soc 16 - texto rubia (novos paradigmas economicos e produtivos)

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COTUCA / UNICAMP SOCIEDADE E SISTEMAS PRODUTIVOS Prof. Michel Sadalla Filho SOC 16 OS NOVOS PARADIGMAS ECONÔMICOS E PRODUTIVOS: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA Texto de: Rubia A. C. Quintão - [email protected] Campinas, Janeiro de 2001. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO UNICAMP OS NOVOS PARADIGMAS ECONÔMICOS E PRODUTIVOS: UMA DISCUSSÃO TEÓRICA PROFESSORA: MARCIA DE PAULA LEITE Texto de: Rubia A. C. Quintão - [email protected] Campinas, Janeiro de 2001.

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  • COTUCA / UNICAMP SOCIEDADE E SISTEMAS PRODUTIVOS

    Prof. Michel Sadalla Filho

    SOC 16

    OS NOVOS PARADIGMAS ECONMICOS E PRODUTIVOS: UMA DISCUSSO TERICA

    Texto de: Rubia A. C. Quinto - [email protected] Campinas, Janeiro de 2001.

    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAO

    UNICAMP

    OS NOVOS PARADIGMAS ECONMICOS E PRODUTIVOS: UMA DISCUSSO TERICA

    PROFESSORA: MARCIA DE PAULA LEITE

    Texto de: Rubia A. C. Quinto - [email protected]

    Campinas, Janeiro de 2001.

  • 2

    Introduo

    1. dentro questionamento se a globalizao e reconverso produtiva de fato representam um novo

    modo de acumulao que se insere o presente trabalho. Para um melhor construo do quadro sobre

    o assunto, pretendemos em uma primeira parte, discutir a crise dos anos 70 a partir de uma viso neo-

    schumpeteriana de como ela se relaciona com a emergncia da tecnologia microeletrnica. Logo a

    seguir, iremos entrar na discusso sobre a globalizao como uma fase distinta da internacionalizao

    do capital e discutiremos suas implicaes financeiras e produtivas. Ainda dentro desse debate,

    enfatizaremos as prticas organizacionais adotadas por certas empresas japonesas e sua contribuio

    para o sucesso competitivo das mesmas que causaram um profundo impacto no Ocidente, suas

    principais caractersticas no que diz respeito organizao da produo e do trabalho e no que elas se

    diferenciam dos princpios preconizados pela Administrao Cientfica. Iremos discutir tambm, a

    questo da reestruturao produtiva das empresas resultante do processo de mudana de um padro

    econmico e produtivo predominante no fordismo para um padro flexvel. Finalmente, faremos uma

    reflexo terica sobre a reestruturao produtiva, emprego, qualificao e padres de gesto da fora-

    de-trabalho na indstria brasileira

    2. Enfatizamos que tal reviso terica ser utilizada como parte da literatura escolhida para a

    elaborao da dissertao. Desta forma, ainda no existem muitas concluses pessoais sobre o

    tema em questo e sim uma busca de respostas questes pontuais acerca da teoria.

    3. Neste sentido, iniciaremos nosso debate a partir da forma pela qual o atual movimento de

    reestruturao econmica e industrial desencadeado em escala mundial a partir de meados da dcada

    de 70, tem provocado transformaes intensas na esfera das economias nacionais, bem como

    induzido a um processo de mudanas significativas no mundo do trabalho.

    4. Atravs de pesquisas levadas a cabo nas mais diversas cadeias produtivas com o objetivo de avaliar as

    implicaes do processo de reestruturao em curso no conjunto do mundo do trabalho, a literatura

    especializada tem identificado o surgimento de novos modelos produtivos (ou novos paradigmas de

    organizao industrial) que, ora se nos apresentam com traos de continuidade, ora evidenciam uma

    espcie de ruptura com o padro anterior de acumulao, qual seja, o paradigma taylorista/fordista1.

    5. Entretanto, conquanto ainda no se tenha esgotado a discusso sobre o conjunto das caractersticas

    no novo modo de acumulao2, possvel apontar alguns eixos de convergncia elucidados pela

    literatura especializada, entre os quais: a) a supremacia da produo flexvel sobre a produo em

    massa; b) a tendncia ao processo de externalizao das atividades fora do core; e, c) a substituio do

    princpio taylorista do on the best way pela busca constante da melhoria do processo produtivo,

    1 Tomo emprestado de Kuhn (1989) a definio do conceito de paradigma. Para o autor a noo de

    paradigma est associada a um determinado status da teoria cientfica que tendo alcanado uma credibilidade tal em funo da fora explicativa/eficincia/racionalidade de seus princpios e conceitos histrica e socialmente construdos e

    negociados entre os pares de uma determinada comunidade cientfica ento tomada como base terica e/ou emprica e/ou metodolgica para estudos diversos no campo de sua aplicao. Analogamente ao funcionamento da cincia,

    possvel pensar em paradigma de organizao industrial como conjuntos de idias, de prticas sociais, de princpios e de

    conceitos que tambm so histrica, social e economicamente construdos; e que esto na disputa com outros

    paradigmas por sua emergncia, difuso e legitimidade. Ver tambm Gitahy (1992) que define paradigma de organizao industrial a partir de uma noo neo-schumpeteriana de paradigma tcnico-econmico.

    2 O conceito de Modo de Acumulao foi sistematizado pela Escola da Regulao e, segundo Malaguti

    (1994:93), pode ser entendido como a principal fora dinmica das sociedades capitalistas ou toda forma de articulao entre a dinmica do sistema produtivo e a demanda social, entre a repartio salrio-lucro, por um lado, e o consumo-

    investimento, por outro.

  • 3

    implicando uma nova lgica associada incorporao do conhecimento do trabalhador sobre a

    produo, bem como o resgate de sua subjetividade (Leite, 1997; Hirata, 1997).

    6. Este fenmeno de reorganizao industrial denominado por muitos de III Revoluo Industrial e

    Tecnolgica (Mattoso, 1994; Pochmann, 1999) e que tambm aparece sob a designao na literatura

    internacional de vrias nomenclaturas, entre os quais: neofordismo, ps-fordismo, especializao

    flexvel, acumulao flexvel, toyotismo, produo enxuta, paradigma tecno-econmico,

    systemofacture, etc.; de acordo com Mattoso (1994) foi desencadeado pela busca de respostas crise

    capitalista (iniciada na segunda metade dos anos 60, intensificada no incio da dcada de 70 e

    estendida at 1983); pela adoo de polticas de contedo neoliberal baseadas no ajuste estrutural das

    economias dos pases perifricos s novas exigncias dos pases centrais e na flexibilizao do

    trabalho; e pela necessidade de responder s novas bases da competitividade e de reordenamento do

    mercado internacional associada abertura da economia, quais sejam, reduo de custos, obteno

    de maior produtividade e qualidade na produo, acelerao do processo de flexibilidade do trabalho

    com eliminao da rigidez oriunda da atividade sindical e das regulaes trabalhistas, etc. (Mattoso,

    1994; Druck de Faria, 1999).

    7. Alguns estudos apontam para o conjunto de efeitos heterogneos que so verificados segundo as

    caractersticas dos pases, regies, setores econmicos, segmentos dentro de uma mesma empresa

    e/ou plantas dentro de uma mesma corporao; combinando por vezes em uma mesma cadeia

    produtiva formas e polticas diferenciadas de qualificao, emprego, condies de trabalho,

    etc..(Capecchi, 1989; Gitahy, 1992; Mattoso, 1994; Leite e Rizek, 1998)

    8. Neste sentido, possvel identificar brevemente na literatura internacional do processo de

    reestruturao (ou da emergncia do novo paradigma produtivo) tanto um conjunto de autores que

    apresentam uma viso otimista em relao ao novo paradigma produtivo, enfatizando suas

    possibilidades virtuosas e suas implicaes positivas sobre o trabalho (Piore e Sabel, 1984; Kern e

    Schumann, 1989; Womack et alli, 1992; Coriat, 1994); como um outro grupo de autores que

    sustentam que o processo de reestruturao produtiva estaria associado fragmentao e a

    desestruturao do trabalho, trazendo conseqncias nefastas para as sociedades ainda baseadas no

    trabalho (Braverman, 1977; Wood, 1984; Schmitz, 1988)3.

    9. De uma maneira geral, no que se refere ao padro de uso do trabalho, o primeiro grupo de autores

    aponta para o fato de que o novo modelo poderia estar significando um rompimento com o taylorismo

    e o fordismo e, portanto, a reintegrao do trabalho de execuo com o de concepo, sustentado na

    polivalncia dos trabalhadores. Alm disso, se por um lado, o novo paradigma produtivo estaria

    associado com a supresso do emprego; por outro lado, este processo estaria provocando uma

    transformao radical na utilizao da mo-de-obra que permaneceria empregada. Neste sentido,

    para estes autores, o novo modelo produtivo tambm estaria associado utilizao crescente da

    qualificao e das habilidades profissionais do indivduo e ao enriquecimento do contedo do

    trabalho.

    3 Para a verso brasileira deste processo ver tambm Mattoso (1994); Antunes (1995); Castro e Dedeca,

    (1998)

  • 4

    10. Os autores cujo posicionamento a respeito do novo paradigma produtivo marcado por uma viso

    crtica consideram que - longe de um possvel rompimento com as prticas tayloristas/fordistas o

    processo estaria representando um aprofundamento/intensificao dessas prticas4.

    11. Esta literatura alerta para a possibilidade da convivncia de parcelas estveis e qualificadas da mo-de-

    obra gozando de determinados direitos e prerrogativas (ganhadores), ao lado de uma fora-de-

    trabalho instvel, subcontratada, em condies de trabalho precarizadas e desprovida da maioria dos

    direitos trabalhistas (perdedores) dos quais desfrutariam a mo-de-obra do ncleo produtivo

    central.

    12. Alm disso, estes autores tambm tm apontado para a possibilidade de o processo de reestruturao

    implicar um trabalho intelectualmente mais rico e qualificado para os homens e, por outro lado, a

    degradao do trabalho feminino associada a intensificao do ritmo de trabalho, rotinizao de

    tarefas, desqualificao e aumento do controle (Wood, 1984)5.

    13. Alguns estudos mais recentes mostram que, conquanto a precarizao e a excluso atinja tambm aos

    homens, h no caso das mulheres uma superposio das antigas formas de excluso e precarizao

    com as modalidades mais recentes. Isto quer dizer que apesar do aumento importante da presena

    feminina no mercado de trabalho, os processos de reestruturao reforariam a diviso sexual do

    trabalho, criariam novos espaos de segregao da mulher, reforando a sua excluso. Neste sentido,

    bem verdade que h um nmero maior de mulheres alocadas em postos precarizados, nas empresas

    terceiras e no trabalho a domiclio, conforme observaram Arajo e Ferreira (2000) e Arajo, Ferreira e

    Amorim (1999).

    14. Ademais, boa parte da bibliografia parece convergir para o fato de a tendncia requalificao e

    polivalncia to demandadas pelo novo mtodo de trabalho estar significando um processo indito de

    intensificao do trabalho tanto para homens quanto para mulheres (Carvalho e Bernardes, 1996;

    Carrion, 1997; Garay, 1997; Castro, 1998; etc.).

    15. A seguir veremos com a crise dos anos 70 resultou no surgimento da microeletrnica como um novo

    paradigma tcno-cientfico e econmico a partir de uma viso neo-schumpeteriana da inovao.

    16. A crise dos anos 70 e a emergncia de um novo paradigma tcno-cientfico

    17. De maneira sucinta podemos inferir que a crise dos anos 70, teve seus desdobramentos a partir de

    1973, at ento reinava um perodo de intensa prosperidade ps-guerra, tambm conhecido como

    anos dourados. Essa crise tambm considerada como uma crise do modelo keynesiano de

    crescimento capitalista, tendo durao de praticamente um dcada, caracterizou-se, de uma forma

    geral, pela estagflao; pela queda de produtividade; pelo aumento dos custos reais dos insumos da

    produo; pelo choque de preos do petrleo; pelo choque da taxa de juros e conseqente

    4 Leite (1997), por exemplo, ao reconhecer que a emergncia de um novo paradigma uma realidade

    constatada do setor industrial ao setor tercirio de todo o mundo, observa que embora os princpios orientadores do

    taylorismo/fordismo estejam na berlinda dos novos conceitos de produo, isto no significaria dizer que os mesmos

    estivessem sendo atenuados/esquecidos, mas apenas estariam ganhando uma nova dimenso e sendo inseridos em novas

    lgicas. Tambm Zarifian (1998) conclui em favor da permanncia do olhar taylorista sob o processo de trabalho

    associado prescrio e repetio de tarefas. 5 Sobre a precarizao do trabalho feminino na Amrica Latina e no Brasil ver Gitahy (1992); Hirata (1997);

    Castro (1998); Abramo (1998); Posthuma (1998) e Leite e Rizek (1998).

  • 5

    instabilidade financeira. Seria insuficiente explicar o esgotamento tecnolgico simplesmente no limite

    de mercado, como fazem Piore e Sabel, pois o prprio capitalismo cria novos mercados.

    18. Dentro deste contexto a viso neo-schumpeteriana, centrada na inovao como principal elemento

    dinamizador da atividade econmica capitalista, considera que a crise da nos anos 70 se deve muito

    mais a um ajuste estrutural do que aos fatores conjunturais citados como as causas da crise nesse

    perodo. Neste sentido, os neo-schumpeterianos consideram o esgotamento de um paradigma e o

    surgimento da microeletrnica como um novo paradigma tecno-econmico. A difuso dessa mudana,

    normalmente acompanhada por uma crise de ajustamento estrutural com grandes dimenses sociais

    e institucionais.

    19. Para os neo-schumpeterianos de uma forma geral, a crise estrutural dos anos 70 conseqncia de

    fatores como o esgotamento do modelo fordista de produo em massa, que tinha como base a

    grande disponibilidade de petrleo barato; o esgotamento das tecnologias sobre as quais se assentou

    esses modo de crescimento; a dificuldade de encontrar novos mercados para a produo em massa; a

    difuso da microeletrnica; a estagnao da inovaes bsicas e o esgotamento das inovaes de

    aperfeioamento.

    20. Segundo Freeman a crise se apresenta como um limite de crescimento do paradigma tecnolgico do

    Quarto Kondratieff, estando associada a teoria de ondas longas de Schumpeter representada por uma

    sucesso de paradigmas tecno-econmicos associados com um arcabouo institucional

    caracterstico, onde h perodos de rpida expanso seguidos de crises e depresses. Para os neo-

    schumpeterianos, as inovaes tem papel central na explicao dos ciclos, j que, consideram como

    fator causal a introduo e difuso de um grupo de inovaes concentradas no tempo. Para estes

    autores, a formao de uma nova onda longa requer, essencialmente, a introduo concentrada no

    tempo de um conjunto de inovaes bsicas que cumpram certos requisitos (Motta, 1988). Eles

    encaram os perodos de acelerao do crescimento econmico, como um fato baseado na difuso de

    novos paradigmas tecno-econmicos na economia mundial e depresses mais profundas como

    perodos de ajuste estrutural, em que o arcabouo social e institucional est se adaptando ao

    surgimento das importantes novas tecnologias.

    21. A microeletrnica foi um fator essencial para a implementao do processo de reestruturao do

    sistema capitalista e teve o microprocessador como o principal dispositivo de difuso. A

    microeletrnica est intimamente relacionada a crise, j que, considerada com o principal elemento

    novo paradigma tecno-econmico. Apesar de ser anterior a crise, sua emergncia e difuso se deve ao

    surgimento de condies propcias seu desenvolvimento, pois haviam naquela poca fatores

    econmicos e sociais fortes que funcionam como foras desencadeadoras desse novo paradigma.

    Segundo Freeman e Perez, somente quando a produtividade, ao longo das trajetrias velhas, mostra

    limites persistentes ao crescimento e os lucros futuros so seriamente ameaados que os altos riscos

    e custos de se tentar as novas tecnologias aparecem como claramente justificados.

    22. Para os neo-schumpeterianos, a introduo de um conjunto inter-relacionado de inovaes tcnicas,

    organizacionais e gerenciais que modificam profundamente a estrutura de custos relativos dos

    insumos produtivos, estabelece um novo paradigma para o subsistema tecno-econmico. Esse

    paradigma muito mais do que simplesmente um conjunto de inovaes ou de sistemas tecnolgicos,

    j que, ao modificar a estrutura de custos relativos dos insumos, ele define no sistema produtivo as

  • 6

    decises tecnolgicas e as condies de produo e distribuio mais lucrativas e de maior

    produtividade.

    23. Segundo os neo-schumpeterianos, a microeletrnica se constitui como a base do novo paradigma

    tecno-econmico, j que, sua aplicao em uma constelao de produtos e servios agrupou um

    conjunto de indstrias, setores e segmentos na forma de um complexo eletrnico, densamente

    intra-articulado pela convergncia intrnseca da tecnologia da informao. A formao desse poderoso

    cluster de inovaes capazes de penetrar amplamente (uso generalizado), direta ou indiretamente,

    todos os setores da economia configura a formao de um novo paradigma tecnolgico no mais puro

    sentido neo-schumpeteriano. (Coutinho, p.10)

    24. Dentro da taxonomia da inovao definida por uma faco dos neo-schumpeterianos, temos: inovao

    incremental, inovao radical, novos sistemas tecnolgicos e mudanas de paradigmas tecno-

    econmico. As mudanas no paradigma tecno-econmico, se caracterizam por mudanas nos sistemas

    de tecnologia com efeitos de to amplo alcance que causam impactos no comportamento de toda a

    economia. Mudanas dessa natureza, carregam consigo muitos agrupamentos (clusters) de inovaes

    radicais e incrementais, e podem incorporar vrios novos sistemas de tecnologia. Uma caracterstica

    vital deste tipo de mudana tecnolgica que seus efeitos se difundem amplamente (efeitos

    pervasivos) isto , ele no s leva emergncia de uma nova gama de produtos, servios, sistemas e

    indstrias, em seu prprio ramo, como tambm afeta diretamente ou indiretamente quase todos os

    ramos da economia (Freeman e Perez,).

    25. Visto como um novo paradigma tecno-econmico, a microeletrnica considerado como um insumo

    ou um fator-chave que identifica o paradigma atual e que possui as seguintes caractersticas: baixo

    custo relativo, claramente percebido e decrescente; disponibilidade aparentemente ilimitada de

    oferta/proviso durante longos perodos; potencial claro para o uso ou incorporao do novo fator

    chave (ou fatores) em muitos produtos e processos ao longo do sistema econmico.

    26. Um paradigma econmico e tecnolgico um agrupamento de inovaes tcnicas, organizacionais e administrativas inter-relacionadas cujas vantagens devem ser descobertas no apenas em uma nova gama de produtos e sistemas, mas tambm e sobretudo na dinmica da estrutura dos custos relativos de todos os possveis insumos para a produo. Em cada novo paradigma, um insumo especfico ou conjunto de insumos pode ser descrito como o fator-chave desse paradigma caracterizado pela queda dos custos relativos e pela disponibilidade universal. A mudana contempornea de paradigma pode ser vista como uma transferncia de uma tecnologia baseada principalmente em insumos baratos de energia para uma outra que se baseia predominantemente em insumos baratos de informao derivados do avano da tecnologia em microeletrnica e telecomunicaes. (Freeman, 1988)6

    27. Em suma, a crise dos anos 70 levou as empresas e economias nacionais a intensificarem a busca de

    novos caminhos para a elevao da produtividade e para o desenvolvimento de novos produtos e

    mercados. Tal procura realizou-se sobretudo pela explorao das oportunidades oferecidas com o

    progresso realizado no campo das novas tecnologias. As tecnologias da informao baseadas na

    microeletrnica, possuem uma ampla pervasividade e potencial para criar novos produtos e mercados,

    influir na transformao de quase todos os produtos e servios existentes ou pelo menos na maneira

    de produzi-los e vend-los. (Quadros, 1996:95)

    6 C. Freeman, Prefcio da parte II in Dosi et al. (1988b:10)

  • 7

    28. Implicaes da Globalizao

    29. A globalizao implica um grau maior de integrao entre o sistema de produo e de comrcio, uma

    interligao das atividades econmicas das empresas em redes tecnolgicas e organizacionais,

    permitindo que as empresas desenvolvam, produzam e distribuam produtos especficos. A atividade

    econmica no somente de amplitude internacional, mas global em sua organizao. A globalizao

    tambm implica um grau maior de integrao funcional entre as atividades dispersas

    internacionalmente. Dessa forma se coloca a necessidade de uma forma de governana, ou seja, um

    modo de coordenao dessas atividades que podem se apresentar de trs formas: mercado,

    hierarquia ou redes de organizaes pblicas e/ou privadas.

    30. Destacamos a necessidade neste tpico de uma reviso de questes que influenciam diretamente a

    forma como as empresas hoje se relacionam no mercado global. As questes que buscaremos

    responder so relativas a idia de como a globalizao se apresenta como uma fase distinta da

    internacionalizao do capital; discutiremos suas implicaes financeiras e produtivas; as implicaes

    da abertura comercial e finalmente a mudana na estrutura regulatria dos pases. Muitas outras

    questes sobre a globalizao e suas implicaes podem ainda ser exploradas, contudo no momento

    iremos nos deter apenas a esses aspectos.

    31. A diferenciao entre globalizao e internacionalizao, um assunto amplamente debatido pela

    literatura especializada. Existem vises que consideram a globalizao como uma ruptura com o

    processo de internacionalizao e outras que a consideram como uma seqncia mais aprofundada.

    Neste sentido, consideramos que a globalizao pode ser definida como um aprofundamento dos

    processos de internacionalizao da economia mundial, no qual torna-se evidente um amplo espectro

    de compra e venda de insumos, produtos e, principalmente, de servios. Tais processos so

    desencadeados atualmente num ambiente que no distingue fronteiras nacionais e que, cada vez

    mais, sustenta-se no desenvolvimento do setor de comunicao e tecnologia da informao. Alm

    disso, uma gama de significados atribudos ao processo de globalizao tem-se constitudo a partir dos

    mltiplos impactos que este fenmeno tem acarretado em diversos aspectos das relaes sociais,

    quais sejam, processos produtivos, financeiros, comerciais, institucionais e de poltica econmica.

    32. Com a Globalizao da economia e os conseqentes processos de territorializao e

    desterritorializao do capital, este cada vez mais afasta-se da configurao industrial e transforma-se

    em capital fictcio ou financeiro, configurando portanto um quadro de desregulamentao dos

    sistemas financeiros viabilizando o afluxo do Investimento Externo Estrangeiro e, por extenso a

    transnacionalizao das empresas multinacionais portadoras do saber tecnolgico, da P&D e da

    capacidade inovativa7. Neste sentido, a competitividade advinda da abertura comercial exige que as

    polticas de regulao dos pases referentes questes como propriedade intelectual e investimento

    estrangeiro, sejam integradas num todo coerente e homogneo com as polticas de comrcio

    internacional.

    33. Em conformidade com a definio dada pela OCDE (1992), trata-se de uma nova fase nos processos de

    internacionalizao e expanso da produo internacional instrumentalizada por novos elementos

    criadores de interdependncias. De acordo com a OCDE, a partir da dcada de 80 houve uma

    7 Se bem que apenas 10% a 30% da atividade tecnolgica dessas empresas acontece em subsidirias

    estrangeiras j que, de acordo com dados levantados por uma pesquisa efetuada por Pari PATEL e Keith PAVITT da

    Universidade de Sussex, as grandes empresas concentram suas atividades de pesquisa e desenvolvimento nas suas bases

    nacionais (Folha de So Paulo, 10/10/96).

  • 8

    crescente desregulamentao financeira que caraterizou um processo de globalizao nas finanas -

    aliada introduo das novas tecnologias foram responsveis pela catalizao de tal fenmeno.

    assim que a passagem dos processos de internacionalizao aos processos de globalizao da

    economia mundial tem-se efetivado, principalmente, atravs de processos de concentrao global,

    seja pela elevao dos investimentos estrangeiros na indstria e no setor de servios, seja pelos

    processos de transnacionalizao das empresas multinacionais, seja pela alta concentrao industrial

    que provoca uma ruptura nas estruturas dando lugar aos oligoplios globais.

    34. No que diz respeito aos aspectos financeiros, pode-se observar uma tendncia de elevao no volume

    de recursos e uma maior velocidade de circulao e interao dos mesmos. Segundo Baumann os

    dados relativos aos fluxos de investimento direto externo estimados pela UNCTAD (1994), o estoque

    total de investimento direto externo atingiu, US$ 2 trilhes, associado existncia de 38 mil empresas

    transnacionais com suas 207 mil subsidirias. Isso representa um salto, e comparado com as 3500

    empresas estabelecidas no perodo compreendido entre 1946 e 1961. Tal interao resultado da

    desregulamentao e reduo do grau de intervencionismo peculiar s economias fechadas de

    outrora. A desregulamentao tem seus antecedentes na reduo do dinamismo da economia norte-

    americana a partir dos anos 60, bem como no aquecimento do dinamismo das exportaes asiticas e

    na reduo do ritmo da produtividade nas economias norte-americanas e europias. Desta forma, em

    decorrncia da necessidade de controlar a inflao foram tomadas medidas com a finalidade de

    desregulamentar e elevar as taxas de interesse nos mercados financeiros, de transportes e

    telecomunicaes - provocando, ento, avanos tecnolgicos nas reas de comunicao e da

    informao, as quais constituram-se em eixos norteadores do processo de globalizao. Assim, a

    expanso do setor financeiro provocou uma ruptura no setor bancrio e a emergncia de novos

    produtos financeiros responsveis em realimentar a liquidez do sistema.

    35. Por outro lado, as principais economias industrializadas promoveram a reduo das taxas de cmbio e

    dos custos de transao baseados nos intercmbios comerciais da etapa anterior de

    internacionalizao; facilitando, desta forma, a interao entre os diferentes setores que intervinham

    no processo produtivo - reforando a tendncia complementaridade no comrcio e na estrutura

    produtiva. neste sentido que tal desregulamentao do setor financeiro sustentada pelas novas

    tecnologias tem aumentado, cada vez mais, as disponibilidades das finanas em reas fora da esfera

    de controle das autoridades monetrias e fiscais nacionais.

    36. No que diz respeito s relaes econmicas, na etapa da internacionalizao tais eram baseadas em

    uma poltica econmica voltada basicamente para uma articulao entre as polticas dos estados e as

    aes dos agentes econmicos, entretanto, restritas ao mbito nacional no qual efetivava-se as

    transaes comerciais, de produtos e fatores de produo num dado mercado. J na globalizao, as

    relaes entre as distintas unidades nacionais j no so mais limitadas pelos mercados na esfera das

    fronteiras nacionais, mas no mbito das fronteiras mundiais tendendo a uma crescente

    homogeneizao produtiva passando a fazer parte de uma mesma estrutura integrada de gerao de

    valor. Convm ressaltar que essas relaes j no se desenvolvem entre os estados, entretanto, entre

    os diferentes agentes econmicos.

    37. Neste sentido, em busca de uma maior competitividade e com base no processo de abertura dos

    mercados, as empresas tm centrado seus esforos no empreendimento de novos tipos de

    associaes, tais como: alianas estratgicas, joint-venture, acordos de redes, etc. Desta forma, a

    interao entre os agentes de diversos pases obedece s estruturas decisrias de uma determinada

  • 9

    empresa e, por sua vez, tais decises esto atreladas s estratgias de cada empresa e cada vez menos

    sujeitas a polticas nacionais, favorecendo assim, os processos de negociao, j que, as novas formas

    de interao e associaes tecnolgicas tm-se constitudo num elemento de relevncia a fim de

    incrementar as vantagens competitivas, bem como atrair maiores volumes de investimentos

    estrangeiros.

    38. No que diz respeito as implicaes globais no aspecto produtivo, os principais atores que formam a

    base do novo sistema produtivo so as empresas transnacionais e transcontinentais, isto , mundiais,

    que tm suas escalas operacionais ampliadas por um conjunto de redes industriais intercomunicantes

    e especializadas no mbito mundial. A globalizao da indstria conduz a um afrontamento na

    concorrncia, no mais localmente, mas diretamente no frum do mercado mundial. Estas mudanas

    modificam drasticamente a dinmica espao-organizacional das empresas. A performance virtuosa da

    empresa piramidal, unificada e verticalizada do padro fordiano de produo revela-se obsoleta para

    suprir as variaes de mercado no previstas. (Bernardes, 1994).

    39. Para Gereffi (1994), a industrializao global o resultado de um sistema integrado de produo e

    comrcio, sendo que, a abertura do comrcio internacional estimulou naes a especializarem-se em

    ramos industriais diferentes e at em fases diferentes de produo dentro de um indstria especfica.

    Este processo alimentado pela exploso de novos produtos e novas tecnologias tem levado a

    emergncia de um sistema industrial global. O desenvolvimento das tecnologias de comunicaes e de

    transporte permitiu aos produtores e varejistas estabelecer uma produo internacional em rede de

    comrcio global.

    40. As relaes entre a globalizao, a abertura comercial e as mudanas na estrutura regulatria dos

    pases, so estabelecidas num contexto de reformulao da propriedade intelectual e do investimento

    estrangeiro, visando a ampliao da capacidade competitiva das economias regionais dentro de um

    cenrio internacional globalizado. As tendncias globalizao da competio e concentrao nos

    mercados mais promissores exigem que as polticas de regulao relativas ao ambiente competitivo

    domstico, sejam integradas num todo coerente com as polticas de comrcio exterior.

    41. Na Reunio de Bretton-Woods foi criado o GATT, acordo geral para controle do comrcio internacional

    referente a preos de commodities, barreiras tarifrias, etc. Em 1995 foi criada a OMC (Organizao

    Mundial do Comrcio), rgo responsvel pelo controle do comrcio internacional. A OMC o nico

    rgo internacional responsvel pelas normas que regem o comrcio entre os pases. Seu principal

    propsito assegurar que as correntes comerciais circulem com a mxima facilidade, previsibilidade e

    liberdade possveis.

    42. O acordo da OMC sobre propriedade intelectual consiste basicamente de uma srie de normas que

    regem o comrcio e os investimentos na esfera das idias e da criatividade. Essas normas estabelecem

    como se devem proteger nos intercmbios comerciais o direito de autor, marcas de fbricas, nomes

    geogrficos utilizados para identificar os produtos, desenhos e modelos industriais, esquemas de

    traado dos circuitos integrados e informao no divulgada, como por exemplo os segredos

    comerciais, aspectos estes conhecidos como propriedade intelectual.

  • 10

    43. Novas Tcnicas de Gesto e Produo Flexvel

    44. A questo da implementao das novas tcnicas de gesto baseadas na experincia japonesa tem-se

    tornado central no mbito das organizaes contemporneas constituindo-se num instrumento

    importante para aquelas empresas preocupadas em reestruturar seu parque industrial produtivo, bem

    como nos aspectos ligados sua competitividade. A atual fase por que passa a organizao dos modos

    de produo denominada como modelo de reestruturao produtiva ou toyotismo. Tal modelo

    conceituada por Coriat como um conjunto de inovaes organizacionais, surgidas no Japo, a partir

    dos anos 50, tendo como princpios a desespecializao e polivalncia operria rompendo com a

    relao um homem/uma mquina que fundamenta o fordismo e a implantao do sistema just-in-

    time. O novo modelo de organizao da produo e do trabalho, tem provocado grande impacto no

    que se refere revoluo tcnica operada na indstria japonesa, bem como no que diz respeito

    rpida disseminao de seus princpios bsicos em escala mundial8.

    45. na dcada de 80, que mudanas profundas como a automao, a robtica e as tecnologias intensivas

    em informao baseadas na microeletrnica se inserem no ambiente fabril, consolidando novas

    relaes de trabalho e de produo do capital, trazendo desdobramentos diretos sobre o nvel de

    emprego. Transformaes que se norteiam, cada vez mais, em direo a uma busca pelas modalidades

    de desconcentrao industrial e pelos novos padres de gerenciamento da fora de trabalho baseados

    em iniciativas como os CCQ (Crculo de Controle de Qualidade), a gesto participativa e a qualidade

    total que, como nas palavras de Antunes (1995), so expresses que marcam no s o mundo japons,

    mas que esto presentes em vrios pases de capitalismo avanado e do Terceiro Mundo

    industrializado; e que so responsveis pela ruptura com o modo de produo vigente enraizado nos

    princpios da Administrao Cientfica (taylorismo/fordismo) e pela emergncia de um novo padro de

    organizao capitalista da produo e do trabalho alicerado nos princpios de Ohno9 ou nos mtodos

    de gesto (toyotismo/ohnismo). O novo modelo, representa o incremento das inovaes

    organizacionais e tecnolgicas, sustentadas na flexibilidade e diversificao da atividade produtiva,

    alteraes na organizao social e espacial (layout), com uma verdadeira revoluo logstica dos

    processos da produo orientados pelas polticas de controle de qualidade de defeito zero e princpios

    de estoque zero (just-in-time/kanban). (Bernardes, 1994, p.37).

    46. Com a adoo desse novo processo, a empresa adquire maior flexibilidade e uma melhor adaptao

    aos processos de mudanas no que se refere a inovaes tecnolgicas, pedidos de clientes e

    principalmente concorrncia com outras empresas. O novo modelo de organizao da produo,

    necessita de uma maior agilidade na adaptao do maquinrio e dos instrumentos para que novos

    produtos sejam elaborados.

    47. Dentre os principais pontos que esto na essncia do modelo, o JIT e o TQC (que tem como objetivo

    o Zero Defeito) constituem uma disciplina essencial no interior da fbrica com a finalidade de trazer

    tona os problemas da produo. O principal aspecto do sistema just-in-time a reduo de custos e o

    8 Alm de outros 'paradigmas' que se apresentam sob os mais variados nomes na literatura internacional mas que, na

    realidade, designam o mesmo fenmeno de reordenamento da organizao industrial, quais sejam: neo-fordismo ou

    ps-fordismo para a Escola da Regulao francesa; novo paradigma tcnico-econmico para os neoshumpeterianos;

    estratgia PIW, na literatura escandinava; especializao flexvel para Piore & Sabel; sistemofacture para a literatura

    da reorganizao da indstria automobilstica; e , lean production ou produo enxuta para o grupo do Massachussets

    Intitute of Technology (Gitahy, 1992).

    9 Engenheiro mentor do sistema Toyota.

  • 11

    aumento da flexibilidade da empresa a fim de atender s variaes da demanda dos mercados. A

    produo de pequenos lotes preconizada pelo modelo pressupe a existncia de um sistema efetivo

    para detectar imediatamente defeitos e problemas, rastreando-os at a sua origem com o intuito de

    assegurar que os mesmos no sejam repetidos. Entre as mudanas que se percebem na empresa

    atravs de sua aplicabilidade tm-se a reduo do nvel de estoque, do espao fsico necessrio s

    atividades, dos nveis de perdas na produo, aumento da utilizao dos equipamentos e, por outro

    lado, aumento da produtividade - principalmente via intensificao do trabalho despendido pelos

    trabalhadores durante a jornada (esforo fsico e carga mental) e aumento do controle da produo

    pela empresa conjugado a existncia de um sistema de informao compreensvel de forma a que

    todos possam responder rapidamente a quaisquer problemas como tambm entender a situao geral

    da fbrica no que diz respeito produo.

    48. Dentre as caractersticas desse novo modelo, temos o kanban10 que desempenha um papel primordial

    uma vez que a lgica do processo produtivo inverteu-se, ou seja, a venda que gera uma ordem de

    produo alavancando, conseqentemente, a reposio de estoques - operao inspirada segundo

    Coriat (1992) no modelo de funcionamento dos supermercados que, aps a venda, repunham os

    produtos nas prateleiras. Temos tambm a organizao da produo em clulas ou ilhas de fabricao

    em que as mquinas so dispostas em grupos de forma a acompanhar o fluxo das peas. Substituindo

    o arranjo funcional (no qual as mquinas so agrupadas segundo os tipos). Sua evoluo lgica,

    entretanto, pressupe a introduo dos equipamentos computadorizados e a constituio dos

    sistemas flexveis de manufatura (FMS) que consistem na formao no s de clulas baseadas em

    mquinas-ferramenta a comando numrico computadorizadas, como na integrao com o

    departamento de mtodos e processos, o que permite que sejam monitoradas distncia atravs de

    terminais de computao (CAM). (Leite, 1996 p. 40)

    49. Um ponto a ser observado no modelo que o torna realmente inovador aquele que se refere11

    horizontalizao, aplicao e expanso de seus mtodos e procedimentos de gesto para toda a rede

    de empresas subcontratadas, bem como um esforo conjugado no sentido de redefinir as relaes

    clientes-fornecedores, o que acaba por provocar uma intensa difuso de seus princpios12.

    50. Por outro lado, a sustentao do modelo assegurada na medida em que capaz de oferecer

    vantagens tambm para a mo-de-obra responsvel pela operacionalizao de suas tcnicas. Desta

    forma, o modelo tem sinalizado atravs de contrapartidas tais como, habilitao mltipla,

    treinamento para diversas tarefas de um mesmo setor, integrao do controle da produo e

    qualidade proporcionando maior variao no trabalho, participao em crculos de qualidade, vnculos

    empregatcios estveis e maiores benefcios (Humphrey, 1992). Alm disso, o sistema pressupe

    mudanas na natureza das relaes entre trabalhadores e gerncia que passam a ser concebidas como

    necessrias para a boa performance dos novos padres de trabalho.

    51. Uma das caractersticas preponderantes deste sistema tem-se colocado no sentido de demandar

    grandes investimentos e elevados desembolsos de capital injetados no treinamento da mo-de-obra,

    j que, a existncia deste sistema est atrelada a necessidade de maior qualificao e polivalncia da

    10

    Sistema de cartes que utilizado para sinalizar a necessidade de reposio de insumos/produtos para a produo. 11

    Ao contrrio da verticalizao fordista das fbricas norte-americanas que ampliaram sua cadeia produtiva integrando

    verticalmente 12

    Kanban, just-in-time, flexibilizao, terceirizao, subcontratao, CCQ, qualidade total, eliminao do desperdcio,

    gerncia participativa, sindicalismo de empresa.

  • 12

    classe trabalhadora. Alm disso, um sistema que pressupe um amplo espectro de mudanas no que

    dizem respeito ao reenfoque da produo da companhia em produtos e processos-chave,

    reestruturao da administrao (reduo do nmero de nveis hierrquicos e mudanas nas relaes

    departamentais), ao melhoramento seletivo do equipamento, modificao dos procedimentos bem

    como mudanas nas relaes com fornecedores e clientes. Tal sistema, portanto, requer uma soma

    elevada de inverses - o que, por outro lado, esbarra na falta de recursos gerenciais, fato peculiar s

    empresas dos pases de Terceiro Mundo. Da mesma forma, fica evidenciado que as novas tcnicas de

    gesto baseadas no JIT/TQC exigem uma mudana na mentalidade operria no que diz respeito s

    modificaes no processo de trabalho, nas relaes com a gerncia e nas relaes entre os seus pares -

    onde o grupo passa a desempenhar um papel central na execuo dos servios de rea, bem como na

    resoluo dos seus prprios problemas e na melhoria da qualidade, O JIT/TQC envolve uma busca

    contnua de aperfeioamento, denominada kaizen.

    52. importante ressaltar que os resultados que se consegue obter com a introduo dos mtodos

    japoneses, pode-se dizer, superam em grande medida aqueles obtidos somente dando nfase na

    incorporao de novas tecnologias de base microeletrnica - j que o fator de sua eficcia est

    baseado, principalmente, na cooptao e no engajamento psquico do trabalhador. Por outro lado,

    necessrio pontuar que a microeletrnica um elemento-chave que atravessa em grande medida a

    operacionalizao das tcnicas de JIT/TQC, auxiliando e amplificando a sua performance e a

    flexibilizao da produo.

    53. Atualmente as empresas caracterizam-se por uma grande mutabilidade e flexibilizao o que torna

    invivel a sobrevivncia de empresas que ainda adotam o modelo da administrao cientfica, j que

    nela o principal requisito a especializao. A idia de como produzir para um mercado estreito,

    mostrou que o modelo de administrao cientfica no atende mais as necessidades de produo, pois

    ele se baseia em uma economia de escala, visando um grande mercado. O novo conceito de produo

    advindo dessa necessidade, segundo Kern e Schumann13, representaria uma ruptura com o taylorismo

    e o fordismo assunto apontado como bastante controverso pela literatura especializada , com

    uma nova lgica de utilizao da fora de trabalho. O novo modelo necessita, ao contrrio do modelo

    taylorista-fordista, de funcionrios qualificados, capazes de realizar trabalho em equipe, polivalncia e

    rotatividade de funes, pois a organizao em clulas de produo, requer funes mltiplas e o

    desdobramento flexvel da mo-de-obra.

    54. Desta forma, se por um lado, o taylorismo/fordismo representa - do ponto de vista de sua estrutura -

    um aprofundamento da diviso do trabalho na empresa, por outro lado, o toyotismo/ohnismo vm

    marcar um processo de flexibilizao desta diviso do trabalho em decorrncia da emergncia de

    mercados de consumo exigentes; da produo variada/diversificada/pronta para suprir o consumo; e,

    de uma fora de trabalho disciplinada - elementos que se apresentavam de forma tmida no modelo

    anterior - j que a existncia de mercados no-exigentes, a produo em massa e uma fora de

    trabalho a ser domesticada facilitaram uma intensificao da diviso do trabalho e do modelo

    taylorista.

    55. Podemos destacar pontos bsicos na diferenciao entre o modelo emergente e o paradigma

    taylorista/fordista. Assim, enquanto no fordismo a produo (em srie) de produtos homogneos

    comanda o mercado, no toyotismo o consumo (mercado) quem dirige a produo j que os bens so

    13

    Segundo KERN, H. e SCHUMANN, M. citado por Bernardes, Roberto.

  • 13

    diversificados com a finalidade de atender a mercados mais exigentes. Isto , se por um lado, o

    paradigma taylorista/fordista vende o que produz; o toyotismo produz o que vende j que a produo

    conduzida diretamente pela demanda gerando, em contrapartida, uma maior flexibilidade

    justamente porque trabalha-se em funo da demanda no havendo, portanto, acmulo de estoques

    pois a produo sustenta-se na existncia do estoque mnimo, buscando assim, atravs do just-in-time

    a otimizao do tempo de produo, do transporte, do controle de qualidade e do estoque. Um ponto

    importante a ser ressaltado, que se no taylorismo/fordismo a preocupao norteava-se no sentido

    de controlar a qualidade dos produtos, no toyotismo/ohnismo esse vis est centrado na produo da

    qualidade, ou seja, da 'uniformidade' dos processos.

    56. No que diz respeito ao gerenciamento do trabalho, o toyotismo tem-se firmado novamente como um

    paradigma de ruptura com o taylorismo/fordismo, j que, pressupe um deslocamento do foco no

    posto de trabalho ou postos individuais para um foco no processo - preconizando a constituio de

    times ou equipes de trabalho recuperando, desta forma, a interdependncia entre os trabalhos ao

    romper com o seu carter parcelar tpico do fordismo. Neste sentido, interessante observar o quanto

    se torna emblemtica ao modelo japons - enquanto processo gil e lucrativo de produo de

    mercadorias o trabalho em equipe maior que a soma dos trabalhos de todos os indivduos.

    57. Ademais, se o modelo toyota est fundamentado num processo produtivo flexvel em detrimento de

    um processo de produo fordizado, torna-se necessrio romper com o carter rgido de tarefas

    especficas ao trabalhador coletivo fabril, dando portanto vazo a um perfil potencializado para a

    execuo de multi-tarefas baseadas na integrao de funes, controle de qualidade, manuteno e

    administrao de fluxos. O trabalhador designado, desta maneira, a tornar-se polivalente - o que, em

    conformidade com a literatura especializada, tem a ver menos com qualificao do que, propriamente,

    com a capacidade de operar vrias mquinas e combinar tarefas simples. Entretanto, na viso otimista

    de Coriat (1992), o processo de trabalho estaria atravessando, neste modelo, uma etapa marcada

    notadamente pela desespecializao - j que pressupe um escopo de trabalho maior e uma maior

    demanda pelas habilidades cognitivas bem como de maior escolarizao em decorrncia da

    necessidade de comunicao e de utilizao de ferramentas que requerem um raciocnio lgico,

    abstrato e intelectualizante - e pela transformao dos operrios profissionais e qualificados em

    trabalhadores multifuncionais.

    58. Em situaes de crise, o sucesso obtido por pases como Japo, Coria e Formosa com a

    implementao de tais tcnicas de gesto (da produo e do trabalho) tem tornado o modelo japons

    atraente nos pases de Terceiro Mundo e, em especial, no Brasil com a conseqente ampla difuso das

    tcnicas do JIT/TQC no mundo ocidental.

    59. Entretanto, a adoo de novas tcnicas de gesto japonesa nos pases de Terceiro Mundo deve ser

    cautelosa j que preciso ter o cuidado para no adotar somente partes do modelo que so

    convenientes s empresas. Em conformidade com Humphrey (1993), a preocupao central deve

    constituir-se na sua adoo de modo crtico, com aprimoramento e adaptao s condies locais

    desses pases em detrimento da mera importao de pacotes receiturios, no abandonando contudo

    os seus princpios bsicos.

    60. Reestruturao Produtiva, Emprego, Qualificao e Padres de Gesto da Fora-de-Trabalho na

    Indstria Brasileira

  • 14

    61. No que se refere ao processo de reestruturao na indstria brasileira, o primeiro aspecto a ser

    ressaltado foi a mudana no modelo de desenvolvimento at ento existente. O modelo de

    substituio de importaes, no qual o padro de concorrncia estabelecido voltava-se basicamente

    para um mercado interno significativo e protegido por uma forte poltica de controle de importaes,

    vigorou at o final dos anos 70.

    62. Durante os anos 80, inicia-se o lento abandono deste modelo: a forte retrao do mercado interno no

    incio da dcada (associada chamada a crise da dvida) e medidas para estimular o aumento das

    exportaes (para equilibrar a balana comercial) vo induzir o aumento das exportaes, e nos anos

    seguintes, sucessivos planos econmicos vo tentar, sem xito, debelar a crescente inflao. (Leite,

    1994a; Gitahy, 1994c).

    63. somente no incio dos anos 90, no Governo Collor que vamos assistir a um brusco movimento de

    abertura comercial (reduo das tarifas de importao), que ser mantida pelos governos posteriores,

    os quais conseguiro at a crise asitica controlar a inflao. A partir da poltica de abertura da

    economia s importaes adotada pelo Estado, as empresas brasileiras inclusive as que j

    relacionavam-se com a atividade exportadora tiveram que modificar e melhorar suas estratgias de

    qualidade e produtividade para fazer frente concorrncia e s exigncias internacionais (Leite,

    1994a).

    64. Embora a difuso de um conjunto de inovaes tecnolgicas e organizacionais na indstria brasileira

    tenha se iniciado a partir do final dos anos 70, foi nos anos 80 e mais fortemente na dcada de 90 que

    este movimento intensificou-se ao longo das mais diversas cadeias produtivas, assumindo um ritmo

    acelerado de reestruturao. As transformaes associadas ao movimento de reestruturao

    produtiva provocaram mudanas na relao entre empresas, na organizao dos processos produtivos

    e de servios; na organizao dos processos de trabalho, na gesto do trabalho e na gesto

    empresarial (Coutinho, 1992; Gitahy, 1994c; Ruas, 1994; Leite, 1994 a e b; Meireles Filho, 1998).

    65. importante considerar que em sua fase inicial, segundo Ruas (1994), o processo de reestruturao

    das indstrias brasileiras seguiu uma tendncia semelhante quela denominada de estratgia

    adaptao restritiva, na qual como ferramenta de sobrevivncia crise na primeira fase da

    reestruturao as empresas utilizariam mtodos tradicionais de reduo de custos, especialmente,

    custos de mo-de-obra.

    66. O autor tambm observa numa segunda etapa deste processo a adoo da estratgia de adaptao

    limitada pelas empresas. Esta estratgia seria caracterizada pela utilizao parcial de inovaes

    tecnolgicas e organizacionais e pela implantao de alguns programas isolados, em geral, adotados

    por gerncias ou setores especficos com pouca ou nenhuma conexo com o resto da empresa (Ruas,

    1994; Gitahy, 1994).

    67. Parece predominar em uma terceira fase da reestruturao - ao menos nos setores que direta ou

    indiretamente j se relacionavam com o mercado externo - o que Ruas (1994) denominou de

    estratgia de adaptao global. Estratgia caracterizada pela busca de novos padres de

    competitividade atravs da adequao dos recursos internos s condies impostas pela crise, pela

    utilizao de novos conceitos de produo e pela considerao da cooperao dos trabalhadores como

    elemento estratgico (Amsden, 1989; Carvalho, 1991; Ruas, 1994).

  • 15

    68. As implicaes do processo de reestruturao produtiva tiveram repercusses diferenciadas segundo

    as caractersticas de segmentos industriais, regionais, padres tecnolgicos e de processos de

    produo considerados. De forma geral, um extenso nmero de pesquisas realizado pela literatura

    especializada tem apontado para o fato de que as transformaes na esfera produtiva estariam

    afetando a composio da fora-de-trabalho, a organizao dos requisitos de trabalho e

    especializao, o volume de emprego, bem como as polticas de gerenciamento para remunerao,

    rotatividade e relaes industriais (Carvalho, 1991:99 e 1993; Abramo, 1988; Gitahy, 1994; Leite, 1994

    a e b; Bresciani, 1997; Lombardi, 1997; Carrion, 1997; Carrion e Garay, 1997; Castro, 1998).

    69. Nas indstrias de produo em srie de bens discretos, por exemplo, desde os 80 inovaes tais como

    tcnicas japonesas de gesto (como os CCQ's), novos equipamentos de base microeletrnica (CLP's,

    robs, mquinas-ferramentas de controle numrico), aliados s inovaes de produto e de processo

    (sistemas CAD/CAM/CAE, just-in-time, kanban, celularizao da produo, equipes de trabalho,

    qualidade total, ferramentas com CEP)14; foram sendo introduzidas na tentativa de melhorar o padro

    de competitividade das empresas e de propiciar a emergncia de novas formas de relacionamento

    entre empresas e sindicatos (Coutinho, 1992; Arajo e Gitahy, 1998). Neste sentido, estas inovaes

    em geral vieram acompanhadas por expedientes tais como: mudanas nas relaes entre chefias e

    empregados, democratizao de restaurantes e estacionamentos, reduo de nveis hierrquicos,

    introduo de esquemas participativos, visando o estabelecimento de formas mais consensuais de

    gesto do trabalho, e a obteno do esforo coletivo na inovao (Gitahy, 1992; Gitahy e Rabelo, 1988;

    Leite, 1994a).

    70. Conquanto Leite (1994a) tenha observado nos anos 80 o carter conservador do processo de

    modernizao, isto , que a difuso de inovaes tais como os CCQs associadas a gesto participativa,

    esteve combinada com prticas autoritrias de gesto e de controle da mo-de-obra na indstria

    automotiva; nos anos 90 as pesquisas tm mostrado que as empresas tm adotado inovaes

    tecnolgicas e organizacionais com a finalidade flexibilizar sua produo, elevar sua eficincia e

    estabelecer modelos de gesto menos autoritrios e polticas da mo-de-obra menos conflituosas, que

    as permitam contar com a colaborao dos trabalhadores na busca da qualidade e produtividade e da

    inovao (Leite, 1991 e 1994a).

    71. Neste sentido, os estudos em geral estariam apontando para um processo de requalificao, de maior

    autonomia e de valorizao das atitudes dos trabalhadores na esfera da atividade produtiva.

    elucidativa a concluso de Gitahy e Bresciani (1998) a respeito dos efeitos deste processo sobre a mo-

    de-obra na anlise do setor automotivo. Para os autores, a dinmica da organizao da produo e do

    trabalho estaria caminhando no sentido de incorporar ao processo mecanismos de controle capazes

    de viabilizar a reduo do nmero de chefes, elevando a autonomia dos trabalhadores - o que estaria

    colocando as empresas na dependncia da motivao e da adeso dos trabalhadores no que diz

    respeito ao seu desempenho, eficincia e competitividade.

    72. No entanto, no que se refere ao padro de uso do trabalho, ao analisar as transformaes no mundo

    do trabalho associadas aos processos de instabilizao produzidos no mercado de trabalho, no

    emprego, na renda, na contratao do trabalho, e na representao do trabalho; Mattoso (1994)

    14

    CCQ: Crculos de Controle da Qualidade; CLP: Controle Lgico Programvel; CAE: Computer Aided

    Enginnering; CAM: Computer Aided Manufacturing; CAD: Computer Aided Design; JIT ou just in time: sistema de

    planejamento e controle da produo; KANBAN: sistema de cartes utilizado para sinalizar a necessidade de reposio

    de insumos/produtos na produo; CEP: Controle Estatstico do Processo.

  • 16

    sugere que a difuso do paradigma produtivo e tecnolgico associado ao processo de reestruturao

    apresentaria duas faces antagnicas. De um lado, seria possvel encontrar trabalhadores dotados de

    alto nvel de qualificao, garantias sociais, postos de trabalho flexveis, salrios mais eqitativos e

    negociao com as entidades sindicais a despeito das inovaes introduzidas no processo de trabalho.

    Num extremo oposto, visualizar-se-ia uma crescente massa de trabalhadores e trabalhadoras

    desprovidos de benefcios sociais, representao sindical escassa e sob formas de trabalho precrias

    de trabalho e qualificao.

    73. Alm disso, no que se refere diviso sexual do trabalho, parte importante da literatura tem insistido

    no fato de o trabalho feminino estar significando formas de trabalho precrio e subcontratado,

    associadas a salrios mais baixos percebidos por seus correspondentes masculinos em postos e/ou

    funes similares, muitas vezes com o mesmo (ou superior) grau de escolaridade e qualificao;

    atividades taylorizantes e repetitivas dotadas de baixo (ou nenhum) contedo intelectual e tcnico;

    poucas chances de asceno a postos tradicionalmente ocupados por homens, isto , postos dotados

    de contedos qualificantes e de melhor remunerao; distribuio desigual de treinamentos de

    contedo tcnico em favor da mo-de-obra masculina vinculada a postos de trabalho dotados de

    contedo tecnolgico; empregos part-time e em setores de baixo status; alm de presena marcante

    no mercado informal (Leite e Rizek, 1998; Castro, 1998; Posthuma, 1998; Abramo, 1998)15.

    74. Outros estudos crticos recentes tambm apontam para um quadro pouco favorvel que estaria sendo

    configurado a partir dos efeitos sociais produzidos pelo processo de reestruturao industrial. Neste

    sentido, Castro e Dedeca (1998) e Singer (1999) observam que, ao mesmo tempo em que novas

    polticas de desenvolvimento orientadas para a insero externa passaram a ser implementadas nos

    pases latinos, assistiu-se entre outros fenmenos a produo de um movimento comum de

    desarticulao de uma base de trabalho assalariado; significando tempos mais duros para a

    ocupao no continente.

    75. Apesar da heterogeneidade de situaes existentes associadas a este processo tanto no que se refere

    ao caso latino quanto no que diz respeito ao caso brasileiro, o argumento central dos autores que o

    processo de reorganizao industrial estaria desorganizando e fragilizando o seu ncleo assalariado,

    provocando uma desregulao social das relaes de trabalho e a perda de direitos sociais

    anteriormente conquistados. Neste senso, a flexibilizao do trabalho que apareceria como uma

    poltica para a superao do emprego e da renda, na verdade, ocultaria a perda dos direitos sociais

    historicamente conquistados pela classe trabalhadora (Castro e Dedeca, 1998).

    76. Outros efeitos seriam produzidos a partir deste processo de reorganizao industrial. Com o espectro

    do desemprego a rondar o mercado de trabalho, a classe trabalhadora estaria sendo induzida a

    pressionar suas entidades de representao no sentido da manuteno do emprego, mesmo que esta

    manuteno muitas vezes caminhe no sentido de significar maior flexibilidade das relaes de

    trabalho e, ainda, limitaes dos direitos historicamente adquiridos por meio da ao coletiva (Singer,

    1999). Por outro lado, ainda segundo Castro e Dedeca (1998), a questo do (des)emprego estaria

    fortalecendo o poder de barganha das empresas que, valendo-se do significado desta ameaa para a

    classe trabalhadora, nas negociaes coletivas ou por meio de posturas arbitrrias estariam avanando

    em seu processo de reestruturao, alterando normas anteriormente estabelecidas reguladoras da

    15

    Um quadro semelhante foi encontrado por Tremblay (1997) em empresas qubecoises: quatro empresas do

    setor industrial (papel e celulose e produo alimentcia) e seis empresas do setor de servios (comunicaes, finanas e

    restaurantes).

  • 17

    jornada e do contrato de trabalho, bem como da estruturao dos salrios. Tambm Mattoso (1994)

    aponta nesta mesma direo quando afirma que, na tentativa de reestruturar-se, e sob a bandeira da

    competitividade internacional, o capital mover-se-ia contra o trabalho organizado.

    77. Outro efeito apontado pela literatura como decorrncia dos processos de reestruturao seria a

    proliferao de novas formas de trabalho precrio alimentada por um duplo movimento: a) aumento

    do desemprego promovido pelos processos sistemticos de enxugamento da mo-de-obra nas

    grandes empresas; b) estmulo dado por estas mesmas empresas ao crescimento da precariedade

    verificado nas menores, dada a contratao de servios/produtos a baixos preos tambm ser

    conseguida por meio de prticas que estimulariam a baixa remunerao de empregados e/ou a

    sonegao de obrigaes legais que permeiam a atividade produtiva (Gitahy e Cunha, 1997; Castro e

    Dedeca, 1998; Leite e Rizek, 1998). Desta maneira, formas de ocupao bastante diferenciadas

    estariam ganhando espao em detrimento do trabalho assalariado (Castro e Dedeca, 1998:13).

    78. Neste sentido, um triplo efeito do fetichismo16 poderia ser observado neste processo de reorganizao

    do trabalho: a) as formas de trabalho cooperativo, de trabalho a domiclio e de trabalho autnomo

    que aparecem como formas alternativas de insero de uma parcela da mo-de-obra no mercado de

    trabalho, de acordo com Castro e Dedeca (1998), na realidade esconderiam relaes contratuais de

    assalariamento disfarado mas, sobretudo, desprotegido; b) a suposta liberdade no exerccio do

    trabalho gozada por aqueles que o realizam ocultaria uma relao de trabalho assimtrica, na qual

    aquele que contrata valendo-se da frgil situao do emprego em que pese a dificuldade individual

    em assegurar a continuidade de suas chances de insero ocupacional impe condies de trabalho

    s vezes degradantes, muitas vezes estimulando um processo de exacerbao da concorrncia entre

    os diversos segmentos de trabalhadores, pulverizando deste modo a ao coletiva; c) finalmente, no

    que diz respeito qualificao, a empregabilidade17 associada formao profissional que,

    apareceria como uma alternativa para superar o problema do (des)emprego garantindo maiores

    chances de insero no mercado de trabalho, ocultaria a transferncia do nus do emprego e da

    responsabilidade pela no-contratao (ou da demisso, quando for o caso) ao trabalhador (Hirata,

    1997; Pochmann, 1999). Desta forma, o acesso ou no ao mercado de trabalho e/ou a capacidade de

    obteno de um emprego apareceria como uma situao na qual a vontade de trabalhador que seria

    determinante, ocultando aspectos scio-econmicos e contradies responsveis por esta

    desregulao das relaes de trabalho.

    79. Desregulao marcada por um movimento comum de desarticulao de uma base de trabalho

    assalariada, fragmentando ao mesmo tempo e comprometendo as instituies de representao dos

    interesses dos trabalhadores. Assim, alguns autores tambm alertam para o fato de que o processo de

    reorganizao produtiva ao desmobilizar o coletivo de trabalhadores, estaria provocando um processo

    16

    Grosso modo, o fetichismo entendido como um processo de obscurecimento e/ou inverso do real. Neste

    sentido, uma espcie de mscara revestiria e deturparia o entendimento espontneo das propriedades sociais inerentes

    aos objetos do processo econmico das relaes capitalistas de produo, dando-lhes uma conotao natural. Entretanto,

    essas propriedades no so naturais, tampouco, a mscara atribuda aos objetos do processo econmico uma iluso;

    mas, formas sociais objetivas. Conforme Bottomore (1988:15), o que na verdade social aparece como natural; uma relao que de explorao aparece como justa. Importa anlise terica, portanto, abrir a caixa-preta do contedo social que essas formas de aparncia objetivas esto a ocultar (Marx, 1969; Napoleoni, 1981; Bottomore, 1988; Lwy,

    1989). 17

    Termo utilizado para designar, segundo Hirata (1997), a capacidade de obteno de emprego, ou, a

    probabilidade de sada do desemprego e ingresso no contingente de empregados.

  • 18

    de atomizao da ao coletiva (Mattoso, 1994; Druck de Faria, 1999; Castro e Dedeca, 1998; Singer,

    1999).

    80. Neste sentido, em que pese a proposio de um modo de (des)regulao social no qual os direitos da

    classe trabalhadora muitos dos quais relativamente suprimidos depois de historicamente

    conquistados so apontados como prerrogativas, face s formas de desproteo social

    experimentadas pelos demais segmentos de trabalhadores; o processo de reestruturao produtiva

    (enquanto desregulao social) estaria provocando um movimento de exacerbao da concorrncia

    entre os diversos segmentos da fora-de-trabalho; estimulando, portanto, o individualismo do

    trabalho e/ou entre os trabalhadores.

    81. No plano institucional, portanto, este movimento de flexibilizao das relaes de trabalho segundo

    Mattoso (1994), Castro e Dedeca (1998) e Singer (1999), tem afetado as entidades de representao

    do trabalho. Isto porque alm da fragmentao do coletivo de trabalhadores estimulada i) pelas

    prticas de subcontratao e precarizao do trabalho, ii) pela diferenciao de interesses da classe

    trabalhadora, iii) pela flexibilizao das relaes de trabalho, iv) pelo enxugamento da mo-de-obra, v)

    pela exacerbao da concorrncia entre segmentos de trabalhadores; as novas iniciativas gerenciais

    estariam reservando um espao cada vez menor para a atuao sindical ao promoverem a

    emergncia de novas institucionalidades na regulao do conflito entre as quais a cooptao dos

    empregados com a finalidade de reduzir as demandas sindicais, a introduo de esquemas

    participativos, etc.

    82. Dentre o conjunto de questes associadas ao processo de reestruturao produtiva e que vem sendo

    sistematicamente debatidas pela literatura, Leite (1997) revela a importncia de refletir sobre as

    relaes sociais e polticas que esto sendo sistematicamente construdas e/ou reconstrudas por esse

    processo de transformaes e a que tipo de sociedade os processos de reorganizao econmica e

    industrial em curso esto nos encaminhando.

    83. Tambm nesta direo que Castro e Dedeca (1998) argumentam que o conjunto de efeitos

    produzidos pelo processo de reorganizao econmica (polticas e medidas de contedo neoliberal) e

    industrial (flexibilizao das relaes de trabalho), tm afetado significativamente as bases estruturais

    da forma de organizao social.

    84. Para Mattoso (1994) as transformaes no mundo do trabalho estariam alterando no apenas o

    interior do processo produtivo, bem como o trabalho direto e indireto relacionado com a produo,

    criando novas e restritas relaes de trabalho e reconfigurando os papis das entidades de

    representao; mas, por outro lado, estariam acentuando as caractersticas de excluso econmica e

    social do sistema capitalista.

    85. Desta forma, as mudanas no mundo do trabalho estariam induzindo a transformaes no interior da

    sociedade, desencadeando um processo de desregulao social tanto para mulheres, negros, jovens e

    idosos. Combinando-se, por vezes, com esta parcela de desfiliados as variveis tnicas e de

    nacionalidade.

    86. Se, por um lado, assiste-se precarizao dos mercados nacionais/regionais/internos de trabalho

    (condies de trabalho, jornada de trabalho, remunerao e ocupao) como efeito micro e

    mesossocial deste processo; por outro lado, os efeitos macrossociais revelam-se pela falta das

    condies bsicas para a sobrevivncia; pela proliferao das favelas que vo reconfigurando o espao

  • 19

    urbano; pelo ressurgimento do trabalho infantil e do trabalho escravo; pela multiplicao das formas

    de violncia e do desemprego. Estendendo-se este ltimo para alm do indivduo, com repercusses

    no grupo familiar, afetando a vida domstica (Castro e Dedeca, 1998; Singer, 1999; Pochmann, 1999).

    87. Trata-se, portanto, do aprofundamento de uma sociedade segmentada e dividida, na qual os

    benefcios advindos do desenvolvimento econmico e tecnolgico continuam sendo desigualmente

    distribudos, nem sempre significando melhoria das condies de vida e do trabalho (Leite, 1997).

    88. O entendimento de como as empresas tm-se comportado face forma de organizao do trabalho,

    ao emprego formal e informal, s questes sindicais, ao envolvimento da mo-de-obra na articulao

    de inovaes e maneira como as empresas buscam sua capacitao tecnolgica estratgico no s

    no sentido de compreender o processo de recomposio dos vrios segmentos de trabalhadores, mas

    tambm por suas implicaes em termos de requerimentos para a estruturao da poltica industrial,

    educacional, bem como para o desenho da poltica cientfica e tecnolgica (Gitahy, 1992; Carvalho,

    1993).

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