sistemas de proteÇÃo contra descargas atmosfÉricas aplicados na construÇÃo civil

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SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL Edson dos Santos Xavier 1 Edgarde Gonsalves Cerqueira 2 RESUMO: Neste artigo constam as definições, métodos, sistemas e normas para instalação de Proteção contra Descargas Atmosféricas, utilizada na construção civil. Apresenta também em especial o sistema estrutural com a utilização de uma Barra Adicional (Re-Bar) entre as armaduras de concreto para escoamento para o solo da corrente elétrica produzida pela descarga atmosférica. São apresentados ainda alguns ensaios realizados no Brasil e no mundo que comprovam o não rompimento do concreto quando da passagem da corrente elétrica com o uso das armaduras de concreto como parte integrante do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA). Palavras-chave: Descargas Atmosféricas; Barra Adicional; Corrente Elétrica 1 Concluinte do Curso de Engenharia Civil - Universidade Católica do Salvador. e-mail: [email protected] – Autor 2 Engenheiro Civil e de Segurança no Trabalho com Especialização em Metodologia do Ensino superior e Professor do Curso de Engenharia Civil da Universidade Católica do Salvador. e-mail: [email protected] - Orientador

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Page 1: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Edson dos Santos Xavier1

Edgarde Gonsalves Cerqueira2

RESUMO: Neste artigo constam as definições, métodos, sistemas e normas

para instalação de Proteção contra Descargas Atmosféricas, utilizada na

construção civil. Apresenta também em especial o sistema estrutural com a

utilização de uma Barra Adicional (Re-Bar) entre as armaduras de concreto

para escoamento para o solo da corrente elétrica produzida pela descarga

atmosférica. São apresentados ainda alguns ensaios realizados no Brasil e no

mundo que comprovam o não rompimento do concreto quando da passagem

da corrente elétrica com o uso das armaduras de concreto como parte

integrante do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA).

Palavras-chave: Descargas Atmosféricas; Barra Adicional; Corrente Elétrica

1 INTRODUÇÃO

Uma descarga atmosférica é um fenômeno natural que desde o princípio da

humanidade causa medo e danos

A descarga atmosférica causa danos e pode provocar a morte, pois injeta

correntes da ordem de centenas de quiloamperes no objeto atingido que, caso não

sejam contidas, provocam prejuízos e acidentes, tais como:

Seqüelas e mortes em seres humanos causados tanto pela incidência

direta, como indireta das descargas atmosféricas.

Danos em florestas e campos;

1 Concluinte do Curso de Engenharia Civil - Universidade Católica do Salvador. e-mail: [email protected] – Autor

2 Engenheiro Civil e de Segurança no Trabalho com Especialização em Metodologia do Ensino superior e Professor do Curso de Engenharia Civil da Universidade Católica do Salvador. e-mail: [email protected] - Orientador

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Danos em edificações;

Danos em instalações de transmissão e distribuição de energia elétrica;.

Interferências em sistemas de telecomunicações e de dados.

Acidentes em aviões, embarcações, plataformas de petróleo e antenas.

Interrupções de fornecimento de energia elétrica.

Segundo Creder (2000), as descargas atmosféricas ou raio, são fenômenos

naturais de danosas conseqüências, resultante do acúmulo de cargas elétricas em

uma nuvem e a conseqüente condução para o solo terrestre ou sobre qualquer

estrutura que ofereça condições favoráveis à dissipação. Mamede (1997) destaca

que ao longo dos anos várias teorias foram desenvolvidas para explicar o fenômeno

das descargas atmosféricas. Os estudos indicam que a única forma de proteção

para evitar ou minimizar os danos e perigos relacionados ao fenômeno é dissipar

para a terra a corrente com segurança para as instalações e os seres humanos.

O primeiro cientista a estudar o fenômeno foi Benjamim Franklin (1752), que

concluiu que as descargas atmosféricas eram constituídas de corrente elétrica. A

conclusão dos estudos indicou que estas correntes poderiam ser direcionadas com

segurança para a terra, através de uma ponta metálica instalada, por exemplo, em

cima de uma casa. Com base na teoria do poder das pontas, a ponta metálica

atrairia os raios para si e a edificação estaria protegida contra as descargas. Com

esta teoria Benjamim Franklin (1752) construiu um dispositivo de condução das

descargas atmosféricas para o solo que denominou “pára-raios”. As cargas elétricas,

produzidas pelas descargas atmosféricas, em vez de irromperem de um ponto

qualquer do solo, seriam conduzidas até as pontas do Pára-Raios e delas para a

terra através de um cabo de excelente condutividade elétrica (cabo de cobre),

permitindo desta forma, que as descargas sejam efetuadas através deste,

propiciando a proteção da construção dentro de determinado raio de atuação

(MAMEDE, 1997).

Apesar do uso de Pára-Raios pontos de edificações têm sido atingidos por

descargas atmosféricas as quais não haviam caído na ponta metálica, sendo assim,

reformulou-se a teoria e concluiu-se que a ponta metálica seria o caminho mais

provável mas não o único para conduzir o raio. Mais estudos foram desenvolvidos

para assegurar que o raio seja conduzido até o solo com segurança e assim,

iniciaram-se estudos para definir a região até onde a ponta metálica teria influência e

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foram definidos ângulos de proteção em função da exposição da edificação, bem

como os riscos materiais e humanos envolvidos.

O comportamento das descargas atmosféricas continua sendo de difícil

previsão e daí a necessidade de maiores estudos sobre sistemas de proteção contra

descargas atmosféricas, que impeçam ou reduzam as possibilidades de prejuízos,

acidentes e danos nas edificações.

Os sistemas de proteção contra descargas atmosféricas (SPDA) vêm sendo

desenvolvidos no decorrer dos últimos anos, contudo deve ser destacado que ainda,

não se conseguiu uma proteção completa ou totalmente efetiva para as descargas

atmosféricas. A fim de evitar falsas expectativas sobre os sistemas de proteção, é

bom tornar claro que a descarga atmosférica (raio) é um fenômeno da natureza

absolutamente imprevisível e aleatório, tanto em relação às características elétricas

(intensidade de corrente, tempo de duração, etc.), como em relação aos efeitos

destruidores decorrentes de sua incidência sobre as edificações. Nada em termos

práticos pode ser feito para se impedir a "queda" de uma descarga em determinada

região. Não existe "atração" a longas distâncias, sendo os sistemas prioritariamente

receptores. Assim sendo, as soluções internacionalmente aplicadas buscam tão

somente minimizar os efeitos destruidores a partir da colocação de pontos

preferenciais de captação e condução segura da descarga para a terra (Leon, 1991).

1.1 Normatização

A implantação e manutenção de sistemas de proteção são normatizadas

internacionalmente pela IEC (International Eletrotecnical Comission) e em cada país

por entidades próprias como a ABNT (Brasil), NFPA (Estados Unidos) e BSI

(Inglaterra). Somente os projetos elaborados com base em disposições destas

normas podem assegurar uma instalação eficiente e confiável. Entretanto, esta

eficiência nunca atingirá os 100 % estando, mesmo estas instalações, sujeitas à

falhas de proteção. Os danos mais comuns são a destruição de pequenos trechos

do revestimento das fachadas de edifícios ou de quinas da edificação ou ainda de

trechos de telhados. Os sistemas visam a proteção da estrutura das edificações

contra as descargas que a atinjam de forma direta, tendo a NBR-5419 da ABNT

como norma básica. É de fundamental importância que após a instalação haja uma

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manutenção periódica anual para garantir a confiabilidade do sistema. São também

recomendadas vistorias preventivas após reformas que possam alterar o sistema e

toda vez que a edificação for atingida por descarga direta.

Segundo Alves (1999), as normas que regulamentariam a instalação do

Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas (SPDA), ficaram adormecidas

por aproximadamente 20 (vinte) anos, e somente em 1993 a Associação Brasileira

de Normas Técnicas (ABNT), atualizou as mesmas que passaram a compor a NBR-

5419 (já nesta versão permitia o uso das armaduras do concreto como parte

integrante do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas). A versão de

2001 e de 2005, atualmente em revisão, mas ainda em vigor, no parágrafo 5.1.2.5.5,

especificam: “Para edificações de concreto armado existentes, poderá ser

implantado um SPDA com descidas externas ou, opcionalmente, poderão ser

utilizadas como descidas as armaduras do concreto. Neste último caso, devem ser

realizados testes de continuidade e estes testes devem resultar em resistências

medidas inferiores a 1 Ω”.Esta última versão, válida a partir de 29 de agosto de

2005, possui ainda o anexo E, normativo, sobre o ensaio de continuidade de

armaduras que descreve em detalhes o ensaio para verificação da continuidade

elétrica das armaduras de concreto para que estas possam ser utilizadas como parte

integrante do sistema de proteção. A norma brasileira teve como referência a norma

da Internacional Eletrical Comission (IEC) de número 61024. O sistema de proteção

contra descargas atmosféricas que não obedeça à norma técnica NBR 5419/93, da

ABNT, que é o único documento aceito pelo código de defesa do consumidor, não

deverá ser levado a sério

A norma internacional, IEC 62305, parte 3 de 2006, atualmente em vigor, e

que está sendo seguida como texto na revisão da correspondente norma brasileira

acima referida, no parágrafo 4.3 , estabelece as condições para que o conjunto das

armaduras do concreto armado possa ser utilizado como integrante do sistema de

proteção contra descargas atmosféricas. Essa norma estabelece duas condições,

independentes, para esta utilização:

- que as armaduras da edificação sejam construídas visando essa utilização ou;

- que em ensaio nas armaduras seja obtido o valor de 0,2 Ω como admissível para a

medida de resistência ohmica de contato das armaduras entre os níveis inferiores e

superiores da edificação.

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O valor de 0,2 Ω recomendado pela IEC é obtido por única medição entre os anéis

superior (unindo todos os captores da periferia da cobertura) e o anel de

aterramento, unindo todas as descidas ao nível do solo, ao passo que o valor de 1 Ω

especificado pela NBR 5419/2005 é obtido pela medição (são recomendadas várias

medições) entre a parte superior de um pilar e a parte inferior do mesmo pilar ou de

um outro pilar. Isto explica a diferença entre os valores especificados pelas duas

normas. Note-se ainda que os anéis recomendados pela IEC podem ser a viga que

une as partes superiores dos pilares e a viga baldrame que interliga as partes

inferiores dos pilares.

Além destas normas já citadas, a alemã DIN/VDE 0100 e a americana

National Electrical Safety Code de 1993 também permitem a utilização das ferragens

como parte integrante do sistema de proteção. Após atualização da norma NBR

5419, surgiram novas técnicas de instalação para proteção contra descargas

atmosféricas, sendo as mais comuns a com utilização das armaduras do concreto e

a com uma Barra Adicional (RE-BAR), envolvida entre as armaduras do concreto,

como meio condutor de escoamento da descarga atmosférica até o solo. O correto

dimensionamento de uma instalação de proteção contra descargas atmosféricas

proporciona um elevado grau de segurança às construções em geral e independente

do meio adotado, devem ser seguidas as recomendações básicas recomendadas e

constantes da NBR 5419/2005.

2 FINALIDADE DA ESTRUTURA DO SISTEMA DE PROTEÇÃO CONTRA

DESCARGAS ATMOSFERICAS

A estrutura do Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas tem a

finalidade de dissipar para solo as correntes dos raios, que são recebidas pelos

captores, que é a parte mais elevada do SPDA, destinada a receber a descarga pelo

efeito das pontas, podendo ser de uma ou de várias pontas, em geral fabricado em

latão ou bronze cromado. A condução das correntes é feita através das barras de

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escoamento, parte do SPDA destinada a conduzir a corrente para o solo, as quais

podem ser de cobre, alumínio ou aço galvanizado.

3 MÉTODOS PARA INSTALAÇÃO DE SPDA

Os métodos são divididos em três:

Método Franklin

Método Gaiola de Faraday ou Malha

Método da Esfera Rolante ou Eletrogeométrico

É de fundamental importância conhecer os três tipos de métodos na hora da

elaboração de um projeto de SPDA para determinar qual se encaixa na proteção

adequada da edificação.

O método Franklin é composto por um captor com quatro pontas montado

sobre um mastro, cuja altura deve ser calculada conforme as dimensões da

edificação, podendo ser colocado um ou mais captores para uma proteção mais

abrangente. Consiste na colocação de hastes verticais sobre a edificação ou

próximos desta, de modo que a edificação fique dentro do cone de proteção

projetado pela ponta do Pára-Raios. Devido às limitações impostas pela norma NBR

5419/2005, a abertura do cone foi substancialmente reduzida e por esse motivo o

método Franklin passa a ser cada vez menos usado em grandes edifícios, contudo é

indicado para edificações de pequeno porte ou para proteger estruturas específicas

no alto de prédios, tais como antenas de TV ou parabólicas, placas de aquecimento

solar e letreiros luminosos. A proteção baseia-se na rotação da tangente de um

triângulo em torno de um eixo (geratriz), cujo ângulo de abertura é pré-determinado,

variando em função do nível de proteção e altura da edificação.

O método Gaiola de Faraday ou malha, consiste no lançamento de cabos

sobre a cobertura da edificação, modulados com fechamentos de acordo com o nível

de proteção exigido para edificação. Esse método funciona como blindagem

eletrostática, uma tentativa de reduzir os campos elétricos dentro da edificação. As

suas vantagens são:

- Melhor eficiência e proteção

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Page 7: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

- Menor impacto estético

- Minimiza o campo elétrico dentro da edificação

- Sistema consagrado internacionalmente

- Menor manutenção preventiva

As Gaiolas de Faraday são constituídas de isoladores simples, isoladores de

reforço, isoladores de quina, prensa-cabos, e principalmente dos isoladores tipo

captor aéreo, para que possam receber e dissipar as ondas eletromagnéticas de

uma descarga atmosférica.

O método da esfera rolante ou eletrogeométrico é datado da década de 80 e

constituiu-se de uma evolução do método Franklin. Muito usado para proteção de

linhas de transmissão e distribuição de energia elétrica, o método foi simplificado

para ser aplicado em edificações, servindo tanto para dimensionar o SPDA quanto

para checar a proteção com relação às edificações vizinhas, desníveis e estruturas

específicas, tais como antenas, placas e painéis, normalmente colocados nos topos

das edificações. O raio da esfera é adotado em função do nível de proteção

selecionado em cada edificação. Este método é somente de cálculo e

dimensionamento que, ao contrário do Franklin e da Gaiola de Faraday, não existe

fisicamente, pois os métodos Franklin e Faraday são sistemas compostos de

materiais (cabos e mastros) instalados nas fachadas das edificações. Para confirmar

se esses materiais estão corretamente posicionados e dimensionados, é utilizado o

método da esfera rolante, que consiste em fazer rolar uma esfera fictícia, com raio

pré-dimensionado em todos os sentidos e direções sobre o topo e fachadas da

edificação, com o objetivo de fazer com que os mastros do Franklin ou cabos do

Gaiola de Faraday, impeçam que a esfera toque a edificação.

O que determina o método a ser usado, são as medidas da edificação e o seu

uso. Por exemplo: para edificações pequenas como guaritas, caixas d’água baixas,

casas residenciais baixas e pequenas, pode ser usado o método Franklin ou

Eletrogeométrico, pois são muito próximos do solo. Para edificações altas ou

extensas horizontalmente como prédios ou galpões o mais indicado é o método

Gaiola de Faraday, tanto pelos custos, quanto pela estética e manutenção.

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Page 8: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

4 SISTEMAS DE INSTALAÇÃO DE SPDA

Os sistemas são classificados em:

- Externo ou convencional, com condutores de descida visíveis (Figura 1);

- Estrutural utilizando as armaduras do concreto como condutores de descida;

-Estrutural utilizando uma Barra Adicional (RE-BAR, Reforcing Bar), entre as

armaduras do concreto (Figura 2).

O sistema externo ou convencional consiste em uma instalação aparente de

cabos de cobre nú de 50 mm², preferencialmente nas quinas principais e ao longo

das fachadas das edificações, o que interfere na estética do prédio, e também se

constitui em custo alto devido ao cabo de cobre e aos componentes para fixação dos

mesmos, sem falar nos furtos destes materiais. Em edifícios que já estejam com as

fachadas prontas é a única solução, porém, para diminuir o impacto estético, ao

invés de cabos de cobre nú poderão ser usadas barras chatas de alumínio nas

descidas e anéis horizontais, mesmo assim o custo ainda é bastante alto em relação

ao outro sistema (ALVES, 1999).

No sistema estrutural através do uso das armaduras do concreto como meio

de escoamento da corrente elétrica produzida pelas descargas para o solo, existem

diversos problemas a serem contornados. O grande problema é garantir a

continuidade vertical das armaduras já que não existe essa preocupação durante o

processo da construção civil, uma vez que não é necessária, estruturalmente

falando. Uma descontinuidade das armaduras pode resultar na formação de uma

pilha galvânica o que levaria à corrosão da armadura. Para sanar este problema

seria necessário a contratação de um profissional especializado em solda

exotérmica durante a execução de toda armadura, interligando uma nas outras

gerando um custo adicional na edificação. Mesmo com estes cuidados os

problemas de descontinuidade não são eliminados 100% podendo ainda ocorrerem,

problemas como redução da seção, deslocamento de pilares e uso de alvenaria

estrutural. Outro problema a ser contornado é convencer os calculistas estruturais a

usarem a própria estrutura sem ter que assumir uma responsabilidade solidária com

a estrutura. Portanto, este sistema pode não garantir a continuidade vertical e

horizontal das armaduras pois para isso , é mister ter mão de obra especializada

durante a sua execução elevando os custos. Apesar de todas recomendações

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existentes em normas quanto à utilização das armaduras do concreto das

edificações como parte integrante do SPDA, cabe observar que este assunto ainda

possui alguns aspectos polêmicos, tais como:

- o concreto é poroso e o processo de corrosão das armaduras (ferragens), na

maioria das obras, começa a se manifestar com poucos anos de vida;

- O recobrimento dos pilares, na maioria das vezes, não consegue proteger a

armadura contra agentes agressivos;

- A norma do concreto armado não exige nenhum tipo de amarração entre as

armaduras de pilares/pilares e pilares/lajes, ficando a critério do armador que esta

executando tal serviço;

- A tecnologia de estruturas e fundações civis tem sofrido muitas inovações, e

é comum encontrar blocos de fundação sem ferragens e sem vigas baldrames,

sendo que a cada momento novas tecnologias vão sendo importadas;

- As estruturas de concreto protendido ou com cabos engraxados não

possuem obrigatoriamente continuidade elétrica

Numa obra civil existem tantos problemas que podem interferir na

continuidade das armaduras, por estes motivos este sistema não é totalmente

confiável (FILHO, 1997).

O sistema estrutural por meio do uso de uma Barra Adicional (RE-BAR,

Reforcing Bar), consiste em uma barra vertical de aço galvanizado a fogo 3/8” x

20m, amarrada `as armaduras verticais dos pilares por meios de conectores

metálicos ou solda exotérmica, da fundação até a cobertura. Tem como concepção

garantir a continuidade elétrica para conduzir as correntes transmitidas pelas

descargas atmosféricas até o solo, e fazer com que as demais armaduras ajudem a

dissipar estas correntes, aumentando a eficiência e a proteção contra os raios. Por

ser um sistema que mantém a continuidade elétrica do topo da edificação até o solo

é mais confiável, pois apresenta-se como o melhor meio de escoamento da

descarga atmosférica para o solo, além de ser fácil de fiscalizar e executar

apresenta custos bem menores que os demais sistemas normatizados, por esses

motivos e para garantir a execução de projeto de SPDA da forma mais confiável este

é o Sistema de proteção contra Descargas Atmosféricas ideal para ser usado na

construção civil (ALVES, 1999).

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Page 10: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Figura 1 – Prédio com instalação de SPDA através do sistema convencional.

Fonte: Creder, 2000

5 HISTÓRICO DO SPDA COM A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA ESTRUTURAL

A primeira utilização conhecida das armaduras (ferragens) do concreto

armado como parte integrante do Sistema de Proteção contra Descargas

Atmosféricas, data da segunda Guerra Mundial, mais precisamente de 1941, em um

sistema idealizado pelo engenheiro Herb Ufer para proteção dos depósitos de

bombas da base aérea, em Tucson, no Arizona, EUA. Os objetivos desse sistema

era proteger contra descargas atmosféricas e eletricidade estática, esta última

causada por vento e tempestade de areia. Anos mais tarde, Ufer reinspecionou as

instalações e concluiu que o sistema de proteção contra descargas atmosféricas

utilizando as armaduras do concreto promoviam uma menor e mais consistente

resistência de aterramento que as próprias hastes metálicas, especialmente em

regiões de solos com valores altos de resistividade. Devido a esta antiga utilização,

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Page 11: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

o uso das armaduras do concreto ou barras adicionais inseridas nas armaduras do

concreto é freqüentemente chamada de sistema estrutural ou Ufer (LEON, 1994).

A União Alemã das Centrais Elétricas possui desde 1965 diretrizes para

utilização das armaduras do concreto como parte integrante do SPDA. Em 1979 foi

publicada a norma alemã (caderno 35 da VDE) sobre a inclusão do sistema de

aterramento nas fundações dos edifícios residenciais. Em fins da década de 70 as

recomendações americanas incluíram sistemas de aterramento com condutores

embutidos no concreto, sendo que em 1978 o “National Electrical Safety Code”

(ANSI–C2)-NEC incluiu pela primeira vez especificações para eletrodos de

aterramento embutido nas fundações. Também a (ANSI/IEEE Standard 142-1982),

que trata especificamente de aterramento, ressalta em várias seções as vantagens

de se utilizarem as armaduras do concreto como parte integrante do SPDA. Portanto

desde a década de 60 vem se operando uma evolução nos conceitos e na prática do

Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas, resultando em uma integração

das armaduras do concreto ou uma barra adicional inserida entre as mesmas como

meio de escoamento da descarga atmosférica para o solo. Pode-se então dizer que

a utilização das armaduras do concreto como parte integrante do SPDA, é uma

prática mundialmente consagrada há aproximadamente 68 anos (considerando a

experiência pioneira de Ufer). Isso foi reconhecido por importantes normas e

recomendações publicadas ao longo desse período, como as normas brasileiras

NBR 5419 e NBR 5410, a norma internacional IEC 61024-1-2 e os documentos

estrangeiros ASE 4022, ANSI/IEEE std, 142 BS 6651, entre outros. Portanto, a

utilização das armaduras do concreto das edificações ou de uma barra adicional

entre elas, como elementos naturais para aterramento de instalações de baixa

tensão e de sistemas de proteção de estruturas e edificações contra descargas

atmosféricas, vem a ser uma técnica recomendada pelas normas brasileiras (NBR

5410/2004 e NBR 5419/2005) e de outros países. As vantagens, descritas não só

nas publicações mencionadas, mas também resumidas a seguir, encorajam cada

vez mais essa prática, tanto em edificações novas quanto nas existentes (LEON,

1994).

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Page 12: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

5.1 Vantagens da Utilização das Armaduras do Concreto ou de uma Barra

Adicional entre as Armaduras

Como concreto fica abaixo do nível do solo mantém sempre um certo grau de

umidade e por isso o seu valor de resistividade é baixo, geralmente muito menor do

que o valor da resistência do próprio solo onde está sendo construída a edificação

ou estrutura.Os valores típicos do concreto variam nessas condições de 30 a

500Ωm. O uso das armaduras diminui as variações de tensão durante a dissipação

das correntes associadas às descargas atmosféricas para o solo, com conseqüente

diminuição das diferenças de potencial de passo e de toque, além de reduzir a

impedância do sistema de aterramento e facilitar muito o cumprimento dos preceitos

de equipotencialização das instalações elétricas, em concordância com a NBR

5410/2004 (LEON, 1994).

Com o uso das armaduras dos pilares, vigas e lajes, diminuem-se os campos

eletromagnéticos internos a edificação, reduzindo as forças eletromotrizes induzidas

nos circuitos ali existentes, e, em conseqüência, as interferências prejudiciais as

pessoas e equipamentos eletrônicos. Além disso, o conceito do sistema

convencional ultrapassado, com aterramentos independentes e seccionamento para

medição da resistência de aterramento, passam a não existir quando se utiliza o

sistema estrutural através das armaduras do concreto ou de uma barra adicional

entre elas. A utilização do sistema estrutural resultará em maior eficiência técnica

como também econômica, tendo como subproduto a atenuação dos campos

eletromagnéticos internamente, atuando como blindagem. Existem edificações que

sua infra-estrutura é toda constituída de perfis metálicos, nestes casos, todos os

conceitos aqui descritos podem e devem ser aplicados, deste modo tirando proveito

das vantagens técnicas oferecidas por esse tipo de sistema (LEON, 1994).

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Page 13: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Figura 2 - Prédio com instalação de SPDA através do sistema estrutural com a

Barra Adicional entre as armaduras do concreto armado.

Fonte: Creder, 2000

5.2 Restrições e Cuidados No Uso Das Armaduras

Um dos cuidados essencial e de maior importância na utilização do Sistema

Estrutural por meio das armaduras do concreto ou de uma barra adicional entre as

mesmas é de garantir a continuidade elétrica entre os pontos extremos no caso das

armaduras, de modo que possa ser comprovada por meio de medições com

instrumento adequado, tem que ter um valor de resistência de contato elétrico menor

ou igual a 1Ω . Na barra adicional inserida entre as armaduras esta continuidade

elétrica é constante. Cabe observar que a medição deve ser feita com instrumento

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Page 14: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

adequado, sendo vedada, pelas normas vigentes, a utilização de multímetros e

alicates amperímetros convencionais. Deve-se, portanto, utilizar um miliohmímetro

ou microohmímetro de quatro terminais. As escalas do instrumento devem ter valor

de corrente injetada que atenda à exigência expressa no item E2 do anexo E da

NBR 5419/2005, a qual seja, o de circular uma corrente, com valor de no mínimo 1 A

ou superior, entre os pontos extremos da armadura sob ensaio.Caso seja necessário

a execução de solda entre as armaduras para garantir a continuidade, deve-se

utilizar solda elétrica.

Recobrimento das armaduras eventualmente expostas durante a instalação

deve ser feito com concreto de no mínimo 25 mm de espessura, as armaduras não

deverão ficar, em hipótese nenhuma, em contato com o solo, para evitar a corrosão.

Imersas no concreto elas estão protegidas por ausência de eletrólito e de aeração

(KINDERMANN, 1995).

Outro cuidado que deve ser tomado é com as eventuais descargas

atmosféricas laterais que devem ser captadas e conduzidas a terra através do

sistema estrutural. Para isso devem ser instalados captores específicos

convenientemente localizados e interligados às armaduras, evitando a quebra da

alvenaria de acabamento lateral da edificação. Uma observação muito importante é

que não é permitida a utilização das armaduras componentes de estruturas pré-

moldadas protendidas como parte integrante de Sistema de Proteção Contra

Descargas Atmosféricas (KINDERMANN, 1995).

Ao longo do tempo os sistemas adotados foram alterando-se em função das

novas teorias e também devido às falhas que eram constatadas nas proteções das

edificações existentes, especialmente à medida que as mesmas foram se tornando

cada vez maiores e mais altas. Recentemente, verificou-se que estruturas muito alta

estavam sujeitas a descargas atmosféricas laterais, o que não era compatível com o

sistema convencional. E assim, nas últimas décadas operou-se uma evolução nos

conceitos e na prática de instalação do SPDA, principalmente no sistema estrutural

que é a utilização das armaduras do concreto ou de uma barra adicional entre as

armaduras como parte integrante (LEITE; LEITE, 1997).

A utilização das armaduras do concreto ou da barra adicional entre as

mesmas levantaram duvidas para alguns usuários menos atualizados, na visão

relativa aos danos elétricos causados no concreto na passagem da corrente elétrica

gerada pela descarga atmosférica, ou seja, poderá ocorrer o rompimento ou não do

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Page 15: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

concreto? Referente a esta duvida foram realizados ensaios na Universidade de São

Paulo e apresentados no Brasil e em outros países que demonstraram que não

houve rompimento do concreto. Os ensaios resumidos a seguir foram desenvolvidos

na Universidade de São Paulo (USP).

5.3 Ensaios Realizados com a Utilização das Armaduras

O ensaio realizado em laboratório da IEE-USP no início dos anos 90 e

apresentado no 20º ICLP em Interlaken, na Suíça, e demonstrou a dificuldade de

reproduzir os parâmetros da descarga atmosférica em laboratório. Com as correntes

utilizadas, de até 100 KA, 4/10 µs, verificou-se que não houve o destacamento do

concreto em relação ao ferro, e não se notou movimentação que provocassem o

rompimento do concreto, nos casos onde as ferragens foram interligadas com arame

torcido. Nos casos onde as armaduras não estavam interligadas e havia uma

distância de alguns milímetros entre os ferros, houve a explosão do concreto; com

uma resistência de 10 Ω, houve passagem de corrente de até 60 KA com a mesma

forma de onda. Outros ensaios foram realizados e foram medidas as forças de

destacamento do ferro, comparando os resultados com as armaduras de colunas de

concreto similares que não sofreram os ensaios. Não foram verificadas diferenças

significativas nos esforços medidos.

Ensaio para comparação experimental de emendas em armaduras para

colunas de concreto armado utilizadas como descida para proteção contra

descargas atmosféricas foi apresentado no GROUND 2004 em Belo Horizonte e

uma parte dele foi utilizada para outro trabalho apresentado no 28° ICLP realizado

em Kanazawa, Japão em 2006. Neste ensaio comparam-se diversos tipos de

emendas possíveis de serem realizadas em ferragens através de realização de

ensaios e verificações. Basicamente 4 tipos de emendas foram estudadas: a

amarração das ferragens através de arame (a mais comum); a solda elétrica; a solda

exotérmica e a utilização de luvas especificas para emendas de ferragens.

Inicialmente foram medidas as resistências elétricas de cada emenda. Cada corpo

de prova foi instalado em uma caixa de madeira e esta foi preenchida com concreto

de forma a simular pequenas colunas de concreto. Estas colunas de concreto foram

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Page 16: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

radiografadas e as resistências elétricas medidas novamente. Correntes elétricas

impulsivas e pulsos de corrente contínua foram passados pelas ferragens sendo que

após as aplicações, foram realizadas radiografias e medições de resistências

elétricas. Os objetivos principais deste ensaio foram: comparar o comportamento

das diversas emendas de ferragens em relação à condução de descargas

atmosféricas e estimar valores da impedância das ferragens a serem utilizadas

como parte integrante do sistema de proteção. Além disto, uma coluna de concreto

nos mesmos moldes das anteriores foi feita de forma que as ferragens não foram

emendadas, ficando espaçadas cerca de 5 milímetros uma da outra. Esta coluna foi

também radiografada e passaram-se correntes elétricas impulsivas pelas ferragens.

Neste caso verificou-se que a passagem dos pulsos de corrente uniu as ferragens,

não sendo constatadas trincas ou quebras na coluna.

A norma brasileira descreve as condições em que as armaduras podem, ou

melhor, devem preferencialmente ser utilizadas como sistema de proteção. Estas

condições referem-se às emendas das ferragens; das dimensões e formas do

material utilizado; das interligações com as colunas das estruturas; das interligações

com as barras e/ou terminais de ligações equipotenciais e das avaliações e testes

de continuidade.

Um recente ensaio de campo foi realizado em quatro edifícios no bairro da

Mooca – São Paulo, cada um com 25 lajes acima do piso térreo. Com injeção de

corrente de 100 A entre dois pontos afastados, no piso térreo, e três pontos também

afastados na cobertura e caixa de água, não houve necessidade de mais que 14 a

16 volts de tensão elétrica aos terminais do transformador colocado no térreo. O

cabo de injeção de corrente, com 100 A, apresentava uma queda de tensão de 11,7

volts. Daí se concluiu que a queda de tensão nas armaduras apresentava valores de

forma que a impedância ultrapassou 0,05 Ω.Cabe salientar que a potência elétrica

dissipada por uma corrente elétrica de 100 A sobre uma resistência de 0,05 Ω é

apenas 500 W, ou seja, um quarto da potencia de um ferro de passar roupa. O seu

efeito para aquecer as armaduras de um edifício é insignificante.

Diversos ensaios de continuidade de armaduras são realizados

freqüentemente com bons resultados, acima foram citados apenas três ensaios.

Com este texto referente a ensaios busca-se ressaltar que a utilização das

armaduras do concreto como parte integrante do sistema de proteção contra

descargas atmosféricas é considerada segura, respeitados os parâmetros aqui

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Page 17: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

apresentados, e esta universalmente aceita por mais de quarenta anos em todo

mundo. “O texto acima citado foi redigido em 2007, pelos membros do Comitê

Brasileiro de Eletricidade (COBEL) e pela Associação Brasileira de Engenharia e

Consultoria Estrutural (ABECE), que estuda a norma de proteção de estruturas

contra descargas atmosféricas e a revisa periodicamente”.

6 A UTILIZAÇÃO DA BARRA ADICIONAL ENTRE AS ARMADURAS DO

CONCRETO ARMADO

O desenvolvimento do trabalho foi baseado na metodologia de pesquisa

bibliográfica, a partir do material sobre Sistemas de Proteção contra Descargas

Atmosféricas aplicados na Construção Civil que se constitui de livros e artigos

especializados.

Nesta fase foram colhidos dados e informações para a construção de um sistema de

escoamento da descarga atmosférica para o solo nas edificações que garantisse

uma confiança em termos de continuidade do topo até a fundação da edificação,

fosse fácil de executar e fiscalizar e apresentasse um custo menor que os demais

sistemas normatizados.

A abordagem utilizada é avaliação do passo a passo da instalação do

Sistema Estrutural por meio da Barra Adicional entre as armaduras do concreto

armado para escoamento da corrente elétrica por uma descarga atmosférica, com

rapidez e segurança para o solo, com um custo baixo para construção civil.

A barra adicional entre armadura do concreto armado como meio condutor da

corrente elétrica para o solo é chamada de RE-Bar (Reforcing Bar) e tem como

missão garantir a continuidade vertical da estrutura. É feita de uma barra de aço

galvanizada a fogo de 3/8 “x 20 m de comprimento e deve ser amarrada com as

lajes, do mesmo modo que os vergalhões normais do pilar. Para juntar as barras

adicionais, uma com as outras recomenda-se transpasse de 20 cm, com a utilização

de três clipes de aço de aperto. A RE-Bar não possui função estrutural, mas tem

ligações com a estrutura para permitir a condutibilidade de cima até embaixo da

edificação. Ela garante a equalização ao levar a corrente elétrica até a fundação do

edifício com mais rapidez, eficiência e segurança.Equalização é a interligação das

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Page 18: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

malhas de aterramento e tubulações metálicas com o sistema de SPDA. A

distribuição e equalização dos potenciais é uma das vantagens práticas da utilização

da barra adicional. Pelo sistema convencional que é externo, a norma exige, em

edifícios, espaçamento médio de 20m entre as descidas dos cabos(normalmente se

coloca uma em cada canto do prédio) e anéis horizontais de interligação a cada 20m

de altura do edifício, sendo o primeiro deles próximo ao solo.Com o sistema

estrutural por meio da RE-Bar, além da eliminação do impacto estético na fachada,

obtêm-se mais descidas e anéis de interligação, situados bem próximos uns dos

outros, já que cada pilar funciona como uma descida, assim como as lajes ou vigas

atuam como anéis. Desse modo, em intervalos muito menores (uma laje a cada

3m ,aproximadamente) o sistema se equaliza e oferece mais pontos de aterramento

(ALVES,1999).

As barras Re-Bar devem ficar com suas extremidades expostas na cobertura

do prédio, de modo que atuem como captores (parte do SPDA externo destinado a

interceptar as descargas atmosféricas). Uma vez que a descarga atmosférica ocorra

sobre as extremidades, a corrente elétrica será conduzida para as demais barras

adicionais, onde ocorrerá sua distribuição e dissipação para o solo (Alves, 1999).

Acerca de aspectos gerais sobre a instalação da Barra Adicional (RE-BAR),

foi realizada visita técnica, para aquisição de maiores conhecimentos e detalhes, a

uma obra de uma edificação na Rua Ubaldo Osório, loteamento Itaigara, quadra

B11, lote 01, Salvador/Bahia tendo como responsabilidade técnica pela instalação

do SPDA, por meio de utilização da RE-BAR, a Empresa HS Engenharia de

Instalações Ltda.

A partir da compreensão de todo o conteúdo foram descritas as conclusões

numa análise detalhada dos resultados obtidos na pesquisa e de todo contexto que

envolve a teoria com o que foi visto na obra visitada e constatado na explicação

fornecida pelo Engenheiro Projetista Saul José Pereira, responsável pela Empresa

HS.

Segue passo a passo a maneira correta de instalação de um Sistema de

Proteção contra Descargas Atmosféricas através da utilização da Barra Adicional

(RE-BAR), entre as armaduras do concreto armado, de acordo com a Empresa HS

Engenharia Ltda.

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Page 19: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Passo 1 - Elaboração do Projeto

. O projeto vai definir os critérios técnicos levando em importância o projeto

estrutural, o projeto arquitetônico e os projetos de instalações. Este dever ser bem

claro e detalhado de modo a facilitar a execução durante a concretagem e os

arremates finais (captação e equalização);

Passo 2 - Levantamento do Material Necessário para Instalação

Passo 3 - Instalação das Barras Adicionais

A instalação das barras adicionais dentro das fundações deve ser o mais

profundo possível, acerca de 20 cm afastado do solo, sem atingi-lo, pois a acidez

pode corroer a barra mesmo sendo galvanizada a fogo após garantir a continuidade

com três clipes ou conectores galvanizados;

No nível do solo (viga baldrame) deve ser instalada uma barra adicional

horizontalmente interligando todas as barras adicionais instaladas nos pilares

verticalmente. Assim, fica evidenciado o aterramento em anel, prescrito nas normas

NBR 5410 e NBR 5419;

A instalação das barras adicionais de aço liso galvanizada a fogo dentro de

todos os pilares da edificação, desde a fundação até o ponto mais alto, estes será o

sistema de descidas. Estas barras devem ser fixadas na parte interna dos estribos

do pilar, correndo paralelas às demais armaduras sendo que nos pilares externos

(de fachada) as barras são instaladas na face mais externa do pilar, de modo a

receber as descargas laterais que só atingem esses pilares. E nos pilares internos a

instalação é feita em qualquer face, porém sempre dentro dos estribos, sem invadir

o cobrimento e nunca no centro (núcleo) do pilar;

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Page 20: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

No cruzamento das armaduras verticais dos pilares com as armaduras

horizontais das vigas, lajes e blocos - as barras devem ser interligadas por ferro

comum (sobra de outros ferros da obra) em forma de L com 20 cm x 20 cm,

amarradas com arame recozido comum. Estas amarrações devem ser repetidas em

todas as lajes, com todos os pilares que pertencem ao corpo do prédio.

Na última laje, alguns pilares param, outros continuam e outros irão formar.

Sendo assim, os pilares que param são interligados com as barras adicionais com

os pilares que continuam para os níveis superiores. Essa interligação é feita na

horizontal, dentro da laje e vigas e todas as emendas das barras serão feitas com

clipes ou conectores galvanizados;

Instalação das barras adicionais nos últimos níveis do topo do prédio. A

Captação deve ser interligada horizontalmente com as barras adicionais que

estiverem aflorando no topo do prédio. Essa captação se divide em dois tipos:

Captação por fora – Nos locais onde existe acesso de pessoa, a barras

devem ser direcionada para o lado de fora do parapeito/platibanda, reduzindo assim

os riscos de acidentes pessoais pelo contato direto com o SPDA, neste caso as

barras são interligadas na horizontal, pelo lado de fora do parapeito

(Pingadeira/soleira/algerosa) com cabo de cobre nu bitola 35 mm² ou barra chata de

alumínio.

A captação por cima – Nos locais onde não existe acesso de pessoas, as

barras devem ser interligadas por cima dos parapeitos (telhado de cobertura, casas

de máquinas, tampa de caixa d’água etc.) e são interligadas com cabo de cobre nu

bitola 35 mm², na horizontal. Neste caso não é necessário o uso da barra chata de

alumínio, pois como os cabos vão ficar por cima dos parapeitos não tem problemas

estéticos, pois são áreas onde somente o pessoal de manutenção tem acesso.

Passo 4 - Equalização dos Potenciais

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Page 21: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Equalização de potenciais do Sistema de Proteção contra Descargas

Atmosféricas é a interligação de todas as massas metálicas (aterramentos,

tubulações metálicas, armaduras, elevadores, e todas as prumadas metálicas etc.),

e deve ser executado no nível do solo e a cada 20 m de altura, sendo interligados na

caixa de equalização do sistema.

Equalização de potenciais deve ser feita no nível mais baixo da edificação

(subsolo), com a instalação da caixa de equalização (20cmx20cm) num pilar o mais

eqüidistante possível do DG (quadro da concessionária telefônica) e do QDG

(quadro da concessionária de energia elétrica) e interligar a caixa a qualquer

armadura do pilar, remover das quinas dos pilares a cobrimento de concreto até

achar as armaduras até encontrar a ferragem para fazer a intermediação.

Conectar os aterramentos telefônicos, elétricos, massas metálicas, prumadas

de incêndio, recalque, tubos de gás, tubulações metálicas, guias de elevadores na

caixa de equalização de potenciais com cabo de cobre isolado bitola 16 mm². Essa

conexão deve ser feita na haste mais próxima de cada um dos aterramentos,

lembrando que caso existam outros aterramentos, o procedimento é o mesmo.

Para tubulação de incêndio e recalque é recomendável que essas sejam

aterradas no subsolo com uma haste e depois interligadas na caixa de equalização.

Após todas essas estruturas aterradas, esse conjunto deve ser interligado com a

ferragem da laje, no ponto mais próximo da central evitando assim a possibilidade

de centelhamento e possível explosão. A caixa de equalização deve ser instalada de

preferência no hall do andar (embutida na parede a 20 cm do piso), interligada por

fita perfurada niquelada na ferragem da laje mais próxima e na carcaça metálica do

QDC (quadro de distribuição de circuitos) do apartamento mais próximo.

Se os circuitos elétricos possuem fio-terra não é necessário interligar os outros

QDC´s do andar visto já estarem equalizados por este, caso contrário, todos os QDC

´s devem ser levados a caixa de equalização, por cabo de cobre encapado bitola 16

mm², passando por baixo do contrapiso ou barroteamento ou por cima do forro de

gesso do andar.

As demais massas (prumadas de incêndio, recalque, tubulações de água

quente e de gás, guias dos elevadores e contrapesos etc.) podem ser ligadas

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Page 22: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

diretamente nas ferragens das lajes com fita perfurada niquelada ou na caixa de

equalização, dependendo da distância.

Passo 5 - Realização de Testes

Testes de continuidade elétrica entre os pontos extremos das barras interligadas,

utilizando um instrumento de medição microohmimetro. O valor de resistência de

contato elétrico deve ser menor ou igual a 1(um) ohm (unidade de resistência

elétrica). Para os fins citados com este valor de resistência se consegue garantir a

continuidade elétrica do sistema de proteção contra descarga atmosférica com uso

das barras adicionais RE-BAR.

É de fundamental importância que após a instalação haja uma manutenção

periódica anual do SPDA, a fim de se garantir a confiabilidade do sistema. São

também recomendadas vistorias preventivas após reformas que possam alterar o

sistema e toda vez que a edificação for atingida por uma descarga atmosférica.

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Sistema de Proteção contra a Descarga Atmosférica é uma proteção para

minimizar os efeitos destruidores dessas descargas.

Assim sendo, as soluções internacionalmente aplicadas buscam tão somente

minimizar os efeitos destruidores a partir da colocação de pontos preferenciais de

captação e condução segura da descarga para terra.

Conclui-se que ainda não foi conseguida uma proteção completa ou totalmente

efetiva para as descargas atmosféricas, mesmo com toda tecnologia empregada em

tais sistemas ainda não se conseguiu cem por cento de eficiência, o que deve fazer

com que não nos descuidemos, de forma alguma, de tomar certos cuidados numa

tempestade com descargas atmosféricas.

A fim de evitar falsas expectativas sobre o sistema de proteção é esclarecido

que: a descarga atmosférica é um fenômeno da natureza absolutamente

imprevisível e aleatório, tanto em relação as suas características elétricas

(intensidade de corrente, tempo de duração etc.), como em relação aos efeitos

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Page 23: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

destruidores decorrentes de sua incidência sobre as edificações. Em termos práticos

nada pode ser feito para se impedir a queda de um raio em determinada região.

Em termos gerais sobre Sistema de Proteção contra Descargas Atmosféricas

ainda é necessário ampliar os estudos, despertar a curiosidade de estender as

pesquisas para que os danos causados não sejam minimizados e sim sanados

totalmente.

Com essa pesquisa observa-se que, quando projeta-se, planeja-se e constrói-se

de acordo com as normas, consegue-se reduzir de forma significativa os riscos e

que muitas vezes soluções simples podem evitar altos custos.

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Page 24: SISTEMAS DE PROTEÇÃO CONTRA DESCARGAS ATMOSFÉRICAS APLICADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL

REFERÊNCIAS

ALVES, Normando V. B. Instalações elétricas 2. ed. São Paulo: Sertec, 1999

ALVES, Normando V. B. Sistema de proteção contra descargas atmosféricas. . Belo Horizonte, 1999. (Apostila)

ASSOCIAÇÃO Brasileira de Normas Técnicas - ABNT. NBR 5419/01. Proteçãode Estruturas contra Descargas Atmosféricas. Rio de Janeiro, 2001

______. NBR 5410/05 – Segurança em Eletricidade, Rio de Janeiro, 2005

CREDER, H. Instalações elétricas. 14. ed. Rio de Janeiro. LTC, 2000.

FILHO, J. M. Instalações elétricas industriais. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1997.

KINDERMANN, G. Descargas atmosféricas. 6. ed. Porto Alegre: Sagra,1995.

LEITE, D.M.; LEITE, C.M. Proteção contra descargas atmosféricas. São Paulo: Oficina de Mydia, 1997,

PROTEÇÃO de estruturas contra descargas atmosféricas, n, 34 São Paulo, PINI, 1999.

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