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I CINGEN- Conferência Internacional em Gestão de Negócios 2015

Sociedades anônimas e um resgate de ações justo

Caroline Targanski (UNIOESTE) [email protected]

Ramony Dafne Sbaraini (UNIOESTE) [email protected].

Joicemara Aline dos Passos (FALURB) [email protected]

Alan Patrick Roscamp (FALURB) [email protected]

Celito de Bona (UNIOESTE) [email protected]

Waldir Rechziegel (UNIOESTE) [email protected]

Resumo

O presente trabalho apresenta uma análise acerca das sociedades anônimas, bem como o

contexto em que se encontra o resgate de ações e os métodos empregados para a sua

realização nessas empresas. Trata-se de uma exceção, na qual as sociedades anônimas podem

negociar com as próprias ações, geralmente objetivando reduzir o capital social. Refletindo

sobre os possíveis valores pagos pelas ações resgatadas, ou seja, valor patrimonial, valor

nominal ou o valor de mercado, propõem o pagamento do valor que melhor indenize o

acionista que terá as suas ações resgatadas, tendo em vista que as suas expectativas ao investir

na empresa serão frustradas.

Palavras-chave: Sociedade anônima, resgate, equidade.

Área Temática: Áreas Afins das Ciências Sociais Aplicadas

1 Introdução

O presente trabalho tem como objeto de estudo uma exceção de negociação das

sociedades anônimas com as próprias ações, o resgate. Tem por objetivo (a) discorrer

brevemente sobre as sociedades anônimas e a sua dialética; (b) apresentar a problemática em

que se encontra o resgate; (c) identificar as falhas desse procedimento; (d) apresentar as

diferentes posições da doutrina acerca do assunto. Para isso, utilizou-se uma metodologia de

abordagem baseada no método indutivo, fundado em um procedimento de exploração

legislativa, posicionamentos doutrinários, fazendo uma análise dos apontamentos.

As sociedades anônimas surgiram tendo em vista objetivos que se mostravam

inacessíveis a um único indivíduo. Nos primórdios, na era das navegações, surgiram os seus

primeiros vestígios, que se desenvolveram para a caracterização das sociedades anônimas

como elas são na atualidade, possuindo como finalidade genérica a produção de superávit

patrimonial. Tem sua formação baseada nos investimentos de seus acionistas, ou seja, a soma

das frações de capital dos acionistas forma o seu capital social.

Quando surgem situações que induzem a uma redução do capital social para preservar

a empresa e evitar prejuízos, a assembleia geral pode deliberar e optar pelo resgate de ações.

Isso significa a retirada definitiva de ações que se encontram em circulação. Essa manobra

geralmente é realizada contra a vontade dos acionistas e o valor pago pelas ações resgatadas

gera debates, visto que, este pode ser fundado no valor nominal, patrimonial ou no valor de

mercado.

A dispensa da manifestação da assembleia especial da classe, com a especificação no

momento da criação e emissão das cotas sociais, quais as ações que estão sujeitas ao resgate,

ajudam a amenizar o poder protestativo da sociedade de resgatar ações. Há que se deixar

claro também, o valor pago pela companhia, o qual, após um perlustrar analítico nota-se que

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deve ser minunciosamente analisado, tendo em vista o menor prejuízo possível àquele que

terá as suas ações resgatadas. Para tutelar os direitos dos acionistas minoritários, a fixação

estatutária de um valor mínimo, visa corresponder a uma indenização pela saída da

sociedade.

2 Aspectos gerais das sociedades anônimas

É disparatado refutar essencialidade do setor privado à comunidade contemporânea.

Por conseguinte e por coerência lógica, deve-se reconhecer a função da forma mais

organizada que o capital privado assumiu: a sociedade empresária.

O ente empresário possui destaque no cenário econômico atual. Sua instituição

representa meio único para que muitas atividades possam ser materializadas, visto ser

notadamente inacessível a um indivíduo isoladamente, devido às restrições que lhe são

inerentes. A sociedade comercial pode ser considerada como um tratado onde duas ou mais

pessoas se obrigam a contribuir para o fundo social destinado ao exercício do comércio,

objetivando partilhar os lucros entre si (BULGARELLI, p. 22, 2001).

As sociedades empresárias, por sua instituição, materializam comunhão de forças em

prol de uma meta cujo alcance seria inviável a um indivíduo. Responsabilizam-se por reunir

esforços em busca de um objetivo comum e maior. Paralelamente impõem verdadeira

proteção ao patrimônio dos que desempenham a atividade, visto que à sociedade é conferida

personalidade jurídica.

No decorrer da história o capital se impôs, a propriedade privada venceu. O direito

segue suas metamorfoses se adaptando às práticas cotidianas. Nesse contexto, as sociedades

anônimas se exibem como arquétipo, seja em um viés dinâmico ou em seu nascedouro, dessa

harmonização (OSNA, 2010). Seu surgimento é justificado por fatores que coadunam

plenamente com o supracitado, cuja compreensão é conexa ao contexto histórico.

Um regresso histórico faz com que seja visualizado como marco inicial do surgimento

dessa espécie de sociedade empresária, o tempo das navegações. É comum identificar o

momento, no qual se percebeu a necessidade de constituir uma alternativa para atender uma

demanda específica. Com o mercantilismo dos séculos XVI e XVII e a necessidade de

mobilização do capital para financiar as expedições náuticas que, partindo da Europa,

dirigiam-se à Ásia e à América para fazer comercio e obter vantagens econômicas

(MAMEDE, 2010).

Não há dúvidas que as “grandes descobertas”, considerando-se a Península Ibérica e

os territórios ingleses e holandeses, necessitaram de um considerável montante financeiro de

acentuada relevância para a época. O ineditismo da atividade necessitava gastos e apresentava

riscos. As navegações dependiam de esforços de muitos, visavam objetivos inatingíveis a um

só homem, e apresentavam riscos que precisavam ser amenizados.

A pedra de toque desse novo modelo societário, a companhia, era a valorização do

fim negocial a ser realizado (o objetivo social), bem como da instituição constituída

para realiza-lo, colocando em segundo plano a pessoa daqueles que, investindo na

sociedade, contribuíam para a viabilidade de sua existência e, via de consequência,

para a concretização dos fins sociais (MAMEDE, 2010, p. 384).

2.1 Sociedades Anônimas

Atualmente as sociedades anônimas podem ser vistas como mecanismos de

financiamento de grandes empresas, sendo um instrumento para o desenvolvimento do

capitalismo. Foram criadas para permitir ao homem alcançar metas estranhas a um indivíduo

isolado. Por meio dela uma empresa pode se expandir significativamente, visto que, existe a

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possibilidade de uma grande demanda de acionistas aplicarem dinheiro nela, fazendo com que

aumente as suas fontes de recursos para o desenvolvimento. De acordo com Marlon

Tomazette (2009, p. 387):

Tal apelo ao público efetivamente produz resultados, pois a participação em sociedade é uma

forma de poupança particular extremamente atrativa, tendo em vista a limitação da

responsabilidade e a dupla possibilidade de ganhos, por meio da percepção de lucros e da

negociação dos títulos valorizados no mercado. Portanto, mediante tal apelo ao público, a

sociedade anônima é o instrumento de obtenção de grandes massas de recursos, necessárias

ao desenvolvimento dos grandes empreendimentos que caracterizam a economia moderna.

As sociedades anônimas são um maravilhoso mecanismo de financiamento das

grandes empresas, porque possibilitam o atendimento a uma ampla área de poupança atraída

concomitantemente pela limitação da responsabilidade e pela possibilidade de negociações de

títulos, de mobilizá-los em dinheiro líquido (REQUIÃO, 2000).

Sociedade anônima é pessoa jurídica de direito privado (CC, art.44, II e 45), de

natureza empresarial (CC, art.982, parágrafo único), cujo capital, está dividido em ações de

igual valor nominal, quando assim entendidas, ou em valor nominal. Essas ações são de livre

negociação, limitando-se a responsabilidade dos subscritores e dos acionistas, que nela

ingressarem posteriormente ao preço de emissão das ações por eles subscritas (ações

negociadas diretamente com a sociedade por ocasião de sua constituição ou aumento de

capital) ou adquiridas (ações que são negociadas com terceiros) (CC art. 1.088; Lei

n.6.404/76).

Spencer Vampré define a sociedade anônima como “a sociedade, sem firma social,

onde todos os sócios respondem somente pelo valor das ações, que subscrevem, ou que lhes

são cedidas, as quais podem ceder-se livremente.” (apud TOMAZETTE, 2009, p.387).

Modesto Carvalhosa conceitua-a de modo similar, como a “pessoa jurídica de direito privado,

de natureza mercantil, em que o capital se divide em ações de livre negociabilidade,

limitando-se a responsabilidade dos subscritos ou acionistas ao preço de emissão das ações

por eles subscritas.” (apud TOMAZETTE, 2009, p.387).

De acordo com Diniz (2011, p. 437), “a finalidade desse tipo de sociedade á a

obtenção de lucro, visto que a sociedade anônima tem por obrigação distribuir os dividendos

aos acionistas”.

A sociedade que é por ações é pessoa jurídica cuja finalidade genérica é a obtenção de

vantagens econômicas, superávit patrimonial, a ser apropriado por seus acionistas,

responsáveis pela formação do patrimônio empresarial utilizado pela empresa, visto que eles

quem fazem os investimentos (GLADSTON, 2010).

É uma típica sociedade de capitais, visto que, a maior importância é atribuída à

contribuição do sócio e não as qualidades pessoais. Por isso é livre a negociação de ações, que

pode ser eventualmente restringida nos casos de estatuto de companhia fechada impor

limitações à circulação das ações nominativas (art. 36, da Lei 6.404/76), mas nunca impedida,

pois não importam as qualidades pessoais dos sócios, mas sua contribuição patrimonial.

Para que possa iniciar as suas atividades necessita obter recursos, com este intuito

utiliza os seguintes meios: capitalização, recebimento sem o ônus de devolução a propriedade

de dinheiro bens ou créditos, financiamento sem o ônus de devolução a propriedade de

dinheiro, bens ou créditos, financiamento bancário, que se opera pela emissão debêntures,

pela qual assume a obrigação de restituir os valores recebidos, acrescidos de juros, visto que é

fornecido por terceiros que não são acionistas.

O capital social é a parte da contribuição em dinheiro ou em qualquer espécie de bens

suscetíveis de avaliação financeira (Lei n. 6.404/76), com o qual os acionistas, ao integralizá-

lo formam o fundo necessário para o início da atividade da sociedade. Na lição de Modesto

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Carvalhosa, trata-se de “frações mínimas negociáveis em que se divide o capital social,

respectivas dos direitos e obrigações dos acionistas” (Apud, Diniz, p. 434, 2011). São títulos

representativos da participação societária no capital social (DINIZ, 2011, p. 434).

O capital social não se confunde com o patrimônio social, que é totalidade de bens que

pertencem à empresa, decorre da entrada de acionistas, é fracionado em parcelas ou unidades

designadas ações, com ou sem valor nominal e materializadas em títulos (Lei n. 6.404/76, art.

11, 13, 14).

Cada acionista responde pelo preço de emissão das ações, pelas obrigações sociais até

o limite que faltar para integralizar as ações que subscreveu ou adquiriu (Lei n. 6.404/76, art.

1°). Tal preço não se confunde com o valor nominal ou com o de negociação, como observa

Fábio Ulhoa Coelho, citado por Diniz (apud. DINIZ, p. 455). Para Marcelo André Feres,

citado por Maria Helena Diniz, o preço de emissão está mais próximo de indicar a verdadeira

perda patrimonial sofrida pelo acionista com o insucesso ou falência da sociedade anônima.

Para a captação dos recursos necessários ao exercício de suas atividades empresárias, a

sociedade anônima emite valores mobiliários (securities) que são títulos de investimentos.

O capital social da companhia é repartido em frações iguais, representadas por títulos

negociáveis, denominadas de ações, que podem representar uma alternativa de investimento

para o público em geral. Podem ser fechadas, quando os títulos não são negociados no

mercado de valores mobiliários, e abertas, quando são negociados.

Além de negociações externas há a possibilidade de a companhia fazer negociações

com as suas próprias ações. É justamente nesse tema que surgem algumas controvérsias. Em

regra, a companhia não pode negociar com as próprias ações. Nessa proibição não são

incluídas as operações de resgate, de reembolso ou amortização, nem as demais hipóteses

citadas no art. 30, parágrafo 1° da Lei n° 6.404/76.

2.1.1 Resgate de ações

Na administração das sociedades anônimas podem surgir situações que induzam a

redução do capital, visando conservar a empresa e evitar prejuízos. A assembleia geral poderá

deliberar sobre a redução do capital social quando houver perdas ou quando julgá-los

excessivos. Assim, se julgar excessivo o capital social, para retirarem-se as ações, em

definitivo de circulação, far-se-á o resgate de seu valor, conforme o art. 44, parágrafo 1°, da

Lei das Sociedades Anônimas, in verbis:

Art. 44. O estatuto ou assembleia geral extraordinária pode autorizar a aplicação de

lucros ou reservas no resgate ou na amortização de ações, determinando as

condições e o modo de proceder à operação.

§ 1°. O resgate consiste no pagamento do valor das ações para retirá-las

definitivamente de circulação, com redução ou não do capital social; mantido o

mesmo capital, será atribuído, quando for o caso, novo valor nominal às ações

remanescentes.

Se o capital que for reduzido já se encontra integralizado os recursos excessivos

poderão ficar no patrimônio social, a título de reserva de lucros, ficando seu uso para cobrir

despesas especificas, ou poderão ser restituídos aos acionistas, reduzindo-se parte do valor

nominal de todas as ações, pagando-se a cada acionista a quantia proporcional ao número de

ações de que é titular, desde que não haja oposição de seus credores. Ou então, operando a

redução do valor nominal integral de parcela das ações, pagando aos acionistas, seus titulares,

o valor delas. De acordo com Gladson Mamede:

O resgate consiste no pagamento do valor das ações para retirá-las de circulação

definitivamente. É situação próxima à compra do valor das ações pela própria

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companhia; mas seu objetivo é extinguir a ação, reduzindo o capital social ou

valorizando as ações remanescentes, o que em se tratando de ações com valor

nominal, implica a alteração do estatuto e dos certificados de ação. Ao contrário da

amortização, não há resgate parcial, já que para a caracterização do instituto é

indispensável à extinção da ação resgatada (MAMEDE, 2010, p. 430).

O resgate independe da vontade do acionista, não é um ato negociado, em suma

conceitua Modesto Carvalhosa “o resgate representa uma transmissão forçada, irrecorrível e

definitiva da propriedade das ações do acionista para domínio da própria companhia, que em

seguida, as extinguira” (apud TOMAZETTE, 2009, p. 451). Resgate nas sociedades anônimas

representa a retirada compulsória de circulação das ações mediante pagamento do seu valor.

Nesse caso, o titular das ações regatadas deixa de ser acionista da companhia.

A fim de evitar preferências ou preterições, se exige que o resgate abranja uma classe

de ações, ou seja, que se faça por sorteio. Todavia, ainda assim, o resgate sempre gerou

iniquidades, uma vez que, os titulares das ações a serem resgatadas nada podiam fazer, e

podiam ser praticamente excluídos da companhia.

A nova redação da Lei das S.A introduz um novo parágrafo sexto no artigo 44,

condicionando o resgate à deliberação de uma assembleia especial, convocada

especificamente para tal finalidade, instituindo uma comunhão de interesses entre os

acionistas da classe a ser resgatada. Assim sendo, só poderá ser efetivado se contar com a

concordância de 50% das ações das classes atingidas. Desse modo, protegem-se de maneira

mais efetiva os interesses dos acionistas minoritários na operação de resgate, garantindo voz

ativa em defesa de seus interesses, tal qual já ocorre hoje em dia em relação à alteração das

vantagens das ações preferenciais (art. 136 da Lei 6.404/76).

A questão que surge é saber qual o valor mais justo a ser pago por essas ações

resgatadas, tendo em vista, que embora a ação tenha um preço de emissão, pago por quem a

subscreve, há outros valores conforme o objetivo que se persegue: nominal, bolsístico, ou

“valor de mercado”, e patrimonial.

O valor nominal é estabelecido por meio da divisão do capital social pelo número de

ações, se o estatuto expressar esse valor, ter-se-á ação com o valor nominal, devendo seguir os

parâmetros fixados pela Comissão de Valores Imobiliários se for companhia aberta. A ação

representa uma porção do capital social, e não pode o preço de emissão de ações ser inferior a

esse valor que, podendo o ato ser nulo e os infratores responsabilizados pela fraude a credores

nos termos do art. 177 do Código Penal. Por outro lado, quando a companhia deixa ao

alvedrio do mercado a formação do preço das ações têm-se ações sem valor nominal, que

obedecem aos princípios ordenadores dos investimentos, ou seja, a perspectiva de lucro.

(NEGRÃO, 2010).

O valor de mercado é aquele de compra e venda. A alienação da ação depende do

desempenho da empresa e da economia em geral (NEGRÃO, 2010, P. 457). Já o valor

patrimonial resulta de operação matemática da divisão do patrimônio liquido pelo número de

ações que se divide o capital social. É considerado o valor da participação do titular da ação

no patrimônio liquido da companhia (COELHO, 2005, p. 183).

Ao contrário do valor nominal, que é previsto no estatuto, o valor patrimonial se pode

conhecer pelas demonstrações contábeis que a companhia é obrigada a levantar ao término do

exercício social (COELHO, 2005, p.183).

A ação de uma sociedade anônima pode ter valor diferenciado de acordo com os

objetivos da avaliação. Por meio de uma visão analógica, podem-se comparar as ações de uma

companhia a uma casa que também tem diversos valores, em função do objetivo perseguido.

Assim, se o objetivo for o cálculo de impostos de propriedade empregar-se-á o valor venal da

casa; se for para o pagamento do imposto de transmissão, é o valor declarado na escritura,

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mas no momento da negociação do bem se dá mais relevância ao valor de mercado

(COELHO, 2005).

Com um sutil perlustrar pode-se verificar que um dos principais pontos de tensão entre

as sociedades anônimas e seus membros está nas circunstâncias que determinam

inconformidades e desacordos e geram a saída de uns e a permanência de outros.

Naturalmente esse fato já indica um paradoxo imediato de interesses, acobertados pelos

direitos cabíveis: enquanto uns almejam dispender o mínimo possível para custear a saída de

outros, estes pretendem ver maximizada sua parcela do capital correspondente.

2.1.2 Algumas propostas para solucionar o problema de iniquidade

De acordo com Carvalhosa e Eizirik o estatuto da sociedade poderá excepcionar tal

regra, dispensando a manifestação da assembleia especial da classe prejudicada, desde que

especifique no momento de sua criação e emissão, quais classes de ações estão sujeitas ao

resgate, independentemente de qualquer manifestação (apud, TOMAZETTE, 2009, p. 451). O

detalhamento do Estatuto e a imposição de a dispensa ser feita no momento de criação e

emissão das ações justificam-se para atingir a finalidade do novo parágrafo sexto do art. 44,

qual seja, acabar com o poder protestativo da sociedade de resgatar ações, sem a concordância

dos acionistas prejudicados. Uma vez prevista no estatuto, os subscritores das ações e seus

adquirentes posteriores já sabem da possibilidade do resgate e, ao se tornarem acionista,

manifestam sua concordância com tal possibilidade.

Previsto estatutariamente ou deliberadamente o resgate, há que se saber qual valor será

pago pela companhia, com lucros ou reservas. Nesse particular, há uma grande controvérsia

doutrinária.

Roberto Barcellos de Magalhães e Wilson de Souza Campos Batalha entendem que o

valor a ser levado em conta é o valor de mercado, e na inexistência deste, deve ser pago o

valor nominal da ação (apud, TOMAZETTE, 2009, P. 451). Entretanto, o valor nominal não

representa efetivamente a perda que o titular da ação resgatada terá, porquanto sua

contribuição normalmente já gerou um grande acréscimo patrimonial na companhia. Da

mesma forma, a adoção do valor de mercado isoladamente nem sempre atingirá resultados

adequados, de forma a compensar a o investimento feito pelo acionista.

Segundo Fabio Ulhoa Coelho, citado por Tomazette (2009, p.452), o estatuto pode

fixar o valor do resgate, e na ausência de estipulação estatutária, tal determinação seria de

competência da Assembleia Geral. Nesse sentido, Tomazette (2009) argumenta que a fixação

nestes casos estaria sujeita ao completo arbítrio do acionista controlador, podendo gerar uma

desvalorização excessiva da participação do titular da ação a ser resgatada, ainda que sem

intenção de prejudicá-los.

Segundo Luis Lória Flaks (apud TOMAZETE, 2009, p. 452) o valor do resgate deve

ser fixado no estatuto, pois neste caso o acionista, ao ingressar na sociedade, teria ciência do

valor a ser pago e estaria concordando com este valor. Na Omissão do estatuto, ele entende

citando julgado do Superior Tribunal de Justiça, que há que se levar em conta o valor

patrimonial real das ações, apurado o preço de mercado.

De acordo com Osmar Brina Corrêa-Lima (apud TOMAZETTE, 2009, p.452) deverá

ser usado o referencial do art. 45 da Lei n° 6.404/76, isto é, deverá ser pago o valor

patrimonial, mas o estatuto poderia prever outro valor desde que fosse no mínimo o valor

econômico.

O posicionamento jurisprudencial preza pela defesa dos direitos dos acionistas

investidores, conforme se denota do entendimento da 3° Turma do Tribunal Regional Federal

do Estado de São Paulo, a seguir:

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PROCESSUAL CIVIL. PRESCRIÇÃO NÃO OCORRÊNCIA. PRESCRIÇÃO

QUINQUENAL, NOS TERMOS DO ART. 27 DO CDC. MARÇO INICIAL DA

PRESCRIÇÃO A PARTIR DA NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL. NULIDADE

DA R. SENTENÇA. CAUSA MADURA. JULGAMENTO DO MÉRITO.

INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA.

CONSUMIDOR. RESGATE DE COTAS DE FMP - FGTS PETROBRÁS II. A

CEF NÃO DESIMCUMBIU DO ÔNUS DE COMPROVAR A SOLICITAÇÃO E

RESGATE DAS COTAS. ELEMENTOS DOS AUTOS QUE PERMITEM A

CONDENAÇÃO À INDENIZAÇÃO PARCIAL SOMENTE PELOS DANOS

MATERIAIS REFERENTES ÀS COTAS LEVANTADAS PELO VALOR DO

DIA DO LEVANTAMENTO. DANOS MORAIS NÃO COMPROVADOS.

APELAÇÃO PARCIALMENTE PROVIDA. I – (... ) VIII. Ao que se verifica nas

condições instituídas no Regulamento CEF, para o resgate das ações eram

necessárias as indicações do montante em reais ou indicações de número de

cotas, além de como seria feito, se por transferência a outro fundo ou se por

retorno ao FGTS. Entretanto a instituição bancária não trouxe aos autos

documentos que comprovassem o disposto no regulamento, colacionando apenas

microfilmagens que pouco ou quase nada dizem a respeito.

IX. Por não ter a CEF se desincumbindo de seu ônus de comprovar o alegado em

contestação deve indenizar o apelante parcialmente pelo dano material referente a

690 (seiscentos e noventa) cotas, com o valor de cada uma delas na data do efetivo

levantamento. (...).

XI. O autor não comprovou de que maneira a privação das cotas do fundo CAIXA

FMP - FGTS PETROBRÁS II, teve o poder de abalá-lo moralmente. Além do mais,

no caso em tela, o dano moral não é consequência do dano material, não havendo

qualquer ilegalidade ou irregularidade que enseje a indenização por aquele dano.

XII. Quanto aos juros, o C. STJ já firmou entendimento em casos similares no

sentido da aplicação da Taxa Selic, nos termos do art. 406 do Código Civil, cabendo

sua incidência a partir do indevido levantamento. No caso em tela, constando nos

autos que o resgate indevido ocorreu em 14.03.2009, entendo ser esta data o março

inicial para a aplicação dos juros. Lembrando que a referida taxa já engloba juros e

correção monetária. (...).

XIV. Recurso parcialmente provido para afastar o reconhecimento da prescrição e

com fundamento no art. 515, § 3º, c.c. art. 269, I do CPC, julgar parcialmente

procedente a ação reconhecendo parcialmente procedente o dano material e afastada

a ocorrência do dano moral.

(TRF-3 - AC: 5353 SP 0005353-53.2010.4.03.6110, Relator: DESEMBARGADOR

FEDERAL COTRIM GUIMARÃES, Data de Julgamento: 02/04/2013, SEGUNDA

TURMA).

2.1.3 Garantia de valor mínimo

É necessário haver uma garantia de um valor mínimo para o resgate, sob pena de

impor prejuízos aos minoritários com a admissão da fixação estatutária do valor do resgate. A

concordância dos acionistas não implica na ausência de prejuízos, uma vez que o resgate

precisa da concordância de tão somente 50% das ações da classe a ser resgatada. O valor do

resgate deve corresponder a uma indenização por sua saída da sociedade. Esse valor deve

equivalente àquele que teria que ser despendido para ingressar numa sociedade em idênticas

condições, pois, ingressando em outra sociedade com idênticas condições, o acionista teria

sua situação patrimonial efetivamente recomposta, isto é, seu patrimônio seria o mesmo de

antes do resgate.

Modesto Carvalhosa e Nelson Eizirik concordam que o valor do resgate deve obedecer

aos critérios do artigo 170, § 1° da Lei 6.404/76 (apud TOMAZETTE, 2009, p.452). Assim

sendo, seja o estatuto, seja a assembleia geral, o valor a ser fixado deverá ter como patamar

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mínimo a conjugação dos seguintes valores: valor patrimonial, valor de mercado se houver e o

valor econômico.

A utilização de tais fatores impõe-se como medida de justiça ao titular das ações a

serem resgatadas. Em função disso, devem ser considerados os fatores mencionados (valores

de mercado, patrimonial e econômico) porquanto são eles os que devem ser utilizados na

fixação do preço de emissão de novas ações da companhia. Considerando que se alguém

quiser ingressar na companhia terá que pagar tal preço, pois é esse o preço que deverá ser

assegurado ao titular das ações resgatadas, porque só com ele é que será possível, em tese,

ingressar numa sociedade em idênticas condições.

3. Considerações finais

As sociedades anônimas são um instrumento para o desenvolvimento do capitalismo,

pois, possuem uma estrutura que viabiliza isso. Baseiam-se em uma estrutura que visa o

crescimento, por ser aberta ao público, espera que mais pessoas acreditem no seu

desenvolvimento e queiram crescer com elas. Com o capital investido pelos acionistas a

concretização desse ideal se torna muito mais palpável.

A venda de ações funciona como engrenagens para o seu desenvolvimento. Os

acionistas são responsáveis pela monumental obra que muitas vezes se realiza, até mesmo os

acionistas minoritários.

O resgate independe da vontade dos acionistas, é uma transmissão forçada da

propriedade das ações do acionista para a própria companhia. Com isso, deixará de ser

acionista da empresa. O valor pago por essas ações pode ser o patrimonial, de mercado ou

econômico. Atualmente deve ser deliberado por uma assembleia especial, convocada

especificamente para tal finalidade, instituindo uma comunhão de interesses entre os

acionistas da classe a ser resgatada.

Contudo, é necessário haver uma garantia de um valor mínimo para o resgate, sob

pena de impor aos minoritários prejuízos com a admissão da fixação estatutária do valor do

resgate. O valor do resgate corresponde a uma indenização pela saída do acionista. Por isso, é

de suma importância que esse valor seja o mais justo possível. Há muita divergência entre as

doutrinas acerca disso. Entretanto, nota-se que, seja o estatuto, seja a assembleia geral quem

determina o valor a ser fixado deverá ter como patamar mínimo a conjugação dos seguintes

valores: valor patrimonial, valor de mercado, se houver, e o valor econômico. Tendo em vista

que esse é o valor a ser pago para quem quiser entrar na companhia, este também deve ser o

valor pago aqueles que queiram sair da mesma.

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