slow science a temporalidade da ciência em ritmo de impacto

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  • SLOW SCIENCE: a temporalidade da cincia em ritmo de impacto

    MNICA GRACIELA ZOPPI FONTANAProfessora Doutora do Departamento de Lingustica, do Instituto de Estudos da Linguagem, UNICAMP. Bolsista de Produtividade Pesquisa, CNPq.

    Resumo: Neste artigo analisamos o funcionamento do discurso da produtividade cientfica em um corpus de textos que tratam do movimento SLOW SCIENCE. O objetivo geral do trabalho apresentar uma descrio das formas de representao do tempo em relao com o fazer cientfico e seus efeitos na produo de imagens de cincia legitimada. Com este fim, analisamos as operaes enunciativas de representao da temporalidade e sua relao com a narratividade discursiva. Reunimos um corpus representativo de artigos e notcias veiculados em publicaes de divulgao cientfica, assim como em pginas de agncias de fomento e comunidades virtuais ou blogs disponveis na web. A descrio e interpretao dos materiais seguem os procedimentos da teoria da Anlise de Discurso, considerando principalmente o papel da memria discursiva na produo de operaes de narratividade e seus efeitos sobre as formas de representao da temporalidade.

    Palavras-chave: Temporalidade. Enunciao. Divulgao cientfica. Memria discursiva. Processos de subjetivao.

    Resumen: En este artculo analizamos el funcionamiento del discurso sobre la productividad cientfica en un corpus de textos que tratan del movimiento SLOW SCIENCE. El objetivo general del trabajo es presentar una descripcin de las formas de representacin del tiempo en relacincon el hacer cientfico y sus efectos en la produccin de imgenes de ciencia legitimada. Con este fin, analizamos las operaciones enunciativas de representacin de la temporalidad y su relacin con la narratividad discursiva. Reunimos un corpus representativo de artculos y noticias vehiculados en publicaciones de divulgacin cientfica, as como en pginas de agencias de financiamiento y comunidades virtuales o blogs disponibles en la web. La descripcin e interpretacin de los materiales sigue los procedimientos del Anlisis de Discurso, considerando principalmente el papel de la memoria discursiva en la produccin de operaciones de narratividady sus efectos sobre las formas de representacin de la temporalidad.

    Palabras clave: Temporalidad. Enunciacin. Divulgacin cientfica. Memoria discursiva. Procesos de subjetivacin.

  • 225SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    IntroduoFazem parte dos processos de subjetivao

    contemporneos os sentidos de acelerao do tempo, de velocidade, de vertigem. A atualidade interpretada como fugaz, num movimento constante no qual s h espao para a novidade. Tradio, continuidade, passado no encontram ancoradouro na memria social, lanada para o futuro no ritmo das novas tecnologias de comunicao. As prticas de produo de conhecimento, na sua constituio, formulao e circulao1 na sociedade, no so alheias a

    pelo seu poder e o conhecimento produzido e os prprios sujeitos de conhecimento so mensurados pelos

    de suas publicaes. Nessas condies de produo, as representaes do tempo

    formao de pesquisadores e, principalmente, na relao estabelecida com a sociedade. O discurso de divulgao

    temporalidade que afetam a legitimao social das prticas

    produo de conhecimento.Considerando a relevncia destas questes,

    desenvolvemos atualmente um projeto de pesquisa2 que almeja compreender e descrever os processos discursivos que agem neste debate, explorando na mdia especializada

    sociedade atual.

    contemporneas fato reconhecido pelos mais diversos setores envolvidos com sua prtica: o governo, atravs

    universidades e centros de pesquisa,por meio da produo e reproduo de conhecimento e formao de quadros docentes e de pesquisa; a escola e a mdia, na divulgao dos saberes disponveis; a iniciativa privada e

    1 A produo de

    momentos inseparveis: a constituio, a formulao e a circulao (ORLANDI, 2001, p. 150).

    2 a representao da temporalidade no discurso de divulgao

    PQ-CNPq processo 308134/2010-9.

  • 226 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    tecnolgico e pelos dizeres que circulam sobre ele.

    comum se manifesta, entre outros efeitos, pela ampla circulao de seus resultados na mdia em geral e, mais

    atravs de reportagens, entrevistas, documentrios,

    surge, na sociedade atual, como resposta demanda de

    3 Desta

    como um observatrio privilegiado dos modos de

    Esta relao constitutiva entre a produo de

    tem dado lugar, na ltima dcada, a publicaes e

    da Linguagem4, entre elas: Guimares (org.) (2001; 2003), Orlandi (2001; 2004), Authier-Rvuz (1999; 1998), Fossey (2006; 2008), Nunes (2001), Zamboni (2001), Gallo (2011). Nestes trabalhos, cuja leitura fornece subsdios imprescindveis para a abordagem e compreenso do tema, a representao da temporalidade no tem sido trabalhada com a mesma intensidade que outros funcionamentos discursivos.

    3 Orlandi (2001, p.

    necessidade de saber constitutiva da forma-sujeito histrica em nossa sociedade e as novas tecnologias de linguagem, disponveis, concorrem para a

    dessa circulao.

    4 Cf. a pgina do Laboratrio em

    Cultural, disponvel em

  • 227SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    No entanto, um dos aspectos mais destacados

    funcionamento das representaes da temporalidade. Com

    com os tempos da sociedade so questes que aparecem recorrentemente nos diversos veculos de publicizao e

    forma de um discurso sobre as . To recorrente essa caracterizao, subsidiria do discurso positivista de , que os sentidos de

    e de se impem como imagem dominante

    aqueles campos de conhecimento cuja prtica no produz descobertas.5 Por outro lado, o forte investimento no desenvolvimento de tecnologias e a consequente

    produo capitalista: maior quantidade de produtos mensurveis, disponibilizados no menor tempo possvel, a custos reduzidos e criando demandas sempre novas.

    so as predicaes que declinam os sentidos de , a partir dos quais a

    atualmente avaliados e legitimados.Neste artigo objetivamos apresentar uma

    descrio das formas de representao do tempo em

    sociedade. Duas perguntas guiam nossa anlise: h diferenas entre as diversas reas de conhecimento em termos da representao da temporalidade? Como essas diferenas afetam a imagem discursiva desses campos de

    Para tentar responder a estas questes, reunimos um corpus representativo de artigos e notcias

    5 Cf., por exemplo, o levantamento realizado por Vogt e Polino (orgs.) (2003) sobre a percepo

    em espaos ibero-americanos.

  • 228 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    disponveis na rede .Para efeitos de maior clareza no amplo campo das

    prticas de textualizao6 que abrange nosso trabalho,

    Zamboni (1997). Conforme a autora, que se inspira nos trabalhos de Bueno (1984), poderia considerar-se a

    como um conjunto abrangente de prticas de circulao do conhecimento na sociedade, que comportaria diferentes modos de funcionamento: a

    (compreendida como direcionada a especialistas) e a (compreendida como destinada ao grande pblico leigo). Em termos

    que esses modos de funcionamento podem ser diferenciados (GRIGOLETTO, 2005) Porm, nem sempre as fronteiras so assinalveis, dado que os sentidos

    mediante processos de legitimao social, ao tempo que a disseminao entre especialistas encontra eco em debates mais amplos da sociedade, introduzindo novas agendas

    observar no movimento , surgido nas

    inspirado em movimentos sociais (como o )

    isso, adotamos neste trabalho a conceituao proposta por Gallo e Lagazzi (2012), que denominam como

    os diversos processos pelos quais se produzem e se pem a circular elementos de saber de diversa ndole na nossa sociedade. Conforme as autoras,

    passar de uma forma material (social, histrica

    6 Cf. Orlandi (2001,

    que Cada texto tem os vestgios da forma como a poltica do dizer inscreveu a memria (saber discursivo) na sua formulao. Um texto sempre um conjunto de formulaes entre outras possveis, movimento

    tomado aqui como horizonte discursivo, o a dizer e no vazio [...] Na textualizao, a forma da organizao

    das diferentes regies

    textualizao do discurso se faz com falhas, ou seja, o discurso pode se representar em diferentes verses, distintas formulaes que se textualizam.

  • 229SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    e ideolgica) para outra forma material. Esse trabalho impossibilita a manuteno de um mesmo sentido, j que so as condies histricas, sociais e ideolgicas que determinam o sentido dos textos. Fazer tal transposio sem mobilizar a materialidade do discurso seria impossvel para nossos parmetros terico-metodolgicos. Assim, temos que a produo de conhecimento est ligada materialmente ao seu autor, o que tem motivado este grupo de pesquisa a procurar aproximar a posio-sujeito da divulgao, do sujeito-autor do conhecimento. (Disponvel em http://celsul.org.br/2012/wp-content/uploads/2012/04/GT-16-SOCIALIZACAO-DO-CONHECIMENTO-UMA-PERSPECTIVA-DISCURSIVA.pdf)

    Desafios da prxis: o batimento entre teoria e anliseNosso trabalho tambm relevante porque

    toca diretamente na relao teoria-anlise e nos leva a

    como o de na sua relao com as no discurso.

    Mais precisamente, objetivamos avanar na discusso terica sobre a relao entre o funcionamento das formas lingusticas de representao do tempo, os dispositivos enunciativo-discursivos que constituem a e sua relao constitutiva com o interdiscurso e seus

    .Nossa pesquisa se inscreve na teoria de

    Anlise de Discurso, a partir da qual se considera a determinao histrica e ideolgica dos processos de produo de sentido. A noo de permite trabalhar essa determinao como constitutiva do funcionamento da linguagem. Sujeito e sentido se constituem simultaneamente, como efeitos, pela relao com a memria discursiva e as condies de produo do discurso.

    Em (junho 1994), nmero

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    artigos publicados elaboram terica e analiticamente a relao entre . O organizador esclarece na introduo que A memria que nos interessa a memria social, coletiva, na sua relao com a linguagem e a histria (COURTINE, 1994, p. 5). Em seguida, ele conclui: [...] a linguagem o tecido da memria, isto

    (COURTINE, 1994, p. 5 grifos do autor, traduo nossa). Considerando, ento, que a linguagem uma materialidade fulcral da memria histrica de uma sociedade, assumimos que os processos discursivos constituem o espao simblico onde possvel observar seu funcionamento. Os sentidos se sedimentam

    e desnivelados pelas relaes de fora que determinam ideologicamente o discurso. Conforme Orlandi, A ideologia se liga inextrincavelmente interpretao enquanto fato fundamental que atesta a relao da histria

    1999, p. 96). Assim, entendemos a memria discursiva como

    . Efeitos dessa memria se manifestam na linearidade do discurso atravs de diversos funcionamentos das formas lingusticas (as marcas de temporalidade entre elas), que se constituem em ndices

    interpretao.7 Assim, compreendemos junto com Orlandi (2001) que a identidade um movimento na histria e no terminados, abertos a .

    Sendo fruto da relao da lngua com a histria, a memria discursiva constitutivamente afetada pelas falhas que atravessam a lngua e as contradies que estruturam a histria, o que se materializa no seu carter necessariamente lacunar e equvoco. Memria

    7 Orlandi (1996, p.

    interpretao uma injuno. Em face a qualquer objeto simblico, o sujeito se encontra na necessidade de dar sentido . A autora avana ainda nessa

    o sujeito do discurso interpretao: A interpretao sujeito (ORLANDI, 1996, p.83).

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    saturada e lacunar, memria com eclipses, onde ressoa somente uma voz sem nome, como diz Courtine (1982, p.16). Memria, portanto, estruturada pelo esquecimento, que funciona por uma modalidade de repetio vertical, que ao mesmo tempo ausente e presente na srie de formulaes: ausente porque ela funciona sob o modo do desconhecimento, de um no-sabido, no-reconhecido, que se desloca, e presente em seu efeito de retorno, de j-dito, de efeito de pr-

    a estabilidade dos objetos do discurso.Dessa maneira, compreender o funcionamento

    dos textos em anlise leva a se perguntar o que enunciar,

    , para um sujeito enunciador tomado nas contradies histricas (COURTINE, 1982). Achard (1984) permite avanar neste sentido quando chama a ateno para o fato de que a memria suposta pelo discurso sempre reconstruda na enunciao.

    Utilizamos, ento, o conceito de para designaras

    (PECHEUX (1975); COURTINE (1982); ORLANDI (1996; 1999; 2001); PAYER (2006).Neste sentido, a memria discursiva o espao de dos processos discursivos que constroem para o sujeito sua realidade(aqui includa a cena enunciativa organizada em torno do eu-aqui-agora), enquanto representao imaginria (e necessria) da sua relao com o real histrico, no qual ele est inserido. H a necessidade do em pontos de ancoragem enunciativa para que uma iluso de unidade e,portanto, uma iluso subjetiva possa ser produzida.8 Benveniste (1966) e Authier-Rvuz (1998) j exploraram (diferentemente) a base lingustica da construo da subjetividade, analisando

    8 Toda atividade de linguagem necessita da estabilidade de estes pontos de ancoragem para o sujeito; se esta estabilidade falha, h um abalo na prpria estrutura do sujeito e na atividade de linguagem (FUCHS; PCHEUX, 1975, p.174).

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    discurso que ao mesmo tempo constroem e reforam a iluso subjetiva do enunciador.9

    Neste artigo, vamos trabalhar os efeitos discursivos que constituem a iluso subjetiva a partir do funcionamento da no discurso, na sua relao com os processos de subjetivao. As diversas formas de representao da consideradas comportam tanto a morfologia de tempos e modos verbais, quanto o funcionamento de lexemas e expresses (substantivos, nominalizaes, adjetivos, advrbios, verbos), cujo sentido incorpore aluses ao tempo. Desta maneira, almejamos descrever, seguindo Auroux (1984, 1992) e Guimares (2004), o

    que os autores dos textos reunidos no corpus desenham imaginariamente para a

    como a inscrio do autor numa determinada posio-

    de uma narrativa que comporta [...] a constituio de um passado e ao mesmo tempo de um futuro que dele se desdobra (GUIMARES, 2004, p. 11).

    Contudo, essa representao da temporalidade, produzida a partir das formas lingusticas presentes nos textos, deve ser compreendida na sua relao com a memria discursiva, portanto, considerando o funcionamento dos dispositivos de , tal como

    Orlandi (2001).Para Mariani (1998), a prtica narrativa produz

    uma verdade local ao se constituir na forma de um discurso . Uma narrativa nunca se encontra isolada de outras e o que as entrelaa da ordem do histrico e do inconsciente. Mais do que a anlise de narrativas, o que est em jogo a anlise de , sendo que os narradores se encontram assujeitados a processos histrico-ideolgicos que no lhes so transparentes.

    9 Conforme a distino

    (1975), poderamos dizer que os trabalhos de Benveniste e Authier-Rvuz visam, sobretudo, aos processos de

  • 233SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    Assim, a prtica de narrar atravessada pela memria discursiva constitutiva do imaginrio social, razo pela qual toda narrativa incompleta. A partir dessas

    como um mecanismo discursivo.

    A narratividade coloca em movimento (no trabalho da memria) os agenciamentos de rituais enunciativos presentes no imaginrio, permitindo o deslocamento, o retorno, a migrao de cadeias de enunciados narrativos. A narratividade e seu produto, os enunciados e textos narrativos, se encontram dispersos na verticalidade do interdiscurso (MARIANI, 1998, p. 105-6).

    Em trabalhos anteriores (ZOPPI FONTANA, 1997; 2009), nos ocupamos do estudo das

    e de sua relao com os processos de subjetivao. Na nossa anlise do discurso poltico da transio (governo de Ral Alfonsn na Argentina, 1983-1989), j afirmvamos que

    O estudo das nos interessa na medida em

    que elas manifestam os diferentes processos discursivos que determinam os enunciados. Ou seja, vamos considerar, em nossa anlise, o funcionamento das

    em relao s coordenadas espao-temporais de um dado sujeito enunciador participante de uma determinada situao ou contexto comunicativo (o eixo

    que serve de suporte imaginrio para a iluso subjetiva que afeta o sujeito e que reproduzida por diversas teorias pragmticas e da enunciao) [...] Pelo contrrio, vamos interpretar as formas de representao da temporalidade no discurso como marcas ou indcios, na superfcie discursiva, dos processos discursivos que determinam a

    [...] Em termos tericos, [estas formas]

  • 234 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    nos permitem observar as operaes discursivas

    quais o sujeito do discurso se d imaginariamente uma memria [...]. Elas

    (isto , como relaes de sequencialidade antes-depois, de continuidade e de ruptura de processos

    que coexistem no interdiscurso: a ao do interdiscurso como agindo no intradiscurso na produo de diversos

    nos enunciados (ZOPPI FONTANA, 1997, p.145).

    Ancorados nestas consideraes tericas, vamos analisar os e o movimento

    sujeito estar no mundo:o que preciso saber e fazer para se constituir em sujeito cientista contemporneo?

    seus sentidos pela reorganizao da memria discursiva, recortando

    . No contexto das polticas

    por , representaes estas que afetam

    os processos de subjetivao.

    Slow Science: mais tempo, outro tempo um movimento que teve incio

    em 2010 na Europa, a partir de declaraes e manifestos que circularam prontamente e largamente pela internet, recebendo imediatamente milhares de adeses de renomados cientistas.

  • 235SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    Em outubro de 2010, circulou na um abaixo assinado10 proposto por Jol Candau, antroplogo da Universit de Nice Sophia Antipolis, Frana, que chamava os cientistas, pesquisadores e docentes a se mobilizarem para fundar um movimento, apresentado como

    ,com o slogan . Em pouco tempo, esse documento foi assinado

    por mais de 4000 pesquisadores do mundo todo11, dando lugar a um novo documento12 em co-autoria com Isabelle Gavillet (Matre de confrences, Universit Paul Verlaine-Metz/Universit de Lorraine, Frana), no qual

    sobre possveis encaminhamentos.No abaixo-assinado, do qual citamos alguns

    recortes na sua , disponvel no site13, as formas de representao da temporalidade organizam argumentativamente o texto.14

    Pesquisadores, professores, ns precisamos ! Vamos nos libertar da

    sndrome da Rainha Vermelha! Pare de querer seguir cada vez mais rpido. Pare de querer seguir , o que resulta apenas em ou at mesmo . Na mesma toada do

    , ns criamos o movimento Slow Science.Olhar, pensar, ler, escrever, ensinar. Tudo isso e ns temos

    para isso, se que j no . Dentro e ao redor

    de nossas instituies, a presso social promove a . Com produes em em . E nossas

    presso: um colega que no est sobrecarregado

    , assim como a , prima pela quantidade acima da qualidade.[...]Como os avaliadores e outros especialistas tambm , nossos

    10 Disponvel em Acesso em 24 fev2013.

    11 4582 pesquisadores em 24 de fevereiro de 2013, data da consulta.

    12 Disponvel em Acesso em 24ev2013.

    13 Traduo de Janaisa Martins Viscardi (UNICAMP, Brasil), disponvel em Acesso em 24 fev. 2013.

    14 Nos recortes analisados doravante, os grifos so nossos, salvo indicao em contrrio.

  • 236 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    currculos so corriqueiramente avaliados somente pela sua extenso: quantas publicaes, quantas apresentaes, quantos projetos? Esse fenmeno cria uma obsesso pela quantidade na

    tudo, mesmo dentro de uma especialidade. Assim, muitos artigos so citados e talvez sejam lidos. Nesse contexto, cada vez mais difcil localizar as publicaes e apresentaes que realmente importam aquelas em que um colega , aperfeioando entre outras milhares que so duplicadas, recortadas, recicladas, ou at mais ou menos emprestadas.Claro que nossa formao deve ser , obviamente de alta performance, estruturada e adaptada ao desenvolvimento de

    . Como resultado dessa rumo adaptao, a questo do conhecimento fundamental a ser passado conhecimento

    dos cientistas. O que importa estar

    e, especialmente, para manter a mquina

    em funcionamento.[...]Essa degenerao da nossa atividade no inevitvel. Resistir Fast Science possvel. Ns temos a chance de construir a Slow Science, dando prioridade a valores e princpios: [...]No h nenhuma razo para aceitar

    , repetida pelo ministro e seus administradores. De forma mais geral, ns no devemos esquecer que h vida fora da universidade. para nossas famlias, nossos amigos, nosso lazer para o prazer de no fazer absolutamente nada!

    a petio pela fundao do movimento Slow Science. Acima de tudo, antes de decidir assinar a petio ou no!

    Tambm em 2010, circulou mundialmente na um manifesto

  • 237SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    Julian Blow e Anne D. Donaldson, neurocientistas e bilogos de Berlin, Alemanha.15 Neste manifesto, alm de argumentar a favor de mais tempo e menor velocidade

    criao de uma Academia que sediaria grupos de pesquisa e cientistas para desenvolver seus trabalhos com uma temporalidade diferenciada. Como podemos observar nos recortes abaixo, as formas de representao da temporalidade organizam tambm argumentativamente este texto.

    Society should give scientists , but more importantly, scientists must

    . [] We We do need time to digest. We

    , especially when fostering

    . [] . [] Following from the thoughts expressed in the manifesto above, we believethat

    and to pursue dialogue and faceto-face disputeshould be made available to

    maintain that science, as well as the society as a wholethat is funding our science, will

    (DisponvelemAcessoem 24 fev.2013).

    Estes dois apelos contemporneos deram lugar a numerosas publicaes de cientistas de diversas regies do planeta, que se solidarizaram politicamente com o

    publicaes.16

    Trata-se de um movimento que reconhece seus

    15 Disponvel em Acesso em 24 fev. 2013.

    16 Cf. SALO ; HEIKINNEN (2011), por exemplo.

  • 238 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    em dcadas anteriores, entre eles o artigo

    publicado na revista 4(18) em 1990 e o da bioqumica Lisa Alleva, publicado na

    443(271) em 2006.Trata-se de um movimento inspirado e explicitamente ligado aos movimentos

    17, , isto , a uma mobilizao mais abrangente, presente nas sociedades urbanas contemporneas, que denuncia a acelerao do ritmo de produo no capitalismo tardio (organizado a partir de processos produtivos como o e o

    , implementados graas s novas tecnologias de comunicao e globalizao da produo) e seus impactos nos processos de subjetivao.

    Uma primeira anlise das formas de representao da temporalidade nos recortes citados permite organizar as

    que destacam diferentes aspectos dos processos narrativos

    relacionamos a seguir, para os quais elencamos algumas das formas lingusticas presentes nos textos:

    Velocidade-ritmo:

    .Direcionalidade:

    .Aspectualidade (durao):

    17 Movimento surgido em Itlia na dcada de 1980.

  • 239SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    .Novidade:

    .Espacialidade:

    .Especialidade campos de saber:

    .Estas formas lingusticas se organizam em

    famlias parafrsticas a partir de duas posies-sujeito (nomeadas no corpus como e respectivamente) antagnicas, representadas no texto

    recorte seguinte, que mostra a circulao, no discurso

    dos enunciados surgidos no mbito mais restrito das

    Eixo velocidade-ritmo

    . Somos cientistas, no blogamos, no tuitamos, temos nosso tempo...

    . Agora, precisa de proteo[...] Aderir ao movimento

    , que conta muitos pontos nos sistemas de avaliao de

    Para Rogrio Meneghini (especialista em cientometria - medio da produtividade cientfica), o Slow Science um movimento

    de ideias e informaes . Parece uma reivindicao de

    um com uma . certamente a sensao de quem est

    , conclui (RIGHETTI, 2011).

  • 240 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    Eixo direcionalidadeIn many ways

    was common in the middle and later nineteenth century... (WILLIS, 2013).If slow science is of

    great deal more investigation) then (WILLIS, 2013)

    Considerando esta proliferao de marcas temporais, perguntamo-nos sobre os processos discursivos que as organizam: que processos narrativos estas representaes da

    imagens em relao s diversas reas de saber? Em primeiro lugar, observemos os efeitos nos

    enunciados de alguns elementos de saber j naturalizados na memria discursiva como pr-construdos e que sustentam os encadeamentos argumentativos das formulaes, nas quais aparecem na forma de nominalizaes:

    1 - (Existe uma) (este enunciado se inscreve no

    discurso da globalizao e do elogio s novas tecnologias de comunicao).

    2 - (Esse modo atual de circulao da informao) (por

    efeito de sustentao, a acelerao das prticas

    necessria do mundo interconectado atual).3 - (Existe uma)

    (novamente por efeito de sustentao, a partir deste elemento de pr-construdo, projeta-se nas formulaes uma relao de implicao: se as descobertas so mais rpidas, as publicaes devem acompanhar o ritmo).

    4 - (Concluso:) o mundo atual (e

  • 241SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    Voltaremos sobre estas articulaes argumentativas quando tratarmos dos processos de subjetivao, porm j podemos apontar as narrativas que elas retomam de diversas discursividades presentes como memria discursiva: a evolucionista (seleo dos mais fortes) e a

    pela projeo imaginria da temporalidade do modo de produo capitalista (maior produo no menor tempo). Opondo-se a esta narratividade hegemnica (h um progresso tecnolgico que acelera a circulao da informao, o que provoca o avano mais rpido das

    de publicizao do conhecimento produzido), encontramos

    1 - .

    2 - reproduzida,)

    .3 - (Ela est ameaada,) .4 - (Essa ameaa recente) .5 -

    para o mundo atual)

    .

    narrativas, importante destacar que ambas as posies em confronto compartilham um mesmo elemento de pr-construdo, interpretado positivamente ou negativamente conforme a posio-sujeito na qual se inscreve o autor do texto:

    Resistir retornara -

    scientific research, and scientific world,

  • 242 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    which was common in the middle and later nineteenth century.

    b - Parece uma reivindicao de um com uma

    Ainda mais relevante perceber que esse elemento de saber comum s duas posies projeta imaginariamente uma distino entre as diversas reas de conhecimento. Analisemos o recorte seguinte, que reproduz formulaes j citadas anteriormente:

    And it is to me that the slow science manifesto explicitly states the

    If slow science is a

    practices (and this needs a great deal more investigation), then

    (WILLIS, 2013)

    We , especially when fostering

    (NIEDUSZYNSKI; BLOW; DONALDSON, 2010).

    Observe-se como as formulaes esto articuladas argumentativamente a partir de um enunciado no-dito que se inscreve no texto por (PCHEUX,

    para a . Trata-

    de implicao entre tradio ou tempo passado e as

    No entanto, para que esse retrocesso tenha um valor positivo e seja legtimo no quadro das imagens

    sujeitos externos ao campo de saber das humanidades: neurocientistas e cientistas da informao assinam um

  • 243SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    manifesto que ser citado nos textos de divulgao

    (apagando-se, assim, toda meno ao abaixo-assinado do

    mesmo ano de 2010).

    Somos que luta

    seja revisto, disse o neurocientista

    criadores do Slow Science (RIGHETTI, 2011).

    The outcome of logic reasoning on the description above would be that slow science is favored by the

    But the paradox (always to be

    invented within the The concept of slow

    bibliometrics and thereby of the impact factor (SALO; HEIKKINEN, 2011) .

    Nesse sentido, note-se o modo de apresentao do

    ), textualizado a partir da funo-autor

    naturais experimentais como o modelo legitimado de

    ope s paradoxo para o fato de o movimento

    modernas e competitivas.Ainda em relao ao modo de circulao dos

    enunciados de e sobre o movimento no

    modo como as formas de representao da temporalidade

  • 244 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    se relacionam com o eixo semntico da . Reparemos no recorte seguinte:

    Quem encabea a ideia a organizao Slow Science, criada por

    (RIGHETTI, 2011).

    De acordo com Obleser (neurocientista), o nmero de cientistas simpatizantes do movimento est crescendo, (RIGHETTI, 2011).

    Se, por um lado, temos a representao de Alemanha como o espao-origem para a produo de um gesto de interpretao novo e legtimo em relao

    Latina como o principal espao para a importao das novidades produzidas na Europa. Esta distribuio imaginria das prticas de produo e de reproduo do conhecimento em diversos espaos territoriais representa o modo como os sentidos de e impostos pelo discurso da colonizao (ORLANDI, 1990; GUIMARES, 2004) ainda esto presentes nos discursos

    Alm de descrever essa espacializao imaginria

    recorte, colocar um outro questionamento.No estaria tambm presente, como efeito de pr-construdo nas formulaes, uma memria que representa imaginariamente a Amrica Latina como

    em comparao com os tempos europeus? Ou como o espao

    que no acompanha a corrida frentica dos tempos

    um movimento de desacelerao das prticas de produo e circulao do conhecimento? Que sentidos essas

    , na

  • 245SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    Macdonaldizao da universidade e subjetivao no cinismoNo incio deste trabalho nos interrogvamos sobre

    ) e o discurso do movimento nos processos de subjetivao-

    e so legitimados como cientistas18 nas sociedades contemporneas. Vamos observar um recorte que nos permite avanar nesta questo:

    What would the of a

    a slower science? And would there really be

    steps( BACON, 2009).

    The science community should do everything it can to change the publics perceptions and expectations about how science in general is done; and about

    (GARFIELD, 1990).

    Neste recorte encontramos presente, como efeito de pr-construdo, a metfora da corrida frentica (que somente ser ganha pelos melhores e mais fortes). Porm, estas formulaes se confrontam

    observar pelo uso das aspas para mencionar o trunfo na corrida (wintherace) e a ironia tambm metafrica na meno alta produtividade dos colegas

    . Encontramos, ainda, vestgios do discurso da produtividade

    que se estabelece nos textos entre a associao da falta

    movimento . justamente a imagem de

    18 Para sermos mais precisos diramos que nossa questo consiste em como os sujeitos ocupam o

    (ZOPPI FONTANA, 2002; 2003) de cientista e produzem sentido na contradio das posies-sujeito que atravessam esse lugar, determinadas por formaes discursivas antagnicas.

  • 246 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    cientista preguioso e medocre que, por efeito de pr-construdo, afeta o funcionamento das marcas de

    Slow science for the right reasons

    (BACON, 2009).

    Porm, mesmo negando , estas formulaes ainda so

    atravessadas pelos elementos de saber j estabilizados nessa formao discursiva, na qual a imagem ideal de

    progresso constante e projeo ao futuro. Que sujeito

    os cientistas no discurso do movimento

    are spoilt with . Though built historically on

    quite different aims, prerequisites and conditions

    to have fully embraced

    (SALO; HEIKKINEN, 2011)

    made more effective along with New Public

    seems that , and they start to treat other people in an instrumental way. Neoliberalism seems to increase also alienation, anxiety and depression (SALO; HEIKKINEN, 2011).

    sentidos do modelo neoliberal que organiza os processos de produo do capitalismo tardio. As universidades sofrem os efeitos de processos de restruturao impostos por gestos gerenciais que administram estrategicamente

  • 247SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    os espaos de produo e divulgao de conhecimento para aumentar exponencialmente a quantidade de produtos oferecidos em tempo recorde aos consumidores vidos por novidades. As universidades so assim administradas

    lgica do mercado editorial. justamente a este modelo

    autores do artigo citado (SALO; HIEKINNEN, 2011) denominam , chamando

    quelas instituies que abraaram e

    Como os autores apontam na sua aguda anlise, o

    instaura e naturaliza parecem estar produzindo no campo sujeitos

    cnicos, alienados, ansiosos e depressivos19.Gostaramos de analisar esse funcionamento a

    contemporneos desenvolvidas recentemente por Baldini

    sobre o cinismo enquanto forma de estruturao social e subjetiva na contemporaneidade na sua relao com o capitalismo ps-industrial. No seu trabalho, Baldini diferencia o cinismo da Idade Clssica das formas cnicas contemporneas:

    preciso separar o grego daquilo . O

    grego (semelhante carnavalizao

    discursiva alinhada pardia e que procurava

    cristalizados. Nesse sentido, o tem o carter de contestao de um poder que perdeu seu carter de legitimao, ou seja, uma prtica de linguagem tpica de situaes de anomia. [...] J a vai mais no sentido de uma impostura, como se passssemos, no nvel ideolgico, da clebre

    19 Prezado leitor, como

    qualquer semelhana desta anlise com pessoas e situaes reais

  • 248 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    formulao de Marx (eles no o sabem, mas o fazem) para um eles sabem muito bem o que esto fazendo, mas mesmo assim o fazem. Como diz

    leva em conta o interesse particular que est por trs da universalidade ideolgica, a distncia que h entre a mscara ideolgica e a realidade, mas ainda encontra razes para conservar a mscara. Esse cinismo no uma postura direta de imoralidade; mais parece a prpria moral posta a servio da imoralidade(BALDINI, 2012, p. 107).

    Assim, para Baldini, o funcionamento dos processos de subjetivao no cinismo da ordem de uma impostura, no no sentido de uma simulao ou trapaa consciente por parte do sujeito, mas entendida como uma

    discursiva na qual se constitui.

    Neste sentido, o cinismo no ps-ideolgico, como pretendem alguns, mas a ideologia em estado destilado, mesmo que no levemos as coisas a srio, mesmo que mantenhamos uma

    Assim, alm dos bons e maus sujeitos, e ainda dos

    de pertencimento de um sujeito formao discursiva: certo modo de relao com o saber,

    uma tomada de posio desengajada, ou de uma subjetivao assumida apenas para ser parodiada (BALDINI, 2012, p. 110-111).

    Ancorados nessa compreenso dos processos de subjetivao contemporneos, consideramos

    estar institucional em relao a certas novas prticas de

    para nossa anlise, a recente apario quase simultnea

  • 249SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    exemplo, CNPq e FAPESP), constitui um sintoma dos funcionamentos subjetivos que estudamos.

    Com efeito, a autoria uma das principais prticas alvo de regulao por esses manuais que

    o recorte que segue:

    5-Quando se submete um manuscrito para publicao contendo informaes, concluses ou dados que j foram disseminados de forma

    divulgado na internet), o autor deve indicar

    divulgao prvia da informao.6- Se os resultados de um estudo nico complexo podem ser apresentados como um todo coesivo, no considerado tico que eles sejam fragmentados em manuscritos individuais. 7- Para evitar qualquer caracterizao de autoplgio, o uso de textos e trabalhos anteriores do prprio autor deve ser assinalado, com as

    2011).

    2.2.4. Todo pesquisador que submeta a um veculo

    substancialmente semelhante, a trabalho tambm submetido a outro veculo, ou j publicado em outro veculo, deve declarar expressamente o fato ao editor do veculo no momento da submisso.2.2.5. Todo pesquisador que publicar trabalho

    semelhante, a trabalho j publicado deve mencionar expressa e destacadamente o fato no texto do trabalho (FAPESP, 2012).

    Esta aluso direta prtica de autoplgio e sua respectiva regulao tica por meio de normas de boa conduta e diretrizes de integridade na pesquisa so para ns um indcio dos efeitos do discurso da produtividade

  • 250 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

    apontados anteriormente. O sujeito, acuado no modo , sem

    espao nem tempo legitimados institucionalmente para

    pelo movimento , fragmenta e reproduz sua

    os postulados do modelo

    tomada de posio desengajada, ou de uma subjetivao assumida apenas para ser parodiada (BALDINI, 2012, p.111).Um processo de subjetivao no cinismo, no qual o

    para no sucumbir.

    trata de fazer a apologia a uma tica da malandragem nem de negar a necessidade de uma regulao tica da

    em toda sua complexidade, sem cairmos subjugados sob o canto de sereia das prticas de gesto empresarial

    na sua relao com a sociedade e o mercado, para

    numa abordagem banalizada que penaliza os indivduos,

    movimento reinvindicao de velhos cientistas que perderam as pernas para correr, negamos

    consideramos necessria e urgente uma discusso

  • 251SLOW SCIENCE: A TEMPORALIDADE DA CINCIA EM RITMO DE IMPACTO

    nossa foto pendurada na entrada de nossos laboratrios, emoldurada pelo sorriso do palhao feliz. Finalmente,

    .

  • 252 LEITURA MACEI, N.50, P. 223-257, JUL./DEZ. 2012

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