sociologia 1ª parte

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Prefeitura de Juiz de Fora / SDS DISQ / Curso Preparatório para Concursos Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533 1 SOCIOLOGIA 1ª Parte O QUE É A SOCIOLOGIA? A sociologia é uma ciência que busca compreender os fenômenos sociais. Em nossa vida em sociedade inúmeros são os exemplos de questões em que a sociologia se debruça. Família, trabalho, renda, escolaridade, partidos políticos ou instituições, são apenas alguns exemplos do vasto campo em que a sociologia se aplica. Ela se encarrega de explicar o “como” e o “por quê” da sociedade ser como é, podendo e devendo- propor mudanças para melhorá-la cada vez mais. Por isso é tão importante estudar sociologia, pois quando entendemos como a sociedade funciona e qual nosso papel dentro dela, nos tornamos sujeitos ativos, críticos e autônomos capazes de gerar mudanças positivas para todos. Esta ciência da sociedade se diferencia do senso comumao se expressar por meio de conceitos, possuir métodos e instrumentos próprios de coleta e análise de dados e seguir certos critérios para que os resultados da pesquisa tenham validade. A pesquisa em sociologia pode tanto ter cunho quantitativo(quando queremos aferir a regularidade de determinado fenômeno), quantoqualitativo(quando procuramos compreender a fundo como esses fenômenos surgem e se desenvolvem). No entanto, essas duas dimensões são comumente usadas em conjunto, complementando uma a outra e produzindo um vasto entendimento sobre o fenômeno que se quer estudar. COMO A SOCIOLOGIA SURGIU? A influência dos mitos, da religião e de divindades diversas nas sociedades antigas era determinante no entendimento do mundo. Na sociedade do Egito Antigo tudo girava em torno da vida após a morte. Era como se as pessoas passassem seu tempo na Terra se preparando para a vida no além. Essa e outras sociedades, como as da Mesopotâmia, já apresentavam uma organização bastante complexa. Tinham governo, exército, funcionários, códigos de eis. Os gregos e os romanos, por sua vez, além de apresentarem complexa organização material, deram grandes passos no estudo da natureza e do comportamento humano. Com a Filosofia, desenvolveram reflexões sobre as quais se construiu o edifício da civilização ocidental. Além disso, produziram numerosas e riquíssimas obras literárias. Os romanos dedicaram-se também a elaborar e organizar códigos de leis. Até hoje, o Direito Romano faz parte dos estudos dos cursos de Direito e dos códigos de leis modernos. Mas o entendimento que a maioria das pessoas da época tinha sobre os fenômenos da natureza estava diretamente ligado aos mitos e às forças sobrenaturais. A origem do mundo e dos seres humanos, fenômenos da natureza como enchentes, secas, eclipses do Sol e da Lua, trovões, tempestades, relâmpagos, doenças eram atribuídos a forças de deuses, espíritos, animais sagrados. O Cristianismo, que se implantou na sociedade ocidental a partir do século IV, não modificou essa realidade, apenas substituiu as múltiplas divindades das sociedades antigas por uma única divindade, o Deus dos cristãos. E os santos passaram a fazer parte dos entes sobrenaturais associados à vida celeste. Durante os cerca de mil anos da Idade Média ocidental, a vida foi quase que totalmente regulada pela total subordinação às leis da Igreja e à crença em Deus: reis, bispos, nobres e servos tinham cada um seu lugar nas diversas camadas da

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Rua Halfeld, 450 / 5º andar - Centro - CEP: 36010-000 – Tel.: (32) 3690-8503 / 3690-8533

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SOCIOLOGIA

1ª Parte

O QUE É A SOCIOLOGIA?

A sociologia é uma ciência que busca compreender os fenômenos sociais. Em nossa vida em sociedade inúmeros são os exemplos de questões em que a sociologia se debruça. Família, trabalho, renda, escolaridade, partidos políticos ou instituições, são apenas alguns exemplos do vasto campo em que a sociologia se aplica. Ela se encarrega de explicar o “como” e o “por quê” da sociedade ser como é, podendo – e devendo- propor mudanças para melhorá-la cada vez mais. Por isso é tão importante estudar sociologia, pois quando entendemos como a sociedade funciona e qual nosso papel dentro dela, nos tornamos sujeitos ativos, críticos e autônomos capazes de gerar mudanças positivas para todos. Esta ciência da sociedade se diferencia do senso comumao se expressar por meio de conceitos, possuir métodos e instrumentos próprios de coleta e análise de dados e seguir certos critérios para que os resultados da pesquisa tenham validade. A pesquisa em sociologia pode tanto ter cunho quantitativo(quando queremos aferir a regularidade de determinado fenômeno), quantoqualitativo(quando procuramos compreender a fundo como esses fenômenos surgem e se desenvolvem). No entanto, essas duas dimensões são comumente usadas em conjunto, complementando uma a outra e produzindo um vasto entendimento sobre o fenômeno que se quer estudar.

COMO A SOCIOLOGIA SURGIU?

A influência dos mitos, da religião e de divindades diversas nas sociedades antigas era determinante no entendimento do mundo. Na sociedade do Egito Antigo tudo girava em torno da vida após a morte. Era como se as pessoas passassem seu tempo na Terra se preparando para a vida no além. Essa e outras sociedades, como as da Mesopotâmia, já apresentavam uma organização bastante complexa. Tinham governo, exército, funcionários, códigos de eis. Os gregos e os romanos, por sua vez, além de apresentarem complexa organização material, deram grandes passos no estudo da natureza e do comportamento humano.

Com a Filosofia, desenvolveram reflexões sobre as quais se construiu o edifício da civilização ocidental. Além disso, produziram numerosas e riquíssimas obras literárias. Os romanos dedicaram-se também a elaborar e organizar códigos de leis. Até hoje, o Direito Romano faz parte dos estudos dos cursos de Direito e dos códigos de leis modernos. Mas o entendimento que a maioria das pessoas da época tinha sobre os fenômenos da natureza estava diretamente ligado aos mitos e às forças sobrenaturais. A origem do mundo e dos seres humanos, fenômenos da natureza como enchentes, secas, eclipses do Sol e da Lua, trovões, tempestades, relâmpagos, doenças eram atribuídos a forças de deuses, espíritos, animais sagrados.

O Cristianismo, que se implantou na sociedade ocidental a partir do século IV, não modificou essa realidade, apenas substituiu as múltiplas divindades das sociedades antigas por uma única divindade, o Deus dos cristãos. E os santos passaram a fazer parte dos entes sobrenaturais associados à vida celeste. Durante os cerca de mil anos da Idade Média ocidental, a vida foi quase que totalmente regulada pela total subordinação às leis da Igreja e à crença em Deus: reis, bispos, nobres e servos tinham cada um seu lugar nas diversas camadas da

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sociedade; e o papel de cada um na vida estava definido nos planos divinos. O ser humano não tinha autonomia para mudar essa ordem. A reflexão individual, a crítica, a discordância constituíam exceção e eram severamente reprimidas pela Igreja, que tinha o monopólio da verdade e da informação.

As diversas formas de conhecimento

A espécie humana não se limita apenas a sobreviver no mundo, mas também procura entendê-lo e modificá-lo de acordo com as diferentes formas através das quais percebe a realidade. Essa busca, que articula a realidade objetiva (como se apresenta aos sentidos) e outra realidade, subjetiva (como essa é percebida pelos indivíduos), é a matriz sobre a qual se constrói o que chamamos de conhecimento.

Podemos definir conhecimento como toda compreensão e prática adquiridas, cuja memória e transmissão permitem lidar bem com as tarefas do dia a dia. Portanto, podemos afirmar que todos somos capazes de produzir conhecimento, mas existem diferenças de acordo com a forma na qual esse conhecimento é produzido.

Conhecimento científico: No século XX, o conhecimento formal baseado na observação e experimentação, aliado à sua aplicação útil, tornou-se o aspecto principal do que conhecemos como ciência. Assim, o conhecimento científico é o produto da busca por constantes explicações sobre os diferentes eventos que ocorrem no mundo. Todavia, tais explicações necessitam, em sua construção, a execução de um método organizado com base em teorias correntes e socialmente aceitas.

Embora a ciência tenha papel central no mundo moderno, outros tipos de conhecimento – como o religioso, o filosófico e o de senso comum – não desapareceram da realidade social.

Conhecimento religioso: Diferentemente da ciência, a religião é um conhecimento sustentado pela crença na existência de uma realidade exterior ao mundo que influencia o entendimento e a explicação da realidade social. Os ensinamentos religiosos orientam, assim, uma compreensão e prática de vida fundamentada nos princípios religiosos.

Conhecimento filosófico: Este tipo de conhecimento objetiva explicar o universo e investigar questões sobre as quais o conhecimento religioso ou teológico estabeleceu princípios baseados em uma perspectiva diferente. Mesmo que seus resultados não necessitem de uma comprovação em testes de verificação, não podem deixar de obedecer os princípios da razão. Então, a filosofia empreende um esforço para dar sentido racional aos mistérios do mundo.

Senso comum: Desde quando nascemos, apreendemos sistematicamente informações sobre o mundo. Tal conhecimento, sustentado fundamentalmente na experiência, é entendido como sendo o senso comum. Um conhecimento vulgar e prático que, no cotidiano, oriente nossas ações e lhes confere sentido, pode ser considerado como senso comum. De fato, na maior parte do nosso dia a dia agimos conforme o que consideremos adequado de acordo com nossa experiência no mundo.

Senso comum e ciência: Desde o estabelecimento da ciência enquanto o principal modo de conhecimento sobre o mundo, o debate acerca da relação entre ciência e senso comum se consolidou. Há dois lados: os defensores da oposição entre ciência e senso comum; que destacam a ciência enquanto um conhecimento neutro e racional, postando o senso comum como um olhar parcial e irracional sobre a realidade; e os que defendem uma aproximação entre o senso comum e a ciência, isto é, estes dois conhecimentos devem ser compreendidos como complementares. O objetivo desses últimos, de forma geral, é uma tentativa de tornar o senso comum menos supersticioso e restrito à tradição, juntamente com uma ciência mais acessível e inteligível a todos.

Referência Bibliográfica: Sociologia em Movimento – 1 ed – São Paulo: Moderna 2013.

Responda a seguinte questão: Considerando as diversas formas de conhecimento, explique por que a sociologia se encaixa dentro dos moldes do pensamento científico e suas possíveis relações com o senso comum.

DO HUMANISMO À REVOLUÇÃO CIENTÍFICA (Séc. XVI ao XVII)

A partir do final do século XV, uma nova mentalidade começou a se formar. Artistas, pensadores e sábios passaram a dar mais importância ao ser humano em carne e osso como centro da vida. Para eles, as pessoas podiam decidir por si mesmas o seu destino, sem depender totalmente de Deus. O ser humano seria o centro de tudo. Esse conjunto de ideias recebeu o nome de humanismoe o movimento que envolveu todo esse conjunto de transformações, Renascimento.

O Renascimento foi o primeiro movimento que quebrou a visão da vida e da sociedade centrada totalmente em Deus. Nos

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séculos XVII e XVIII, pensadores avançaram mais. Afirmavam que a natureza, a vida e a sociedade deviam ser entendidas por meio da razão e não da fé em Deus. Ou seja, que as pessoas deviam tentar entender as causas dos acontecimentos e não simplesmente atribuí-los a forças sobrenaturais. Também afirmavam que as pessoas nascem todas iguais, sem direitos e privilégios herdados. Foram eles que introduziram as ideias de liberdade e direitos individuais. Os pensadores mais importantes desse movimento foram os que encabeçaram o Iluminismo.

À época, o Iluminismo foi um movimento revolucionário, cujas ideias influenciaram muitos movimentos políticos e sociais posteriores. A independência dos Estados Unidos e os princípios que constam na Constituição americana tiveram origem nos ideais do Iluminismo. Mas a Revolução Francesafoi, sem dúvida, o acontecimento que mais longe levou os princípios iluministas, ao proclamar e estabelecer com alcance universal os direitos à igualdade e à liberdade individuais. Foram os líderes da Revolução Francesa que elaboraram o primeiro documento – a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão – de caráter não religioso para definir o comportamento das pessoas. Pode-se afirmar que os princípios e as ideias que se originaram a Revolução Francesaconstituíram as sementes das explicações sociológicas da sociedade humana.

Ao longo do século XIX, com a Revolução Industrial intensificando-se em diversos países da Europa e dos Estados Unidos, profundas transformações tiveram lugar nesses países, com consequências no resto do mundo. Milhões de pessoas deixaram o trabalho na agricultura e passaram a empregar-se como assalariados em fábricas e a viver nas cidades. O governo, a economia, a educação, a família passaram por grandes mudanças. No campo da Ciência as

transformações não foram menores. A natureza e a sociedade podiam agora ser analisadas com os instrumentos da razão, despertada pelo Iluminismo, e da observação objetiva possibilitada pelo avanço científico, e não mais sob a luz da religião. Em resumo, as bases científicas estavam plantadas para a observação e o estudo sistemático dos fatos sociais, isto é, da sociedade humana.Assim, a sociologia surgiu com os “tempos modernos”, na virada do século XIX para o século XX, com Auguste Comte (considerado “o pai da sociologia”), Émile Durkheim, Max Weber e Karl Marx, chamados os “Clássicos da Sociologia”.

Os métodos de análise na Sociologia Clássica

Dentro das Ciências Sociais, esses métodos são os caminhos que levam à explicação dos fenômenos sociais e à construção do conhecimento.

Pensador Método

Durkheim Funcionalismo ou método comparativo

Max Weber Método compreensivo

Karl Marx Materialismo histórico e dialético

A relação entre indivíduo e sociedade pelas perspectivas sociológicas clássicas

Ao problematizar a relação entre o indivíduo e sociedade, no final do século XIX, a Sociologia produziu três matrizes de respostas a essa questão e cada uma dessas respostas se vincula a uma tradição específica do pensamento social que constituiu a sociologia clássica – as correntes teóricas fundadoras, que até hoje são utilizadas e reinterpretadas. Elas podem ser compreendidas mediante o seguinte esquema:

Pensador Corrente Teórica &Matriz de resposta

Durkheim I- A Primazia da sociedade sobre o indivíduo – a sociedade determina os indivíduos

Max Weber II- A primazia do indivíduo sobre a sociedade – os indivíduos determinam a sociedade

Karl Marx Sociedade e Indivíduo como uma relação recíproca – a sociedade e os indivíduos determinam-se reciprocamente, de acordo com os limites estabelecidos pelas condições materiais de existência em um dado período histórico.

Referência Bibliográfica: Sociologia em Movimento – 1 ed. – São Paulo: Moderna 2013.

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(TOMAZI, Nelson Dacio. Sociologia para o ensino Médio. 2. ed. – São Paulo : Saraiva, 2010.)

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OS FUNDADORES - CLÁSSICOS DA SOCIOLOGIA

A construção de uma nova ciência

Na Europa e nos Estados Unidos, ao longo do século XIX e início do século XX, diversos pensadores contribuíram decisivamente para formular os primeiros conceitos sobre a sociedade humana e expor as primeiras análises sistematizadas de fatos sociais.

Comte

Um dos primeiros pensadores que se dedicaram a estudar a sociedade foi o francês Auguste Comte (1798 – 1857). Nas primeiras décadas de sua vida, a Europa estava envolvida em intensos movimentos sociais, em parte derivados da Revolução Francesa e das novas ideias que se difundiam entre as classes trabalhadoras. Comte via a necessidade de estudar de maneira racional e sistemática a sociedade, a fim de oferecer sugestões para seu aperfeiçoamento. Segundo ele, ao aplicar métodos científicos no estudo dos fenômenos sociais, seria possível prever e controlar o comportamento humano. Em 1838, cunhou a palavra Sociologiapara designar a ciência que estuda a sociedade humana. A metodologia de análise social que ele introduziu recebeu o nome de positivismo, entendido como o uso de métodos científicos de análise em contraposição ao uso da fé e da religião.

POSITIVISMO

O positivismo foi a primeira corrente teórica sistematizada de pensamento sociológico. É uma maneira de pensar baseada na suposição de que é possível observar a vida social e reunir conhecimentos confiáveis, válidos, sobre como ela funciona. O positivismo afirma que a sociologia devia interessar-se apenas pelo que pode ser observado com os sentidos e que as teorias de vida social deveriam ser formuladas de forma rígida, linear e metódica, sobre uma base de fatos verificáveis.

O positivismo derivou do “cientificismo”, isto é, da crença no poder exclusivo e absoluto da razão humana em conhecer a realidade e traduzi-la sob a forma de leis naturais, substituindo as explicações teológicas, filosóficas e de senso comum por meio das quais – até então – o homem explicava a realidade. Portanto, essa filosofia social positivista que se inspirava no método de investigação das ciências da natureza, também procurava identificar na vida social as mesmas relações e princípios com os quais os cientistas explicavam a vida natural. A própria sociedade foi concebida como um organismo constituído de partes integrantes e coesas que funcionavam harmonicamente, segundo um modelo físico ou mecânico. Por isso o positivismo foi chamado também de “organicismo”. Os organicistas procuravam características universais da espécie humana, deixando de lado suas particularidades.

COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à Ciência da Sociedade. SP: Ed. Moderna, 2010.

Marx

Karl Marxnasceu e estudou na Alemanha. Em razão de suas atividades políticas, acabou expulso; depois de viver um tempo em Paris, fixou-se em Londres, onde podia ver de perto a situação dos trabalhadores das fábricas e onde encontrava abundante

material de pesquisa nas bibliotecas e museus. Marx não se dedicou propriamente aos estudos sociológicos. Suas pesquisas e reflexões focalizaram sobretudo a temática econômica, tanto histórica quanto do seu tempo. Mas ele sempre relacionou o enfoque econômico às instituições sociais, razão pela qual o interesse dos sociólogos por sua obra tem sido sempre relevante. As teorias de Marx tiveram enorme influência na história do século XX. Numerosos seguidores, em diversos países, puseram em prática suas propostas de uma nova sociedade, como na antiga União Soviética, na China, em Cuba, no Vietnã, além de outros. Suas principais obras foram: A ideologia alemã, Miséria da

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filosofia, Para a crítica da economia política, O Manifesto Comunista, O capital.

Toda a obra de Marx é norteada pelo materialismo histórico – a corrente mais revolucionária do pensamento social, tanto no campo teórico como da ação política. De acordo com essa concepção, as relações materiais que os homens estabelecem e o modo como produzem seus meios de vida formam a base de todas as suas relações. Portanto, o que os homens são depende das condições materiais de sua produção. E as formas econômicas sob as quais os homens produzem, consomem e trocam são transitórias e históricas. Segundo esse conceito, não são as ideias e os valores que as pessoas professam que provocam mudanças sociais, como sustentavam os filósofos da época; para Marx, as mudanças sociais são causadas por fatores econômicos, ou seja, fatores materiais. Ele percebia que as mudanças econômicas provocadas pelo capitalismo estavam mudando completamente a estrutura das sociedades.

Marx é o principal idealizador do socialismo e do comunismo revolucionário. O marxismo – conjunto de ideias político-filosóficas de Marx – propunha a derrubada da classe dominante, a burguesia, através de uma revolução do proletariado. Marx criticava o capitalismo e seu sistema de propriedade privada que, segundo ele, pelas contradições econômicas internas, levaria a classe operária à miséria. Propunha uma sociedade na qual os meios de produção fossem de toda a coletividade. Nas sociedades capitalistas, uma nova dinâmica jogava para lados opostos uma minoria de ricos contra uma grande massa de miseráveis: a classe dominante (burguesia) contra a classe dominada (proletariado). Essa sociedade não era mais uma sociedade parada e estática como a sociedade estamental predominante no sistema feudal. Agora, o conflito entre a classe dominante e a classe dominada constituía um motor poderosíssimo de mudanças; era essa nova

realidade que determinava o desenvolvimento histórico.

Para Marx, as desigualdades sociais observadas no seu tempo eram provocadas pelas relações de produção do sistema capitalista, que dividem os homens em proprietários e não-proprietários dos meios de produção. As desigualdades são a base da formação das classes sociais. E a história do homem é a história da luta de classes, da luta constante entre interesses opostos desde o surgimento da propriedade privada, embora esse conflito nem sempre se manifeste socialmente sob forma de guerra declarada. É por meio da luta de classes que as principais transformações estruturais são impulsionadas e por isso ela é “o motor da história”. Para Marx a classe explorada se constitui no principal agente da mudança. Marx via o homem como aquele que poderia transformar a sociedade fazendo a sua história, porém nem sempre ele faz como deseja, porque as heranças da estrutura social influenciam-no. Assim, não é somente o homem quem faz a história da sociedade, a história da sociedade também constrói o homem, em uma relação recíproca.

Dentro da teoria marxista a distinção entre estrutura e superestrutura é um ponto muito relevante, segundo Marx as forças produtivas e as relações de produção formam a base, a estrutura da sociedade. Mas o homem produz também coisas não materiais: Ideologias políticas, códigos morais, concepções religiosas, sistemas legais, comunicação, conhecimento, etc., que ele chama de superestrutura. A base material é o modo de produção. Assim, para Marx, a explicação das formas jurídicas, políticas, espirituais e de consciência de uma sociedade, encontra-se na base econômica e material da mesma. Marx mostrou que é a estrutura (as causas materiais) que influencia a superestrutura (as ideias). Ou seja, em nossa vida, assim como na sociedade, um fato material pode mudar nossa

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maneira de pensar. Um país que passa por grandes transformações materiais – como a China atualmente – também vai experimentar mudanças culturais, levando muitas pessoas a abraçar novos valores sobre consumo, moda e comportamento.

O conceito de alienação também se faz importante dentro da teoria desenvolvida por Karl Marx, segundo ele a alienação pode ser de caráter econômico ou político. No caso da alienação de cunho econômico, a industrialização, a propriedade privada e o trabalho assalariado separavam (ou alienavam) o trabalhador dos meios de produção que se tornaram propriedade privada do capitalista (burguês). O trabalhador também era separado do fruto do seu trabalho que também era de propriedade do capitalista. Contudo o homem também se tornou alienado politicamente pelo princípio da representatividade, base do liberalismo, onde surge a ideia de Estado como um órgão político imparcial, capaz de representar toda a sociedade e dirigi-la pelo poder delegado pelos indivíduos. Mas Marx mostrou que na sociedade de classes o estado representa apenas a classe dominante e age conforme o interesse desta.

Dentro da lógica do capital a mercadoria possui grande relevância, a mercadoria é um objeto produzido não para o consumo do produtor, mas para a troca e a venda. Ela é a forma elementar de riqueza das sociedades capitalistas. Segundo Marx, o capitalismo transformou o trabalho em mercadoria, pois o operário vende a sua força de trabalho ao capitalista. Antes da invenção do dinheiro, metais nobres como o ouro, eram mercadorias que também serviam para intermediar as trocas. Sociedades pré-capitalistas que adotaram o dinheiro como meio de troca na circulação de mercadorias, baseavam-se na fórmula M-D-M (o dinheiro como simples intermediário para a aquisição de mercadorias), onde M é mercadoria

e D significa dinheiro. Com o desenvolvimento da produção capitalista e das transações mercantis, o capital assume o papel de ponto de partida e de chegada das transações: D-M-D. Neste caso o dinheiro destina-se não para o consumo, mas para a acumulação de capital. Assim surge a necessidade de produção de mais-valia.

Trabalho, valor, lucro e a mais-valia são palavras-chaves para o entendimento do marxismo. O valor das mercadorias é determinando na produção e não na circulação. A lei geral do valor de Marx determina que o valor de troca seja mensurado em unidades de tempo de trabalho. Ele considera todos os trabalhos envolvidos na produção (trabalho socialmente necessário). É que Marx leva em conta o trabalho para produzir os meios de produção (matérias primas e instrumentos). No capitalismo, o valor de todos esses trabalhos está embutido no preço pago na aquisição de matérias-primas e instrumentos, os quais juntamente com a quantia paga a título de salário, serão incorporados ao valor do produto. De acordo com a análise de Marx, não é no âmbito da compra e da venda de mercadorias que se encontram bases estáveis para o lucro do capitalista e para a manutenção do sistema capitalista. As bases estão no processo de produção. E é nesse processo de produção que se extrai a mais-valia, que por sua vez é o excedente produzido pelo operário num dia de trabalho e que é apropriada pelo capitalista. Esse excedente ocorre porque o operário produz num dia um montante muito maior do que o necessário para pagar o seu salário, assim o custo da produção cai.

Veja o exemplo abaixo de uma fábrica fictícia em que o custo da matéria-prima e manutenção dos instrumentos é R$120,00 e o salário por dia de trabalho do operário é R$30,00:

Suponhamos que o operário tenha uma jornada diária de nove horas e confeccione um par de sapatos a cada três horas. Nestas três horas, ele cria uma quantidade de valor correspondente ao seu salário, que é suficiente para obter o necessário à sua subsistência. Como o

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capitalista lhe paga o valor de um dia de força de trabalho, o restante do tempo, seis horas, o operário produz mais mercadorias, que geram um valor maior do que lhe foi pago na forma de salário. A duração da jornada de trabalho resulta, portanto, de um cálculo que leva em consideração o quanto interessa ao capitalista produzir para obter lucro sem desvalorizar seu produto.

Custo de um par de sapatos na jornada de trabalho de três horas Meios de produção 120 + Salário + 30 150

Custo de um par de sapatos na jornada de trabalho de nove horas Meios de produção 120 x 3 = 360 + Salário + 30 390 : 3 = 130

Numa jornada de nove horas são produzidos três pares de sapatos. Cada par vale R$150,00, mas custam menos ao capitalista.

Assim o capitalista se apropria de R$60,00 do salário do operário. Sendo que a mais-valia pode ser absoluta (com o aumento do tempo de trabalho) ou relativa (com o aumento da produtividade). Nota-se que no caso do operário, o modelo de circulação de mercadoria continua sendo o mesmo das sociedades pré-capitalistas: M-D-M. O operário vende a sua força de trabalho (mercadoria) para obter o salário (dinheiro) e adquirir mais mercadorias, pagando alimentação, moradia, vestimentas, entregando o seu salário a outros capitalistas

As teorias de Marx tiveram enorme influência na história do século XX. Numerosos seguidores, em diversos países, puseram em prática suas propostas de uma nova sociedade, como na antiga União Soviética, na China, em Cuba, no Vietnã, além de outros. A principal obra de Marx é O capital, que teve a colaboração do pensador alemão Friedrich Engels (1820 – 1895). Também com Engels publicou o famoso Manifesto comunista.

Durkheim

Durkheim foi um dos pensadores mais influentes para a consolidação da

sociologia como uma ciência empírica e para seu surgimento no meio acadêmico, sendo o primeiro professor universitário dessa disciplina. Embora visse na ciência social uma expressão da consciência racional das sociedades moderna, Durkheim não deixou de dialogar com a economia, a história e a psicologia, contudo sempre apontando os limites destas disciplinas para a explicação dos fatos sociais.

O sociólogo, para Durkheim, deve estudar os fatos sociais, ou seja, os aspectos da vida social que moldam nossas ações enquanto indivíduos. Estes fatos sociais, na perspectiva de Durkheim, devem ser estudados com a mesma objetividade com que os outros cientistas investigam os fenômenos da natureza. Por isso, para Durkheim, o primeiro princípio da sociologia era estudar os fatos sociais como coisas. Com isso, ele queria afirmar que a vida social pode ser analisada de maneira tão rigorosa quanto os fenômenos e objetos da natureza.

Para entender a ênfase que Durkheim concede à sociologia é fundamental a compreensão do elemento básico de sua análise: o fato social. Então, o fato social tem três características primordiais: primeiro, o poder coercitivo; segundo, a sua superioridade perante o indivíduo, isto é, sua existência para além das consciências individuais; terceiro, a generalidade, pois, todo fato social se repete na sociedade através dos costumes, sentimentos, crenças ou valores comuns à coletividade. Nas palavras do autor:

“É fato social toda maneira de fazer, fixada ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção exterior; ou ainda, toda maneira de fazer que é geral na extensão de uma sociedade dada, e ao mesmo tempo, possui uma existência própria, independentemente de suas manifestações individuais.1”

1 Ver DURKHEIM, Emile. As regras do método

sociológico. 2007, pg. 13. (grifo do autor).

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Assim sendo, os fatos sociais são aspectos da vida social que moldam nossas ações enquanto indivíduos, como o estado da economia, a língua ou a influência da religião. Estes aspectos moldam a vida do indivíduo justamente porque, para Durkheim, as sociedades possuem uma realidade própria, ou seja, a sociedade é mais que a simples somas dos interesses e das ações individuais. Dessa maneira, na sociologia de Durkheim, há uma primazia da sociedade sobre o indivíduo.

Durkheim considerava difícil o estudo dos fatos sociais. Para ele, como os fatos sociais são invisíveis e intangíveis, elas não podem ser observados diretamente. Assim, suas propriedades devem ser analisadas indiretamente, isto é, através de seus efeitos e de suas tentativas de expressão como, por exemplo, leis, textos religiosos ou regras de condutas prescritas socialmente.

Logo, a sociologia deve ser entendida como a ciência que se ocupa dos fatos sociais. Preocupado com consolidar a sociologia enquanto ciência, Durkheim salienta que a análise sociológica necessita, além do objeto, um método de abordagem que, primeiramente, se caracteriza por tratar o fato social como coisa, pois, reduzido a uma coisa, o fato social pode ser apreendido pelo cientista, isto é, em semelhança com as ciências naturais. Além disso, é importante analisar os fenômenos sociais em si mesmos, ou melhor, para além das consciências individuais, portanto, é crucial o tratamento deles como uma coisa exterior. Ou melhor, é necessário estudar os fatos sociais de fora, tratando-os como coisa exterior, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós.

Não obstante, o pesquisador, para Durkheim, necessita se livrar das pré-noções sobre o objeto, ou seja, deve-se ter uma relação de exterioridade para com o objeto, visto que descartar as pré-noções é a base de todo método científico. Com isso, Durkheim enfatiza como

fundamental para uma pesquisa científica a posição de neutralidade e objetividade que o pesquisador deve descrever a realidade social, sem deixar que suas ideias e opiniões interfiram na observação dos fatos sociais.

Contudo, Durkheim tem em mente o quanto é problemática, em comparação com outras ciências, a procura por exterioridade na sociologia vista a possibilidade do sociólogo ser emocionalmente afetado por seu objeto. Sendo assim, é exatamente pela via afetiva que as pré-noções podem atrapalhar o pesquisador. Com isso, é essencial que o sociólogo exprima os fenômenos não em função de uma ideia do espírito, mas de propriedades que lhe são inerentes.

Então, em semelhança as ciências da natureza, o pesquisador deve definir seu objeto de estudo de uma maneira objetiva. Portanto, a condição elementar para essa presença da objetividade é existir um ponto de referência, idêntico e constante, onde a representação possa ser comparada, assim, permitindo eliminar o que ela tem de variável, logo, de subjetivo. De fato, para Durkheim, esse ponto de referência estaria presente nos hábitos coletivos2, isto é, em resumo, o sociólogo deve se afastar das suas pré-noções e também das manifestações individuais de natureza totalmente pessoal, entendendo os fatos sociais por meio de um ponto de referência fixo.

Assim como os outros clássicos da sociologia, Durkheim estava preocupado com as mudanças ocorridas na sociedade de sua época. Seu interesse era muito voltado para a questão da solidariedade social e moral, ou seja, aquilo que une a sociedade a impedindo de cair no caos. Para Durkheim, a solidariedade é mantida quando os indivíduos conseguem se integrar aos

2 Os hábitos coletivos, de acordo com Durkheim (2007), são

expressos em formas definidas, como fatos de ordem moral,

ordem jurídica e estrutura social.

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grupos sociais e são regulados por um conjunto de valores e costumes compartilhados.

Em sua obra, A divisão do trabalho social, Durkheim faz uma análise das mudanças sociais advindas da era industrial, mostrando o surgimento de um novo tipo de solidariedade. Então, ele apresentou dois tipos de solidariedade – mecânica e orgânica – as relacionando com a divisão do trabalho, isto é, o crescimento de distintas ocupações na sociedade.

Durkheim afirma que O progresso da divisão do trabalho é o fio condutor do processo evolutivo que liga as formas de sociedade mais simples às mais complexas. Portanto, as sociedades mais simples seriam marcadas pela existência de uma solidariedade mecânica; já as com uma divisão do trabalho maior teriam uma solidariedade orgânica.

A solidariedade mecânica, então, se baseia no consenso e na similaridade das crenças, visto que a maioria das pessoas tem ocupações semelhantes e são unidas pela experiência comum e pelas crenças compartilhadas. Ao contrário, a solidariedade orgânica é fruto de uma sociedade mais especializada, já que com a divisão do trabalho cada vez maior as pessoas se tornam mais dependentes umas das outras. Logo, as relações de reciprocidade econômica e dependência mutua passam a substituir as crenças compartilhadas para criar o consenso social.

Ainda assim, os processos de mudança no mundo moderno ocorrem de forma acelerada dando vazão a dificuldades sociais. Efeitos perturbadores sobre os estilos de vida tradicionais, crenças e costumes podem ser observados. Estas condições perturbadoras Durkheim denominou de anomia. Para ele, a anomia é a falta de sentimentos de propósito e a presença de medo e desespero provocadas pela vida moderna.

Um dos estudos mais famosos de Durkheim é sobre o suicídio. A esta ação, que, à

primeira vista, é entendida como um ato puramente individual, Durkheim mostrou que os fatos sociais exercem uma influência fundamental sobre o comportamento suicida, sendo a anomia uma destas influências. Para o autor as taxas de suicídio apresentam padrões regulares a cada ano, sendo que esses padrões devem ser explicados sociologicamente.

Nesse sentido, Durkheim descreve três tipos de suicídios: O altruísta – quando o indivíduo fortemente ligado a um grupo não distingue entre seus próprios interesses e os do grupo, sendo capaz de sacrificar-se por ele. É o caso de soldados que se sacrificam para salvar companheiros. Esse tipo de suicídio também pode ser levado a efeito pelo indivíduo que deixa de satisfazer os padrões do grupo: a morte é, então, preferível a qualquer outra coisa; O egoísta – é o suicídio que ocorre quando o indivíduo não está envolvido com ninguém nem com nenhuma causa, faltando-lhe laços emocionais que lhe tornem a vida digna de viver; E o Anômico – que é o suicídio que se manifesta quando o indivíduo participa de uma sociedade caracterizada pela anomia (ausência de regras, sem normas), sendo comum em épocas de depressão econômica.

Outra ideia importante de Durkheim é a de consciência coletiva. A consciência coletiva é o conjunto de crenças e de sentimentos comuns à média da população de uma determinada sociedade, formando um sistema com vida própria, que exerce uma força coercitiva sobre seus membros. Se estas práticas já existem, é porque estão fora dele, mas mesmo assim, exercem influência sobre seu comportamento e crenças. É um sistema que existe fora do indivíduo, mas que o controla pela pressão moral e psicológica, ditando as maneiras como a sociedade espera que se comporte.

Por fim, Durkheim contribui largamente também para os estudos sobre religião. No

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momento específico em que Durkheim escrevia um novo sistema de ensino laico proibia o estudo da religião na França. Como a preocupação deste momento era a edificação de uma sociedade civil laica, com um grande viés patriótico, dentro da considerada III República, Durkheim concebia essas transformações como representantes de um vazio moral.

Para ele, a religião não ignora a sociedade ou não a leva em consideração, mas é a imagem dela, refletindo todas as suas expressões. Na religião o mal prevalece sobre o bem, a vida sobre a morte, sendo que na realidade não é de outra forma porque se a relação entre religião e sociedade fosse invertida a vida seria impossível.

Concluindo, a sociologia de Durkheim se preocupa com as seguintes preposições: há uma necessidade de caracterização do fenômeno estudado como sendo eminentemente social, justificando assim a abordagem sociológica ao invés de, por exemplo, as de ordem psicológica ou econômica. Também, com o afastamento das pré-noções, nesse caso consideradas como especulativas ou precipitadas em relação ao objeto, existe um esforço em elucidar com precisão o objeto. E, por último, a ideia de interpretar o fato social como coisa.

Max Weber Também considerado um dos grandes pensadores dos primeiros tempos da sociologia, Max Weber (1864 – 1920) tem influência até hoje, não só no campo da sociologia, mas também da economia, da política, da religião e do direito.

Weber nasceu na Alemanha numa família de burgueses liberais. Na política defendia os pontos de vistas liberais e parlamentaristas. Sua maior influência na sociologia foi no estudo das religiões, estabelecendo relações entre práticas

políticas e sociais e crenças religiosas. Suas principais obras: Artigos reunidos de teoria da ciência; Economia e sociedade (obra póstuma) e A ética protestante e o espírito do capitalismo.

Max Weber foi o grande sistematizador da sociologia na Alemanha. Era uma idealista e se opôs ao positivismo.A Alemanha se unifica e se organiza como Estado nacional mais tardiamente que o conjunto das nações europeias, o que atrasou seu ingresso na corrida industrial e imperialista da segunda metade do século XIX. Esse descompasso em relação às grandes potências vizinhas, elevou no país o interesse pela história da integração, da memória e do nacionalismo. Por tudo isso, o pensamento alemão se volta para a diversidade, enquanto o francês e o inglês – positivistas – para a universidade.

O pensamento positivista anula a importância dos processos históricos particulares, valorizando apenas a lei da evolução, a generalização e a comparação entre formações sociais. Para os positivistas, há uma regra geral para analisar as sociedades humanas, que se encontram em diferentes estágios de evolução, utilizando-se o método comparativo. Já Weber usavao método compreensivo, pois fazia um esforço interpretativo para entender as sociedades a partir das particularidades históricas. Para ele, a pesquisa histórica baseada na coleta de documentos e no esforço interpretativo das fontes, permite o entendimento das diferenças sociais, que seriam de gênese e formação e não de estágios de evolução. Assim, ele consegue combinar duas perspectivas: a histórica, que respeita as particularidades de cada sociedade, e a sociológica, que ressalta os elementos mais gerais de cada fase do processo histórico.

Seu objeto de investigação é a ação social – uma ação com sentido, e não entidades coletivas, grupos ou instituições. Ele entende que o social constrói-se a partir das ações

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individuais. A ação social é a conduta humana dotada de sentido, isto é, uma justificativa subjetivamente elaborada. É o homem quem dá sentido à sua ação social, estabelecendo a conexão entre o motivo da ação, a ação propriamente dita e seus efeitos.

Enquanto para a sociologia positivista a ordem social submete os indivíduos como força exterior a eles, para Weber é o contrário: as normas sociais só se tornam concretas quando se manifestam em cada indivíduo sob a forma de motivação. Cada indivíduo age levado por motivos que resultam da influência da tradição ou valores, dos interesses racionais e da emotividade. Cabe ao cientista descobrir o sentidodasações sociais, que só são sociais na medida em que estejam relacionadas (como respostas ou reações) a ações de outros indivíduos.

Weber distinguiu quatro tipos de ações sociais de acordo com os possíveis sentidos: a racional com relação a fins – ação orientada por um fim determinando; a racional com relação a valores – ação que é um fim em si mesma; a afetiva – motivada pela emotividade de quem a pratica; a tradicional– baseada nos usos e nos costumes sociais. Essas ações nunca ocorrem de forma pura e,para existir uma relação social, é preciso que o sentido da ação seja compartilhado. Pela frequência com que certas ações sociais se manifestam, o cientista pode conceber as tendências gerais que levam os indivíduos, em dada sociedade, a agirem de determinado modo.

Para Weber, o cientista, como todo indivíduo em ação, age guiado por seus motivos, sua cultura, sua tradição. As preocupações do cientista orientam a seleção e a relação entre os elementos da realidade a ser analisada. Mas, após iniciado o estudo, o cientista deve buscar atingir a maior objetividade na análise dos acontecimentos, não permitindo que suas crenças e ideias pessoais dificultem essa tarefa.

Então, qualquer que seja a perspectiva adotada por um cientista, ela será sempre parcial. Embora os acontecimentos sociais possam ser quantificáveis, a análise do social envolve sempre uma questão de qualidade, interpretação, subjetividade e compreensão.

A concepção de sociedade construída por Weber implica numa separação de esferas – a econômica, a religiosa, a política, a jurídica, a social e a cultural. Assim, a ordem social é constituída de acordo com a forma pela qual a honra é distribuída dentro de uma comunidade; e se alguns homens consideram válidas as normas do direito, eles estarão orientando sua conduta de acordo com a ordem jurídica e assim por diante. Cada pessoa pode participar ao mesmo tempo de diversas esferas, como: ser membro de um partido, desfrutar de um certo grau de prestígio, ter uma propriedade, praticar uma religião, implicando numa divisão de poder. E dessa infinidade de ações individuais é que devem extrair-se as regularidades do comportamento humano.

Quanto ao conceito de poder e dominação, para Weber, poder significa a probabilidade de impor a própria vontade dentro de uma relação social, mesmo contra toda a resistência e qualquer que seja o fundamento dessa probabilidade. Os meios utilizados para alcançar o poder são diversos, desde o emprego da violência até a propaganda e o sufrágio. O dinheiro, a influência social e o poder da palavra auxiliam nesse propósito através do sufrágio. Já dominação seria a probabilidade de encontrar obediência dentro de um grupo, por parte das massas ou da família, sem resistência nem crítica. Os motivos de submissão podem ser racionais, tradicionais ou afetivos. As formas de legitimação da dominação podem ser dos tipos: tradicional, carismático ou legal. Tradicional – aquela exercida pelo monarca, patriarca, legitimada pelo conformismo; carismática – aquela exercida pelo profeta, pelo senhor de guerra eleito, ou pelo

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governante (grande demagogo) ou líder do partido político; legal – exercida pelo moderno servidor do Estado e por todos que estão no poder, legitimada pelas regras racionalmente criadas, esperando-se o cumprimento das obrigações do estado.

Em relação ao papel da ideias, Weber se distanciava de Marx. Weber escreveu que a religião, por exemplo, pode exercer enorme influência no comportamento das pessoas e contribuir para moldar um tipo de sociedade. Desenvolveu essa tese em uma de suas obras mais famosas: A ética protestante e o espírito do capitalismo. Depois de estudar diversas religiões do Oriente e do Ocidente, concluiu que o protestantismo reformado, sobretudo a variante do calvinismo, exerceu influência decisiva no desenvolvimento da economia capitalista nos países do norte da Europa.

Weber explica que o calvinismo incute nos seguidores a incerteza da salvação, pois só se salvariam os que fossem escolhidos por Deus; e para saber se será escolhida, a pessoa deve procurar “sinais”, entre eles se é bem-sucedida no trabalho e se sabe ganhar dinheiro. O trabalho duro, a poupança e o investimento são essenciais na vida dos seguidores dessa forma de protestantismo. É a chamada ética protestante.

Isso contribuiu para transformar as sociedades feudais do norte da Europa em prósperas economias industriais, o que se verificou depois também dos Estados Unidos, na Austrália e na Nova Zelândia. Ao contrário, nas sociedades em que predominou o catolicismo, a ênfase da fé religiosa baseava-se na certeza da salvação pelas boas ações e na aceitação passiva da realidade da vida, sobretudo por parte dos pobres. Isso desestimulava o valor do trabalho. Da poupança e do investimento para gerar mais riqueza.

Tipo Ideal e a obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”

Weber propôs um instrumento de análise que chamou de tipo ideal. É uma construção teórica abstrata a partir dos casos particulares analisados. O cientista, pelo estudo sistemático das diversas manifestações particulares, constrói um modelo acentuando aquilo que lhe pareça característico. Não é um modelo perfeito. Sendo aplicado na realidade social, permite comparações e a percepção de semelhanças e diferenças. Ex: “o espírito do capitalismo” em sua mais importante obra “A ética protestante e o espírito do capitalismo”.

É um dos trabalhos mais importantes de Weber, no qual ele relaciona o papel do protestantismo na formação do comportamento típico do capitalismo ocidental moderno. Através de dados estatísticos, Weber constata a proeminência de adeptos da Reforma Protestante entre os grandes homens de negócios, empresários bem–sucedidos e mão de obra qualificada. A partir daí, procura estabelecer conexões entre doutrina e a pregação protestante, seus efeitos no comportamento dos indivíduos e sobre o desenvolvimento capitalista.

Weber descobre que os valores do capitalismo (disciplina ascética, a poupança, a austeridade, a vocação, o dever e a propensão ao trabalho) atuavam de maneira decisiva sobre os indivíduos. Os filhos de protestantes estudavam em escolas técnicas e procuravam atividades adequadas à obtenção do lucro, enquanto os católicos preferiam escolas humanísticas e se voltavam para a oração, sacrifício e renúncia da vida prática. Neste trabalho Weber mostra a formação de uma nova mentalidade, um ethos – valores éticos – propício ao capitalismo, em oposição ao “alheamento” e à atitude contemplativa do catolicismo.

O trabalho torna-se um valor em si mesmo, o operário ou capitalista puritanos passam a viver em função de sua atividade ou negócio e, só assim, têm a sensação da tarefa cumprida. O puritanismo condenava o ócio, o luxo, a perda de tempo e a preguiça. Então, para estarem seguros quanto à sua salvação e poderem se considerar “eleitos” pela doutrina da predestinação, ricos e pobres deveriam trabalhar sem descanso, “o dia todo em favor do que lhes é destinado” pela vontade de Deus, e glorificá-lo por meio de suas atividades produtivas. Enriquecer não é mais pecado, pois foi permitido por Deus. Para os puritanos, desejar ser pobre era algo tão absurdo quanto desejar ser doente, pois a prosperidade era o prêmio de uma vida santa. O mal não se encontrava na posse da riqueza, mas no seu uso para o prazer, o luxo e a preguiça.

(QUINTANEIRO, Tânia e outros. Um Toque de Clássicos - Marx, Durkheim e Weber. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2003.)

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Segundo Weber, o mundo tende inexoravelmente à racionalização em todas as esferas da vida social. E um dos meios através do qual essa tendência se atualiza nas sociedades ocidentais é a organização burocrática. Escolas, clubes, partidos políticos, igrejas, todas as instituições, tenham elas fins ideais ou materiais, estruturam se e atuam através do instrumento cada vez mais universal e eficaz de se exercer a dominação que é a burocracia.

Para chegar à formulação do papel da burocracia na ordem capitalista, Weber mostrou como as ações baseadas na emoção, na superstição e na crença em forças sobrenaturais foram substituídas, com o advento da ciência, pela ação e o pensamento racionais, isto é, fundado na busca dos mais eficientes para atingir um objetivo.Entre os elementos das sociedades ocidentais que teriam levado ao surgimento e desenvolvimento do capitalismo estão a empresa permanente e racional, a contabilidade racional, a tendência racional, o direito racional, a ideologia racional, a racionalização da vida, a ética racional da economia. Em suma, o capitalismo vincula-se à racionalização na vida prática. Por isso, Weber procurou encontrar uma possível relação entre valores (que guiam os comportamentos na vida prática) e condições para o estabelecimento do capitalismo.

Weber percebeu que a burocracia era determinante para a organização e a eficiência das firmas, ao definir claramente as funções de cada empregado e organizá-los segundo uma ordem hierárquica racional. Mas viu que a burocracia se tornaria também elemento de alienação e opressão para os empregados. Essa é uma realidade que se concretizou e que perdura em nossa sociedade.

Percebe-se um certo pessimismo de Weber em relação à sociedade moderna.Weber não encontrava saída para os problemas culturais que surgiam, assim como para a prisão na qual o homem se encontrava no sistema capitalista.

Antes da sociedade moderna, a religião era o que motivava a vida das pessoas e dava sentido para as suas ações, inclusive ao trabalho. Mas, com o pensamento científico tomando espaço como referencial de mundo, certos apegos culturais vindos da religiosidade foram confrontados. O problema que ele via era que a ciência não poderia ocupar por completo o lugar da religião ao dar sentido ao mundo. É o que ele chama de desencantamento do mundo.

Devido à racionalização do mundo, o trabalho, que antes poderia ser motivado pela religião, agora não é. O sistema capitalista – da produção em série e da exploração da mão-de-obra – tornou o homem ocidental um prisioneiro. Agora ele vive do trabalho e para o trabalho.

Em comparação com a teoria de Durkheim, Weber se opõe ao positivismo. Para ele as sociedades não são iguais na sua essência e as diferenças não podem ser explicadas por estarem em diferentes estágios de evolução. As diferenças são sim, de origem, de formação e dependem de particularidades históricas. Também discorda que os fatos sociais são coisas. Para ele são acontecimentos que o cientista percebe e cujas causas procura desvendar. A neutralidade positivista de Durkheim se torna impossível na visão de Weber, pois admite a subjetividade do cientista, como a de qualquer outro indivíduo. O próprio objeto da sociologia é a ação social, que possui uma justificativa subjetiva.

Em relação à Marx, Weber compartilha o grande tema do capitalismo ocidental. Porém, a perspectiva de Marx é simplista na visão de Weber, que critica o monismo causal que caracteriza o materialismo histórico, principalmente sobre a relação entre a estrutura e a superestrutura. Em a “Ética protestante e o espírito do capitalismo”, Weber defende a ideia da “superestrutura determinando a estrutura”, ou seja,demonstra o contrário do que Marx afirma. E quanto à estrutura de classes, em

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Weber, é bem mais complexa e muito diferente do modelo dicotômico de classes de Marx (burguesia X proletariado); além da riqueza de sua análise em relação à divisão do poder e das possibilidades de organização e mobilização social e política da sociedade.

EXERCÍCIOS

1. (UNESP) Pode-se afirmar que a Sociologia contemporânea herdou as contribuições de autores considerados clássicos do pensamento sociológico a partir dos quais desenvolveram-se correntes teóricas distintas. Foram eles:

a) Émile Durkheim, Theodor Adorno e Max Weber. b) Karl Marx, Max Weber e Karl Manheim. c) Max Weber, Karl Marx e Émile Durkheim. d) Émile Durkheim, Max Weber e Herbert Spencer. e) Karl Marx, Émile Durkheim e TalcottParsons.

2. Sobre o surgimento da Sociologia e as mudanças ocorridas na modernidade, é correto afirmar:

a) A intensificação da economia agrária em larga escala nas metrópoles gerou o êxodo para o campo.

b) O aparecimento das fábricas e o seu desenvolvimento levou ao crescimento das cidades rurais.

c) O aumento do trabalho humano nas fábricas ocasionou a diminuição da divisão do trabalho.

d) A agricultura familiar desse período foi o objeto de estudo que fez surgir as ciências sociais.

e) A antiga forma de ver o mundo não podia mais solucionar os novos problemas sociais.

3.(Uffs 2011) Podemos conceituar a Sociologia como a ciência que estuda as relações sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na vida em sociedade. No entanto, só passou a ser considerada ciência quando um determinado autor passou a formular os primeiros conceitos e demonstrou que os fatos sociais têm características próprias.

Qual foi esse autor?

a) Karl Marx. b) Max Weber. c) Émile Durkheim. d) Auguste Comte. e) Jean Jacques Rousseau

4. (UNESP) “À medida que se foi estendendo a influência da concepção de vida puritana – e isto, naturalmente, é muito mais importante do que o simples fomento da acumulação de capital – ela favoreceu o desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa. Era a sua mais importante, e,

antes de mais nada, a sua única orientação consistente, nisto tendo sido o berço do moderno “homem econômico”. (Marx Weber, A Ética protestante e o espírito do capitalismo. 1967:125)

De acordo com o texto, Max Weber está apontando para o “desenvolvimento de uma vida econômica racional e burguesa” e o desenvolvimento do capitalismo a partir da influência da:

a) economia e sociedade. b) ética protestante. c) liderança carismática. d) ética liberal. e) teoria da ação social.

5.(Unioeste 2012) Segundo ZygmuntBauman, a Sociologia é constituída por um conjunto considerável de conhecimentos acumulados ao longo da história. Pode-se dizer que a sua identidade forma-se na distinção com o chamado senso comum. Considerando que a Sociologia estabelece diferenças com o senso comum e estabelece uma fronteira entre o pensamento formal e o senso comum, é correto afirmar que:

a) a Sociologia se distingue do senso comum por fazer afirmações corroboradas por evidências não verificáveis, baseadas em ideias não previstas e não testadas.

b) o pensar sociologicamente caracteriza-se pela descrença na ciência e pouca fidedignidade de seus argumentos. O senso comum, ao contrário, evita explicações imediatas ao conservar o rigor científico dos fenômenos sociais.

c) pensar sociologicamente é não ultrapassar o nível de nossas preocupações diárias e expressões cotidianas, enquanto o senso comum preocupa-se com a historicidade dos fenômenos sociais.

d) o pensamento sociológico se distingue do senso comum na explicação de alguns eventos e circunstâncias, ou seja, enquanto o senso comum se preocupa em analisar e cruzar diversos conhecimentos, a Sociologia se preocupa apenas com as visões particulares do mundo.

e) um dos papéis centrais desempenhados pela Sociologia é a desnaturalização das concepções ou explicações dos fenômenos sociais, conservando o rigor original exigido no campo cientifico.

6.(Unioeste 2011) Os discursos ou as teorias científicas são desenvolvidos através de um conjunto de técnicas e de experimentos no intuito de compreender ou resolver um problema anteriormente apresentado. As Ciências Sociais, por exemplo, possuem entre as suas diferentes missões o objetivo de investigar os problemas sociais que vivenciamos durante o nosso cotidiano. Levando isso em consideração, qual das respostas abaixo é a correta?

a) O senso comum corresponde à popularização e à massificação das descobertas científicas após uma ampla divulgação.

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b) O senso comum corresponde aos conhecimentos produzidos individualmente e que ainda não passaram por uma validação científica.

c) O senso comum pode ser considerado um sinônimo da ignorância da população e uma justificativa para o atraso econômico.

d) O senso comum corresponde a um conhecimento não científico utilizado como solução para os problemas cotidianos, geralmente ele é pouco elaborado e sem um conhecimento profundo.

e) O senso comum e o conhecimento científico correspondem a duas formas de entendimento excludentes e possuidoras de fronteiras intransponíveis.

7.(Uncisal 2012) A Escola Marxista tem na teoria do conflito um dos seus fundamentos mais importantes em termos sociológicos. Tal teoria, pela óptica marxista, defende que:

a) os conflitos sociais são culturais, sendo expressões do embate entre a tradição e a inovação.

b) os conflitos nascem das contradições, sendo estas resultantes do acesso desigual aos meios de produção.

c) as sociedades mais avançadas são aquelas que melhor se adaptaram ao longo do processo histórico, sendo as menos aptas extintas.

d) os conflitos sociais são observados apenas nas sociedades anteriores à Revolução Industrial.

e) todas as relações sociais estão desvinculadas da esfera econômica, sendo os conflitos políticos o alicerce da vida em sociedade.

8.(Uem 2012) A sociologia marxista propõe uma interpretação da sociedade que toma as condições materiais de existência dos homens como fator determinante dos fenômenos sociais. Sobre essa concepção, assinale o que for correto.

I - Forças produtivas e relações sociais de produção são os dois componentes básicos da infraestrutura que determinam em última instância as demais dimensões da vida social. II - Instituições como a Escola, o Estado e a Igreja fazem parte da superestrutura social, dotada de autonomia frente às determinações econômicas de cada momento histórico. III - Mudanças na estrutura social são desencadeadas quando se desenvolvem incongruências entre a infraestrutura produtiva e a superestrutura, com predomínio da primeira sobre a última. IV- As instituições que compõem a superestrutura desempenham importantes funções de controle social e ideológico que contribuem para a manutenção das relações produtivas vigentes. V - As classes sociais são definidas segundo a posição que ocupam nas instituições que compõem a dimensão superestrutural das sociedades. Estão corretas:

a) I, II, V b) II, III, IV

c) I, IV, V d) II, III, V e) I, III, IV

9.(Ufu2013) Durkheim caracteriza o suicídio– Atéentão considerado objeto de estudo da epidemiologia, dapsicologia e dapsiquiatria– como fato social e, por isso,dotadodas características dacoercitividade,da exterioridade, dageneralidade.Étomado,poiscomoobjetodeestudo Sociológico,em virtude do fato de:

a) variar narazãoinversaaograudeintegraçãodosgrupossociaisdequefazparteoindivíduo,ouseja, quanto maior o grau deintegraçãoaogrupo social, maiselevadaéataxademortalidade – suicídioda sociedade.

b) ser possível observar umacerta predisposição socialpara fornecer determinado númerodesuicidas, ou seja,umatendênciaconstante,marcadapelapermanência,a despeito devariaçõescircunstanciais.

c) configurar-se como umamorte que resulta direta ouindiretamente, consciente ouinconscientemente de um atoexecutadopelaprópriavítima.

d) depender,exclusivamente,dotemperamentodosuicida, de seucaráter,de seuhistóricofamiliar,de sua biografia, uma vez que não deixa de ser um ato dopróprioindivíduo.

10.(Uema 2012) No conjunto da sua Sociologia compreensiva, o sociólogo alemão Max Weber define ação social como ação: a) racional em que o agente associa um sentido objetivo aos

fatos sociais. b) desprovida de sentido subjetivo e motivacional. c) humana associada a um sentido objetivo. d) cuja intenção fomentada pelos indivíduos se refere à

conduta de outros, orientando-se por ela. e) não orientada significativamente pela conduta do outro em

prol de um bem comum.

11.(Unicentro 2011) Os sociólogos Karl Marx e Marx Weber se detiveram na análise da modernidade europeia, embora com métodos diferentes. Assinale como verdadeira a afirmativa que corresponde às análises de Max Weber sobre a sociedade.

a) A vida moderna estimula a formação de um indivíduo calculista, racional e impessoal, refletindo a tendência da exploração dos trabalhadores e da transformação do trabalho em mercadoria.

b) A dimensão cultural é fundamental para compreender a modernidade, pois o capital e seu acúmulo são tidos como um dever moral que deve ser perseguido de forma racional e disciplinada.

c) A divisão social é um fenômeno da modernidade e sua função moral é integrar funções diferentes e complementares que, de outra forma, causariam a perda dos laços comunitários.

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d) A ação social, na sociedade moderna, é motivada apenas por interesses econômicos, porque os meios para produzir estão concentrados nas mãos de apenas uma classe social.

e) A expansão da produção capitalista teve como base a separação entre trabalhadores e os meios de produção, assim como a disseminação da propriedade privada.

12.(Unioeste 2012) Para Max Weber a economia capitalista não é marcada pela irracionalidade e pela “anarquia da produção”. Ao contrário de Karl Marx, que frisava a irracionalidade do capitalismo, para Weber as instituições do capitalismo moderno podem ser consideradas como a própria materialização da racionalidade. Segundo Weber, uma das características do capitalismo moderno é a estrutura burocrática com instituições administradas racionalmente com funções combinadas e especializadas. Para o sociólogo alemão, o controle burocrático é marcado pela eficiência, precisão e racionalidade. Considerando a importância do tema da burocracia na obra de Weber, é correto afirmar que

a) Marx Weber identifica a burocracia com a irracionalidade, com o processo de despersonalização e com a rotina opressiva. A irracionalidade, nesse contexto, é vista como favorável à liberdade pessoal.

b) segundo Weber, a ocupação de um cargo na estrutura burocrática é considerada uma atividade com finalidade objetiva pessoal. Trata-se de uma ocupação que não exige senso de dever e nenhum treinamento profissional.

c) na burocracia moderna os funcionários são altamente qualificados, treinados em suas áreas específicas, enfim, pessoas que tem ou devem ter qualificações consideradas necessárias para serem designadas para tais funções.

d) para Weber, o elemento central da estrutura burocrática é a ausência da hierarquia funcional e a obediência à ordem pessoal e subjetiva.

e) a burocratização do capitalismo moderno impede segundo Weber, a possibilidade de se colocar em prática o princípio

da especialização das funções administrativas. Referências bibliográficas:

BARBOSA, M; OLIVEIRA, M;QUINTANEIRO, T. Um toque declássicos: Marx, Weber e Durkheim.Belo Horizonte: UFMG, 2003.

COSTA, Cristina. Sociologia – Introdução à Ciência da Sociedade. SP: Ed. Moderna, 2009.

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