sistemas eleitorais dicionario de politica norberto bobbio

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1174 SISTEMAS ELEITORAIS Parlamento nacional, mas, mais freqüentemente, elas se deram a nível local, ou então mediante a inserção em partidos tradicionais, isto é, mediante a aceitação, por parte de alguns destes partidos, das aspirações políticas e do pessoal dos novos movimentos. Contudo, seria errado minimizar tais fenômenos. A insatisfação e o protesto dos eleitorados ocidentais têm-se evidenciado, com intensidades não muito diferentes, em qualquer sistema político; há novos partidos que surgiram, com maior ou menor sucesso, por toda a parte; se produziram algumas transformações nos maiores partidos, no sentido da abertura às novas demandas. Neste momento, é difícil dizer se estão para aparecer ainda novas modalidades de competição política, mais preocupadas com os problemas políticos concretos e menos com programas coerentes e totalmente abrangentes, e se a própria linha distintiva direita/esquerda estará para desaparecer. É certo, porém, que os Sistemas de partido das democracias ocidentais estão enfrentando um desafio nada diferente do que levou à sua consolidação no início dos anos vinte. BIBLIOGRAFIA. -Cleavages, ideologies, and party systems. ao cuidado de E. ALLARDT e Y. LITTUNEN, The Academic Bookstore, Helsinki 1964; S. BERGER, Politics and antipolitics in western europe in the seventies. in "Daedalus". Winter 1979, pp. 27-50; S. BERGLUND e U. LINDSTRÖM. The scandinavian party system (S). Studentlitteratur, Lund 1978; M. DUVERGER. I partiti politici (1951), Comunità. Milano 1961 2 ; H. ECKSTEIN, Parties. political: party systems. in International encyclopedia of the social sciences, Collier-McMillan, New York 1968, vol. XI, pp. 436- 53; S. E. FINER, THE changing british party system. American Enterprise Institute, Washington D. C. 1980; Authoritarian politics in modern society: the dynamics of established one-party systems. ao cuidado de S. P. HUNTINGTON e C. H. MOORE, Basic Books. New York 1970; J. LINZ, Il sistema partitico spagnolo, in "Rivista italiana di scienza politica", VIII. dezembro 1978, pp. 363-414; Party systems and voter alignments. ao cuidado de S. M. LIPSET e S. ROKKAN, Free Press. New York 1967; R. H. MCDONALD, Party systems and elections in Latin America. Markham, Chicago 1971; Western european party systems: trends and prospects, ao cuidado de P. H. MERKL, Free Press-Collier McMillan. New York 1980; F. W. RIGGS, Comparative politics and the study of party organization. ao cuidado de W. J. CROTTY. Allyn and Bacon. Boston 1968. pp. 45-104; S. ROKKAN. Citizens. elections. parties. Universitetsforlaget. Oslo 1970; G. SARTORI, European political parties: the case of polarized pluralism. in Political parties and political development. ao cuidado de S. LAPALOMBARA e M. WEINER. Princeton University Press. Princeton 1966. pp. 137-76; Id.. Political development and political engineering. in Public policy. sob a responsabilidade de J. D. MONTGOMERY e A. O. HIRSCHMAN. Harvard University Press. Cambridge, Mass. 1968a, vol. XVII, pp. 261-98; Id., Tipologia del sistemi di partito, in "Quaderni di sociologia", XVII, setembro 1968b. pp. 187-226; Id., Parties and party systems. A framework for analysis, Cambridge University Press. New York 1976; R. SCHACHTER-MORGENTHAU, Political parties in french-speaking west África, Oxford University Press. London 1964; S. B. WOLINETZ, Stabilità e mutamento nei sistemi partitici dell'Europa occidentale, in "Rivista italiana di scienza politica", VIII. abril 1978, pp. 3-55; A. ZOLBERG. Creating political order. The party-States of west Africa. Rand Mc Nally. Chicago 1966. [CIANFRANCO PASQUINO] Sistemas Eleitorais. I. GENERALIDADES . A complexidade dos processos de formação das decisões políticas exige a maior simplificação possível, compatível com o direito, hoje mais do que nunca reconhecido a todos os indivíduos que fazem parte de uma organização política, de influir de qualquer forma sobre esses processos. Quase unanimemente se reconhece que o mecanismo mais conveniente para fins de redução dos custos decisionais, consiste na participação popular através das eleições. Estas permitem, e de alguma forma garantem, ao menos no sistema ocidental de tipo liberal-democrático, não só a escolha de pessoas a quem se confia a alavanca do Governo, mas também a expressão do consenso e do dissenso, a representação dos interesses, o controle das atividades do Governo e a mobilização das massas. Em todo o caso, porém, parece que, para se poder falar de representatividade das eleições, é necessário que estas apresentem as características de liberdade e periodicidade. Se estas faltarem, a relação de responsabilidade política que liga os governantes aos governados é esvaziada e, com ela, as funções de investidura e controle que são essenciais a uma eleição. Como procedimentos institucionalizados para atribuição de encargos por parte dos membros de uma organização ou de alguns deles, as eleições são, sem dúvida, historicamente, bastante antigas. Em sua função e em suas dimensões atuais, porém, só adquiriram importância crescente a partir da época em que o Estado começou a perder suas características personalísticas e patrimoniais para assumir as de um Estado democrático ou pelo menos burguês. Os mecanismos idealizados para operacionalizar a redução do "mais" das massas ao "menos" das elites de Governo são numerosíssimos. Se

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Page 1: SISTEMAS ELEITORAIS Dicionario de Politica Norberto Bobbio

1174 SISTEMAS ELEITORAIS

Parlamento nacional, mas, mais freqüentemente, elas

se deram a nível local, ou então mediante a inserção

em partidos tradicionais, isto é, mediante a aceitação,

por parte de alguns destes partidos, das aspirações

políticas e do pessoal dos novos movimentos.

Contudo, seria errado minimizar tais fenômenos. A

insatisfação e o protesto dos eleitorados ocidentais

têm-se evidenciado, com intensidades não muito

diferentes, em qualquer sistema político; há novos

partidos que surgiram, com maior ou menor sucesso,

por toda a parte; já se produziram algumas

transformações nos maiores partidos, no sentido da

abertura às novas demandas. Neste momento, é difícil

dizer se estão para aparecer ainda novas modalidades

de competição política, mais preocupadas com os

problemas políticos concretos e menos com programas

coerentes e totalmente abrangentes, e se a própria

linha distintiva direita/esquerda estará para

desaparecer. É certo, porém, que os Sistemas de

partido das democracias ocidentais estão enfrentando

um desafio nada diferente do que levou à sua

consolidação no início dos anos vinte.

BIBLIOGRAFIA. -Cleavages, ideologies, and party

systems. ao cuidado de E. ALLARDT e Y. LITTUNEN, The

Academic Bookstore, Helsinki 1964; S. BERGER,

Politics and antipolitics in western europe in the

seventies. in "Daedalus". Winter 1979, pp. 27-50; S.

BERGLUND e U. LINDSTRÖM. The scandinavian party

system (S). Studentlitteratur, Lund 1978; M.

DUVERGER. I partiti politici (1951), Comunità. Milano

19612; H. ECKSTEIN, Parties. political: party systems. in

International encyclopedia of the social sciences,

Collier-McMillan, New York 1968, vol. XI, pp. 436-

53; S. E. FINER, THE changing british party system.

American Enterprise Institute, Washington D. C. 1980;

Authoritarian politics in modern society: the dynamics

of established one-party systems. ao cuidado de S. P.

HUNTINGTON e C. H. MOORE, Basic Books. New York

1970; J. LINZ, Il sistema partitico spagnolo, in "Rivista

italiana di scienza politica", VIII. dezembro 1978, pp.

363-414; Party systems and voter alignments. ao

cuidado de S. M. LIPSET e S. ROKKAN, Free Press. New

York 1967; R. H. MCDONALD, Party systems and

elections in Latin America. Markham, Chicago 1971;

Western european party systems: trends and prospects,

ao cuidado de P. H. MERKL, Free Press-Collier

McMillan. New York 1980; F. W. RIGGS, Comparative

politics and the study of party organization. ao cuidado

de W. J. CROTTY. Allyn and Bacon. Boston 1968. pp.

45-104; S. ROKKAN. Citizens. elections. parties.

Universitetsforlaget. Oslo 1970; G. SARTORI, European

political parties: the case of polarized pluralism. in

Political parties and political development. ao cuidado

de S. LAPALOMBARA e M. WEINER. Princeton

University Press. Princeton 1966. pp. 137-76; Id..

Political development and political engineering. in

Public policy. sob a responsabilidade de J. D.

MONTGOMERY e A. O. HIRSCHMAN. Harvard

University Press. Cambridge, Mass. 1968a, vol. XVII,

pp. 261-98; Id., Tipologia del sistemi di partito, in

"Quaderni di sociologia", XVII, setembro 1968b. pp.

187-226; Id., Parties and party systems. A framework

for analysis, Cambridge University Press. New York

1976; R. SCHACHTER-MORGENTHAU, Political parties in

french-speaking west África, Oxford University Press.

London 1964; S. B. WOLINETZ, Stabilità e mutamento

nei sistemi partitici dell'Europa occidentale, in "Rivista

italiana di scienza politica", VIII. abril 1978, pp. 3-55;

A. ZOLBERG. Creating political order. The party-States

of west Africa. Rand Mc Nally. Chicago 1966.

[CIANFRANCO PASQUINO]

Sistemas Eleitorais.

I. GENERALIDADES. — A complexidade dos processos de

formação das decisões políticas exige a maior

simplificação possível, compatível com o direito, hoje

mais do que nunca reconhecido a todos os indivíduos

que fazem parte de uma organização política, de influir

de qualquer forma sobre esses processos. Quase

unanimemente se reconhece que o mecanismo mais

conveniente para fins de redução dos custos

decisionais, consiste na participação popular através

das eleições. Estas permitem, e de alguma forma

garantem, ao menos no sistema ocidental de tipo

liberal-democrático, não só a escolha de pessoas a

quem se confia a alavanca do Governo, mas também a

expressão do consenso e do dissenso, a representação

dos interesses, o controle das atividades do Governo e

a mobilização das massas. Em todo o caso, porém,

parece que, para se poder falar de representatividade

das eleições, é necessário que estas apresentem as

características de liberdade e periodicidade. Se estas

faltarem, a relação de responsabilidade política que

liga os governantes aos governados é esvaziada e, com

ela, as funções de investidura e controle que são

essenciais a uma eleição.

Como procedimentos institucionalizados para

atribuição de encargos por parte dos membros de uma

organização ou de alguns deles, as eleições são, sem

dúvida, historicamente, bastante antigas. Em sua

função e em suas dimensões atuais, porém, só

adquiriram importância crescente a partir da época em

que o Estado começou a perder suas características

personalísticas e patrimoniais para assumir as de um

Estado democrático ou pelo menos burguês.

Os mecanismos idealizados para operacionalizar a

redução do "mais" das massas ao "menos" das elites

de Governo são numerosíssimos. Se

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SISTEMAS ELEITORAIS 1175

quisermos nos limitar aos que, nos diversos sistemas

políticos e diversas épocas, tiveram uma atuação

prática, a tarefa fica igualmente árdua, já que se

calcula que, em qualquer caso, teríamos de trabalhar

com cerca de trezentos modelos de Sistemas

eleitorais. Para destrinçarmos este acervo é necessária

uma classificação, em ordem à qual foram propostos

alguns critérios. Dado o caráter da presente

exposição, podemos continuar a seguir o critério

estatístico-matemático de classificação,

tradicionalmente usado. Quanto aos outros, ou são

ainda teoricamente muito pouco conhecidos, ou estão

relacionados com colocações particulares de estudo às

quais dizem respeito.

II. OS SISTEMAS MAJORITÁRIOS. — São dois

os modelos tradicionais de Sistemas eleitorais: o

majoritário e o proporcional. Todos os outros não são

nem mais nem menos do que modificações e

aperfeiçoamento destes. Compreende-se imediatamente

por que todos os outros giram em torno deles, desde

que se considerem as necessidades que devem ser

satisfeitas: a estabilidade do Governo e do sistema

político em geral e a representação de todos os grupos

de interesse em que a sociedade está articulada.

Foi o sistema majoritário o primeiro a surgir.

Baseado sobre o princípio segundo o qual a vontade da

maioria dos eleitores é a única a contar na atribuição

das cadeiras, a sua atuação está ligada ao fato de que

o eleitorado está mais ou menos repartido em

colégios. Onde não houver tal divisão, a maioria do

corpo eleitoral conseguirá dominar a aposta no páreo;

em caso contrário — que é o que se verifica na prática

— quanto mais numerosos forem os colégios, tanto

maiores serão as probabilidades de compensação entre

maiorias e minorias nas diversas circunscrições. A

maioria requerida pode ser simples ou relativa (plurality

system) ou então absoluta ou variadamente qualificada

(majority system). Os pressupostos de funcionalidade

deste sistema são: a) uma equilibrada distribuição dos

eleitores nos colégios, de tal maneira que cada eleito

represente o mesmo "peso" e seja limitada ao máximo a

sub-representação de alguns colégios cm relação a

outros; b) a ausência de práticas de gerrymandering, de

tal maneira que nenhum partido seja favorecido de

maneira substancial pelo modo como foram traçadas

as fronteiras dos colégios; c) a ausência de uma

maioria agregada por fatores metapolíticos (divisões

étnicas, por ex.) que vote prescindindo constantemente

das l inhas políticas efetivamente em discussão. O

princípio majoritário pode ser atuado tanto em

colégios plurinominais como cm colégios

uninominais. Na primeira hipótese (lista majoritária),

são eleitos os candidatos que, inscritos numa lista de

candidatos correspondente ao número de cadeiras a

serem distribuídas pelo colégio, obtiveram o maior

número de votos. Por vezes é necessário superar um

certo quorum em relação ao número de votantes ou ao

número de votos válidos. Na segunda hipótese, cada

colégio elege apenas um representante. No colégio é

eleito o representante que conseguir a maioria,

simples ou absoluta, conforme os casos, com ou sem

quorum. Quando não for exigida a simples maioria

relativa e nenhum candidato se achar nas condições

requeridas pela lei eleitoral, pode proceder-se a uma

nova eleição de maioria relativa, ou, então, como

acontece mais freqüentemente, a uma votação entre os

dois candidatos que tiverem maior número de votos

ou entre os que tiverem obtido acima de um certo

quorum. É esta a eleição em dois turnos típica dos

sistemas da Europa continental, especialmente do

sistema francês, caracterizados pela presença de muitos

partidos, com a conseqüente multiplicidade de

candidaturas nos colégios. Um tal sistema, que no

primeiro turno pode funcionar até como majority

system. procura precisamente introduzir as vantagens

do plurality system num sistema pluripartidário. Está

em vigor na França desde 1958, depois de se ter

recorrido, durante anos, a um sistema híbrido de bases

proporcionais, cuja característica principal estava na

faculdade concedida às várias listas de se "comporem"

entre si.

III. OS SISTEMAS PROPORCIONAIS. — O princípio

proporcional acompanha a moderna democracia de

massas e a ampliação do sufrágio universal. Partindo

da consideração de que, numa assembléia

representativa, deve criar-se espaço para todas as

necessidades, todos os interesses e todas as idéias que

animam um organismo social, o princípio

proporcional procura estabelecer a perfeita igualdade

de voto e dar a todos os eleitores o mesmo peso,

prescindindo de preferência manifesta.

Os Sistemas eleitorais que realizam o princípio

proporcional atuam baseados em duas formas

fundamentais: o voto individual, eventualmente

transferível (sistema de Hare e Andrae), típico dos

países anglo-saxônicos, e as listas concorrentes (escola

suíça de Considerant) prevalecentes nos países fora

das tradições inglesas. O mecanismo de base de

ambos consiste na determinação de uma cota ou

quociente em relação ao total dos votos: as cadeiras

são atribuídas pelos quocientes alcançados.

No voto individual transferível, também chamado

de quota system, o eleitor, enquanto vota

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1176 SISTEMAS ELEITORAIS

num determinado candidato, exprime também sua

preferência por um segundo ou por um terceiro, para o

qual seu voto deverá ser transferido no caso de

inutilização de sua primeira preferência, por ter já

conseguido um quociente. Este sistema, adotado na

Irlanda, difere do que foi originariamente idealizado

por Hare. Ele é aplicado numa pluralidade de

circunscrições antes do que num colégio único

nacional. Como já foi sublinhado, constitui

potencialmente a mais proporcional entre as fórmulas

proporcionais (Fisichella, 1970, 198). Mais, na

hipótese de um colégio único nacional em que se

registra apenas um quociente, ele realiza

indubitavelmente a proporção integral.

Nos sistemas proporcionais de lista, ao contrário,

são colocadas em destaque as listas como expressão de

grupos de opinião concorrentes (partidos), às quais

estão ligados tanto os eleitores como os candidatos.

Os tipos principais de listas são: 1) a lista rígida, na

qual a graduação entre os candidatos para fins de

eleição é prefixada pelos apresentadores e nenhum

poder para modificá-la é reconhecido aos eleitores; 2)

a lista semilivre de tipo belga, em que o eleitor que

pretender modificar a ordem de apresentação dos

candidatos na lista pode expressar, em vez de voto

simples de lista, um voto nominal que serve ao

mesmo tempo para votar a lista e o candidato

preferido; 3) a lista livre de tipo suíço, que concede

ao eleitor a mais ampla liberdade, podendo ele não só

introduzir na lista escolhida qualquer modificação,

como servir-se de uma cédula em branco na qual

escreve nomes de candidatos de qualquer lista,

formando assim uma lista própria. Ao eleitor são, pois,

reconhecidas várias possibilidades intermediárias,

segundo os sistemas: pluralidade de preferências,

gradualidade dentro da lista, votos negativos, votos

compostos (chamados panachage), etc.

IV. SUAS CONSEQÜÊNCIAS. — A favor ou contra o

sistema eleitoral majoritário, e, respectivamente, a

favor ou contra o princípio proporcional, militam

vários argumentos que constituíram, sobretudo no

passado, motivo de vida polêmica. Esta deriva, em

primeiro lugar, da diferente concepção que se tem da

função principal de uma eleição. Assim, quem

entende que a função primária das eleições é a de

garantir uma base sólida de apoio ao Governo, inclina-

se preferentemente por um sistema majoritário. Quem,

ao contrário, achar que o acordo sobre a gestão do

poder deve seguir e não preceder as eleições, que

devem ser, antes de tudo, um meio de expressão da

vontade dos diversos grupos sociais, será levado a

preferir a proporcional.

Afirmam os defensores do sistema majoritário que

este torna mais firmes os vínculos entre eleitores e

eleitos, aumentando as reduzidas dimensões do

colégio, graças também às oportunidades oferecidas

pelo canvassing, as possibilidades de conhecimento

pessoal dos candidatos por parte dos eleitores; o

deputado fica estreitamente ligado ao seu colégio,

que constitui uma entidade real, o que é

psicologicamente bastante importante, tanto que o

eleito chega a antecipar-se às aspirações de sua base.

Por outra parte, se observa que vínculos dessa

natureza podem constituir-se num grande defeito, já

que a defesa dos interesses do próprio colégio pode

fazer perder facilmente de vista os interesses gerais.

Mais, pela lógica deste sistema eleitoral, o

parlamentar é obrigado, se quer ser reeleito, a fazer-se

paladino dos interesses locais, ombudsman dos seus

eleitores, contra os interesses da coletividade

nacional. Se não tem escrúpulos, pode evitar este

dilema, manipulando as informações que do centro

defluem para a periferia com prejuízo do aspecto

representativo, seja da simples maioria, seja do

sistema.

Quanto aos sistemas proporcionais, o argumento

principal a seu favor consiste na garantia que eles

oferecem às minorias contra os abusos das maiorias.

Este argumento assume toda a importância nos

sistemas políticos nos quais o fair play democrático não

está ainda bem enraizado. A isto se objeta que, com a

maioria proporcional, a constituição de uma maioria

governamental estável e eficaz se torna sobremaneira

problemática. A instabilidade de Governo, além disso,

é acentuada também pela indisciplina partidária dos

deputados. E onde o partido se impõe, os deputados

não se sentem responsáveis para com o eleitorado por

causa da presença filtrante do aparelho de que

depende sua reeleição.

Nas grandes linhas das tendências, pode

reconhecer-se que os sistemas majoritários levam, a

longo prazo, à coligação dos elementos presentes na

sociedade ou, pelo menos, atribuem o poder de

orientação do Estado a poucos mas amplos

agrupamentos sociais. Os sistemas proporcionais, por

sua vez, embora tenham a vantagem de representar o

sistema social como ele é, não produzem, por si sós,

nem maiorias estáveis de Governo, nem arrancadas

para uma integração política que leve a uma maior

coesão social. Em particular, a representação

proporcional de lista atribui ao partido um papel

excessivo que obstaculiza a relação eleitor-

representante, e, manipulando as designações dos

candidatos, limita a vontade do eleitorado. Por outra

parte, o sistema eleitoral do voto individual

transferível. enquanto aparentemente permite uma

clara identificação dos

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SISTEMAS ELEITORAIS 1177

candidatos, restringindo assim sua relação com o

eleitorado, produz a proliferação do número de

candidatos. Juntando isto à excessiva amplitude do

colégio eleitoral por ele requerido, este sistema

provoca na realidade uma cesura entre os candidatos e

o eleitorado, não diferente dos efeitos da presença dos

partidos no sistema de lista.

V. SISTEMAS DERIVADOS E SISTEMAS MISTOS. —

Pelo que a experiência ensina acerca dos problemas

criados pela adoção de um ou de outro sistema,

pensou-se que, tal como freqüentemente acontece, a

melhor solução consistisse numa via intermediária, ou

então em oportunos corretivos que lhes atenuassem as

conseqüências mais claramente negativas. Assim pode-

se falar de sistemas derivados ou corretivos,

caracterizados por algumas modificações nos esquemas

de base dos dois sistemas principais e dos sistemas

mistos, que consistem numa contaminação de seus

elementos.

Podem considerar-se derivados do sistema

majoritário aqueles sistemas que, mantendo firmes

seus traços característicos, tendem a permitir, numa

certa medida, uma representação das minorias. São o

voto limitado, o voto cumulativo, o voto único e o

voto alternativo.

Diferentemente do voto múltiplo, no qual o eleitor

dispõe de tantos votos quantas são as cadeiras a

distribuir num colégio plurinominal, no voto limitado

a capacidade de escolha por parte do eleitor é restrita a

um número de candidatos inferior, normalmente uma

unidade, ao dos mandatos. O voto limitado pressupõe,

como a lista majoritária, o colégio plurinominal, mas,

diferentemente dela, exige que as cadeiras a ocupar

sejam pelo menos três. Simples no mecanismo,

apresenta todavia o inconveniente de não garantir de

fato, contrariamente à sua razão de ser, uma

representação matematicamente certa e proporcionada

de minorias. Outra variante do voto múltiplo é o voto

cumulativo, caracterizado pela faculdade concedida ao

eleitor de distribuir, como melhor julgar, os votos de

que dispõe, mesmo centrando-os num só candidato.

Torna-se eficaz, no caso de pequenos corpos eleitorais.

Mas sua funcionalidade diminui muito pela errônea

avaliação das recíprocas relações de força entre

maioria e minoria e pela notável dispersão de votos

que poderá verificar-se. Com o voto único, o eleitor de

um colégio plurinominal dispõe de um só voto. Ele se

apresenta, em ordem a uma representação das minorias,

como um mecanismo mais delicado do que os

precedentes. Requer um conhecimento perfeito e

prévio das relações de força entre os partidos e uma

rígida disciplina de partido nos eleitores. Função quase

análoga em, enfim, o voto alternativo, adotado na

Austrália para a eleição da Câmara dos representantes.

A função é a de não penalizar excessivamente as

minorias dissidentes. Aplicável nos próprios colégios

plurinominais, o voto alternativo atua na base do

princípio da transferibilidade do sufrágio entre

candidatos, sem necessidade de desempate, garantindo

ao mesmo tempo que um só deles consiga a maioria

absoluta. Dada a sua engenhosidade (baseia-se na

ordem das preferências expressas na cédula: se

nenhum candidato obtém a maioria absoluta com as

primeiras preferências, eliminado o candidato com

menor número de primeiras preferências, somam-se às

primeiras as segundas preferências, e assim por diante,

até se atingir uma maioria absoluta), é funcional na

medida em que são poucos os partidos, baixo o

dissenso e elevado o grau de alfabetização geral.

As propostas de modificação da representação

proporcional pura se orientam, quer à busca de um

reforço da estabilidade das maiorias governamentais,

favorecendo os partidos maiores (como a do prêmio

para as listas mais fortes, quando as cadeiras restantes

são dadas às listas que tiveram o maior número de

votos) quer a permitir a representação na mais ampla

medida possível, favorecendo os partidos menores.

Assim, por exemplo. Hagenbach-Bischoff propôs que se

retocasse o quociente natural (total dos votos

expressos divididos pelo número dos lugares a

atribuir), que não assegura a distribuição proporcional

de todas as cadeiras a atribuir, aumentando cm uma

unidade (ou duas ou três, etc.) o divisor, de modo a

baixar a liminar necessária para conseguir uma cadeira

(quociente corrigido) e distribuir todas as cadeiras só

nesta base, podendo-se de tal modo abandonar todos os

votos restantes. Outros métodos foram cogitados para

aproveitamento dos votos residuais quando da

destinação das cadeiras não atribuídas com base no

quociente: I) método dos restos mais altos: as cadeiras

residuais são atribuídas às listas que tiveram os restos

mais altos; 2) método do divisor comum, ou de Hondt:

cada lista consegue tantas cadeiras quantas vezes os

votos alcançados por ela tiverem o divisor eleitoral. Na

prática se divide sucessivamente por 1, 2. 3,... a "cifra

eleitoral" de cada lista e se estabelecem os quocientes

obtidos por ordem decrescente, até à concorrência de

um número de quocientes igual ao das cadeiras a

atribuir: o último quociente é o divisor eleitoral; 3)

aperfeiçoamentos do método de Hondt são os das mais

altas médias e o método de Sainte-Lagüe. que procura

favorecer os partidos menores, usando como divisores

sucessivos a série crescente dos números díspares. Na

Bolívia é adotado o sistema do duplo quociente: o

primeiro quociente

Page 5: SISTEMAS ELEITORAIS Dicionario de Politica Norberto Bobbio

1178 SISTEMAS ELEITORAIS

serve de liminar de exclusão dos grupos menores, o

segundo para a distribuição das cadeiras entre os

partidos que tenham ultrapassado o primeiro. Um

sistema particular é o da lista incompleta, outrora

adotado na Argentina. Com ele, a lista de maioria

relativa consegue os dois terços das cadeiras do

colégio, enquanto que o outro terço cabe à segunda

lista mais votada. Uma variante deste tipo é o sistema

paraguaio, no qual o terço restante é dividido

proporcionalmente entre os outros partidos. Um

remédio contra o [racionamento habitualmente ligado

à representação proporcional é, enfim, a chamada

cláusula de exclusão, com base na qual o grupo que

não superar determinado liminar não obterá nenhuma

representação. Essa liminar será percentualmente

prefixada por lei e terá como base o número de votos

tomados em seu conjunto (Argentina desde 1963: 3%;

Alemanha Federal desde 1956: 5%). Também não

obterá representação o grupo que não conseguir, na

hipótese dos Sistemas eleitorais majoritários

uninominais, um certo número mínimo de cadeiras.

Entre os numerosíssimos sistemas mistos, é

necessário distinguir os que se baseiam no colégio

uninominal dos que se baseiam em sistemas de lista.

Entre os primeiros, destaca-se principalmente o

método Geyerhahn, que se articula através de um

mecanismo complexo, mas eficiente à luz dos fatos.

Dividido o território em colégios uninominais em

número inferior ao dos representantes que devem ser

eleitos (por exemplo, a metade), "os candidatos que se

apresentam em cada um dos colégios formam grupos

entre um colégio e outro, segundo sua cor e orientação

política. O eleitor vota em um dos candidatos do

próprio colégio. Em cada colégio, são declarados

eleitos os candidatos que conseguiram a maioria

absoluta dos votos; se esta não for obtida, procede-se

ao desempate. Atribuída assim a primeira percentagem

de cadeiras, procede-se ao cálculo dos votos

recolhidos de cada grupo e do grupo especial dos

independentes, com base no resultado do primeiro

escrutínio, e se efetua, entre os grupos, a distribuição

proporcional de todas as cadeiras, adotando um dos

muitos processos de distribuição, o belga, por exemplo.

Dessa maneira se determina qual é o número de

cadeiras que cabe a cada um dos grupos

proporcionalmente. Verifica-se depois quantos

candidatos de cada grupo foram eleitos nos colégios

uninominais e se atribui ao grupo um número de

cadeiras complementares, correspondente à diferença

entre o número de cadeiras que lhe competem

segundo a distribuição proporcional e o número de

colégios uninominais conquistados pelos seus

candidatos. As cadeiras complementares são

atribuídas aos

candidatos do mesmo grupo, que em cada um dos

colégios conseguiram o maior número de votos"

(Schepis, 1955, 216). O método Geyerhahn foi

aperfeiçoado na aplicação que dele se fez na

Alemanha Federal, com a introdução do duplo voto:

um para escolher o candidato no colégio uninominal

e o outro para a escolha da lista. Restam firmes, além

disso, os mandatos obtidos nos colégios uninominais,

que eventualmente constituam excedente em relação

ao critério proporcional. Variantes do método

Geyerhahn podem ser considerados os Sistemas

eleitorais atualmente adotados na Itália para a eleição

do Senado e dos conselhos provinciais, que, por outro

lado, o aplicam apenas parcialmente.

Entre os sistemas mistos baseados no escrutínio de

lista, são de particular importância os que atribuem

um "prêmio" à maioria, de modo que esta receba um

número de cadeiras mais do que proporcional aos

sufrágios recebidos. Entre outros, devemos lembrar

os sistemas adotados na Itália para eleição da Câmara

dos Deputados em 1923 (a chamada Lei Acerbo, que

atribuía dois terços das cadeiras à lista que tivesse

obtido a maioria relativa dos votos iguais pelo menos

a 25% da totalidade dos votos válidos e em 1953 (a

chamada lei-fraude, que garantia os dois terços das

cadeiras à lista ou às listas coligadas que tivessem a

maioria absoluta dos votos válidos).

VI. CONSIDERAÇÕES FINAIS. — Da imponência do

número dos Sistemas eleitorais e cogitados — de que

o que fica dito não é senão uma sintética e sumária

exposição — se conclui facilmente que não existe o

sistema melhor em absoluto. Toda a consideração

acerca da funcionalidade dos vários sistemas deve ser

desenvolvida comparativamente e em referência às

circunstâncias de fato. em relação às quais eles

operam. Devem ter-se como unilaterais, portanto, e

pouco produtivas as análises de Sistemas eleitorais

nas quais estes são colocados em relevo de per si, de

um ponto de vista estático. A ação dos Sistemas

eleitorais deve ser examinada dinamicamente, partindo

do pressuposto de que eles não são senão parte de um

mais amplo sistema político, no âmbito do qual

interagem com outras variáveis não menos importantes

como são, por exemplo, as instituições constitucionais,

o sistema partidário e a cultura política em geral. F,

precisamente numa análise deste tipo que se revelam as

possibilidades heurísticas dos meios de investigação

postos à disposição da ciência política. Tais meios

acharam aplicação apenas em tempos modernos, em

correspondência com os notáveis progressos feitos no

uso do método comparado na análise política.

Todavia, estão sendo já aperfeiçoadas, e em

Page 6: SISTEMAS ELEITORAIS Dicionario de Politica Norberto Bobbio

SOBERANIA 1179

outros casos refutadas, as precedentes teorias sobre os

efeitos dos Sistemas eleitorais. Em particular, isto

vale, só para lembrar um exemplo, quanto às relações

entre Sistemas eleitorais e sistemas partidários, em

ordem aos quais era opinião corrente que existia uma

ligação, precisa entre sistemas majoritários e

bipartidarismo, de uma parte, e sistemas proporcionais

e pluripartidarismo, de outra: "o escrutínio majoritário

num só turno tende ao dualismo dos partidos; ao

contrário, o escrutínio majoritário com desempate e a

representação proporcional tendem ao

pluripartidarismo" (Duverger, 1961, 267). Estudos

posteriores (Rae, 1967; Sartori, 1968; Fisichella. 1970)

corrigiram, e muito, tal asserção, sobretudo

evidenciando a incidência da estruturação prévia do

sistema partidário. Como aliás também foi

reconhecida, mas nos seus justos limites, a influência

dos Sistemas eleitorais sobre a vida política. Por isso,

para quem vê na reforma do Sistema eleitoral a

panacéia contra os males que afligem um sistema

político, é preciso dizer que "'o Sistema eleitoral é uma

variável intermediária capaz de influenciar a natureza

e as instituições do Governo, sendo ele objeto de

outras influências" (Milnor, 1969, 197). O potencial

inovador de um Sistema eleitoral é sem dúvida alguma

notável. Convenientemente orientado, ele pode corrigir

algumas grandes disfunções de um sistema político,

mas não se pode pretender dele mais do que pode dar.

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[EMANUELE MAROTTA]

Sítio, Estado de. — V. Estado de Sítio.

Soberania.

I. DEFINIÇÃO. — Em sentido lato, o conceito

político-jurídico de Soberania indica o poder de

mando de última instância, numa sociedade politica e,

conseqüentemente, a diferença entre esta e as demais

associações humanas em cuja organização não se

encontra este poder supremo, exclusivo e não

derivado. Este conceito está, pois, intimamente ligado

ao de poder político: de fato a Soberania pretende ser a

racionalização jurídica do poder, no sentido da

transformação da força em poder legítimo, do poder de

fato em poder de direito. Obviamente, são diferentes

as formas de caracterização da Soberania, de acordo

com as diferentes formas de organização do poder que

ocorreram na história humana: em todas elas é

possível sempre identificar uma autoridade suprema,

mesmo que, na prática, esta autoridade se explicite ou

venha a ser exercida de modos bastante diferentes.

II. SOBERANIA E ESTADO MODERNO. — Em sentido

restrito, na sua significação moderna, o termo

Soberania aparece, no final do século XVI, juntamente

com o de Estado, para indicar, em toda sua plenitude,

o poder estatal, sujeito único e exclusivo da política.

Trata-se do conceito político-jurídico que possibilita

ao Estado moderno, mediante sua lógica absolutista

interna, impor-se à organização medieval do poder,

baseada, por um lado, nas categorias e nos Estados, e,

por outro, nas duas grandes coordenadas universalistas

representadas pelo papado e pelo império: isto ocorre

em decorrência de uma notável necessidade de

unificação e concentração de poder, cuja finalidade

seria reunir numa única instância o monopólio da

força num determinado território e sobre uma

determinada população, e, com isso, realizar no

Estado a máxima unidade e coesão