sobre segurança pública - opiniÃo

2
1 SEGURANÇA PÚBLICA: UM DIREITO DE TODOS *Carla Núbia Ney Oliveira Advogada A violência urbana tornou-se um problema social grave em todo o país a partir dos anos 1990. Nessa época, a falta de planejamento urbano e o tráfico de drogas fizeram eclodir “guerras” nas periferias das grandes cidades, como ocorre até hoje. Houve também o que os especialistas em segurança pública chamam de “interiorização da violência”, que é quando o crime “migra” das grandes para as pequenas e médias cidades. Nos últimos anos, a sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas do mundo. O que não resta dúvida é que o fator determinante do crescimento vertiginoso da violência no Brasil é a IMPUNIDADE. Infelizmente, os governos têm usado ferramentas erradas e conceitos errados na hora de entender o que é causa e o que é a consequência da violência. A violência que mata e que destrói está muito mais para sintoma social do que doença social. Aliás, são várias as doenças sociais que produzem violência como um tipo de sintoma. Por isso, não adianta equipar a segurança pública, lhe entregando armas de guerra para repressão policial se a “doença” causadora não for identificada e combatida, ou seja, a impunidade, o desprezo pelo cumprimento da lei. O desrespeito às leis é consequência das injustiças e afrontamentos, sejam sociais, sejam econômicos, sejam de relacionamentos conjugais. Soma-se a isso a formação de facções e organizações criminosas que o Estado fingiu não ver por vários anos, tendo como maior exemplo o tráfico de drogas e de armas, o que gera um prejuízo inestimável para toda uma população em sua qualidade de vida e na economia do país. Se o crime fosse lucrativo para uma sociedade, ele seria a regra e deveria ser estimulado e não precisaríamos da ciência jurídica, de um ordenamento, de uma constituição, de um código penal, de regras de conduta. Assim, se tais níveis de violência permanecerem num país que se orgulha de ter uma economia pujante, terá que amargar perdas econômicas e, sobretudo, PERDAS HUMANAS cada vez maiores, pois não se constrói um país forte e melhor com índices de violência nesse patamar, é uma vergonha, uma lástima. Nesse sentido, a criação de um instituto de estudos de segurança pública para desenvolver pesquisas sobre o controle da violência e promover o desenvolvimento de modelos de organização, principalmente, ouvindo os moradores e as necessidades de cada região, de gestão e de processos mais eficientes e eficazes para as polícias, dispondo para a população de reais

Upload: carla-nubia-nery-oliveira

Post on 19-Jan-2016

55 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Opinião

TRANSCRIPT

Page 1: Sobre Segurança Pública - OPINIÃO

1

SEGURANÇA PÚBLICA: UM DIREITO DE TODOS

*Carla Núbia Ney Oliveira

Advogada

A violência urbana tornou-se um problema social grave em todo o país a partir dos anos 1990. Nessa

época, a falta de planejamento urbano e o tráfico de drogas fizeram eclodir “guerras” nas periferias das

grandes cidades, como ocorre até hoje. Houve também o que os especialistas em segurança pública

chamam de “interiorização da violência”, que é quando o crime “migra” das grandes para as pequenas e

médias cidades. Nos últimos anos, a sociedade brasileira entrou no grupo das sociedades mais violentas

do mundo. O que não resta dúvida é que o fator determinante do crescimento vertiginoso da violência no

Brasil é a IMPUNIDADE. Infelizmente, os governos têm usado ferramentas erradas e conceitos errados

na hora de entender o que é causa e o que é a consequência da violência. A violência que mata e que

destrói está muito mais para sintoma social do que doença social. Aliás, são várias as doenças sociais

que produzem violência como um tipo de sintoma. Por isso, não adianta equipar a segurança pública, lhe

entregando armas de guerra para repressão policial se a “doença” causadora não for identificada e

combatida, ou seja, a impunidade, o desprezo pelo cumprimento da lei. O desrespeito às leis é

consequência das injustiças e afrontamentos, sejam sociais, sejam econômicos, sejam de

relacionamentos conjugais. Soma-se a isso a formação de facções e organizações criminosas que o

Estado fingiu não ver por vários anos, tendo como maior exemplo o tráfico de drogas e de armas, o que

gera um prejuízo inestimável para toda uma população em sua qualidade de vida e na economia do país.

Se o crime fosse lucrativo para uma sociedade, ele seria a regra e deveria ser estimulado e não

precisaríamos da ciência jurídica, de um ordenamento, de uma constituição, de um código penal, de

regras de conduta. Assim, se tais níveis de violência permanecerem num país que se orgulha de ter uma

economia pujante, terá que amargar perdas econômicas e, sobretudo, PERDAS HUMANAS cada vez

maiores, pois não se constrói um país forte e melhor com índices de violência nesse patamar, é uma

vergonha, uma lástima. Nesse sentido, a criação de um instituto de estudos de segurança pública para

desenvolver pesquisas sobre o controle da violência e promover o desenvolvimento de modelos de

organização, principalmente, ouvindo os moradores e as necessidades de cada região, de gestão e de

processos mais eficientes e eficazes para as polícias, dispondo para a população de reais instrumentos

de participação e quando nos referimos a isso, queremos retratar um sistema de denúncias disponível à

população e uma corregedoria preparada, forte e atuante. Outra medida importante seria o

desenvolvimento da área de Inteligência Criminal, praticamente inexistente ou pequena na maioria das

polícias, com a adoção de métodos, processos e instrumentos de busca e processamento de informação

sobre criminosos, além de unir cada vez mais as polícias entre si. Outro ponto é o cadastro nacional: o

atual Sistema de Informação de Justiça e Segurança Pública (Infoseg) deve ser aperfeiçoado para

receber dados atualizados e de qualidade dos Estados quanto a condenados procurados, foragidos,

cadastro de armas e veículos, pessoas desaparecidas, arquivos de fotos dos principais criminosos de

cada unidade federativa e dados relevantes de inteligência. O que não podemos mais aceitar é que a

maioria dos crimes, principalmente, os homicídios são ineficazmente investigados e que uma “ínfima parte

dos criminosos é denunciada e condenada”. Isso só confirma o que o III Relatório Nacional sobre Direitos

Humanos no Brasil disse que: “a ineficácia do Estado perante o aumento da violência gera ainda mais

violações de direitos humanos e impunidade, além de aumentar o sentimento de insegurança e revolta de

toda a população”.