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SISTEMAS MACRO E MICRO ECONOMIAS NA PROVÍNCIA DE NAMPULA SUAS RELAÇÕES COM A ECONOMIA FAMILIAR (Um subsídio para debate/reflexão) INTRODUÇÃO Fazer qualquer abordagem e estudo da economia da região norte do País, passa necessariamente por uma breve análise dos vários sistemas de produção que “pacificamente” convivem, sobretudo ao nível dos agregados familiares que habitam as zonas rurais, mas simultaneamente não se pode subestimar a influência da economia oriental que tem papel importante, na medida em que a ligação com o “hiterland”, como foi desenhada a política económica de Moçambique no antes independência, faz-se a partir do elo mais fraco da região Austral que é o Malawi, com fortes ligações com a Tanzania e Zambia, que por sua vez ligam-se com todo o mercado da África Oriental. No essencial o nosso objectivo não é o de fazer um estudo das interligações da economia da região norte com a economia oriental da África, mas sim introduzir alguns aditivos para uma melhor compreensão do sistema económico nacional e em particular da província que é vulnerável às economias periféricas, porquanto sem este entendimento corre-se o risco de fazer análises pela metade. A região norte do País, que tem o seu epicentro a província de Nampula possui um potencial produtivo, concorrente de forma significativa ao nível da economia nacional em bens primários agrícolas, e, infelizmente o seu aproveitamento em termos de valor acrescentado é muito pequeno, sendo dos poucos produtos a serem transformados na zona de produção o algodão e em menor escala a castanha de cajú e nos últimos anos apenas uma fábrica a transformar – Grupo Entreposto em Monapo. Em Moçambique o sistema de “economia de mercado” recentemente adoptado pelo Governo é novo e o aparelho do sector agrário ainda não está preparado para as suas tarefas 1 , tal como acontece noutros sectores. A falta de coordenação entre os diferentes actores dos vários sectores (agricultores empresariais, grupos associativos, ONG’s e programas do próprio Estado), conduz a uma certa anarquia não havendo responsabilidade de quem faz o quê, confundindo deste modo o pequeno e médio produtor criador da riqueza. A Economia Regional a norte de Moçambique ligada à África Oriental Moçambique por (in)felicidade histórica foi colonizado pelo elo mais fraco da Europa, Portugal, tendo como consequências as sub-economias criadas no “ultramar”, resultado em economias frágeis e dependentes das economias criadas pelas potências colonizadoras dos Países à volta de Moçambique (Malawi, ex-Rodésia – Zimbabwé, Africa-do-Sul e em certa medida Tanzania). Daí que as pequenas parcelas que constituem o actual País independente de hoje estejam muito ligadas ao “hinterland”, que tem igualmente as suas características diferenciadas, porquanto dependem da forma de colonização e da economia criada em cada um dos pequenos países. ________________________________________________________________________ Sistemas Macro e Micro Económicos de Nampula Jorge Tinga – Abril-Maio/00 1 Programa Agrícola de Nampula – PAN – Plano Anual para 1999

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SISTEMAS MACRO E MICRO ECONOMIAS NA PROVÍNCIA DE NAMPULA

SUAS RELAÇÕES COM A ECONOMIA FAMILIAR (Um subsídio para debate/reflexão)

INTRODUÇÃO Fazer qualquer abordagem e estudo da economia da região norte do País, passa necessariamente por uma breve análise dos vários sistemas de produção que “pacificamente” convivem, sobretudo ao nível dos agregados familiares que habitam as zonas rurais, mas simultaneamente não se pode subestimar a influência da economia oriental que tem papel importante, na medida em que a ligação com o “hiterland”, como foi desenhada a política económica de Moçambique no antes independência, faz-se a partir do elo mais fraco da região Austral que é o Malawi, com fortes ligações com a Tanzania e Zambia, que por sua vez ligam-se com todo o mercado da África Oriental. No essencial o nosso objectivo não é o de fazer um estudo das interligações da economia da região norte com a economia oriental da África, mas sim introduzir alguns aditivos para uma melhor compreensão do sistema económico nacional e em particular da província que é vulnerável às economias periféricas, porquanto sem este entendimento corre-se o risco de fazer análises pela metade. A região norte do País, que tem o seu epicentro a província de Nampula possui um potencial produtivo, concorrente de forma significativa ao nível da economia nacional em bens primários agrícolas, e, infelizmente o seu aproveitamento em termos de valor acrescentado é muito pequeno, sendo dos poucos produtos a serem transformados na zona de produção o algodão e em menor escala a castanha de cajú e nos últimos anos apenas uma fábrica a transformar – Grupo Entreposto em Monapo. Em Moçambique o sistema de “economia de mercado” recentemente adoptado pelo Governo é novo e o aparelho do sector agrário ainda não está preparado para as suas tarefas1, tal como acontece noutros sectores. A falta de coordenação entre os diferentes actores dos vários sectores (agricultores empresariais, grupos associativos, ONG’s e programas do próprio Estado), conduz a uma certa anarquia não havendo responsabilidade de quem faz o quê, confundindo deste modo o pequeno e médio produtor criador da riqueza.

A Economia Regional a norte de Moçambique ligada à África Oriental Moçambique por (in)felicidade histórica foi colonizado pelo elo mais fraco da Europa, Portugal, tendo como consequências as sub-economias criadas no “ultramar”, resultado em economias frágeis e dependentes das economias criadas pelas potências colonizadoras dos Países à volta de Moçambique (Malawi, ex-Rodésia – Zimbabwé, Africa-do-Sul e em certa medida Tanzania). Daí que as pequenas parcelas que constituem o actual País independente de hoje estejam muito ligadas ao “hinterland”, que tem igualmente as suas características diferenciadas, porquanto dependem da forma de colonização e da economia criada em cada um dos pequenos países.

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1 Programa Agrícola de Nampula – PAN – Plano Anual para 1999

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A região norte de Moçambique tem como fronteiras importantes uma parte do Zimbabué, o Malawi e a Tanzania, historicamente o Zimbabué tem muito pouca relação económica com o norte de Moçambique, pois as ligações estabelecidas já pela antiga Rodésia são via Sofala/Manica, actual corredor da Beira. Assim iremos nos debruçar ao de leve sobre o Malawi e Tanzania. O Malawi viveu desde sempre da monocultura do tabaco, um produto de mercado monopsónico, dependendo das províncias vizinhas de Moçambique: Tete, Nampula, Niassa e Zambézia, para a compra de alimentação básica, casos de milho branco e feijões, num sistema de comércio fronteiriço não regulado, mas com o beneplácito das autoridades distritais, uma vez que constitui a fonte de rendimento monetário rentável pela ausência da rede comercial nacional extensiva àqueles lugares. Além do que vem aqui referido é importante assinalar que os custos operacionais dos lojistas (comerciantes) nacionais localizados nas fronteiras são muito elevados quando levam os produtos tanto agrícolas quanto os industriais de e para as zonas urbanas provinciais, devido a factores diversos. A Tanzania apesar de não depender ou depender muito pouco do Niassa e de Cabo Delgado para a alimentação básica, o comércio fronteiriço da castanha de cajú de Nangade e outras regiões a norte de Cabo Delgado prosperou desde décadas passadas, para além das operações transitárias nos portos de Zanzibar e Dar-es-Salam, fruto das transações comerciais feitas dos produtos comerciados por operadores baseados no Malawi e alguns em Pemba (cabo Delgado) e Nampula. Pelas razões aqui evocadas a zona norte tem o seu mercado de produtos basicamente agrícolas virado para o oriente, exceptuando o algodão que é de mercado monopsónico, dominado por companhias com grandes interesses externos, incluindo as JVC’s com o Estado. Alguns dados recentes mostram que os bens de consumo industrializados na zona norte grande parte deles são importados de Hong-Kong, Taiwan, Índia e outros mercados orientais, enquanto o feijão boer, milho branco e alguns produtos agrícolas são exportados para o Malawi e depois reexportados para o mercado indiano e outros mercados orientais, havendo que assinalar que a castanha de cajú é comercializado e exportado para o mercado indiano directamente. Basta citar de exemplo que cerca de 150 tons de feijão boer exportado pelos malawianos foram comprados aos produtores de Nampula e Zambézia na campanha 98/99, enquanto cerca de 30.000 tons de milho branco da mesma campanha não tiveram mercado porque o Malawi tinha um superavit de milho branco, pelo que o moçambicano não tinha outra saída senão aquele mercado, porquanto o nacional não é competitivo com o sul-africano que entra para o sul e centro a custos mais baixos. O que pretendemos aqui fazer uma rápida visão é uma breve reflexão sobre as interligações entre os diferentes elementos, que constituem o sistema produtivo no seu todo da economia da província, seja do sector formal e/ou informal vis-à-vis a economia familiar, tendo em conta que o objectivo principal é a elevação da renda dos agregados familiares, como unidades básicas da economia nacional. I) A ECONOMIA FORMAL VERSUS ECONOMIA INFORMAL O que pretendemos no essencial nesta secção é fazer uma reflexão sobre o sistema financeiro formal, entretanto esta abordagem não é facilmente feita sem uma análise da economia formal no seu todo, o termo economia formal nesta nossa abordagem diz respeito ao sector agro-industrial, de serviços e comercial formalmente constituído em termos de reconhecimento jurídico-legal junto das instituições de controle financeiro e administrativo, cabendo as restantes actividades ao sistema não formalmente (des)regulado a designação de economia informal. Sistemas Macro e Micro Económicos de Nampula Jorge Tinga – Maio-Junho/00

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A questão de fundo que se coloca com relação ao formal versus informal é o critério de classificação das actividades, vários autores discutem de maneiras diferenciadas esta classificação, uns pelo número de trabalhadores envolvidos no processo produtivo, outros pelos aspectos de natureza legal sobre as actividades exercidas, enquanto os restantes pelo volume de negócios realizados durante um determinado ano económico-fiscal. Segundo Lubell (1991:17) citado por A. Ivala, a informalidade económica é definida como um caminho de fazer coisas, caracterizado por: a) fácil entrada, b) confiança nos recursos indígenas, c) propriedade familiar dos recursos, d) operação de pequena escala, e) trabalho intensivo e uma tecnologia adaptada, f) habilidades adquiridas fora do sistema escolar formal, e g) mercado não regulado e altamente competitivo. Sethuraman citado ainda por Lubell propõe uma definição mais ampla de: “unidades de pequena escala engajadas na produção e distribuição de mercadorias e serviços, com o objectivo de gerar auto-emprego aos seus participantes…”2 (o itálico é nosso). Em geral a actividade informal surge como alternativa não só à falta de emprego, mas e sobretudo ao aumento da renda familiar de um número considerável de agregados familiares vivendo na preferia das cidades. A título de exemplo a cidade de Nampula segundo dados oferecidos pelo estudo do A. Ivala 80% dos agregados familiares são suportados pelos rendimentos gerados pelo sector informal, entretanto há o paradoxo de que apenas 13% dos residentes da cidade de Nampula detém um emprego fixo, significando um diferencial que gera recursos em fontes não bem definidas e pouco claras. Será eventualmente o diferencial gerado pelo fluxo de circulação de mercadorias e bens, na relação entre a cidade e o campo, para entender as relações macro e macro-económicas vamos tentar buscar elementos de reflexão, a partir dos volumes comercializados e financiados pela banca e pelo sector para-bancário. I.1. Sistema Financeiro Formal Bancos Nome do Banco Área de Acção Valores Médios

Financiados 000 MT USD

BCM Comercial Banco Austral Comercial BSTM Comercial Banco Fomento (BFE) Agro-Industrial BCI Instituições para-bancárias Instituição Área de Acção Valores Financiados

Médios em 000 MT USD

CRER Comércio Informal e Rural 15,000,000.00 1,000 GAPI, SARL Investimento Básico AMODER Comercialização agrícola Visão Mundial Comercialização agrícola FFPI Investimento PME’s CARE Comercialização agrícola

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2 Ivala, A.Z.: Uma contribuição para o estudo do sector informal na cidade de Nampula – PLANCENTER, Ltd, Fev./99

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Ao nível dos financiamentos da GAPI, SARL, os investimentos na sua maioria concentram-se básicamente na zona sul do País (58%) dos créditos concedidos, a zona norte no seu todo (Cabo Delgado, Niassa, Nampula incluindo Zambézia) concentra 17% do cômputo geral dos créditos cedidos. Os valores médios cedidos para crédito oscilam em … USD. Para além da componente de crédito a GAPI, SARL desenvolve uma função social importante que é a formação do empresariado, sobretudo em matéria de gestão de negócios, neste sentido beneficiou Nampula em 17 cursos que envolveram 68 participantes dos quais 56% mulheres. (dados em recolha e tratamento…..) Companhias Seguradoras

Instituição Área de Acção Valores Financiados Médios em 000 MT

USD

EMOSE IMPAR I.2. Sistema Financeiro Informal Nesta secção pode-se analisar dois eixos: a) o que é apoiado pelas ONG’s, incluindo o xitique e b) o que é realizado por singulares, sendo este último de difícil controle utilizando uma taxa de usura muito alta. Um destes singulares por exemplo, conhecido na praça concede empréstimos entre 5.000 contos a 100 mil contos a uma taxa de juro mensal de 19%, o que é contraproducente, mas uma vez que os sistemas de garantia que exige são na maioria ao alcance dos seus clientes movimenta milhões de meticais por mês nesse sistema. A caixa das mulheres rurais (CMR) incentiva a poupança e crédito, enquanto o sistema xitike é muito utilizado por mulheres apoiadas pela CRER, num programa conhecido por ajuda mútua. Regra geral tanto a Caixa (CMR) quanto a CRER, as mulheres que utilizam estes fundos disponibilisados realizam negócios do sector informal compra e venda de produtos de primeira necessidade, incluindo confecção de refeições e financiamento à agricultura de produtos hortícolas. As perguntas que ficam por responder quando se aborda a questão do sector financeiro formal/informal são: a) qual será a propensão à poupança tendo em conta uma renda per capita média de USD 45,00 na zona norte do País? b) qual é o segmento da economia da província que é mais propensa à poupança? c) estará o sector formal de captação da poupança preparado para recolher a poupança dos vários actores, sobretudo do sector informal e dos camponeses, tendo em conta que os níveis e exigências estão fora do alcance destes? O estudo realizado por Oliveira Amimo3 com relação a esta matéria, quanto a nós dá uma parte da resposta, porquanto os modelos apresentados das teorias Keynesianas e neo-Keynesianas assentam em bases teóricas que a realidade contrasta-as, segundo este autor, a propensão à poupança das famílias rurais é uma função de nível de escolaridade, fonte de rendimentos ou grau de acesso ao dinheiro e nível de consumo num determinado período de tempo. As variáveis estudadas por Amimo para determinar o grau de influência e dependência para a propensão à poupança, incluem: o tamanho (nível) da receita, o (nr.) tamanho do agregado familiar, a idade do chefe do agregado familiar, o nível da educação (escolaridade) do chefe do AF, o género do AF e o rácio da dependência. As sugestões que o estudo nos oferece conduzem-nos para a teoria Keynesiana de que: ao nível dos AF (agregados familiares) no campo a propensão à poupança é determinada pela soma das receitas agrícolas e não agrícolas,4 o que em nosso entender explica

3 The potential for financial savings in rural Mozambican households: demand and supply side determinants – Thesis for MsC – The Ohio State University – 1999.

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44 Obra citada;

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parte da propensão marginal à poupança e das poupanças médias dos agregados residentes nas zonas rurais de Nampula, onde Amimo fez o seu estudo. Os níveis de poupança registados pela CRER5, de acordo com um estudo realizado recentemente (Abril/2000), indicam uma poupança média por agregado familiar (AF) de USD 8,00 ao ano no sector agrário e informal6, que representa 18% (17.8%) da renda per capita estimada para a região norte. Grupos de Poupança – quadro resumo até Março/00

Distrito Membros dos Grupos Saldos poupados (000 MT) % em

H M Total % M Caixa Banco Total Banco Angoche 71 165 236 69.9 13,265 10,605 23,870 44.4Malema 247 50 297 16.8 8,620 5,670 14,290 39.7Moma 125 102 227 44.9 9,854 9,172 19,025 48.2Murrupula 107 11 118 9.3 4,570 1,200 5,770 20.8Ribaué 140 27 167 16.2 3,505 6,575 10,080 65.2Mogovolas 202 33 235 14.0 6,520 7,100 13,620 52.1Mutuali 107 16 123 13.0 6,945 8,295 15,240 54.4Monapo 110 15 125 12.0 3,765 7,870 11,635 67.6

Total 1,109 419 1,528 27.4 57,044 56,487 113,530 49.8 Taxa de câmbio 1USD = 16000 MT Valor USD 3,565 3,530 7,096

Fonte: CRER - Março/007 Nota: A participação da mulher é de 27,4% neste grupo amostral. Como se mostra na tabela, num grupo amostral seleccionado, o valor mantido em banco é ligeiramente igual ao de caixa, por razões precaucionais, seja para fazer face ao mercado de bens que são fornecidos de forma esporádica pelo mercado, quanto pela ainda falta de confiança ao sistema bancário e para-bancário formal, pois este nem sempre ajusta-se às demandas em moeda fresca no momento em que ela é necessária ao seu utilizador, basta citar de exemplo que em Moma na caixa de depósito local, só se pode levantar dinheiro solicitado no dia anterior, porque ela depende de Angoche. Os dados da tabela mostram ainda, que as zonas de Malema e Murrupula, locais essencialmente trânsitos (para Niassa-Malawi e Zambézia), o nível de poupança em banco é inferior ao de caixa, isto explica-se pelo facto de serem locais de maior circulação monetária, em termos de que as transações comerciais realizadas nestas zonas são permanentes, pelo que os detentores de moeda necessitam de tê-la disponível a todo o momento. Os níveis de poupança realizados pelos grupos desta amostra, é em média 74,3 mil meticais/grupo, cerca de 4,64 USD/grupo, situa-se a 58% do nível de propensão média calculada na província das pessoas ligadas à agricultura e ao sector informal. Fazendo uma relação entre o poupado e os créditos disponibilizados pela CRER em todas as zonas arroladas são na ordem de 99,2 mil contos, correspondente a 6,197 USD cerca de 88% do nível de poupança. Um dos aspectos reclamados pelas associações/grupos é a elevada taxa de juro aplicada pela CRER (3% ao mês), porquanto segundo os potenciais utilizadores não compensa para a comercialização de produtos de mercado imperfeito tais como o milho e outros

5 CRER – Crédito Empresário Rural, programa financiado pelo Governo Holandês junto da CARE – Nampula. 6 Preliminar Results on the institutionalization of CRER – Manndorff, H.

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57 Relatório de Grupos de Poupança do projecto CRER – Março/00

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cereais em geral, sendo mais utilizado o crédito para a comercialização da castanha de cajú e uma ínfima parte para a cultura do algodão. Escusamo-nos de caminhar pela análise da propensão marginal à poupança, estudada por Amimo porque o objectivo desta secção é o de mostrar até que ponto as pessoas residentes tanto no campo como nas cidades utiliza os produtos bancários e não-bancários para financiarem as suas actividades e qual é o grau de confiança que depositam nesses serviços oferecidos. A conclusão primária que temos, embora de forma empírica é de que o grau de acesso é ainda muito limitado, predominando os sistemas internos tradicionais utilizados entre e intra-comunidades para a poupança e crédito. Trata-se de sistemas bastante fechados cujo o grau de penetração é limitado, a não ser que faça parte dessa comunidade para ter acesso à informação e conhecimento do seu funcionamento, parece-nos um campo aberto por explorar de forma a enriquecer os vários modelos comunitários de poupança e crédito, quiçá para melhorar os produtos bancários e para-bancários utilizados pelo sector formal, de forma a alargar o grau de cobertura às comunidades necessitadas. II) Sistema de Transporte Transporte de passageiros e carga Primeiro gostaríamos de mostrar de forma rápida alguns elementos, sobre as estradas que facilitam ou dificultam a circulação rodoviária, grande parte da rede viária da província está em recuperação, as ligações entre a capital da província e as sedes dos distritos algumas encontram-se operacionais, faltando algumas ligações no interior dos distritos de e para os postos administrativos, que são os pontos principais onde se localizam os produtos dos camponeses. A análise das infra-estruturas de acesso se nos afigura ser uma componente importante para entender a problemática de transportes seja urbano ou rural, incluindo as ligações por via ferroviária e fluvial no caso vertente o marítimo para as populações costeiras. Em cerca de 3,628 kms de estradas existentes na província e classificadas, apenas 1,274 kms são consideradas como de circulação boa ou razoável, que representam 14.2% do total, sendo o resto consideradas de circulação difícil, deficiente ou ainda intransitáveis porque más8. Este quadro tem as suas implicações ao nível da circulação viária e das ligações internas ao nível da província, o que tem seus efeitos directos e colaterais para os operadores de transporte na província. ………………………………(tabela)……….. Passageiros: Tal como acontece nos outros sectores em que o Estado deixou o sector privado tomar a “liderança”, o dos transportes apesar de ter uma dinâmica própria, enferma ainda de algumas mazelas das quais se destacam: i) a ineficiência face à grande demanda, ii) a falta de cumprimento das regras mínimas para a segurança dos utentes, e iii) não cobertura dos distritos da província ligados ao centro urbano principal. (dados quantitativos por tratar…) Carga A carga processada pelos portos e caminhos de ferro foi de 249,391 tons de mercadoria, de acordo com o PNB de 19989…… …………(dados quantitativos por tratar…)

8 The Province of Nampula: A socio-economic overview; prepared for CARE – Nicola Pontara

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69 Napica, citado por Pontara, N. em obra citada

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III) Operações das Concessionárias Algodão O sub-sector do algodão. É dos sub-sectores com uma tradicional ligação no desenvolvimento negócios entre o sector camponês de pequena e média escala ao nível do País. Muitas das JVC’s foram criadas há 7-10 anos com grandes extensões de terras e ao longo dos anos foram reduzindo de forma drástica as suas áreas, enquanto iam suportando a produção das famílias rurais residentes na periferia dessas áreas e ao sector de média escala do sector privado da produção do algodão. Infelizmente o apoio a esse sector de pequena e média escala resume-se à distribuição de semente de baixa qualidade e químicos cuja a sua qualidade é igualmente questionada e na última linha do processo a comercialização do algodão. Na prática não existe a assistência técnica requerida, apesar de as empresas argumentarem disponibilizar tal assistência, mas ela resume-se a visitas casuais para saber quando recolher a produção. As relações entre as companhias e os camponeses não são muito boas, devido à situação de monopólio nas áreas de produção, no que se refere aos insumos e ao mercado e por outro lado porque os camponeses nestas áreas continuam não muito bem organizados. De acordo com as estimativas a campanha agrícola 1997/98 o sector privado (JVC’s e outros) compraram do sector familiar 60.000 tons de algodão caroço: (em) i) Lomaco 21.000; ii) SODAN 17.000; iii) SAN 7.300; iv) CANAM 4.400; v) SAMO 3.700; vi) Ed. Pinto 2.400; vii) CNA 2.000; viii) AGRIMO 650; ix) PIR 500; x) Textáfrica 200; xi) Ibramugy 400; xii) SIR 50. As JVC’s e companhias privadas produziram as restantes 20.000 tons. Nampula é a província que está em primeiro lugar com uma produção média global de 36.000 Tons (60% do total), seguida de C. Delgado com 24.000 tons (40% do total). Existe neste sub-sector um sector privado emergente de média escala (Issufo Nurmomade em Nampula), produzindo já uma quantidade considerável de algodão, capaz de fazer frente às JVC’s. Em geral o sector familiar não supera uma produção média de 0.440 Kgs/ha, este rendimento por ha é dos mais baixos comparativamente aos nossos países vizinhos, que atingem valores médios de 1,5 a 2,5 tons/ha no sector familiar. A razão fundamental é não só a fraca qualidade da semente e dos produtos químicos utilizados, mas é sobretudo pelas práticas culturais utilizadas pelos camponeses (queimadas e outras), bem como pela falta de uma assistência técnica adequada aos camponeses. Empresas em Actividade na Província Nome da Empresa Distrito/área de Influência Volume 1998

(Tons) Valores 000 USD

SODAN Meconta/Monapo/Erati 17,000 SAMO Monapo/Meconta 3,700 CANAM Ribaué/Malema/Mecuburi/Lalaua 4,400 SAN Ribaué/Malema 7,300 ISSUFO NURMOM. Meconta/Monapo/Mecuburi S/i LOMACO * Mogovolas/Moma 21,000 • Os dados da Lomaco, incluem Montepuez, uma vez que não tivemos acesso aos dados só de

Nampula. OUTRAS CULTURAS

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7Sisal e Tabaco:

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A cultura do sisal na província de Nampula encontra-se em letargia, porquanto a crise internacional que abateu o sub-sector nos finais da década de 70, até agora ainda não se alterou, o mercado mundial continua a utilizar os produtos substitutos de sisal, enquanto o tabaco, apesar de o mercado mundial absorver grande parte da produção do tabaco, trata-se de uma cultura que teve pouca prática no seu fomento, uma vez que os Países vizinhos dominaram deste sempre esta cultura, bem como os seus mercados, encontra-se em (re)introdução em algumas zonas como os distritos de Ribaué e Malema pela Companhia João Ferreira dos Santos. Gergelim e Girassol O sub-sector das oleaginosas – O girassol e o gergelim são duas oleaginosas que estão em introdução e desenvolvimento no País, algumas ONG’s (CARE) e o sector privado vão promovendo a sua prática distribuindo semente aos camponeses, incluindo alguns comerciantes sobretudo estrangeiros que posteriormente compram a produção final para exportá-la para os Países vizinhos. A percepção que se tem é de que será uma cultura de alto rendimento comercial, tanto para fornecer ao sector industrial nacional, quanto para a sua exportação. Basta citar de exemplo que Nampula para além da Companhia Industrial de Monapo, possui um projecto já autorizado para a sua instalação de uma fábrica de processamento de girassol em Nacala (Companhia Irmãos Semedo, Ltd), enquanto com relação ao gergelim o mercado de exportação é muito favorável, sobretudo o sul-africano e da Europa, este último conhecido por mercado de produtos orgânicos e de comércio justo. IV) Comercialização Antes de fazer uma incursão pelo mundo da comercialização, no que se refere ao comércio rural, parece-nos útil clarificar alguns conceitos: i) mercado – local no qual compradores e vendedores de uma dada mercadoria confrontam-se para estabelecer o processo de compra e venda, determinando o respectivo preço e quantidade; ii) comerciante – todo aquele que realiza uma actividade de compra e venda como actividade especializada; iii) comerciante formal – aquele que está registado nos serviços do comércio, com alvará, licença, paga impostos, geralmente é retalhista ou grossista; iv) comerciante informal – aquele que está registado na administração local, não possui licença nem estabelecimento, geralmente possui uma banca no bazar, vende na rua, paga uma taxa determinada pela administração local e a lei considera a sua actividade como comércio precário10. Segundo o estudo recentemente realizado pela DNCI, as definições acima só tem sustentabilidade pela manutenção e persistência da ideologia colonial, porquanto a visão que se tem da rede comercial é baseada “em paradigmas de desenvolvimento derivados de teorias de crescimento e modernização, pois considera-se somente como comerciante que tem loja de pedra. As distinções formal-informal são em última instância as distinções antigas: colonizador/colonizado; civilizado/tradicional civilizado/indígena; privado/tradicional; comercial/camponês”11. (o itálico e sublinhado é nosso) Ironicamente os regulamentos de licenciamento da actividade comercial não distinguem o formal do informal, aparecendo algumas categorias tais como: comércio precário, negociante, etc. Segundo o BR n. 36 – 1a série de 15/09/98, as categorias arroladas são de vendedores das bancas dos mercados e comércio ambulante, por escusa ou por razões de outra natureza não aparece o termo informal, denotando-se um reconhecimento tácito de que todo o comércio é formal ou formalizado implicitamente.

10 Nota de Pesquisa da DNCI – O processo de reabilitação da rede comercial e o desenvolvimento dos mercados informais: Uma perspectiva sócio-económica, Março/00

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811 Idem.

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Sentimo-nos pois mais confortáveis em aceitar de uma forma geral, falar de comércio rural como sinónimo de comercialização, independentemente das várias designações oficiais ou locais, no sentido de que é comerciante todo aquele que se dedica à compra e venda de bens e serviços, socialmente reconhecido como exercendo aquela actividade como ocupação principal, por isso na abordagem que fazemos nesta secção tomamos de comerciantes grossistas e retalhistas como um todo e estabelecemos as ligações entre eles, tendo obviamente o cuidado de inseri-los no quadro geral da rede comercial existente na província. IV.1. A Rede Comercial, suas características e desenvolvimento. A rede comercial existente é perfeitamente adaptada às realidades actuais do País:rentabilidade de negócios, poder de compra das populações, administração pública, estradas e outras infra-estruturas. São características que permitem aos comerciantes sobreviver e responderem positivamente sob o seu ponto de vista à actuação dos outros actores tais como Estado, Governo e outros operadores comerciais dos países vizinhos12 (sublinhado e itálico nosso). A província de Nampula não está distante deste quadro apresentado pelo estudo da DNCI, para além de uma fragilidade notória dos actores comerciais das zonas rurais, a administração pública enferma do mal geral que grassa o sector, coadjuvado pelas infra-estruturas pouco adequadas para dar resposta às demandas da maioria dos necessitados. Quadro da distribuição das lojas na zona norte:

Comércio a Retalho Comércio a Grosso Província Operac. % Op. Total Operac. % Op. Total

C.Delgado 596 44.7 1,332 55 100 55 Niassa 134 24.9 539 19 59.4 32 Nampula 1,975 82.8 2,386 231 98.7 234 Zambézia 509 56.7 898 53 70.7 75 Sub-Total 3,214 5,155 358 396 Tot. Nacional 10,718 75.4 14,214 2,724 93.9 2,902 Fonte: Nota de Pesquisa da DNCI n. 12 Segundo dados da DNCI de 1999, tabela acima, Nampula possui uma rede comercial de 2,386 lojas a retalho, das quais 1975 estavam até aquela altura operacionais 82.8% e 234 lojas a grosso (armazenistas), estando funcionais 231 que corresponde a 98.7%. Em termos comparativos na zona norte é a província que tem a rede comercial a funcionar numa escala maior se considerarmos que Cabo Delgado tem a rede a funcionar em 45% e 55% respectivamente, enquanto Niassa tem 25% a retalho e 60% a grosso e Zambézia em 57% a retalho e 71% a grosso. Por outro lado Nampula tem um percentual maior que a nível nacional de lojas a retalho a funcionar 82% contra 75%, bem como no comércio a grosso 98% contra 94% a nível nacional. O quadro geral em termos de lojas funcionais não é desesperante para dar resposta às necessidades de fazer a comercialização adequada e uma cobertura à província. O maior obstáculo para uma comercialização abrangente coloca-se ao nível das vias de acesso e do sistema de administração existente que não encoraja a maior parte dos intervenientes comerciais a realizar de forma desejada as operações de compra e venda dos produtos agrícolas. De acordo com o estudo da DNCI que temos vindo a citar, o crescimento da rede comercial de Nampula em termos de lojas em funcionamento foi o maior verificado na zona norte de 1985 até 1999 teve mais 56 lojas a retalho e mais 149 lojas a grosso (armazenistas), enquanto Zambézia decresceu em –318 a retalho e mais 9 a grosso, Cabo Delgado decresceu em –49 a retalho e

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912 Idem

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cresceu em +5 a grosso e Niassa –151 a retalho e +1 a grosso. Estes dados dão uma imagem do potencial existente na província de Nampula para servir de entreposto comercial importante ao longo do corredor de Nacala, servindo as três províncias vizinhas. De acordo com os dados da DNCI a relação população/estabelecimento comercial em Nampula é de 414, enquanto a nível nacional é de 942, tendo em conta o funcionamento normal da rede comercial. A média actual de acordo com a rede em funcionamento a nível nacional a relação é de 1.1197 habitantes/loja, o que significa que tanto a nível nacional como em Nampula a necessidade não é de mais lojas, mas sim de melhores vias de acesso, manutenção e abastecimento melhorado, fornecendo melhores serviços à população e uma concorrência leal entre os operadores comerciais. IV.2. Operadores comerciais grossistas e retalhistas em Nampula (DPComércio – informações e dados…. Confirmar e confrontar – tabela da comercialização das últimas três campanhas, análise comparativa…..) Sub-sector da Castanha de Cajú Em termos históricos as exportações para Índia da castanha de cajú em bruto cresceram no período 1924 de 245 tons para 4,000 tons em 1928, para nos anos seguintes passarem de 11,000 tons em 1933 até atingirem 40,000 tons em 1937. No período 50 até à metade dos anos 60 (64) cresceram de 96,000 tons para 142,000 tons13, altura em que Portugal procura estabelecer algumas pequenas indústrias nas zonas da produção da matéria-prima, para permitir exportar com algum valor acrescentado. Na década de 70 Moçambique já possuía 11 fábricas de processamento da castanha de cajú com um total de capacidade instalada de 150,000 tons, espalhadas pelo País, empregando 17,000 trabalhadores e absorvendo 70% do mercado agregado de “output” (mercado da criação de valor acrescentado). Em termos práticos o que aconteceu é que 5 décadas depois, cerca de 60% da população rural em 1972 o sector comercializou 216,000 tons das quais 67,000 tons foram exportadas em bruto e as restantes foram processadas tendo produzido 30,000 tons de amêndoa para o mercado externo, nesse período as exportações do sector representaram 26% do total das exportações de Moçambique14. O período pós-independência apresenta-nos um quadro diferente, o decréscimo do sector atingiu as 18,000 tons em 1983, as razões deste declínio são várias e não cabem neste trabalho, por não ser o seu objectivo, nos últimos 4 anos as quantidades foram variando de 67 mil tons até 48 mil tons na última campanha 98/99. Vamos entretanto apresentar alguns dados de reflexão, de forma a podermos nos concentrar na problemática do sector ao nível da província de Nampula, o primeiro quadro é o sector da indústria, fábricas existentes na província. Fábricas existentes na província e seu estágio: Nome da Fábrica Local. Tecnologia Capacidade

Instalada (Tons) Proprietário Estágio

Actual C Cajú Monapo Monapo Mecânico 9,000 Entreposto N/Op C Cajú Nacala Nacala Mecânico 9,375 JVC N/Op CCajú Angoche Angoche Mecânico 4,000 JVC N/Op Inducajú Lumbo Manual 2,500 AGT N/Op Angocajú Angoche Mecânico 10,500 JVC N/Op Cajú de Geba Geba Manual 3,500 JFS Op. TOTAL 38,875 Fonte: Cash cropping in Mozambique – FSU.

13 Cash Cropping in Mozambique: Evolution and Prospects – Food Security Unit Technical Papers n. 2

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1014 Pereira Leite, citado por FSU.

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A capacidade instalada total da província é de aproximadamente 39 mil tons de processamento, mas a que está operacional com dificuldades imensas é de 3,500 tons de “output”, representando muito aquém de 1/3 da capacidade total instalada na província. Comparação das Quantidades por Província em Tons

Província Real % do Real % do Real % do Real % do 1995/96 Total 1996/97 Total 1997/98 Total 1998/99 Total

Cabo Delgado 2,087 0.03 990 0.02 1,554 0.03 1,450 0.03 Nampula 36,650 0.55 29,892 0.69 35,601 0.69 35,000 0.73 Zambézia 3,988 0.06 1,802 0.04 3,865 0.07 4,978 0.10 Sofala/Manica 4,592 0.07 151 0.00 119 0.00 61 0.00Inhambane 8,912 0.13 5,610 0.13 4,569 0.09 3,443 0.07 Gaza 10,231 0.15 4,819 0.11 5,966 0.12 3,000 0.06 Maputo 50 0.00 61 0.00 42 0.00 - -TOTAL 66,510 1.00 43,325 1.00 51,716 1.00 47,932 1.00 Fonte: Grupo de Trabalho do Cajú – Informação Estatística 98/99 A produção da castanha de cajú é essencialmente, em termos de maiores produtores, dos agregados familiares rurais dispersos, não havendo uma produção de média e grande dimensão de produtores comerciais no sub-sector da castanha de cajú, aproximadamente 95% do total da castanha em bruto produzida e comercializada no País e 40% da população rural do País tem acesso ao cajueiro, enquanto nas três maiores províncias produtoras da castanha de cajú, das quais Nampula é a principal, 80% das receitas familiares provêm da castanha de cajú; Os dados que aqui apresentamos indicam que Nampula contribui para a receita nacional de castanha de cajú em mais de 60% da produção global do País, e, facto importante a assinalar é que a região norte contribui em cerca de 80% da produção nacional da castanha de cajú, tendo atingido na última campanha a cifra de 73% da castanha produzida a nível nacional. Preços Praticados por Campanha (4 anos)

Campanha Quantid. Taxa Preço Preço Taxa de Pr/Exp Diferencial % Pr Tons Cambio Real MZM USD Inflação USD Ex-Pr(USD) Exp.

1995/1996 66,510 10,000 3,500 0.35 0.78 0.43 0.45 1996/1997 43,325 11,230 4,000 0.36 0.74 0.38 0.48 1997/1998 51,716 11,400 4,000 0.35 0.68 0.33 0.52 1998/1999 47,932 12,230 5,100 0.42 0.79 0.38 0.53Fonte: Grupo de Trabalho do Cajú - Informação Estatística 98/99 - construção do autor Com os dados acima podemos fazer algumas análises e delas retirar algumas conclusões importantes a saber: 1. O preço ao produtor da castanha de cajú em bruto em termos nominais foi melhorando de 45%

em 96 para 53% entre o preço ao produtor e o preço de exportação da castanha “in natura”, apesar do declínio da produção. Isto significa que o produtor gradualmente vai compartilhando a receita do mercado internacional com o exportador;

2. Apesar da partilha do produtor/apanhador o volume da castanha para a indústria nacional foi diminuindo de ano para ano devido à melhoria do preço internacional da exportação “in natura”.

Comercialização da Província de Nampula em USD

Campanha Quantid. Taxa Preço Preço Valor Tons Cambio Real MZM USD 1000 USD

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1995/1996 36,650 10,000 3,500 0.35 12,827.50 1996/1997 29,892 11,230 4,000 0.36 10,647.20 1997/1998 35,601 11,400 4,000 0.35 12,491.58 1998/1999 35,000 12,230 5,100 0.42 14,595.26 A tabela acima mostra-nos não só a produção da castanha de cajú de Nampula, mas os valores em USD criados pelo sector. De acordo com a informação estatística de 98/99 do Grupo de Trabalho do Cajú (GTC)15 em 1998 a contribuição do sector, em termos de peso relativo, foi de 16.32%, sendo o grosso da província de Nampula. Em termos da amêndoa exportada pelas companhias de Nampula em 1998 o panorama foi o seguinte: Empresa Quant. Exp. (Tons) % Qt. Exp. Valor USD ANGOCAJÚ 60.820 1.24 183.62 C.J.F. Santos 336.770 6.89 1,361.98 C.C. Nacala 613.720 12.56 2,321.96 C.C. Monapo 1,376.660 28.36 5,755.30 INDOCAJU 314.180 6.43 1,169.11 Sub-Total 2,702.15 55.48 10,791.97 Tot. Nacional 4,888.300 100 19,029.78 Fonte: Informação Estatistica 98/99 - GTC Em termos de quantidade exportada de amêndoa Nampula contribuiu com 55.5% do volume exportado a nível nacional e em termos de valor em USD representou 56.7% do valor nacional, o que em termos práticos significa que 43.3% é criado no resto do País. A proposta em relação ao sub-sector do cajú para a província de Nampula é não só potenciá-la através da substituição dos velhos cajueiros por novos (replantio) e tratamento fitossanitário para aumentar a produtividade por árvore, mas e sobretudo, criar unidades satélites de transformação primária da castanha em bruto de forma a poder ser exportada com valor acrescentado. Estas unidades poderiam ser alocadas às comunidades organizadas sob diversas formas, ou a pequenos proprietários, que iriam colocar o seu produto nas unidades grandes/médias, que fariam o processamento final e exportar a amêndoa a custos mais reduzidos, num processo de economias de escala. Pescado – Peixe Fresco e Peixe Seco …………IDPPE………….. (Angoche e Moma) ………….dados do inquérito………….. IV.3. ASSOCIAÇÕES DE CAMPONESES ALGUMAS EXPERIÊNCIAS Associação 1o de Maio – Ribaué

• Funciona há 2 anos, desde 1997, possui neste momento 54 membros, dos quais 37 homens e 17 mulheres (46%), a área média por associado é de 1 ha.

• Serviços que oferece aos associados: a) facilitar créditos de insumos (sementes,

tratamentos fitossanitários para o algodão e milho), b) informação do mercado, e c) intermediação para venda dos produtos dos associados.

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1215 Informação Estatística – Dados finais de 1998, panorama da campanha 1998/99

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• Culturas praticadas: algodão, milho, mandioca, tabaco, mapira e outras culturas

alimentares.

• Actividades complementares: pequeno estabelecimento de venda de produtos da primeira necessidade (açúcar, sabão, petróleo de iluminação, e diversos produtos alimentares e não alimentares – adubos e outros insumos).

• Experiência positiva na campanha agrícola 97/98: armazenagem de 10 tons de

milho para a venda posterior na altura do melhor preço do mercado, crédito sobre stocks – usando crédito interno dos produtores, quer dizer os produtores/associados deram crédito à associação (pequena empresa rural).

Apesar desta experiência positiva, que permitiu à associação obter melhor preço, cerca de 12%, os constrangimentos continuam, mesmo com o apoio que têm recebido de uma ONG a CLUSA (Co-operative League of the USA) no processo da sua estruturação e treinamento para realizar o seu negócio e de um programa de semente melhorada SG 2000. As maiores limitantes são: 1. A empresa fomentadora do tabaco JFS, não honra os seus compromissos o preço do tabaco

por kg mantém uniforme em 11.000,00 Mt, quando no início da campanha prometera pagar de acordo com a qualidade

2. Os compradores do milho pagam um preço muito baixo 1.000,00 Mt/kg ou inferior, aproveitando-se do facto de a maior parte dos camponeses estarem descapitalizados e necessitarem de dinheiro logo no fim da colheita;

3. O Estado e outros agentes não disponibilizam a semente de milho, obrigando os camponeses a utilizarem semente de fraca qualidade (selecção do grão produzido na campanha como semente da época seguinte), reduzindo assim os rendimentos por ha de ano para ano;

4. Apesar dos esforços realizados não têm tido apoio na obtenção do crédito de campanha pelas entidades bancárias e para-bancárias, porque não possuem garantias reais, pois a terra não serve como garantia real;

5. Necessita de fazer mais acções em apoio às actividades da mulher e já iniciou algumas actividades micro-financeiras específicas para a mulher.

Associação Tui – Malema

• Tem 45 membros dos quais 2 são mulheres (4.4%), desde 1997 (2 anos) e um (GM) Grupo de Mulheres com 15 membros que se dedica à venda dos produtos agrícolas. A área média por cada membro da associação é de 1,5 ha, cultivando milho, feijão boer, algodão e mapira.

• Serviços que oferece aos membros: facilitar a negociação com as empresas,

comercialização dos produtos agrícolas dos associados, levantamento e distribuição de insumos.

• Outras actividades não agrárias: repovoamento pecuário (criação do gado caprino).

Apesar da tendência de melhoria do preço do milho (1.000,00 Mt/kg para 1.300,00 Mt/kg) ainda há muitas limitantes tais como: 1. Não tem fonte de aquisição da semente do milho, apenas recebe da empresa JFS a semente

do algodão; 2. Não conseguem obter crédito bancário de campanha para quaisquer operações culturais; 3. O movimento associativo para eles é novo e têm ainda problemas de coesão dos membros

para realizarem objectivos comuns;

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4. A ausência completa da rede comercial na zona faz com que não tenham grandes vantagens nas suas actividades, porque são obrigados a gastar grandes montantes para pagar transporte para chegar à zona mais próxima que tenha estabelecimento comercial.

Associação Nagonha – Monapo

• Existe há 2 anos, contando actualmente com 108 membros dos quais 4 mulheres (3.7%), com uma área por associado variável entre 0,5 ha e 4 ha para as áreas do algodão, cultivando os seus membros o algodão, feijões, milho, gergelim, girassol, para além da mandioca para o seu consumo. Presentes no encontro 29 membros dos quais 24 homens e 5 mulheres (gestores do grupo);

• Serviços que oferece: intermediação nos créditos em insumos com as empresas

fomentadoras do algodão, comercialização da produção dos associados, e formação e treinamento na componente de gestão com apoio da CLUSA;

• Razões porque se organizaram em associação: a) ouviram falar de experiências

positivas de outras comunidades, b) procura do melhor preço do algodão na companhia SODAM (JVC), c) venda da castanha do cajú à companhia do Grupo Entreposto Comercial, d) aproveitar o sistema de armazenagem colectiva e venda colectiva dos produtos, sem gastar tempo na procura do comprador e e) aproveitar a distribuição de insumos agrícolas na associação (sementes do algodão e outras e produtos agro-químicos).

Constrangimentos que a Associação enfrenta: • - O preço do algodão de ano para ano tende a ser menor, enquanto o dos insumos agrícolas

tende a ser cada vez maior (pesticidas, etc.), pelo que os esforços realizados pelos camponeses não estão a ser compensados;

• - A compra a prazo feita pelas companhias algodoeiras, quer dizer os produtores fornecem o algodão e só recebem 2 a 3 meses depois o valor da venda, é um factor negativo do qual o Estado não intervém e os camponeses ficam cada vez mais prejudicados;

• - Os compradores dos cereais (milho) determinam preços e são cada vez mais reduzidos, devido aos elevados custos de transporte;

• Não são beneficiados pelo serviço de extensão agrária do Estado (SPER) . Aspectos positivos a capitalizar nesta experiência associativa: • Intercâmbio entre os produtores na troca de semente entre eles; • Gestão colectiva que permitiu funcionar com o crédito de campanha de castanha de cajú, com

a empresa do grupo Entreposto, mesmo com a aplicação do juro, desde que seja acordado. Associação Senhote – distrito de Monapo (Itoculo). • Total dos membros 37 dos quais 15 mulheres (40.5%), funciona desde 1997, com apoio da

CLUSA, de um programa dos SPFFB, financiado pela FAO, na componente florestas para a gestão dos recursos naturais sustentáveis renováveis, bem como no fornecimento de semente de hortícolas e a CARE que fornece semente de oleaginosas (gergelim e girassol).

• As culturas praticadas pelos seus membros são: o milho, amendoim, feijões, mandioca,

girassol e gergelim, que colocam parte da sua produção no mercado de forma individual; • Serviços oferecidos pela associação aos membros: corte colectiva de madeira, lenha e

extracção do carvão e posterior venda organizada desses produtos.

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Problemas específicos desta comunidade: • Trata-se de uma área pouco produtiva, devido à fragilidade dos seus solos arenosos, por isso

os produtos complementares à produção alimentar é a extracção e venda de produtos florestais;

• Apesar de existir uma certa poupança em dinheiro ela é consumida na aquisição de alimentos

nos períodos de escassez (Novembro a Fevereiro), normalmente ao dobro do preço do que vendem no período da comercialização;

• As experiências de stocagem (armazenagem) dos cereais para fazer face aos períodos de

escassez, gestão dos cereais pós-colheita, não são muito difundidas, as que foram realizadas deram poucos resultados, por falta de técnicas apropriadas e tratamento dos produtos (fumigação);

Na maioria dos programas em curso na comunidade, financiadas pelas ONG’s, visa, fundamentalmente capitalizar a associação para ser capaz de suprir o déficit alimentar da região. Esse processo é feito através do treinamento na componente de gestão (apoio institucional) e na cedência de pequenos fundos na forma de espécie ou instrumentos de trabalho. Zonas de Murrupula, Mogovolas e Moma Entrevistadas 3 comunidades (1 por distrito), os encontros duraram 4 horas cada, num total de cerca de 12 horas de entrevistas e diálogo com as comunidades, a maioria destas organizações possuem entre 20 a 40 membros, dos quais mais de 50% são homens, ocupando papel marginal a mulher, na medida em que o sistema de organização básica familiar é de que a mulher apesar de estar envolvida na produção dos bens agrícolas monetarizáveis, ela não entra no sistema de gestão dos recursos financeiros gerados pela família senão o homem, o breve resumo que abaixo apresentamos é síntese desse trabalho. Na maioria dos grupos associados juntaram-se para poder fazer face ao mercado, porque a comercialização da sua produção de forma individual era muito difícil, muitos não conseguiam preços bons e alguns comerciantes trocavam com eles em produtos como capulanas e outros bens industriais, muitas vezes com termos de troca pouco favoráveis. A formação dos grupos associativos para comercializar veio alterar substancialmente os termos de troca, porque muitos intervenientes comerciais, conseguem ter grande quantidade de produtos, uma vez que as associações prestam o serviço de concentrar a produção num único sítio, facilitando deste modo a negociação e o melhor preço do mercado. Os rendimentos financeiros acumulados conseguidos nas duas campanhas (96/97 e 97/98) anteriores variam entre USD 3.200 a USD 3.500 por grupo o que equivale a USD 107 a USD 117 por família que está associada, tendo em conta que cada agregado familiar (AF) corresponde a 1 membro do grupo, numa média de 30 membros por associação. É uma capitalização que de forma gradual pode permitir que as famílias elevem o seu nível de rendimentos. IV.4. A contribuição do Associativismo A par de um ambiente favorável às oportunidades do mercado e das políticas agrárias (des)favoráveis, sugerimos um modelo triangular onde temos uma ligação estreita entre o sector agrícola comercial que tem uma ligação directa com o mercado, o pequeno produtor organizado em OA’s (organização de Agricultores) e o sector financeiro especializado para o sector agrário, com linhas especiais de financiamento à agricultura, entretanto convém antes observar que: Sistemas Macro e Micro Económicos de Nampula Jorge Tinga – Maio-Junho/00

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• O sector agrícola é de alto risco porque muito dependente de factores climáticos, o que significa uma grande possibilidade do crop failure,nas condições de um único produto;

• Ao nível do produtor individual um crédito por fomento das empresas que tem mercado para o produto, enfrentam o risco do side selling, pois depois da colheita pode vender a quem lhe pagar o melhor preço não a quem lhe cedeu crédito de campanha por espécie;

• Grande parte dos camponeses de baixa renda cultivam produtos de sequeiro, cujo o período de colheita “harvest time” é o mesmo para todas as culturas que praticam, o que significa uma renda mínima concentrada apenas num único momento.

Para minimizar todos estes riscos requer uma acção combinada de todos os intervenientes no processo, onde cada um possa compartilhar o risco, deste modo pode-se construir uma função de minimização que possibilite reduzir o nível do risco, para o efeito é preciso que todos tenham interesse comercial nas culturas e sejam as que têm mercado, pelo que deve-se seleccionar as culturas de rendimento – cash crop, combinadas com as alimentares num sistema de cultivo em bloco ou consorciadas. A função de minimização do risco 1, que é o crop failure seria: f(cf) = c1+c2+c3, onde c1 é a cultura de maior rendimento, c2 e c3 culturas de rendimento médio e todas que se realizam no mesmo período e de forma consorciada. Para a minimização do risco 2, side selling seria: f(ss) = pi(FO), ou seja os produtores individuais (pi) estão integrados numa determinada organização de camponeses “Organização de Agricultores”,onde teriam todo o controle, incluindo uma selecção “screening” dos que não devem integrar-se no processo de crédito em espécie – internal screening of the groups. Quanto ao risco 3, concentração de culturas num único harvest time: f(ht) = (3ch1), (1ch2), (1ch3)…(nchv), onde o tempo de colheita 1 ou seja ch1, teria o maior volume de culturas de rendimento a colher e nos períodos subsequentes que são tempos de colheitas diferentes do 1 teria poucas culturas 1 ou 2 culturas dependendo das condições climáticas e do solo. Como tornar exequível esta estratégia de fomento e crédito, para interessar o sector comercial e financeiro? Há muito cepticismo e desconfiança quando se fala do camponês em quase todos os sectores: bancário e empresarial de média e grande dimensão. Temos algumas sugestões por partilhar e julgamos factíveis, tendo em conta que as organizações de camponeses irão desempenhar papel importante na implementação da estratégia, incluindo na prestação de serviços aos produtores e às empresas, num processo de economias de escala. Três actores no triângulo são importantes no modelo: a organização de camponeses FO’s, a empresa (empresa comercial ou agrícola) e o sector financeiro (banco ou empresa de intermediação financeira). Cada interveniente tem papel importante a desempenhar no processo em prol do produtor individual, assim teríamos os seguintes papeis: • OC – Organização de Camponeses : • Organização dos produtores individuais, prestando-lhes serviços de extensão, incluindo a

distribuição dos factores de produção e divulgação das mensagens sobre a sua utilização, através do camponês de contacto;

• Assistência técnica e de assessoria aos produtores individuais na divulgação das técnicas e tecnologias de preparação da terra e sementeira, bem como no tratamento e colheita;

• Identificação do mercado, selecção, pesagem e venda da produção na altura da comercialização;

• Controle do crédito individual e sua canalização ao intermediário financeiro para a liquidação das dívidas dos produtores. No início da campanha cada produtor individual assina um contrato com a associação e apresenta uma comparticipação mínima de 10% a 15%, de acordo com o volume do crédito e natureza da cultura a praticar;

• Realização de programas de pós colheita para produtos alimentares, através de um sistema de armazenagem colectiva, ou no sistema do “inventory credit”. Este processo é garante da alimentação aos membros e à comunidade em redor da organização de camponeses e suas famílias, nos períodos ciclos de escassez alimentar;

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• Para além das tarefas directamente ligadas à produção, muitas destas organizações (associações) tem papel importante no restabelecimento e/ou alargamento da rede comercial rural, uma vez que o sector formal é ineficaz.

• Sector Empresarial (trading or comercial farmer): • Fomento das culturas de alto rendimento com mercado assegurado, seja para o mercado

interno ou internacional; • Canalização de insumos na forma de crédito à organização de camponeses com um contrato

de futuro, para a compra imediata do produto e respectivos descontos, incluindo a aplicação de juros devidos – forward contrat;

• Captação dos fundos do sistema financeiro para aplicá-los no processo produtivo agrícola, disponibilizando-os a uma faixa populacional muito ampla, permitindo uma circulação fiduciária da moeda muito grande;

• Assistência técnica concentrada a poucos grupos (leaders contact farmers), mas com um nível de abrangência muito ampla, uma vez que as mensagens serão replicadas em cada organização de camponeses para um maior número de beneficiários;

• Pesquisa do mercado para a garantia da colocação do produto final e criação de condições para o escoamento concentrado da produção das organizações de camponeses (OC’s);

• Explorar novas oportunidades do mercado dos produtos agrícolas; • Oferta igualmente na forma de crédito de pacotes específicos para culturas alimentares, que

permitem uma produtividade/ha maior, quer dizer (sementes, fertilizantes e outros) para o milho por exemplo para o seu cultivo numa área reduzida (0.5 ha ou 1 ha), mas com a garantia de produzir a cultura de fomento numa área maior, permitindo assim a poupança de tempo para a machamba de produto alimentar e dedicar maior tempo para a de rendimento, mas com garantia de que terá o stock alimentar assegurado.

• O sector financeiro: Em relação ao sector financeiro, defendemos a ideia de uma empresa de intermediação financeira, não funcionando no sistema de micro-finanças pura, pois a área micro-financeira pura tem taxas de juros elevadas porque possui custos de administração elevadas, devido à disponibilização dos fundos em pequenos montantes o que eleva os custos de transação. Estamos igualmente conscientes que o banco não vai disponibilizar pequenos valores, por isso se a banca entra no sistema terá de financiar valores elevados para aquisição de insumos e nos custos operacionais através da empresa fomentadora, mas se for uma empresa de intermediação financeira será ela, que fará a gestão de todo o processo de aquisições, cabendo à empresa a sua função produtiva, sem ter que gerir fundos financeiros a serem utilizados no modelo que apresentamos. Na hipótese que sugerimos os accionistas da empresa seriam os bancos interessados, as empresas e as organizações de camponeses que estejam numa fase de organização mais elevada e as funções seriam: • Gerir os créditos de campanha para culturas de alto rendimento com mercado assegurado; • Gerir créditos de pós-colheita, financiando o inventory credit – crédito sobre o stock, com a

finalidade de garantir a segurança alimentar; • Financiar culturas que tenham mercado de exportação assegurado, como forma de apoio à

balança comercial nacional, para além de explorar novas oportunidades do mercado de produtos agrícolas, para o aumento da sua renda familiar e melhorar a sua vida.

V) PONTOS FRACOS E FORTES VERSUS ECONOMIA FAMILIAR Entendemos que para analisar os pontos fortes/fracos, ao nível do sistema económico da província precisamos de relacionar as diferentes fontes de rendimentos dos agregados familiares que habitam a província, tanto na cidade quanto no campo, de forma a encontrar os seus pontos de ligação e de divergência:

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171. Nas zonas urbanas e semi-urbanizadas:

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♦ Os rendimentos dos agregados familiares (AF’s) dependem de um sector da economia de serviços comércio (in)formal e algumas pequenas actividades produtivas, sobretudo construção civil e pequenas oficinas de carpintaria, dado que a indústria encontra-se totalmente paralisada e desestruturada;

♦ O sector de transporte….. A metodologia SEPO – para a economia familiar camponesa

Pontos Fortes Pontos Fracos Oportunidades Ameaças Terra arável e fértil disponível à maioria dos camponeses; ……..

Mercado limitado para as culturas alimentares; Mercado monopsónico para as culturas de rendimento; Acesso limitado aos insumos; Acesso limitado ao crédito; ………….

Mercado de produtos orgânicos para as culturas de rendimento; Associativismo como meio de enfrentar um mercado muito imperfeito;

Ausência de uma política agrária coerente; Burocratismo e legislação pouco clara sobre o sector agrário e impenetrável para os camponeses; …………

VI) CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PRINCIPAIS Tendo em conta as relações existentes entre os sectores formal e informal, o nível de desenvolvimento da economia familiar e as interelações entre eles, pode-se aferir que: …………….. VII) UMA REFLEXÃO CRÍTICA DA ECONOMIA DE NAMPULA – QUE FUTURO! O que julgamos dever ser observado ( ): para Nampula e a região norte no seu todo, considerando o norte do rio Zambeze, possui um potencial agrícola muito grande comparativamente ao centro-sul do País. Uma das estratégias sugeridas pelos estudiosos no campo da segurança alimentar e do desenvolvimento sustentável nacional, é o que Percy Misty, Presidente do grupo internacional de Oxford, sugere: “…a região para poder obter e manter uma auto-suficiência alimentar, a produção de milho e de outros cereais deve mudar das áreas irrigadas, e das áreas semi-áridas das estepes do sul da África para áreas mais a norte, de maior pluviosidade e de maior potencial, em Angola, na Zâmbia, no norte de Zimbabwé, no Malawi, no norte de Moçambique e no sul da Tanzania, onde a precipitação normal é mais elevada, e, apesar da seca, tal é a fertilidade do solo e a capacidade de retenção da água…”16. Uma abordagem mais regional que nacional a este crítico, sugere-nos que o desafio estratégico da SADC permitirá o aproveitamento das novas áreas, possibilitando assim não só responder às necessidades alimentares internas e da região, mas eventualmente resolver os urgentes problemas de reordenamento e redistribuição de terras na Àfrica-do-Sul e no Zimbabwé. Certamente que no mundo de hoje globalização/regionalização e integração fazem parte do novo vocabulário, e, todo este processo é visto como forma de encontrar a sustentabilidade dos programas de cooperação, utilização racional dos recursos comuns e outras abordagens integracionistas, pelo que no campo da agricultura sustentável também encontramos esta visão. Entretanto porque acreditamos na capacidade dos governos nacionais na definição das suas políticas domésticas que garantam que o sector agrário no que concerne à produção alimentar

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1816 Citado na Revista ESPORO n. 28 de Dezembro de 1998.

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para o seu sustento não sofra grandes constrangimentos, julgamos que um maior apoio aos camponeses nas suas diferentes formas de organização seria uma estratégia a seguir. O aumento da produtividade agrícola dos agregados familiares seria uma das estratégias a combinar com outras formas de produção das pequenas e médias herdades, significa maior apoio ao sector privado, em formas de crédito agrário e outras políticas de fomento, que apesar de existir na forma na prática ainda não se fazem sentir. É preciso inverter o seguinte quadro, medianamente a produtividade de um AF (Agregado Familiar) de 5 membros dos quais 2 são crianças é de 450 a 500 kg de farinha de milho/ha o que equivale a cerca de 1.598.000 kcal/ha, ou seja 3.196.000 kcal/AF/ano, equivalente a 8.756 kcal/AF/dia o que resulta num déficit alimentar, tendo em conta que um adulto necessita de 2.987 kcal/dia e em casos mais optimistas teríamos 4.400.000 kcal/AF/ano, correspondente a 12.054.000 kcal/AF/dia, resultando num ligeiro superavit sem stocks de reserva alimentar17. A nosso ver é preciso capitalizar os factores de produção ainda muito disponíveis no campo, que é a terra, árvores e mão-de-obra. Normalmente os AF (Agregados Familiares) mais pobres dispõem de uma mão-de-obra mais significativa que os AF médios, devido a factores vários desde as diferentes oportunidades económicas até aos aspectos de acesso aos meios de sobrevivência tais como instrumentos de trabalho, etc..

17 De acordo com a FAO as kcal/pessoa/dia disponíveis são: Europa = 2.700, Europa Ocidental e América do Norte = 3.500 e Àfrica = 2.300.