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1 SOCIOLOGIA AMBIENTAL: um campo de pesquisa em consolidação Elena Steinhorst Damasceno 1 RESUMO: este artigo tem por objetivo fazer uma breve revisão sobre as pesquisas em Sociologia Ambiental. São utilizadas como referências principais Buttel (1978), Hannigan (2009), Herculano (2000), Ferreira (2002, 2004), Mol e Spaargaren (2005), Lenzi (2005, 2007), Guivant (2005) e Moraes (2005) dentre outras que juntas formam o estado da arte sobre o tema. A Sociologia Ambiental como um campo de pesquisa é uma área relativamente nova da Sociologia e se encontra em fase de consolidação. Possuindo uma diversidade de orientações teórico- metodológicas em disputa, enfrenta o desafio epistemológico da transposição disciplinare da divisão homem-natureza. Tendo em vista a emergência da crise ambiental, observa-se, por meio desta revisão, o avanço monumental da subdisciplinanas últimas décadas e a diversidade de abordagens que nela cabem. INTRODUÇÃO O objetivo inicial deste artigo é fazer uma breve revisão sobre as pesquisas em Sociologia Ambiental. São utilizadas como referencias principais Buttel (1978), Hannigan (2009), Herculano (2000), Ferreira (2002, 2004), Mol e Spaargaren (2005), Lenzi (2005, 2007), Guivant (2005) e Moraes (2005) dentre outras que juntas formam o estado da arte sobre o tema. Primeiramente, a Sociologia Ambiental como um campo de pesquisa é uma área relativamente nova da Sociologia, que se encontra em fase de consolidação, possuindo uma diversidade de orientações teórico-metodológicas em disputa. Ferreira (2002, p. 1) afirmava que o número de pesquisas científicas sobre a interrelação entre a sociedade e o ambiente estava aumentando rapidamente em todo o mundo, o que era confirmado pela crescente proliferação de contribuições das mais diversas áreas de especialização: o que foi chamado, genericamente, de "problemas ambientais" tornou-se importante preocupação, embora restrita a determinados grupos, segundo a autora. Para Herculano 1 Bacharela e licenciada em Ciências Biológicas (UnB), mestra em Saúde e Ambiente (UFMA), doutoranda do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas (UFMA) e pesquisadora do Grupo de Estudos Desenvolvimento Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA). Contato: [email protected]

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SOCIOLOGIA AMBIENTAL: um campo de pesquisa em

consolidação

Elena Steinhorst Damasceno1

RESUMO: este artigo tem por objetivo fazer uma breve revisão sobre as pesquisas

em Sociologia Ambiental. São utilizadas como referências principais Buttel (1978),

Hannigan (2009), Herculano (2000), Ferreira (2002, 2004), Mol e Spaargaren

(2005), Lenzi (2005, 2007), Guivant (2005) e Moraes (2005) dentre outras que

juntas formam o estado da arte sobre o tema. A Sociologia Ambiental como um

campo de pesquisa é uma área relativamente nova da Sociologia e se encontra em

fase de consolidação. Possuindo uma diversidade de orientações teórico-

metodológicas em disputa, enfrenta o desafio epistemológico da “transposição

disciplinar” e da “divisão homem-natureza”. Tendo em vista a emergência da crise

ambiental, observa-se, por meio desta revisão, o avanço monumental da

“subdisciplina” nas últimas décadas e a diversidade de abordagens que nela cabem.

INTRODUÇÃO

O objetivo inicial deste artigo é fazer uma breve revisão sobre as pesquisas em

Sociologia Ambiental. São utilizadas como referencias principais Buttel (1978),

Hannigan (2009), Herculano (2000), Ferreira (2002, 2004), Mol e Spaargaren (2005),

Lenzi (2005, 2007), Guivant (2005) e Moraes (2005) dentre outras que juntas formam o

estado da arte sobre o tema.

Primeiramente, a Sociologia Ambiental como um campo de pesquisa é uma área

relativamente nova da Sociologia, que se encontra em fase de consolidação, possuindo

uma diversidade de orientações teórico-metodológicas em disputa. Ferreira (2002, p. 1)

afirmava que o número de pesquisas científicas sobre a interrelação entre a sociedade e

o ambiente estava aumentando rapidamente em todo o mundo, o que era confirmado

pela crescente proliferação de contribuições das mais diversas áreas de especialização: o

que foi chamado, genericamente, de "problemas ambientais" tornou-se importante

preocupação, embora restrita a determinados grupos, segundo a autora. Para Herculano

1 Bacharela e licenciada em Ciências Biológicas (UnB), mestra em Saúde e Ambiente (UFMA),

doutoranda do Programa de Pós-graduação em Políticas Públicas (UFMA) e pesquisadora do Grupo de

Estudos Desenvolvimento Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA).

Contato: [email protected]

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(2000) a Sociologia Ambiental seria uma subdisciplina integradora, que já nasceu

fecunda e resultante de múltiplas inspirações.

A sociologia ambiental em construção

Segundo Herculano (2000, p. 2), em referência a Buttel (1996), a Sociologia

Ambiental não seria “tão nova”, se tivermos por parâmetro um amálgama de áreas e

“subdisciplinas” já sedimentadas há décadas. Entre essas, que teriam contribuído para a

formação da sociologia ambiental contemporânea, estaria a Ecologia Humana, que

surgiu como estudo da mudança entre o rural e o urbano, porém, “nunca chegou a dar

importância aos fatores ambientais em sentido estrito”, “tratava de ver como o meio

físico da cidade atuava no comportamento das pessoas” e “criava uma cultura específica

e estava limitada ao foco da cooperação competitiva na organização espacial de

populações metropolitanas”. Outra subdisciplina contribuinte é a Sociologia Rural que,

segundo a autora, seria embasada na geografia e na antropologia econômicas, mas

estudaria as “comunidades diretamente dependentes de recursos naturais”, tais como

pescadores, extrativistas, agricultores, lavradores, etc. A Sociologia dos Recursos

Naturais seria mais uma que, “estudando a gestão do meio ambiente, este entendido

enquanto recursos naturais”, abarcaria os estudos sobre política de terras públicas,

planejamento de usos da terra, a gestão das unidades de conservação, incluídos parques

e áreas de lazer. Herculano (2000, p. 3) acrescenta à lista de subdisciplinas, sugerida por

Buttel, que teriam contribuído para a formação da Sociologia Ambiental, a Psicologia

Social e a Antropologia Cultural, “com estudos sobre atitudes e valores”; a Sociologia

dos Movimentos Sociais, “enfocando novos sujeitos coletivos, suas agendas de lutas e os

conflitos dos diversos agentes sociais”; a Sociologia do Desenvolvimento, “esta última

na sua vertente marxista, questionadora do mito do desenvolvimento”; e a Sociologia

Urbana, “sobre o meio ambiente construído”.

Hannigan (2009, p. 15), em seu livro Sociologia Ambiental, trata da “chamada

subdisciplina” em termos de uma retrospectiva quanto ao pensamento na área, assim

como da sociologia ambiental enquanto campo de pesquisa. O autor delimita o “Dia da

Terra”, manifestação ambientalista nos EUA que culmina com a criação da Agencia de

Proteção Ambiental, a primeira do país, como marco que inicia o que o autor chama de

“década ambiental”, nos anos 1970.

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Herculano (2000, p.3-4) aponta que, no final da década de 1970, a seção sobre

Sociologia Ambiental da ASA (Associação Norte-Americana de Sociologia) já contava

com 321 membros. Após um breve declínio nos anos 1980, a Sociologia Ambiental

norte-americana e mundial se revitalizam, proporcionalmente ao aprofundamento em

relação à percepção dos problemas ambientais:

em lugar da degradação ambiental ser percebida como um problema estético,

passou a ser vista como ameaça à saúde e ao bem-estar e enquanto um risco

tecnológico (o lixo tóxico em Love Canal, os acidentes nucleares de Three

Mile Island, de Bhopal e de Chernobyl, a descoberta da destruição

progressiva da camada de ozônio, tudo isso passou a ser visto como indícios

de ameaças definitivas à sobrevivência humana e planetária). Nos anos 90,

finalmente, a questão ambiental passou a ganhar uma dimensão mais

complexa e uma institucionalidade global. A partir da realização da

Conferência da ONU para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, no Rio de

Janeiro, em 1992 (CNUMAD ou UNCED), foi criada a Comissão para o

Desenvolvimento Sustentável, na ONU, e um Fundo Geral para o Meio

Ambiente - GEF. As alterações climáticas causadas pela produção humana

passaram a ser definidas como a grande questão ambiental ("global

environmental change"- GEC). Comissões e grupos de estudos acadêmicos e

intergovernamentais têm sido formados desde então, aproximando cientistas

naturais e sociais, para se ganhar entendimento sobre as dimensões humanas

das alterações climáticas e do aquecimento global.

Guivant (2005, p.11) afirma que Catton e Dunlap foram pioneiros na Sociologia

Ambiental, tendo inclusive cunhado o termo:

Mas eles também abriram dentro da incipiente Sociologia Ambiental o debate

entre posições realistas e construtivistas sociais que, apesar de nem sempre

acontecer de forma explícita, atravessa a Sociologia Ambiental. Os realistas,

dentro dos quais Catton e Dunlap se situavam, defendem a existência objetiva

dos problemas ambientais, independentemente da forma em que os atores

sociais os percebem. A crítica construtivista foi realizada por Frederick Buttel

(1978), que passaria a ser um dos mais destacados sociólogos ambientais.

Hannigan (2009) entende que o “conflito construcionista-realista” teve mais

recentemente seu tom moderado entre os sociólogos ambientais, que foram à procura de

alguma síntese entre variadas perspectivas. Mas, Ferreira (2005, p.78), por outro lado,

afirma que:

A sociologia ambiental, enquanto produção científica e acadêmica, emergiu a

reboque dos movimentos de contestação social surgidos no início dos anos 60

e da constatação da situação emergencial de degradação dos recursos naturais

e do desenvolvimento do industrialismo. O nascimento do movimento na

década de 1960 surpreendeu os sociólogos, que naquele momento não

dispunham de um corpo teórico ou tradição empírica que os guiasse em

direção ao entendimento da relação entre sociedade e natureza. Os pioneiros

da sociologia clássica (Durkheim, Marx e Weber) tinham abordado a questão

de modo tangencial; além disso, apenas raramente surgiam trabalhos

isolados, sem, no entanto, promover uma acumulação considerável de

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Nota
Minimiza o risco tecnologico e a questao parece ser percebida e nao construida
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conhecimento que permitisse a criação de um campo teórico. Existem várias

hipóteses para o entendimento deste processo (grifo nosso).

Segundo HANNIGAN (2009), o que se tinha eram trabalhos isolados dentro da

subárea da sociologia rural, porém, para compreender a emergência da sociologia

ambiental, é necessário observar como as teorias geográficas e biológicas do

desenvolvimento social perderam força quando a sociologia surgiu, no início do século

XX, como disciplina distinta. O autor aponta, citando Buttel (1986), que a dimensão

ambiental já estava implícita desde os trabalhos clássicos de Durkheim, Marx e Weber,

contudo nunca foi evidenciada pelo fato da explicação da estrutura social ser favorecida

em detrimento às explicações físicas ou ambientais (HANNIGAN, 2009, p.15). Em

concordância com Hannigan, Ferreira (2004, p. 80) afirma:

(...) O que atualmente é identificado como preocupação ambiental seria visto

como atraso e obstáculo ao desenvolvimento, ao progresso. Certamente havia

críticos ao paradigma desenvolvimentista, como os sociólogos marxistas;

mas, estes tendiam a ver a problemática ambiental como um desvio das

questões cruciais do humanismo. Buttel (1992), por sua vez, assinala o

relacionamento ambíguo da sociologia, em sua fase de construção, com as

ciências naturais. Se, de um lado, o pensamento sociológico foi influenciado

por conceitos provenientes das ciências naturais, por outro lado, a própria

necessidade de legitimação das ciências sociais exigiu uma reação contra a

simplificação das explicações oriundas do determinismo biológico e

geográfico, conforme mencionado anteriormente.

Para Lenzi (2007, p.1) a proposta de criação de uma Sociologia Ambiental

nasceu de uma forte crítica às sociologias clássica e contemporânea:

Essa crítica emergiu ao final da década de 70, quando os cientistas sociais

americanos Catton e Dunlap (1978) criticaram justamente a ausência de

qualquer preocupação com as pré-condições ecológicas da sociedade nos

estudos sociológicos. Segundo estes autores, esta ausência não era apenas

casual, mas indicava a existência de um paradigma antropocêntrico existente

na Sociologia que teria emergido com o nascimento da Sociologia moderna.

A idéia de que os clássicos da Sociologia não nos legaram uma sensibilidade

ecológica não está restrita ao trabalho de Catton e Dunlap (1978), mas tende

a receber um apoio nas avaliações de cientistas sociais contemporâneos.

Lenzi (2007) retoma a discussão analisando algumas idéias de Durkheim, Weber

e Marx, buscando identificar os limites e possibilidades que as obras desses autores

podem oferecer para a Sociologia Ambiental. Argumenta que a herança deixada por

estes clássicos da Sociologia é marcada por uma ambivalência com relação à

problemática ambiental e que isso está relacionado com a forma pela qual a Sociologia

veio a ser definida em suas obras. Ele alega que problemas associados com a herança

sociológica clássica têm implicações para pensar a condição teórica da própria

Sociologia Ambiental.

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Nota
Porque americanos. Nao sera uma abordagem das de Fukuyama aplicada ao ambiente?
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Para Ferreira (2002, p. 1), as ciências sociais, a despeito de outras áreas do

conhecimento, em relação aos problemas ambientais, atribuem à sociedade o paradigma

dominante da fé no progresso e na racionalidade humana:

Marx (1980), bem como Durkheim (1995) vê a era moderna como turbulenta,

mas ambos acreditam que os possíveis benefícios fornecidos pela era

moderna superam seus aspectos negativos. Weber (1982) foi o mais

pessimista dos três, vendo o mundo moderno como um paradoxo onde o

progresso material foi obtido apenas à custa da expansão burocrática que

esmagou a criatividade e autonomia individual. No entanto, nem mesmo ele

antecipou completamente o quão extenso se tornaria o lado escuro da

modernidade.

Ambos os cientistas naturais e sociais construíram suas teorias em duas

premissas básicas: o modelo newtoniano e dualismo cartesiano, segundo a

Comissão Gulbenkian (1996). (FERREIRA, 2002, p. 1, tradução nossa).

Enfoques teóricos contemporâneos na Sociologia Ambiental

Hanningan (2009) faz um excelente apanhados sobre enfoques teóricos

contemporâneos na Sociologia Ambiental. O autor menciona “queda do determinismo

geográfico e biológico” e a “relação entre a teoria sociológica clássica e o meio

ambiente”, nas teorias de Durkheim e Weber, como sendo os primórdios das

diferenciações teóricas que acarretaram na consolidação da sociologia ambiental.

Segundo Hannigan, Marx é inocentado por Jonh Bellamy Foster, que reitera a visão

marxista na relação sociedade e ambiente.

Em direção a uma sociologia ambiental emergente (1970-2005) algumas

produções foram marcos históricos importantes na sociologia ambiental, como o livro A

Primavera silenciosa (CARSON, 1962), o relatório Os limites do crescimento

(MEADOWS, 1972) e o Movimento pela Justiça Ambiental (TAYLOR, 2000).

(HANNIGAN, 2009 p. 27).

Hannigan (2009 p. 29) destaca, em relação às “linhagens” contemporâneas da

Sociologia Ambiental, que Dunlap e colaboradores descrevem sobre riqueza e a

diversidade do trabalho sociológico relacionado ao meio ambiente físico, e afirma que

há ao menos nove paradigmas distintos em competição: a ecologia humana, a economia

política, o construcionismo social, o realismo crítico, a modernização ecológica, a teoria

da sociedade de risco, a justiça ambiental, a teoria ator-rede e a ecologia política.

HERCULANO (2000, p.5), baseada em Catton e Dunlap (1978), afirma que

quando a Sociologia Ambiental surgiu no contexto norte americano, tinha a ambição de

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Nota
Estão a percepção do risco ambiental, embora real, acarreta males menores que os benefícios...[A quem interessa esta tese?]
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Nota
Rachel Carson, uma acadêmica que foi considerada demente pelos políticos e industriais, antes de o seu alerta entrar na agenda e percepção mundial , com a conferencia de Estocolmo
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Note-se que são vários paradigmas teóricos...[cuidado com pretensões de VERDADES LIMPAS}
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propor uma mudança paradigmática, não apenas para a Sociologia Ambiental, mas para

a Sociologia em geral. Segundo a autora, Catton e Dunlap (1978) “criticavam o

antropocentrismo do pensamento sociológico, que ter-se-ia descartado da variável

ambiental, ignorando que esta constrange e interage com as demais variáveis já

contempladas pela Sociologia”. A proposta apresentada sugeria a transição do

paradigma HEP ("Human Exemptionalim Paradigm"), traduzido por “paradigma da

excepcionalidade e da supremacia humanas”, que determinava o “descolamento e

independência da natureza”, para o paradigma NEP (“Nature Environmental

Paradigm”), no qual estaria incluído o ambiente físico como uma das variáveis do

sistema social, o que tornaria o enfoque mais adequado para estudos sobre: a escassez, o

declínio da qualidade de vida e o aumento dos custos ambientais. Dentre os sociólogos

chamados por Hannigan (2009, p. 18) de “propagandistas do desenvolvimento e

progresso”, são citados na corrente da Modernização ecológica Catton e Dunlap (1978);

e Inkeles e Smith (1974).

Hannigan (2009, p.35) aponta os Enfoques teóricos contemporâneos para a

sociologia ambiental, a partir de seu surgimento como discreta área disciplinar na

década de 1970. Segundo ele, são percebidos dois enfoques para o meio ambiente: as

“funções de competição ambiental”, Catton e Dunlap (1978) e a “dialética

socioambiental” e “cadeia de produção”, Alan Schnaiberg (1980), ambas enfocam a

estrutura e a mudança social. No correr do tempo estes enfoques teriam evoluído para

duas perspectivas contrastantes: a “modernização reflexiva” e a “modernização

ecológica”. Hannigan se propõem ir além do dualismo, discute a relevância do debate

sobre o realismo/construtivismo e aponta o “modelo coconstrucionista de sociedade”.

Para Hannigan (2009 p.48-49), Mol e Spaargaren oferecem uma versão

revisionista da modernização ecológica e consideram que o capitalismo tem “evoluído”

em uma direção “mais verde”, exemplificado pelos instrumentos baseados no mercado,

como exemplo os créditos negociáveis de poluição.2 Nesta direção, segundo May (2011,

p.170):

2 A chamada “economia verde” utiliza mecanismos de mercado, como os de compra e venda de créditos

de carbono, os Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA), Redução de Emissões oriundas do

Desmatamento e da Degradação de Florestas (REDD), inclusos no discurso do Desenvolvimento

Sustentável.

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Nota
Então o capitalismo é santo com suas propostas de economia verde, sequestro de carbono, sumidouros de carbono. estes americanos e canadenses ... então querem vender a idéio que não há motivos de alarme.
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Para alcançar uma “economia verde” é necessário assegurar a redução da

utilização de materiais e energia no processo produtivo de modo a permitir

que a sociedade prospere sem necessariamente crescer (Daly, 1996, Jackson,

2009 e Victor, 2008). Por outro lado, atores sociais destituídos das benesses

do capitalismo moderno – devido à má distribuição de riquezas – podem

alcançar patamares de consumo mais elevados sem, no entanto, esgotar o

capital natural. Assim sendo, as metas, aparentemente contraditórias, de

decrescimento no Norte e “esverdeamento” do crescimento (com equidade)

no Sul representam a base para um diálogo propositivo em torno de um

futuro sustentável e, além disso, configuram a plataforma para debate na

Rio+20.

Hannigan (2009, p. 61) dá importante destaque ao “Discurso Ambiental”. Inicia

estudando o discurso ambiental para, em seguida, verificar “uma tipologia do discurso

ambientalista”, destacando os discursos de “ecossistema” e de “justiça ambiental”:

Recentemente a análise do discurso surgiu como um método de influencia

crescente para analisar a produção, recepção e uso estratégico de textos

ambientais, imagens e ideias. Apesar de identificada como próxima do

construcionismo social, a análise do discurso tem sido praticada com bons

resultados por seguidores de outras “escolas” da teoria e da pesquisa

ambiental, principalmente críticos teóricos, ecologistas políticos e analistas

de políticas internacionais.

Em Discurso, relações de poder e ecologia política, Hanningan (2009 p.85)

enfatiza que “É realmente difícil falar sobre o discurso atualmente sem entrar numa

discussão sobre poder” e cita Michael Foucault, na inevitável relação entre discurso e

ecologia política – a “nova ecologia política” ou “ecologia política contemporânea” são

postas em destaque. O autor exemplifica, por meio de um estudo de caso da privatização

da água, no qual os hidrômetros podem ser comparados a conta-gotas, demonstrando a

relação econômica para com a natureza: pagar para usar ou a água como fonte de lucro.

Para Mol e Spaargaren (2005, p. 28), existem diversos fatores que podem ajudar

a explicar a recente reaproximação entre a Sociologia Geral e a Sociologia Ambiental:

Esta convergência pode ser explicada primeiramente pelo interesse comum

no emergente debate sobre globalização e mudança (ambiental) global. Para a

Sociologia Geral, a mudança climática e os outros problemas ambientais

eram freqüentemente discutidos como exemplos ou mesmo lições ilustrativas

da nova dinâmica de mudanças em uma modernidade global e,

especialmente, dos novos papéis de instituições-chave como ciência e

tecnologia, e o Estado-nação (vide teoria da modernização reflexiva, teoria da

sociedade de risco, construtivismo social). Nas Ciências (sociais) ambientais,

a crescente atenção dada à poluição atmosférica (acidificação) que

ultrapassava fronteiras foi o principal fator a desencadear o desenvolvimento

da nova agenda dos anos 90, geralmente chamada de Mudança Ambiental

Global. Esta agenda – impulsionada pelo IPCC3 e, particularmente, por

3 IPCC é a sigla para Intergovernmental Panel on Climate Change, em português, Painel

Intergovenamental sobre Mudanças Climáticas. O IPCC é um é um corpo científico, sob os auspícios da

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ONGs ambientais globais – enfatizava novamente o importante, porém

complicado, papel da ciência e tecnologia no gerenciamento da mudança

ambiental global, e ressaltava os novos papéis dos Estados-nações que

precisavam dar espaço para atores e negociações operando tanto na arena

internacional/global como na arena local. Assim, a partir dos anos 90, tanto a

Sociologia Geral como a Ambiental passam a se interessar pela compreensão

da dinâmica específica do global em relação ao local no direcionamento da

mudança (ambiental) global. (...) O segundo e mais recente importante fator a

contribuir para a convergência das Sociologias Geral e Ambiental é a

emergência, no interior da Sociologia Geral, de uma perspectiva teórica na

qual os sistemas sociais são abordados em termos de redes e fluxos.

Nessa perspectiva Hannigan (2009) e Mol e Spaargaren (2005) parecem

concordar sobre papel da mídia como fator essencial ao destaque do “problema

ambiental” nas agendas políticas no mundo todo. Ademais, sobre a Mídia e

comunicação ambiental, Hannigan (2009, p. 121) destaca a importância da mídia nas

questões ambientais, pois muitas vezes:

Para passar os problemas ambientais da condição de questão para uma

política pública, a visibilidade da mídia é crucial. Sem a cobertura da mídia,

as possibilidades que um problema prévio possa entrar numa arena do

discurso público ou se tornar parte do processo político, são bastante

reduzidas.

O autor destaca as “Rotinas e limites organizacionais”, “o discurso da mídia”, “a

mídia de massa e cobertura de notícias ambientais”, “a produção de notícias

ambientais”, “a construção de descrições ambientais “ganhadoras” na mídia” e

“discurso ambiental mediado pela massa” como fatores, relacionados à publicidade dos

fatos, importantes de serem observados na construção de um problema ambiental

(HANNIGAN, 2009, p.122-140).

Outras duas perspectivas são destacadas por Haningan (2009, p. 43), as

“normativas do modernismo” e a do “desenvolvimento ambiental”. O autor segue,

delimitando os enfoques teóricos, para a tese da sociedade de risco, de Ulrich Beck, e

para a “modernização ecológica” e aponta o que considera uma controvérsia maior: o

realismo versus o debate do construcionismo. O ponto alto da discussão está na

necessidade de transcendência da separação natureza/cultura, chamado por Hanningan

de coconstrucionismo e a análise da socionatureza. (HANNIGAN, 2009 p. 57)

Colocando em prática o construcionismo, outro enfoque teórico, em A

construção social das questões e problemas ambientais Hanningan enfatiza as

Organização das Nações Unidas (ONU) que analisa e avalia a informação científica, técnica e sócio-

econômica mais recentemente produzida no mundo relevante para a compreensão das mudanças

climáticas. Ver: http://www.ipcc.ch/organization/organization.shtml#.UX9k67WA8Wk

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diferenças e semelhanças entre os problemas sociais e ambientais e justifica o

construcionismo como uma ferramenta analítica. Cita, ainda, Malcolm Spector e Jonh

Kitsuse (1973) como autores cujo enfoque está na estrutura funcional e destaca os

processos e tarefas importantes na construção social dos problemas ambientais. A

“apresentação e contestação de argumentos ambientais” servem como uma espécie de

instrumento para determinado público para os argumentos ambientais. Hannigan indica

os “fatores necessários para uma construção bem-sucedida de um problema ambiental”

(HANNIGAN, 2009, p.117).

Outro relevante enfoque contemporâneo da Sociologia Ambiental é o enfoque

do Risco, inspirado na teoria da Sociedade de Risco de Ulrich Beck, porém relativizadas

pela postura cultural e “menos apocalíptica” de Mary Douglas (HANNINGAN, 2009, p.

161). Um tipo de análise de Risco pode ser exemplificada, através do caso do salmão

criado em cativeiro, nos EUA, no qual se constatou que o consumo do peixe excederia

em 100 vezes a quantidade da substância cancerígena suportável para o ser humano em

seu tempo de vida. Essa análise verifica basicamente os riscos para os seres humanos.

Hannigan (2009) avalia ainda outras “perspectivas sociológicas do risco”: o “risco e

cultura”, a “definição social do risco”, as “arenas de construção do risco”, o “poder e

construção social do risco ambiental” e a “construção do risco numa perspectiva

nacional”.

Hannigan (2009) aponta a “perda da biodiversidade” como temática que se

transformou em uma “carreira” de sucesso de um problema ambiental global. Fala do

problema da perda da biodiversidade em si, explica o conceito e aponta que este, junto

com o “aquecimento global”, é o tópico mais “quente”, relacionado aos problemas

ambientais atualmente, ou seja, um tema da moda em Sociologia Ambiental. A partir

dessa “carreira” o autor utiliza sua metodologia de construção de um problema

ambiental apresentando os fatores contextuais, reunindo argumentação, apresentando o

argumento e contestando o argumento (HANNIGAN, 2009, p. 182-190).

Hannigan (2009) destaca sua percepção (teórico/prática) acerca da questão

ambiental que seguiria em direção a um modelo “emergente” de meio ambiente e

sociedade. Primeiro ele alerta acerca de uma “zona sinistra”, exemplificada pelos os

efeitos ambientais e sociais do grande desastre Tsunami da Tailândia. A partir do

exemplo, o autor demonstra as “fundações sociológicas da emergência”, os “elementos

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emergentes nos movimentos sociais e organizações de movimento social”; o

“aprendizado social como um processo emergente”; e uma fundamental dimensão da

questão ambiental na atualidade: “as incertezas emergentes” (HANNIGAN, 2009, p.

197-214).

Hannigan conclui que qualquer tentativa nova na perspectiva da sociologia

ambiental necessita confrontar a “divisão sociedade-natureza”. Destaca a emergência de

novos esforços para as relações de análise socioambiental e percebe o desafio de

reconciliar o macro com os dados mais particularizados de análise. O autor sugere a

“teoria da emergência” como moldura para as análises dos problemas ambientais

futuros (HANNIGAN, 2009, p. 216).

Epistemologia na sociologia ambiental

Moraes (2005, p. 46-47) alerta para a importância da epistemologia no trabalho

científico, principalmente devido ao fato da problemática ambiental “ser arredia aos

paradigmas tradicionais” e delimita três aspectos que devem ser observados para a

pesquisa na temática ambiental: a identificação clara e precisa do universo de análise,

ou seja, uma localização filosófica dos fenômenos e relações que buscamos na

investigação empírica; a delimitação metodológica, ou escolha do método mais

apropriado no universo das ciências sociais; e a procura de uma linguagem

comunicante, tendo em vista as diferentes áreas disciplinares que podem estar

contempladas na temática ambiental.

O autor refere-se ainda à necessária anterioridade da reflexão metodológica ante

a investigação empírica, tendo em vista que no trato da questão ambiental as barreiras

metodológicas podem ser um empecilho tão significativo como a transposição

disciplinar4. A problematização de cunho ético é colocada como situação limite do

campo epistemológico, tendo em vista a emergência das políticas ambientais e

conseqüente demanda direcionada as universidades brasileiras, no sentido de elaboração

de peças técnicas para os grandes projetos de desenvolvimento (MORAES, 2005).

Dentre algumas das posturas éticas possíveis, como o chamado naturalismo, tecnicismo

4 Como exemplo as diferentes atribuições ao sentido da palavra ecologia (MORAES, 2005 p. 71-72).

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e romantismo5, observa-se a postura crítica

6 em relação à pesquisa e diante da

problemática ambiental.

Segundo Hannigan (2009) a dicotomia homem-natureza deve ser superada e

qualquer tentativa nova na perspectiva da sociologia ambiental necessita confrontar a

“divisão sociedade-natureza”. Destaca a emergência de novos esforços para as relações

de análise socioambiental e percebe o desafio de reconciliar o macro com os dados mais

particularizados de análise. O autor sugere a “teoria da emergência” como moldura para

as análises dos problemas ambientais futuros (HANNIGAN, 2009, p. 216). Moraes

também dá destaque a isso e enfatiza “a natureza para o homem” em Marx, como opção

filosófica de romper tal dicotomia (MORAES, 2005, p. 72-73).

Hannigan (2009) relaciona a Ciência, cientistas e problemas ambientais e

mostra a ligação entre problema ambiental e pesquisa científica, problematizando o

papel dos pesquisadores na formulação de argumentos para a questão ambiental, porém,

por outro lado, afirma que há um grande campo de incertezas na ciência. O autor discute

esse tema e sua relevância para a construção de novos problemas ambientais e seu

anúncio para o mundo, exemplificando o problema da chuva-ácida e da perda de

biodiversidade, e a importância da ciência na formulação de políticas públicas

ambientais, afirmando que: “Finalmente, é a estrutura de apoio científico destes

problemas ambientais que os sustentam acima dos outros problemas sociais que são

mais dependentes de argumentos de bases morais” (HANNIGAN, 2009 p.141 apud

YAERLEY, 1992, p. 117).

Pesquisas atuais em Sociologia Ambiental

Segundo Herculano, no âmbito acadêmico, a Associação Internacional de

Sociologia (ISA) fundou, em 1990, um novo comitê de pesquisa, o RC/24 (Meio

Ambiente e Sociedade), constituído por egressos de estudos da Ecologia Humana, da

Sociologia Urbana, da Sociologia Rural, entre outras. No Brasil, a Associação Nacional

5 O naturalismo se refere à postura filosófica perante a relação homem-natureza na qual a interferência do

ser humano na natureza é resumida pelo termo “ação antrópica” neutralizando a dimensão social da

temática ambiental. O tecnicismo “dilui as implicações políticas de seu manejo como se a soluções

técnicas não envolvesse decisões políticas” e o romantismo que se manifesta pelo “preservacionismo

radical” e “perspectivas anti-humanísticas” (MORAES, 2005, p. 53-55). 6 A teoria crítica se refere à Escola de Frankfurt, representadas por Adorno, Horkheim e Habermas, mas

nos referimos, também, à crítica marxista feita ao modelo capitalista de produção e consumo, como sendo

principal responsável pela crise ambiental atual.

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de Pesquisadores em Ciências Sociais (ANPOCS) criou, igualmente, um grupo

específico para a temática ambiental, o GT/04 (Ecologia e Sociedade). Assim, diversos

programas de pós-graduação no Brasil passaram a se dedicar à temática ambiental,

“alguns deles com uma ambição multi ou transdisciplinar” (HERCULANO, 2000, p.4).

No ano de 2002 foi criada a ANPPAS, Associação Nacional de Pós-graduação e

Pesquisa em Ambiente e Sociedade, com a participação de diversas instituições7

brasileiras de ensino e pesquisa, com formação strictu sensu de pessoal especializado

em nível de pós-graduação, de caráter interdisciplinar e que focalizam a interação

Ambiente e Sociedade em suas múltiplas dimensões. A ANPPAS promove reuniões

científicas, objetivando o intercâmbio de informações entre seus associados e de

associações similares brasileiras, estrangeiras ou internacionais, promovendo a

divulgação de estudos em Ambiente e Sociedade, publicações, concursos e premiações

(ANPPAS).

Percebemos, assim, o avanço monumental da Sociologia Ambiental de forma

geral e a diversidade de abordagens que nela cabem. Após a leitura dos autores citados

neste texto, percebe-se certa tendência “modernizadora” nos trabalhos em Sociologia

Ambiental no Brasil, por um lado, com inspiração nos grupos de pesquisa da Holanda,

Canadá e Estados Unidos, verificado principalmente os grupos de pesquisa em

Sociologia Ambiental da UFSC e Unicamp. De outro lado, nota-se que outros grupos

seguem perspectiva divergente, apoiando-se mais nos estudos de Conflitos Ambientais,

Movimentos Sociais e Ecologia Política, ainda com uma forte interface Antropológica,

como é o caso do GEDMMA (UFMA)8, que mantém afinidade com o IPPUR

9 (UFRJ) e

GESTA10

(UFMG).

7 Participaram da criação, na sede do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade

de São Paulo - PROCAM/USP o Núcleo de Estudos e Pesquisas Ambientais da Universidade Estadual de

Campinas - NEPAM/UNICAMP; o Núcleo de Altos Estudos Amazônicos- Universidade Federal do Pará

- NAEA/UFPa; o Centro de Desenvolvimento Sustentável - Universidade de Brasília - CDS/UnB; o

CPDA/Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro; o Programa de Pós - Graduação Interdisciplinar em

Ciências Humanas/Universidade Federal de Santa Catarina; o Doutorado em Meio Ambiente e

Desenvolvimento/Universidade Federal do Paraná; o Programa de Mestrado em Ciência Ambiental da

Universidade de São Paulo - PROCAM/USP e o Programa Regional de Pós Graduação em

Desenvolvimento e Meio Ambiente – PRODEMA. (fonte: sítio ANPPAS na internet, ver ref.). 8 Grupo de Estudos Desenvolvimento Modernidade e Meio Ambiente (GEDMMA/UFMA). Sítio

eletrônico: http://www.gedmma.ufma.br/ 9 Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional (IPPUR/UFRJ)

10 Grupo de Estudos em Temáticas Ambientais (GESTA/UFMG)

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, a Sociologia Ambiental pode ser vista como um campo de pesquisa em

expansão, no qual a emergência da crise ambiental permite uma grande variedade de

abordagens teórico-metodológicas e um crescente volume em produção acadêmica11

.

Porém, são observados muitos trabalhos recentes com a característica de simples junção

de dados biológicos com análises sociológicas, como tentativa de fazer uma Sociologia

Ambiental. Tal postura deveria ser revista, tendo em conta as análises sobre a “divisão

homem-natureza”, que são refletidas na “transposição disciplinar”. Ou seja, superar a

esta dicotomia não significaria “colar uma coisa na outra” e sim procurar um método

menos antropocêntrico possível. Sempre que necessário, a percepção biológica da

natureza deveria ser acionada, porém, participando do contexto da “entre ajuda”

transdisciplinar, tão cara à questão ambiental. i

REFERÊNCIAS

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Sociedade. http://www.anppas.org.br/novosite/index.php?p=oque Acesso dia

12/03/2013.

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13 1978: p. 252-256.

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Ambiente & Sociedade - Ano V – Nº 10 – 1º Semestre de 2002, p.1-11.

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sociologia ambiental e interdisciplinaridade. Desenvolvimento e Meio Ambiente, Nº

10, p. 77-89, jul./dez. 2004. Editora UFPR.

FERREIRA, Lúcia da Costa. Conflitos sociais e uso de recursos naturais: breves

comentários sobre modelos teóricos e linhas de pesquisa. Política e Sociedade Nº 7

outubro de 2005, p. 105-118.

11

Para mais referências: Guia para o Iniciante em Sociologia do Meio Ambiente (MCREYNOLDS, 1999).

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GUIVANT, Julia S. Apresentação do Dossiê Mapeando os caminhos da Sociologia

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HANNIGAN, John. Sociologia ambiental. Tradução de Annahid Burnett. Petrópolis,

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HERCULANO, Selene. Sociologia Ambiental: Origens, Enfoques Metodológicos e

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http://www.professores.uff.br/seleneherculano/images/stories/SOCIOLOGIA_AMBIEN

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MCREYNOLDS, Samuel A. Guia para o Iniciante em Sociologia do Meio Ambiente:

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YAERLEY, S. The green case: a sociology of environmental issues, arguments e

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i Este artigo é referente ao trabalho final da disciplina Ambiente e Sociedade, ministrada pelo Professor.

Doutor. Horácio Antunes de Sant’Ana Júnior, a qual cursei como aluna especial, no curso de doutorado

em Ciências Sociais (PPGSoc/ UFMA).