sobre o movimento de reconceituação emergido em meados dos anos 60 do século xx

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1.Aspectos econômicos, políticos, culturais e sociais do momento histórico do movimento de reconceituação. O movimento de reconceituação do Serviço Social foi a crítica e superação buscada no meio profissional contra o Serviço Social Tradicional: como diz Netto a critica ao seu caráter de “prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma ética liberal- burguesa, que de um ponto de vista claramente funcionalista, visava enfrentar as incidências psicossociais da “questão social” sobre indivíduos e grupos, sempre pressuposta a ordenação capitalista da vida social como um dado factual ineliminável. Netto 2005 p6 Para tal questionamento, se fez necessário e em ultima instância determinante, uma série de condições econômicas, políticas, sociais e culturais para tal questionamento. O movimento de reconceituação emergido em meados dos anos 60 do século XX, especificamente acontecido no cone sul do continente americano, fez esta crítica e serão analisados dois grupos constituintes deste heterogêneo movimento, contudo antes, optamos por fazer uma breve analise história dos vetores que condicionam e possibilitam esta crítica, bem como os determinantes próprios da produção e reprodução da profissão. Podemos apontar alguns vetores de caráter internacional que marcam de em alguma instância determinam e marcam este processo de crítica ao conservadorismo no Serviço Social, marcam em criarem condições sociais que o possibilitam, e ação de seus agentes que partem neste rompimento. Neste período histórico temos o exaurimento de

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Page 1: Sobre o movimento de reconceituação  emergido em meados dos anos 60 do século XX

1.Aspectos econômicos, políticos, culturais e sociais do momento histórico do movimento de reconceituação.

O movimento de reconceituação do Serviço Social foi a crítica e superação buscada no meio profissional contra o Serviço Social Tradicional: como diz Netto a critica ao seu caráter de

“prática empirista, reiterativa, paliativa e burocratizada, orientada por uma ética liberal-burguesa, que de um ponto de vista claramente funcionalista, visava enfrentar as incidências psicossociais da “questão social” sobre indivíduos e grupos, sempre pressuposta a ordenação capitalista da vida social como um dado factual ineliminável. Netto 2005 p6

Para tal questionamento, se fez necessário e em ultima instância determinante, uma série de condições econômicas, políticas, sociais e culturais para tal questionamento. O movimento de reconceituação emergido em meados dos anos 60 do século XX, especificamente acontecido no cone sul do continente americano, fez esta crítica e serão analisados dois grupos constituintes deste heterogêneo movimento, contudo antes, optamos por fazer uma breve analise história dos vetores que condicionam e possibilitam esta crítica, bem como os determinantes próprios da produção e reprodução da profissão.

Podemos apontar alguns vetores de caráter internacional que marcam de em alguma instância determinam e marcam este processo de crítica ao conservadorismo no Serviço Social, marcam em criarem condições sociais que o possibilitam, e ação de seus agentes que partem neste rompimento. Neste período histórico temos o exaurimento de um modo de acumulação capitalista, de ondas longas de crescimento (Netto. 2013). Este sendo o processo de decadência do padrão fordista keynesiano de acumulação, que o possibilitou um quadro favorável a luta das classes subalternas por seus interesses imediatos segundo Netto nós aponta. Tais desdobramentos desta crise se deram nos países centrais e periféricos do capitalismo, em especial na América Latina, região deste movimento.

Paralelo tem o movimento contrarrevolucionário de refuncionalização do Estado e da ordem do capital em vários países, baseados no ideário liberal “reatualizadas” nas ideias de Hayek. Vemos em cheque as políticas de Wellfare-state e várias conquistas da classe trabalhadora ao redor do mundo, como flexibilidade de direitos trabalhistas, terceirizações e o processo de crescimento orgânico do capital que faz crescer o exercito industrial de reserva.

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Contrariamente temos apontado por Anderson que Hayek e seus companheiros creditou esta crise há:

ao poder excessivos e nefasto dos sindicatos e, de maneira mais geral, do movimento operário, que havia corroído as bases da acumulação capitalista com suas pressões reivindicativas sobre os salários e com sua pressão parasitária para que o Estado aumentasse cada vez mais os gastos sociais. ( Anderson in Pós-neoliberalismo Org Sader. E e Gentili. P Org

Com base nisso temos alguma ideia do caráter contrarrevolucionário destas medidas reorganizativas do Estado e do capital contra a classe trabalhadora. Entendendo que o Serviço Social Tradicional entende como limite esta ordem, que agora era questionada, mesmo nesta situação de ofensiva do capital, temos então o terreno fértil para este questionamento do tradicionalismo.

Mediante ao que Lênin chamou de Imperialismo em sua genial obra do mesmo nome, temos com o processo tendencial de concentração de capitais a formação de trustes e cartéis e novas formas de colonialismo, onde este autor aponta que: “ a tendência para a dominação em vez da tendência para a liberdade, a exploração de um número cada vez maior de nações pequenas ou fracas por um punhado de nações riquíssimas ou muito fortes” Lênin p 167. O que ele aponta e que mais tarde se desenvolve em um Imperialismo por parte dos EUA sobre os territórios da América Latina.

Outro ponto também abordado por Lênin é a exportação de capitais onde ele afirma:

Enquanto o capitalismo for capitalismo, o excedente de capital não é consagrado à elevação do nível de vida das massas do país, pois isso significaria d diminuição dos lucros dos capitalistas, mas ao aumento desses lucros através da exportação de capitais para o estrangeiro, para os países atrasados. Lênin p94 grifos nossos.

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O que podemos ver já em Lênin é a necessidade do capital transnacional em romper as barreiras nacionais e se instalar em países atrasados, ou no dizer comum, subdesenvolvidos. Tendo em vista essa necessidade de exportar capitais os EUA mediante a organismos internacionais como a ONU, OEA sob uma política imperialista pan-americanista vão levar adiante este movimento do capital.

Castro analisou isto e colocou dois momentos específicos um após a guerra civil americana e o a anexação de territórios mexicano, dado este momento o EUA passam a se inserir com ferocidade no contexto internacional e a partir da doutrina Monroe que dizia “A América para os americanos” quando na verdade esta era uma estratégia e para o imperialismo Norte-americano e de forma a exercer hegemonia sob o continente Latino. Castro ainda aponta como pontos importantes deste primeiro momento a Conferência Inter-Americana, a criação em 1890 do Escritório Comercial das Repúblicas Americanas e então em 1910 a União Pan-Americana. Onde então ira exercer o controle político e econômico de vários países.

Ainda Castro nos aponta para o segundo momento do Pan-Americanismo que se deu com o Tratado Inter-Americano de Assistência Recíproca na qual se materializaram as bases militares do pan-americanismo e o necessário para a criação da Organização dos Estados Americanos que tiveram como a finalidade criar uma dependência ao EUA, onde se deram as bases jurídicas e políticas para intervir no continente, em afastar a influência do socialismo e possibilitar seu modelo de acumulação e centralização de capitais.

Sob organismo comandados pela ONU temos o CEPAL entre outros que exportaram teorias sobre a realidade latino-americana, estimularam a criação de universidades onde tiveram dominâncias o funcionalismo e estrutural-funcionalismo. As analise do CEPAL alardeavam que para resolver os problemas no continente era preciso lutar contra o atrasado, o feudal e os colocar sob um modelo de sociedade desenvolvida, urbano-insdustrial e de desenvolvimento do latifúndio arcaico para o capitalista. Então caberia transformar as estruturas sociais atrasadas em estruturas modernas. Grave equívoco como aponta Netto sobre os elementos atrasados que foram fruto de uma ausência de ruptura com aspectos coloniais, estas como este aponta:

“o desenvolvimento capitalista não se operou contra o “atraso”, mas mediante sua continua reposição em patamares mais complexos, funcionais e integrados” Netto 2013 p18.

Como podemos ver chegaram ao equivoco da teoria do dualismo sobre o combate ao velho e fortalecer o moderno. Porem esta foi o ponto de arranque

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do desenvolvimentismo, que foi abraçado pelos reformadores do movimento da reconceituação. Contudo se tratava de trazer às mesmas condições e processos que dão origem a “questão social” ao continente latino. Como coloca costa na realidade esta foi uma medida imperialista para:

“a ampla estratégia como o qual os países desenvolvidos – especialmente os Estados Unidos – procuravam criar as condições ( políticas, administrativas e culturais) mais propícias a integrar e dinamizar o desenvolvimento do capitalismo e o mercado latino-americano sob a sua hegemonia financeira” Costa p135.

Tal plano era uma medida de controle econômico e político que visava funcionalizar este desenvolvimento ao processo acumulativo de capitais. Embora esse desenvolvimento associado e dependente e o controle Norte-Americano sobre a América Latina, este por sua vez ao reproduzir a “questão social” criou o terreno para a sua contestação e o sujeito coletivo para materializar a inversão da ordem. Paralelo a esta modernização vamos encontrar as condições do movimento de reconceituação.

Podemos neste quadro perceber o que Netto coloca o que entendemos por desdobramentos da “questão social”, a luta por demandas além das econômicas como sociais e culturais, demandas estas particulares, de grupos como mulheres, negros, homossexuais, lazer, educação. Desenha-se uma série de questionamentos como os limites da ordem do capital e esta como limite da organização societária possível; a racionalidade do Estado burguês, seus valores sua aparente universalidade; mais ainda vemos que seus supostos de garantidor do “bem comum” são falhos em sua concreta materialidade como aponta Netto.

Entre eles temos ao refuncionalização do Estado, este precisaria de um aparato técnico, formado em normativas funcionais ao plano desenvolvimentista. Para tal objeto era preciso formar tais profissionais, sendo neste momento histórico deu-se a emersão pelo boom universitário, a passagem para a formação acadêmica do assistente social. Como o Estado foi e é o maior empregados do assistente social e este precisando de um profissional moderno, acarretaria por tornar arcaica a atuação do Serviço Social

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Tradicional, incompatível com as demandas sociais, precisando de uma nova auto-justificação de sua inserção na divisão sócio-técnica do trabalho.

Neste movimento a formação deixou as instituições confessionais e passou ao meio laico e científico. Que por sua vez foi inflada por um arcabouço teórico proveniente das ciências sociais e da qual foi usada na formação do assistente social. Este intercâmbio trouxe mesmo de forma limitada o pensar macroscópico da vida social, para além dos enfoques micros que eram dominantes no Serviço Social Tradicional.

Outro fator de enorme relevância foi a série de movimentos sociais questionando aspectos particulares, como citado anteriormente, mas sobre tudo os que questionavam a ordem burguesa como fim da história. Encontramos rebatimentos no movimento estudantil, como nos aponta Netto.

Condensadamente, ele reproduz, no molde particular da contestação global características de sua intervenção, todas as alterações que indicamos e as insere perturbadoramente no próprio lócus privilegiado da reprodução da categoria profissional: as agências de formação, as escolas. Parece claro que, também no marco do Serviço Social, a erosão das formas tradicionais da profissão ( e das suas legitimações) foi dinamizada pelo protagonismo discente – e a “rebelião juvenil”foi ao tanto mais eficiente quanto mais capaz se mostrou e atrair para as suas posições estratos docentes. Netto 2013 p 145

Como podemos concluir o movimento estudantil teve um papel muito importante no movimento, vemos aqui uma resposta política as contradições da ordem burguesa, que cada vez mais se colocam um patamar acima em seu curso, tencionando estruturas, sujeitos coletivos e classes sociais, em uma totalidade articulada e contraditória.