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Sociedade em Rede: cultura, globalização e formascolaborativas

Regina Helena Alves da Silva∗

Índice

1 Globalização, identidades, intercultu-ralidade 1

2 Redes colaborativas 63 Bibliografia 8

Neste texto buscamos entender como seconstituem, em tempos de globalização, pos-sibilidades de interação social a partir denovas formas de conectividade que possibi-litam, a qualquer momento, nos conectar aqualquer pessoa, a um reservatório de da-dos e a processos de intermediação cultural-político-social. Essa multiplicidade de ca-nais permite uma nova forma de coletivi-dade, um novo tecido tecno-social, uma redede indivíduos em contínua comunicação.Nos importa analisar por um lado, a for-mação de redes sociais e, de outro, as po-tencialidades de tais redes na promoção denovas formas de relação compartilhada quehoje se encontram potencializadas pelo o usodo que se convencionou chamar de novastecnologias da comunicação.

A importância disso está associada à pos-sibilidade de se criar novos coletivos sociais

∗Diretora do Centro Cultural UFMG e Professorado Departamento de História e do Programa de pós-graduação em Comunicação Social - UFMG

mais autonomizados. Nossa reflexão parteda formação do espaço social e dos efei-tos das tecnologias de comunicação sobre omesmo. A proposta está na fronteira entrea formação de redes sociais e os processosde sua transformação, dada a utilização detécnicas eletrônicas de comunicação. Trata-se, portanto, de entender o que são os coleti-vos na vida cotidiana e como eles podem setransformam na mediação de redes técnicas.Nos propomos então a uma breve análise daspossibilidades de conformação de redes so-ciais como forma de pensar redes sóciotéc-nicas como uma rede de elementos econô-micos, políticos, sociais, tecnológicos, cul-turais, onde não existe predominância de umelemento sobre o outro. Essas redes mostramque vivemos em um mundo no qual é im-possível dizer onde começa a dimensão téc-nica da realidade cotidiana e onde começa adimensão social.

1 Globalização, identidades,interculturalidade

Grandes debates marcam hoje o campo daciência, e mais particularmente das ciên-cias humanas e sociais. O desenvolvimentotecnológico, as novas tecnologias e seus si-gnificados éticos e sociais; a globalização

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da economia e da cultura e as interseçõesglobal/local, com o reaparecimento dos gru-pos étnicos, o fortalecimento de fundamen-talismos de várias ordens, a organização eluta das minorias oprimidas; a diluição dasfronteiras e a reconfiguração dos grupos depertencimento e os sentimentos identitários;a homogeneização e instantaneidade da in-formação concomitante à proliferação dasformas comunicativas; a individualizaçãoda sociedade e personalização dos interes-ses, aliadas à busca das vivências grupaise reativação dos laços comunitários; a pre-sentificação da temporalidade contemporâ-nea e o obscurecimento da idéia de futurosão temáticas que, acolhendo contradições emarcando a diversidade desafiadora do con-temporâneo, instigam o trabalho do conheci-mento.

Hoje, a globalização, os avanços tecnoló-gicos e os efeitos sobre o trabalho, a constitu-ição da sociedade informacional, a ocidenta-lização da cultura e superexposição da mídia,são processos contemporâneos que produ-zem mudanças nos modos de estar e sentir-se juntos, desarticulam formas tradicionaisde coesão e modificam modelos de sociabili-dade.

São várias as posições com relação a comoconceituar ou mesmo estabelecer algum tipode relação com a globalização. São diver-sas as narrativas desenvolvidas como suporteexplicativo e vários os caminhos espaço-temporais de compreensão do que seria este“momento” da história. De uma maneira umtanto simplificadora – esta não é a discussãoprincipal deste texto – temos posições que“louvam” a possibilidade do mundo se con-formar enquanto um só, como um todo ho-mogêneo regido por regras econômicas, so-ciais, culturais e políticas únicas. Mas tam-

bém e com freqüência temos acompanhadoum certo repúdio à globalização que surgiuda preocupação de que culturas locais sejamsuprimidas formas culturais hegemônicas as-sociadas à expansão de políticas de mercado.Esta posição percebe a globalização comouma imposição de uma “forma estranha devida” a locais despreparados e desprotegidose os coloca como impotentes por não teremnenhuma voz em decisões políticas.

Para além disso, neste texto, é importantepara nós entender a globalização como ummovimento espacial e temporal que tem pro-duzido um aumento expressivo do potencialde tensões sociais. Mas gostaríamos de lem-brar que, por outro lado, a globalização podetambém despertar um sentimento – aparente-mente contraditório - de potencial diante denovas formas de exercer a liberdade e a re-sponsabilidade para melhorar condições devida. Para, além disso, temos a consciênciade que, com este potencial, emerge na vidacotidiana algo assim como uma identidadeglobal, que coexiste de alguma maneira coma cultura local. Daí a necessidade, neste tra-balho, de entendermos a questão da globali-zação em relação às culturas locais.

A cultura se encontra no centro dos de-bates contemporâneos sobre a identidade, acoesão social e o desenvolvimento de umaeconomia fundada em um tipo de saber, quetem levantado algumas questões: quem há degarantir a vitalidade do debate e o diálogopúblico que condicionam a criatividade co-letiva e a vitalidade cultural; como combinara universalidade dos direitos com o recon-hecimento dos interesses sociais e os valo-res culturais particulares; e, como pensar osdireitos culturais e a preservação e consoli-dação da diversidade cultural como parte in-

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separável da consolidação dos direitos políti-cos, econômicos e humanos?

Responder a estas questões requer um ol-har multifacetado, uma perspectiva que pro-mova não apenas a união de fronteiras doconhecimento, mas que seja capaz de articu-lar um rompimento das mesmas e ampliá-laspropiciando o diálogo.

O surgimento das sociedades modernastransfere as relações sociais para um ter-ritório mais amplo onde as fronteiras desa-parecem e, ao mesmo tempo, colocam à dis-posição das coletividades um conjunto de re-ferências resultado da mundialização da cul-tura. Cada grupo social, na elaboração desuas identidades coletivas, irá se apropriardestas das mais variadas maneiras. A socie-dade global, longe de incentivar a igualdadedas identidades está marcada por uma hierar-quia clara e injusta. As identidades são dife-rentes e desiguais porque as instâncias que asconstróem tem distintas posições de poder ede legitimidade.

O ponto mais significativo deste processoreside na questão da constituição/construçãodas identidades das pessoas. As pessoastêm uma necessidade premente de pertenci-mento/reconhecimento em relação à comu-nidade ou grupo social no qual estão inse-ridas. Nesse sentido, a sua organização emtorno de projetos comuns, sobretudo cultu-rais, onde os indivíduos compartilham nãosó o mesmo território, mas seus interesses,suas necessidades, enfim desejos comuns éque se constitui neste processo de formaçãode identidade individual e coletiva.

Uma identidade cultural se constitui comosíntese da construção de múltiplos signifi-cados distintivos, fruto de complexas inter-ações sociais que desenvolvem internamentecada grupo e em suas relações com outros,

mediante as quais seus membros se unificame se diferenciam dos demais. E, além de pro-porcionar elementos concretos de referên-cia e comparação, resume o universo sim-bólico que caracteriza a coletividade, porqueestabelecem patrões singulares de interpre-tação da realidade, códigos de vida e pen-samento que permeiam as diversas formasde manifestação, valores e sentidos. Issorequer um sentido de pertencimento comoforma de inscrição no universo simbólico deuma dada coletividade, esse pertencimento éo elemento aglutinador e mobilizador de ati-vidades e constitui um gerador de valores ede coesão para o grupo.

Hoje temos, uma profunda mudança nacompreensão do que entendemos por diver-sidade. Até algum tempo diversidade cul-tural era entendida como heterogeneidaderadical entre culturas, cada uma delas en-raizada em um território específico, dotadasde um centro e de fronteiras nítidas. Qual-quer relação com outra cultura se dava comoestranha/estrangeira e, concomitante, pertur-bação e ameaça em si mesma, para a identi-dade própria.

O avanço tecnológico dos transportes eda comunicação transformou o tempo e oespaço derrubando as barreiras que rodea-vam as culturas. O processo de globalizaçãoque agora vivemos, no entanto, é ao mesmotempo um movimento de potencialização dadiferença e de exposição constante de cadacultura às outras, de minha identidade àquelado outro.

A tendência da globalização - um mundo"uno", interconectado e interdependente -supõe simultaneamente e como parte de ummesmo processo, a reafirmação da diver-sidade cultural e das identidades locais enacionais. Assim são fundamentais os es-

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paços que se constituem como sendo os deconstituição de identidades, o da diversi-dade, do encontro com o estrangeiro, do re-conhecimento da distinção em "eu"e "os ou-tros".

A diversidade marca territorialmente nos-sos espaços de viver a partir de formas devida específicas que se refletem em patrõesde comportamento diversos e, às vezes, emtensões e conflitos. A gestão destas tensões,a construção da convivência com o respeitoà diferença são alguns dos desafios mais im-portantes que todas as sociedades enfrenta-ram ou têm enfrentado. A expressão con-centrada da diversidade cultural, das tensõesdela conseqüentes e da riqueza de possibi-lidades que também encerra estão coloca-das para nós como um desafio: encontraros meios institucionais capazes de garantir oque chamamos de interculturalidade. O queseria essa interculturalidade? Uma forma deentender essas questões é partir de um ol-har que possibilita captar interações cultu-rais que não são meras justaposições de gru-pos diversos mas que são possibilidades deligações entre diferentes e às vezes conflitan-tes. Isso nos aponta caminhos, linhas, links,de construção de zonas de negociação. Sãomanifestações culturais diferentes que se in-terconectam por nós e laços de reconheci-mento sociais.

Temos, hoje, lugares que são imensos ca-leidoscópios de padrões, valores culturais,línguas e dialetos, religiões e seitas, etniase raças. Modos distintos de ser passam aconcentrar-se à conviver em um mesmo es-paço com uma abundância de opções sim-bólicas que propiciam enriquecimentos efusões, inovações estéticas tomadas de mui-tas partes e amplas negociações para os dile-mas compartilhados com conjuntos mais am-

plos como as cidades, as nações ou os blo-cos.

De acordo com o que afirmamos no iní-cio desse texto, os tempos atuais produzem,simultaneamente, o desenvolvimento de umacultura de massa através dos meios de comu-nicação e o florescimento das chamadas cul-turas locais. Estes dois elementos da trans-formação cultural encontram um lugar privi-legiado de debate e formam parte de um pro-cesso mais amplo de construção de identida-des.

Podemos dizer que até pouco tempo tínha-mos políticas educativas e de comunicaçãoque ordenavam, a partir de discursos e narra-tivas únicas, a coexistência de grupos. Aspolíticas que ordenaram nossas formas deagrupar, de dizer de interesses comuns, tin-ham uma diretiva. Agora como pensar umapolítica intercultural? Isso requer um duplomovimento de aprofundar o conhecimentode minhas referências culturais e das outrascom as quais mantenho qualquer tipo de con-tato.

Hoje, emergem novas dimensões que dife-renciam a idéia de identidade de outras épo-cas e se superpõem, confluem ou se desa-gregam, criando novos ou redimensionandovelhos referenciais de identidade. A idéiade fronteiras perde progressivamente a cla-ridade de seus limites, reinscrevendo-se emtorno de limites difusos desde os quais seconsolida a emergência de novas identida-des. (Laurelli: 2004, p. 16)

Em um processo de constituição de identi-dades através de projetos culturais as pessoasvêm se organizando em redes alternativas ouredes de solidariedade social, como forma dese garantirem perante as relações sociais as-simétricas e na direção da constituição da suaidentidade e acesso à cidadania.

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Nessa perspectiva, entendemos como redeuma estrutura que apresenta a propriedade deconectividade. Através de seus nós ela tem,simultaneamente, a potencialidade de solida-rizar ou de excluir, de promover a ordem e adesordem. Além disso, é uma forma parti-cular de organização, e no âmbito dos pro-cessos de integração, de desintegração e deexclusão espacial, ela aparece como instru-mento que viabiliza duas estratégias: circu-lar e comunicar.

As redes são animadas por fluxos. Sãodinâmicas e ativas, mas não trazem em simesmas seu princípio dinâmico, que é ummovimento do social. Este é animado tantopor dinâmicas locais quanto globais.

As redes estruturam à sua maneira ocampo de forças das relações de cooperaçãoe de antagonismo que estão presentes na so-ciedade humana. São de fato instrumentosde poder e de rivalidades para seu controle.Elas são suscetíveis de funcionar como in-strumentos de integração e de exclusão, nalinha direta dos processos de diferenciação.

Além disso, as redes técnicas em sua re-lação com o território, evidenciam que essarelação é ambígua: ora a rede é “fator decoesão”, ela solidariza, ela homogeneíza;ora ela transgride os territórios, opondo àsmalhas institucionais suas lógicas funcio-nais. Nesse aspecto, a análise da evoluçãodas redes, distinguindo sua infra-estrutura,seus serviços e seu comando, permite-nossuperar esta contradição evidenciando quesua participação é essencial para a con-strução de novas escalas territoriais, aindaque seu papel não seja determinante, mas deacompanhamento, na estruturação dos ter-ritórios.

Para nos deslocar em direção a uma dis-cussão sobre o sentido das redes colabora-

tivas chegamos então a uma noção de ter-ritório apresentada por Santos:

“O território não é apenas o conjunto dossistemas naturais e de sistemas de coisassuperpostas. O território tem que ser en-tendido como o território usado, não oterritório em si. O território usado é ochão mais a identidade. A identidade éo sentimento de pertencer àquilo que nospertence. O território é o fundamento dotrabalho, o lugar da residência, das trocasmateriais e espirituais e do exercício davida.” (Santos, 2002)

Esse território, nos tempos atuais, começaa aparecer como multiescalar e progressiva-mente complexo, sujeito a múltiplos proces-sos de identidade em suas formações sociais,as vezes fragmentado e fractal. (Laurelli:2004, p. 16)

E a partir daí como o lugar de variadosníveis de agregação e diferenciação pode-mos chegar a uma noção de identidade comoaquilo que esta em diálogo com as instân-cias mais próximas mas também com as emescala planetária, o que está em disputa econfrontação com o que está mais perto eo distante, ou seja, a identidade não estámais reduzida a espaços e lugares conheci-dos. Hoje, identidade constitui-se de diferen-ciação e agregação e não pode ser vista só apartir do reconhecimento da experiência dooutro mas também da experiência com aque-les muitas vezes desconhecidos, onde podeexistir agregações, disputas, diálogos, ausên-cias, não-encontro.

Portanto podemos entender as identidadescomo constituídas a partir de algum tipo derelação, por interação. A partir do que jádiscutimos acima podemos entender cultura

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hoje como o lugar por excelência da consti-tuição de territórios de negociação onde asidentidades se constituem por diversas inter-ações e as diversas culturas interagem a par-tir de características bastante diversas.

Esta interação pode ser entendida comouma comunicação intercultural que requeruma nova competência comunicativa e quepossibilite o conhecimento de outras cultu-ras. Esta é a base para pensarmos a con-stituição de redes colaborativas: a partir deterritórios de negociação e da comunicaçãointercultural.

Partimos da compreensão que não existehomogeneidade das redes e nas redes, mas,que elas são espaços de conectividade or-ganizado pelo discurso, um espaço reticularque pode presidir algum tipo de sociabili-dade à distância.

2 Redes colaborativas

Duas questões podem ser vistas como funda-mentais hoje: a busca da pluralidade de ma-nifestações que a sociedade engendra, espe-cialmente no que diz respeito àqueles à mar-gem dos processos interculturais, sociais epolíticos; e, que tipo de enfoque dar a essadiversidade e a criatividade político-cultural,às experiências coletivas que conformam ahistória das práticas sociais, na busca de esta-belecer uma troca com a comunidade, poten-cializando a produção cultural e a construçãoda cidadania.

Para uma busca de resposta a estasquestões nos é imposta uma outra pergunta:o que estamos chamando de cidadania aqui?

À possibilidade de um indivíduo na socie-dade em que vive acessar um conjunto de di-reitos políticos, civis e sociais e dentre os di-reitos sociais os chamados direitos culturais.

Estes direitos correspondem, por exemplo,ao acesso à informação, à apropriação cultu-ral e da comunicação, à memória histórica eà produção cultural. Esse conjunto de direi-tos compõe o que chamamos decidadaniacultural.

Essa noção decidadania culturalé ba-seada na idéia de que o exercício da plenacidadania passa necessariamente pelo exer-cício dos direitos culturais. A produção deprojetos culturais através de redes colabora-tivas pode elaborar meios realmente eficazesque garantam a democratização da cultura edos bens culturais, que, atualmente, estão re-stritos a uma parcela reduzida da sociedadebrasileira.

Estar em rede,em tempos de globali-zação, é um processo no qual os indivíduos,num processo de interação, de intersubjetivi-dade, de mediação cultural, buscam um re-dimensionamento do espaço público, aindaque, muitas vezes, de forma inconsciente.Toda cultura tem suas próprias práticas dis-tintivas para criar e manter redes sociais. Aose pensar nas maneiras culturalmente apro-priadas de usar tecnologias sociais o melhorponto de partida são as pessoas: comunida-des coerentes de pessoas e as maneiras comoelas pensam e como podem se incorporar emprocessos sociais mais amplos. As tecno-logias de rede em geral podem ser usadaspara criar um espaço para as "comunidadesda prática", e para desenvolverem práticasculturais da comunicação.

O espaço mundializado deu lugar a umamaior visibilidade das culturas. O desen-volvimento das tecnologias de comunicaçãotambém desempenhou neste espaço um pa-pel importante. Fez com que a proximi-dade das culturas tornasse a sua coexistên-cia muito mais palpável. Tem sido tecidas

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uma gama infindável de relações múltiplasque nascem entre as culturas quando estastomam umas das outras seus traços distinti-vos, quando se mesclam e se mestiçam part-indo de seus traços específicos para integrá-los cada uma delas em seu espaço social esimbólico próprio.

A noção de rede colaborativa compreendeo entrelaçamento de iniciativas sociais, arti-culadas em torno de propósitos comuns. Talreticulação baseia-se na ação das células, or-ganizações de natureza similar ou diversaque se propõem a aglutinar esforços de ma-neira cooperativa, produzindo complementa-ridade aos trabalhos que vão sendo desenvol-vidos.

Projetos culturais tem adotado a forma deredes como maneira organizativa capaz depromover interações entre as várias células,que podem estar interligadas de diversas ma-neiras. O alcance dos resultados espera-dos através do funcionamento das redes de-pende da configuração implementada, capazde produzir a troca de informações e a articu-lação para a realização de objetivos comuns,

A estrutura das redes deve promover a par-ticipação dos indivíduos e instituições que acompõem em relações horizontais e colabo-rativas. Esses sistemas reticulares, construí-dos através de deliberações gestadas e to-madas de maneira participativa, constituemagregações de tipo comunitário, ou seja,identificam-se com comunidades, sejam elaspresenciais ou virtuais, podendo congregarindivíduos, grupos locais, regionais, nacio-nais e internacionais. Assim, a expansão dasredes pode ser resultado de conexões comoutras redes, garantindo as operações inde-pendentes de cada célula (nós ou links), adescentralização do processo decisório, atra-vés de multilideranças, e a capilarização dos

propósitos e ações comuns. Conciliada aessas possibilidades de proposições autôno-mas, a criação de produtos culturais atravésde redes torna-se um processo de experimen-tação artística e intelectual coletiva e abre es-paço para a diversidade cultural explicitandomanifestações populares muito mais amplase multifacetadas.

Muito se fala em democratização da cul-tura, mas dizer isso significa não pensar maisa criação como um fazer isolado e sim comoparte de um fluxo contínuo. Tem sido ba-stante discutida a idéia de autor (e não ade autoria) questionando a noção da possi-bilidade de existência daquele que trabalhae produz só. A partir disso se coloca aquestão da propriedade particular em con-traposição ao benefício coletivo do conheci-mento e da cultura. Cada vez mais se fazpresente a questão da disponibilização púb-lica do conhecimento e se enfatiza o coletivo,o grupo e a interdisciplinariedade. Isso nostraz uma outra possibilidade de entender co-letivo: cada um enquanto um sujeito plena-mente criador podem compor redes. Essasredes são de todos e todos podem se encon-tram em lugares concretos ou virtuais.

Enfim, este texto inicia uma reflexão so-bre a importância de entender o ato da co-municação como um dos sentidos que estãono cerne da globalização e da sustentação dadiversidade cultural. A comunicação é umadas vias pelas quais os indivíduos expres-sam sua identidade, opiniões e intenções, eas confrontam com outros indivíduos oriun-dos de contextos culturais distintos. Cadavez mais escutamos falar em redes: sociais,sóciotécnicas, de comunicação, digitais, deinformação, etc.. Importante ressaltar é quetodas essas possibilidades significam o com-partilhamento de identidades, a formação de

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laços sociais, enfim a constituição de nossapresença na sociedade a partir de formas co-laborativas de produção e de comunicação.E, significam também, o entendimento do lu-gar da cultura para além de vê-la como umaforma de conhecer e planejar transformando-a em lugar de transformação e inovação.(Canclini, 2003)

3 Bibliografia

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