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SOBRE A METALOGENIA DO URÂNIO EM PORTUGAL (1) POR ALBERTO CERVEIRA ENGENHEIRO DE MINAS (u. P.) PRIlIIEIRO ASSISTENTE DA FACULDADE DE ENGENHARIA DO PORTO I - OS JAZIGOS URANO-RAOfFEROS PORTUGUESES 1) - RESENHA HISTÓRICA. Datam de 1907, portanto nove anos após a descoberta do rádio, os primeiros manifestos mineiros de jazigos urano-radf- feros portugueses. Aquela data coincide com o apelo lançado pela França, nação que descobriu e primeiro produziu o rádio, ao ver-se privada das pechblendas austríacas, que abasteciam a oficina de Nogent-sur-Marne. Nesta emergência, recorre, não só à exploração dos seus jazigos continentais, que a breve se mostram de fraco valor comercial, como tenta importar miné- rios de outras partes do Globo: as betafites e euxenites de Madagáscar, as pechblendas do Cornwall, as autunites ou torbenites e «minério negro» de Portugal, as· carnotites do Colorado e Utah, etc .. Vários jazigos de minérios urano-radíferos foram então descobertos e entraram em exploração em Portugal, contan- (1) Comunicação apresentada, em Maio de 1950, nas Reuniões Cientí- ficas e Pedagógicas do Grupo de Minas e Metalurgia da faculdade de Enge- nharia da Universidade do Porto e no Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, realizado em Lisboa, em Outubro do mesmo ano.

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SOBRE A METALOGENIA DO URÂNIO EM PORTUGAL (1)

POR

ALBERTO CERVEIRA ENGENHEIRO DE MINAS (u. P.)

PRIlIIEIRO ASSISTENTE DA FACULDADE DE ENGENHARIA DO PORTO

I - OS JAZIGOS URANO-RAOfFEROS PORTUGUESES

1) - RESENHA HISTÓRICA.

Datam de 1907, portanto nove anos após a descoberta do rádio, os primeiros manifestos mineiros de jazigos urano-radf­feros portugueses.

Aquela data coincide com o apelo lançado pela França, nação que descobriu e primeiro produziu o rádio, ao ver-se privada das pechblendas austríacas, que abasteciam a oficina de Nogent-sur-Marne. Nesta emergência, recorre, não só à exploração dos seus jazigos continentais, que a breve se mostram de fraco valor comercial, como tenta importar miné­rios de outras partes do Globo: as betafites e euxenites de Madagáscar, as pechblendas do Cornwall, as autunites ou torbenites e «minério negro» de Portugal, as· carnotites do Colorado e Utah, etc ..

Vários jazigos de minérios urano-radíferos foram então descobertos e entraram em exploração em Portugal, contan-

(1) Comunicação apresentada, em Maio de 1950, nas Reuniões Cientí­ficas e Pedagógicas do Grupo de Minas e Metalurgia da faculdade de Enge­nharia da Universidade do Porto e no Congresso Luso-Espanhol para o Progresso das Ciências, realizado em Lisboa, em Outubro do mesmo ano.

SGP
Referência bibliográfica
Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Vol. VIII, Fasc. III, 1951.

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do-se por mais de meia centena o número de concessões mineiras existentes em 1925.

O preço do grama de rádio, que era de 80.000 dólares nos primeiros tempos, quando unicamente utilizado por alguns laboratórios, à medida que as suas aplicações se desenvolvem, ràpidamente passa para o dobro. Esta valorização conduziu a um grande interesse em Portugal pela exploração e procura de jazigos urano-radíferos.

A nossa produção de minérios e concentrados radíferos mantém-se crescente até 1923. Então, entra em forte declínio sob a concorrência dos riquíssimos jazigos congoleses, desco­bertos na Katanga, em 1922, cuja entrada em exploração levou à paralização de numerosas minas situadas em diferentes pontos do Globo.

De 1923 a 1932 deixou pràti~amente de existir produção de minérios urano-radíferos portugueses, por se tornar impos­sível competir com as cotações do rádio fixadas e controladas pela União Mineira do Alto-Katanga.

Com a descoberta, em 1930, dos jazigos canadianos de Great Bear Lake, situados nas proximidades do círculo polar ártico, surge para o rádio congolês um novo concorrente que este tenta idênticamente eliminar. A luta termina por um convénio entre os concorrentes, que se agrupam para formar o trast do Rádio.

Das minas portuguesas só a da Urgeiriça, concessionada à Companhia Portuguesa do Radium, Lda., consegue, embora precàriamente, subsistir nestas lutas até 1932. Nesta data, activa os trabalhos de exploração e constrói uma oficina para o tratamento dos seus minérios, sob a direcção do bem conhecido técnico mineiro português Manuel Cardoso Pinto. Este, graças ao emprego de um método de extracção do rádio de sua autoria, mais económico e de mais elevado poder de recuperação que os até então usados, pode, mesmo com minérios de teores mais baixos que os dos seus opositores, lançar rádio no mercado de Paris a preço que só com pre­juízo os associados do trust do R.ádio podiam concorrer. Este facto valeu· lhe a entrada naquele trust, seguindo-se para aquelas minas um período de intensa produção até 1939, data

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em que as mesmas passam a entrar em quase paralização por virtude de às dificuldades de uma lavra já profunda se virem juntar as criadas pela guerra.

Durante o período de guerra sàmente se assinalam alguns pequenos trabalhos de pesquisa e reconhecimento noutros jazigos urano-radíferos portugueses, mas não se fez qualquer exportação destes minérios.

Termina assim como que o primeiro período da história da exploração dos jazigos urano-radíferos portugueses, durante o qual se cifra em mais de 35 gramas (2) o contributo do nosso País na produção mundial de rádio.

Os minérios extraídos eram enviados directamente para França, após enriquecimento manual, ou submetidos a trata­mento químico. Neste último caso - instalações da Úrgeiriça, Barracão, Guarda (gare) e Maceira -, o rádio era geral­mente extraído sob a forma de sulfatos de bário radíferos; mas, o urânio, então considerado como um subproduto na extracção do rádio,não era recuperado nas nossas oficinas.

A segunda parte da história da exploração dos nossos jazigos urano-radíferos teve o seu início quando o mundo tomou conhecimento de que a explosão da bomba atómica lançada sobre Hiroshima, a 6 de Agosto de 1945, tinha por base a desintegração do urânio.

Surge então uma nova vaga de interesse pelos jazigos urano-radíferos portugueses e principia a desenhar-se um novo período de actividade para eles.

Difere este período, do anterior, por o rádio contido nos seus minérios passar agora, numa inversão de papéis, a ser tido como um subproduto na extracção do urânio ou ser mesmo considerado sem valor.

De facto, a técnica da transmutação dos elementos, com a produção de elementos radioactivos artificiais-rádio-fósforo, rádio-iodo, rádio-bromo, etc. ~ destronou e está a fazer cair em desuso o rádio natural, pelo emprego de rádio-isótopos. Estes, mostram-se tão eficazes sob o ponto de vista terapêutico

(2) QUIRINO MACHADO, O Urânio Português, 1948, pág. 65.

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como aquele; são mais baratos e infinitamente menos perigosos, visto que, passado o seu curto período de aétividade (cerca de 15 minutos para o rádio-fósforo), se transformam em vul­gares elementos químicos assimiláveis pelo organismo.

A mesma técnica que destronou o rádio natural criou a necessidade do Urânio, fonte de extracção do U 235, que desen­volve a reacção em cadeia, e do U 258, que absorve os neutrões e trava a reacção citada, este último transmutável em plutónio, que não é menos eficaz que o U 235.

Este caso constitui um curioso exemplo demonstrativo de como o progresso das técnicas e descobertas científicas podem modificar o interesse técnico-económico dos minerais e seus jazigos.

2) - MINERAIS DE URÂNIO MAIS FREQUENTES NOS JAZIGOS POR­

TUGUESES.

Como é sabido, na natureza, a rádioactividade provém do urânio e do tório e dos produtos de desintegração destes metais. Assim, todo o minério de um deles é, ao mesmo tempo, um minério dos seus produtos de desintegração, pelo que, em particular, todo o minério de urânio será simultânea­mente um minério de rádio.

Nos jazigos de formação bastante antiga para que o equilíbrio de desintegração se tenha estabelecido, existe uma relação constante entre as proporções de urânio e rádio.

O urânio, bem como o tório, encontram-se na natureza formando compostos com elementos químicos vários, sendo actualmente conhecidas mais de uma centena de espécies minerais em que aqueles elementos químicos marcam a sua presença. Muitas delas possuem teores em U 5 O 8 superiores a 5 Ofo, mas outras não apresentam percentagens senão da ordem das décimas ou centésimas.

Alguns minerais são primários, incluindo os óxidos negros (uraninite, pechblenda ou uraninite não cristalina) e o grupo dos minerais complexos exclusivos das pegmatites, de cor variando entre o negro e o castanho, vulgarmente designados também por minerais refractários (titanatos-

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-columbatos-tantalafos de Ca, Na, U, Th, terras raras), não bem caracterizáveis, difíceis de identificar e de fórmulas químicas incertas (5). Mas, o maior número, é constituído pelos minerais secundários, provenientes da alteração completa ou parcial dos minerais primários para óxidos hidratados, fosfatos, sulfatos, silicatos, carbonatos, arseniatos e vanadatos, todos eles em geral de cores vivas, como a amarela, verde ou vermelha.

Em alguns casos, estas alterações (5), segundo certos autores, parece andarem ligadas a solutos hidrotermais corres­pondentes aos últimos estágios de formação dos jazigos, em vez de simples meteorações.

Os jazigos utaníferos portugueses são do tipo filoniano e poderemos agrupar do modo a seguir indicado os minerais de U que neles ocorrem:

r r Calcolite ou torbenite

fosfatos) Autunite A) M. SECUNDÁRIOS' .. l fosfuranilite e ura~ocircite

li silicatos - uranofona e kasolite óxidos hidratados

B) M. PRIMÁRIOS

l carbonatos - rutherfordite

{ pechblenda «( minério negro» português) minérios refractários.

A) Minerais secundários - Os fosfatos são os minerais secundários de U mais comuns nos jazigos portugueses e, dentre eles, a ca1colite ou torbenite - (P 0 4 )2 (U O2 ) Cu, 12H20-e a autunite-(P04 )2 (U02 ) Ca, 8H2 0-, sendo raridades mineralógicas que ocorrem nalguns dos nossos jazi­gos uraníferos as outras espécies minerais referidas.

Todos eles se localizam na zona oxidada dos jazigos. Para a ca1colite e autunite, designadas correntemente

entre nós por minérios claros (em virtude das suas cores, respectivamente, verde e amarela, e para os distinguir do minério negro primário - pechblenda), embora alguns auto-

(3) LINCON R. PAOE, Uranium in Pegmatites, Econom. Oeol., n.o 1, 1950, pág. 14.

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res (4,5) relacionem a sua formação com fases mistas hidroter­mais de baixa temperatura e supergénicas, ou unicamente com acções supergénicas, admite-se mais geralmente uma origem segundo esta última hipótese. Considera-se a sua derivação a partir dos minérios primários de U e apatite dos granitos ou rochas encaixantes sob a acção de solutos ácidos provenientes de meteoração de pirites ou caIcopirites.

Alterações idênticas podem, presentemente, verificar-se nalguns dos nossos jazigos ou escombreiras contendo pech­blenda, como tivemos ocasião de observar (Minas do Cimo do Reboleiro, Minas da fraga, em Souto de Aguiar, Minas de João Antão, etc.) devido à facilidade com que o «minério negro» primário é atacado por solutos ligeiramente ácidos ou alcalinos.

A facilidade de tais transformações leva a concluir não se tornar necessário invocar acções hidrotermais, mesmo de baixa temperatura, para explicar a formação dos referidos minérios secundários.

A torbenite ocorre em pequenos cristais tabulares, agre­gados peliculares, massas micáceas finas, por vezes de aspecto fibroso. É de cor verde, geralmente de um belo verde-esme­ralda; quando se trata de rochas duras ou impermeáveis, localiza-se em fracturas e fendas da rocha encaixante ou enchimento filoniano e em cavidades drúsicas nele existentes.

Ocorre também sob a forma de impregnações peliculares ou em pequenos cristais nos granitos alterados.

Estas impregnações na rocha encaixante, conforme a sua fracturação ou permeabilidade, podem atingir somente alguns milímetros para um e outro lado dos filões ou fendas por onde citcularam os solutos uraníferos (Minas da fraga, em Souto de Aguiar, Minas de Aldeia Nova, etc.), ou, por outro lado, estender-se por alguns decímetros ou mesmo metros

(4) A. BERNARDO FERREIRA e J. M. COTELO NEIVA - Jazigos ura­níferos de Souto de Aguiar da Beira. Separata do fase. III-IV do vaI. I de Estudos Notas e Trabalhos do Serviço de Fomento Mineiro, 1945, págs. 9, 10 e 13.

(5) E. RAOUIN - Oéologie du Oranite, 1946, págs. 168-169.

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(Minas de S. Domingos, em Moreira de Rei, Reboleiro, Vilar Seco, Matinha, etc.). Neste último caso, como o grau de alteração da rocha encaixante diminui em profundidade, sucede o mesmo à zona impregnada, que termina em cunha junto do nível hidrostático.

A autunite ocorre em pequenos cristais tabulares, trans­parentes, de cor amarelo-enxofre a amarelo-limão, e em massas peliculares fàcilmente cliváveis ou polvorentas. Sob a acção dos raios ultravioletas toma uma bela e intensa cor de ama­relo-ouro. Localiza-se nos jazigos de modo idêntico ao indi­cado para a torbenite, com a qual, por vezes, ocorre con­juntamente.

Para as autunites portuguesas, Maurice Curie (6), embora considere uma possível intervenção da lavagem por águas de infiltração, põe a hipótese de tratar-se de minérios de formação

recente, devido ao desiquilíbrio radioactivo (relação 0 variando -7 -7

entre 0,8 X 10 e 2,6 X 10 ) e, sobretudo, por aparecer o ionium que é um elemento radioactivo intermédio entre o

U e o Ra. Para as torbenites a relação ~a é mais elevada

que para aquele mineral.

B)-Minérios primários:- Nos níveis inalterados dos jazigos, a partir de profundidades variando entre uma a mais dezenas de metros, ocorre o óxido ou «minério negro» (1) de U - pechblenda -, com 6,7 de densidade (8), cor negra e lustre submetálico. Observa-se no seio dos filões em massas amor-

(6) MAURICE CURIE- Le Radium et les Radio-Elemenls, 1925, pág. 131.

( 7) J. GARRIDO e C. T. DE ASSUNÇÃO - Elude aux Rayons X de quelques mineraux de Portugal et de I' Empire Portugais (em publicação na Revista da Faculdade de Ciências de Lisboa) - mostram que o «minério negro» (assim designado por não ter sido bem caracterizado) da Urgeiriça é uma pechblenda.

( 8) Determinamos a densidade a partir de uma amostra que colhemos nas Minas da Fraga (Souto de Aguiar da Beira).

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fas, cliváveis, ou, segundo veios, de espessura variando de pou­cos milímetros a alguns centímetros (Reboleiro, Souto de Aguiar, Sebadelhe, Vrgeiriça, João Antão, Rosmaneira, etc.).

Os minerais refractários são característicos dos jazigos pegmatíticos. Minerais deste grupo, mas apresentando teores que os levam a não serem considerados como minérios de V, encontram-se em vários filões pegmatíticos e depósitos aluvio­nares da Serra de Arga (Minas do Cavalinho), num filão pegma­títico mineralizado também pela volframite e cassiterite nas Fontainhas (Couto Mineiro dos Lagares), Couto Mineiro da Gaia, etc ..

Análises realizadas pelo United States Bureau of Mines sobre concentrados de tantalite-columbite obtidos nos jazigos da Serra de Arga e Couto Mineiro dos Lagares forneceram os resultados apresentados no quadro seguinte (9):

Serra de Arga Lagares

I Ta205 54,3 0/0 ~,4 O/~1 I Cb205 19,6 0/0 22,9 0/0

Ti02 + 1,16 0/0

FeO + 4,16 0/0

MnO +5 0/0 0,19 %

SnO + 0,77 0/0

Ai +5 0,'0

I L Zr +

(9) As amostras analisadas destinavam-se a determinar se os concen­trados obtidos em tais jazigos estavam dentro das especificações requeridas

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Várias amostras de areias titaníferas que colhemos mos­traram-se idênticamente pobres em elementos radioactivos.

3) - TIPOS GERAIS DE JAZICOS URANíFEROS E SEUS REPRESEN­

TANTES EM PORTUGAL.

Segundo Bain, os processos metalogénicos que envolvem a formação dos jazigos de U parece terem-no levado a distri­buir-se em áreas geográficas muito restritas e sob três tipos principais de depósitos minerais, distintos pela sua morfologia e génese, conteúdo metálico e espécies minerais características que neles ocorrem. Cada tipo destes depósitos possui caracte­rísticas próprias de distribuição, tamanho e teor, o que permite que descrições incompletas, relativas a ocorrências de minerais do U, possam ser fàcilmente completadas e o seu interesse económico aferido por comparação com depósitos conheci­dos pertencentes ao mesmo tipo.

Os tipos principais de jazigos uraníferos (10) são:

_ r Pegmatites

A) JAZIGOS PRIMÁRIOS i F~l~es formados a alta, t~mperatu.ra FIloes formados a media ou baixa tem-

peratura

J Argilas betuminosas e fosfáticas B) JAZIOOSSEDlMENTARESl Aluviões

- Areias com carnotite

r Oxidações {( in situ )} J Precipitações por solos 1 linas l Precipitações em bacias

e) JAZIGOS OXIDADOS ou rochas alca-

A) Jazigos primários - Se é certo que os minérios de urânio e terras raras são (11) bastante comuns como minerais

pelo Bureau of Federal Supply's 'para serem usados como minerais de eb. Segundo elas, exige-se a relação mínima entre eb205 e Ta205 de 9: 1 e o teor máximo em MnO de 4 O/O.

(10) GEORGE W. BAIN. - Oeology oj the jissionf],ble materiaIs.­Econ. Geol., n.o 4, 1950, pág. 289.

(11 ) LINCON R. P AGE, ob. cit., págs. 12-34.

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,acessórios nas pegmatites de várias partes do globo, também é conhecido que raramente nelas ocorrem em quantidade suficiente para constituírem fontes econàmicamente impor­tantes de minerais uranÍferos. Só as pegmatites de Mada­gáscar constituem, até agora, como que uma excepção, tendo fornecido algumas toneladas de euxenites e betafites; no entanto, só como subprodutos de explorações de feldspatos, mica, etc., é que algumas pequenas quantidades de minerais uraníferos têm sido recuperadas de jazigos deste tipo.

Os depósitos eruptivos formados a altas temperaturas (12) têm fornecido algumas toneladas de minérios de U, mas a principal fonte produtora destes minérios corresponde aos jazigos de médias e, sobretudo, baixas temperaturas.

Compreende-se, assim, fàcilmente, que, andando o valor económico dos jazigos uraníferos deste grupo ligado à sua classe genética, deverá ser posto o maior interesse e cuidado na determinação das condições de formação.

Pegmatites - Observações realizadas em numerosos jazi­gos pegmatíticos de várias partes do globo levaram à conclusão de serem as pegmatites ricas em feldspatos potássicos as mais favoráveis para nelas ocorrerem minerais de urânio e terras raras. O quartzo fumado, o berílio dourado e os feldspatos avermelhados constituem, em geral, indicações de presença de minerais de urânio ou de outros elementos radioactivos (15).

Os minerais primários de urânio que ocorrem nas pegma­tites pertencem, essencialmente, ao grupo dos minerais refrac­tários, embora a uraninite por vezes apareça nas pegmatites ricas em moscovite e associada a feldspatos potássicos e quartzo fumado. Muitos dos minerais primários podem encon­trar-se parcial ou completamente alterados, transportados e depositados em películas delgadas nas fracturas das rochas adjacentes.

Embora os jazigos uranÍferos portugueses, mercê de imperfeito estudo, tenham vindo a ser considerados como

(12) G. W. BArN, ob. eit., págs. 289-290. ( 13) L. R. P AGE, ob. eit., pág. 34.

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pertencentes a esta classe (14, 15, 16, 17, 18, 19, 20), o que feliz­mente não sucede, pondo de parte os jazigos pegmatí­ticos e hipotermais de cassiterite e volframite, para os quais se citam ocorrências esporádicas e muito raras (21) de torbe­nite e autunite, e os filões do tipo que referimos de columbo­-tantalatos da Serra de Arga e Fontainhas (cujos minerais pelo seu fraco teor em elementos radioactivos nos levaram a não os considerar como minérios urano-radíferos), não são por enquanto conhecidos, a bem-dizer, representantes portugueses desta classe de jazigos.

Se os nossos jazigos urano-radíferos pertencessem ao ti po pegmatítico, pela tonelagem deles extraída e pela possibili­dade de produções futuras, constituiriam excepção bem mais importante que a citada pelos vários autores para os jazigos pegmatíticos de Madagáscar.

Filões hipofermais - Bain (22) indica que, embora difí­ceis de encontrar, são conhecidos filões quartzosos formados a altas temperaturas em que a uraninite se distribui neles segundo veios de duas polegadas de espessura.

Entre os vários jazigos urano-radíferos portugueses que

(14) QUIRINO MACHADO, ob. cit, pág. 15. (15) E. f. PINTO BASTOS, A. VIANA DE LEMOS e J. CUSTÓDIO MORAIS.

-Determin'ações de Radioactividade das Aguas Minerais,· Revista da facul­dade de Ciências da Universidade de Coimbra, vaI. VI-3, 1937, pág. 285.

(16) J. M. COTELO NEIVA.-Épocas de Metalogenia de Diferenciação Magmática em Portugal; Publicações do Museu e Laboratório Mineralógico e Geológico da faculdade de Ciências do Porto, n.O 39-2.a série, 1944, pág. 7.

(17) J. M, COTELO NEIVA. - Granitos e Jazigos Minerais de Dife­renciação Magmática das Beiras e Norte de Portugal,· Separata do fasc. I-II do volume I de «Estudos, Notas e Trabalho do Serviço de fomento Mineiro", 1945, pág. 24.

(18) MAURICE CURIE, ob. cit., pág. 120. (19) L. DE LAUNAY - Cours de Geologie Appliquée, 1933, pág. 190. (20) A. B. BERNARDO fERREIRA e J. M. COTELO NEIVA, ob. cit.,

págs.6-13. (21) J. M. COTELO NEIVA - Jazigos Portugueses de Cassiterite e

Wolframite,. 1944 i págs. 62 e 139. (22) GEORGE W. BAIN, ob. cit., pág. 290.

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conhecemos, o de Aldeia Nova (Trancoso) e fraga (Souto .de Aguiar da Beira) em cujos filões quartzosos ocorrem a volframite, blenda, pirite, calco pirite e arsenopirite (25), poderiam ser apontados como os representantes desta classe. No entanto, e pelo menos para o jazigo da fraga, em que a ocorrência de pechblenda permite classificar definitivamente alguns dos seus filões como primários (o que não pode ainda ser dito relativamente aos de Aldeia Nova, por os tra­balhos se localizarem presentemente na zona oxidada) é-se levado a interpretar a metalização pela pechblenda como tendo-se feito após ulterior reabertura ou através fracturas segundo o plano dos filões preformados e pelas quais penetrou a metalização uranífera hipogénica. De facto, tais fracturas ou falhas são evidenciadas por espelhos bem nítidos e esmaga­mento do enchimento filoniano (24), concluindo-se ser unica­mente de esperar metalizações primárias nos filões em que tais reaberturas se originaram. Os restantes filões da área de Souto de Aguiar da Beira (25), quando metalizados, cor­respondem a filões de mineralização secundária (que, inter­sectando os primeiros e circulando através deles os solutos de meteoração dos filões primários, neles depositaram minerais como a torbenite e autunite) ou a filões de tipo epitermal.

Filões meso e epitermais - Bain indica (26) pertencerem os jazigos uraníferos deste grupo aos tipos cobalto-niquelite e flurite, dos quais os do primeiro tipo exibem estruturas zona­das ou crustiformes, como sucede nos veios epiterminais.

Pertencem a este grupo e seu primeiro tipo, os jazigos minerais mais importantes como produtores mundiais de urânio, cujos três representantes principais são: Erzebirge, Katanga e Oreat Bear Lake.

A jazigos epitermais de tipo quartzoso pertence. a grande

(23) A. R FERREIRA e J. M. COTELO NEIVA, ob. cit., pág. 9. (24) A. R FERREIRA e J. COTELO NEIVA, ob. cit., págs. 4, 12 e 13. (25) ALBERTO CERVEIRA-Minas de Urânio da Fraga (Memória

descritiva para o pedido de concessão), 1950. (26) GEORGE BAIN, ob. cit., pág. 290.

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maioria, se não a quase totalidade, dos jazigos urano-radífe­ros primários portugueses, até agora classificados de pegma­títicos por uns e de oxidados e, ainda, de alta temperatura por outros (identificando-os neste último caso aos jazigos do Cornwall, da Coreia e do Maciço Central da França, que ocorrem nos granitos; em associação com o estanho e o vol­frâmio ).

Este facto, como já foi referido, leva a considerá-los com maior interesse quanto às suas possibilidades económicas, sendo o seu estudo o objectivo principal do presente tra­balho.

B) - jazigos sedimentares - Além dos depósitos de car­notite, do género dos do Colorado, em que esta se encontra impregriando arenitos inter-estratificados com camadas de argilas mesozóicas, e das aluviões de certos minerais pesados de U e Th, pertencem a esta classe os jazigos em que minerais uraníferos, de composição. ainda desconhecida, ocorrem em estratos de argilas negras marinhas ou ligando-se a formações de fosforites ou asfaltos.

Argilas betuminosas e fosfáticas (27,· 28) - Desde .1893 que se conhece na. Suécia a existência de urânio em certas formações marinhas de idade câmbrica. Trata-se, em geral, de assentadas de argilas negras, marinhas, principalmente as de idade pre-mesozóica, ricas em matéria orgânica e sulfuretos e isentas ou contendo pequena dose de carbonatos. Tais estratos são, no geral, d.e fraca espessura, derivados de acumulações de produtos finos no fundo de mares com águas deficientes em oxigénio e em que as massas de terras adjacentes eram bas­tante estáveis e resistentes à erosão. Quimicamente, tais condi­ções identificam-se às das argilas betuminosas.

Estes jâzigos, originados em largas bacias de deposição, constituem extensos depósitos uraníferos, mas de baixa per-

(27) GEORGE BAIN, ob. cit., pág. 291. (28) V. E. MEKELVEY, J. M. NELSON-Characteristics 01 Marine Ura­

nium - Bearing Sedimentary Rocks, Econ. Geol., n.o 1 -1950, págs. 35 e 53.

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centagem (0,01 a 0,02°/0) de urânio, se bem que em formações suecas deste ti po se tenham encontrado teores de 0,5 Ofo.

Tais depósitos, que nunca tinham sido encarados a sério como produtores de urânio quando este metal tinha as suas principais aplicações na pintura, podem vir a desempenhar um importante papel na produção futura.

Existem, segundo Bain (29), em condições de fácil explo­ração, a céu aberto, formações suecas deste tipo, russas (no distrito de Leninegrado) e algumas nos Estados Unidos, pos­suindo grande regularidade e ocupando cada uma delas áreas superiores a 100 quilómetros quadrados.

Não conhecemos representantes destes jazigos em Por­tugal e cremos não ter ainda sido feito qualquer estudo visando a sua prospecção.

Aluviões (50). - Esta classe de depósitos tem constituído a principal fonte produtora de tório (torianite e monasite que contêm cerca de 0,2 0J0 de U) e algum urânio. Dentre as aluviões, só as marinhas têm sido exploradas com este fim, embora aqueles minerais tenham sido recolhidos também nos concentrados de lavagem de aluviões auríferas e estaníferas.

Os principais depósitos aluvionares conhecidos situam-se na região de Travancore e na costa do Brasil.

Algumas amostras de areias titaníferas colhidas no litoral do norte do País (Miramar) e de algumas aluviões de cassi­terite das Beiras não mostraram a existência de elementos radioactivos quando submetidas a ensaio no aparelho de Geiger-Muller.

jazigos de carnotite (5\). - Os vanadatos são os minerais de U que predominam nesta classe de depósitos. Localizam-se confinando-se estrictamente a arenitos permeáveis, formados em clima de estepe, sobrepondo-se a camadas impermeáveis

(29) GEORGE W. BAIN, ob. cit., págs. 292-293. (30) GEORGE W. BAIN, ob. cit.. (31) R. P. FISCHER - Uranium-Bearing Sandstone Deposits of the

Colorado Pla/eau. Econ. Geol., n.o I, 1950, págs. 1-11.

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de argilas ou bentonites que restringem o movimento das águas subterrâneas.

C) - Jazigos oxidados secundários ~ Estes jazigos tor­nam"'"se, por vezes, espectaculares, devido à intensa coloração, com predominância da amarela, verde e vermelha, derivada dos minerais secundários de urânio. Mas, em geral, estes ocor­rem sob a forma de palhetas delgadas ou películas finas, cons­tituindo como que «pinturas» sobre os fragmentos de rocha destacados do jazigo. Esta distribuição pode levar os não avisados a crer em teores bem mais elevados que os reais.

Os minerais principais são os fosfatos, mas os silicatos, óxidos hidratados e vanadatos ocorrem também.

Alguns depósitos deste tipo produziram-se in situ, pelo que é de esperar encontrar mais profundamente os minerais primarIos. Mas, a maior parte dos minerais secundários, deslocou~se, em solução, do jazigo primário até ser precipitada por rochas ou solos alcalinos. Por vezes, as soluções emi­graram para mais longe, até bacias onde precipitaram, sem que no seu trajecto tivessem encontrado meios alcalinos que lhe removessem o urânio.

Oxidações «in situ» - Pertencem a este tipo as concen­trações de minerais secundários localizadas nos jazigos pri­mários a nível superior ao hidrostático. Esta zona estende-se desde a superfície até profundidades por vezes superiores a 50 metros e mais, e lateralmente pode fazê-lo na rocha encai­xante, se esta for suficientemente permeável ou cortada por fissuras e fendas.

Exceptuando quase só os minérios extraídos das zonas inalteradas de alguns dos nossos jazigos (Urgeiriça, Rosma­neira, etc.), pode dizer-se que a produção radífera portuguesa foi conseguida, pràticamente, com minérios secundários pro­venientes de alterações in situ.

Precipitações por solos ou rochas alcalinas - Neste tipo de jazigos a mineralização limita-se a concentrações superfi­ciais, que desaparecem a poucos metros da superfície. Nem

156

sempre é possível identificar a origem ou depósito primário do qual estas concentrações derivam, que pode mesmo ter desaparecido por erosão.

Em Portugal conhecemos três variantes de depósitos uraníferos correspondentes a esta classe: impregnações em granitos alterados; precipitações em fendas, falhas ou filões estranhos às metalizações uraníferas primárias; precipitações em diques doleríticos.

Sem que se note a presença de qualquer filão urariífero primário cortando a área das concentrações, têm sido encon­trados depósitos "de urânio em que a torbenite e a autunite (especialmente esta última, devido à existência de Ca nestas rochas) impregnam granitos alterados e falhados, caracterís­ticas que permitiram circulação e imbibição fáceis pelos solu­tos uraníferos, que aí sofreràm precipitação.

Quando a rocha encaixante se apresenta compacta e impermeável, aqueles solutos circularam através de falhas, fendas ou de fracturas existentes mesmo em filões estranhos às metalizações primárias, dando-se aí a sua precipitação (filões secundários da fraga, em Souto de Aguiar, de freixo­-Almeida, fataunços, Queirã, etc.). Neste último caso, torna-se por vezes bem difícil distinguir tais filões dos de metalização primária, quando não haja sobre eles trabalhos a nível inferior ao hidrostático ou as metalizações primárias não tenham vindo acom panhadas das associações paragenéticas características.

Mas, o tipo representativo mais frequente desta classe de jazigos secundários é o das metalizações autuníticas dos filões doleríticos, que tão frequentemente encontramos asso­ciados aos filões primários de urânio.

A rocha básica que constitui estes diques apresenta-se alterada, até alguns metros de profundidade, transformada num produto argiloso, de cor castanha a cinzento-esverdeada, com disjunção esferoidal característica ou disjunção paralelipipé­dica. A autunite ocorre neles em placas peliculares amarelas ou agregados de cristais micáceos, translúcidos, amarelo-esver­deados, colmatando fendas, dispondo-se nas superfícies de disjunção paralelipipédica, ou, impregnando a rocha básica alterada,

157

Por vezes, encontram-se boas e ricas mineralizações nestes diques, como no caso do filão do Mocho (Tragos); mas, em geral, limitam-se a uns escassos metros a partir da superfície, dando-se o empobrecimento à medida que o grau de alteração do dolerito diminui.

A mineralização autunítica e sua localização na parte alterada destes filões explica-se fàcilmente por eles constituírem como que barragens de argilas impermeáveis, encaixadas no terreno. Tais barragens impediram a circulação dos solutos uraníferos provenientes da meteoração de filões primários de urânio e aí os retiveram e precipitaram, mercê da alcalinidade destas rochas e presença de cálcio.

Mesmo só do nosso conhecimento directo, poderemos citar vários exemplos destes jazigos: Castaíde, Sete - Pipas, Toscana, S. Domingos, Amoreirinhas (Moreira de Rei); Cas­teição e Terranho (Terranho); Mocho (Tragos); Serrinha (A-do-Cavalo); A-de-Perlinhos (Lapa); etc ..

Jazigos oxidados de precipitação em bacias - Não se conhecem representantes portugueses desta classe de jazigos.

11- OS JAZIGOS EPITERMi\IS PORTUGUESES DE URÂNIO E RÁDIO

1) - LOCALIZAÇÃO E MODO GERAL DE OCORRÊNCIA.

Os principais jazigos urano-radíferos portugueses situam-se nos concelhos de Moimenta da Beira, Aguiar da Beira, Meda, Trancoso, Celorico da Beira, fornos de Algodres, Mangualde, Nelas, Viseu, Guarda, Almeida, Sabugal, Belmonte, Baião e Castelo de Vide (52), formando uma província metalogénica uranífera constituída por cinco zonas de mineralização.

(32) A norte de Castelo de Vide, em recente prospecção que indica­mos se fizesse, foram encontrados alguns filões uraniferos, ínas de baixo teOr.

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Estendem-se duas delas de um e outro lado da Serra da Estrela: Belmonte-Sabugal-Guarda-Almeida e Nelas-Viseu-Man­gualde-fornos de Algodres, as quais, para norte, se vão juntar à terceira área uranífera: Celorico da Beira- Trancoso-Aguiar da Beira-Moimenta da Beira-Meda.

As duas restantes, de menor extensão e valia que as anteriores, sobretudo a última, situam-se, respectivamente, nos concelhos de Baião e Castelo de Vide.

Todas as áreas uraníferas correspondem a regiões forte­mente erodidas, e, dentre elas, é a zona a poente da Serra da Estrela aquela que sofreu mais profundamente as acções de erosão, sendo a situada a norte de Celorico da Beira a menos desgastada. Nesta, podem ainda hoje ver-se, em vários pontos, (Maceira, freches, Trancoso, Terranho, Granja de Penedono) delgados retalhos de xistos argilosos, não assinalados na Carta Geológica do país de 1899, que testemunham ainda o tipo de terrenos que cobriram os granitos, hoje a nu, da • regrao. É esta a que se situa também a mais elevadas cotas (500 a 900 metros).

2) - AS METALIZAÇÕES URANifERAS E AS liERcfNICAS DE CAS­

SITERITE-VOLfRAMITE.

Os filões uraníferos afloram a cotas variando entre 300 m

e 900 m• São todos eles de tectónica de movimento vertical ou

com vincada predominância da componente vertical sobre a horizontal, muito frequentemente em oposição à tectónica dos filões pegmatíticos e hipotermais, situados em regiões em que também ocorrem (55), e muitas vezes a bem fraca distância deles.

As direcções dos filões uraníferos rondam entre as direc­ções N-S e E-O, apresentando-se paralelamente à direcção dos

(33) Observam-se, por exemplo, na região de fornos de Algodres­Celorico da Beira - Trancoso filões pegmatíticos horizontais ou sub-hori­zontais que contrastam com os filões verticais, uraníferos, da mesma região.

JAZIGOS URANO-RADíFEROS

PORTUGUESES

1:·:·:·:·:·:·:·:·:1

1111111111 [-------J

I I ~ + + +1 ft~«<~

por

Alberto Cerveira

1950

Escala

o 10 20 Km L! __________ ~I __________ ~!

LEGENDA

Post.·Paleozóico

Paleozóico

Algônquico

Met.amórfico indet.erminado

Grõllnito

Filões urano-rõlldiferos

<l. Vinogre. Oe&.

159

rales principais da região, como pode ser observado na planta ~eral de localização destes filões ou grupos de filões (54).

Tal rião sucede com os filões pegmatítico$ e hipotermais ie cassiterite e volframite, os quais frequentemente se podem Ter tomando rumos normais aos filões uraníferos da região, nesmo dos situados próximo deles (55).

Por vezes, vemos os filões uraníferos seguir fracturas de :ilões pneumatolíticos estéreis (56) ou de filões pegmatíticos e 1ipotermais de cassiterite-volframite, os quais, a quando dos novimentos responsáveis pelas fracturações que ongmaram os iilões de urânio, reabriram e permitiram a circulação dos lOlutos hidrotermais uraníferos.

Tais fracturas tendem a localizar-se, de preferência, como § natural, nos hastiais desses filões pre-formados e limitar-se a !l.presentar enchimentos quase exclusivamente de minério pri­mário de urânio. É o caso das minas da fraga (Souto de Aguiar), em que numa fractura intra-filoniana, de alguns milímetros de espessura e com movimento relativo das pare­des denunciado por estriamentos e espelhos de falha (57, 58), ocorre a pechblenda num delgado filão hipotermal, quartzoso, com volframite, blenda, pirite e ca1copirite. Podem também as metalizações primárias de urânio ter sido acompanhadas das suas associações paragenéticas características, como sucede nos filões da freguesia de freixo (Almeida), cuja localização

(34) Este facto, que tinha despertado a nossa atenção nos trabalhos de campo, verifica-se com tal frequência, que sobre a planta duma região, suposta uranifera, nos permitia marcar com certa precisão as direcções -dos filões de urânio que a cortassem.

(35) Em S. Domingos (Moreira de Rei) observam-se filões hipotermais de cassiterite e volframite orientados normalmente aos de urânio, dos quais distam menos de uma centena de metros. O mesmo pode ser observado entre filões uraníferos e pegmatíticos com cassiterite em Casteleiro (Sabugal).

(36) Observa-se isto, por exemplo, nos filões da região do Freixo (Almeida), A-de-Perlinhos e Lapa (Aguiar da Beira) e em vários outros jazigos uraníferos da Beira Alta, segundo informações do Sr. Manuel Car­doso Pinto.

(37) A. B. FERREIRA e J. COTELO NEIVA, ob. cit., pág. 12. (38) A. CERVEIRA - Minas de urânio da Fraga, ob. cit..

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no muro de um filão de quartzo, estéril, pre-formado, pode ver-se na figura n. o 1.

Observando a carta geológica onde se localizam as dife­rentes zonas uraníferas portuguesas, vê-se que estas são predo­minantemente constituídas por terrenos graníticos - mancha granítica do Douro e Beiras (59) -, notando-se ainda que as zonas uraníferas se confinam unicamente àquele tipo de terrenos.

Fig. l-Modo de jazida de um filão uranífero (em Freixo, Almeida) encaixado no muro de um filão de quartzo estéril.

1- Granito porfiróide. 2 - Filão de quartzo estéril. 3 - Filão uranífero com autunite, óxido de ferro e quartzo fumado.

Comparando uma carta mineira do País (40) com aquela em que localizamos os jazigos uraníferos, nota-se que as zonas uraníferas se situam em áreas não metalizadas ou mais fracamente metalizadas, quer pelos jazigos primários de cassi­te ri te e volframite, quer mesmo por outras espécies metalíferas. Efectivamente, enquanto estas se situam nos contactos de gra­nitos com terrenos sedimentares, ou, no seio destes, os jazigos de urânio localizam-se no interior dos maciços graníticos, fugindo mesmo aos contactos.

Não são, pois, frequentes os casos de intersecção de filões

(39) A zona uranífera de Castelo de Vide situa-se nos granitos que se estendem de Nisa a Alter do Chão.

(40) J. M. COTELO NEIVA, ob. cit., pá!!. 31 e carta anexa.

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uraníferos com outros filões, como os pegmatíticos e hipoter­mais de cassiterite-volframite, para que possamos com fre­q uência ver estabelecida a idade relativa destes jazigos. No entanto, em Casteleiro (Marrinete), no caminho que daquele povoado se dirige para Sortelha, vemos filões epitermais, de tipo uranífero, cortarem quase normalmente e rejeitaram filões pegmatíticos com cassiterite, o que prova uma idade mais antiga destes relativamente àqueles.

Em São Domingos (Moreira de Rei, Trancoso) observa-se a coexistência, a fraca distância, de filões hipotermais de cassi­terite e volframite e de filões epitermais de urânio, agru­pando-se segundo sistemas normais entre si, o que prova ainda épocas diferentes de formação e idade mais recente dos filões uraníferos.

3) - OBSERVAÇÕES GEOLÓGICAS E TECTÓNICAS.

A observação da carta geológica da parte norte do País mostra-nos uma quase concordância de orientações, segundo uma direcção média NO-SE, da tectónica hercínica, das man­chas de granito do Porto, Beiras, Minho e Trás-os-Montes, das faixas carbónicas e pérmicas, dos retalhos silúricos e das formações ante-silúricas. Examinando melhor tal direcção geral, vê-se que, para norte, ela tende a fazer-se segundo NNO-SSE e mesmo N-S, para rumar nas Beiras segundo NO-SE e passar mesmo a E-O à medida que se caminha para nascente.

Os enrugamentos ou o rejuvenescimento de relevo por deslocamentos epirogénicos segundo fracturações produzidas pelos movimentos alpinos têm os seus eixos orientados segundo direcções normais às orientações da tectónica herCÍ­nica e, paralelamente à Cordilheira Bética, Serra da Arrábida e falha do Guadalquivir.

Os cursos de água a norte do Douro alinham-se, na sua gener,alidade, segundo a direcção bética, sendo ainda a ela paraleios os vales tectónicos de Trás-os-Montes e Norte das Beiras, ou paralelos à direcção NNE-SSO (41).

( 41 ) J. M. COTELO NEIVA, ob. cit., pág. 41.

É ainda a direcção geral NE-SO a apresentada pelas cadeias de montanha e vales de fractura que cortam o planalto central da Beira Alta, facto bem evidenciado pelo alinhamento e quase paralelismo dos cursos do Mondego e seus afluentes, direcção que se mantém para os afluentes do início dos curS0S do Vouga, Paiva, Távora, Torto e Tedo em toda esta região.

Na parte norte da Beira Baixa, a par da actuação dos movimentos caledonianos e hercínicos (42), estes denunciados pela orientação NO-SE dos dois afloramentos ordovicianos e pelo plano de xistosidade do «complexo de xistos argilosos das Beiras », os movimentos alpinos intervieram também e paten­teiam-se, na sua compartimentação em blocos, por falhas orien­tadas NNE-SSO (normais às direcções de tectónica hercínica), e ENE-OSO, por onde correm o Zêzere e seus afluentes.

Um facto que, como já referimos, nos tinha chamado a atenção nas observações de campo e que surge com uma evidência flagrante quando olhamos a carta em que pro­curamos localizar os diferentes campos urano-radíferos conhe­cidos e a direcção dos seus filões, é o paralelismo quase geométrico entre as direcções dos mesmos filões e os alinha­mentos dos cursos de água ou linhas tectónicas principais que afectam as regiões metalizadas pelo urânio. Nota-se, ainda, que tais direcções são normais aos alinhamentos da tectónica hercínica e coincidem com os do tectonismo alpino.

Enquanto na zona uranífera a poente da Serra da Estrela, vemos as direcções dos filões serem aproximadamente NE-SO (paralelas às fracturas do Mondego, Dão e seus afluentes) e na zona a nascente da mesma serra serem NNE-SSO e nalguns casos E-O (paralelas a afluentes do Zêzere e do Coa, ou a estes rios), tais dire'cções são N-S e NNE-SSO (paralelas a afluentes do Vouga, Távora, Torto e Tedo) para a área uranífera a norte e nordeste de Trancoso.

O filão de Viaris (Baião) é ainda paralelo às fracturas do

(42) DÉCIO THADEU - A cordilheira central entre as serras da Oar­dunha e São Pedro-do-Açor. - BoI. Soe. Geológica de Portugal, voI. VIII, fases. I-II, 1949, pág. 12.

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Tâmega, Ovi! e de outros afluentes do Dourá que se alinham, conforme se referiu, segundo a direcção bética.

Os movimentos alpinos (45), não encontrando no soco antigo material propício a enrugamentos, mas antes um maciço já de longa data fixado e até de relevo senil, manifestaram-se sob a forma de fracturações e deslocamentos epirogénicos.

Entre gradações várias de fracturações, parece ser de admi­tir aquelas que se dispõem paralelamente à fracturas de maior envergadura (pelo menos baseados na concordância das carac:" terísticas dos esforços que provocaram as gran des fracturações) e, que, abrindo numa fase de descompressão, foram depois preenchidas, originando filões uraníferos de tipo brechóide, cujo enchimento se formou por cristalizações a partir de solu­tos um tanto diluídos e arrefecidos.

O facto dos filões uraníferos se localizarem em terrenos graníticos e não surgirem em fracturações alpinas doutros terre­nos ou das orlas post-paleozóicas do Maciço Antigo, pode ser explicado por provirem de diferenciações magmáticas profundas (o que é evidenciado pelo epitermalismo de muitos jazigos) ou, ainda, conforme a opinião do Prof. Carríngton da Costa (44), por dependerem de movimentos orogénicos relacionados com as fases iniciais alpídicas (Paleokimérica), antes da transgressão do Lias.

Em Portugal Continental não têm sido admitidas até agora, segundo supomos, meta:tizações hipogénicas post-hercí­nicas, sendo nós, com o Prof. Carríngton da Costa, quem primeiro as admite. Creio ainda que outras metalizações hipo­génicas existirão relacionadas com a orogenia alpídica.

4) - HIDROLOGIA MINERAL.

Do estudo das águas minerais radioactivas portuguesas situadas entre os rios Douro, Mondego e Távora (45) foi con-

(43) DÉCIO THADEU, ob. eit., pág. 12. (44) J. CARRíNGTON DA COSTA - Lições de geologia, Porto, 1950. (45) PINTO BASTOS, VIANA DE LEMOS e CUSTÓDIO DE MORAIS,

ob. eit., págs. 275-276.

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cluído que «as águas minerais existentes nos terrenos secun­dários, terciários e quaternários da orla ocidental são muito fracamente radioactivas»; que «nos terrenos primários, arcai­cos e graníticos há águas fracamente radioactivas»; que «estas últimas, com a excepção das de Cambres e Ooujoim, estão numa zona que vai de nordeste para sudoeste, nas bacias dos rios Mondego e Dão », e que é nestas onde se situam as águas de Abrunhoso, Alcafache, felgueira, Sangemil, Urgeiriça e Luso », as quais, «conjuntamente com as águas de Ooujoim e Caria são as mais radioactivas de Portugal ». Examinando a distribuição das fontes mais fortemente radioactivas, vê-seque elas <~ se encontram no granito e ao longo dos vales dos rios, sendo sobretudo notável o vale do Dão, quase em linha recta, onde brotam, até debaixo da própria corrente, fontes de águas radioactivas muito quentes, como em Sangemil e Alcafache».

A radioactividade de tais fontes é filiada na abundância de filões urano-radíferos que cortam a região, existindo de facto concordância entre as zonas uraníferas e as de mais forte radioactividade em fontes mfnerais. Deste facto, parece ser de concluir o não prolongamento das zonas uraníferas por baixo das orlas post-paleozóicas do Maciço Antigo.

Cotei o Neiva admite (46) que as fontes termais portu­guesas devem representar restos do vulcanismo terciário e nota o alinhamento não hercínico das linhas sismo-tectónicas e fontes termais, ligando-as às fases mais recentes dos movi­mentos alpídicos.

5) - JAZIGOS.

Os jazigos epitermais de uramo e rádio têm, em geral, modo de jazida filoniano, agrupando-se segundo sistemas paralelos, em que a distância entre os filões raramente é infe­rior a 50 metros.

A possança varia entre alguns centímetros e 2 metros ou mais, sendo frequentes as possanças de 0,7 metros. Anda

(46) J. M. COTELO NEIVA, ob. cit., pág. 31.

165

ligada, como é sabido, à dureza do granito em que os filões encaixam.

Conhecem-se filões COJ11 andamentos de alguns quiló­metros e extensões de colunas mineralizadas de centenas de metros (47), mas, no geral, as dimensões são menores.

Do ponto de vista petrográfico-genético, pondo de parte os minerais de urânio que ocorrem nestes filões (os quais já anteriormente foram por nós referidos), poderemos neles distinguir as seguintes espécies minerais, indicadas por ordem decrescente de abundância:

M. HIPOGÉNICOS

! calcedónia principais quartzos jasperóides a porcelânicos

quartzo a ,

I galena pirite de ferro dolomite

l acessórios blenda

I calco pirite mispiquel tenantite

( malaquite

I óxidos de ferro M. SUPERGÉNICOS sulfatos

silicatos \ covelina

Citam-se (48,49) como minerais paragenéticos a volfra­mite e a cassiterite. No entanto, em todos às casos que obser­vamos, concluímos tratar-se de jazigos secundários de urânio (os solutos uraníferos supergénicos circularam através de filões pegmatíticos ou hipotermais de cassiterite e volframite, depo­sitando neles torbenite e autunite), de i azigos primários de urânio mas em que a fractura uranífera se estabeleceu no

(47) No filão das minas da Urgeiriça a parte mineralizada actual­mente conhecida é de 700 metros de extensão e 260 de profundidade.

(48) QUIRINO MACHADO, ob. cit., pág. 17. 149 \ T M rOTFLO NEIVA. ob. cit., páf!. 34.

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interior de um veio preexistente mineralizado pela cassiterite e volframite, ou de jazigos destes minerais de altas tempera­turas mas em que a falta de trabalhos a nível inferior ao hidrostático não permite indicar com segurança se estamos em presença de um jazigo primário ou secundário.

A ausência de minerais de alta temperatura e a presença dominante de minerais de baixas tem peraturas de formação levam-nos a classificar os jazigos primários uranÍferos por­

Fig. 2 - Esquema representativo da estrutura zonada (leitos de quartzo zonado alternando com quar­tzo cinzento a leitoso) e drúsica dos filões ura­niferos.

1 - Granito porfiróide. 2 - Quartzo zonado, fumado a leitoso. a - Torbenite, autunite.

tugueses de epiter­mais. Bem frequen­temente o epiterma­lismo é denunciado ainda pela constitui­ção brechóide dos filões (Urgeiriça, João Antão, São Domin­gos, etc.), ou pela sua estrutura zonada e drúsica (Cimo do Reboleifo, Terranho, Moreira de Rei, Se­badelhe, Rãs, Serra da Lapa, Engias, Ra­poula, etc.), atestando uma formação na zona de brecheação

da crusta por enchimento de fracturas em aberto, portanto a fraca profundidade, não se tendo dado o alargamento delas por efeito de penetrações dos fluidos sob pressão ou por digestão e substituição dos minerais das paredes encaixantes.

A fig. 2 representa a estrutura crustiforme típica dos filões uraníferos, observando-se bandas de quartzo cinzento alternando com leitos de quartzo negro (fumado, segundo Maurice Curie (50), pelas emanações radioactivas) e cristalizando

(50) MAURICE CURIE, ob. cit., pág. 120. A abundância de quartzo fumado constitui entre nós um índice prático na avaliação da riqueza pro­vável dos jazigos de urânio.

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para dar origem a formas encapuzadas. O crescimento dos cristais fez-se numa fractura em aberto, das paredes para o interior dessa fractura. Esta, geralmente, não chegou a ser preenchida totalmente, o que só é compatível com uma formação a fraca profundidade e a partir de solutos di­luídos.

Nas formas filonianas de tipo brechóide observam-se detritos dos granitos encaixantes, por vezes de pegmatites graníticas e de rochas básicas meteorizadas, cimentados por quartzos jasperóides a ca1cedónicos, não se notando neles qualquer ataque (conservam arestas vivas) pelas soluções siliciosas que os cimentaram.

A calcedónia e quartzos jasperóides que parece nalguns jazigos tenderem a diminuir em profundidade, para serem substituídos por quartzos cristalinos, noutros jazigos man­têm-se nos níveis mais baixos - 260 metros nas Minas de Urgeiriça. Aparecem, ora em formações maciças e compactas de cor branca-leitosa (Moreira de Rei, Caria etc.) a vermelha (Urgeiriça, João Antão), formando quase o único enchimento filoniano, ora constituindo o cimento de brechas, ou passando em profundidade a quartzos cristalinos de tipo (J. (baixa tem­peratura).

O exame ao microscópio feito pela Or.a O. Judite dos Santos Pereira sobre amostras por nós colhidas nos jazigos da região de Trancoso, confirmando a diagnose que macros­càpicamente havíamos feito, revelou tratar-se de «calcedónia de estrutura em agregado» (fig. 3) e calcedónia cimentando «quartzo e moscovite alterada» (fig. 4). Mas, mesmo por simples observação macroscópica se poderá concluir que a calcedónia foi a última espécie mineral a cristalizar, indo cimentar espécies minerais pre-formadas ou constituir o ci­mento de ligação de agregados brechóides em que aparecem detritos ou minerais das rochas encaixantes.

O quartzo apresenta-se com cores variando entre leitosa e negra a vermelho-salmão. Muito raramente é hialino. Em estrutura zonada, nos filões produtivos, o quartzo cin­zento alterna com faixas de quartzo fumado, denotando os cristais como que um crescimento por estratos, semelhante ao

168

referido por O. friedel (5\), como pode ser visto na fig. 5. Os cristais apresentam-se em agregados paralelos e hábito pira­midal (trapezoedral-hemiedral), correspondentes à cristaliza­ção do quartzo CI. ou quartzo de. baixa temperatura « 575 0 C).

A galena, em alguns dos nossos jazigos urano-radíferos, como o da Urgeiriça, chega a entrar na composição do enchi­mento filoniano com teores médios de 1,5 % Pb. Ocorre sob a forma de agregados cristalinos de grão bastante grosseiro, quer mosqueando a ganga, quer constituindo pequenas bol­sadas.

A pirite de ferro aparece em agregados finamente crista­linos ou cristais cúbicos desenvolvidos, encontrando-se alte­rados, para limonite ou sulfatos de ferro, na parte superior dos jazigos (52).

A calco pirite, bem como a blenda, são mais raras, ocor­rendo em pontuações no quartzo.

6) - GRANITOS ENCAIXANTES.

Se bem que outras variedades existam, são os granitos porfiróides de duas micas, em que a biotite predomina sobre a moscovite, ou os granitos biotíticos porfiróides, os tipos dominantes no Norte do Pàís e Beiras. Tais formações erupti­vas prolongam-se para Espanha, para Norte e Leste, consti­tuindo uma grande parte do Maciço Hespérico. São de idade hercínica e derivam de um magma (55) «de quimismo calco­-alcalino, tipicamente pacífico, altamente silicatado, com leves tendências alcalinas e aluminosas ».

Dividem-se as opiniões, entre os geólogos, quanto à idade e número das granitizações de origem antiga, problema

(51) GEORGE fRIEDEL-Leçolls de Cristallographie, 1925, pág. 289. (52) O nosso amigo Sr. M. Cardoso Pinto fala-nos numa relação

aproximadamente constante entre o teor em pirite e o teor em U ou Ra. (53) J.!v1. COTELO NEIVA -Manifestações de actividade magmática

em Portugal. BoI. da Soe. Geológica de Portugal, vaI. IV, fases . I-II, 1949, pág. 60.

Fig. 3 - Calcedónia mostrando estrutura em agregado. Amostra colhida em S. Domingos (Moreira de Rei, Trancoso). X 45

(F%micrografia da Dr. a D. [udi/e dos San/os Pereira).

Fig. 4. - Calcedónia cimentando quartzo e biotite alterada. Amostra colhida em S. Domingos (Moreira de Rei, Trancoso). X 65

(F%micrografia da Dr. a D. {adi/e dos San/os Pereira}.

170

que nestes últimos anos tem vindo a ser debatido com certo interesse e entusiasmo.

Os filões uraníferos encaixam nestes granitos, nos de grão grosso a " médio (como é natural) e de duas micas, mas em que a biotite predomina sobre a moscovite. Os fenocris­tais de feldspato potássico encontram-se frequentemente albiti-

a b

Fig. 5 - Cristais de quartzo denotando crescimento por estratos ou zonas de quartzo fnmado e quartzo cinzento ou leitoso.

Amostras colhidas em filões uraníferos de (a) Terranho (Trancoso) e (bJ Freixo ( Almeida).

(Fotografias do Dr. f. A. Brak-Lamy).

zados, apresentando-se a biotite um tanto c10ritizada nalguns pontos. O quartzo, no geral alotriomorfo, molda todos os

. minerais desta rocha e apresenta extinção ondulante, denun­ciando ter sido submetido a fortes pressões.

Um índice que a prática da prospecção dos jazigos urano­-radíferos mostrou, é a existência, nas suas proximidades, de formações eruptivas de cor avermelhada -fornecida pela cor rósea dos feldspatos. Tais formações estão, pràticamente, por

171

estudar e inventariar, tendo nós observado a sua frequência nas Beiras. Aparecem no geral sob a . forma de muito pequenas manchas, não excedendo alguns poucos milhares de metros quadrados e, ora as vemos fazerem passagem lateral gradual aos granitos da região, ora como que parecendo tratar-se de erupções dentro deles, ora ainda surgirem nele fazendo pensar em tratar-se de alterações provocadas por solutos que ascen­deram através de fendas.

A Or. a O. Judite dos Santos Pereira, que tem estudado algumas dessas formações, tem verificado que · algumas delas correspondem a sienitos (54,55,56), pelo que afirma haver que «modificar a opinião errónea, divulgada entre nós, de que as formações eruptivas vermelhas portuguesas correspondem a granitos » .

Existirá qualquer relação entre os jazigos uraníferos e os afloramentos deste tipo das suas vizinhanças, ou uma tal ligação é meramente casual? •

A regra prática que citamos verifica-se, segundo nos informou Pierre Conte, também em França, no Maciço Central; Page (57) indica, de igual modo, como indícios para a procura do urânio ou de outros elementos radioactivos, a presença nas pegmatites de berílio dourado, de quartzo fumado e dos feldspatos vermelho-acinzentados.

7) - FILÕES BÁSICOS DAS VIZINHANÇAS DOS FILÕES URANÍFEROS.

Autores vários têm estudado e assinalado a existência de filões de rochas de carácter básico cortando quer os granitos

(54) JUDITE DOS SANTOS PEREIRA - Dois sienitos alcalinos portu­gueses. Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, tomo XXVIII; 1947.

(55) JUDITE DOS SANTOS PEREIRA - Rochas porfiricas que afloram em juncais (Fomos de Algodres). Comunicações dos Serviços Geológicos de Portugal, tomo XXVIII; 1947.

(56) JUDITE DOS SANTOS PEREIRA - Ocorrência de sienitos epidofi­feros em Portugal. Comunicação dos Serviços Geológicos de Portugal, tomo XXIX; 1949.

(57) L. R. PAOE, ob. ciL, pág. 34.

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do maciço antigo (58,59,60), quer os «xistos argilosos das Bei­ras» na Cordilheira Central (61) e o Antracolítico do Baixo­-Alentejo (62). O Prof. Carlos Teixeira (65) e outros autores chamam a atenção para o seu estudo, convencidos do papel de relevo que deve caber-lhes no campo da tectónica geral.

Décio Thadeu (64) apresenta a hipótese de duas séries de emissões básicas filonianas: uma ante-hercínica e outra hercí­nica ou post-hercínica que corta filões aplíticos e pegmatí­ticos encaixados nos granitos.

A frequência com que os filões de rochas básicas surgem nas zonas uraníferas, dispondo-se na vizinhança e paralela ou quase paralelamente aos filões primários de urânio e rádio, levou a considerá-los, entre nós, como um guia na prática da prospecção desta classe de jazigos.

A circunstância de tais rochas se encontrarem completa­mente alteradas à superfície e, como temos observado, até uma ou m"ais dezenas de metros de profundidade, tem impedido o seu estudo microscópico e químico.

Estas rochas, quando alteradas, mostram aspecto de um barro de cor variando entre o cinzento e o castanho-escuro, grão fino e disjunção poliédrica ou esferoidal. Neste último tipo de disjunção, é, por vezes, possível encontrar núcleos inalterados que revelam tratar-se de rochas melanocratas.

Em trabalhos mineiros junto à aldeia de Terranho (Tran­coso) foi-nos possível colher amostras frescas destas rochas.

(58) CARLOS TEIXEIRA - Alguns aspectos da Geologia dos granitos do Norte de Portugal - PubI. da Sociedade Geológica de Portugal, 1945.

. (59) C. TORRE DE ASSUNÇÃO e J. BRAI(-LAMY - Algumas rochas eruptivas da região de Chaves - BoI. da Sociedade Geológica de Portugal, voI. VIII - fases. I-II, 1949.

(60) A. BERNARDO FERREIRA e J. M. COTELO NEIVA, ob. cit., págs. 4 a 7.

(61) DÉCIO THADEU, ob. cit., págs. 10-11. (62) C. TORRE DE ASSUNÇÃo-Sobre uma intrusão dolerítica no

Antracolítico do Baixo-Alentejo-BoI. Soe. Porto Ciências Naturais, vol. II, 2.a série (voI. XVII ), fase. I, 1949.

(63) CARLOS TEIXEIRA, ob. cit., págs. 12-13. (64) DÉCJO THADEU, ob. cit., pág. 10.

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;tudadas pelo Prof. Torre de Assunção (65), a quem as lViámos, concluiu tratar-se de um «dolerito olivínico », com textura intersectaI típica, granularidade um tanto fina» e )resentando como «minerais primários essenciais: c1ino­liroxena (titanaugite), labrador e olivina». Como «mine­LÍs secundários: serpentina-crisótilo ("derivada da olivina, ue está quase totalmente alterada); biütite (provàvelmente eutérica) derivada da piroxena; clorite, derivada da piroxena da biotite; eum mineral do grupo da bowlingite-iddingsite,

erivado provàvelmente da piroxena e da olivina. Existem inda em grandes secções, muito recortadas, algum minério egro e, intersticialmente, um feldspato sem geminação, certa­lente mais alcalino que o labrador ».

Outra amostra que colhemos em Rapoula do Coa (Sabu­ai) e também estudada pelo mesmo Professor, revela-se «mais lterada que a anterior, ainda com textura intersectai» e é lassificada de «dolerito alterado, biotítico ». «A piroxena ão se observa já, mas. é possível que tenha sido substituída tela biotite e por produtos secundários cloríticos. A plagio­las e é dum tipo básico (labrador) e mostra-se muito alterada, lando, além doutros produtos, calcite. A calcificação é, . de esto, um fenómeno -que afecta toda a rocha. Não se observa lualquer resíduo intersticial ácido e é provável que este dole­ito alterado represente um tivo análogo ao de Trancoso».

É fora de dúvida poder afirmar-se serem tais filões ioleríticos de idade anterior aos filões epitermais de urânio ! rádio, os quais vemos, por vezes, encaixar dentro daqueles filões que passam junto ao cemitério do Terranho - fig. 6-

! filão Poente das Minas de S. Domingos, em Moreira de Rei), ltravessarema sua caixa e passarem de um hastial a outro : filão que corta o caminho de Reboleiro a Corsas (Minas do :::imo de Reboleiro), ou rejeitarem-nos (Minas de João Antão, :::imo do Reboleiro).

Na conjunção de filões uraníferos e de rocha básica, é

(65) C. TORRE DE ASSUNÇÃO e J. BRAK-LAMY - Acerca dos jilões rioleríticos relacionados com os jazigos uranfjeros portugueses (publicado neste mesmo Boletim).

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frequente ver-se, em formas brechóides, detritos de rocha básica e granitos encaixantes cimentados por calcedónia.

Estes filões de rocha básica são verticais ou sub-ver­ticais, têm possanças que Variam de alguns centímetros a 3 metros e, por vezes, mais; possuem direcções bastante próximas das dos filões urano-radíferos primários, sendo evidente uma identidade tectónica entre eles.

CZJ Torbenite, Autunite

r.:-::-oI ~ R. básica 1--'"-1 -: -

Fig. 6

~ Granito

Quartzo [ZJ Salbanda

(Esquema do Sr. A. Cardoso Pinto).

Do estudo realizado pelo Prof. Torre de Assunção sobre as amostras referidas, aquele ilustre Professor concluíu que pelos seus «caracteres e em especial pela existência de titanaugite, abundância de olivina e dum resíduo alcalino, a rocha aproxima-se notàvelmente dos doleritos e basaltos doleríticos das orlas post-paleozóicas do Maciço Antigo. Parece, portanto, serem mais recentes do que as rochas filonianas doleríticas, já estudadas em Portugal no Maciço Antigo (como as do Baixo Alentejo), que são ricas em pigeonite, não têm

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olivina e oferecem um resíduo intersticial ácido (micro-pegma­títico) ».

Assim, parece tornar-se possível precisar a hipótese do Eng. o Décio Thadeu no que diz respeito à segunda emissão básica, concluindo-se peIa sua idade post-hercínica, e rela­cioná-la com fases iniciais da tectónica alpina.

8) - os GRANITOS E A METALOGENIA DO URÂNIO.

A radioactividade dos granitos, como a das outras rochas, provém do urânio, do tório e dos seus produtos de desinte­gração.

Os granitos são, em geral, mais radioactivos que qual­quer das outras rochas, numa proporção em média de duas a quatro vezes maior que as rochas sedimentares ou rochas básicas profundas, o que parece traduzic uma íntima ligação dos jazigos uraníferos com aquele tipo litológico.

Lord Rayleigh mostrou (66) que a radioactividade dos granitos anda sobretudo ligada a microminerais pesados e de terras raras neles existentes sob a forma de inclusões.

Certas pegmatites graníticas apresentam minerais radio­activos em mais elevado teor que os granitos, o que é expli­cável por elas representarem uma quinta-essência do magma. granítico de que derivam; graças ao que as substâncias difun­didas no magma em muito pequena percentagem se vão encontrar localmente sob um estado de concentração mais elevada nas pegmatites.

'Desconhecem-se, no entanto, não só os mineralizadores eficazes, como o processas de concentração da matéria radio­activa nas pegmatites uraníferas, quer sob a forma de minerais de terras raras uraníferas, da pechblenda, ou das suas varie­dades cristalinas.

Embora saibamos da individualização de minerais radio­activos nas pegmatites, segundo Vernadsky, a maior quantidade do urânio fica sempre dispersa na massa do granito e não se

(66) E. RAOUIN, ob. cit., pág. 174.

176

encontra nas pegmatites. Este facto não impede que filões pegmatíticos possam tomar valor prático (se bem que, como já foi referido, sejam raras as pegmatites uraníferas economi­camente exploráveis), uma vez que se torna impossível extrair as imensas massas de substâncias radioactivas contidas nos granitos.

o Mas, ainda os filões hidrotermais uraníferos (normal­mente mais ricos que as pegmatites) encerram pequenas quan­tidades de urânio comparativamente à massa deste metal dispersa nos granitos.

A origem do urânio dos filões hidrotermais é explicada admitindo lixiviações de rochas preexistentes enriquecidas neste metal ou considerando uma sua proveniência juvenil, directamente de magmas, ou das pegmatites.

No que diz respeito aos jazigos uraníferos portugueses, para os quais se tem de admitir origem juvenil, esta concorda perfeitamente com a hipótese formulada por Niggli (67) para o campo filoniano de Erzgebirge, no qual notou que os seus filões são «consideràvelmente mais jovens» que os de cassite­ri te e pirite-galena. Não admite Niggli derivação a partir das pegmatites graníticas, mas antes relaciona aqueles filões «com um magma básico longínquo diferenciado a partir de um magma granítico que sobreviveu à consolidação do gra­nito ».

Esta interpretação, apesar da objecção da fraca radio­actividade dos magmas básicos, tem a vantagem de entrar em linha de conta com a paragenese do urânio e dos minerais de níquel e de cobalto que, como é sabido, se relacionam com magmas básicos.

Para os nossos jazigos uraníferos, se bem que neles se não notem minerais de níquel e de cobalto, a sua ligação a um magma básico parece evidente, do qual os filões dolerí­ticos que os acompanham constituiriam testemunhos.

De qualquer modo, conforme diz Raguin (68), os jazigos

(67) E. RAOUIN, ob. cit., pág. 176 . .. (68) E. RAOUIN, ob. cit, pág. 176.

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filonianos uraníferos hidrotermais representam uma fase duma evolução metalogénica de longa evolução partindo de tipos hipotermais, para acabár em tipos de quimismo diferente e de baixa temperatura.

9) - RESUMO E CONCLUSÕES.

Os jazigos urano-radíferos portugueses são representados, na sua grande maioria, por filões primários correspondentes a fases de cristalização a temperaturas baixas e relativamente próximo da superfície.

Tais condições, correspondendo a jazigos epitermais, aproximam-nos, do ponto de vista genético, dos jazigos uranÍferos mais produtivos do mundo, o que leva a pres­supor interesse económico mais elevado, que aquele que lhes poderia ser atribuído se à sua génese presidissem condições de formação a altas temperaturas e pressões.

Apresentam, relativamente àqueles, a anomalia de encai­xarem em granitos, em vez de o fazerem em rochas sedimen­tares. É-se, no entanto, levado' a considerá-los como origi­nados em época na qual, do ponto de vista do meio físico em que se formaram (temperatura da r. encaixante), o granito se comportou como estes últimos.

Efectivamente, a observação de jazigos pegmatíticos e hipotermais de cassiterite-volframite de idade hercínica que ocorrem ao lado de filões epitermais de urânio e rádio, que lhes são posteriores, leva à conclusão de que entre a formação de uns e outros mediou um largo período de arrefecimento e erosão (69).

A conclusão anterior, bem como a posição geológica, geográfica, mineira e tectónica dos nossos jazigos uraníferos, leva a relacioná-los com reservatórios e resíduos magmáticos diferentes e mais profundos que os Hgados à génese dos

(69) Relembro a opinião do que foi um dos maiores conhecedores de jazigos minerais portugueses - o Eng.o António Vianna --'--, que considerava de idade recente os nossos jazig.os urano-radíferos.

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jazigos de cassiterite e de volframite e com movimentos ou fases de movimentos orogénicos também diferentes.

Pela idade suposta recente dos seus minérios, posteriori­dade de formação relativamente a filões doleríticos de qui­mismo notàveImente próximo dos doleritos e basaltos das orlas post-paleozóicas do Maciço Antigo e estreita ligação tectónica destes jazigos com formas macrotectónicas alpinas, é-se conduzido a relacioná-los com estes movimentos, mas com uma fase que não é possível precisar.

Na sua base, relacionamos os jazigos uraníferos portu­gueses, como Niggli para Erzgebirge, com um magma básico profundo, do qual as intrusões doleríticas seriam testemunhos, diferenciado a partir de um magma que sobreviveu à consoli­dação do granito hercínico em que os filões uraníferos en­caixam.

10) - IMPORT ÂNCIA ECONÓMICA DOS JAZIGOS URANO-RADÍFEROS

PORTUGUESES.

o facto dos nossos jazigos urano-nidíferos terem sido, na sua quase totalidade, explorados ou reconhecidos unicamente dentro da zona de meteoração,não nos permite fornecer uma informação completa sobre o seu valor económico particular.

O seu grande número, aliado à conclusão a que chegamos sobre o tipo genético, que nos leva a aproximá-los da classe dos jazigos uraníferos que no mundo se têm mostrado mais produtivos, conduz-nos a atribuir-lhe elevada importância economlca. Esta é infinitamente maior que a que lhe poderia ser conferida pela sua errónea classificação pegmatítica e, muito maior, também, que a que lhe atribui Bain (10)-250 tono de U5 0 8, como tonelagem provável-, que os supôs essen­cialmente formados por jazigos de oxidação secundária e apre­sentando concentrações quase exclusivamente na rocha adja­cente.

O facto dos jazigos uraníferos hidrotermais mostrarem,

(70) GEORGE W. BAIN, ob. cit., pág. 298.

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por via de regra, empobrecimento gradual à medida que se vai penetrando na zona de meteoração e a passagem desta para a zona inalterada corresponder, em geral, a uma parte estéril, levou a abandonar a exploração da grande maioria dos nossos jazigos antes que a zona inalterada fosse atingida. Alguns jazigos abandonados nestas condições vieram recentemente confirmar aquela observação, sendo a persistência da minera­lização até grandes profundidades atestada por alguns dos nossos jazigos epitermais (260 metros na Urgeiriça).

Individualmente, e, de um modo geral, embora como opinião antecipada, não os cremos dotados de elevado teor, mas susceptíveis de constituir um conjunto de grande valor económico, quer pelo seu elevado número e reservas, quer pelo valor presente destes minérios.

Para a grande maioria dos países (71) a natureza foi bem mais avara. Impõe-se, assim, que não desrespeitemos esta nossa riqueza. E, por supormos que a doutrina que tem vindo a sei- seguida não acautela bastante os interesses do País, nem dos nacionais, preconizamos uma política nacional do urânio, que tenda à valorização dos nossos jazigos uranífe­ros como fontes de riqueza de que a economia nacional carece, de que deve tirar o maior benefício e assim eleve o País à justa posição que tem de ocupar como produtor deste- metal.

Devemos ainda estar atentos às possibilidades, que se afiguram próximas, da utilização da energia atómica aplicada à indústria (72, 75).

Porto, 1950.

(71) Em Moçambique têm sido encontrados, segundo notícias recentes, valiosos jazigos de minérios de urânio (minérios refractários) e admite-se o prolongamento dos jazigos do Congo Belga para Angola.

(72) M. ROUBANET, La Course a I' Uranium. Le Monde, 16, 17 e 18 de Novembro de 1950.

( 73) L' Age Afomique. Science et Vi e, Dezembro, 1950.

S U MARY

ON THE METALLOGENY OF URANIUM lN PORTUGAL

1. The' first mining work on Portuguese uraniferous ore deposits date from 1907. Its exploration permitted the extraction of radium, and it is estimated that more than 35 grms. of the world's production comes from Portugal.

2. Pitchblende, as primary mineral, phosphates (cha1co­lite and autunite), silicate (kasolite) and hydrated oxides of U, as secondary mineraIs, are the more common mineral species.

The radioactive unbalance verified in the autunites and even the presence of ioniun makes them considered as recently formed mineraIs.

3. ln pegmatitic veins and placers mineraIs of the group of niobium-tantalites - refractory mineraIs - appear, but they are too poor in U to be taken as U mineraIs.

A great part of the ore extracted in previous exploration proceeded from the secondary mineraIs localised in the upper part of ore déposits and was localised by meteoration of the pitchblende and precipitation in situ.

The upper part and weathering of some olivine doleritic dykes, that occur in the proximity of U veins, is frequently mineralised by autunite - precipitation by action of alkaline rocks.

The uraniferous ore deposits of greater economic value and extension correspond to epithermal quartz veins' and

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are of evident epithermalism. It is to this uraniferous ore deposits that the present study especially refers.

4. They are localised in the provinces of Beira Baixa and Beira Alta, in regions strongly worked by erosion, and especially occupying the central part of the large granitic batholite that constitutes the greater part of these provinces.

The veins form in granite of medi um to coarse grade and in fractures of vertical tectonic and reject pegmatitic and hydrothermal veins of cassiterite and wolframite (hercynians) which occur in the same region. They have different directions from these and are localised according to the line of the prin­cipal valleys" and streams corresponding to the alpine tec­tonism.

5. The average of 0.5 0/0 U5 Os are frequent and persis­tency of pitchblende was verified to a depth of 260 metres ( Urgeiriça).

The vein strangth varies from 0.5 to 2 metres, occuring in them like gang mineraIs and acessory primary menerals, chalcedony, quartz, jasperoids, galena, pyrite, blende, cha1co­pyrite, arsenopyrite, dolomite, tenantite. Malaquite, coveline and iron oxides are the principal secondary mineraIs.

Zonal textures are characteristic and forms of breccia which, with the absence of mineraIs of high temperature, testify their superficiality of formation by the filling of frac­tures, maintained open in the zone of brecciation of the crust, by low pressure solutions. .

6. Oranites of two micas, in which biotite predominates over muscovite, are the continent granite; formations ofa reddish colour (because of the pinkish tons of feldspars), are frequent close to the uraniferous ore deposits.

7. The frequency with which dykes of basic rock (olivi­nic dolerites with titanaugite of identical chemism to dolerites and doleritic basalt of the posf-palaeozoic «Borders» of the Hesperic massif) accompanies parallelly the uraniferous veins, made them considered a practical guide in prospecting those veins.

ln relation to these the doleritic dykes are older, serving sometimes as continent rocks.

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8. The genetic hypothesis formulated by Niggli for Erzebirge, where veins of U are also considerably newer than those of cassiterite, and it is admitted that their derivation, coming from a deep basic magma (of which the doleritic dykes could be witness) differencing as from a deep magma which outlived the consolidation of hercynian granite where they are incIuded.

9. from a genetic point of view the uraniferous Portu­guese veins approach the more productive uranium ore depo­sits of the world which leads to the presupposition of their elevated economic interest.