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SOCIEDADE E CONTEMPORANEIDADE Autor Paulo G. M. de Moura 2009 Esse material é parte integrante do Videoaulas on-line do IESDE BRASIL S/A, mais informações www.videoaulasonline.com.br

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SOCIEDADE E CONTEMPORANEIDADE

Autor

Paulo G. M. de Moura

2009

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Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482 • Batel 80730-200 • Curitiba • PR

www.iesde.com.br

Capa: IESDE Brasil S.A.Imagem da capa: IESDE Brasil S.A.

M929 Moura, Paulo G. M. de. / Sociedade e Contemporaneidade / Paulo G. M. de Moura. — Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2009.

116 p.

ISBN: 978-85-7638-748-0

1. Sociologia. 2. Movimentos sociais. I. Título.

CDD 301

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Sumário

As sociedades como sistemas | 7As partes e o todo | 7Interfaces e mútua dependência entre as partes | 9As partes e suas funções | 10Estabilidade e ruptura do sistema | 10Aplicação do modelo ao objeto de estudo | 11

Grandes ciclos de transformação sistêmica da sociedade | 13Para entender como a sociedade muda | 13A Pré-história | 16A sociedade agrícola | 16A sociedade industrial | 17A sociedade pós-industrial | 17

A sociedade agrícola | 21A civilização grega | 22A civilização romana | 23O cristianismo | 24A ordem feudal | 25O fim da era agrícola | 25

A sociedade industrial | 29A lógica do sistema de produção | 29A lógica do sistema social | 30A lógica do sistema político | 31Capitalismo e socialismo: dois modelos e um sistema | 33Crise e ruptura do sistema | 34

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A história da globalização | 37O que é globalização? | 37Antecedentes da globalização | 39Formação do mercado mundial | 39O impacto da Revolução Industrial sobre a economia mundial | 42O surgimento do capital financeiro | 43

A ordem internacional pós-Segunda Guerra | 47Antecedentes da ordem internacional pós-Guerra | 47Consolidação de um sistema político-econômico mundial | 48A falência do socialismo e a ruptura do sistema | 51Revolução Tecnológica e novo ciclo de expansão do capitalismo | 53

A sociedade pós-industrial | 55A natureza da mudança | 55Sentido e rumo das mudanças | 57Conhecimento e velocidade | 59Riqueza intangível e economia simbólica | 61Trabalhar e empreender na nova economia | 62

Identidades em transformação | 67O mundo virtual mudando nossa vida real | 67Espelho, espelho meu: onde estou, quem sou eu? | 68De onde viemos? Onde estamos? | 69Para onde vamos? | 71

Significados e representações no mercado de símbolos | 75Representações e identidades | 75Participação imaginária | 78O poder de infinitas caras: realidade ou imaginação? | 78

O poder na sociedade pós-industrial | 81Os sistemas de poder ao longo da história | 82O poder na sociedade industrial | 84Crise e transformação do sistema de poder da sociedade industrial | 85As causas de crise | 87A democracia do futuro | 89

A sociedade brasileira como sistema | 91A nação-Estado como um sistema | 91A formação da nação | 93O subsistema dominante | 94A crise do sistema e o imperativo da mudança | 98O vôo da galinha: o jeito brasileiro de mudar sem mudar | 98

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As chances da democracia no Brasil | 101Um conceito de democracia | 101A democracia no contexto atual | 103A teoria da democracia aplicada ao caso brasileiro | 106A realidade põe a teoria em xeque | 107Atividades | 108

Referências | 109

Anotações | 113

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As sociedades como sistemas

Paulo G. M. de MouraAs Ciências Sociais surgiram muito recentemente, a partir de um longo processo de especializa-

ção do trabalho, que marcou a evolução do sistema de produção de riquezas e a forma de organização segmentada do conhecimento humano. As revoluções Francesa e Industrial cooperaram para o surgi-mento dessas ciências e o pensamento positivista do século XIX possibilitou sua solidificação.

Por ser uma nova área do conhecimento científico, suas teorias e metodologias foram formuladas depois das outras ciências e se socorreram em modelos e representações figurativas, tomadas de em-préstimos dos sistemas teórico-metodológicos das ciências que a precederam, para construir seus pró-prios conceitos, categorias, metodologias e teorias. A construção de analogias com sistemas mecânicos ou com os corpos de organismos vivos, tomadas emprestadas das ciências exatas ou biológicas, se tor-nou recorrente nas Ciências Sociais.

Nesta aula, recorreremos à analogia do corpo de organismos vivos, entendidos como sistemas, para compreender a estrutura e o funcionamento dos sistemas sociais que a civilização humana em ge-ral e cada nação-Estado, de modo particular, desenvolveram ao longo da história.

As partes e o todoPara melhor entender os significados implícitos à idéia de sistema, recorremos ao dicionário

Aurélio e destacamos algumas de suas definições. Estas definições poderão ser úteis para a compreen-são da aplicação que faremos a seguir:

* Doutor em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Mestre em Ciência Política pela Univer-sidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Graduado em Ciências Sociais pela UFRGS.

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Sistema:

[Do gr. sýstema, ‘reunião’, ‘grupo’, pelo lat. tard. systema.]

S. m.

1. Conjunto de elementos, materiais ou ideais, entre os quais se possa encontrar ou definir alguma relação (5).

2. Disposição das partes ou dos elementos de um todo, coordenados entre si, e que funcionam como estrutura orga-nizada: 2 2

3. Reunião de elementos naturais da mesma espécie, que constituem um conjunto intimamente relacionado: 2 2

4. Conjunto de instituições políticas ou sociais, e dos métodos por elas adotados, encarados quer do ponto de vista te-órico, quer do de sua aplicação prática:

5. O conjunto das entidades relacionadas com determinado setor de atividade: 2

6. Reunião coordenada e lógica de princípios ou idéias relacionadas de modo que abranjam um campo do conheci-mento: 2 2

7. Conjunto ordenado de meios de ação ou de idéias, tendente a um resultado; plano, método: 2 2 2

8. Técnica ou método empregado para um fim precípuo: 2 2

9. Modo, maneira, forma, jeito: 2

10. Complexo de regras ou normas: 2 2

11. Qualquer método ou plano especialmente destinado a marcar, medir ou classificar alguma coisa: 2 2

12. Hábito particular; costume, uso: 2

13. Anat. Conjunto de órgãos compostos dos mesmos tecidos e que desempenham funções similares: 2 [Cf., nesta acepção, aparelho (6).]

14. Biol. Coordenação hierarquizada dos seres vivos em um esquema lógico e metódico, segundo o princípio de subor-dinação dos caracteres. [É um produto da inteligência humana derivado da necessidade de compreender a natureza o mais próximo possível da realidade.]

15. Comun. Conjunto particular de instrumentos e convenções adotados com o fim de dar uma informação: 2 2 2

16. E. Ling. Conjunto de elementos lingüísticos solidários entre si: 2 2

17. E. Ling. A própria língua quando encarada sob o aspecto estrutural. [As duas últimas acepç. vêm sendo adotadas a partir de Ferdinand de Saussure (v. saussuriano).]

18. Filos. Totalidade (2).

19. Fís. Parte limitada do Universo, sujeita à observação imediata ou mediata, e que, em geral, pode caracterizar-se por um conjunto finito de variáveis associadas a grandezas físicas que a identificam univocamente.

20. Geol. Conjunto de terrenos que corresponde a um período geológico.

21. Inform. Conjunto de programas destinados a realizar funções específicas.

22. Mús. Qualquer série determinada de sons consecutivos.

Observando atentamente essas definições, encontramos categorias aplicáveis à análise e ao estu-do de qualquer sistema, tais como:

relação entre as partes de um todo e do todo com as partes; ::::

espécies diferentes de sistemas; ::::

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aplicação do conceito de sistema a diferentes dimensões da realidade (teoria, anatomia, iolo-::::gia, método de combinação de informações, estrutura, organização e funcionamento de for-mas de comunicação, organização espacial, dentre outras);

relação entre objetivos, meios e fins; ::::

técnicas, métodos; ::::

conjunto de normas ordenadoras das relações internas entre as partes de um todo;::::

hábitos e costumes de organizações, grupos e/ou sociedades determinados.::::

Diante das diferentes definições e das categorias a elas relacionadas, veremos abaixo alguns as-pectos relevantes para sua aplicação às Ciências Sociais.

Interfaces e mútua dependência entre as partesSegundo os pensadores sociais que recorrem a essas analogias, a organização dos sistemas que

caracterizam as sociedades ou civilizações é formada por diversas partes, que se equivaleriam aos ór-gãos de um ser vivo. Para que o conjunto possa existir e funcionar, todos os organismos vivos, assim como os sistemas de qualquer tipo, necessitam que suas diferentes partes funcionem de forma integra-da e interdependente. As noções de funcionamento, de função das partes, de integração, de harmonia e de interdependência, além da idéia das partes vistas como órgãos de um sistema, também são recur-sos importantes para as analogias entre organismos vivos e sistemas sociais. Dessa forma, a noção de harmonia, equilíbrio e estabilidade dos órgãos de um corpo equivaleriam, na teoria social, às noções de ordem pública, paz social, segurança e eficiência, dentre outros conceitos recorrentes aos pensadores das ciências humanas quando analisam sociedades e ou organizações sociais determinadas. Em senti-do contrário, a desordem, os conflitos, a violência, a insegurança pública e a ineficiência das instituições, seriam doenças do sistema.

Assim como acontece com os organismos vivos, suas partes não apenas se relacionam, mas tam-bém se expõem ao contato e à troca de influências mútuas com o ambiente externo a elas. Além disso, ambos os sistemas biológico e social possuem história, passado e memória. Aplicando um raciocínio in-verso, isto é, se levarmos os conceitos das ciências humanas para as ciências biológicas, não estaremos errando se admitirmos que os organismos vivos, de forma análoga ao que acontece com os indivíduos e as sociedades e civilizações humanas, possuem história, experimentam processos de desenvolvimento específicos, são passíveis de influências e adaptáveis às circunstâncias impostas pela realidade, transfor-mando-se e evoluindo, ou involuindo, conforme reagem às pressões e trocas com o ambiente externo e/ou o ambiente externo ao sistema.

Subjacentes às idéias anteriormente desenvolvidas, podem estar conceitos como os de harmo-nia, coesão, integridade e totalidade do sistema, mútua relação e dependência das partes entre si e com o todo, adaptabilidade, progresso, estagnação ou retrocesso. Todos esses conceitos são aplicáveis à aná-lise de sistemas sociais e aos organismos vivos, entendidos, também, como sistemas.

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As partes e suas funçõesSeguindo a mesma linha de raciocínio, podemos recorrer à analogia da função que o cérebro

exerce nos seres humanos à noção da função que um governo exerce em relação a uma sociedade. Segundo o cientista político Francisco Ferraz (2007, p. 1-2):

A concepção orgânica da sociedade e da política, portanto, sempre revelou-se atraente para os governantes que pre-tendiam enfatizar aquelas características nos seus governos. A forma de governo mais harmônica e compatível com esta concepção foi, e é, a monarquia. Grande parte dos teóricos da monarquia usaram esta analogia, praticando muitas vezes uma interpretação literal das semelhanças entre os dois organismos. De acordo com esta concepção de monar-quia, o Rei equivalia à cabeça no corpo humano (dotada de razão e vontade), sede da sabedoria, e, por conseqüência, o órgão de comando do corpo físico ou político. Esta a razão para a escolha da decapitação como a punição extrema aplicada aos reis. Decapitar é separar a cabeça do corpo, eliminando o seu poder de comandar o corpo. Decapitar um Rei foi sempre a maneira simbólica de remover a ”cabeça do reino”, o seu governante, rompendo todos os vínculos de hierarquia e comando que dele partiam para a sociedade.

Mediante outros raciocínios analógicos, pode-se dizer que o governo se equivale ao cérebro de um sistema político, o parlamento ao órgão do sistema Estado, que pulsa conforme a influência dos flu-xos de pressão popular. Os fluxos de pressão popular, nesse caso, podem ser entendidos como equiva-lentes funcionais ao papel que a corrente sangüínea exerce no organismo humano e, especialmente em relação ao papel do subsistema cardiovascular para o corpo humano. Da mesma forma, os partidos, os sindicatos e os grupos de pressão podem ser vistos como as veias através das quais o fluxo sangüíneo da pressão popular chega ao parlamento (coração) e, a partir dele, chegam ao cérebro, que responde ao estímulo da irrigação sangüínea com o atendimento da demanda social. Isso, é claro, pressupondo-se um sistema saudável.

Estabilidade e ruptura do sistemaO recurso a esse artifício nem sempre permite um alto grau de precisão analógica entre os órgãos

ou organismos vivos e as partes de um sistema e/ou a um sistema social como um todo. O cientista po-lítico Francisco Ferraz (2007, p. 2) identifica o problema, ao afirmar que:

[...] o organismo, seja ele qual for, está sujeito à dinâmica da homesostasis, isto é, a retornar a um ponto de equilíbrio natural. O princípio da homesostasis, portanto, implica na existência de um estado de equilíbrio natural no organismo, que corresponde ao satisfatório funcionamento dos seus órgãos. Qualquer distúrbio que altere este equilíbrio provo-ca mudanças adaptativas para recuperá-lo. No organismo humano, este ponto de equilíbrio corresponderia ao estado de saúde do corpo. Já na sociedade, este ponto de equilíbrio tenderia a valorizar, de maneira excessiva, a estabilidade sobre a mudança. Em outras palavras, a concepção organicista da sociedade e da política tende a privilegiar uma visão conservadora, onde a homeostasis funciona para a preservação do status quo. Mudanças de maior porte, assim como criação de novos órgãos, ou remanejo de funções entre órgãos, acomodam-se com dificuldade dentro desta concep-ção. Será outra analogia, a mecânica, preponderante durante os séculos XVI e XVII, que será usada pelos homens que vão construir novas nações (Revolução Americana) ou reformar profundamente as estruturas políticas de nações anti-gas, como a Inglaterra e a França.

As noções de equilíbrio, estabilidade, harmonia, dentre outras, podem servir às teorias sociais que têm como foco a preservação da ordem social e do bom funcionamento de uma sociedade determina-da e existente. Esse pressuposto implica na identificação da posição ideológica e do enfoque do cien-

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tista social que aplica esse modelo, com a preservação do status quo (estado que existia antes) vigente nesse sistema social determinado.

As teorias que adotam esse tipo de enfoque entendem que os eventuais processos de mudança social devem ter caráter reformista, isto é, servem como processos de adaptação à novas exigências do ambiente interno e/ou externo ao sistema. Essa adaptação deve ocorrer obedecendo às regras previstas e vigentes, de-finindo formas pacíficas pelas quais – de maneira gradual e num ritmo condizente com o equilíbrio do todo – as mudanças podem e devem acontecer, sem a desestabilização ou a ruptura do todo.

No entanto, existem algumas correntes de pensamentos da teoria social que entendem a evolução da história por meio de conflitos e rupturas, descartando, portanto, as analogias orgânicas como recurso adequado à compreensão dos fenômenos relacionados à ação dos seres humanos em sociedade.

Aplicação do modelo ao objeto de estudoAplicaremos o conceito de sistema a duas situações distintas: a primeira se relaciona à idéia de

Alvin Toffler sobre as três Ondas Civilizatórias que marcaram o desenvolvimento da humanidade ao lon-go da história; a segunda aplica o conceito de sistema à análise da sociedade brasileira como nação-Es-tado. Nos dois casos, o conceito de sistema aplica-se à idéia de que uma civilização, ou uma sociedade nacional qualquer, pode ser vista como um sistema composto por partes ou subsistemas. As partes que compõem o todo – o grande sistema – seriam o subsistema econômico, social, político, cultural, e assim por diante. Todos funcionando de forma inter-relacionada e interdependente.

As Ondas Civilizatórias de Toffler correspondem ao sistema de produção de riqueza predominan-te em cada um dos períodos descritos respectivamente como: civilização agrícola; civilização industrial e civilização pós-industrial, definidos pelo autor como Primeira Onda, Segunda Onda e Terceira Onda, res-pectivamente. O conceito de subsistema econômico aplicado à análise da sociedade de base agrícola pressupõe o modo de produção baseado no método artesanal de produção, tanto na agricultura como no fabrico de utensílios para uso pessoal, familiar ou troca, que vigorou em nossa civilização desde o tem-po em que saímos das cavernas (pré-história) para entrarmos na história, até o fim da era feudal.

As sociedades com esse sistema de produção possuíam subsistemas sociais específicos (organi-zação comunitária baseada em aldeias, organização familiar baseada em grandes núcleos de convivên-cia necessários ao trabalho braçal nas unidades de produção rural familiar etc.). Da mesma forma, as relações de poder (subsistema político baseado na mistura entre religião e liderança, baixa complexida-de e poucos níveis hierárquicos entre líderes e liderados) dessas sociedades possuem formas próprias de organização e funcionamento, ocorrendo o mesmo com o subsistema cultural (religião, costumes, valores e rituais correlatos).

A matriz conceitual implícita à idéia de sistema apresentará sua aplicação correspondente quan-do usada para o estudo da civilização, cujo subsistema econômico estava baseado no industrialismo tradicional. A indústria de tipo tradicional usava, predominantemente, tecnologias mecânicas, trabalho especializado, produção em massa e seriada por meio de métodos de padronização e sincronização da produção fabril, na qual o trabalho braçal repetitivo predominava como impulsionador da produtivida-de do sistema. Sob a vigência desse sistema, desenvolveram-se formas de organização social (cidades,

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núcleo familiar reduzido devido à mobilidade urbana do trabalhador fabril), política (democracia repre-sentativa, Estado-nação, burocracia etc.) e cultural, correspondentes; típicas e distintas daquelas que existiam sob a sociedade de base agrícola.

O mesmo esquema teórico-metodológico permite aplicar-se a analogia orgânica ao estudo da sociedade pós-industrial emergente, cujo sistema produtivo baseia-se em tecnologias e conhecimento (subsistema econômico), que por sua vez concebe seus correlatos, subsistema social, político, cultural e assim por diante. A sociedade pós-industrial está em processo inconcluso de formação, mas, como sis-tema, já insinua a formação de seus subsistemas social, político, cultural, que são objeto de análise, de-bate e estudo central das Ciências Sociais contemporâneas.

Finalmente, o modelo também se aplica aos casos de sociedades nacionais. Todas as nações-Es-tado, tal como as diferentes civilizações, agrícola, industrial e pós-industrial da teoria de Toffler, podem ser vistas como sistemas cujos subsistemas, social, econômico, político e cultural, combinam-se de for-ma específica e distinta, como se tivessem uma ”personalidade” e um ”código genético”, à imagem e se-melhança dos seres humanos.

Atividades1. Além das analogias entre organismos vivos, apresentadas nesta aula, que outras analogias equi-

valentes você conseguiria fazer entre sistemas biológicos e/ou mecânicos e sistemas sociais?

2. Sob o enfoque de um sistema social comparado a um organismo vivo, que fatos sociais atuais po-deriam ser utilizados como exemplos de ”doenças” da sociedade contemporânea?

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