só gosto de cara errado

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O bem-sucedido livro Freud, me tira dessa! agora aborda, com o mesmo bom humor, o universo adolescente. Ela sonhava em encontrar um príncipe, mas só achava sapos. E aí, Freud, dá para tirá-la dessa? Priscila é uma garota que tem tudo para estar com alguém legal, mas perde tempo com os caras errados. De nada adianta acordar cedo para fazer escova no cabelo, mostrar-se divertida, não alterar o tom da voz e armar mil estratégias com as amigas para se aproximar dos caras, eles simplesmente não dão a mínima para ela. No divã, Pri descobre que talvez não sejam os caras os errados, mas ela mesma. Começa então um processo de mudança na forma de encarar a própria vida, livre de mágoas e de esperas fantasiosas.

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Laura Conrado

São Paulo, 2013

4º Capa

Capa

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Copyright © 2013 by Laura Conrado

Coordenação Editorial Ana Claudia de Mauro Diagramação Schäffer Editorial Capa Monalisa Morato Preparação Bárbara C. Parente Revisão Daniel Haberli Foto da autora Sarah Torres

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo no 54, de 1995)

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Conrado, LauraFreud, me tira dessa! teen #1 : só gosto de cara errado / Laura Conrado. --

Barueri, SP: Novo Século Editora, 2013.

1. Ficção brasileira I. Título.

13-02438 cdd-869.93

Índices para catálogo sistemático:1. Ficção: Literatura brasileira 869.93

2013IMPRESSO NO BRASIL

PRINTED IN BRAZILDIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À

NOVO SÉCULO EDITORA LTDA.CEA – Centro Empresarial Araguaia IIAlameda Araguaia, 2190 – 11o andar

Bloco A – Conjunto 1111CEP 06455-000 – Alphaville Industrial – SPTel. (11) 3699-7107 – Fax (11) 3699-7323

[email protected]

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AGRADECIMENTOS

À Novo Século Editora pela parceria e pela aceitação da sé-rie Freud, me tira dessa! Teen, bem como a de outros projetos. Agra-deço por acreditarem em mim e no meu trabalho.

À minha little sister Luisa, que sempre me rejuvenesce e me inspirou na criação das personagens adolescentes. Às minhas pri-mas pelas memoráveis histórias que marcaram minha adolescência. Amo vocês.

Às blogueiras Raphaela Barros, do Equalize da Leitura, e à também escritora Gleice Couto, do Murmúrios Pessoais, pela leitura atenta do original deste livro e por toda colaboração que deram ao texto. Incluo aqui meu agradecimento a todos os blogueiros pela parceria e amizade.

Aos meus queridos leitores pelo carinho e pelo incentivo constante. Cada palavra foi escrita pensando em vocês! Obrigada por tudo.

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SUMÁRIO

Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91. Eu, Priscila . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112. Sapo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193. Acabou em pizza . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 254. Bolada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 335. Pisca-pisca . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 416. Consultório . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 497. Filme triste . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 578. Lente corretiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 639. Quarteto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7110. Três é demais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7711. Às escondidas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8312. Prova . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8913. Bem-vinda de volta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9514. Príncipe? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .10315. Novela repetida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11316. Álbum de família. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .11917. Me tira dessa, Freud! . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .12718. Crescendo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .13519. Saindo dessa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14120. Em família . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .14721. Apaixonada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .155

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PRÓLOGO

Em abril de 2012, lancei o livro Freud, me tira dessa! pela Novo Século Editora. A recepção do livro, destinado aos jovens adultos, não poderia ter sido melhor. Em três meses o livro foi para a segunda edição, recebi o Prêmio Jovem Brasileiro, participei de vários eventos literários e abri portas para outros grandes projetos. Mas, sem dúvida, a melhor coisa que me aconteceu, em função do livro, foi o contato com meus leitores. Nada me deixa mais feliz do que as mensagens que recebo.

Uma delas veio de uma garota de 14 anos, do interior de São Paulo. No e-mail, ela disse ter visto a irmã mais velha lendo o livro, dando gargalhadas e dizendo que a Catarina, personagem principal de FMTD, se parecia com ela. Depois de ter lido o livro escondido da irmã, ela me escreveu pedindo uma história que a fizesse rir e sentir o que a irmã sentiu. “Laura, eu pareço com sua personagem aos 14 anos. Também só gosto de cara errado. Por que não faz um livro para Freud também tirar meninas da minha idade dessa?”, ela pediu.

Depois disso, muitas outras adolescentes me escreveram, dizendo terem gostado do tema e da minha escrita. Passei, então, a sonhar com as personagens adolescentes e relembrar os problemas que tive quando mais nova.

Assim nasceu o Freud, me tira dessa! Teen, ideia que foi ama-durecida em parceria com a Novo Século Editora. A partir de en-

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tão, comecei a pesquisar temas bem como estudar várias teorias da Psicanálise e outras escolas da Psicologia sobre o desenvolvimento adolescente. Mas o livro não é técnico; é um romance narrado sob o ponto de vista do paciente.

A série vai abordar conflitos adolescentes por meio de um grupo de amigas. Ana Luiza, Júlia, Priscila e Rafaela poderiam ser qualquer uma de nós ou nossas amigas. Em cada livro, uma delas será a personagem principal passando por alguma situação que de-mande a ajuda de Freud, pai da Psicanálise.

Neste livro, Pri é uma garota que perde seu tempo gostando de caras que não a tratam como deveriam. Mesmo sendo um livro para adolescentes, eu – que já passei da adolescência há algum tempo! – pude aprender muito sobre mim ao escrevê-lo. Falo de coisas que nos ocorrem não só na adolescência, mas em qualquer fase da vida.

Espero, de coração, que o livro ajude a melhorar os relacio-namentos entre pais e filhos, amigos e namorados. E, sobretudo, a gostarmos de nós mesmos antes de fazer qualquer escolha.

Boa leitura!Um beijo enorme,Laura Conrado

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1EU, PRISCILA

O sinal do primeiro intervalo tocou. Deixei os óculos so-bre a mesa e soltei o cabelo. Fui a primeira a levantar da carteira, puxando minha amiga Júlia, que sentava atrás de mim, pela mão. Rafaela e Ana Luiza vieram atrás. O lugar onde nos posicionamos era perfeito, em frente ao mural de recados, perto da entrada dos banheiros e da porta da sala dele, o meu Cristiano.

– Ele está vindo – Rafa se mostrava atenta ao plano. Era bom contar com ela, pois sem os óculos, a certa distância, não di-ferenciava as pessoas.

– Ótimo – eu disse. Comecei a jogar o cabelo de lado.– Vou começar a contar! – Rafa disse. – Um, dois, três!Gargalhadas ecoaram do nosso grupo no exato momento em

que Cris se aproximou. O plano tinha saído de forma perfeita. Quem se acercasse de nós, naquele momento, pensaria que eu estava contando a coisa mais engraçada do mundo, capaz de fazer as amigas revirar os olhos de tanto rirem.

– Ei – Cris me cumprimentou, passando a mão nas minhas cos-tas. – Estão animadas hoje, hein? – Ele cumprimentou minhas amigas.

– Ah, a Priscila sempre diverte a gente! – Júlia entrava em cena. A gente conversou um pouco, mas logo o desmancha-pra-

zeres do sinal soou de novo. Hora de me recolher ao meu pobre lugar na escola.

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– A gente se vê mais tarde – eu me despedi dele.– Com certeza! – Cris falou com tanta firmeza que me dei-

xou empolgada. – Boa aula.Com estratégia de guerra. Era assim que eu havia consegui-

do conhecer e ficar com o Cris. Cada dia era um novo plano para cruzar com ele, me aproximar de seus amigos e, principalmente, me mostrar linda e divertida, como uma namorada perfeita. Minha motivação tinha nome, sobrenome, endereço e uma covinha... Ah, uma covinha que consumia meus sentidos. Desde o início do ano, eu estava apaixonada pelo Cris. Ele era novato no colégio e, mesmo em meio a tantos rostos, ele me chamou a atenção. Instantanea-mente. Eu era dele desde quando o vi pela primeira vez! Sonha-va dormindo e acordada com aquele cara alto, moreno, de cabelos cacheados queimados de sol e de olhos castanhos. Cris estava no segundo ano do Ensino Médio, e eu no nono do Fundamental. Ainda precisava vestir uma calça de coton cinza medonha para ir à aula. Minhas pernas pareciam varetas com aquela calça. Competia com dezenas de meninas do Ensino Médio que podiam ir com a calça que quisessem. E a blusa do uniforme parecia sempre ficar mais bonita nas outras do que em mim. Eu me valia do sutiã de enchimento para ficar igual às outras meninas. Apaixonar-se por al-guém da mesma escola não era boa coisa. Eu me mordia de ciúmes das garotas da sala dele e com mais idade do que eu – e de cabelos mais compridos.

Passei semanas jogando charme e tentando fazer com que o Cris me enxergasse. Segui o cara depois das aulas para saber onde morava, fucei diários de classe dos professores em comum para des-cobrir o nome completo dele e achei seus perfis na Internet. De acordo com minhas pesquisas, Cris não tinha namorada, o que era um alívio para mim. Eu havia passado os últimos meses chorando nos ombros de minhas amigas por causa do Guilherme. Éramos

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colegas na natação e me apaixonei – loucamente! – por ele. Depois de muitos suspiros, que faziam borbulhas embaixo d’água, soube que ele namorava há quase um ano. A dor de cotovelo foi tanta que deixei de nadar para me afogar em lágrimas. Desde então, jurei a mim mesma que iria escarafunchar a vida do alvo antes de atacar.

Graças a Deus, chegaram as notas do primeiro trimestre e, com elas, surgiu um desastre para o Cris. Deduzi que algo não ia bem quando soube que ele procurou uma aula particular de Português com uma professora perto da minha casa. Era a chance que pedi aos céus. Logo descobri os horários dele e consegui me encaixar em três dias da semana, em um horário imediatamente depois do Cris. Iria gastar dinheiro sem necessidade, mas eu pre-cisava dar um jeito de começar a conversar com ele. E deu certo! Aos poucos, passamos a nos cumprimentar e trocar algumas pala-vras. Depois nos adicionamos na Internet. No mesmo dia em que ele puxou papo comigo na escola, cancelei a aula particular. Havia conseguido um vínculo!

– Você foi muito guerreira, amiga! Merece esse homem – Rafa me encorajou.

– E paciente! Um mês de aula particular de Português tendo as melhores notas da sala! – Ana se divertia.

– Eu aguentaria até Matemática para ficar perto dele – eu ria. – Mas agora já tenho contato com ele. Só falta jogar charme...

E isso eu fazia. Como eu estava sempre gostando de alguém, já estava ficando craque. Entretanto, às vezes, eu tinha a impressão de que desperdiçava tempo, gostando de caras errados. Contudo, daquela vez eu estava certa de que seria diferente. Cris era real e estávamos sempre conversando.

Certo dia, depois da aula, ele se ofereceu para ir andando até a minha casa. Foi como num sonho. Nosso primeiro beijo foi debaixo de uma mangueira na praça do meu bairro. Nem preciso dizer que ali havia se tornado meu lugar favorito no universo!

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A gente não se via todos os dias no colégio, mesmo com meu esforço e meus inúmeros passeios nos corredores do andar dele. Às vezes nos falávamos pelo computador, trocávamos torpedo e marcávamos algum encontro. Não era nada sério ainda, mas eu estava para lá de envolvida. Desfazia qualquer compromisso para estar com ele.

Naqueles dias, eu estava mais eufórica do que de costume. O clube mais badalado da cidade havia divulgado uma superfesta para o próximo sábado. O mais difícil eu já havia feito. Convenci meus pais a me deixarem ir à festa. E que festa: vários DJs, banda na área das piscinas e pessoas de todos os colégios da cidade, já que era permitida a entrada de menores. Enfim, uma noite interessante para aqueles que ainda estavam no colégio! Uma das minhas maio-res façanhas foi ter feito meus pais pagarem para eu ir. Foram dias de conversas intensas. Ser filha de pais separados me fazia negociar com as partes isoladamente.

– Eu juro, mãe! As sacolas de lixo estarão na lixeira antes das sete da manhã! – Eu tentava convencê-la.

– E as roupas brancas? – A danada sabia barganhar.– Estarão todas separadas antes de batermos as roupas na

máquina – eu recapitulava as ordens.Minha mãe, Angélica, e eu morávamos sozinhas. Éramos

bem próximas e estávamos sempre nos ajudando. Minha mãe era bancária e, desde pequena, me lembro de vê-la trabalhar por nós. Ela e meu pai, Cláudio, se separaram quando eu tinha sete anos.

Meu pai era a parte mais dura da história. Embora eu não morasse com ele, vivia me enchendo de perguntas, acompanhando minhas notas e querendo saber dos meus passos. Depois de um interrogatório e de explicar oitocentas vezes que era apenas uma festa, tive que aceitar ser babá dos meus irmãos João, de cinco anos, e Lucas, de três anos. Meu pai era casado com Lucíola há uns seis

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anos. Ela era gentil, dava-me presentes e parecia se importar comi-go. Contudo, ela não era a minha mãe.

Eu sempre tentava fugir de tomar conta dos meninos. Se eu ganhasse alguns trocados para ser babá, iria com mais empolgação, mas meu pai achava que, como irmã mais velha, eu não fazia mais do que minha obrigação. Mas naquela altura, valia qualquer coisa. Até tomar conta de irmãos numa sexta à noite e acordar mais cedo para colocar o lixo na rua.

Eu queria estar linda naquela noite. Passei a tarde inteira hi-dratando meus cabelos castanhos com mechas douradas. Não tinha comido chocolate nos três últimos dias para ficar com a pele linda no dia da festa – e sem barriga. Apostava alto. Como eu sempre precisava de validação, antes de qualquer festa, eu trocava mensagens com as minhas amigas, freneticamente, pelo celular.

De: PriPara: Ju; Ana; Rafa– Franja de lado ou topete moicano?

De: RafaPara: Pri; Ju; Ana– Moicano. Você já vai de cabelo solto todo dia para a aula. E capricha no laquê! J

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De: PriPara: Rafa; Ju, Ana– Valeu. Tô na dúvida entre o vestido ver-melho de manga curta ou o tomara que caia azul.

De: AnaPara: Pri; Rafa; JuMoicano com o tomara que caia azul vai ficar SHOW! E faz um risco bem bonito de delinea- dor no olho.

De: JuPara: Ana; Pri; RafaCaraca, vocês vivem com o celular na mão? Nem deu tempo de eu responder! L Mas concordo com as garotas, Pri. XOXO

As meninas e eu éramos inseparáveis. Claro que havia época que eu estava mais próxima de uma do que da outra, mas no fim das contas éramos sempre um quarteto.

Mandei a foto do meu look para elas e ouvi até um “fiu fiu” por mensagem de voz da Rafa. Ela era uma peça. Todas estavam animadas para a festa, mas a mais enlouquecida era eu.

Eu me sentia perfeita para uma noite superperfeita com o mais-que-perfeito do Cris. Estava louca para ficar com ele na frente de um monte de gente e deixar toda a escola sabendo do nosso rolo. Seria um sonho: eu, linda no meu vestido azul, ele, lindo como

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sempre, a festa rolando e a gente junto. E na segunda-feira, eu espe-rava que os comentários no colégio sobre a gente fossem geral! Isso me ajudaria a marcar território e, quem sabe, a dar uma acelerada nos planos de alterar o status do Facebook!

Já que morávamos perto, o combinado era minha mãe levar a Rafa e a mim à festa. Fiz uma maquiagem, acompanhando passo a passo um vídeo do YouTube, e passei meu perfume da sorte. Desce-mos do carro e seguimos para a portaria do clube, que estava lotada, a fim de esperarmos a Júlia e a Ana.

Não sei se era o moicano ou as três camadas de máscara nos cílios, mas eu me sentia um estouro. Achando que eu estava numa passarela, nem me dei ao trabalho de olhar para o chão. Acabei não vendo a tampa do bueiro: meu corpo foi e meu pé ficou, dando-me um tranco. Por sorte, tive como me segurar na Rafa para não cair na frente de todo mundo. A dor no meu tornozelo não parecia ser nada diante do desespero de ver meu salto agarrado no buraco do bueiro.

– Rafaela, pare de rir e me ajude a sair daqui! – eu disse com os dentes cerrados.

– Vou te ajudar, mas fica calma. – Rafa parecia perder as for-ças de tanto gargalhar. – Você está querendo dar uma de Cinderela no baile, é, Pri?

– Pare de graça! Ande – Eu a abaixei e coloquei a mão dela na minha panturrilha. – No três, eu vou puxar minha perna para cima. E vê se me ajuda! Um, dois...

– Espere! – Rafa gritou. – Me deixe recuperar minhas forças. – Rafa encostou no carro ao lado e riu até sair lágrimas.

Se olhar matasse, minha amiga seria fuzilada naquela hora. Eu mesma acabei dando jeito e, com uma força exagerada, tirei o sapato do bueiro.

– Ah, não! Meu salto... – Eu ameaçava chorar. – Meu salto ficou preso no buraco, Rafa!

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Só me lembro de ter visto o corpo de Rafa se inclinando para frente e uma boca do tamanho do globo terrestre se abrindo para soltar a gargalhada mais alta do mundo. Realmente, se não fosse comigo, seria engraçado. Mas ter um sapato na mão e um pedaço de salto no bueiro não era divertido para a dona do calçado.

Meu celular tocou. Era Ana, avisando que ela e Ju haviam chegado ao clube. Dei a orientação de onde estávamos e pedi que elas nos encontrassem com urgência. Em pouco tempo, elas esta-vam diante do meu problema.

Júlia acabou se juntando a Rafa para rir e, Ana, amiga como sempre, tentava me acalmar e pensava numa solução.

– Será que ligo para minha mãe trazer outro sapato? Até ela chegar, vamos perder uns quarenta minutos.

– Talvez não precise – disse Ana abrindo a bolsa. – Cada uma pega um chiclete e masca o máximo que puder.

– Chiclete? A gente vai colar o salto da Pri com isso? – Júlia duvidava.

– Alguma outra ideia? – Ana desafiava as meninas. Vendo o silêncio que pairava, continuou. – Ótimo, vamos mascar.

Em cinco minutos, estávamos deixando gomas de mascar entre meu sapato e o pedaço de salto. E por incrível que pareça, deu certo. Eu não podia pular, mas me sentia segura para andar.

– Os chicletes vagabundos são os melhores. Firmaram o sal-to direitinho – Ana falou.

– E pensar que a gente mastiga esse trem – disse Rafa.– Ana, muito obrigada! – Eu dei um abraço na minha ami-

ga. – E vocês tentem ajudar em vez de rir na próxima vez. – Virei para Júlia e Rafaela.

Elas me olharam sem graça. Não querendo estragar o clima da noite, abri meu habitual sorriso.

– E aí, como estou?Sentia-me pronta para uma noite inesquecível.