sobre mensagem de fernando pessoa um olhar · parceria com a câmara municipal de cascais...

98
Sobre Mensagem de Fernando Pessoa PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO Um Olhar

Upload: others

Post on 30-Aug-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

Sobre Mensagem de Fernando Pessoa

PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO

Um Olhar

Page 2: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

Sobre Mensagem de Fernando Pessoa

PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO

Um Olhar

Page 3: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_� _�

Page 4: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�

Dando de novo dimensão e espaço à expressão artística do pintor Joaquim Carvalho, executor de vários

trabalhos dedicados a Fernando Pessoa, podemos celebrar e acolher uma outra manifestação da obra

Mensagem, sob a bênção de um generoso e harmonioso casamento entre a poesia e a pintura, ou, se

preferirmos, entre o sentimento que se escreve e aquele que se desenha e se pinta.

Muitas têm sido as abordagens e as exposições sobre a vida e obra de um dos maiores vultos do

Modernismo Português, mas certamente não terão surgido tantas que se pautassem por tamanha

originalidade e exclusividade de pólos de emissão; utilizando um dos mais nobres e ricos sentidos que o

Homem possui, a visão, podemos através dela abranger não só o mundo real mas igualmente o mundo

virtual do Second Life.

No Ano Europeu da Inovação e da Criatividade, o convite que endereçamos é para se deixarem envolver

pela riqueza de dois mundos paralelos que espelham um mesmo conceito, que a cultura e a arte não

conhecem fronteiras, nem mesmo virtuais.

António d’Orey Capucho

Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Page 5: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_� _�

Page 6: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

Encontrei em “Mensagem”, uma consciência do nosso passado que foi futuro anterior de muitos futuros.

A visão do anterior mar que separou, como futuro mar que não pode deixar de unir, revelou Universal a

acção de um Povo que, foi e é o nosso. Povo que despiu o linho e com ele ergueu as velas que deram

força às caravelas! Povo que enganou a fome com a vontade de chegar mais além! Povo que transfor-

mou todos os medos num sonho onde a Terra sonhada era redonda! Povo que deu sentido ao vento,

alimentando o mar de gente e navios, a olhar sempre o “Occidente, futuro do passado”, porque o futuro

era, foi e ainda é o Mar!

Joaquim Carvalho

_�

Page 7: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_� _�

Page 8: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

O Second Life® (SL) é uma nova forma de comunicação �D, constituída por um mundo virtual que vai

crescendo pela dinâmica dos seus residentes e onde milhões de utilizadores, independentemente do

local do planeta onde se encontrem, podem interagir (conviver, fazer negócios, aprender, etc.)

Por este motivo, o SL não é um jogo mas, tal como o nome indica, um novo espaço de cidadania que o

utilizador tem na Internet, assumindo-se por isso como um metaverso.

Universidades de todo o mundo, incluindo Harvard, têm a sua presença em SL e em alguns casos, pos-

sibilitam o ensino integral de cursos e a obtenção de graus académicos a partir desta plataforma. Em

Portugal, temos o exemplo das Universidades do Porto, Aveiro, Santarém, Católica e UTAD, todas com

presenças e projectos de “e-learning” ou divulgação.

Igualmente o Banco Mundial, uma instituição financeira que procura ajudar países em vias de desen-

volvimento, está a utilizar o Second Life® para discutir negócios a nível global. A �9 de Outubro, esta

instituição apresentou em SL o seu relatório anual.

Até Julho de �008 existiam 1�,8 milhões de contas abertas em SL, com uma média diária de �� mil

residentes online simultaneamente. O valor de transacções diárias na data referida situava-se nos

1,� milhões de dólares americanos, pelo que a economia do Second Life® está ao nível de um pais

pequeno com um PIB de �.� milhões de dólares em �00�1.

Nesta dimensão, a CCV - Comunidade Cultural Virtual consiste num grupo de residentes do Second Life® que se juntaram com o mesmo propósito: fazer e apoiar projectos de divulgação de arte e cultura

em mundos virtuais, com destaque para esta plataforma.

Nesta vertente, e porque o ano de �009 é o Ano Europeu para a Criatividade e a Inovação, o CCV em

parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre

Fernando Pessoa, que abrangesse não só o mundo real mas também o mundo virtual do Second Life.

Deste modo, esta exposição irá unir o mundo virtual e o real, estando patente em simultâneo na Biblio-

teca Municipal de Cascais – S. Domingos de Rana e em Second Life.

Proceder-se-á ainda a sessões de esclarecimento sobre SL utilizando as infra-estruturas informáticas

disponíveis naquela Biblioteca e em SL será feito o mesmo relativamente a Fernando Pessoa, assim

como a promoção turística do concelho de Cascais e de Portugal.

Comunidade Cultural Virtual

1. Fonte: Revista Época http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EDG���10-�01�-���-�,00.html)

_�

Page 9: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8 _9_9

Esta exposição constitui tão somente uma pequena, mas valiosa e diferenciada obra de Joaquim Carvalho. A sua atracção pela pintura e os seus primeiros quadros, ainda que então em fase figurativa, remontam à segunda fase da sua infância.

Artesão persistente na busca, em desassossego, das harmonias e equilíbrios estéticos, entre os conteúdos das vivências e as formas da sua expressão, Joaquim Carvalho percorreu com uma intensidade maior nos últimos dez anos, múltiplos azimutes nas suas centenas de quadros, colagens e outras formas de expressão artística a que se dedicou.

A sua independência perante as ‘escolas oficiais’ em moda, se por um lado lhe fez adiar as possibilidades de divulgação mais ampla que a sua obra merece, alargou-lhe em contrapartida e, por outro lado, uma margem maior à sua criatividade, que assim se mostra autêntica e não enfeudada, afirmando-se por si própria. Sem ceder aos estériotipos de conveniência, nem ao bricolage repetitivo de cariz tecnocrático, que invadem algumas das galerias de arte.

À Metapsicologia da criatividade artística e ao seu estudo, são úteis as obras de artistas como este.

Na interacção entre o desassossego interior, que move o pintor para a tela, o escultor para o cinzel, o músico para a pauta; a forma e conteúdo(s) interagidos e transmutados; e, a vivência sentida diferencialmente por cada um de nós, que contempla essas obras: eis um triângulo indispensável ao estudo da criatividade artística e à sua Metapsicologia transpessoal.

Freud, T. W. Adorno, E. L. Cortesão, por exemplo têm dado contribuição significativa nesse sentido, ao estudarem as obras de Miguel Ângelo, Mozart, Mahler, Durrell, Keats, Rimbaud, Béla Bártok e outros.

Na sua esteira, podemos encontrar na obra de Joaquim Carvalho esboços já visíveis desses fenómenos dialéticos, que exprimem e evocam em nós sossego, bem-estar e sentimento de holding; ou que pelo contrário... e por vezes até ao mesmo tempo..., suscitam, através de formas e traços díspares ou que se anulam emoções inquietas, de estranheza (uncanny), de expectativa; em fenómenos, sem dúvida, conectados com ‘a realização do negativo’ (negativenelfüllllng), segundo a expressão de T. W. Adorno na análise da música de Gustav Mahler.

Tudo isto, contudo, não seria possível de alcançar e de comunicar a quem vê os seus quadros, se a mestria formal e o domínio dos materiais não tivesse conhecido também e, particularmente nos últimos anos, um grande desenvolvimento e inovação por parte de Joaquim Carvalho(…)

António Alves Gomes, in catálogo da exposição “Reuniões e Intersecções”, Palácio Anjos, Algés, 1989

Page 10: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9_9

(…) Pensar com as linhas, as formas e as manchas de cor, apenas apontadas, aqui e ali, como elementos autónomos, é compreender como é perversa e irreverente a maneira como o desenhador aflora algo que o transcende e que tanto lhe espicaça a memória e o sonho, num tempo de eminente suspensão entre o ser e o fazer. É o fazer que sustém o ser, por aí se indagando a sua real capacidade de expressão, ao trazer à superfície o que mais profundamente o inquieta. O desenho é esse risco, nítido e claro, a que se vincula o desenhador.A vivência disso é já a tranquila intranquilidade de quem, à partida, sabe de si o bastante para se aventurar no processo da construção/desconstrução de uma linguagem, cujas regras vai inventando e questionando, sem certezas radicais e/ou absolutas, mas mantendo-se flexível e permeável à ênfase de uma expressão gráfica que, a todo o momento, se altera, pelas características específicas que assume.O desenho de Joaquim Carvalho é esse deambular incerto, mas extremamente sensível, que se interroga e se define no próprio espaço em que se insere e só aí.A originalidade começa onde o autor se revela, como autodidacta que é, no menor grafismo ou mancha, no breve apontamento de algo que se inicia e não acaba nunca. É este seu modo de ser, inesgotável, que nos deixa perplexos e surpreendidos. Se há rostos que são paisagens e paisagens que foram rostos para se reduzirem à topografia residual da mesma aventura; se há janelas (rectângulos ao alto), que se abrem para dentro e para fora, fazendo convergir o interior e o exterior, a sombra e a luz, o que se vê e o que se imagina; ultrapassemos essas referências, aqui apenas sugeridas, para nos fixarmos mais peremptoriamente no modo como os elementos se organizam e promovem uma nova linguagem que, não sendo necessariamente figurativa e/ou abstracta, deixa-nos livres para as mais livres e diversificadas interpretações. Costumo dizer que a imagem poética é aquela que transcende o convencional, suscitando um número infinito de leituras. O desenho de Joaquim Carvalho situa-se no ponto limite, onde a imagem poética emerge, com toda a sua carga simbólica, como registo de uma vivência pessoal, não fácil de decifrar e, no entanto, provocando em nós um estranho e inquietante fascínio.

Eurico Gonçalves, in catálogo da exposição “Duas partes/Um todo”, Junta da Costa do Estoril,

Estoril, 1990.

Ao conhecimento de sentido puramente abstracto da Arte, objectiva-se através de instintos e intenções, o desejo de inserir um mundo sem objectos na cultura de várias épocas.Referenciando escritos de Kandinsky «- o objecto é substituído para evitar o perigo da solução decorativa, ... desenvolver a eficácia das formas puras,… construí-las sobre uma base declaradamente espiritual...» - este é o manifesto da linguagem de alguns experimentadores, protagonistas de uma verdade e de um conhecimento intuitivo, do qual não se afastará com certeza a pesquisa de Joaquim Carvalho.Expressões de códigos equivalentes a realidades do seu mundo interior, propõe-nos uma leitura cuidadosa de signos, onde será necessário uma aprendizagem do valor semântico dos elementos utilizados. Experimentalismo de carisma didáctico, o espaço de acção é «inundado» pelo grafismo dos materiais, impulsionados pela espontaneidade inspirada no gesto por vezes em êxtase de vigor.À complexidade de registos para um encontro de figurações personificadas associa-se a duplicidade de um diálogo em permanente transmutação. No cromatismo existente, a conotação com determinadas formas de culturas etnográficas poderá ser acontecimento; no entanto, a pintura de Joaquim Carvalho é sempre um jogo de metamorfoses temporais, onde a linguagem evolui com ‘a insistência (até à dor) do acto criativo.

Daniel Nave, in catálogo da exposição “Diálogos”, Galeria Sabugal, Lisboa, 1990

Page 11: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_10 _11_11

Um dia - que de tão longínquo muitas vezes se não guarda na memória - acontece o fascínio. O lápis abandonado fere a alvura da parede e ali regista o gesto, a incoordenação e a força. Se o bico se parte é menor o efeito e mais suave o ralho. A verdade é que isso pode desencadear o gosto, a curiosidade, a invenção.Não sei se o que atrás descrevo sucedeu a Joaquim Carvalho. Sei, no entanto, que foi precoce o seu amor pelas imagens a avaliar pelos trabalhos do tempo escolar que ainda conserva. São obras interessantes sobretudo porque denotam a sensibilidade do autor para os valores da terra, sua essencialidade e vivência. Era dali que partia para os sonhos com castelos medievais e donzelas e ali aportava, depois disso, tecendo a guacho as texturas do solo arado.Gasto o tempo imprescindível para crescer e ei-lo que reaparece a reinventar a realidade que agora se veste de cores próprias e suavemente amadurecidas.Tomando o quadrilátero como base, o seu discurso plástico ordena-se, por fases, no sentido de ritmos que, não raro, conduzem ao preenchimento obsessivo dos espaços numa interessante vibração cromática, numa emocionada procura de simplicidade, num telúrico construir de texturas...Sendo nítida a evocação de Magnelli há nesta série de obras o desejo de não perder totalmente as motivações originais. É assim que permanecem vestígios de um grafismo que define imagens, que delimita rostos, que se depura, sensível, para ser, ao primeiro olhar, apenas um jogo deleitado de formas e de cores. A harmonia resulta da sua variação permanente, como se houvesse uma visceral necessidade de esgotar o mesmo tema que nos surge ductilmente austero ou rico, simplificado ou complexo, quase opaco ou na apoteose de tons tímbricos rompendo dos fundos para operar a ruptura.Aprofundando a análise percebe-se que a aparente homogeneidade desta pintura se desdobra para registar o código de uma linguagem que concilia a racionalização e o imediatismo de modo eminentemente poético.A imutabilidade dos valores presentes tem a ver com restrito universo de símbolos utilizados numa constância que engloba, como factor determinante, a autenticidade do pintor.Uma procura exaustiva conduz Joaquim Carvalho ao requinte subtil de composições equilibradas nas quais é nítida a cumplicidade com o suporte, exercício a um tempo inteligente e lúdico, através do qual se traduz a sua fluência plástica.O autor aposta, com alguma ousadia, na ambiguidade. É dela que parte e é a ela que chega. Dir-se-ia que o seu trabalho guarda, na contínua vibração das cores e dos traços finais, pedaços de um mistério sempre pronto a revelar-se. Radica aí toda a justificação da sua pesquisa estética, comunicação que em si mesma encerra a potencialidade de novos percursos.Não duvidamos de que, apoiado no domínio cromático e no conhecimento perfeito das formas que são base das suas obras, Joaquim Carvalho possa vir a acentuar, com idêntica força, o sentido mágico da sua harmonia.

Edgardo Xavier, in catálogo da exposição “0utonos”, Biblioteca Nacional, Lisboa, 1991

Page 12: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_11_11

Fica-nos na memória o espaço consentido de Joaquim Carvalho. Surpresa maior pela polifonia cromáti-

ca. Concerto de desejos, sonhos e glórias. Canto de pássaros em alvoradas sem fim.

É pois.

Cruzem por segundos a verdade insufismável dentro de nós e projectem-se no espaço com a força ina-

balável dos sentidos. Sonhem sinfonias universais de comunhão plena, joguem no silêncio de mistérios

escondidos de povos milenários. Apostem nas ruínas de Tiahuanaco, e mergulhem em picassianos

horizontes africanos , dêem-lhe a cor de Paris e sentem-se à sombra de uma buganvília.

É fácil.

Que energia cósmica emana de um trabalho sentido em cada segundo? Apenas a busca atávica de ser

português em mares ignorados. Percurso de aventura sanguíneo em portos de sete paragens remotos

que o sonho percorre em tardes lusas de litoral incandescente.

Paleta de mistério universal, misto de denodo e entrega, fonte de cor, torrente de coragem.

Quem dera pudéssemos ser cadinho de tão carinhosa e violenta pintura. Brotaria dentro de nós um

cristal profundo com as cores do arco-íris e colheríamos Hiroxima. Viagem maior dos sentidos.

Vertigem.

Poemas em movimento.

Vale a aposta do coração.

Jorge de Brito, in catálogo da exposição no Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 199�.

Page 13: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_1� _1�_1�

Em 199�, iniciei um texto sobre Joaquim Carvalho como aqui transcrevo:

“Do desenho à pintura de Joaquim Carvalho, dista referência para a origem do gesto; ou seja, o artista estabelece as referências no sonho das coisas — a sua imagética, transmitidos os impulsos ao real, produz a descodificação das coisas que povoam o seu espaço onírico — e lhes traz forma e expressão, em termos claros e exactos, ainda que (tanto no desenho como na pintura) por via de uma resistência natural ao imobilismo, os traços no papel ou as manchas pictóricas, adquiram uma evolução natural, determinando uma opção geradora de reflexos sucessivos…”(…)

(…) Joaquim Carvalho é um daqueles autores plásticos em que a “adivinhação” das consequências é perceptível após um exercício analítico auto-dimensionado em função da experimentação sucessiva; coisa alguma resulta do acaso. Ao invés, o seu trabalho é resultante de maturação longa, sem sobressaltos de concepção mas assumindo “riscos” calculados quanto ao resultado final, daí referir-me eu à inexistência do acaso, pois tudo neste autor é resultado de uma aturada busca de formas, de geometrização básica que se traduz na rigorosa expressão final patente das suas obras, sejam elas desenhos, pintura ou simples esbocetos sem aspiração maior que a sua natureza investigadora… Joaquim Carvalho é um artista de sólida formação, talvez mais por convicção natural do que consequente de um esforço de entendimento das coisas que produzem o efeito criativo. Porque o efeito, o acto de criar é nele algo absolutamente natural, básico, inultrapassável.

A pintura insípida, ascéptica até, se quisermos, é prova de uma lucidez evidente, de uma exigência estética que se lhe reconhece sem esforço; o artista é, de facto, e dentro do seu modo de realizar pintura, um sério caso de criatividade assumida em convicção, de rigor na realização, mas também de autêntica liberdade de concepção.

Balizando o seu trabalho por valores de prioridade evidente, e em que os parâmetros são de elevada qualidade estética, o pintor assume determinação conceptual de elevado grau, sendo óbvia a sua capacidade na resolução dos mais diferentes estádios de dificuldade na elaboração das suas obras.

Alheando-se de tendências e fugindo de recorrências (o que nem sempre é fácil, reconheça-se…) Joaquim Carvalho possui um discurso plástico que se notabiliza pela sobriedade e “elegância” dos recursos de que se recorre no encontro de soluções sobre os suportes que vai trabalhando; a realização das suas obras resulta pura, sem recurso a técnicas de evidente fragilidade, sem ambiguidades, bastando-se na rigorosa construção pictórica que povoa o seu imaginário criador, poético mesmo, sem dúvida, mas em paralelo, de uma lucidez notável no que respeita às regras da construção que possibilitam a “arquitectura” das suas pinturas.

Tudo isto não anula alguma inquietação (já o afirmara há anos, e hoje o confirmo) que, felizmente para o processo criativo do autor, o anima uma vez que será este estado, um dos impulsionadores que mais responsáveis serão pela continuada busca que é patente neste autor; porque, é evidência, Joaquim Carvalho se não basta no que vai conseguindo criar. Nele, o imobilismo é algo que se não poderia (nem por si próprio) aceitar, já que se nos habituou à experimentação continuada e persistente do autor que é, inegavelmente.

Do anterior referido não pode inferir-se todavia que o trabalho deste artista seja fruto de um rigor a que se casa a investigação, a analítica da expressão ou, tão simplesmente, a concepção procurando a resultante da correcção das formas nas manchas, do traço da exactidão geométrica que leva à elaboração da obra; não está ausente a imensa plataforma onírica que povoa a mente do pintor, e este aspecto é determinante, este sim, no resultado final.

Page 14: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_1�_1�

E é, sobretudo nesta vertente, que o discurso plástico de Joaquim Carvalho adquire maior força e expressividade; porque ao contrário de assumir-se distante e fria, a sua pintura determina uma poesia que acalenta a nossa imaginação e nos prende pela simplicidade aparente com que se recorta na nossa capacidade de ver… De alguma forma, Joaquim Carvalho nos conduz a um recanto de tranquilidade e de inerente sossego, um estado que se confunde com alguma musicalidade que paira sobre as suas pinturas. Mais que para descrever, é para sentir. Mas só pode sentir quem se entrega… E a obra deste autor, não é para olhar, apenas.

Racionalizando quanto baste o processo de elaboração do seu trabalho, o artista concede-lhe como consequência derradeira, magia de subtrair as sensações que nos animam e as devolver com o enriquecedor condão de sossegar-nos o espírito! E todavia sabemos que foi a inquietação sucessiva do autor, que nos concede tal estado de paz… Eis um fenómeno cuja origem se perde nos meandros da mente, exaltada certamente, deste artista que hoje se expõe — porque é disto que se trata a final… — ao conceito e juízo de quem observa o seu trabalho.

Joaquim Carvalho, estou certo, é a resultante do que em si próprio recolhe. Por isso ele se assume, na sua naturalidade (simplicidade mesmo) como um autor onde os sobressaltos não são visíveis ou referenciáveis. Ele limita-se a cumprir um destino natural em si próprio, com rigor poeticamente assumido, sem equívocos de expressão, sem receios evidenciáveis. A sua segurança resulta da consciência do que é e do que pode. E pode muito.

Muito mais poderá Joaquim Carvalho. Para tanto basta que seja exactamente o que é e assume: um pintor consciente, rigoroso na busca e na experiência das soluções e, sobretudo, autêntico como tem sido (…)

Carlos Lança (Presidente da Associação Nacional dos Artistas Plásticos),

In catálogo da exposição realizada: - na Sala Damião de Góis, Bruxelas, Bélgica, �000

- no Museu da Electricidade, Lisboa, �001

Page 15: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_1� _1�_1�

(…) O seu traço seguro sobrepõe-se ao enunciado, numa espécie de ilegalidade pagã, dionisíaca, que dança constantemente na corda bamba dos conceitos e das formas. Estamos pois perante um pintor nietzschiano que sabe que são os estados de excepção que determinam o artista (…) (…) « O efeito da obra de arte é de suscitar o estado criador de arte, a embriaguez » já dizia Nietzsche. Joaquim Carvalho pelo extremo refinamento e magnificência das suas cores, pela solidez do seu traço, pelas gradações do seu tom afirmativo diviniza a existência e embriaga-nos perduravelmente. (…)

(…) A obra, quase toda inédita, é uma aventura magnífica ao longo de mais de vinte anos, uma história exaltante de materiais (por vezes muito pobres), de técnicas e de memória poética num eclectismo fundamental que tem a ver não só com os primitivos artistas da criação mas também com outros «irregulares da Arte » que poeticamente se descreveram e descreveram o mundo. Este pintor visionário com um espírito renascentista pode ao mesmo tempo aproximar-se do surrealismo mais alvoroçado como da abstracção mais livre, ajoelhar-se aos pés do minimalismo mais redutor como praticar um gestualismo mais insondável. Esta totalidade depõe Joaquim Carvalho nos primeiros lugares da criação pictórica portuguesa contemporânea onde há poucos artistas cheios de santuários líricos tão complexos e exigentes. Obra desacadémica, no fundo da liberdade criativa, tão cara a Dubuffet que viu nos cultores autênticos da Arte Bruta os príncipes verdadeiros da pintura. Joaquim Carvalho é um pintor que pinta com a boca das cores, que regressa muitas vezes ao tempo anterior da sua obra, numa visita redentora e regularizadora, um Eterno Retorno que é a afirmação do absoluto e do relativo, da necessidade e da liberdade, da poesia cujos temas são eternos e sempre jovens. (…)

Manuel da Silva Ramos, in catálogo da exposição “Desaguadianadouro de um Rio”, Museu da Água, Lisboa, �00�

Page 16: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_1�_1�

(…) Encontramos também, mais recentemente no mundo que Joaquim Carvalho recria, casas objectos, perspecti-vas uma infinidade de receptáculos de vida e até projectos que ousam traduzir o visionarismo de Fernando Pessoa, da sua « mensagem », do seu quinto império interior (…)

(…) As técnicas utilizadas nos desenhos e pinturas de Joaquim Carvalho, que tem sempre o papel como su-porte, vão da tinta da china e do pastel ao acrílico e outros processos, com resultados por vezes muito cativantes no traço e no colorido, desconcertantes na pluralidade de sentidos, na abertura ao mistério, na criação de formas inominadas.Artista praticamente autodidacta, com muita leitura da pintura clássica e contemporânea, desde o surrealismo e o abstraccionismo ao que de mais inovador e provocante hoje se faz nos grandes ateliers de Nova York ou de França e de Itália, em permanente descoberta e mudança, Joaquim Carvalho, fiel ao seu paradigma crístico, viaja por inces-santes experiências, de obra para obra, entre o que vê e o que visiona, construindo imagens poéticas (…)

(…) Mas, na sua aventura deambulante de desenhador – pintor, investe-se no interior e no exterior das criaturas e coisas que convoca para o papel e assim dá existência a um mundo perturbante, que porventura escapa ao seu próprio pensamento sensível.Os seus grafismos e as suas manchas têm com frequência um poder de sedução que ele rejeita, por querer levar ainda mais longe por territórios ignotos, a sua demanda de formas e de consciência.

Urbano Tavares Rodrigues, in exposição “ Ser Português”, Fundação D. Luís I, Cascais, �00�

Page 17: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_1� _1�_1�

Joaquim Carvalho vem-me surpreendendo a cada vez que contacto com a sua obra; para mim (e para muitos outros, analistas ou simples observadores do trabalho do pintor), olhar a pintura do artista é um exercício de raciocínio e, simultaneamente, de introspecção genuinamente assumida por cada atento observador… A isso ”obrigam” as sucessivas propostas do autor.Como já foi escrito por Manuel da Silva Ramos, para apenas citar este escritor, “é um escândalo que este veraz e pertinaz artista não seja mais conhecido em Portugal”. Eu acrescentarei que, concordando em absoluto com Manuel da Silva Ramos considero que, para além do nosso espaço geográfico, a pintura de Joaquim Carvalho já deveria ter tido acesso ao reconhecimento no exterior do país uma vez que, sem qualquer dúvida, o merecimento pelo seu trabalho ao longo dos anos mais do que o justifica, pela qualidade das propostas, inteligência autoral e indesmentível qualidade estética, como também pelo conteúdo da obra que vem realisando.Seria uma simples questão de justiça; e ainda é tempo de superar o “esquecimento” ou, se quisermos ser mais directos e explícitos, é tempo de incluir Joaquim Carvalho entre o grupo de artistas plásticos portugueses com direito a figurar nas agendas dos promotores de arte em Portugal ou seja, entre os artistas que, com incontornável sentido de justiça, merecem a divulgação além fronteiras. (…)

(…) Acompanhamos há já longos anos a actividade de Joaquim Carvalho e em ocasiões outras, tivémos ensejo de pronunciarmo-nos sobre o trabalho realizado pelo autor, mas em cada uma das vezes que olhamos as suas obras, sempre nos surpreendemos, por dois motivos essencialmente: porque a qualidade a isso nos “obriga” e porque, sempre, há algo mais que não conhecíamos. (…)

(…) Nestas obras o exercício da revisitação ao restante da produção artística de Joaquim Carvalho é uma imposição lógica, até para obter os parâmetros comparativos sobre o anterior e o posterior, sendo que tal exercício é um percurso gratificante.O “Minimalismo expressivo” do autor, deixa-nos convictos de que todo o seu trabalho é sequência de um projecto alicerçado em sólidos fundamentos estético-criativos jamais divorciado de objectos firmemente assumidos, sistematicamente ensaiados até à depuração final das formas que visualizamos; (…)

(…) A economia de processos técnicos, a rejeição do supérfluo, bem como a nitidez representativa da “linha da imagem” e de enquadramento em cada um dos suportes, é efectivamente notável.Só este aspecto bastaria para distinguir o trabalho do autor mas Joaquim Carvalho vai mais longe ao sintetizar ao máximo a capacidade de representação das imagens centrais de cada uma das suas pinturas, justificando assim a coerência global de todo o seu projecto de realização artística.O ineditismo de muitas (muitíssimas!) obras do artista, impõe uma cuidada análise ao todo da sua produção sendo que, todavia, tal sempre se nos afigura um exercício difícil, tantas são as obras que compõem o trabalho aturado e atentamente realizado por Joaquim Carvalho. Difícil? Sim, mas já indispensável. Uma mostra antológica da obra do autor seria propícia a essa análise…Cada uma das exposições do artista nos deixa a sensação de “uma pedrada no charco”; aqui chegados, vem-nos à memória um livro de Urbano Tavares Rodrigues, não pela analogia com o conteúdo da obra deste grande autor português, mas pelo significado da expressão, que aqui cabe por inteiro; é que a obra de Joaquim Carvalho é, em regra, uma forma de agitação das “águas paradas” de um lago de conformismo confrangedor que se vem registando na área das Artes Plásticas em Portugal, mau grado o esforço de alguns visando alterar o continuado processo de não reconhecimento de valores, sempre (ou quase…) condicionado aos “grupos de interesse específico” que vão continuando na sua tarefa de, em detrimento de alguns, considerar valores seguros a promover alguns outros, e em regra, apenas esses…(…)

Page 18: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_1�_1�

(…) A obra deste pintor integra assim, justamente, o “lote” de realizações artísticas que possui inteiro mérito… ainda que o reconhecimento do autor tarde…Pela nossa parte prosseguiremos, convictamente, na defesa dos autores cuja honestidade, propósitos estéticos e capacidade de realização artística sejam insuspeitos e merecedores do devido destaque e reconhecimento sem descurar, obviamente, aqueles que embora já consagrados, justifiquem a valorização prosseguida.Joaquim Carvalho é um desses autores, pintor de extrema sensibilidade, seriíssimo no seu objectivo, insuspeito na convicta e consciente opção que mobiliza a sua atenção criativa face ao desempenho criativo que vem prosseguindo há tantos anos.As obras agora trazidas a público, saídas do “purgatório” onde outras espiam pecados não cometidos e que sob o manto do desconhecimento vão resistindo ao tempo de descoberta redentora, são testemunho do labor continuado do autor que as concebeu.Certamente, mais tarde ou mais cedo - esperemos que mais cedo…- Joaquim Carvalho será devidamente reconhecido como criador de eleição, ultrapassando a voragem dos suspeitos critérios de validação neste tempo que tudo vai consumindo ao sabor das conveniências e interesses materiais…Porque a obra deste artista tem merecimento indiscutível e (mau grado os interesses instalados) incontornável.A crítica fica para os especialistas, “armadura” que não envergamos a bel prazer; a nós basta-nos a verdade das constatações e Joaquim Carvalho é, em si mesmo, uma constatação difícil de contornar, merecendo a verdade que, essa sim, assumimos, sobretudo porque consideramos ser indispensável um actualizado enquadramento dos valores que ao longo dos anos vem despontando no panorama das artes plásticas em Portugal, sem todavia esquecermos aqueles que, antes do final do século XX, designadamente nas décadas entre os anos �0 e 90, valorizaram as novas tendências.Joaquim Carvalho está entre esses, ainda que mais recente no tempo de surgimento, mas nem por este facto menos significativo.A realidade e reconhecimento impõe-se.

Carlos Lança (Presidente da Associação Nacional dos Artistas Plásticos)

in catálogo da da exposição “Ser Português”, Museu Provincial de Cáceres, Cáceres, Espanha, �00�

Page 19: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_18 _19_19

Page 20: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_19_19

Sobre Mensagem de Fernando Pessoa

PINTURA DE JOAQUIM CARVALHO

Um Olhar

Page 21: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�0 _�1_�1

Ser Português

Janelador de Mundos

Ancoradouro de alma rectangular

Aceitador de desígnios infindos

Estreitador da Terra... Abridor do Mar

Cinzelador de palavras circulares

Terra, Mar... Viagem

Inventor de Impérios!

Aceita que Estes se desfaçam

Para que Deles Outros nasçam

Melodias novas surgirão

Para vestir a palavra Saudade.

Joaquim Carvalho

Page 22: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�1_�1

1.

Page 23: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

Os Castelos

A Europa jaz, posta nos cotovelos:

De Oriente a Ocidente jaz, fitando,

E toldam-lhe românticos cabelos

Olhos gregos, lembrando.

O cotovelo esquerdo é recuado;

O direito é em ângulo disposto.

Aquele diz Itália onde é pousado;

Este diz Inglaterra onde, afastado,

A mão sustenta, em que se apoia o rosto.

Fita, com olhar ‘sfíngico e fatal,

O Ocidente, futuro do passado.

O rosto com que fita é Portugal.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | I OS CAMPOS | PRIMEIRO

Page 24: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

�.

Page 25: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

Ulisses

O mito é o nada que é tudo.

O mesmo sol que abre os céus

É um mito brilhante e mudo -

O corpo morto de Deus,

Vivo e desnudo.

Este, que aqui aportou,

Foi por não ser existindo.

Sem existir nos bastou.

Por não ter vindo foi vindo

E nos criou.

Assim a lenda se escorre

A entrar na realidade,

E a fecundá-la decorre.

Em baixo, a vida, metade

De nada, morre.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | PRIMEIRO

Page 26: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

�.

Page 27: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

Viriato

Se a alma que sente e faz conhece

Só porque lembra o que esqueceu,

Vivemos, raça, porque houvesse

Memória em nós do instinto teu.

Nação porque reencarnaste,

Povo porque ressuscitou

ou tu, ou o de que eras a haste -

Assim se Portugal formou.

Teu ser é como aquela fria

Luz que precede a madrugada,

E é já o ir a haver o dia

Na antemanhã, confuso nada.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | SEGUNDO

Page 28: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

�.

Page 29: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�8 _�9_�9

O Conde D. Henrique

Todo começo é involuntário.

Deus é o agente.

O herói a si assiste, vário

E inconsciente.

À espada em tuas mãos achada

Teu olhar desce.

“Que farei eu com esta espada?”

Ergueste-a, e fez-se.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELLOS | TERCEIRO

Page 30: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�9_�9

�.

Page 31: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�0 _�1_�1

D. Tareja

As nações todas são mistérios.

Cada uma é todo o mundo a sós.

Ó mãe de reis e avó de impérios,

Vela por nós!

Teu seio augusto amamentou

Com bruta e natural certeza

O que, imprevisto, Deus fadou.

Por ele reza!

Dê tua prece outro destino

A que fadou o instinto teu!

O homem que foi o teu menino

Envelheceu.

Mas todo vivo é eterno infante

Onde estás e não há o dia.

No antigo seio, vigilante,

De novo o cria!

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | QUARTO

Page 32: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�1_�1

�.

Page 33: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

D. Afonso Henriques

Pai, foste cavaleiro.

Hoje a vigília é nossa.

Dá-nos o exemplo inteiro

E a tua inteira força!

Dá, contra a hora em que, errada,

Novos infiéis vençam,

A bênção como espada,

A espada como bênção!

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | QUINTO

Page 34: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

�.

Page 35: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

D. Dinis

Na noite escreve um seu Cantar de Amigo

O plantador de naus a haver,

E ouve um silêncio murmuro consigo:

É o rumor dos pinhais que, como um trigo

De Império, ondulam sem se poder ver.

Arroio, esse cantar, jovem e puro,

Busca o oceano por achar;

E a fala dos pinhais, marulho obscuro,

É o som presente desse mar futuro,

É a voz da terra ansiando pelo mar.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II CASTELOS | SEXTO

Page 36: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

8..

Page 37: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

D. João o Primeiro

O homem e a hora são um só

Quando Deus faz e a história é feita.

O mais é carne, cujo pó

A terra espreita.

Mestre, sem o saber, do Templo

Que Portugal foi feito ser,

Que houveste a glória e deste o exemplo

De o defender.

Teu nome, eleito em sua fama,

É, na ara da nossa alma interna,

A que repele, eterna chama,

A sombra eterna.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | SÉTIMO (I)

Page 38: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

9.

Page 39: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�8 _�9_�9

D. Filipa de Lencastre

Que enigma havia em teu seio

Que só génios concebia?

Que arcanjo teus sonhos veio

Velar, maternos, um dia?

Volve a nós o teu rosto sério,

Princesa do Santo Gral,

Humano ventre do Império,

Madrinha de Portugal!

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | II OS CASTELOS | SÉTIMO (II)

Page 40: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�9_�9

10.

Page 41: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�0 _�1_�1

D. Pedro, Regente de Portugal

Claro em pensar, e claro no sentir,

É claro no querer;

Indeferente ao que há em conseguir

Que seja só obter;

Dúplice dono, sem me dividir,

De dever e de ser -

Não me podia a Sorte dar guarida

Por não ser eu dos seus.

Assim vivi, assim morri, a vida,

Calmo sob mudos céus,

Fiel à palavra dada e à ideia tida.

Tudo mais é com Deus!

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | III AS QUINAS | TERCEIRA

Page 42: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�1_�1

11.

Page 43: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

D. João, Infante de Portugal

Não fui alguém. Minha alma estava estreita

Entre tão grandes almas minhas pares,

Inutilmente eleita,

Virgemmente parada;

Porque é do português, pai de amplos mares,

Querer, poder só isto:

O inteiro mar, ou a orla vã desfeita -

O todo, ou o seu nada.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | III AS QUINAS | QUARTA

Page 44: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

1�.

DIGITALIZAR FOTOGRAFIA

Page 45: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

D. Sebastião, Rei de Portugal

Louco, sim, louco, porque quis minha grandeza

Qual a Sorte a não dá.

Não coube em mim minha certeza;

Por isso onde o areal está

Ficou meu ser que houve, não o que há.

Minha loucura, outros que me a tomem

Com o que nela ia.

Sem a loucura que é o homem

Mais que a besta sadia,

Cadáver adiado que procria?

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | III AS QUINAS | QUINTA

Page 46: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

1�.

Page 47: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

Nunálvares Pereira

Que auréola te cerca?

É a espada que, volteando,

Faz que o ar alto perca

Seu azul negro e brando.

Mas que espada é que, erguida,

Faz esse halo no céu?

É Excalibur, a ungida,

Que o rei Artur te deu.

‘Sperança consumada,

S. Portugal em ser,

Ergue a luz da tua espada

Para a estrada se ver!

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | IV A COROA

Page 48: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

1�.

Page 49: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�8 _�9_�9

A Cabeça do grifo

O Infante D. Henrique

Em seu trono entre o brilho das esferas,

Com seu manto de noite e solidão,

Tem aos pés o mar novo e as mortas eras -

O único imperador que tem, deveras,

O globo mundo em sua mão.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | V O TIMBRE

Page 50: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�9_�9

1�.

Page 51: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�0 _�1_�1

Uma Asa do Grifo

D. João o Segundo

Braços cruzados, fita além do mar

Parece em promontório uma alta serra -

O limite da terra a dominar

O mar que possa haver além da terra.

Seu formidável vulto solitário

Enche de estar presente o mar e o céu,

E parece tremer o mundo vário

Que ele abra os braços e lhe rasgue o véu.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | V O TIMBRE

Page 52: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�1_�1

1� .

Page 53: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

A Outra Asa do Grifo

Afonso de Albuquerque

De pé, sobre os países conquistados

Desce os olhos cansados

De ver o mundo e a injustiça e a sorte.

Não pensa em vida ou morte,

Tão poderoso que não quere o quanto

Pode, que o querer tanto

Calcara mais do que o submisso mundo

Sob o seu passo fundo.

Três impérios do chão lhe a Sorte apanha.

Criou-os como quem desdenha.

PRIMEIRA PARTE | BRASãO | V O TIMBRE

Page 54: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

1�.

Page 55: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

I O Infante

Deus quere, o homem sonha, a obra nasce,

Deus quis que a terra fosse toda uma,

Que o mar unisse, já não separasse.

Sagrou-te, e foste desvendando a espuma,

E a orla branca foi de ilha em continente,

Clareou, correndo, até ao fim do mundo,

E viu-se a terra inteira, de repente,

Surgir, redonda, do azul profundo.

Quem te sagrou criou-te português.

Do mar e nós em ti nos deu sinal.

Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez.

Senhor, falta cumprir-se Portugal!

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 56: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

18.

Page 57: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

II O Horizonte

Ó mar anterior a nós, teus medos

Tinham coral e praias e arvoredos.

Desvendadas a noite e a cerração,

As tormentas passadas e o mistério,

Abria em flor o Longe, e o Sul sidério

‘Splendia sobre as naus da iniciação.

Linha severa da longínqua costa -

Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta

Em árvores onde o Longe nada tinha;

Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:

E, no desembarcar, há aves, flores,

Onde era só, de longe a abstracta linha.

O sonho é ver as formas invisíveis

Da distância imprecisa, e, com sensíveis

Movimentos da esp’rança e da vontade,

Buscar na linha fria do horizonte

A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -

Os beijos merecidos da Verdade.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 58: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

19.

Page 59: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�8 _�9_�9

III Padrão

O esforço é grande e o homem é pequeno.

Eu, Diogo Cão, navegador, deixei

Este padrão ao pé do areal moreno

E para diante naveguei.

A alma é divina e a obra é imperfeita.

Este padrão sinala ao vento e aos céus

Que, da obra ousada, é minha a parte feita:

O por-fazer é só com Deus.

E ao imenso e possível oceano

Ensinam estas Quinas, que aqui vês,

Que o mar com fim será grego ou romano:

O mar sem fim é português.

E a Cruz ao alto diz que o que me há na alma

E faz a febre em mim de navegar

Só encontrará de Deus na eterna calma

O porto sempre por achar.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 60: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�9_�9

�0.

Page 61: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�0 _�1_�1

V Epitáfio de Bartolomeu Dias

Jaz aqui, na pequena praia extrema,

O Capitão do Fim. Dobrado o Assombro,

O mar é o mesmo: já ninguém o tema!

Atlas, mostra alto o mundo no seu ombro.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 62: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�1_�1

�1.

Page 63: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

VI Os Colombos

Outros haverão de ter

O que houvermos de perder.

Outros poderão achar

O que, no nosso encontrar,

Foi achado, ou não achado,

Segundo o destino dado.

Mas o que a eles não toca

É a Magia que evoca

O Longe e faz dele história.

E por isso a sua glória

É justa auréola dada

Por uma luz emprestada.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 64: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

��.

Page 65: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

VII Ocidente

Com duas mãos - o Acto e o Destino -

Desvendámos. No mesmo gesto, ao céu

Uma ergue o fecho trémulo e divino

E a outra afasta o véu.

Fosse a hora que haver ou a que havia

A mão que ao Ocidente o véu rasgou,

Foi a alma a Ciência e corpo a ousadia

Da mão que desvendou.

Fosse Acaso, ou Vontade, ou Temporal

A mão que ergueu o facho que luziu,

Foi Deus a alma e o corpo Portugal

Da mão que o conduziu.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 66: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

��.

Page 67: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

VIII Fernão de Magalhães

No vale clareia uma fogueira.

Uma dança sacode a terra inteira.

E sombras desformes e descompostas

Em clarões negros do vale vão

Subitamente pelas encostas,

Indo perder-se na escuridão.

De quem é a dança que a noite aterra?

São os Titãs, os filhos da Terra,

Que dançam na morte do marinheiro

Que quis cingir o materno vulto

- Cingi-lo, dos homens, o primeiro -,

Na praia ao longe por fim sepulto.

Dançam, nem sabem que a alma ousada

Do morto ainda comanda a armada,

Pulso sem corpo ao leme a guiar

As naus no resto do fim do espaço:

Que até ausente soube cercar

A terra inteira com o seu abraço.

Violou a Terra. Mas eles não

O sabem, e dançam na solidão;

E sombras desformes e descompostas,

Indo perder-se nos horizontes,

Galgam do vale pelas encostas

Dos mudos montes.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 68: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

��.

Page 69: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�8 _�9_�9

X Mar Português

Ó mar salgado, quanto do teu sal

São lágrimas de Portugal!

Por te cruzarmos, quantas mães choraram,

Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casar

Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena

Se a alma não é pequena.

Quem quere passar além do Bojador

Tem que passar além da dor.

Deus ao mar o perigo e o abismo deu,

Mas nele é que espelhou o céu.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 70: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�9_�9

��.

Page 71: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�0 _�1_�1

XI A Última Nau

Levando a bordo El-Rei D. Sebastião,

E erguendo, como um nome, alto o pendão

Do Império,

Foi-se a última nau, ao sol aziago

Erma, e entre choros de ânsia e de presago

Mistério.

Não voltou mais. A que ilha indescoberta

Aportou? Voltará da sorte incerta

Que teve?

Deus guarda o corpo e a forma do futuro,

Mas Sua luz projecta-o, sonho escuro

E breve.

Ah, quanto mais ao povo a alma falta,

Mais a minha alma atlântica se exalta

E entorna,

E em mim, num mar que não tem tempo ou ‘spaco,

Vejo entre a cerração teu vulto baço

Que torna.

Não sei a hora, mas sei que há a hora,

Demore-a Deus, chame-lhe a alma embora

Mistério.

Surges ao sol em mim, e a névoa finda:

A mesma, e trazes o pendão ainda

Do Império.

SEGUNDA PARTE | MAR PORTUGUêS

Page 72: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�1_�1

��.

Page 73: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

D. Sebastião

‘Sperai! Cai no areal e na hora adversa

Que Deus concede aos seus

Para o intervalo em que esteja a alma imersa

Em sonhos que são Deus.

Que importa o areal e a morte e a desventura

Se com Deus me guardei?

É O que eu me sonhei que eterno dura,

É Esse que regressarei.

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SíMBOLOS | PRIMEIRO

Page 74: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

��.

Page 75: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

O Quinto Império

Triste de quem vive em casa,

Contente com o seu lar,

Sem que um sonho, no erguer de asa,

Faça até mais rubra a brasa

Da lareira a abandonar!

Triste de quem é feliz!

Vive porque a vida dura.

Nada na alma lhe diz

Mais que a lição da raiz -

Ter por vida a sepultura.

Eras sobre eras se somem

No tempo que em eras vem.

Ser descontente é ser homem.

Que as forças cegas se domem

Pela visão que a alma tem!

E assim, passados os quatro

Tempos do ser que sonhou,

A terra será teatro

Do dia claro, que no atro

Da erma noite começou.

Grécia, Roma, Cristandade,

Europa - os quatro se vão

Para onde vai toda a idade.

Quem vem viver a verdade

Que morreu D. Sebastião?

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SíMBOLOS | SEGUNDO

Page 76: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

�8.

Page 77: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�� _��_��

O Desejado

Onde quer que, entre sombras e dizeres,

Jazas, remoto, sente-te sonhado,

E ergue-te do fundo de não-seres

Para teu novo fado!

Vem, Galaaz com pátria, erguer de novo,

Mas já no auge da suprema prova,

A alma penitente do teu povo

À Eucaristia Nova.

Mestre da Paz, ergue teu gládio ungido,

Excalibur do Fim, em jeito tal

Que sua Luz ao mundo dividido

Revele o Santo Gral!

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SíMBOLOS | TERCEIRO

Page 78: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_��_��

�9.

Page 79: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�8 _�9_�9

As Ilhas Afortunadas

Que voz vem no som das ondas

Que não é a voz do mar?

É a voz de alguém que nos fala,

Mas que, se escutarmos, cala,

Por ter havido escutar.

E só se, meio dormindo,

Sem saber de ouvir ouvimos,

Que ela nos diz a esperança

A que, como uma criança

Dormente, a dormir sorrimos.

São ilhas afortunadas,

São terras sem ter lugar,

Onde o Rei mora esperando.

Mas, se vamos despertando,

Cala a voz, e há só o mar.

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | I OS SIMBOLOS | QUARTO

Page 80: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_�9_�9

�0.

Page 81: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_80 _81_81

António Vieira

O céu ‘strela o azul e tem grandeza.

Este, que teve a fama e à glória tem,

Imperador da língua portuguesa,

Foi-nos um céu também.

No imenso espaço seu de meditar,

Constelado de forma e de visão,

Surge, prenúncio claro do luar,

El-Rei D. Sebastião.

Mas não, não é luar: é luz do etéreo.

É um dia; e, no céu amplo de desejo,

A madrugada irreal do Quinto Império

Doira as margens do Tejo.

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | II OS AVISOS | SEGUNDO

Page 82: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_81_81

�1.

Page 83: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8� _8�_8�

Terceiro

‘Screvo meu livro à beira-mágoa.

Meu coração não tem que ter.

Tenho meus olhos quentes de água.

Só tu, Senhor, me dás viver.

Só te sentir e te pensar

Meus dias vácuos enche e doura.

Mas quando quererás voltar?

Quando é o Rei? Quando é a Hora?

Quando virás a ser o Cristo

De a quem morreu o falso Deus,

E a despertar do mal que existo

A Nova Terra e os Novos Céus?

Quando virás, ó Encoberto,

Sonho das eras português,

Tornar-me mais que o sopro incerto

De um grande anseio que Deus fez?

Ah, quando quererás, voltando,

Fazer minha esperança amor?

Da névoa e da saudade quando?

Quando, meu Sonho e meu Senhor?

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | II OS AVISOS

Page 84: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8�_8�

��.

Page 85: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8� _8�_8�

Tormenta

Que jaz no abismo do mar que se ergue?

Nós, Portugal, o poder ser.

Que inquietação do fundo nos soergue?

O desejar poder querer.

Isto, e o mistério de que a noite é o fausto...

Mas súbito, onde o vento ruge,

O relâmpago, farol de Deus, um hausto

Brilha, e o mar ‘scuro ‘struge.

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | SEGUNDO

Page 86: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8�_8�

��.

Page 87: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8� _8�_8�

Calma

Que costa é que as ondas cantam

E se não pode encontrar

Por mais naus que haja no mar?

O que é que as ondas encontram

E nunca se vê surgindo?

Este som de o mar praiar

Onde é que está existindo?

Ilha próxima e remota,

Que nos ouvidos persiste,

Para a vista não existe.

Que nau, que armada, que frota

Pode encontrar o caminho

À praia onde o mar insiste

Se à vista do mar é sozinho?

Haverá rasgões no espaço

Que dêem para o outro lado,

E que, um deles encontrado,

Aqui, onde há só sargaço,

Surja uma ilha velada,

O país afortunado

Que guarda o Rei desterrado

Em sua vida encantada?

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | TERCEIRO

Page 88: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_8�_8�

��.

Page 89: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_88 _89_89

Antemanhã

O mostrengo que está no fim do mar

Veio das trevas a procurar

A madrugada do novo dia,

Do novo dia sem acabar;

E disse: “Quem é que dorme a lembrar

Que desvendou o Segundo Mundo,

Nem o Terceiro quere desvendar?”

E o som na treva de ele rodar

Faz mau o sono, triste o sonhar,

Rodou e foi-se o mostrengo servo

Que seu senhor veio aqui buscar.

Que veio aqui seu senhor chamar -

Chamar Aquele que está dormindo

E foi outrora Senhor do Mar.

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | QUARTO

Page 90: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_89_89

��.

Page 91: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_90 _91_91

Nevoeiro

Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

Este fulgor baço da terra

Que é Portugal a entristecer -

Brilho sem luz e sem arder,

Como o que o fogo-fátuo encerra.

Ninguém sabe que coisa quere.

Ninguém conhece que alma tem,

Nem o que é mal nem o que é bem.

(Que ânsia distante perto chora?)

Tudo é incerto e derradeiro.

Tudo é disperso, nada é inteiro.

Ó Portugal, hoje és nevoeiro...

É a Hora!

TERCEIRA PARTE | O ENCOBERTO | III OS TEMPOS | QUINTO

Page 92: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_91_91

��.

Page 93: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9� _9�_9�

Page 94: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9�_9�

JOAQUIM CARVALHO

Page 95: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9� _9�_9�

JOAQUIM CARVALHO | CURRICULUM

Licenciado em Engenharia Química pelo

Instituto Superior Técnico, Lisboa, e licenciado

em Química, Ramo de Formação Educacional,

pela Faculdade de Ciências de Lisboa.

Frequentou as Oficinas de Pintura e Desenho

do Ar.Co, Lisboa, em 198�/1988.

Curso de Serigrafia organizado pela

Câmara Municipal de Oeiras, em 1989.

POESIA E PINTURA

Onde os Rios Nascem. �00�

Recuperar a Claridade. �008

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

Palácio Anjos, Algés;

Junta de Turismo da Costa do Sol, Estoril | Galeria Sabugal, Lisboa

Galeria Alfamixta, Lisboa;

Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;

Union Hill Arts Gallery, Kansas City – Missouri, E.U.A. ;

Galeria da Biblioteca Nacional e do Livro, Lisboa;

Museu Municipal, Figueira da Foz;

Museu de Aveiro, Aveiro;

Casa do Marquês, Algés;

Sala Damião de Góis, Bruxelas;

Museu da electricidade – Central Tejo, Lisboa;

Banco de Portugal, Lisboa;

Museu da Água – Casa do Registo, Lisboa | Fava Rica, Baiona, Espanha

Banco de Portugal, Lisboa | Instituto Camões, Vigo, Espanha;

Saint Michael and All Angels Episcopal Church, Kansas, E.U.A

Unity Temple on the Plaza Kansas City – Missouri, E.U.A

Grace Episcopal Cathedral,Topeka, U.S.A. Museu Provincial de Cáceres,

Cáceres, Espanha;

Museu Municipal de Sátão, Sátão; Fundação D. Luís I - Centro Cultural de

Cascais, Cascais;

Galeria Espaço Ponto e Vírgula, Torres Vedras; Galeria Brilho e Centelha,

Paço de Arcos; Exposição na Comunidade Cultural Virtual na Second life;

Biblioteca Municipal de Cascais - São Domingos de Rana

1989

1990

1991

199�

199�

199�

199�

1998

1999

�001

�00�

�00�

�00�

�00�

�008

�009

.

.

.

.

.

Page 96: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9�_9�

EXPOSIÇÕES COLECTIVAS

Salão da Primavera da Galeria de Arte do Casino do Estoril,

Estoril; Salão de Verão, Arte 89 – S.N.B.A., Lisboa

Galeria Miron arte contemporânea Portuguesa, Lisboa

Salão de pequeno Formato da Galeria de Arte do Casino do

Estoril, Estoril;

Exposição Evocativa do Centenário de Mário de Sá Carneiro na

Galeria da Biblioteca Nacional

e do Livro, Lisboa e Centro Gulbenkian, Paris;

Trovas à Morte de Inês, Galeria Soctip, Lisboa

I Bienal de Arte, Sabugal;

FIAP’9�, Galeria ���, Porto;

II Bienal de Arte, Sabugal;

Como é Diferente o Amor em Portugal, Galeria da Biblioteca

Nacional e do Livro, Lisboa;

III Bienal de Arte, Sabugal;

Exposição da ANAP, Museu de Aveiro, Aveiro

I Fórum da Cooperação e Solidariedade AMI, Lisboa;

ANJE - Exposição ANAP;

Percepções perante a Doença de Alzheimer

ANJE -Exposição ANAP;

Eu dei �0 minutos para os próximos 1000 anos Museu da

Àgua – Patriacal, Lisboa;

Porto Capital Europeia da Cultura - Instalações da Real

Companhia Velha , Vila Nova de Gaia;

Exposição Interdistrital de Pintura Rotary Internacional, Braga

Exposição de Pintura, 9�º Convenção R.I. Barcelona;

Exposição e Leilão de Obras de Arte, Galeria de Arte da Câ-

mara Municipal, ílhavo

Hotel D. Inês, Coimbra | 9º Bienal Internacional de Artes Plásti-

cas, Vendas Novas | Os Poderes da Arte, Supremo Tribunal de

Justiça,Lisboa | Galeria Perve, Lisboa;

10º Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas;

11º Exposição Internacional de Artes Plásticas, Vendas Novas

Acervo Galeria Perve, Lisboa; �00� Galeria Ipanema Park, Porto

Instituto Politécnico de Viseu, Viseu, etc...

Visão-1�0 anos depois, na galeria Malaposta, Lisboa.

1989

1990

1991

199�

199�

199�

199�

199�

1998

1999

�000

�001

�00�

�00�

�00�

�00�

�00�

�009

Page 97: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9� _9�_9�

LEGENDAS

1. Tinta-da-china sobre papel. 1989 [�0 x ��cm]

�. Tinta-da-china sobre papel. 198� [�� x �0 cm]

�. Técnica mista sobre papel. 1988 [�� x ��,� cm]

�. Técnica mista sobre papel. 1989 [�� x �0 cm]

�. Grafite e lápis vermelho e verde sobre papel [�� x �9,� cm]

�. Técnica mista sobre papel. 1989 [�� x �0 cm]

�. Técnica mista sobre tela.199� [90 x 90 cm]

8. Técnica mista sobre papel. �000 [19,� x ��,� cm]

9. Técnica mista sobre papel.198� [�� x �0 cm]

10. Acrílico e lápis de cera sobre papel. 199� [��,� x �1 cm]

11. Tinta-da-china sobre papel.199� [�9,� x �9cm]

1�. Tinta-da-china sobre papel. 1989 [�� x �� cm]

1�. Tinta-da-china sobre papel. �008 [�� x �9,� cm]

1�. Tinta-da-china e acrílico s. papel. 1989 [�� x �0 cm]

1�. Técnica mista sobre papel. 199� [�� x �0 cm]

1�. Técnica mista sobre papel.199� [�8 x ��,� cm]

1�. Acrílico e tinta da china sobre papel. �00� [�9,� x �� cm]

18. Tinta-da-china sobre papel. �000 [�� x �0 cm]

19. Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel. 199� [�� x �8 cm]

�0. Técnica mista sobre papel. 199� [�8 x �� cm]

�1. Tinta-da-china sobre papel. �00� [�9 x �1 cm]

��. Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel. 199� [��,� x �8 cm]

��. Técnica mista sobre papel. �00� [�9 x �� cm]

��. Tinta-da-china e grafite sobre papel. 1989 [�9,� x �� cm]

��. Tinta-da-china e lápis de cera sobre papel.199� [�1 x �� cm]

��. Técnica mista sobre papel.199� [�� x �0 cm]

��. Tinta-da-china sobre papel. �008 [�� x ��,� cm]

�8. Tinta-da-china e grafite sobre papel. 1989 [�� x �9,� cm]

�9. Tinta-da-china sobre papel. �008 [�� x ��,� cm]

�0. Técnica mista sobre papel.1988 [�� x �0 cm]

�1. Tinta-da-china sobre papel. 198� [�1 x �� cm]

��. Técnica mista sobre papel. 1988 [�� x �0cm]

��. Técnica mista sobre papel. �00� [�9,� x 1�,� cm]

��. Tinta-da-china sobre papel. 1989 [�� x ��,� cm]

��. Técnica mista sobre papel.1988 [�� x �9 cm]

��. Tinta-da-china sobre papel.1989 [��,� x �� cm]

Page 98: Sobre Mensagem de Fernando Pessoa Um Olhar · parceria com a Câmara Municipal de Cascais propuseram-se à realização de uma inédita exposição sobre Fernando Pessoa, que abrangesse

_9�_9�

Ficha Técnica

Edição Câmara Municipal de Cascais

FotografiaHumberto Ferreira

Design e PaginaçãoAna Pinheiro

ImpressãoTextype (a confirmar)

Tiragem�00 exemplares

ISBN9�8-9��-���-19�-�

Depósito Legala colocar pela gráfica

Janeiro �009