slide aniversário de recife

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Alô, cotovia! Aonde voaste, Por onde andaste, Que saudades me deixaste? Andei onde deu o vento. Onde foi meu pensamento Em sítios, que nunca viste, De um país que não existe . . . Voltei, te trouxe a alegria. Muito contas, cotovia! E que outras terras distantes Visitaste? Dize ao triste. Líbia ardente, Cítia fria, Europa, França, Bahia . . . E esqueceste Pernambuco, Distraída? Voei ao Recife, no Cais Pousei na Rua da Aurora. Aurora da minha vida que os anos não trazem mais Que os anos não trazem mais! Os anos não, nem os dias, Que isso cabe às cotovias. Meu bico é bem pequenino Para o bem que é deste mundo: Se enche com uma gota de água. Mas sei torcer o destino, Sei no espaço de um segundo Limpar o pesar mais fundo. Voei ao Recife, e dos longes Das distâncias, aonde alcança Só a asa da cotovia, Do mais remoto e perempto Dos teus dias de criança Te trouxe a extinta esperança, Trouxe a perdida alegria.

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— Alô, cotovia!Aonde voaste,Por onde andaste,Que saudades me deixaste?

— Andei onde deu o vento.Onde foi meu pensamentoEm sítios, que nunca viste,De um país que não existe . . .Voltei, te trouxe a alegria.

— Muito contas, cotovia!E que outras terras distantesVisitaste? Dize ao triste.

— Líbia ardente, Cítia fria,Europa, França, Bahia . . .

— E esqueceste Pernambuco, Distraída?— Voei ao Recife, no CaisPousei na Rua da Aurora.

— Aurora da minha vida que os anos não trazem mais

Que os anos não trazem mais!— Os anos não, nem os dias,Que isso cabe às cotovias.Meu bico é bem pequeninoPara o bem que é deste mundo:Se enche com uma gota de água.Mas sei torcer o destino,Sei no espaço de um segundoLimpar o pesar mais fundo.Voei ao Recife, e dos longesDas distâncias, aonde alcançaSó a asa da cotovia, — Do mais remoto e peremptoDos teus dias de criançaTe trouxe a extinta esperança,Trouxe a perdida alegria.

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Evocação do Recife – Manuel Bandeira

RecifeNão a Veneza americanaNão a Mauritsstad dos armadores das Índias OcidentaisNão o Recife dos MascatesNem mesmo o Recife que aprendi a amar depois — Recife das revoluções libertáriasMas o Recife sem história nem literaturaRecife sem mais nadaRecife da minha infânciaA rua da União onde eu brincava de chicote-queimado e partia as vidraças da casa de dona Aninha ViegasTotônio Rodrigues era muito velho e botava o pincenêna ponta do narizDepois do jantar as famílias tomavam a calçada com cadeirasmexericos namoros risadasA gente brincava no meio da ruaOs meninos gritavam:Coelho sai!Não sai!

A distância as vozes macias das meninas politonavam:Roseira dá-me uma rosaCraveiro dá-me um botão

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(Dessas rosas muita rosaTerá morrido em botão...)De repentenos longos da noiteum sinoUma pessoa grande dizia:Fogo em Santo Antônio!Outra contrariava: São José!Totônio Rodrigues achava sempre que era são José.Os homens punham o chapéu saíam fumandoE eu tinha raiva de ser menino porque não podia ir ver o fogo.

Rua da União...Como eram lindos os montes das ruas da minha infânciaRua do Sol(Tenho medo que hoje se chame de dr. Fulano de Tal)Atrás de casa ficava a Rua da Saudade......onde se ia fumar escondidoDo lado de lá era o cais da Rua da Aurora......onde se ia pescar escondido

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Capiberibe— CapiberibeLá longe o sertãozinho de CaxangáBanheiros de palhaUm dia eu vi uma moça nuinha no banhoFiquei parado o coração batendoEla se riuFoi o meu primeiro alumbramentoCheia! As cheias! Barro boi morto árvores destroços redemoinho sumiuE nos pegões da ponte do trem de ferroos caboclos destemidos em jangadas de bananeiras

NovenasCavalhadasE eu me deitei no colo da menina e ela começoua passar a mão nos meus cabelosCapiberibe— CapiberibeRua da União onde todas as tardes passava a preta das bananasCom o xale vistoso de pano da Costa

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E o vendedor de roletes de canaO de amendoimque se chamava midubim e não era torrado era cozidoMe lembro de todos os pregões:Ovos frescos e baratosDez ovos por uma patacaFoi há muito tempo...

A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livrosVinha da boca do povo na língua errada do povoLíngua certa do povoPorque ele é que fala gostoso o português do BrasilAo passo que nósO que fazemosÉ macaquearA sintaxe lusíadaA vida com uma porção de coisas que eu não entendia bemTerras que não sabia onde ficavamRecife...

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Rua da União...A casa de meu avô...Nunca pensei que ela acabasse!Tudo lá parecia impregnado de eternidadeRecife...Meu avô morto.Recife morto, Recife bom, Recife brasileirocomo a casa de meu avô.

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Recife – Manuel Bandeira

Há que tempo não te vejo!Não foi por querer, não pude.Nesse ponto a vida me foi madrasta,Recife.

Mas não houve dia em que não te sentisse dentro de mim:Nos ossos, nos olhos, nos ouvidos , no sangue, na carne,Recife.

Não como és hoje,Mas como eras na minha infância,Quando as crianças brincavam no meio da rua(Não havia ainda automóveis)E os adultos conversavam de cadeira nas calçadas(Continuavas província, Recife.)

Eras um Recife sem arranha-céus, sem comunistas,Sem Arrais, e com arroz,Muito arroz,De água e sal,Recife.

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Um Recife ainda do tempo em que o meu avô maternoAlforriava espontaneamenteA moça preta Tomásia, sua escrava,Que depois foi a nossa cozinheiraAté morrer,Recife.

Ainda existirá a velha casa senhorial do Monteiro?Meu sonho era acabar morando e morrendoNa velha casa do Monteiro.Já que não pode ser,Quero, na hora da morte, estar lúcidoPara te mandar a ti o meu último pensamento,Recife.

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Ah Recife, Recife, Nem os ossos nem o bustoQue me adianta um busto depois de eu morto?Depois de morto não me interesserá senão, se possível,Um cantinho no céu,"Se o não sonharam", como disse o meu querido João de Deus,Recife.

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RECIFE E SUA POESIA - Mercedes Pordeus

O Recife é uma cidade feliz Na poesia não se contradiz Pois vive diariamente com maestria Não importando se de noite ou de dia O Recife vive, ama e respira poesia.

Tantos poetas aqui suas vidas passaram Tantos poetas aqui fizeram suas históriasEm cada canto e recanto se eternizaram Cantaram em versos toda nossa históriaAssim, é uma cidade cantada em glórias.

História, lutas, batalhas e seu romantismo, Estão revelados com a poesia e altruísmo. O Recife é berço de revoluções libertárias Na ânsia de formar conquistas igualitárias O pernambucano deixa seu conformismo.

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Cidades, Estados, países, sem problemas? Aponte-me alguém um que não os possua Mas, ter um povo que saiba viver a tradição. Valorize o legado lhe deixado como prêmio Isso é de poucas, o privilégio na educação.

Esta se retrata de forma popular Muito espontânea em cada esquina Ah! Sabedoria popular que nos faz sonhar Sonhos que se dispersam e se diluem Escoando nas águas doces dos seus rios.

O Recife clama por poesia e ela sente a emoção Quando vivida nos corações externa a comoção Emoções na simplicidade e na forma de falar Do povo recifense, do povo pernambucano Que faz questão de mostrar que é humano.

As cidades interioranas também carregam na alma Com muita intensidade os versos que as acalmam Ali reina a poesia popular, romântica e cordelinaExpressão de um povo que mesmo sofrido Consegue a emoção de viver com adrenalina.

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Manuel Bandeira, Gilberto Freyre, Mauro Mota Ascenso Ferreira, Solano Trindade, dentre tantosdeixaram seus legados quer de uma forma popular, Social... E dignos são de receberem nosso tributo Na cultura e educação deixaram grande contributo.

A nossa literatura nada deixa a desejarE nem precisa de as outras se comparar Ela é singular, simples, rica e exemplar. Se aos nossos poetas passamos a dignificar.Vivendo no solo pernambucano a nos orgulhar.

As manifestações poéticas e literárias São formas de agradecimentos diários Para aqueles que nos engrandeceram No nosso interior, dentro do país e exterior.Assim temos o poeta consagrado e amador.