sobre a origem do desenvolvimento dos seguros … romano.pdf · adriano romano sobre a origem do...

32
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS MESTRADO EM ECONOMIA DA MUNDIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO SÃO PAULO 2014

Upload: dokhanh

Post on 29-Nov-2018

222 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

Adriano Romano

SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS

MESTRADO EM ECONOMIA DA MUNDIALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

SÃO PAULO 2014

Page 2: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

1

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO PUC - SP

Adriano Romano

SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOSSEGUROS

MESTRADO EM ECONOMIA DA MUNDIALIAZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

Dissertação apresentada à Banca

Examinadora da Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, como exigência

parcial para obtenção do título de MESTRE

em Economia da Mundialização e

Desenvolvimento, sob a orientação do Prof.

Dr. Professor Dr. José Nicolau Pompeo.

SÃO PAULO

2014

Page 3: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

2

“Um sólido mercado nacional de seguros e resseguros é uma característica essencial do

crescimento econômico”

Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), 1964

“Comércio e manufaturas raramente podem florescer por muito tempo em qualquer Estado

que não desfrutar de uma administração regular de justiça, onde as pessoas não se sentem

seguras da posse de sua propriedade, na qual a fé dos contratos não é suportada por lei e

onde a autoridade do estado não é regularmente empregada em fazer cumprir o pagamento

das dívidas de todos aqueles que são capazes de pagar”.

Adam Smith, “A Riqueza das Nações”

Page 4: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

3

RESUMO

Este artigo discute os determinantes históricos, ao mesmo tempo em que estima a

contribuição das leis e das instituições na determinação do nível atual de desenvolvimento de

uma indústria que desempenha um papel fundamental na economia moderna: seguros.

Resultados empíricos extraídos de uma amostra de 70 países (desenvolvidos e emergentes),

bem como de 40 antigas colônias, evidenciam que as tradições legais trazidas pelos

colonizadores (Lei Comum Britânica e Código Civil Francês) e a taxa de mortalidade dos

primeiros colonizadores influenciaram na formação e na qualidade das instituições no longo

prazo, com fortes implicações para o mercado de seguros, explicando então as diferenças nos

níveis atuais de desenvolvimento desta indústria entre os países.

Palavras Chave: desenvolvimento do mercado de seguros; leis; instituições.

Page 5: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

4

ABSTRACT

This paper assesses the historical determinants, as well as estimates the contribution of

law and institutions in determining the development level among countries, of an industry that

plays a key role in the workings of a modern society: insurance. Empirical results extracted

from a sample of 70 developed and emerging countries, from which 40 former colonies,

provide evidence that the legal traditions brought by colonizers (British Common Law and

French Civil Code), alongside the mortality rates of first colonial settlers, influenced the

formation and the quality of long-lasting institutions, with strong implications for the

insurance markets and its different development levels seen today among the various

countries.

Key Words: development of the insurance market; laws; institutions.

Page 6: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

5

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO …………………………………………..……….……….…….............. 9

1.1. O seguro na antiguidade; Colônias no Novo Mundo e o seguro marítimo; Blaise Pascal

e o seguro de vida; Benjamin Franklin e o seguro contra incêndios ............................... 9

1.2. Seguros nos dias atuais .............................................................................................. 11

2. O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DOS SEGUROS NA ECONOMIA MODERNA ........ 15

3. DADOS ….…..…...…………………………………………………….….……….…... 17

3.1. Desenvolvimento do mercado de seguros (DS) ........................................................ 17

3.2. Mortalidade dos colonizadores e as leis ..................................................................... 18

3.3. Outros possíveis determinantes do desenvolvimento do mercado de seguros .......... 20

4. RESULTADOS DAS REGRESSÕES.…………………………………....……....……. 23

4.1. Regressão “leis e o desenvolvimento dos mercados de seguros” .............................. 23

4.2. Regressão “taxa de mortalidade dos colonizadores e o desenvolvimento dos mercados

de seguros” ................................................................................................................. 25

4.3. Regressão “leis, taxa de mortalidade e o desenvolvimento dos seguros” .................. 25

5. RECOMENDAÇÕES AOS FORMULADORES DE POLÍTICAS NO BRASIL …..... 29

6. CONCLUSÕES ….……………………...……………………………....….…...…...…. 33

REFERÊNCIAS …………………………….…………………………….….…………….. 35

APÊNDICE …………………………………………………………………………………. 37

Page 7: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

6

1. INTRODUÇÃO Os níveis de penetração de seguros diferem de forma dramática entre as nações mais e

menos desenvolvidas. No Reino Unido, o total de prêmios (faturamento) de seguros chega a

mais de 10% do PIB, comparado a 4% no Brasil... 0,7% no Egito... e 17% em Taiwan. Qual a

razão para diferenças tão grandes? O que se pode fazer para reduzir estas diferenças,

concretamente no caso do Brasil? São estas as questões que este artigo se propõe a tratar e

responder.

1.1 O seguro na antiguidade; Colônias no Novo Mundo e o seguro marítimo; Blaise Pascal e o

seguro de vida; Benjamin Franklin e o seguro contra incêndios

O seguro é um mecanismo de transferência de risco que protege e fornece

compensação, de maneira parcial ou total, por perdas ou danos causados por eventos fora de

controle do segurado. Sob um contrato de seguro ("apólice"), uma das partes contratantes (a

"Seguradora") indeniza a outra parte (o "Segurado") em caso de perdas advindas de certos

eventos, dentro de um período específico de tempo, desde que o pagamento de uma taxa (o

"prêmio") tenha sido feito pelo segurado em favor da Seguradora.

O conceito principal de seguro, "a desconcentração do risco", existe desde o início da

humanidade. Desde caçar em grupo para diminuir a probabilidade de morte de um caçador

solitário ao envio de mercadorias em vários carregamentos para evitar a perda total da carga -

nós sempre estivemos cientes do risco. A primeira apólice de seguros escrita da antiguidade

aparece inscrita num obelisco Babilônico chamado de “Código do Rei Hamurabi” (1792 to

1750 a.C.). Junto com leis que hoje em dia podem nos parecer de extrema brutalidade, o

Código de Hamurabi oferecia então um seguro básico, que garantia a um devedor o direito de

não pagar seus empréstimos caso uma catástrofe pessoal o impedisse de fazê-lo (incapacidade

física por doença ou acidente, uma inundação, etc).

O primeiro segmento de seguros identificável como um ramo de negócios foi o seguro

marítimo. As primeiras formas de apólices modernas de seguros marítimos podem ser

encontradas nas cidades-Estado Italianas de Gênova e Palermo no século 13. No Reino Unido,

as primeiras apólices marítimas são encontradas nos arquivos da Suprema Corte do

Page 8: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

7

Almirantado da Inglaterra, a partir de 1547. Mas a verdadeira expansão para os seguros

marítimos como ramo de negócios viria dos mesmos cafés que operavam como a Bolsa de

Valores não-oficial do Império Britânico. No final do século 17, as viagens marítimas entre o

Novo e o Velho Mundo estavam apenas começando, com o estabelecimento das primeiras

colônias. Uma cafeteria de propriedade de Edward Lloyd, mais tarde batizada de "Lloyd's de

Londres", foi o primeiro lugar de encontro para comerciantes, donos de barco, investidores e

outras partes envolvidas nas viagens em busca de seguro. Um sistema básico para o

financiamento das viagens marítimas foi estabelecido. Num primeiro estágio, comerciantes e

empresas buscavam financiamento junto a investidores capitalistas. Estes ajudariam a

encontrar pessoas que tivessem a vontade de se tornar colonizadores, normalmente pessoas

desesperada que viviam nas áreas mais pobres de Londres, além de comprar as provisões

necessárias para a viagem. Em troca, os investidores capitalistas teriam garantido uma parte

dos retornos das mercadorias e bens que os colonizadores encontrassem nas Américas. Depois

que a viagem tivesse então sido assegurada pelos investidores capitalistas, comerciantes e

donos de barcos iam ao Lloyd's e entregavam uma cópia da carga do navio para ser lida para

os investidores e SUBSCRITORES que lá se encontravam. Os interessados em assumir parte

do risco em troca de um valor determinado de "prêmio de seguro" assinavam abaixo do

manifesto da carga, indicando a porcentagem da carga pela qual eles iriam se responsabilizar

(portanto, "subscrição", termo utilizado pelas Seguradoras até hoje). Desta forma, uma única

viagem teria vários Subscritores, que tratavam de não concentrar seu risco, ao mesmo tempo

em que assumiam responsabilidade por parte da carga em outros barcos e viagens.

Blaise Pascal (matemático e filósofo Francês) e seu compatriota Pierre de Fermat

descobriram um modo de expressar probabilidades e, portanto, entender os diferentes níveis

de risco. O triângulo de Pascal levou a criação das primeiras tábuas atuariais que foram (e

ainda são) usadas para calcular taxas de seguro. A primeira tábua de mortalidade foi criada

em 1693 usando o triângulo de Pascal e, ato seguido, nascia o seguro de vida. Benjamin

Franklin, entre outras coisas, estadista e um dos "pais fundadores" dos Estados Unidos, foi um

dos primeiros a propor seguros mútuos. "The Philadelphia Contributionship", a primeira

seguradora contra incêndios a ter sucesso nas colônias, foi criada por ele e seus amigos

bombeiros e continua a operar até hoje. Benjamin Franklin também propôs outras formas de

seguro, que incluíam seguros de vida, previdência e seguros para viúvas e órfãos.

1.2. Seguros nos dias atuais

Page 9: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

8

A importância dos Mercados Financeiros para o crescimento econômico tem sido

exaustivamente estudada e reconhecida. Greenwood e Jovanovic (1989), King e Levine

(1993), Rousseau e Wachtel (1998) e, mais recentemente, Levine ET AL. (2000)

apresentaram evidências sobre a relação entre o desenvolvimento de mercados financeiros e o

crescimento econômico. Por sua vez, o papel e a contribuição do mercado de seguros no

desenvolvimento foi alvo de pouca atenção até hoje.

O faturamento mundial do mercado de seguros alcançou a cifra recorde de USD 4

trilhões e 641 bilhões em 2013, o equivalente a 6.3% do PIB do planeta. Somente nos 25

países da comunidade europeia, o faturamento do mercado segurador chega a 8.5% do PIB,

empregando mais de um milhão de pessoas, diretamente. Considerando o tamanho do

mercado de seguros, seria razoável supor que ele tivesse um papel maiúsculo no

desenvolvimento econômico. Surpreendentemente, porém, a literatura dedicada ao papel dos

seguros na economia é ainda pequena, principalmente quando comparada aos inúmeros

trabalhos com foco nos Bancos, Instituições Financeiras, Mercados de Títulos de dívida e

Ações. E os poucos trabalhos que tentaram investigar a relação do mercado segurador com o

crescimento econômico são controversos em sua tentativa de estabelecer e demonstrar

empiricamente os vínculos causais - se o mercado de seguros promove o crescimento

econômico e não o contrario, o típico dilema "ovo ou a galinha". François Outreville (2013)

fez uma revisão de 15 artigos empíricos que testavam os vínculos causais entre os seguros e o

desenvolvimento econômico. Embora muitos deles tenham encontrado evidências de que o

desenvolvimento do mercado de seguros é caracterizado por um fenômeno de “oferta-

induzida” (que significa que o desenvolvimento dos seguros causa crescimento econômico),

outros mostravam evidências de um padrão “demanda-induzida” (conforme a economia se

desenvolve, a demanda por seguros aumenta).

Portanto, independentemente da importância do mercado de seguros para a economia,

seu papel no processo de desenvolvimento econômico continua difícil de estimar. Mas há uma

questão anterior e fundamental, que este artigo se propõe a responder: por que alguns países

possuem mercados de seguros maiores e mais desenvolvidos que outros?

Page 10: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

9

Vamos voltar por um momento à relação entre Mercados Financeiros e crescimento

econômico, esta sim exaustivamente estudada e que sugere uma forte relação causal entre os

dois. Por "Mercados Financeiros" queremos dizer mercados financeiros bem desenvolvidos e

funcionais, mercados de capitais e proteção aos direitos de propriedade privada, os quais uma

vez em funcionamento explicam a eficiência da alocação de capital, a inovação tecnológica e,

em última instância, crescimento econômico. Mas por que alguns países possuem mercados

financeiros grandes e desenvolvidos e outros não?

Já no final do século 18, o grande filósofo político Montesquieu percebeu a

concentração geográfica da prosperidade e da pobreza no mundo e ofereceu uma explicação.

Ele basicamente argumentava que as pessoas nos climas tropicais tendiam a ser preguiçosas e

a ser lideradas por tiranos, com pouca disposição para o trabalho árduo e que também não

eram inovadoras – por estas razões estas nações eram pobres.

Mas a hipótese “geográfica” de Montesquieu foi mais tarde questionada e, neste

sentido, muitos trabalhos foram mais a fundo no intuito de investigar as causas fundamentais

do porquê alguns países terem desenvolvido seus Mercados Financeiros (e suas economias) e

outros não, com especial menção aos trabalhos seminais de La Porta ET AL (1998), "Law and

Finance" (doravante "LLSV") e Acemoglu ET AL (2001), "The Colonial Origins of

Comparative Development" (doravante AJR). Ambas as teorias chegaram à conclusão de que

as instituições, as leis e a qualidade dos mecanismos que garantem a sua aplicação são as

causas fundamentais por trás do desenvolvimento dos mercados financeiros, ainda que LLSV

e AJR ofereçam mecanismos causais bastante distintos. Em 1998 LLSV se concentrou em

duas das mais influentes tradições legais para explicar as diferenças no desenvolvimento das

leis e das instituições: o Direito Comum Britânico e o Código Civil Francês. A Grã-Bretanha

e a França instituíram seus respectivos códigos de leis em suas colônias. Como o Código Civil

Francês coloca menos ênfase na proteção dos direitos à propriedade privada que o Direito

Comum Britânico, LLSV nos mostra que as colônias francesas irão desfrutar no futuro de

menores níveis de desenvolvimento de seus Mercados Financeiros.

Por outro lado, AJR nos traz uma nova perspectiva: a teoria da taxa de mortalidade nas

colônias, que se concentra nas funções exercidas pela geografia e as doenças no

desenvolvimento institucional. Aqui, os colonizadores vão adotar diferentes estratégias e tipos

de colonização dependendo do ambiente das colônias. Nos lugares onde a taxa de mortalidade

Page 11: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

10

dos colonizadores eram altas, os Europeus criaram Estados extrativistas, principalmente

destinados à extração e exploração de ouro, prata, cobre, etc. (países da África e América

Latina). Nos países onde o ambiente favorecia o estabelecimento dos colonizadores Europeus,

estes criaram instituições que protegiam o direito à propriedade privada (Estados Unidos,

Austrália e Nova Zelândia), que mais tarde se traduziriam em Mercados Financeiros mais

desenvolvidos. Tanto LLSV quanto AJR enfatizam a importância das condições iniciais ao

influenciar as instituições como elas são hoje, mas existem diferenças fundamentais entre os

dois. LLSV foca na tradição legal trazida pelo colonizador, portanto a identidade do

colonizador é determinante na teoria de LLSV, enquanto AJR foca nas condições naturais das

colônias e sua influência na construção das instituições de longo prazo - para AJR, estas

condições ambientais naturais são a chave, não a identidade do colonizador.

Em 2003, Beck, Demirguc-Kunt e Levine (doravante BDL) foram os primeiros a considerar

as teorias de LLSV e AJR simultaneamente na tentativa de melhor explicar os determinantes

para o desenvolvimento institucional e, portanto, sua relação com o desenvolvimento dos

Mercados Financeiros.

Baseado no trabalho de BDL, as instituições e as leis são determinantes do desenvolvimento

do mercado financeiro e, em última instância, do desenvolvimento econômico. Neste artigo,

conduzimos testes empíricos semelhantes aos feitos por BDL para identificar se as origens

legais e a qualidade das instituições primitivas também se mostram determinantes do estado

atual de desenvolvimento do mercado de seguros nos diversos países. E chegamos a

resultados bastante parecidos.

O artigo está estruturado da seguinte forma: a Seção 2 mostra a importância e o papel da

indústria do seguro na economia moderna; a Seção 3 descreve e explica os dados; a Seção 4

apresenta e discute os resultados das regressões; a Seção 5 faz recomendações aos

formuladores de políticas no Brasil e a Seção 6 apresenta as conclusões.

Page 12: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

11

2. O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DOS SEGUROS NA ECONOMIA MODERNA

Para melhor entender a contribuição dos seguros para a economia moderna, vamos

primeiro lembrar o quão grande o setor de seguros é realmente. De acordo com a Swiss RE,

em 2013 o faturamento total das empresas privadas de seguros totalizou USD 4 trilhões e 641

bilhões - 6.3% do total do PIB Mundial. Desse total USD 2 trilhões e 608 bilhões foram

seguros relacionados ao ramo VIDA e USD 2 trilhões e 33 bilhões referentes ao ramo NÃO-

VIDA (para maiores detalhes sobre os ramos de seguros, ver Seção 3). Trata-se de recursos

financeiros gigantescos, o que por si só já destaca a importância da indústria de seguros. Nas

economias desenvolvidas, a penetração de seguros (total de prêmios emitidos divididos pelo

PIB) geralmente responde pelo equivalente a 10% do PIB, como são os casos dos Estados

Unidos, Reino Unido, França e Japão. Tais fluxos de recursos levam a acumulação de ativos

enormes, controlados pela indústria de seguros - nos Estados Unidos, Reino Unido e Japão, os

ativos controlados pelas seguradoras equivalem a 40, 60 e 90% do PIB, respectivamente.

Em 2013, as perdas (seguradas e não seguradas) advindas de eventos catastróficos

foram estimadas em USD 140 bilhões. A Ásia foi a região mais afetada, com perdas de USD

62 bilhões. O tufão Haiyan atingiu as Filipinas em Novembro de 2013 (um dos maiores tufões

já registrados), inundações na Europa e no Canadá, múltiplas tempestades de vento e trovões

nos Estados Unidos e na Europa - no total, o setor de seguros indenizou USD 37 bilhões de

perdas relacionadas às catástrofes naturais e USD 8 bilhões relativos a desastres provocados

pelo homem em 2013.

Agora com relação ao papel fundamental desempenhado pelo setor de seguros na

moderna economia, vamos entender sua estreita relação com uma das atividades mais

comumente relacionadas à prosperidade econômica: o comércio. O comércio internacional (e

mesmo o comércio nacional) seria virtualmente impossível se não fosse pelos seguros, que

cobrem os importadores e exportadores de mercadorias, os navios/aviões/trens/caminhões, o

crédito de compradores e vendedores e por fim o transporte dos bens. A indústria de seguros

também é um grande empregador em qualquer economia, desenvolvida ou emergente. A

"European Insurers' Trade Association" (CEA) estima que somente nos seus países membros

mais de 1.000.000 de pessoas são diretamente empregadas. Adicional a seus empregados

diretos, as seguradoras geram numerosos empregos indiretos, como agentes, corretores,

Page 13: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

12

intermediários financeiros e vários outros empregos no setor de serviços, que vão desde

tecnologia da informação a transportes, auditores, consultores, etc.

Mas os seguros não se limitam à indenização de vitimas de desastres ou ao emprego de

milhões de pessoas; acima de tudo, o setor desempenha um papel central no processo de

capitalização de uma economia moderna. Os enormes fluxos de ativos gerados pela indústria,

devido à própria natureza dos contratos de seguro e dos prazos normalmente longos de que é

objeto, normalmente permanecem nos mercados financeiros de uma economia por bastante

tempo - aqui não se trata de capital especulativo que se move em qualquer direção em busca

de lucro rápido, mas de recursos orientados para o médio e longo prazo, desempenhando

portanto um papel especial no financiamento do crescimento econômico. Ao mobilizar a

poupança, o setor de seguros tem um impacto duplo na economia: em primeiro lugar, ele

aumenta a taxa geral de poupança (principalmente através dos produtos de seguros de VIDA)

e, em segundo lugar, diminui o nível desnecessário de poupanças preventivas, estimulando o

investimento e o consumo ao reduzir estes capitais que seriam usados em caso de eventos

desastrosos, liberando-os para usos mais produtivos na economia.

Todo o acima exposto faz com que o setor de seguros tenha um papel central na economia, ao

dar as seguintes contribuições:

1) reduzindo o capital necessário às empresas para operar;

2) estimulando o investimento e a inovação, ao ajudar a criar um ambiente de maior

segurança;

3) contribuindo para a modernização dos mercados financeiros;

4) facilitando às empresas o acesso ao capital;

5) estimulando o consumo através de toda a duração da vida do consumidor

Page 14: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

13

3. DADOS

3.1. Desenvolvimento do mercado de seguros (DS)

“DS” é igual ao valor total de prêmios emitidos, dividido pelo Produto Interno Bruto

(PIB), na média dos anos de 2007 a 2012. Uma amostra de 70 países cobertos pelo estudo da

Swiss RE foi usada para a regressão “leis e seguros”, enquanto outra amostra de 40 países

(antigas colônias) foi usada nas regressões “mortalidade dos colonizadores e seguros” e “leis,

mortalidade dos colonizadores e seguros”. O número reduzido foi usado para cobrir o mesmo

grupo de colônias usado por BDL. Para medir o desenvolvimento do mercado de seguros,

usamos dados fornecidos pelos estudos Sigma da Swiss RE, publicados desde 1968. Os dados

fornecidos são baseados nos prêmios diretos emitidos por todas as seguradoras registradas,

nos ramos VIDA e Não-VIDA (ramos elementares, no Brasil) e são originados principalmente

através das autoridades nacionais que supervisionam os mercados de seguros (no Brasil, a

Superintendência dos Seguros Privados – SUSEP) e associações de seguros.

De acordo às convenções da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento

Econômico (OECD), VIDA é qualquer forma de seguro cujo pagamento é contingente ao fato

de o segurado estar vivo ou falecido. De forma mais abrangente, se estende a qualquer forma

de seguro cujo pagamento da indenização depende também do estado de saúde do segurado –

portanto, o ramo VIDA inclui todos os seguros que pagam benefícios em razão de:

1) Falecimento do segurado (normalmente chamado de “seguro de vida”);

2) Sobrevivência do segurado por um determinado período de tempo;

3) Incapacidade física temporária ou permanente do segurado, por doença ou acidente. O

ramo VIDA é normalmente classificado em seguros individuais ou grupais (como nos

casos dos seguros que cobrem todo o grupo de empregados de uma empresa)

Os seguros de saúde, que tratam dos benefícios pagos em decorrência de acidentes ou

doenças do segurado, também existem em forma individual ou grupal e estão alocados no

segmento Não-VIDA, que cobre toda e qualquer forma de seguro não definida dentro do ramo

VIDA e inclui os seguros que cobrem:

1) Danos à propriedade (exemplos: danos ou destruição de casa, automóveis, fábricas,

aviões, navios, etc;

Page 15: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

14

2) Responsabilidade Civil (exemplos: pagamentos devidos à negligencia profissional,

defeitos de fabricação de produtos entre outros);

3) Acidentes do trabalho.

Os seguros Não-Vida são chamados no Brasil de “Ramos Elementares” e são também

chamados de “Seguros de Propriedade e Responsabilidade Civil” ou “Seguros Gerais”.

Quando comprados por indivíduos (seguros residenciais e de automóveis, por exemplo) são

também chamados de “seguros de linhas pessoais”. Quando adquiridos por empresas e outras

organizações (exemplos: responsabilidade civil para produtos, incêndio e explosão de

fábricas) são classificados como “seguros de linhas comerciais”. Em alguns mercados,

também cão chamados de “Seguros de Grandes Riscos” ou “seguros Industriais”, incluídos aí

os ramos de seguros marítimo e aeronáutico.

3.2. Mortalidade dos colonizadores e as leis

Os colonizadores Europeus se encontraram com os mais diversos ambientes ao redor

do mundo, alguns mais fáceis e habitáveis e outros completamente inóspitos, cheios de

pragas, doenças e guerras, onde os Europeus vieram a falecer em grandes quantidades.

De acordo com AJR (2001), estas condições específicas de determinadas colônias

influenciaram de maneira fundamental os tipos de instituições de longo prazo criadas pelos

colonizadores Europeus. Para medir esta influencia, seguimos os passos de BDL (2003) e

usamos os dados e o instrumental de AJR (2001) sobre a mortalidade dos colonizadores, que

medem a taxa de MORTALIDADE enfrentada pelos Europeus nas colônias – isto forma a

base de nossa análise da relação entre a taxa de mortalidade e o desenvolvimento do mercado

de seguros.

Page 16: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

15

A Figura 1 indica uma correlação negativa entre a taxa de mortalidade dos colonizadores e o

desenvolvimento do mercado de seguros:

Com relação às leis, seguimos fiéis à teoria de BDL (2003), que se baseou em LLSV

(1998, 1999) ao identificar a origem legal de cada país como Francesa, Britânica, Alemã,

Escandinava ou Socialista. Mas uma vez que usamos os dados de AJR (2001) sobre a

mortalidade dos colonizadores, usamos apenas os dados dos países que herdaram a tradição

legal da França ou da Inglaterra. Para efeito dos países colonizados por Portugal e Espanha,

estes herdaram a tradição legal Francesa – na época da colonização, estes países já haviam

sido invadidos pela França, durante as guerras napoleônicas.

A variável binária Origem Legal FRANÇA é igual a UM se o país herdou suas leis do

Código Civil Francês e ZERO caso as tenha herdado do Direito Comum Britânico – nas

regressões a origem legal Britânica é capturada como constante.

Page 17: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

16

A Figura 2 abaixo mostra que o desenvolvimento do mercado de seguros é maior nos países

que herdaram o Direito Comum Britânico que nos países que herdaram a tradição legal do

Código Civil Francês – na amostra, temos 45 países de tradição francesa e 25 de tradição

britânica.

3.3. Outros possíveis determinantes do desenvolvimento do mercado de seguros

Usamos os mesmos potenciais outros determinantes do desenvolvimento dos

mercados financeiros encontrados em BDL (2003) para avaliar a robustez dos nossos

determinantes para o desenvolvimento dos mercados de seguro. Estes são:

Composição ÉTNICA, a qual mede a probabilidade de dois indivíduos selecionados

aleatoriamente dentro de um mesmo país venham a pertencer a grupos etnolinguísticos

diferentes, baseado no argumento de LLSV (1999) “...conforme a heterogeneidade étnica

aumenta, os governos se tornam mais intervencionistas”;

INDEPENDÊNCIA, que equivale à fração dos anos, desde 1776, que um país tenha se

tornado independente. De acordo com BDL (2003), “...um período mais longo de

Page 18: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

17

independência garante aos países maiores oportunidades para desenvolver suas instituições,

políticas e regulações, independente de qual tenha sido a sua herança colonial”;

CATÓLICA, MUÇULMANA e OUTRAS RELIGIÕES equivalem à fração da

população que é católica, muçulmana ou de outras religiões não protestantes. Os dados são de

LLSV (1999) e são usados baseados no fato de que vários acadêmicos argumentam que a

religião molda a visão nacional com relação aos direitos à propriedade, concorrência e o papel

do Estado (LLSV, 1999; Stultz and Williamson, 2003);

AMÉRICA LATINA e ÁFRICA Subsaariana, variável binária que é incluída para

países destes continentes, desde que estudos citados por Easterly e Levine (1997) mostraram

que estes países tinham um desempenho inferior a outros países em outras regiões do mundo,

mesmo após o controle por políticas econômicas, desenvolvimento institucional e outros

fatores.

Page 19: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

18

4. RESULTADOS DAS REGRESSÕES

Seguem os resultados e os comentários sobre as três regressões sobre a relação entre:

1) As leis e o desenvolvimento do mercado de seguros

2) Mortalidade dos colonizadores e o desenvolvimento do mercado de seguros

3) As leis, a mortalidade dos colonizadores e o desenvolvimento do mercado de seguros

Todas as regressões acima testam o impacto de nossa variável de interesse sozinha e

com as variáveis de controle sugeridas pela literatura, apresentadas na seção precedente.

Resumindo, a variável dependente é: desenvolvimento do mercado de SEGUROS. Como

BDL, usamos a variável binária origem legal FRANÇA para explorar a relação entre as leis e

os seguros e a taxa de MORTALIDADE para avaliar a relação entre a taxa de mortalidade dos

colonizadores e os seguros. Variáveis binárias para AMÉRICA LATINA e ÁFRICA,

composição religiosa (CATÓLICA, MUÇULMANA e OUTRAS RELIGIÕES,

INDEPENDÊNCIA e diversidade ÉTNICA são usadas como variáveis de controle, ao mesmo

tempo em que a regressão que controla todas estas variáveis ao mesmo tempo também é

incluída (com exceção da “composição religiosa”, uma binária que nunca entrou no intervalo

de significância dos 5%).

4.1. Regressão “leis e o desenvolvimento dos mercados de seguros”

A Tabela 1 apresenta regressões dos Métodos dos Mínimos Quadrados Ordinários do

desenvolvimento dos mercados de seguros sobre a herança legal Francesa e ao mesmo tempo

combinações das outras variáveis de controle. Os resultados indicam uma relação negativa

entre a herança legal Francesa e o desenvolvimento dos mercados de seguros. Após controlar

por continente, composição religiosa, diversidade étnica e independência, a origem legal

Francesa com coeficientes negativos e significativos no nível dos 5% em quase todas as

regressões de desenvolvimento do mercado de seguros, com apenas uma exceção. Finalmente,

os resultados mostram que países com uma tradição legal herdada do Código Civil Francês

tendem a mostrar menores níveis de desenvolvimento em seus respectivos mercados de

seguros se comparados aos países que herdaram o Direito Comum Britânico, mesmo após os

controles de outras características nacionais. Este resultado é consistente com a visão de

LLSV (1999): a identidade dos colonizadores é importante, devido às tradições legais que eles

trouxeram consigo. Chegamos a resultados similares ao excluir de nossa mostra países que

não foram antigas colônias.

Page 20: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

19 T

abe

la 1

:

A r

egre

ssã

o e

stim

ada

é: d

ese

nvo

lvim

ent

o de

se

guro

s =

α +

β1O

rige

m L

ega

l FR

AN

ÇA

+ β 2

X,

onde

o d

ese

nvol

vim

ent

o d

e s

egur

os e

quiv

ale

ao

valo

r to

tal d

e pr

êm

ios

divi

dido

pe

lo P

IB.

A

vari

áve

l bin

ári

a O

rige

m L

ega

l FR

AN

ÇA

é ig

ual a

UM

se

o p

aís

herd

ou s

uas

leis

do

Cód

igo

Civ

il F

ranc

ês e

ZE

RO

ca

so a

s te

nha

he

rda

do d

o D

ireito

Com

um B

ritâ

nic

o. A

reg

ress

ão

tam

bém

in

clui

um

ve

tor

de v

ari

áve

is d

e c

ontr

ole

, X.

AM

ÉR

ICA L

AT

INA

e Á

FR

ICA

são

va

riá

veis

bin

ári

as

que

ass

ume

m o

va

lor

de U

M s

e o

paí

s é

loca

liza

do n

a A

rica

La

tina

ou

Áfr

ica

S

ubs

aa

ria

na. C

AT

ÓL

ICA

, M

UL

MA

NA

e O

UT

RA

S R

EL

IGIÕ

ES equ

iva

lem

à f

raçã

o da

po

pula

ção

que

é c

ató

lica,

mu

çulm

ana

ou

de o

utra

s re

ligiõ

es n

ão-p

rote

stan

tes.

IN

DE

PE

ND

ÊN

CIA

equ

iva

le à

fra

ção

dos

ano

s, d

esd

e 1

776,

que

um

pa

ís te

nha

se

torn

ado

inde

pend

ent

e.

Com

posi

ção

ÉT

NIC

A m

ede

a p

roba

bilid

ade

de

que

doi

s in

div

íduo

s se

leci

ona

dos

a

lea

tori

am

ent

e d

ent

ro d

e u

m m

esm

o pa

ís v

enh

am

a p

erte

nce

r a

gru

pos

etn

olin

guí

stic

os d

ifere

nte

s. A

s re

gre

ssõe

s sã

o e

stim

ada

s ut

iliza

ndo

-se

o M

étod

o d

os M

íni

mos

Qua

dra

dos

Ord

iná

rios

. E

rros

pa

drã

o e

m p

arê

nte

ses.

***

,**,

** in

dica

m p

arâ

me

tros

sig

nific

ativ

os e

m in

terv

alo

s de

con

fianç

a d

e 1%

, 5%

, e

10%

, re

spe

ctiv

am

ent

e. A

s de

finiç

ões

e f

onte

s da

s va

riá

veis

util

iza

das

são

dada

s n

o a

pên

dice

.

LEIS

E S

EG

UR

OS

Orig

em

Le

ga

l F

RA

AA

rica

La

tina

Áfr

ica

Ca

tólic

aM

uçu

lma

na

Ou

tra

s

Re

ligiõ

es

Ind

ep

en

nci

aC

om

po

siç

ão

É

tnic

aR

2 A

jus

tad

oO

bs

-.0

317*

**0.

171

70

(.00

8)

-.0

273*

** -

.017

5* -

.011

70.

188

70

(.00

8)(.

009)

(.01

4)

-.0

131

-.0

002

-.0

006*

** -

.000

10.

328

70

(.01

16)

(.00

02)

(.00

02)

(.00

01)

-.0

392*

** .0

410*

**0.

338

70

(.00

7)(.

009)

-.0

332*

** -

.028

3*0.

194

70

(.00

8)(.

016)

-.0

331*

** -

.019

4**

-.0

186

.040

3* -

.025

10.

194

70

(.00

8)(.

008)

(.01

5)(.

010)

(.02

0)

Page 21: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

20

4.2. Regressão “taxa de mortalidade dos colonizadores e o desenvolvimento dos mercados de

seguros”

A Tabela 2 indica uma significativa, negativa associação entre a taxa de mortalidade

dos colonizadores e o desenvolvimento dos seguros, mesmo após os controles de BDL (2003)

serem incluídos. Estes resultados suportam a visão de que taxas de mortalidade mais altas dos

colonizadores são negativamente associadas com o nível atual de desenvolvimento dos

mercados de seguros, mesmo após os controles relevantes. Estes números são por sua vez

consistentes com a conclusão de AJR (2001, 2002), a de que o ambiente das antigas colônias

foi vital para influenciar a maneira pela qual ela foi colonizada - se ela se tornou uma colônia

extrativista ou de povoamento – com implicações de longo prazo para o desenvolvimento

institucional e, consequentemente, para o desenvolvimento dos seguros. Além do mais, o R2

das regressões incluindo a taxa de mortalidade são geralmente mais altos que os que incluem

a herança legal, sugerindo que a primeira tem um poder de explicação maior que a segunda

quando se trata do desenvolvimento dos seguros. Estes resultados são similares aos obtidos

por BDL (2003). È importante notar que o número de observações nesta regressão é menor

que na regressão anterior, uma vez que as observações dos países que não foram antigas

colônias foram excluídas. Estas 40 colônias são um subgrupo das 70 colônias do estudo de

BDL (2003).

4.3. Regressão “leis, taxa de mortalidade e o desenvolvimento dos seguros”

A Tabela 3 considera as determinantes chaves das duas regressões anteriores. Ao invés

de testar a origem legal e taxa de mortalidade separadas para as 40 antigas colônias, esta

regressão combina as teorias de AJR e LLSV simultaneamente, portanto as variáveis herança

legal FRANÇA e taxa de MORTALIDADE são incluídas juntas. Os resultados sugerem que

ambas variáveis possuem um papel significativo no desenvolvimento de seguros, mesmo após

a inclusão dos outros controles. Ademais, o R2 mais alto desta regressão, quando comparado

aos das regressões anteriores, indica que as duas teorias são complementares ao explicar

melhor o desenvolvimento dos seguros juntas do que isoladamente.

Page 22: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

21

Ta

bela

2:

A r

egr

ess

ão

est

ima

da é

: de

senv

olvi

me

nto

de s

egu

ros

= α

+ β

1ta

xa d

e M

OR

TA

LID

AD

E +

β2X

, ond

e o

dese

nvo

lvim

ent

o de

se

guro

s e

quiv

ale

ao

valo

r to

tal d

e p

rêm

ios

divi

dido

pe

lo P

IB. A

va

riáv

el b

inár

ia ta

xa d

e M

OR

TA

LID

AD

E s

e r

efe

re a

o n

úme

ro a

nua

liza

do d

e f

ale

cim

ento

s po

r ca

da m

ilha

r de

sol

dado

s E

uro

peus

na

s a

ntig

as

colô

nia

s no

com

eço

do

sécu

lo 1

9. A

re

gre

ssã

o ta

mbé

m in

clui

um

ve

tor

de v

ari

áve

is d

e c

ontr

ole

, X.

AM

ÉR

ICA

LA

TIN

A e

ÁF

RIC

A s

ão

vari

áve

is b

iná

rias

que a

ssum

em

o v

alor

de

UM

se

o p

aís

é lo

caliz

ado

na

Am

éri

ca L

atin

a o

u Á

fric

a

Sub

saa

ria

na.

CA

LIC

A,

MU

ÇU

LM

AN

A e

OU

TR

AS

RE

LIG

IÕE

S equ

iva

lem

à f

raçã

o da

pop

ula

ção

que

é c

ató

lica

, m

uçu

lma

na o

u de

out

ras

relig

iõe

s nã

o-pr

ote

sta

ntes

. IN

DE

PE

ND

ÊN

CIA

equ

iva

le à

fra

ção

dos

ano

s, d

esd

e 1

776,

que

um

pa

ís te

nha

se

tor

nad

o in

depe

nde

nte

. C

ompo

siçã

o É

TN

ICA

me

de a

pro

babi

lida

de d

e q

ue d

ois

indi

víd

uos

se

leci

onad

os

ale

ator

iam

ent

e d

ent

ro d

e u

m m

esm

o pa

ís v

en

ham

a p

er

tenc

er a

gru

pos

etn

olin

guí

stic

os d

ifere

ntes

. A

s re

gre

ssõe

s sã

o e

stim

ada

s ut

iliza

ndo-

se o

todo

dos

nim

os Q

uadr

ad

os O

rdin

ári

os.

Err

os p

adr

ão

em

par

ênt

ese

s. *

**,*

*,**

indi

cam

par

âmetro

s si

gni

ficat

ivos

em

inte

rva

los

de c

onfia

nça

de

1%

, 5%

, e

10%

, re

spe

ctiv

amen

te.

As

defin

içõe

s e

fon

tes

das

variá

veis

util

iza

das

são

dada

s no

apê

ndic

e.

MO

RT

ALI

DA

DE

E S

EG

UR

OS

Mo

rta

lida

de

Am

éric

a

Latin

fric

aC

ató

lica

Mu

çulm

an

aO

utr

as

R

elig

iõe

sIn

de

pe

nd

ên

cia

Co

mp

os

içã

o

Étn

ica

R2

Aju

sta

do

Ob

s

-.0

177*

**0,

335

40

(.00

4)

-.0

237*

** .0

129

.041

00.

453

40

(.00

4)(.

008)

(.00

4)

-.0

134*

** -

.000

8***

-.0

009*

** -

.000

5**

0.65

040

(.00

3)(.

0002

)(.

0002

)(.

0002

)

-.0

179*

** .0

165

0.35

140

(.00

4)(.

011)

-.0

184*

** .0

169

0.19

440

(.00

4)(.

014)

-.0

260*

**.0

250*

*.0

433*

**-.

0288

**-.

0042

0.48

640

(.00

4)(.

011)

(.01

5)(.

014)

(.01

9)

Page 23: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

22

Ta

bela

3:

A r

egre

ssã

o e

stim

ada

é: d

ese

nvo

lvim

ent

o de

se

guro

s =

α +

β1

Ori

gem

Le

gal F

RA

A +

β 2 ta

xa d

e M

OR

TA

LID

AD

E +

β3X

, ond

e o

de

senv

olvi

me

nto

de s

eg

uros

eq

uiva

le a

o va

lor

tota

l de

pr

êm

ios

divi

did

o pe

lo P

IB.

A v

ari

áve

l bin

ári

a O

rigem L

ega

l FR

AN

ÇA

é ig

ual a

UM

se

o p

aís

he

rdou

sua

s l

eis

do

Cód

igo

Civ

il F

ranc

ês

e Z

ER

O c

aso

as

tenh

a h

erd

ado

do

Dir

eito

Com

um

Bri

tâni

co. A

var

iáve

l bin

ári

a ta

xa d

e M

OR

TA

LID

AD

E se r

efe

re a

o nú

me

ro a

nua

liza

do d

e f

ale

cim

ent

os

por

ca

da m

ilha

r de

sol

dad

os E

urop

eus

na

s a

ntig

as

colô

nia

s no

com

eço

do

sécu

lo 1

9.

A r

egre

ssã

o ta

mbé

m in

clu

i um

ve

tor

de v

ari

áve

is d

e

cont

role

, X

. AM

ÉR

ICA

LA

TIN

A e

ÁF

RIC

A s

ão

vari

áve

is

biná

ria

s qu

e a

ssum

em

o v

alo

r de

UM

se

o p

aís

é lo

caliz

ad

o na

Am

éric

a

La

tina

ou

Áfr

ica

Sub

saa

rian

a.

CA

LIC

A,

MU

ÇU

LM

AN

A e O

UT

RA

S R

ELI

GIÕ

ES

equ

ival

em

à f

raçã

o da

pop

ula

ção

que

é c

ató

lica

, m

uçul

ma

na o

u de

out

ras

relig

iõe

s nã

o-p

rote

sta

nte

s.

IND

EP

EN

NC

IA e

quiv

ale

à f

raçã

o do

s a

nos,

de

sde

177

6, q

ue u

m p

aís

tenh

a s

e to

rna

do in

depe

nde

nte

. C

ompo

siçã

o É

TN

ICA

med

e a

pro

babi

lida

de d

e q

ue d

ois

indi

víd

uos

sele

cio

nad

os

ale

ato

ria

me

nte

de

ntro

de

um

me

smo

país

ve

nha

m a

per

tenc

er

a g

rup

os e

tnol

ing

uíst

icos

dife

rent

es.

As

reg

ress

ões

são

est

ima

das

utili

zan

do-s

e o

Mét

odo

dos

nim

os Q

uadr

ado

s O

rdin

ári

os.

Err

os p

adr

ão

em

pa

rênt

ese

s. *

**,*

*,**

indi

cam

pa

râm

etr

os s

igni

fica

tivos

em

inte

rva

los

de c

onfia

nça

de

1%,

5%,

e 1

0%,

resp

ect

iva

me

nte

. As

defin

içõe

s e

fon

tes

das

vari

áve

is u

tiliz

ada

s sã

o da

das

no

apê

ndi

ce.

LEIS

, MO

RT

ALI

DA

DE

E S

EG

UR

OS

Orig

em

Le

ga

l F

RA

AM

ort

alid

ad

eA

rica

La

tina

Áfr

ica

Ca

tólic

aM

uçu

lma

na

Ou

tra

s R

elig

iõe

sIn

de

pe

nd

ên

cia

Co

mp

os

içã

o

Étn

ica

R2

Aju

sta

do

Ob

s

-.0

225*

** -

.014

5***

0.45

240

(.00

7)(.

004)

-.0

243*

** -

.021

3***

.020

9**

.038

7***

0,58

140

(.00

7)(.

004)

(.00

8)(.

011)

.006

7 -

.013

6***

-.0

009*

** -

.001

0***

-.0

006*

*0,

644

40

(.01

0)(.

003)

(.00

03)

(.00

02)

(.00

02)

-.02

26**

-.01

45**

*.0

003

0,43

640

(.00

8)(.

003)

(.01

2)

-.02

15**

-.01

49**

*.0

057

0,43

640

(.00

8)(.

004)

(.01

4)

-.02

18**

*-.

0223

***

.023

8**

.044

0***

.013

1.0

110,

574

40

(.00

8)(.

004)

(.01

0)(.

013)

(.01

4)(.

018)

Page 24: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

23

5. RECOMENDAÇÕES AOS FORMULADORES DE POLÍTICAS NO B RASIL

Em primeiro lugar e central em relação ao objetivo deste artigo: leis e instituições de

qualidade são essenciais. De acordo com North (1990, p.3) “ instituições são as regras do jogo

ou, mais formalmente, são as restrições humanamente concebidas que moldam as interações

humanas”. Boas instituições econômicas neste contexto são as que proporcionam a segurança

dos direitos à propriedade, direitos estes que são protegidos por leis, que devem ser

propriamente aplicadas por mecanismos de qualidade que reforcem o seu cumprimento. Para

que o setor de seguros possa atingir o seu máximo potencial econômico e social, o ambiente

regulatório deve ser o melhor possível.

O Brasil possui o 7º maior PIB do mundo (1), mas somente o 12º maior mercado de

seguros medido por prêmios e o 38º se levado em conta o critério de penetração de seguros (2).

Quando se trata de “Qualidade Regulatória” e “Estado de Direito”, a posição é ainda pior: o

Brasil ocupa o 74º e 66º lugares, respectivamente (3).

RANKING MUNDIAL

País GDP Prêmio Bruto Penetração Qualidade da Regulação

Estado de Direito

Estados Unidos 1 1 17 27 11

China 2 4 49 26 56

Japão 3 2 7 22 13

Alemanha 4 6 21 35 20

França 5 5 11 35 21

Reino Unido 6 3 6 21 3

Brasil 7 12 38 74 66

Russia 8 24 73 81 93

India 11 15 40 47 32

África do Sul 33 18 2 33 13

(1) International Financial Statistics of the IMF (2) Swiss Re Sigma Studies 2013

(3) Global Opportunity Index 2011

Page 25: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

24

A tabela acima sugere uma qualidade baixa na formulação de políticas, bem como

ineficiência dos mecanismos usados para reforçar o cumprimento das leis e regulações. Ao

mesmo tempo, estes resultados refletem a pouca extensão do sistema legal do país no que se

refere à proteção dos investidores e aos direitos de propriedade. Reformas urgentes e

profundas se fazem necessárias, trazendo uma regulação menos onerosa, diminuindo a

burocracia, aumentando a eficiência do sistema judiciário na resolução de disputas, mais

independência ao poder judiciário, melhores proteções aos direitos à propriedade e à proteção

aos investidores – todas estas medidas adaptadas neste caso às reais necessidades dos

consumidores e do mercado segurador em geral.

Nosso segundo conjunto de recomendações vai na direção da educação do

consumidor. Infelizmente, o seguro é normalmente considerado como uma despesa

desnecessária pelos potenciais compradores, principalmente quando estes são desinformados.

O seguro também é visto como um bem superior pelos economistas, portanto se tornaria

regularmente disponível e necessário apenas quando muitas outras necessidades básicas

tivessem sido satisfeitas – nada mais longe da verdade. O seguro não é uma despesa, mas um

investimento na proteção dos ativos de empresas e indivíduos. Em muitos casos, não estar

segurado é a opção mais cara no longo prazo – para o individuo e a sociedade como um todo.

A precaução e a consciência financeira, devido às mudanças sociais que estão acontecendo

em nossa sociedade, devem ser encorajadas. Sendo assim, tanto o Estado quanto as próprias

companhias seguradoras deveriam investir na comunicação e educação do público em geral,

no que tange aos benefícios dos seguros.

Em terceiro lugar: a proteção social. Em todos os países desenvolvidos ( e em alguns

emergentes, como é o caso do Brasil), mudanças demográficas dramáticas estão em curso,

com a maior expectativa de vida e diminuição da natalidade. Paralelamente, as expectativas

das pessoas com relação ao sistema de saúde, seguro desemprego e previdência social são

mais altas do que nunca. O setor privado de seguros pode desempenhar um papel vital na

suplementação do sistema social do Estado, agora e no futuro. A função do Estado na

formulação das políticas sociais, bem como na provisão de benefícios e serviços nos setores

de Saúde e Previdência deve ser revisada. As pessoas devem ser alertadas para as mudanças

que estão ocorrendo na previdência social, o que lhes permitiria tomar decisões mais

adequadas em relação à sua futura aposentadoria e plano de saúde. Numa economia moderna

Page 26: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

25

global, caracterizada pela emergência de novos riscos (como mudanças climáticas e novas

tecnologias), novas necessidades e tendências (maior expectativa de vida, cobertura do

sistema de saúde), a cooperação entre o governo e o sistema privado de seguros é uma

necessidade, sendo os seguradores sólidos parceiros no desenvolvimento de um sistema de

proteção social suplementar, particularmente nos campos da saúde e da previdência social.

Finalmente, a cooperação pública – privada é fortemente aconselhada aos

formuladores de políticas no Brasil. Todas as partes envolvidas podem se beneficiar: o

governo, os cidadãos e o mercado de seguros.

Page 27: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

26

6. CONCLUSÕES

Usando as mesmas variáveis instrumentais de BDL para avaliar os determinantes

históricos de desenvolvimento financeiro, este trabalho avalia e calcula as contribuições das

instituições na determinação dos diferentes níveis atuais de desenvolvimento do seguro entre

os países.

Assim como em BDL, este trabalho baseia-se em duas teorias diferentes que

moldaram duradouras instituições econômicas: a "teoria das leis e finanças” de LLSV e a

"teoria da mortalidade dos colonizadores" de AJR. A primeira prevê que as condições

ambientais originais, fossem hospitaleiras ou hostis, encontradas pelos colonizadores

Europeus, moldaram a forma e a qualidade das instituições econômicas criadas pelos

colonizadores. LLSV, por outro lado, diz que a herança da tradição da origem legal (seja o

Direito Comum Britânico ou o Código Civil Francês) explica as diferenças nas instituições

econômicas entre os países, onde a lei comum britânica tende a enfatizar os direitos de

propriedade privada em um grau muito maior do que os países que herdaram o direito civil

francês. Nossa análise dos resultados nos dá duas conclusões principais. Em primeiro lugar,

os resultados do artigo para a teoria de LLSV aplicada ao desenvolvimento de seguros são

conclusivos. A origem legal explica as diferenças de desenvolvimento dos mercados de

seguros entre os países, mesmo após o controle de mortalidade dos colonizadores,

composição religiosa, diversidade étnica e do número de anos desde que o país se tornou

independente em 1776. Os resultados mostram que países com tradição legal francesa têm um

nível atual mais baixo de desenvolvimento do mercado de seguros quando comparado com os

países que herdaram o direito comum britânico.

Em segundo lugar, os resultados fornecem suporte ainda mais forte para a teoria de

AJR aplicada ao desenvolvimento de seguros. Aqui, os resultados mostram com maior ênfase

que as antigas colônias com condições ambientais originariamente inóspitas e, portanto, uma

maior taxa de mortalidade dos colonizadores, têm mercados de seguros menos desenvolvidos

hoje - mais uma vez, após o controle de origem legal, composição religiosa, diversidade

étnica e anos de independência.

Finalmente, os resultados empíricos da combinação de ambas as teorias de AJR e

LLSV indicam claramente que "instituições", criadas e influenciadas a partir das tradições

Page 28: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

27

jurídicas herdadas tanto da França quanto do Reino Unido e da taxa de mortalidade dos

colonizadores, pode ser considerada como uma explicação fundamental para o nível de

desenvolvimento atual dos mercados de seguros nos distintos países.

Page 29: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

28

REFERÊNCIAS

ACEMOGLU, Daron; JOHNSON, Simon; ROBINSON, James A. The colonial origins of comparative development: an empirical investigation. National bureau of economic research, 2000. ACEMOGLU, Daron; JOHNSON, Simon; ROBINSON, James A. Institutions as a fundamental cause of long-run growth. Handbook of economic growth, v. 1, p. 385-472, 2005. ACEMOGLU, Daron; JOHNSON, Simon; ROBINSON, James A. Reversal of fortune: Geography and institutions in the making of the modern world income distribution. Quarterly journal of economics, p. 1231-1294, 2002. ALVES, Danielle Conte; BAHIA, Ligia; BARROSO, André Feijó. O papel da Justiça nos planos e seguros de saúde no Brasil The role of the court system in regulating health insurance plans in Brazil. CAD. Saúde Pública, v. 25, n. 2, p. 279-290, 2009. BECK, Thorsten; DEMIRGÜÇ-KUNT, Asli; LEVINE, Ross. Law, endowments, and finance. Journal of Financial Economics, v. 70, n. 2, p. 137-181, 2003. BECK, Thorsten; DEMIRGÜÇ-KUNT, Asli; LEVINE, Ross. Law and finance: why does legal origin matter?. Journal of Comparative Economics, v. 31, n. 4, p. 653-675, 2003. BECK, Thorsten; LEVINE, Ross; LOAYZA, Norman. Finance and the Sources of Growth. Journal of financial economics, v. 58, n. 1, p. 261-300, 2000. BECK, Thorsten; WEBB, Ian. Economic, demographic, and institutional determinants of life insurance consumption across countries. The World Bank Economic Review, v. 17, n. 1, p. 51-88, 2003. DE MONTESQUIEU, Charles Louis de Secondat. The spirit of laws. Nourse and Vaillant, 1758. DEMIRGÜÇ‐KUNT, Asli; MAKSIMOVIC, Vojislav. Law, finance, and firm growth. The Journal of Finance, v. 53, n. 6, p. 2107-2137, 1998. DIAMOND, Jared M.; ORDUNIO, Doug. Guns, germs, and steel. National Geographic, 2005. EASTERLY, William; LEVINE, Ross. Africa's growth tragedy: policies and ethnic divisions. The Quarterly Journal of Economics, p. 1203-1250, 1997.

EASTERLY, William; LEVINE, Ross. Tropics, germs, and crops: how endowments influence economic development. Journal of monetary economics, v. 50, n. 1, p. 3-39, 2003. GALLUP, John Luke; SACHS, Jeffrey D.; MELLINGER, Andrew D. Geography and economic development. International regional science review, v. 22, n. 2, p. 179-232, 1999.

Page 30: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

29

GLAESER, Edward L.; SHLEIFER, Andrei. Legal origins. Quarterly Journal of Economics, p. 1193-1229, 2002. References GREENWOOD, Jeremy; JOVANOVIC, Boyan. Financial development, growth, and the distribution of income. National Bureau of Economic Research, 1989. KING, Robert G.; LEVINE, Ross. Finance, entrepreneurship and growth. Journal of monetary Economics, v. 32, n. 3, p. 513-542, 1993. LA PORTA, Rafael et al. Law and finance. Springer Berlin Heidelberg, 2001. LA PORTA, Rafael et al. The quality of government. Journal of Law, Economics, and organization, v. 15, n. 1, p. 222-279, 1999. LEVINE, Ross; ZERVOS, Sara. Stock markets, banks, and economic growth. American economic review, p. 537-558, 1998. LEVINE, Ross. The legal environment, banks, and long-run economic growth. Journal of Money, Credit and Banking, p. 596-613, 1998. LEVINE, Ross; LOAYZA, Norman; BECK, Thorsten. Financial intermediation and growth: Causality and causes. Journal of monetary Economics, v. 46, n. 1, p. 31-77, 2000. NORTH, Douglass C. Institutions, institutional change and economic performance. Cambridge university press, 1990. OUTREVILLE, Francois J. The relationship between insurance, financial development and market structure in developing countries: an international cross-section study. UNCTAD Review, v. 70, p. 53-69, 1990. OUTREVILLE, J. François. The relationship between insurance and economic development: 85 empirical papers for a review of the literature. Risk Management and Insurance Review, v. 16, n. 1, p. 71-122, 2013. NERI, Marcelo; SOARES, Wagner. Desigualdade social e saúde no Brasil Social inequality and health in Brazil. Cadernos de Saúde Pública, 2002. RODRIK, Dani; SUBRAMANIAN, Arvind; TREBBI, Francesco. Institutions rule: the primacy of institutions over geography and integration in economic development. Journal of economic growth, v. 9, n. 2, p. 131-165, 2004. ROUSSEAU, Peter L.; WACHTEL, Paul. Financial intermediation and economic performance: historical evidence from five industrialized countries. Journal of money, credit and banking, p. 657-678, 1998. STULZ, Rene M.; WILLIAMSON, Rohan. Culture, openness, and finance. Journal of financial Economics, v. 70, n. 3, p. 313-349, 2003.

Page 31: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

30

APÊNDICE

Tabela 4: PENTETRAÇÃO DOS SEGUROS Swiss Re Sigma Studies 2013 Prêmios em % do GDP em 2013

Page 32: SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS … Romano.pdf · Adriano Romano SOBRE A ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DOS SEGUROS ... Seguros nos dias atuais . 8 ... Portanto, independentemente

31

Tabela 5: INDICADORES MACROECONÔMICOS EM 2013 Swiss Re Sigma Studies 2013