anos 50 como uma grande novidade no mbito educacional.

    Seu foco era a anlise dos fundamentos da sociedade com o objetivo de identi car as razes dos problemas sociais. Atravs da anlise, a sociedade capitalista poderia fazer a sua crtica.

    Pesquisas in uenciadas por esta corrente constataram que a educao no Brasil daquele perodo no vinha atendendo a seu principal objetivo de tornar a sociedade mais justa e humana. Elas tambm mostraram que, da forma como estava organizada, a escola acabava por acentuar ainda mais as diferenas sociais, pois os alunos que obtinham sucesso eram sempre, na sua maioria, provenientes de classes sociais favorecidas.

    A partir da in uncia desta corrente na Sociologia da Educao, a escola passou a ser compreendida apenas como uma das partes que compem o processo social -- este muito mais amplo --, pois no podemos estudar a escola de forma isolada e deslocada, sem relao com o seu contexto poltico, econmico e cultural. A educao para esta corrente vai alm dos muros da escola, vai para o mundo dos que se educam. Esta corrente, de certa forma, in uenciou educadores que buscavam compreender a educao enquanto compromisso social -- como Paulo Freire.

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    A partir da segunda metade da dcada de 70, esta corrente entrou em crise, devido, principalmente, s transformaes econmicas e polticas ocorridas no mundo socialista, mas isto no signi ca que muitos de seus aspectos no continuassem a in uenciar os pensadores. Por m, na dcada de 70 surgiram as chamadas Teorias de Sntese, que, segundo Piana (2002), tinham por objetivo a busca de procedimentos metodolgicos que proporcionassem uma anlise de vrios temas do cotidiano educacional. Temas como o papel do professor, o currculo, a vida dos estudantes eram alvo das preocupaes sociolgicas desta teoria. Nesse sentido, as chamadas teorias de sntese procuraram, mais do que descartar teorias e/ou abordagens sociolgicas, perceber os limites e as possibilidades de anlise da sociedade e da questo educacional de cada uma delas. (PIANA, 2002, p. 80).

    Cabe lembrar que, apesar de seus limites, teorias como a funcionalista e con itualista so at hoje utilizadas para o estudo da educao, uma vez que encontramos, ainda bastante latentes, aspectos de tais estudos no cotidiano escolar.

    Aqui voc naliza os estudos desta seo e unidade. Na seqncia, convido-o(a) a desenvolver as atividades deauto-avaliao, as quais o(a) ajudaro a re etir sobre alguns aspectos abordados nesta unidade. Bons estudos e at a prxima.

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    Atividades de auto-avaliao

    Efetue leitura cuidadosa das questes a seguir, procurando relacionar o que voc estudou e a sua prtica. S aps a realizao das atividades, voc dever consultar os comentrios e respostas correspondentes, que se encontram no nal deste livro.

    1 Leia a citao a seguir, faa um pequeno comentrio sobre a sua aplicabilidade, ou no, no atual contexto educacional. Posicione-se de forma crtica e utilize exemplos que justi quem o seu posicionamento.

    O homem que a educao deve realizar, em cada um de ns, no o homem que a natureza fez, mas o homem que a sociedade quer que ele seja; e ela o quer conforme o reclame a sua economia interna, o seu equilbrio

    (mile Durkheim).

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    2 Cite dois aspectos que foram fundamentais para a constituio do pensamento sociolgico no mundo e no Brasil.

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    3 A partir do que voc estudou, desenvolva um pequeno texto (no mnimo 10 linhas), dissertando sobre aspectos importantes da proposta pedaggica de Paulo Freire. Aps, aponte um exemplo de como um desses aspectos podem ser aplicados na sua prtica pedaggica.

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    Sntese

    Nesta unidade, voc pde relembrar alguns aspectos j abordados anteriormente pela disciplina Sociologia, como o surgimento da Sociologia enquanto cincia e todo o contexto histrico que contribuiu para que isso ocorresse. Viu que esses pensamentos chegaram ao Brasil, de forma gradual e lenta. Que, no princpio, vinham impregnados dos modismos europeus, mas que, aos poucos, foram desenvolvendo um trao prprio e marcando as produes cient cas e literrias genuinamente brasileiras.A insero da Sociologia enquanto disciplina tambm foi alvo dos estudos aqui desenvolvidos, bem como os diversos nomes da Sociologia da Educao que comearam a despontar principalmente a partir do movimento da Escola Nova e que iriam ganhar fora a partir da abertura poltica ps Estado Novo, culminando, na dcada de 50, numa vasta produo cient ca e social de tericos como Florestan Fernandes, Herbert de Souza e Paulo Freire.Junto com a referncia a Paulo Freire como exemplo da intensa produo dos anos 50, voc conheceu, em parte, os diversos movimentos populares em prol de uma educao pblica de qualidade e com um alcance nunca antes visto na histria do Brasil. Os movimentos de educao voltados principalmente alfabetizao de adultos tiveram uma caracterstica muito particular do momento democrtico que o pas vivia: o compromisso de diferentes setores da sociedade brasileira, de sarem s ruas, fazendo algo para diminuir o abismo que separava as classes excludas do processo educacional de at ento.Por m, voc viu as diferentes correntes desta cincia que in uenciaram os estudos da Sociologia da Educao no mundo e no Brasil. A in uncia de Durkheim e de Marx na fundamentao dos pensamentos funcionalista e con itualista.Aqui voc encerra os estudos desta unidade. V adiante e descubra outros aspectos que o(a) ajudaro a compreender um pouco melhor o universo educacional.

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    A gesto da Escola Pblica: as educaes pblicas nacionais

    [...] com o advento da Revoluo Industrial (sculo XVIII), as relaes de trabalho e de produo so modi cadas. A industrializao e a introduo de novas tcnicas de trabalho no campo, que passa a produzir para o mercado, fora os servos a deixarem suas terras e irem em direo s cidades em busca de melhores condies de vida. Surge uma nova classe social, os operrios, que vendem sua fora de trabalho em troca do pagamento de um salrio. As cidades crescem, a sobrevivncia torna-se precria e, apesar dos avanos tecnolgicos da industrializao, os operrios no tm acesso aos benefcios da nova ordem econmica, o capitalismo. A excluso social da maioria da populao faz com que surjam as primeiras organizaes de trabalhadores e as primeiras crticas explorao, fundamentando as teorias socialistas. [...][...] O advento da sociedade industrial (sculo XIX) ocasionou uma rede nio dos objetivos da educao, que adquiriu uma nalidade laica e voltada para o desenvolvimento do saber cient co. Nesse contexto, acelerou-se a preocupao por parte dos governos nacionais com a formao de seus cidados e trabalhadores. Logo, os estados europeus passam a tomar para si o encargo da escolarizao, dando especial ateno educao elementar, at ento relegada a segundo plano. Pois bem, esse movimento em prol da escola elementar estatal consolida-se no decorrer do sculo XIX, na Europa, e expande-se para os pases subdesenvolvidos no sculo XX.Ao longo do sculo XIX ocorre a consolidao da sociedade burguesa e a vinculao da educao com o estado. Nesse

    Saiba mais

    Leia a seguir fragmentos de um interessante texto que aborda diversos aspectos tratados nessa primeira unidade, de forma bastante abrangente e didtica.

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    contexto, enquanto alguns pensadores viam a educao como uma forma de perpetuar o domnio da burguesia atravs da formao do povo, outros a entendiam como uma forma do povo emancipar-se atravs do acesso ao conhecimento e instruo. Neste sentido, no sculo XIX, dois modelos de educao iro contrapor-se, representando a oposio de classes da sociedade industrial: o burgus, inspirado no positivismo; e o proletrio, ligado ao socialismo. O positivismo vai exaltar a cincia e a tcnica, valorizando a experimentao. Aquilo que aplicado biologia, cincia (leis e previso), tambm se aplica educao. Como conseqncia, passa a ser central na formao a questo da cincia, vista como o conhecimento caracterstico do mundo moderno baseado na indstria e que ir conter disciplinas para a formao tanto intelectual como de carter. Esse tipo de educao possua seus limites: por se basear na cincia valorizava a instruo e a prtica de ensino apenas para o acmulo de conhecimentos. Para alguns autores, o positivismo representa o triunfo da ordem estabelecida pela burguesia com a Revoluo Industrial. A educao vista como um dever das sociedades modernas e um direito de cada cidado ir pensar a escola como um instrumento importante para o crescimento educativo das sociedades industriais, apesar de uma educao diferenciada de acordo com a classe social que pertencia o indivduo. O socialismo vai se contrapor ideologia burguesa e conseqentemente s diferenas entre as classes sociais, objetivando a reorganizao da sociedade segundo um ideal de justia social e de igualdade entre os homens, ou seja, uma sociedade sem classes.Os princpios defendidos pelos socialistas, da solidariedade e da justia social, implicaram tambm uma mudana da educao. Nesta perspectiva, a formao possua estreita ligao com a sociedade e a poltica, pois objetivava, em ltima instncia, formar um cidado para uma mentalidade

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    igualitria e antiindividualista. o ideal de formao de um indivduo autnomo, solidrio, politizado. Para os socialistas, o saber e o conhecimento representam um meio para a transformao da realidade social. Estes lutavam pela democratizao do ensino (universal) e pela escola nica (no dualista). Nos textos de Karl Marx e Frederich Engels est presente uma perspectiva pedaggica, com algumas propostas em torno da instruo. A questo central da abordagem so as condies econmicas e sociais dentro das quais o homem se forma enquanto indivduo. Falar em educao requer considerar a realidade socioeconmica e a luta de classes presente na sociedade, o que vai resultar numa concepo de educao no mais idealista e neutra, mas, ao contrrio, determinada pela relao entre as condies sociais e polticas. Para Marx, o trabalho enquanto atividade essencialmente humana deve ser colocado como centro da formao individual do homem. Assim, a sociedade moderna deve formar um homem por completo, ou seja, que tenha a capacidade tanto manual quanto intelectual. Desta maneira, o modelo pedaggico e educativo elaborado por estes pensadores trouxe para a pedagogia contempornea duas propostas inovadoras: a importncia do trabalho, o qual se contrapunha a uma educao intelectualista, e a relao entre educao e sociedade. Como voc pode perceber, a educao positivista e a educao socialista representam diferentes concepes de homem e de mundo. No nal do sculo XIX e primeiras dcadas do XX, tanto a prtica quanto a teoria sofreram in uncia do processo de transformao da vida social, poltica e econmica na modernidade, na qual dois modelos econmicos se contrapunham: capitalismo e socialismo. Nesta perspectiva, como concepo de educao e de pedagogia deste perodo, destacaremos a Escola Nova (ativista) e a marxista. As Escolas Novas surgiram e se desenvolveram entre a ltima dcada do sculo XIX e a terceira do sculo

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    XX, principalmente na Europa Ocidental e nos EUA, espalhando posteriormente sua in uncia para outros pases do mundo, inclusive no Brasil. Nesta concepo de educao, a escola era concebida como a instituio central para a construo de uma sociedade democrtica. Apresentava como caracterstica comum a importncia dada atividade da criana. A infncia era vista como um momento iniciador da formao intelectual e moral, de forma que os processos cognitivos estavam relacionados diretamente com a ao e o dinamismo. Neste sentido, era valorizada a experimentao escolar e didtica baseada no fazer e na motivao individual. A vida na escola deveria ser realizada de forma diferente da proposta praticada at ento, ou seja, num espao afastado da cidade, em contato com o ambiente externo, no qual a aprendizagem deveria ocorrer atravs da atividade intelectual e prtica, de modo a no separar conhecimento e ao. Podemos apontar como outra caracterstica da Escola Nova a preocupao com o trabalho, de forma que a educao no estava voltada apenas para o acmulo de conhecimentos, mas para o trabalho, a cooperao e o autogoverno. Essa proposta no se referia apenas pro ssionalizao, pelo contrrio, propunha a formao humana abrangente, completa. Percebe-se, portanto, que a pedagogia estava estreitamente ligada s cincias humanas (psicologia e sociologia) e implicava, tambm, conotaes polticas (orientao democrtica) e antropolgicas (destinadas a formar um sujeito mais criativo, inteligente e feliz). Para a construo de uma sociedade mais democrtica, a Escola Nova trouxe contribuies importantes e representou uma tentativa de superao da escola tradicional, voltada para a memorizao de contedos. educao marxista do sculo XX aborda algumas idias centrais dos clssicos do sculo XIX, que voc estudou anteriormente, e apresenta caractersticas diferentes da concepo burguesa de educao, apresentando uma especi cidade terica e prtica. De acordo com Franco

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    Cambi, podemos citar como aspectos espec cos da pedagogia marxista:

    a relao entre educao e sociedade, o que implica 1. que a prtica educativa e a formao do aluno vo depender dos interesses ideolgicos relacionados estrutura econmico-poltica da sociedade e, portanto, das classes que a governam;o vnculo entre educao e poltica, presente nas 2. vrias doutrinas pedaggicas e nas estratgias educativas;o papel central da educao na formao do ser 3. humano;a formao integral do ser humano, com base na 4. teorizao marxista;a nfase dada disciplina e ao esforo em prol da 5. coletividade.

    Os aspectos que permanecem fortes na pedagogia marxista do sculo XX so a reivindicao por uma educao laica e a integrao entre a formao intelectual (instruo) e a formao para o trabalho. A experincia pedaggica mais signi cativa do marxismo foi a teorizada por Antonio Gramsci (Itlia: 1891-1937). Ele repensou os princpios metodolgicos do marxismo e sua viso de histria, interpretando-o como historicismo, centrado na atividade do ser humano na sociedade. O marxismo, portanto, vai voltar sua ateno para o ser humano, que, como um agente cultural, vai promover a transformao da sociedade. Nesta perspectiva, esta no ser mais transformada a partir da estrutura (economia), mas sim da superestrutura (a ideologia, a cultura). Dessa forma, a pedagogia e a educao assumem importncia fundamental, pois a hegemonia cultural vai construir-se a partir da ao das instituies educativas, tais como a imprensa, o teatro, o cinema, o prprio partido e, principalmente, a escola, responsvel pela construo de

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    Sociologia da Educao

    Unidade 1

    uma cultura histrica de natureza cient ca, para superar a concepo religiosa do mundo. Gramsci morreu na priso durante o governo de Mussolini. Desenvolveu re exes sobre o papel do intelectual na cultura e na educao. Defendeu a substituio da escola classista burguesa por uma escola unitria que deve oferecer a mesma educao para todas as crianas. Uma educaoque possibilite o contato com a tcnica de seu tempo, sem deixar de lado a cultura geral, humanista e formativa. O seu pensamento in uenciou as re exes de muitos educadores, os quais sero chamados de marxistas revisionistas. [...]A Gesto da Escola Pblica: as educaes pblicas nacionais. In: A educao moderna e contempornea: as concepes de homem e educao no Brasil / Aldonei Machado...[et al.]. Florianpolis: UDESC/CEAD, 2003. 98p.:il. (Caderno de histria II). P. 31-36.

    Para saber mais sobre os contedos abordados nesta unidade, sugiro a voc consultar tambm os seguintes livros:BRANDO, Carlos Rodrigues. O que mtodo Paulo Freire. So Paulo: Brasiliense, 1981.FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessrios prtica educativa. So Paulo: Paz e Terra, 2002.IANNI, Octvio. Sociologia da Sociologia: o pensamento sociolgico brasileiro. 3.ed. So Paulo: tica, 1989.

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  • UNIDADE 2

    Produo social, ideologia e sujeitos

    Objetivos de aprendizagem

    ! Veri car como se d a produo e a reproduo da sociedade.

    ! Compreender o papel da escola no processo de produo e de reproduo social.

    ! Entender o conceito de ideologia e como esta se aplica s mais diversas relaes sociais.

    ! Perceber como se d a construo do sujeito na sociedade moderna.

    Sees de estudo

    Seo 1 Produo da sociedade

    Seo 2 Ideologia e a produo do sujeito na sociedade moderna

    Seo 3 A escola no processo de produo e de reproduo social

    2

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Para incio de estudo

    Na unidade 1, voc teve descrito o modo como a Sociologia da Educao se desenvolveu e enumerados e detalhados os objetos de estudo correspondentes. Nesta unidade 2, ter analisados temas bastante polmicos, todos eles considerados fundamentais continuidade de seus estudos nesta disciplina.Inicialmente, voc vai ver a questo da produo e reproduo da sociedade. Aqui aponto aspectos tericos relevantes para se responder a indagaes do tipo O homem faz a sociedade, ou a sociedade faz o homem? Efetivamente, -lhe necessrio, para tal, ter esclarecidos alguns conceitos fundamentais, que o(a) habilitem a compreender o processo social em sua intrnseca complexidade. E neste mesmo sentido que voc ter detalhado o signi cado da palavra ideologia em suas diversas acepes, bem como, o papel da ideologia na produo da sociedade e do sujeito. Perceber, ento, que tentar conceitu-la no tarefa fcil, correndo-se, mesmo, o risco de se fazerem generalizaes inadequadas. Por ltimo, trago discusso a seguinte questo: Ser que a escola , ou pode se tornar, um forte instrumento na produo e/ou reproduo da sociedade? Estes so os aspectos discutidos na ltima seo desta unidade.Cabe ressaltar que aqui esto colocados alguns referenciais, os quais podem nortear discusses como estas. Impe lembrar, entretanto, que, por se tratar de questes muito polmicas, estas querem-se apenas norteadoras e introdutrias, e remetem a pesquisas e leituras complementares. Vamos ento?

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    Sociologia da Educao

    Unidade 2

    SEO 1 Produo e reproduo da sociedade

    Inicio esta seo com uma pergunta para voc:

    O homem faz a sociedade, ou a sociedade faz o homem?

    Bem, j no de hoje que esta pergunta recorre os meios cient cos e, principalmente, o mbito onde pontuam os socilogos. Na realidade, est posta em estudos, questionamentos e discusses desde as primeiras manifestaes da Sociologia enquanto cincia.E trata-se de uma pergunta de natureza dialtica, com certeza, ao indicar, de um lado, a possibilidade de se perceber a sociedade enquanto determinante das aes individuais; e, de outro, o indivduo como agente criador e transformador da vida em sociedade. Um con ito conceitual, interpenetrante, com o qual, repito, os cientistas sociais lidam at hoje. Diante do impasse, alguns cientistas se empenharam em demonstrar a existncia plena de uma vida coletiva com alma prpria, acima e fora das mentes dos indivduos. [...] Outros pensaram em tratar a ao individual como ponto de partida para entendimento da realidade social [...]. (RODRIGUES, 2007, p. 17-18).

    Continuamos sem concluses, no ?

    Mas pode-se a rmar que, de certa forma, todos os cientistas os quais se envolveram com essa questo no estiveram errados em suas a rmaes, pois os homens criam a sociedade ao mesmo tempo em que ela os cria, e o mundo criado dura o tempo de vida de cada indivduo. Partindo desta idia, torna-se possvel perceber a importncia das demais cincias -- por exemplo, a Histria --, para se pensar a Sociologia, ou, mais especi camente, a Sociologia da Educao. A nal, como pensar, estudar, analisar a histria humana, sem que se conhea a vida dos homens?

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Isto remete a pensar que no possvel dissociar o sujeito da sociedade e, conseqentemente, dissociar a educao, seja do social, ou do sujeito. como uma trama em que se procuraria, sem resultado, localizar a ponta do o.

    A presente discusso, introdutria, direciona a alguns aspectos do pensamento sociolgico de Durkheim, voltado percepo da sociedade. Para ele, distinto do reino mineral e do vegetal, existia um reino social, muitas vezes chamado por ele de reino moral. Este seria um lugar composto pelas idias e pelos ideais coletivos. In uenciado pelo cienti cismo do sculo XIX, Durkheim considerava o socilogo como o nico cientista que poderia descobrir as leis da vida social, do mesmo modo que um fsico descobrira a lei da gravidade. Na sua viso, a Sociologia era uma cincia positiva acima de tudo, embasada em mtodos e leis.

    Partindo-se da idia de que a sociedade nos molda, ser, ento, correto a rmar que a educao tem como objetivo nos dar formao e, tambm, nos enquadrar aos moldes da sociedade?

    Para Durkheim, o meio moral produzido a partir da cooperao entre os indivduos, por meio de um processo de interao chamado por ele de diviso social do trabalho. Em decorrncia desta diviso social do trab