sociologia - 4ª parte modernizaÇÃo, globalizaÇÃo

15
Prefeitura de Juiz de Fora / SDS DISQ / Curso Preparatório para Concursos Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533 SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO, TRABALHO E SOCIEDADE E ESPAÇO URBANO - VIOÊNCIA SOCIAL 1- Modernização As palavras ―modernização‖ e ―moderno‖ estão presentes, no senso comum, enquanto termos denotadores de algo que faz parte do presente. Isto é, servem para demarcar coisas como atuais e, muitas vezes, consideradas mais avançadas e melhores. Todavia, na literatura sociológica, modernização surge enquanto um conceito extremamente complexo e amplo. A motivação para tal complexidade do conceito se manifesta porque, para a sociologia, a modernização ou o processo de modernização envolve uma série de transformações que acontecem tanto na estrutura econômica, quanto nas estruturas social e política de uma determinada sociedade. Para exemplificar a complexidade conceitual vejamos como Durkheim (2004), Weber (1979) e Marx (1996) observam tal problemática. Para Durkheim, a divisão do trabalho social avançada junto com a solidariedade orgânica derivada disto e o industrialismo caracterizavam a modernidade. Contudo, para Weber a modernidade tratava-se da racionalização, sobretudo em seu aspecto instrumental. Por fim, em Marx a modernidade possui sua lógica grifada por um elemento: a economia capitalista. Sobre o conceito de modernização é preciso alertar sobre suas nuances eurocêntricas e ocidentais. Ou seja, ele não deve ser aplicado, de forma livre, a todas as sociedades do globo. Tal conceito foi útil para identificar e designar as diversas transformações ocorridas nos sistemas econômicos, políticos e sociais dos países sobretudo europeus ocidentais. De acordo com Giddens (1991) ―"modernidade" refere-se a estilo, costume de vida ou organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se tornaram mais ou menos mundiais em sua influência‖ (GIDDENS, 1991, p. 8). A literatura sociológica não expõe datas precisas e nem eventos históricos entendidos como pontos de partida para o processo de modernização. Contudo, pode-se pensar que as revoluções burguesas e a Revolução Industrial impulsionaram uma espécie de embrião do processo de modernização. Assim, há de se dizer que o processo de modernização afeta um série de estruturas da vida social. Podendo ocorrer, em relação as estruturas da sociedade, de forma paralela ou independente, a modernização é um processo contínuo que resulta em grandes transformações sociais. Sendo assim, concordando com Giddens (1991), os modos de vida produzidos pela modernidade rompem com os tipos tradicionais de ordem social, de um modo sem precedentes. Logo: Tanto em sua extensionalidade quanto em sua intencionalidade, as transformações envolvidas na modernidade são mais profundas que a maioria dos tipos de mudança característicos dos períodos precedentes. Sobre o plano extensional, elas serviram para estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos intencionais, elas vieram a alterar algumas das mais íntimas e pessoais características de nossa

Upload: doanbao

Post on 08-Jan-2017

221 views

Category:

Documents


4 download

TRANSCRIPT

Page 1: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

SOCIOLOGIA - 4ª Parte

MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO, TRABALHO

E SOCIEDADE E ESPAÇO URBANO - VIOÊNCIA SOCIAL

1- Modernização

As palavras ―modernização‖ e ―moderno‖ estão presentes, no senso comum,

enquanto termos denotadores de algo que faz parte do presente. Isto é, servem para

demarcar coisas como atuais e, muitas vezes, consideradas mais avançadas e melhores.

Todavia, na literatura sociológica, modernização surge enquanto um conceito

extremamente complexo e amplo. A motivação para tal complexidade do conceito se

manifesta porque, para a sociologia, a modernização – ou o processo de modernização –

envolve uma série de transformações que acontecem tanto na estrutura econômica,

quanto nas estruturas social e política de uma determinada sociedade.

Para exemplificar a complexidade conceitual vejamos como Durkheim (2004), Weber

(1979) e Marx (1996) observam tal problemática. Para Durkheim, a divisão do trabalho

social avançada – junto com a solidariedade orgânica derivada disto – e o industrialismo

caracterizavam a modernidade. Contudo, para Weber a modernidade tratava-se da

racionalização, sobretudo em seu aspecto instrumental. Por fim, em Marx a modernidade

possui sua lógica grifada por um elemento: a economia capitalista.

Sobre o conceito de modernização é preciso alertar sobre suas nuances eurocêntricas

e ocidentais. Ou seja, ele não deve ser aplicado, de forma livre, a todas as sociedades do

globo. Tal conceito foi útil para identificar e designar as diversas transformações ocorridas

nos sistemas econômicos, políticos e sociais dos países – sobretudo europeus – ocidentais.

De acordo com Giddens (1991) ―"modernidade" refere-se a estilo, costume de vida ou

organização social que emergiram na Europa a partir do século XVII e que ulteriormente se

tornaram mais ou menos mundiais em sua influência‖ (GIDDENS, 1991, p. 8).

A literatura sociológica não expõe datas precisas e nem eventos históricos

entendidos como pontos de partida para o processo de modernização. Contudo, pode-se

pensar que as revoluções burguesas e a Revolução Industrial impulsionaram uma espécie

de embrião do processo de modernização.

Assim, há de se dizer que o processo de modernização afeta um série de estruturas

da vida social. Podendo ocorrer, em relação as estruturas da sociedade, de forma paralela

ou independente, a modernização é um processo contínuo que resulta em grandes

transformações sociais.

Sendo assim, concordando com Giddens (1991), os modos de vida produzidos pela

modernidade rompem com os tipos tradicionais de ordem social, de um modo sem

precedentes. Logo: Tanto em sua extensionalidade quanto em sua intencionalidade, as transformações

envolvidas na modernidade são mais profundas que a maioria dos tipos de mudança

característicos dos períodos precedentes. Sobre o plano extensional, elas serviram para

estabelecer formas de interconexão social que cobrem o globo; em termos intencionais,

elas vieram a alterar algumas das mais íntimas e pessoais características de nossa

Page 2: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

existência cotidiana. Existem, obviamente, continuidades entre o tradicional e o moderno,

e nem um nem outro formam um todo à parte; é bem sabido o quão equívoco pode ser

contrastar a ambos de maneira grosseira. Mas as mudanças ocorridas durante os últimos

três ou quatro séculos — um diminuto período de tempo histórico — foram tão

dramáticas e tão abrangentes em seu impacto que dispomos apenas de ajuda limitada de

nosso conhecimento de períodos precedentes de transição na tentativa de interpretá-las

(GIDDENS, 1991, p. 10-11)

Tratando-se de economia, um sistema econômico ingressa no processo de

modernização ao passo que se torna mais racional e eficiente. Vale lembrar que para Max

Weber a modernização está relacionada com a racionalização da vida, em várias esferas.

Sendo assim, o desenvolvimento e o crescimento econômico são as variáveis que recebem

destaque para que seja determinado o grau de modernização de determinado sistema

produtivo.

O processo de modernização na economia insere mudanças dentro da dinâmica

social. Crescente industrialização, divisão do trabalho cada vez mais alta e alta variedade

de bens de consumo são aspectos deste processo. Todavia, um aspecto que caracteriza

estas mudanças, advindas do processo de modernização, é o ritmo em que as mudanças

se dão. Nas palavras de Giddens: ―As civilizações tradicionais podem ter sido

consideravelmente mais dinâmicas que outros sistemas pré-modernos, mas a rapidez da

mudança em condições de modernidade é extrema‖ (GIDDENS, 1991, p. 12).

Outra característica intrínseca da modernização é o escopo da mudança. Isto é,‖

conforme diferentes áreas do globo são postas em interconexão, ondas de transformação

social penetram através de virtualmente toda a superfície da Terra‖ (GIDDENS, 1991, p. 12).

Por fim, é crucial ressaltar, também, a natureza intrínseca das instituições modernas. Dito

de outra maneira, algumas formas sociais da modernidade não possuem paralelos em

períodos históricos antecedentes, ―tais como o sistema político do estado-nação, a

dependência por atacado da produção de fontes de energia inanimadas, ou a completa

transformação em mercadoria de produtos e trabalho assalariado‖ (GIDDENS, 1991, p. 12).

Logo, devemos perceber que a modernização é um assunto complexo, mas que, de

fato, alterou nossa dinâmica de vida de modo extremamente profundo. Percebemos uma

sociedade cada vez mais envolta no avanço de tecnologias que vieram junto com o

processo de modernização. Contudo, também há problemas. Por exemplo, nem todos os

indivíduos possuem acesso real a variedade de tecnologias. Ou ainda, alargando o escopo,

podemos dizer que países inteiros ficam na margem do processo de modernização.

A teoria da dependência, formulada por uma série de intelectuais, questiona o fato

dos países dependentes somente conseguirem crescer, dentro do processo de

modernização, a medida em que os mercados dominantes se expandem e se tornar

autossustentáveis.

Vejamos tal teoria em uma reportagem da revista Carta Capital:

Poucos ou raríssimos economistas, sociólogos, politólogos, lembraram que a teoria da

dependência já celebrou quatro décadas. Dentre os autores mais representativos dessa

escola, destacaram-se o alemão André Gunder Frank e o ucraniano Paul Baran, e, entre os

brasileiros, os principais formuladores estão Ruy Mauro Marini, falecido em 1997, Theotônio

dos Santos e Vânia Bambirra.

Page 3: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

Em um artigo clássico, A estrutura da Dependência, publicado em 1970 na revista

American Economic Review, Theotônio dos Santos conceitua a dependência como sendo

uma situação na qual a economia de certos países é condicionada pelo desenvolvimento e

pela expansão de outra economia à qual está subordinada. A relação de interdependência

entre duas ou mais economias, e entre estas e o comércio internacional, assume a forma de

dependência quando alguns países (os dominantes) podem se expandir e serem

autossustentáveis, enquanto outros (os dependentes) só podem fazê-lo como um reflexo

daquela expansão, o que pode ter um efeito positivo ou negativo sobre seu

desenvolvimento imediato.

A teoria da dependência parte metodologicamente da formação de uma economia

mundial monopólica, hierarquizada e competitiva como uma dimensão indispensável da

base material da acumulação de capital e ponto de partida para a compreensão dos

distintos capitalismos nacionais. A economia mundial capitalista gera convergência e conflito

de interesses entre as diversas frações de classe que nela exercem papel de direção. É

constituída fundamentalmente pela relação entre as burguesias dos países centrais e

periféricos e suas leis incidem de forma distinta sobre essas regiões, em razão do poder

econômico diferenciado que possuem e das relações de competitividade e compromisso

que estabelecem.

Embora vá centrar sua ênfase numa problemática regional e latino-americana a teoria

da dependência antecipa a teoria do sistema mundial, ao destacar a existência de uma

economia mundial em expansão como elemento central da acumulação de capital e situar o

mundo como objeto de análise condicionante para qualquer investigação regional ou

nacional.

Neste sentido, pode-se compreender algumas das formas históricas de dependência,

como por exemplo, a dependência colonial, a exportação comercial in natura, na qual o

capital comercial e financeiro, em associação com o Estado colonialista, dominava as

relações econômicas dos europeus e das colônias, por meio de um monopólio comercial

complementado pelo monopólio colonial da terra, das jazidas e da força de trabalho (servil

ou escrava) nos países colonizados.

A dependência financeiro-colonial, que se consolidou ao final do século XIX,

caracterizada pela dominação do grande capital nos centros hegemônicos, e sua expansão

no estrangeiro mediante o investimento na produção de matérias-primas e produtos

agropecuários para consumo nos centros hegemônicos. Desenvolveu-se nos países

dependentes uma estrutura produtiva dedicada à exportação de tais produtos, gerando

aquilo que a CEPAL qualificou de ―desenvolvimento voltado para fora‖.

No período pós-guerra, consolidou-se um novo tipo de dependência, baseado em

corporações multinacionais que começaram a investir em indústrias voltadas ao mercado

interno dos países subdesenvolvidos. Cada uma dessas formas de dependência corresponde

a uma situação que condicionou não apenas as relações internacionais desses países, mas

também suas estruturas internas: a orientação da produção, as formas de acumulação de

capital, a reprodução da economia e, simultaneamente, sua estrutura social e política.

Nos anos 90, em toda a América Latina e, particularmente no Brasil, ampliou-se a

relação de dependência entre as economias periféricas e as ditas economias desenvolvidas,

com a desnacionalização das economias, o alinhamento muito mais próximo com os EUA e a

política macroeconômica a mercê dos instáveis humores do mercado financeiro

internacional.

A eleição e reeleição de vários mandatários progressistas nos principais países latino-

americanos, a partir dos anos 2000, vêm aflorando as mais variadas contradições e, ao

mesmo tempo, tem desatado uma enorme reação conservadora. Talvez os ataques da direita

latino-americana e internacional façam ruir nossas esperanças de mudanças pacíficas sem

violência de ambos os lados, cuja confrontação está em processo de maturação e desenhará

o panorama das lutas sociais para os próximos períodos.

Page 4: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

Entretanto, o importante é a união das grandes maiorias e sua disposição de avançar

firmemente para uma sociedade mais justa e humana. Oxalá a teoria da dependência venha

a iluminar o nosso caminho…

Disponível em: http://www.cartacapital

Para finalizar, é importante pensar na modernização enquanto um processo que

ainda está em voga. Provavelmente, a modernização é um dos mais influentes

acontecimentos de nosso tempo. Mas, há um outro acontecimento que possui influência

semelhante ao processo de modernização. Estou me referindo a Globalização.

2- Globalização

Globalização é um dos termos, mais frequentemente utilizados, para designar a atual

conjuntura do sistema capitalista, juntamente com a consolidação do mesmo em vários

lugares do mundo. De certa maneira, a globalização é enxergada como uma total, ou

parcial, integração entre os diferentes locais do planeta e pela maior possibilidade de

contato proporcionada pelos sistemas de comunicação e transporte.

De partida já podemos observar a relação entre modernização e globalização. As

duas são processos integrantes das sociedades capitalistas contemporâneas. Logo, sem

processo de modernização acentuado não há globalização, e vice versa. Dizer que estes

dois acontecimentos são processos, está ligado a ideia de que ambos estão em constante

processo de transformação, de modo que tanto o avanço da tecnologia – oriundo da

modernização – quanto o crescimento da integração mundial – fruto da globalização –

estão acontecendo agora e, consequentemente, afetando os indivíduos e as sociedades

participantes.

Sendo um dos processos de aprofundamento internacional de integração seja

econômico, social, político e cultural, o termo globalização tem seu uso acentuado a partir

da década de 80. O Fundo Monetário Internacional (FMI), em 2000, identificou quatros

aspectos fundamentais da globalização. São eles: movimentos de capital, comércio e

transações financeiras, migração e movimento de pessoas e disseminação do

conhecimento.

Para Ianni (1994) ―a sociedade global não é mera extensão quantitativa e qualitativa

da sociedade nacional‖ (IANNI, 1994, p. 148). Assim, para o autor, a sociedade global é

uma realidade original que ainda carece de maiores análises. Dentro dessas palavras de

Ianni podemos pensar a relação da globalização com os Estados Nações.

A nova política global envolvendo processos de tomada de decisões no interior das

burocracias governamentais e internacionais; processos políticos desencadeados por

forças transnacionais; e, por fim, novas formas de integração mundial entre Estados,

criaram um quadro no qual os direitos e obrigações, poderes e capacidades dos Estados

foram redefinidos. As capacidades estatais foram ao mesmo tempo reduzidas e alargadas,

permitindo ao Estado o cumprimento de uma série de funções que já não podem ser

mantidas senão em conexão com relações e processos globais. Neste sentido os Estados

nacionais se enfraquecem à medida que não podem mais controlar dinâmicas que

extrapolam seus limites territoriais. A interdependência mundial de diversos processos

acaba tornando os países vulneráveis a influências políticas internacionais.

Page 5: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

Com a globalização surgem também blocos econômicos como a União Europeia e o

Mercosul, que teriam como foco criar condições para uma melhor comercialização entre

seus membros, justamente pela interdependência econômica. Houve ainda a criação de

mecanismos internacionais, como a ONU, que trata de assuntos internacionais,

possibilitando, teoricamente, uma maior aproximação entre as nações.

A evolução dos meios tecnológicos é um aspecto relevante da globalização, assim

como o avanço na difusão de ideias e conhecimentos. Por exemplo, caso uma cura de uma

doença seja descoberta na Europa, rapidamente ela pode ser difundida para outras partes

do país. Obviamente que tal difusão dependerá do contexto econômico e social, mas não

se pode negar o avanço.

Uma maior difusão comercial também é um aspecto considerado bom da

globalização. Ademais, tal crescente, no que tange a partir monetária, está ligada ao

acelerado desenvolvimento dos meios de produção e dos meios de comunicação de

massa.

Contudo, há também aspectos negativos dentro deste processo. Uma desigualdade

social profunda, onde poder e renda se concentram nas mãos de poucos atrela a

globalização as próprias contradições capitalistas. Por exemplo, os avanços tecnológicos

não são absorvidos por todos os países. Há, claramente, países que estão na frente deste

processo.

Do ponto de vista cultural, embora exista um processo de aproximação das culturas,

observamos uma valorização e um predomínio do padrão ocidental. O padrão de vida, a

cultura (cinema, moda, música, etc.), os valores e o idioma global, no caso o inglês, são

exemplos de como outros costumes são deixados de fora deste processo. Ao passo que há

este processo de tentar hegemonizar as culturas, colocando as dentro de um padrão

ocidental, crescem os processos de intolerância cultural e xenofobia em diversos países do

mundo.

Ainda nos aspectos negativos, podemos apontar o fato de que as empresas, inseridas

neste contexto de globalização da economia, em nome da concorrência, reduzem os

custos, diminuindo, assim, diversos postos de trabalho. Isso pode piorar quando, por

exemplo, cresce o investimento no mercado financeiro – possibilitando um retorno maior e

mais rápido aos investidores – ao invés do investimento na produção, que este sim geraria

empregos.

Portanto, a globalização é um processo complexo, contraditório e de

desenvolvimento desigual (IANNI, 1994) por parte dos membros do globo que a integram.

Este processo está em curso, e esteve ao longo da história, por isso cabe a sociologia

procurar e elaborar respostas e analises coerentes acerca do mesmo.

3- O Mundo do Trabalho

O mundo do trabalho é fruto da construção humana e constitui-se de fenômenos

mutáveis, suscetíveis à interferência de diferentes atores políticos e sociais. Ao longo dos

séculos, nas sociedades ocidentais, o trabalho foi usado para classificar pessoas. O trabalho

intelectual sempre possuiu maior valor que o trabalho braçal, o que hierarquiza os

indivíduos. Na Grécia Antiga, por exemplo, o trabalho braçal era associado à escravidão.

Page 6: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

As transformações no mundo do trabalho exercem impactos nos trabalhadores, nos

sentidos do trabalho e na organização social. Na Idade Moderna, com o surgimento do

capitalismo, observou-se uma reorganização social, cultural e econômica da sociedade

europeia. Entre os séculos XVIII e XIX, a ideologia capitalista instituiu a orientação para o

trabalho como forma de realização individual e social, entretanto, a degradação, a

exploração e as péssimas condições de trabalho contradiziam esse modelo. No século XX,

com a intensificação do ritmo da produção industrial em decorrência da demanda

crescente por produtos industrializados, característica da sociedade de consumo, fez com

que a produção e o trabalho se acelerassem, alterando drasticamente a vida do

trabalhador.

Evolução do trabalho

ALENCASTRO, M., 1997.

A origem da palavra trabalho deriva do latim vulgar tripalium, que era o nome de um instrumento formado por

três paus aguçados, com o qual os agricultores batiam o trigo, as espigas de milho, o linho, para rasgá-los, esfiapá-

los. A maioria dos dicionários, contudo, registra tripalium como um instrumento de tortura, o que teria sido o

início ou se tornado depois. O fato é que este termo está ligado à ideia de tortura e sofrimento, sentido esse que

se perpetua até hoje, principalmente nos povos de língua latina. (...)

Pelo trabalho, o homem se torna capaz de modificar a própria natureza, colocando-a a seu serviço.

O trabalho exercido de forma qualificada, mediante um preparo técnico científico, específico para determinada

atividade é comumente chamado de profissão. A profissão supõe continuidade e não atividade ocasional e

também status social. A atividade de um engenheiro, por exemplo, é uma profissão, pois exigiu a capacitação de

alguém para exercê-la. (...)

A ociosidade entre as classes senhoris, assim como ocorrera na Grécia antiga, não era sinônimo de preguiça,

mas de abstenção às atividades manuais para se dedicarem as funções mais nobres como a política, a guerra, a

caça, o sacerdócio e o exercício do poder. (...)

A crise da ordem feudal, fundada na subsistência e na servidão, e o desenvolvimento do comércio e das

atividades manufatureiras deu origem a uma nova estrutura social: a sociedade capitalista. (...) E com a produção

mecanizada, o trabalho é glorificado como a essência da sociedade do trabalho. Não se concebe mais a

possibilidade de existir ordem social fora da moral do trabalho produtivo. (...)

O uso do tempo que não de forma útil e produtiva, conforme o ritmo imposto pela fábrica, passou a ser

sinônimo de preguiça e degeneração. Só o trabalho produtivo, fundado na máxima utilização do tempo dignificava

o homem. (...) Adaptação - Guia de Estudos de Sociologia, capítulo II – www.vestibular1.com.br

Como vimos anteriormente, segundo Max Weber, a Igreja Protestante desempenhou

papel fundamental nessa mudança de mentalidade com relação ao mundo do trabalho,

referida no texto acima. Tal influência se deu através do convencimento dos trabalhadores,

livres no capitalismo, a aceitarem a situação de opressão a que estavam sendo submetidos,

já que pregava a vida regrada e a inclinação para o trabalho como caminho de salvação.

Assim, na sociedade contemporânea, percebe-se a importância do trabalho na vida dos

indivíduos como símbolo de dignidade e pertencimento, na medida que o indivíduo

desempregado se sente excluído, indigno e sem identidade, sofrendo pressões sociais por

não ser considerado bem-sucedido.

Taylorismo/Fordismo

Entre as modificações que ocorrem na dinâmica da produção capitalista, o método

de controle da produção de bens materiais é um importante elemento para compreender

as experiências de racionalização do trabalho introduzidas pelo taylorismo e pelo fordismo

que datadas do fim do século XIX e início do XX. Visando organizar o espaço produtivo, o

sistema organizacional chamado taylorismo, idealizado por Frederick W. Taylor,destaca-se

Page 7: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

como a teoria que possuía como objetivo o

aumento da produtividade através de

mecanismos que permitem às administrações

controlarem e intensificarem o ritmo de produção

baseadas em um rigoroso controle de tempo e

movimentos, contribuindo para o aumento do

lucro dos empresários.

Henry Ford, industrial norte-americano, se

utilizou das técnicas tayloristas de organização do

trabalho aliando-as às suas próprias ideias,

surgindo assim o fordismo. Ford introduziu a

esteira mecânica, criando uma linha de

montagem em série, exigindo de cada

trabalhador a especialização em uma única tarefa, estabelecendo uma produção intensa

uma vez que o ritmo era ditado pela velocidade da linha de produção.

Com o objetivo de produção em massa para provocar um consumo em massa foram

atingidos por algum tempo. Os ganhos de produtividade – e a exploração da força de

trabalho – foram bastante significativos. Por outro lado, a ênfase na separação entre a

concepção (gerência) e a execução (trabalho) promoveu a desqualificação do trabalho.

Partia-se do princípio de que os trabalhadores eram pagos para executar, e não para

pensar.

O modelo taylorista-fordista ocasionou alto índice de rotatividade, sobretudo nas

áreas mais próximas às linhas de produção, com baixo nível de qualificação educacional e

profissional dos operários, que os tornava descartáveis. Esse sistema de organização do

trabalho se expandiu para o mundo e tornou-se hegemônico no século XX, sobretudo

após a Segunda Guerra Mundial, calcado no grande crescimento permitido pelo consumo

de massa.

A exploração do operário na linha de produção fordista intensificou a atuação e

resistência sindical. Os sindicatos atuavam para garantir a empregabilidade e o aumento

de salários de acordo com a produtividade geral. Nos Estados Unidos o fordismo,

associado ao Estado de Bem-Estar Social, possibilitou uma margem de atuação aos

sindicatos e a garantia de direitos trabalhistas.

Toyotismo – Sistema flexível de produção

As reestruturações produtivas podem ser consideradas elementos estruturais das

sociedades capitalistas. Nas últimas décadas do século XX e início do século XXI, o

taylorismo-fordismo foi substituído gradativamente por uma nova forma de organização

da produção e, em nosso contexto atual, a organização do trabalho experimenta uma nova

estrutura: o toyotismo.O toyotismo é uma forma de organização da produção introduzida

em 1960 por Taiichi Ohno, engenheiro de produção da Toyota no Japão, que promove a

passagem dos sistemas de produção ―estáticos‖ para os ―flexíveis‖, rompendo com a

produção em série. O Toyotismo se apoia na flexibilização das relações de trabalho e

dos processos produtivos.

Esse modelo se baseia no sistema Just in Time, em uma produção sob demanda que

permite não estocar produtos através da coordenação da entrega de produtos ou matérias

Figura 1 - Linha de produção em outubro de 1913 em uma fábrica da Ford, nos Estados Unidos.

Page 8: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

primas para produção, permitindo assim que a empresa venda o produto antes de

comprar as matérias primas necessárias para fabricá-lo. O toyotismo,apesar deprovocar

grande aumento da produtividade do trabalho, manteve o mesmo nível de controle sobre

o trabalhador.

O futuro do trabalho

DUPAS, Gilberto. O futuro do trabalho (1). O Estado de S. Paulo, 20.10.07.

―O trabalho remunerado, atividade essencial ao engajamento econômico e social do ser humano na

sociedade, está em crise. O capitalismo global contemporâneo trocou lealdade por produtividade imediata e

acabou com a época dos relógios de ouro como prêmio por longo tempo de dedicação. Ninguém mais tem

emprego de longo prazo garantido na sua atual empresa. As próprias capacidades individuais, adquiridas por

estudo ou experiência, ficam sucateadas a cada oito ou dez anos. O emprego será cada vez mais voltado para

tarefas ou projetos de duração definida. (...)‖ OLIVEIRA, Pérsio dos Santos. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática, 2009

Com a crise do petróleo (1973), que impulsionou a crise de superprodução, ocorrem

mudanças não apenas na forma de organização da produção, mas também na

intensificação do processo de globalização da economia. O mercado globalizado forçou o

desenvolvimento de novas estratégias de racionalização e de redução de custos, que

tiveram sérias implicações para o nível de qualidade e emprego.

Há um reordenamento das funções cotidianas nas fábricas e a utilização de novas

tecnologias – acelerando a utilização da robótica na linha de montagem. A indústria

automobilística foi a primeira a passar por essas mudanças,que torna a fabricação mais

enxuta, produzindo de acordo com a demanda do mercado.Esse modelo passa a ser

utilizado como uma das saídas para resolver a crise da sociedade na esfera produtiva.

Figura 2 – Linha de produção do sistema toyotista

Em resumo, o padrão toyotista se diferencia do fordismo nos seguintes aspectos:

a) enquanto o fordismo produzia em massa; o toyotismo produzia na medida em que

ocorre uma procura por determinado modelo de automóvel;

b) o trabalho parcelar e individualizado passa a conviver com o trabalho em equipe, em

que as máquinas vão sendo utilizadas pelo grupo de trabalhadores responsáveis que

operam várias máquinas. Essa característica intensifica um processo de convencimento

do trabalhador, quando das mais diversas formas – reuniões, jornais internos,

premiações – ele é instigado a ―vestir a camisa da empresa‖, e passa a achar que faz

Page 9: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

parte de uma equipe e que é capaz de participar efetivamente do processo. Porém, as

decisões sobre o que vai ser produzido, quem vai ser demitido, em qual região do

mundo a fábrica vai se instalar, não passa pelo seu crivo;

c) o trabalho deixa de ser especializado em uma única tarefa e passa a ser feito por um

operador preparado para realizar mais de uma função dentro do processo produtivo;

d) o planejamento da produção é adequado à demanda e a produção de mais de um

modelo e automóvel pode ser realizada na mesma fábrica, o que é diferente do

fordismo, quando há uma padronização e se produz somente um modelo de automóvel.

Com essas mudanças as funções diminuem, possibilitando um enxugamento no

processo produtivo e, consequentemente, redução da oferta de emprego com carteira

assinada. Neste momento de desenvolvimento do capitalismo, a globalização se

consolida e ocorre uma flexibilização do processo produtivo, que deixa de ser rígido;

seguida - menos de duas décadas depois - da flexibilização das relações trabalhistas. No

Brasil, assim como em outros países, surgem em cena trabalhadores cooperados,

temporários e terceirizados, caracterizando a precarização do trabalho, traduzida em

menor formalização das relações de emprego, baixos salários, maior jornada, maior

rotatividade e menor segurança para o trabalhador.

Com o toyotismo surge também o sindicalismo de empresa, no qual o sindicato

estabelece uma relação que favorece a aplicação de uma política sindical que tende a

alinhar-se com a estratégia de negócios da empresa, gerando uma espécie de

convergência de objetivos.Esse modelo passou a rivalizar com o sindicalismo combativo –

de confronto, de classe e de luta – típico do sistema taylorista-fordista. Além disso, a

flexibilização produtiva e as novas formas de trabalho (flexibilização das leis trabalhistas)

modificaram a atuação e a importância dos sindicatos. A terceirização, os contratos, o

trabalho informal e doméstico fizeram com que muitos trabalhadores perdessem o vínculo

com seu local de trabalho, uma vez que se tornaram apenas prestadores de serviços. A

atuação do sindicato fica comprometida pela dificuldade de mobilização dos profissionais,

que estão em constante rotatividade. As baixas taxas de sindicalização apontam para uma

crise socioinstitucional dos sindicatos, que necessitam se adaptar às novas condições de

trabalho e produção.

Se por um lado a automatização (em bancos, escritórios, telecomunicações etc.)

eliminou empregos para trabalhadores qualificados, por outro propiciou aumento de

postos de trabalho em setores da economia antes pouco expressivos, como o de

Tecnologia da Informação. No Brasil, desde a década de 1980, somente o setor terciário

tem crescido no total da ocupação nacional. Com o crescimentodo desemprego estrutural,

também crescem a informalidade e o subploretariado do mercado formal. E ainda

persistem práticas coercitivas e degradantes de relações trabalhistas (trabalho análogo à

escravidão), principalmente no campo, e muitas vezes integradas à economia moderna e

globalizada.

4 – Sociedade e espaço Urbano – Violência Social

Sociologia Urbana

Page 10: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

O conjunto de conhecimentos teóricos que buscam refletir sobre a realidade das

grandes cidades1 é compreendido como Sociologia Urbana. Combinados com estudos

históricos e geográficos, as perspectivas sociológicas debatem sobre as dinâmicas que

tornam a cidade o centro da organização social moderna. Interessa perceber como e por

que as cidades se desenvolvem como produto das relações sociais e quais os conflitos

específicos que decorrem de tal desenvolvimento.

A revolução francesa e industrial provocaram intensas transformações econômicas,

políticas e culturais. O advento da democracia representativa e a industrialização do

capitalismo, resultou em novos modos de vida e conflitos urbanos particulares. Os estudos

científico das cidades foram, portanto, elaborados simultaneamente aos desenvolvimento

capitalista e da própria disciplina sociológica.

Duas abordagens merecem destaque dentro do campo sociológico: a abordagem da

―Escola de Chicago‖ que enfatiza os aspectos de uma ordem implícita em meio ao caos

aparente das cidades; e a ―Nova Sociologia Urbana‖, perspectiva marxista que percebe a

organização social e espacial das cidades a partir dos conflitos sociais contemporâneos.

Escola de Chicago

Na primeira metade do século XX, surgiram nas Ciências Sociais uma forma de

compreensão do espaço urbano como ecossistema, ou seja, como resultado de um

desenvolvimento natural de relações ecológicas entre seres humanos. Influenciados

principalmente pela sociologia clássica do alemão Georg Simmel, a ―Escola de Chicago‖

desenvolveu durante a década de 20 nos Estados Unidos da América, diversas abordagens

sobre o fenômeno urbano.

Simmel trouxe importantes contribuições para as reflexões sobre o comportamento

nos centros urbanos durante a virada do século XIX e XX. Em seu clássico ensaio ―A

metrópole e a vida mental‖, analisa as condições psicológicas resultantes da vida na cidade

que geraram uma busca pela individualidade, a partir da especialização cada vez maior

que decorre da fragmentação da produção capitalista. Ao mesmo tempo, essa

especialização resultou em uma forte interdependência entre os indivíduos.

Diante dos inúmeros estímulos aos quais os indivíduos da cidade são exposto,

Simmel afirma que essas mudanças radicais na cidade exigem de seus habitantes certa

indiferença pelo excesso de estímulos que recebe (prédios, propagandas, poluição,

indivíduos) o que o autor nomeia de ―atitude blasé‖. Ainda segundo Simmel, o

metropolitano agiria com a ―cabeça‖ e o morador do campo com o ―coração‖.

Sendo racionais, as relações metropolitanas seriam extremamente superficiais,

marcadas pela impessoalidade. Por exemplo, ao ir aos banco, aos correios, ao lidar com o

1 Somente em um sentido muito abrangente é possível dizer que cidades da Antiguidade como Ur (na antiga

Mesopotâmia, atual Iraque) ou Atenas (na Grécia), que surgiram há mais de 8 mil e 3 mil anos, respectivamente, são

resultado do mesmo fenômeno urbano que deu origem às cidades industriais modernas. De modo geral, as cidades

surgiram como resultado de transformações sociais abrangentes, que alteraram a organização da produção, a política e a

cultura dos primeiros agrupamentos humanos. Essas transformações tornaram os primeiros assentamentos permanentes

das antigas populações nômades muito mais complexos, em especial pela formação de segmentos sociais que não se

dedicavam diretamente à produção para atendimentos das necessidades do grupo, como governantes, burocratas,

sacerdotes e guerreiros. Junto a essa população não produtora também se desenvolveram grupos de artesão

especializados (carpinteiros, ferreiros, tecelõesetc.) que marcaram desde o início o caráter comercial das cidades

nascentes (VÁRIOS AUTORES, Sociologia em Movimento, 2013, p.311).

Page 11: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

trocador de ônibus, nos relacionamos com funcionários e não com indivíduos, ou seja,

pouco importa as características da personalidade daquele indivíduo.

Para além da psicologia dos moradores da cidade, às Ciências Sociais também se

atentavam para outros aspectos. A Escola de Chicago utilizou o princípio teórico da

Ecologia Urbana para nortear as explicações sobre o fenômeno urbano. Sob influência

funcionalista, utilizava princípios da Biologia para explicar a distribuição espacial dos

indivíduos e grupos em meio urbano. De acordo com essa perspectiva, a interação social

era tida como uma ―competição biótica‖ ou ―natural‖ por vantagem territorial, funcionando

através de processos ecológicos de invasão, dominação e sucessão, marcada

principalmente por ―áreas naturais‖ ou ―morais‖ delimitadas na cidade por uma base social

(como etnia ou posição de classe).

Donald Pierson, importante sociólogo da Escola de Chicago e que morou no Brasil

entre o final das décadas de 30 e 50, argumentava que o meio urbano constitui uma série

de interações sociais que promovem diferenças qualitativas nas relações interpessoais. Tal

lógica ficou conhecida como ―comunidade-sociedade‖, em que comunidade refere-se ao

modelo de relações em pequenas vilas ou áreas rurais, onde todos se conhecem e

interagem, como produto temo um tipo de socialização em que a personalidade individual

dos habitantes possui maior influência sobre a coletividade, no entanto, cerceado por

forças sociais coercitivas que regulam os comportamentos considerados adequados

naquela comunidade, os indivíduos perdem em liberdade. Sociedade refere-se a

socialização nos grandes centros urbanos, onde embora os indivíduos possuam maior

liberdade por serem menos regulados por forças sociais, exercem menor influência

individual na sociedade como um todo.

A Nova Sociologia Urbana

Os estudos conhecidos como ―Nova Sociologia Urbana‖ surgiram durante a década

de 70 quando sociólogos franceses também se debruçaram sobre o tema, mas a partir de

outra perspectiva. Criticavam as concepções anteriores afirmando que atribuir ao ambiente

a causa de comportamentos e relações sociais era uma psicologização e naturalização das

estruturas sociais complexas do capitalismo. Sendo assim, a cidade deveria ser

compreendida como espaço produzido por conflitos inerentes ao capitalismo.

De acordo com Manuel Castells, importante represente desta escola, a ocupação do

espaço e a expansão das cidades seriam determinadas somente por relações sociais.

Diferenciando-se das cidades feudais ou da Antiguidade, as relações da produção

capitalista engendraram as cidades a partir de sua lógica, ou seja, a partir das condições de

propriedade e de organização da produção

Em resumo, as cidades modernas se desenvolveram a partir do crescimento da

indústria e do comércio que levou muitos trabalhadores a deixarem o campo por falta de

meios de produção para venderem sua mão de obra nas fábricas e comércios. No começo

desse processo, os próprios donos das fábricas eram responsáveis por oferecer moradia,

alimentação e transporte para os funcionários. Contudo, com o desenvolvimento das

relações de trabalho e de forças produtivas, tal função foi deslocada cada vez mais para o

Estado.

Page 12: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

Violência Urbana: a cultura do medo2

O Mapa da Violência desenvolvido em 2012 pelo Centro Brasileiro de Estudos Latino-

Americanos da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (CEBELE/FLACSO), destaca

que 79% dos cidadãos brasileiros, principalmente os que moram em grandes cidades,

possuem muito medo de serem assassinados. Esse sentimento de medo compartilhado

vem sendo investigado por estudos sociológicos da atualidade. A difusão da sensação de

medo está associada não só ao crescimento real da criminalidade, mas também a fatores

subjetivos, como a dramaticidade de eventos violentos relatados pela mídia.

Como resultado dessa percepção de medo, proliferam-se shopping centers,

condomínios fechados e são reduzidos os serviços noturnos como transporte público,

educação e opções de lazer, que passam a funcionar cada vez mais em ambientes

fechados. Também como consequência de tal sentimento, a vida privada passa a ser cada

vez mais monitorada por sistemas de vigilância e câmeras.

Ao se dedicar a investigar esses fenômenos, a sociologia busca contribuir para a

explicação da violência na vida moderna, comparando com outros momentos históricos e

ressaltando suas consequências nas cidades, visando ainda construir alternativas que não

reproduzam a segregação social e o estabelecimento da cultura do medo.

Podemos afirmar que tanto no campo como nas cidades grandes e pequenas há

violência. O destaque que ganhou a expressão ―violência urbana‖ no final da década de

70 deve ser entendido não só como termo que qualifica no senso comum a violência na

cidade, mas também os conceitos sociológicos de ―criminalidade3’, ―segregação‖ e

―exclusão‖.

É necessário para compreender o aumento dos casos de violência nos últimos anos

em meio ao espaço urbano e as mudanças na sua intensidade e letalidade, levar em conta

os meios pelos quais se constrói a coesão social, a partir de valores e normas que

determinam comportamentos considerados como desviantes e as possibilidades

concretas disponíveis para levar movimentos violentos às últimas consequências.

Nesse sentido, a Sociologia Clássica (Karl Marx e Durkheim principalmente) fornece

categorias de análise interessantes para pensar tal fenômeno, como as ideias de coesão

social, anomia e classe social. As ―causas‖ dos comportamentos desviantes eram

entendidas no início da sociologia levando-se em conta a ideia de que a criminalidade tem

origem no próprio indivíduo. Posteriormente, foram elaboradas teorias que buscavam

mostrar que as ideias de ―errado‖ ou ―desviante‖ têm significados construídos socialmente

e que passam por processos de legitimação de normas consideradas como adequadas (a

obra de Howard Becker ―Outsiders‖ publicada na década de 60 é uma importante

referência nesse sentido). Como resultado, temos uma maior valorização de pesquisas

qualitativas que buscam demonstrar o caráter construído da legitimação e do desvio e da

2 Cultura do medo: resultado cultural desagregador que ocorre quando um sentimento difundido de perigo se

reproduz na sociedade, diminuindo o grau de coesão entre os indivíduos e facilitando estratégias de dominação autoritárias, que se valem do processo de isolamento e alienação social. Na atualidade, a cultura do medo está fortemente associada à criminalidade urbana e aos valores do senso comum associados a esse fenômeno. (VÁRIOS

AUTORES, Sociologia em Movimento, 2013, p.319). 3 Crime: Transgressão socialmente determinada de regras e leis cuja ofensa extrapola a esfera individual e atinge a

pública, o que acarreta determinadas sanções e medidas punitivas ao infrator.

Page 13: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

diversidade de interpretações possíveis da vida social (a obra de Howard Becker

―Outsiders‖ publicada na década de 60 é uma importante referência nesse sentido).

Erving Goffman é um importante representante da Escola de Chicago e suas

concepções sobre desvio e estigmas nas sociedades capitalista, influenciam cientistas

sociais até os dias de hoje. Goffman busca compreender como são integrados ou

segregados determinados grupos sociais. O autor mostra que prisioneiros, pessoas com

alguma doença física ou mental e certas etnias e religiões são estigmatizados e não aceitas

plenamente pela sociedade por carregar tais marcas.

Inspirados pelo marxismo e por Max Weber, na década de 70 e 80, surgiu a teoria da

dominação, responsável por pensar em formas de violência institucional. Ou seja, mostram

que a ―violência urbana‖ não se restringe apenas aos comportamentos desviantes, mas

que existe também uma violência do Estado e das classes dominantes contra a população

mais pobre.

Atualmente os debates sobre ―criminalização da pobreza‖ destacam o fato de que

processo de encarceramento e de estigmatização dos mais pobres não tem como intuito a

busca por segurança, mas trata-se sim de um ―saneamento‖ social, que atinge

principalmente os não brancos. No Brasil esse processo já foi comparado a uma ―limpeza

étnica‖, já que atinge principalmente os mais pobres, em sua maioria negros ou pardos.

Basta olhar para os presídios superlotados para identificar tal segregação racial e social.

Loic Wacquant sociólogo francês que pesquisou conflitos urbanos nos Estados

Unidos e na Grã-Betanha, diferencia dois tipos de violência nas cidades contemporâneas: a

―violência vinda de baixo‖ –explosões de revolta que envolvem, principalmente, jovens das

áreas pobres da cidade; e a ―violência vinda de cima‖ – traduzida no impacto das políticas

econômicas e sociais, ou da ausência delas, sobre as condições de vida das populações.

Segregação socioespacial

Ao olhar para a cidade são notórias as diferenças entre os bairros, formas de

moradia, transporte, conservação dos equipamentos públicos e sua população. A

segregação espacial urbana é um aspecto importante do processo de formação da

sociedade brasileira e consiste na concentração de algumas classes em determinadas

regiões ou bairros. Tanto no Brasil como em outros países capitalista, embora ricos

também possam segregar-se em condomínios fechados, são segregados principalmente

os pobres. Afastados dos locais de trabalho, a população mais vulnerável, precisa gastar

com deslocamento e fica distante dos equipamentos culturais e de lazer e outros recursos

presentes no centro da cidade, contribuindo assim para a reprodução das desigualdades.

Centro e periferia são oposições promovidas principalmente pela especulação

imobiliária, que encarece imóveis em áreas centrais, impossibilitando que determinadas

camadas sociais tenham acesso. Associado a isso, essa oposição também é fruto de

políticas públicas conservadoras de habitação que afastam de forma planejada os mais

pobres dos centros e bairros mais valorizados.

O estabelecimento de algumas áreas residenciais também resulta em uma demanda

de certos trabalhos para a população mais pobre como: segurança; manutenção;

jardinagem; construção civil; serviços domésticos etc., essa demanda fez com que a

população mais pobre ocupasse informalmente áreas em volta dos locais mais abastados

em muitas cidades brasileiras.

Page 14: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

Cidade de São Paulo, comunidade separada de um condomínio fechado.

Um exemplo visível da segregação socioespacial nas grandes cidades brasileiras.

Uma outra forma de segregação se dá também a partir da construção de algumas

áreas urbanas isoladas e que são destinadas a alguma atividade especifica, como comércio,

indústria e lazer. Brasília é um bom exemplo de cidade planejada que tem como

característica esse tipo de segregação.

É importante enfatizar que no Brasil a distribuição da terra como meio de produção

e habitação tem como critério o privilégio e não o direito. Na sociedade escravocrata isso

é era mais evidente, já que aos negros cabia apenas o trabalho pesado, pois a Coroa

portuguesa concedia terras apenas aos senhores brancos e à Igreja,

No livro Habitação e Cidades, a arquiteta paulista Ermínia Maricato demonstra como

os escravizados foram fundamentais para a construção e manutenção das cidades,

encarregados do abastecimento de água, da eliminação do esgoto, do transporte e outros

trabalhos. Contudo, a autora mostra que mesmo com tanto esforço, após a Abolição, não

houve nenhuma compensação na forma de aquisição de direito à cidadania para esta

população negra.

A ―Lei de terras‖ instituída em 1850, (uma semana após a extinção do tráfico de

negros escravizados) e que regulamentou o sistema de compra e venda de terrenos,

afastou de forma mais efetiva a possibilidade dos negros terem acesso à propriedade

naquele contexto. Diante dessa impossibilidade de adquirir terras, restou a população

pobre recorrer à ocupação ilegal de encostas de morros e outros espaços sem valor

comercial. No decorrer da história do Brasil, diversas leis e códigos foram elaborados pelas

elites governantes com o intuito de regulamentar a construção de habitações nas cidades.

Consequentemente, contribuíram para a segregação socioespacial, atingindo

principalmente as populações mais pobres.

Page 15: SOCIOLOGIA - 4ª Parte MODERNIZAÇÃO, GLOBALIZAÇÃO

Prefeitura de Juiz de Fora / SDS – DISQ / Curso Preparatório para Concursos

Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

Referências

DURKHEIM, E. Da divisão do trabalho social. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes. 2004.

GIDDENS, A. As consequências da modernidade. São Paulo: UNESP. 1991.

IANNI, O. Globalização: novo paradigma das ciências sociais. In: Estudos avançados. Vol. 8,

n 21. São Paulo, mai./ago., 1994.

MARX, Karl; Engels. Manifesto do Partido Comunista. 6ª ed. Petrópolis: Vozes. 1996.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. ―Introdução a Sociologia‖. SP: Ed. Ática, 2009.

SILVA, Cláudio. Guia de Estudos de Sociologia. Capítulo II. Disponível em

www.vestibular1.com.br

VÁRIOS AUTORES. Sociologia– Curitiba: SEED-PR, 2006.

VÁRIOS AUTORES, Sociologia em Movimento. 1. Ed. – São Paulo: Moderna, 2013.

WEBER, M. Ensaios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar. 1979.