sistemas nacionais de avaliacao de informacoes educacionais

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121 A SISTEMAS NACIONAIS DE AVALIAÇÃO E DE INFORMAÇÕES EDUCACIONAIS de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Embora re- cente, estes sistemas já contam hoje com razoável grau de organização e sofisticação, tanto por sua abrangência como por sua diversificação. Para tanto, descrevem-se a estrutura dos sistemas e seus principais componentes – os censos escolares e as avaliações nacionais: o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Exame Nacional de Cursos (ENC), mais conhecido como “Pro- vão”. Por fim, tendo em vista a importância da dissemi- nação das informações, são apresentadas as bases com- plementares da informação, organizadas pelo Centro de Informações e Biblioteca em Educação (Cibec). A utilização dos indicadores e informações resultan- tes dos censos educacionais e das avaliações realizadas pelo Inep tem possibilitado a identificação de priorida- des, além de fornecer parâmetros mais precisos para a formulação e o monitoramento das políticas. O desenvolvimento de um eficiente sistema nacional de informações educacionais tem orientado a atuação do gover- no federal no que se refere à sua função supletiva, voltada para a superação das desigualdades regionais. Com os instru- mentos criados, o MEC pode estruturar programas destina- dos, especificamente, a suprir deficiências do sistema. Observadas em conjunto, as informações disponíveis permitem traçar um quadro abrangente da situação educa- cional do país e fornecer subsídios indispensáveis para o apro- MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO Professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp e Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais implementação de reformas educacionais em um país federativo, cujos sistemas de ensino caracte- rizam-se por extrema descentralização político- institucional como o Brasil, requer necessariamente a im- plantação de mecanismos de monitoramento e acompanha- mento das ações e políticas em curso por diferentes razões. Em primeiro lugar, estes instrumentos de gestão permi- tem observar como as reformas estão avançando e, mais importante, quais os acertos e correções em curso exigidos para sua real efetividade. Além disso, eles contribuem para assegurar a transparência das informações, cumprindo as- sim dois requisitos básicos da democracia: a ampla dissemi- nação dos resultados obtidos nos levantamentos e avaliações realizados; e a permanente prestação de contas à sociedade. Por fim, e não menos importante, os sistemas de avaliação e informação educacional cumprem um papel estratégico para o planejamento e desenho prospectivo de cenários, auxiliando enormemente a formulação de novas políticas e programas que possam responder às tendências de mudanças observa- das. Para cumprir estes múltiplos objetivos, os sistemas informacionais precisam estar assentados em bases de da- dos atualizadas e fidedignas, em instrumentos confiáveis de coleta, em metodologias uniformes e cientificamente emba- sadas, em mecanismos ágeis e concisos de divulgação. Este artigo discute os avanços e limites dos sistemas de avaliação e informação educacional, implantados a partir de 1995, sob a coordenação do Instituto Nacional Resumo: A estruturação de Sistemas Nacionais de Avaliação e de Informação cumpre papel estratégico no processo de implementação de reformas educacionais, em especial, em países cujos sistemas de ensino carac- terizam-se pela extrema descentralização político-institucional e heterogeneidade regional, como o caso do Brasil. Estes sistemas apresentam-se como ferramenta básica para o planejamento, monitoramento e acompa- nhamento das políticas públicas, subsidiando a tomada de decisões. Palavras-chave: informação e educação; ensino no Brasil; projeto educacional.

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SISTEMAS NACIONAIS DE AVALIAÇÃO E DE INFORMAÇÕES EDUCACIONAIS

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SISTEMAS NACIONAIS DE AVALIAÇÃOE DE INFORMAÇÕES EDUCACIONAIS

de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Embora re-cente, estes sistemas já contam hoje com razoável graude organização e sofisticação, tanto por sua abrangênciacomo por sua diversificação. Para tanto, descrevem-se aestrutura dos sistemas e seus principais componentes –os censos escolares e as avaliações nacionais: o SistemaNacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), oExame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o ExameNacional de Cursos (ENC), mais conhecido como “Pro-vão”. Por fim, tendo em vista a importância da dissemi-nação das informações, são apresentadas as bases com-plementares da informação, organizadas pelo Centro deInformações e Biblioteca em Educação (Cibec).

A utilização dos indicadores e informações resultan-tes dos censos educacionais e das avaliações realizadaspelo Inep tem possibilitado a identificação de priorida-des, além de fornecer parâmetros mais precisos para aformulação e o monitoramento das políticas.

O desenvolvimento de um eficiente sistema nacional deinformações educacionais tem orientado a atuação do gover-no federal no que se refere à sua função supletiva, voltadapara a superação das desigualdades regionais. Com os instru-mentos criados, o MEC pode estruturar programas destina-dos, especificamente, a suprir deficiências do sistema.

Observadas em conjunto, as informações disponíveispermitem traçar um quadro abrangente da situação educa-cional do país e fornecer subsídios indispensáveis para o apro-

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO

Professora do Departamento de Ciência Política da Unicamp e Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

implementação de reformas educacionais em umpaís federativo, cujos sistemas de ensino caracte-rizam-se por extrema descentralização político-

institucional como o Brasil, requer necessariamente a im-plantação de mecanismos de monitoramento e acompanha-mento das ações e políticas em curso por diferentes razões.

Em primeiro lugar, estes instrumentos de gestão permi-tem observar como as reformas estão avançando e, maisimportante, quais os acertos e correções em curso exigidospara sua real efetividade. Além disso, eles contribuem paraassegurar a transparência das informações, cumprindo as-sim dois requisitos básicos da democracia: a ampla dissemi-nação dos resultados obtidos nos levantamentos e avaliaçõesrealizados; e a permanente prestação de contas à sociedade.Por fim, e não menos importante, os sistemas de avaliação einformação educacional cumprem um papel estratégico parao planejamento e desenho prospectivo de cenários, auxiliandoenormemente a formulação de novas políticas e programasque possam responder às tendências de mudanças observa-das. Para cumprir estes múltiplos objetivos, os sistemasinformacionais precisam estar assentados em bases de da-dos atualizadas e fidedignas, em instrumentos confiáveis decoleta, em metodologias uniformes e cientificamente emba-sadas, em mecanismos ágeis e concisos de divulgação.

Este artigo discute os avanços e limites dos sistemasde avaliação e informação educacional, implantados apartir de 1995, sob a coordenação do Instituto Nacional

Resumo: A estruturação de Sistemas Nacionais de Avaliação e de Informação cumpre papel estratégico noprocesso de implementação de reformas educacionais, em especial, em países cujos sistemas de ensino carac-terizam-se pela extrema descentralização político-institucional e heterogeneidade regional, como o caso doBrasil. Estes sistemas apresentam-se como ferramenta básica para o planejamento, monitoramento e acompa-nhamento das políticas públicas, subsidiando a tomada de decisões.Palavras-chave: informação e educação; ensino no Brasil; projeto educacional.

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fundamento de análises e pesquisas críticas que possam en-riquecer o debate sobre os rumos da educação brasileira.

SISTEMA DE INFORMAÇÕES EDUCACIONAIS

A produção de dados e informações estatístico-educa-cionais de forma ágil e fidedigna, que retrate a realidadedo setor educacional, é o instrumento básico de avalia-ção, planejamento e auxílio ao processo decisório para oestabelecimento de políticas de melhoria da educação bra-sileira. É por meio dos censos educacionais que se buscagarantir a utilização da informação estatística neste pro-cesso, gerando os indicadores necessários ao acompanha-mento do setor educacional.

Os levantamentos abrangem todos os níveis e modali-dades de ensino, subdividindo-se em três pesquisas dis-tintas representadas pelo Censo Escolar, Censo do Ensi-no Superior e Levantamento sobre o Financiamento eGasto da Educação, além dos censos especiais, realiza-dos de forma não periódica, abrangendo temáticas espe-cíficas, como o caso do Censo do Professor.

Censo Escolar

O Censo Escolar, de âmbito nacional, realiza o levan-tamento de informações estatístico-educacionais relativasà Educação Básica, em seus diferentes níveis (educaçãoinfantil, ensino fundamental e ensino médio) e modalida-des (ensino regular, educação especial e educação de jo-vens e adultos).

O levantamento é feito junto a todos os estabelecimen-tos de ensino, das redes pública e particular, através dopreenchimento de questionário padronizado. Por intermé-dio do Censo Escolar, o Inep atualiza anualmente o Ca-dastro Nacional de Escolas e as informações referentes àmatrícula, ao movimento e ao rendimento dos alunos,incluindo dados sobre sexo, turnos, turmas, séries e pe-ríodos, condições físicas dos prédios escolares e equipa-mentos existentes, além de informações sobre o pessoaltécnico e administrativo e pessoal docente, por nível deatuação e grau de formação.

Este levantamento abrange um universo de cerca de52 milhões de alunos e 266 mil escolas públicas e priva-das, distribuídas em mais de 5.500 municípios. A coletados dados e o processamento das informações são opera-cionalizados pelas Secretarias Estaduais de Educação, soba coordenação-geral da Diretoria de Informações e Esta-tísticas Educacionais (Seec), do Inep.

O Censo Escolar gera, assim, um conjunto de infor-mações indispensáveis para a formulação, implementaçãoe monitoramento das políticas educacionais e avaliaçãodo desempenho dos sistemas de ensino.

Como toda pesquisa preocupada com a fidedignidadee validade dos seus resultados e dada a necessidade decumprir os prazos legais, o Censo Escolar apresenta umacomplexa sistemática de operacionalização, cuja viabili-dade só é possível pela parceria estabelecida entre o Inepe as Secretarias de Educação dos 26 estados e do DistritoFederal, além da cooperação da comunidade escolar, res-ponsável pelo preenchimento do questionário.

Entre as atividades permanentes realizadas para a exe-cução do levantamento anual, merecem registro o acom-panhamento das alterações do sistema educacional e aidentificação de demandas das Secretarias de Educaçãodas unidades da Federação, que podem gerar necessida-de de incorporação de variáveis ou a supressão de quesi-tos no formulário do Censo Escolar.

O acompanhamento das alterações do sistema educa-cional tem sido objeto de grande preocupação, dado quea nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional(LDB), de 20 de dezembro de 1996, além de conferir maiorautonomia aos sistemas de ensino, sobretudo no que serefere à forma de organização da educação básica, incenti-vou ainda práticas inovadoras que valorizam e favorecemo processo de aprendizagem, como a progressão continuadae parcial, os conceitos de classificação e reclassificaçãode alunos, a possibilidade de aceleração de aprendizagem,entre outros. Os reflexos deste novo dispositivo legal apre-sentam-se nas reformulações dos sistemas de ensino deestados e municípios que, a partir de 1997, promoveramalterações na oferta de ensino dos diferentes níveis emodalidades e na organização de suas redes.

O processo de implantação de novas propostas de or-ganização da educação básica mostra-se, no entanto, muitovariado, exigindo assim um acompanhamento que permitaverificar o impacto destas alterações e a necessidade demudanças nos instrumentos de coleta utilizados pelo CensoEscolar. Da mesma forma, torna-se fundamental a reali-zação de estudos que permitam um melhor detalhamentosobre as configurações adotadas em cada sistema de en-sino, tanto para a melhoria da qualidade da informação aser recebida quanto para maior aderência às necessidadesdos implementadores de políticas educacionais.

Por outro lado, a redefinição do papel e da forma deatuação do MEC enfatizou a necessidade de fortalecera área de produção e disseminação de estatísticas e in-

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formações educacionais na estrutura do ministério quese encontrava desprestigiada. Este objetivo inicia-se,em 1995, com a criação da Secretaria de Desenvolvi-mento, Inovação e Avaliação Educacional (Sediae) ese concretiza com a reestruturação do Inep que, em1997, transformou-se em autarquia federal, constituin-do-se em centro especializado em avaliação e informa-ção educacional.

O recente grau de eficiência e credibilidade alcançadopelo Inep na organização das informações e estatísticaseducacionais tem propiciado ampla utilização deste tipode ferramenta aos formuladores e executores de políticaseducacionais. De fato, os programas e projetos executa-dos por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimen-to do Ensino (FNDE) apóiam-se nos diagnósticos decor-rentes dos levantamentos estatísticos da educação básicae superior. Esta forte conexão entre o sistema de infor-mações e a gestão de políticas é mais perceptível nos pro-gramas que envolvem transferências intergovernamentaisde recursos.

O exemplo mais notório é o Fundo de Manutenção ede Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valo-rização do Magistério (Fundef), que movimentou, no exer-cício de 1999, cerca de R$ 14,2 bilhões, dos quais R$ 675milhões referentes à complementação da União. Confor-me disposto pela legislação instituidora deste fundo, adistribuição dos recursos, no âmbito de cada unidade daFederação, é feita com base na proporção do número dealunos matriculados anualmente nas escolas cadastradasdas respectivas redes de ensino, considerando-se para estefim os dados oficiais apurados pelo Censo Escolar.

Este mesmo critério de transparência foi adotado peloMEC como princípio orientador dos principais programasde apoio ao desenvolvimento do ensino fundamental –Merenda Escolar, Livro Didático e Dinheiro Direto naEscola. No seu conjunto, os programas e ações desenvol-vidos pelo FNDE envolveram, em 1999, recursos da or-dem de R$ 3,5 bilhões. Pode-se concluir, portanto, queas informações sobre a matrícula na educação básica pro-duzidas pelo Censo Escolar tiveram repercussão imedia-ta e direta sobre a distribuição de cerca de R$ 17,7 bi-lhões, no último exercício.

Censo do Ensino Superior

O Censo do Ensino Superior promove o levantamentode dados e informações estatístico-educacionais junto àsinstituições de ensino superior – universidades, centros

universitários, faculdades integradas e estabelecimentosisolados. A coleta abrange cerca de 1.100 instituições,2.700.000 alunos, 7.200 cursos e 827 mantenedoras.

O levantamento é realizado diretamente pelo Inep, sen-do que os dados apurados referem-se a número de matrí-culas e de concluintes, inscrições nos vestibulares, ingressopor curso e área de conhecimento, dados sobre os profes-sores – por titulação e regime de trabalho e sobre os fun-cionários técnico-administrativos, entre outros. Anualmen-te, com os resultados do Censo, é publicada a SinopseEstatística do Ensino Superior – Graduação. O instru-mento de coleta do Censo 2000 passou por uma rede-finição, adequando-se ao novo conceito de educação su-perior estabelecido pela LDB. O questionário foi ampliado,passando a abranger não só a graduação, mas também após-graduação. Todas as informações coletadas estarãovinculadas ao Sistema Integrado de Informações da Edu-cação Superior (SIEd-Sup), subsistema atualmente emdesenvolvimento e que será abordado no próximo item.

O Cadastro Nacional das Instituições de Ensino Supe-rior é atualizado com informações do Censo do EnsinoSuperior, do Diário Oficial da União, do Conselho Nacio-nal de Educação e Conselhos Estaduais de Educação.

Censos Especiais

Com o objetivo de aprimorar as informações disponí-veis sobre as diferentes modalidades de ensino e preen-cher as lacunas existentes, o Inep realiza levantamentosespeciais, sempre em parceria com as instituições públi-cas e organizações não-governamentais diretamente en-volvidas com as políticas públicas das respectivas áreas.

Em 1997, o Inep realizou o primeiro Censo do Profes-sor, em âmbito nacional, com um retorno expressivo, al-cançando mais de 90% dos professores das redes públicae particular de ensino básico.

Uma das razões pelas quais o MEC demandou a reali-zação desse levantamento foi a necessidade de dispor dedados sobre o salário dos professores – relacionado como nível de escolarização e com o tempo de exercício domagistério – para orientar a implantação do Fundef.

O Censo do Professor revelou um quadro de profun-das desigualdades regionais em relação tanto à qualifica-ção quanto aos níveis de remuneração dos professores,confirmando a necessidade de políticas que promovammelhor distribuição dos recursos e que garantam maioreqüidade na oferta do ensino público, objetivos que vêmsendo atendidos pelo Fundef. Além disso, a divulgação

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dos resultados permite à sociedade se informar sobre areal situação do magistério e participar da busca de alter-nativas para promover sua valorização.

Em 1999, foram realizados três censos especiais: oCenso da Educação Profissional; o Censo da EducaçãoEscolar Indígena; e o Censo da Educação Especial. Osresultados destas pesquisas, com divulgação prevista paraeste ano, deverão proporcionar um quadro de referênciamais preciso sobre a cobertura alcançada e as modalida-des de atendimento oferecidas, bem como sobre o con-junto de instituições que atuam nestes segmentos, forne-cendo, assim, subsídios para a revisão e o aperfeiçoamentodas políticas de expansão da oferta e melhoria do atendi-mento. A realização destes levantamentos especiais, aosquais será acrescido, neste ano, o Censo da Educação In-fantil, permitirá incorporar ao sistema de informaçõeseducacionais novas variáveis, completando o mapa daeducação brasileira.

Levantamentos sobre Financiamento eGasto da Educação

O levantamento de dados relativos aos recursos dispo-níveis e aplicados na educação abrange as três esferas degoverno e envolve o exame e o acompanhamento dos or-çamentos federal, estaduais e municipais, além dos repas-ses intergovernamentais e dos gastos efetivamente reali-zados. Trata-se de uma importante tarefa, que envolve,no entanto, grandes dificuldades operacionais.

De fato, a inexistência de um sistema adequado deexecução orçamentária e de consolidação das contas daadministração pública, principalmente no nível munici-pal, que permita a identificação dos programas de traba-lho e do elemento da despesa efetivamente realizada, bemcomo a origem do seu recurso, apresentou-se como a prin-cipal dificuldade para a realização dos levantamentos.Nesse sentido, o Inep deu especial atenção para o apri-moramento da metodologia de apuração e de estimaçãodas informações, em conjunto com o Ipea, o IBGE e aUnicamp. Como resultado, já se conseguiu produzir da-dos sobre gasto público para os exercícios de 1994, 1995,1996 e 1997.

SISTEMA INTEGRADO DE INFORMAÇÕESSOBRE O ENSINO SUPERIOR

O Sistema Integrado de Informações da Educação Su-perior (SIEd-Sup), em fase de implantação, foi concebi-

do para atender aos seguintes objetivos: criar uma baseúnica de dados e indicadores da educação superior; eli-minar sobreposição de competências e simplificar o pro-cesso de coleta de informações junto às instituições deensino superior; garantir maior transparência e facilitar oacesso da sociedade às informações sobre o perfil e odesempenho das instituições; subsidiar os processos deautorização e reconhecimento de cursos e de credencia-mento e recredenciamento das instituições; manter ban-co de dados atualizado e gerar informações que devemser apresentadas anualmente pelas instituições por meiodo Censo do Ensino Superior e Catálogo de Cursos.

Este novo sistema será coordenado pelo Inep e interli-gado em rede com a Secretaria de Ensino Superior (SESu),a Capes, o CNPq, o Conselho Nacional de Educação (CNE)e os Conselhos Estaduais de Educação, podendo no futu-ro ampliar a sua rede de parceiros, incorporando outrosprodutores de informações e avaliações de interesse.

Ao Inep cabe a execução da coleta e manutenção deinformações e tanto a SESu quanto o CNE e as institui-ções de ensino superior participarão da definição do quedeve ser coletado e divulgado, das políticas de acesso aosdados e de disseminação de informações.

AVALIAÇÕES EDUCACIONAIS

No campo das avaliações educacionais, podem serdestacados três grandes projetos: o Sistema Nacional deAvaliação da Educação Básica (Saeb); o Exame Nacio-nal de Cursos (ENC), mais conhecido como “Provão”; eo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por meiodestes instrumentos, o MEC assume a responsabilidadeatribuída pela LDB de “assegurar processo nacional deavaliação do rendimento escolar no ensino fundamental,médio e superior, em colaboração com os sistemas deensino, objetivando a definição de prioridades e a melhoriada qualidade do ensino” e de “assegurar processo nacio-nal de avaliação das instituições de educação superior, coma cooperação dos sistemas que tiverem responsabilidadesobre este nível de ensino”·.

Exame Nacional do Ensino Médio

O Enem, iniciativa mais recente entre os três projetosnacionais de avaliação, procura aferir o desenvolvimentodas competências e habilidades que se espera que o alunoapresente ao final da escolaridade básica. Oferece assimuma avaliação do desempenho individual, fornecendo

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parâmetros para o prosseguimento dos estudos ou paraingresso no mercado de trabalho.

Por isso, é um exame voluntário e seu público-alvo sãoos concluintes e egressos do ensino médio. A concepçãodo Enem está baseada nas orientações para a educaçãobásica estabelecidas pela LDB e, sobretudo, nas novasdiretrizes curriculares e nos parâmetros curriculares na-cionais do ensino médio. Portanto, é um instrumentobalizador e indutor da reforma deste nível de ensino quevem sendo implantada no país.

Em 1999, participaram do Enem mais de 315 mil alu-nos, representando cerca de 20% do total de concluintesdo ensino médio, o que significa um crescimento extraor-dinário em relação ao primeiro exame, realizado em 1998,que contou com pouco mais de 115 mil participantes. Esteaumento significativo está relacionado, sem dúvida, coma utilização dos resultados do exame por instituições deensino superior, como critério complementar ou substi-tutivo aos seus processos seletivos. Atualmente 101 uni-versidades brasileiras aceitam o Enem como um dos cri-térios de acesso ao ensino superior.

Exame Nacional de Cursos

Implantado em 1996, o Provão já avaliou 2.151 cursosem 13 áreas de graduação1 e tem estimulado um debate in-tenso sobre as deficiências do ensino superior no país, le-vando as instituições a investirem na qualificação do corpodocente e na melhoria das instalações físicas, buscando ele-var o padrão de qualidade dos cursos oferecidos. Este exa-me é obrigatório, por lei, para todos os estudantes que estãoconcluindo os cursos de graduação avaliados a cada ano. Em1999, foi estabelecida uma vinculação mais efetiva entre osistema de avaliação do ensino superior, do qual o “Provão”se constitui um importante instrumento, e os processos derenovação do reconhecimento dos cursos e de recreden-ciamento das instituições.

A partir da Portaria Ministerial no 755, de 11 de maiode 1999, 101 cursos das áreas de Administração, Direitoe Engenharia Civil que obtiveram conceitos baixos noProvão e na Avaliação das Condições de Oferta de Cur-sos de Graduação, conduzidas pela SESu, foram subme-tidos ao longo de 1999 a nova visita das Comissões deEspecialistas da SESu e, a partir de suas recomendações,o MEC encaminhou ao CNE pareceres sugerindo reno-vação do reconhecimento ou estabelecimento de prazopara o atendimento das exigências mínimas, sob pena defechamento.

Como contraface da decisão administrativa de subme-ter ao processo de renovação o reconhecimento dos cur-sos com baixo desempenho, o MEC abriu caminho para arenovação automática do reconhecimento dos cursos bemconceituados em três avaliações consecutivas. Caminha-se, assim, para a substituição de controles processuais eburocráticos por avaliações externas sistemáticas.

Quanto à divulgação dos resultados, além da classifi-cação de acordo com uma escala com cinco faixas de con-ceito (A, B, C, D e E), a partir de 1999, cada curso passoua receber a distribuição percentual das médias de seusalunos por faixa de desempenho. O novo formato revelanão apenas a evolução da média padronizada de cada cur-so, como vinha sendo feito, mas também o percentualdessa evolução em comparação com o desempenho obti-do no exame imediatamente anterior. Outra mudança re-fere-se à substituição dos conceitos pertinentes à titulaçãoacadêmica e à jornada de trabalho do corpo docente, poruma apresentação da distribuição percentual por catego-ria, em relação ao número total de professores do curso.

Diante de sua principal finalidade – produzir referên-cias objetivas para incentivar e orientar as instituições acorrigirem suas deficiências e a investirem na melhoriado ensino –, o MEC realizou seminários nacionais comcoordenadores de curso para discutir o impacto das ava-liações sobre os cursos de graduação. Promovidos emparceria com conselhos de classe, organizações profissio-nais, associações nacionais de ensino e representações dasinstituições de ensino superior, os seminários geraramconsensos como o fato de os resultados do Provão seremum instrumento importante para estimular e orientar amelhoria do ensino de graduação, principalmente no quediz respeito à atualização do currículo, reestruturação doprojeto pedagógico dos cursos, prática docente e condi-ções de oferta e de trabalho. O exame também está pro-vocando alterações nas formas de avaliação curricular dodesempenho dos alunos, com enfoque voltado para ashabilidades e competências adquiridas ao longo da traje-tória acadêmica.

SISTEMA NACIONAL DE AVALIAÇÃO DAEDUCAÇÃO BÁSICA

Iniciado em 1990, o Saeb foi estruturado no sentido deproduzir informações sobre o desempenho da educação bá-sica em todo o país, abrangendo as diferentes realidades dossistemas estaduais e municipais de ensino. Entre os princi-pais objetivos do Saeb, podem ser destacados:

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- monitorar a qualidade, a eqüidade e a efetividade do sis-tema de educação básica;

- oferecer às administrações públicas de educação infor-mações técnicas e gerenciais que lhes permitam formulare avaliar programas de melhoria da qualidade de ensino;

- proporcionar aos agentes educacionais e à sociedade umavisão clara e concreta dos resultados dos processos de ensi-no e das condições em que são desenvolvidos e obtidos.

A cada dois anos, são levantados dados que, alémde verificar o desempenho dos alunos, mediante apli-cação de testes de rendimento, investigam fatoressocioeconômicos e contextuais que interferem na apren-dizagem. Estes fatores aparecem agrupados em quatroáreas de observação: escola, gestão escolar, professore aluno.

Sua aplicação é feita em uma amostra nacional de alu-nos representativa do país e de cada uma das 27 unidadesda Federação.2 No primeiro ciclo do Saeb, em 1990, ade-riram 23 estados. Somente a partir de 1995, tornou-se defato um sistema nacional, passando a abranger os ensinosfundamental e médio, com a adesão de todos os estados etodas as redes de ensino – estaduais, municipais e parti-culares. A participação continua sendo voluntária, o querevela que os dirigentes dos sistemas de ensino reconhe-ceram a importância desta ferramenta para monitorar aspolíticas educacionais.

O Saeb procura aferir a proficiência do aluno, en-tendida como um conjunto de competências e habili-dades evidenciadas pelo rendimento apresentado nasdisciplinas avaliadas,3 abrangendo as três séries tradi-cionalmente associadas ao final de cada ciclo de esco-laridade: a 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e a 3ªsérie do ensino médio. Também são aplicados questio-nários em uma amostra de professores e diretores, obe-decendo ao mesmo critério estatístico que assegura arepresentatividade das redes de ensino de todos os es-tados e do Distrito Federal.

Para a avaliação dos alunos, utiliza-se uma grandequantidade de questões – cerca de 150 por série e disci-plina –, o que lhe confere maior validade curricular, poiscontempla uma amplitude maior de conteúdos e habili-dades, abrangendo grande parte daquilo que é propostonos currículos estaduais.

Desde a sua criação, as características gerais do Saeb,em termos tanto de objetivos quanto de estrutura e con-cepção, mantiveram-se constantes. No entanto, a partirde 1995, foram implementadas importantes mudanças

metodológicas, sobretudo com o objetivo de estabelecerescalas de proficiência por disciplina, englobando as trêsséries avaliadas, o que permite ordenar o desempenho dosalunos em um continuum. Isso é possibilitado pela apli-cação de itens comuns entre as séries e a transformaçãodas escalas de cada disciplina para a obtenção de umaescala comum.

O desempenho dos alunos, em cada uma das disciplinasavaliadas, é apresentado em uma escala de proficiência,que pode variar de 0 a 500 pontos. Cada disciplina temuma escala específica, não sendo comparáveis as escalasde diferentes disciplinas. A média de proficiência obtidapelos alunos de cada uma das três séries avaliadas indica,portanto, o lugar que ocupam na escala de cada discipli-na. A descrição dos níveis de proficiência nas escalasdemonstra o que os alunos efetivamente sabem e foramcapazes de fazer, isto é, o conhecimento, o nível de de-senvolvimento cognitivo e as habilidades instrumentaisadquiridas, na sua passagem pela escola. As escalas deproficiência mostram, portanto, uma síntese do desem-penho dos alunos e, ao serem apresentadas em uma esca-la única, torna-se possível comparar o desempenho dosalunos, tanto entre os diversos anos de levantamento quan-to entre as séries avaliadas.

Nesse sentido, pode-se comparar o que os parâmetrose os currículos oficiais propõem e aquilo que está sendoefetivamente desenvolvido em sala de aula. Ou seja, o Saebreleva a distância entre o currículo proposto e o currículoensinado.

Os resultados do Saeb constituem assim um preciososubsídio para orientar a implementação dos ParâmetrosCurriculares Nacionais (PCNs) do Ensino Fundamental eda reforma curricular do Ensino Médio, pois permitemidentificar as principais deficiências na aprendizagem dosalunos.

Uma das distorções que as novas diretrizes curricula-res pretendem eliminar é precisamente o caráter enciclo-pédico dos currículos, que tem afetado negativamente aaprendizagem dos alunos. As reformas desencadeadas peloMEC, consoantes com a nova LDB, induzem mudançasnos currículos propostos, de modo a reduzir a ênfase emconteúdos desnecessários para a formação geral na edu-cação básica e incentivar uma abordagem pedagógica maisvoltada para a solução de problemas e para o desenvolvi-mento das competências e habilidades gerais.

Os resultados do Saeb permitem ainda identificar asáreas e conteúdos nos quais os alunos apresentam maio-res deficiências de aprendizagem, orientando progra-

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mas de capacitação em serviço e formação continuadade professores. A utilização do Saeb como subsídio paraplanejar programas de capacitação docente vem sendofeita desde 1995. Por isso, tem sido fundamental a per-manente articulação entre o Inep e as equipes estaduaisdo Saeb, permitindo aos dirigentes das redes públicasdesenvolver um trabalho de formação continuada dos pro-fessores, com base nos resultados da avaliação da apren-dizagem verificados em cada unidade da Federação.

A DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕESEDUCACIONAIS

Com a finalidade de tornar as informações produzi-das acessíveis aos usuários, constituídos pelos diferen-tes atores da área educacional e pelos segmentos so-ciais interessados na questão, o Centro de Informaçõese Biblioteca em Educação (Cibec) passou por uma com-pleta reestruturação, transformando-se em núcleodifusor de informações educacionais, com ênfase naavaliação e estatísticas produzidas pelo próprio Inep eem informações gerais processadas por instituiçõesnacionais e internacionais. O sistema de informaçõesdo Cibec permite a disseminação virtual e local e apre-senta os produtos descritos a seguir.

Perfil Municipal da Educação Básica (PMBE)

O PMBE é um aplicativo que disponibiliza informa-ções sobre a situação socioeconômica e educacional bra-sileira. Desenvolvido em parceria com a Fundação Seade,reúne, em um único programa, dados educacionais pro-duzidos pelo Inep e dados estatísticos de diversas fontesoficiais, como o Ministério da Fazenda, a Fundação IBGE,a Fundação Seade, as Secretarias Estaduais da Fazenda eos Tribunais de Contas dos Estados.

O sistema dispõe de 252 variáveis sobre os 5.507 mu-nicípios instalados até 1996, dez regiões metropolitanas,os 26 estados e o Distrito Federal, as cinco grandes re-giões e o Território Nacional.

Programa de Legislação Educacional Integrada(ProLEI)

O ProLEI é um aplicativo que reúne toda a legislaçãofederal, indexando leis, medidas provisórias, decretos,portarias, resoluções, pareceres e instruções normativas,na área de políticas educacionais, publicadas a partir de

1996, após a aprovação da LDB. A legislação anterior àLDB também poderá, eventualmente, ser encontrada, des-de que esteja relacionada com as normas em vigor.

O ProLEI permite uma pesquisa fácil e rápida usandoa Internet. Desenvolvido pela Universidade Federal deSanta Maria (UFSM/RS), o ProLEI tem como principalcaracterística a possibilidade de relacionar ou correlacio-nar duas ou mais normas, através de links, identificandoa ligação entre as mesmas.

O Cibec conta ainda com outros produtos como a Bi-blioteca Virtual da Educação (BVE), que é um catálogocom links para mais de 1.600 sites educacionais brasilei-ros e estrangeiros selecionados na Internet, sobretudo osque se referem à avaliação e estatísticas educacionais; aBibliografia Brasileira de Educação (BBE), que reúne ar-tigos, estudos, ensaios e livros nos diferentes temas edu-cacionais, permitindo a realização de pesquisas por as-sunto, autor, título e ano; e o Thesaurus Brasileiro deEducação – Brased, que é uma ferramenta de linguagemdocumental, que utiliza vocabulário controlado e funcio-na como mecanismo de localização de documentos eindexação, podendo se constituir como ferramenta idealpara a organização de bibliotecas.

COMENTÁRIOS FINAIS

Esta descrição sumária dos principais projetos desen-volvidos pelo Inep permite concluir que, na década de 90,o Brasil realizou notáveis progressos na área de avalia-ção e produção de informação educacional. Como resul-tado desses esforços, promovidos com maior intensidadenos últimos cinco anos, o país conta hoje com um siste-ma moderno e eficiente de indicadores que possibilitamonitorar as políticas e diagnosticar com acuidade asdeficiências do ensino. O impacto das avaliações nacio-nais e levantamentos periódicos realizados pelo Inep pro-vocou mudanças que se refletem hoje na nova agenda dodebate educacional. A divulgação das informações con-tribui para qualificar a demanda, desencadeando uma di-nâmica de transformação na qual a sociedade torna-se oagente principal.

NOTAS

1. Administração, Direito, Engenharia Civil, Engenharia Química, Medicina Ve-terinária, Odontologia, Engenharia Elétrica, Jornalismo, Letras, Matemática,Economia, Engenharia Mecânica e Medicina.

2. O Saeb/97 contou com a participação de 167.196 alunos distribuídos em 5.659turmas de 1.993 escolas públicas e privadas. Também participaram da pesquisa

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13.267 professores e 2.302 diretores. Em 1999, o Saeb realizou o seu quintolevantamento nacional consecutivo – os anteriores foram em 1990, 1993, 1995 e1997. Participaram da amostra do Saeb/99 360.451 alunos, distribuídos em 7.011escolas públicas e privadas, sendo 133.143 da 4a série, 114.516 da 8a série doensino fundamental e 112.792 da 3a série do ensino médio. Em relação ao levan-tamento anterior, de 1997, houve, portanto, um crescimento de 115,6%. Estaexpansão da amostra teve como objetivo garantir maior confiabilidade na com-

paração do desempenho por estado e por rede de ensino. Também foram pesqui-sados 44.251 professores e 6.800 diretores de escolas.

3. O Saeb/99 incorporou novas disciplinas a serem avaliadas. Além de Português,Matemática e Ciências para os alunos da 4a e 8a séries do ensino fundamental, e dePortuguês, Matemática, Biologia, Física e Matemática, para os alunos da 3a série doensino médio, foram incluídas as disciplinas de Geografia e História.