sistema municipal de informaÇÕes em saneamento … · funções participação e controle social...

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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG Laís Santos de Magalhães Cardoso (1) Graduação em Enfermagem (UFMG). Especialização em Saúde Coletiva (UFMG). Mestrado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Integrante do Grupo de Pesquisa de Políticas Públicas e Gestão em Saneamento, situado no Departamento de Engenharia Sanitária (DESA/UFMG). Denise Helena França Marques Maia Graduação em Ciências Econômicas (UFMG). Doutorado em Demografia (UFMG). Pós-doutorado em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Pesquisadora de Ciência e Tecnologia no Centro de Estatística e Informação da Fundação João Pinheiro. Alexandre Araújo Godeiro Carlos Graduação em Engenharia Civil (UFRN). Especialização em Engenharia de Saúde Pública (ENSP/FIOCRUZ). Mestrado Profissional em Vigilância em Saúde (ENSP/FIOCRUZ/FUNASA). Especialista em Infraestrutura Sênior do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em exercício no Departamento de Articulação Institucional da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades. E-mail (1) : [email protected] RESUMO Segundo a Lei Federal nº 11.445, os municípios são os titulares dos serviços de saneamento básico, cabendo-lhes, entre outras atribuições, elaborar os planos de saneamento básico e estabelecer um sistema de informações sobre esses serviços. Com o intuito de apoiar alguns titulares na viabilização de tais demandas, a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental assumiu o compromisso de coordenar a elaboração de um Sistema Municipal de Informações em Saneamento Básico (SIMISAB) e disponibilizá-lo para que pudessem aprimorar a gestão do saneamento. O presente trabalho, de cunho qualitativo, consiste em um relato de experiência, cujos objetivos são: a) apresentar o processo de construção do SIMISAB; e b) discutir suas potencialidades e fragilidades enquanto ferramenta auxiliar da gestão. O SIMISAB estrutura-se em Módulos e Blocos Temáticos que buscaram contemplar todas as funções de gestão. Em termos SISTEMA MUNICIPAL DE INFORMAÇÕES EM SANEAMENTO BÁSICO (SIMISAB): UMA FERRAMENTA DE APOIO À GESTÃO MUNICIPAL DO SANEAMENTO BÁSICO ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento 1

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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

Laís Santos de Magalhães Cardoso(1)

Graduação em Enfermagem (UFMG). Especialização em Saúde Coletiva (UFMG). Mestrado em

Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Integrante do Grupo de Pesquisa de

Políticas Públicas e Gestão em Saneamento, situado no Departamento de Engenharia Sanitária

(DESA/UFMG).

Denise Helena França Marques Maia Graduação em Ciências Econômicas (UFMG). Doutorado em Demografia (UFMG). Pós-doutorado

em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos (UFMG). Pesquisadora de Ciência e

Tecnologia no Centro de Estatística e Informação da Fundação João Pinheiro.

Alexandre Araújo Godeiro Carlos Graduação em Engenharia Civil (UFRN). Especialização em Engenharia de Saúde Pública

(ENSP/FIOCRUZ). Mestrado Profissional em Vigilância em Saúde (ENSP/FIOCRUZ/FUNASA).

Especialista em Infraestrutura Sênior do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, em

exercício no Departamento de Articulação Institucional da Secretaria Nacional de Saneamento

Ambiental do Ministério das Cidades.

E-mail(1): [email protected]

RESUMO

Segundo a Lei Federal nº 11.445, os municípios são os titulares dos serviços de saneamento

básico, cabendo-lhes, entre outras atribuições, elaborar os planos de saneamento básico e

estabelecer um sistema de informações sobre esses serviços. Com o intuito de apoiar alguns

titulares na viabilização de tais demandas, a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental

assumiu o compromisso de coordenar a elaboração de um Sistema Municipal de Informações em

Saneamento Básico (SIMISAB) e disponibilizá-lo para que pudessem aprimorar a gestão do

saneamento. O presente trabalho, de cunho qualitativo, consiste em um relato de experiência,

cujos objetivos são: a) apresentar o processo de construção do SIMISAB; e b) discutir suas

potencialidades e fragilidades enquanto ferramenta auxiliar da gestão. O SIMISAB estrutura-se em

Módulos e Blocos Temáticos que buscaram contemplar todas as funções de gestão. Em termos

SISTEMA MUNICIPAL DE INFORMAÇÕES EM SANEAMENTO BÁSICO (SIMISAB): UMA FERRAMENTA DE APOIO À GESTÃO MUNICIPAL

DO SANEAMENTO BÁSICO

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operacionais, trata-se de sistema de informação aberto, cuja responsabilidade administrativa recai

sobre os municípios para os quais for disponibilizado. Existem ainda desafios a serem transpostos

e aprimoramentos a serem feitos ao SIMISAB. Entretanto, o horizonte que ora se vislumbra

sugere reflexos positivos para o setor de saneamento básico no que tange ao planejamento e à

gestão municipais.

Palavras-chave: Saneamento básico; Planejamento; Gestão municipal; Sistema de informação.

1 - INTRODUÇÃO/OBJETIVOS

De acordo com a Constituição Federal de 1988, compete à União “instituir diretrizes para o

desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos” (artigo

21, inciso XX, BRASIL, 1988). Nesse contexto, destaca-se a Lei Federal nº 11.445, promulgada

em 2007, a qual estabelece diretrizes nacionais para o saneamento (BRASIL, 2007). Segundo o

dispositivo legal, a titularidade dos serviços é dos municípios, que devem formular a respectiva

política pública de saneamento básico, devendo, entre outras atribuições, elaborar os planos de

saneamento básico e estabelecer sistema de informações sobre os serviços, articulado com o

Sistema Nacional de Informações em Saneamento (BRASIL, 2007).

Quanto aos sistemas de informações, constituem-se ferramentas elementares para auxiliar os

municípios no desempenho das funções de gestão dos serviços de saneamento básico, quais

sejam: planejamento, regulação, fiscalização e prestação, todas perpassadas, ainda, pelas

funções participação e controle social (PEIXOTO, 2013). No Brasil, existem diversas bases de

dados sobre os serviços de saneamento básico prestados no território nacional, oriundas de

pesquisas realizadas por diferentes instituições. Entretanto, muitas vezes, essas bases estão

incompletas, desatualizadas e cada qual foi pensada segundo uma lógica própria, fornecendo,

portanto, informações acerca de diferentes dimensões do setor, com níveis de agregação e

unidades de análise heterogêneas e diferentes periodicidades.

Para a realização de um panorama global, que considere uma maior gama dessas dimensões,

faz-se necessário agregar as bases distintas, o que nem sempre se mostra eficaz, haja vista os

diferentes métodos empregados em cada pesquisa. Ademais, nem sempre essas bases de dados

são acessíveis aos titulares dos serviços de saneamento básico, seja pelo seu desconhecimento,

ou por falta de recursos físicos e de pessoal qualificado para fazê-lo. Desse modo, os dados que

alimentam as bases nacionais podem não estar subsidiando aqueles que são os responsáveis

pela gestão dos serviços no âmbito municipal.

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Em 2010, a Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA) realizou seleção de municípios

aos quais forneceria apoio técnico-financeiro para a elaboração dos respectivos Planos Municipais

de Saneamento Básico (PMSB) conforme termos da legislação setorial e documentos normativos

nacionais. Entre os itens pactuados situava-se a construção de um sistema municipal de

informações, o qual se mostrou de difícil execução, visto os titulares terem apresentado à SNSA

projetos bastante discrepantes no que diz respeito, principalmente, à arquitetura, conteúdo,

metodologia, bem como terem apresentado demandas muito heterogêneas de custeio.

Assim, a Secretaria, preocupada com o tema, assumiu o compromisso de apoiar a elaboração de

um Sistema Municipal de Informações em Saneamento Básico (SIMISAB) e disponibilizá-lo para

que os municípios pudessem acessar e aprimorar a gestão municipal de saneamento. O SIMISAB

visa estimular a cultura de registro e sistematização de informações sobre saneamento pelos

municípios e, ainda, auxiliá-los na elaboração, no monitoramento, na avaliação e na revisão dos

respectivos PMSB. Ademais, intenta contribuir para o aprimoramento da gestão dos serviços de

saneamento básico a partir do estímulo à prática – ainda incipiente - de sistematização e

disseminação dos dados de saneamento, a qual, por conseguinte, capacita os municípios para o

planejamento setorial.

Face ao exposto, o objetivo desse trabalho é apresentar o processo de construção do SIMISAB e

discutir suas potencialidades e fragilidades enquanto ferramenta auxiliar da gestão. Pretende

suscitar nos gestores municipais a reflexão sobre a importância da prática do planejamento, que

tem como elementos propulsores a geração e a análise de dados. Adicionalmente, apresenta um

processo que pode fornecer subsídios, ou servir de referência para gestores e pesquisadores que

se ocupam das temáticas políticas públicas e gestão do saneamento, e sistemas de informação

em saneamento.

2 - METODOLOGIA

O presente trabalho, de caráter qualitativo, consiste em um relato de experiência que descreve o

processo de construção do SIMISAB e, de mais a mais, discute as potencialidades e fragilidades

do Sistema enquanto ferramenta auxiliar da gestão municipal do saneamento.

Um estudo do tipo relato de experiência descreve uma vivência particular “que suscitou reflexões

novas sobre um fenômeno específico”; o foco recai tanto sobre a experiência, quanto sobre a

reflexão acerca da experiência vivida (LOPES, 2012). Trata-se, portanto, da descrição e da

análise de procedimentos de intervenção sobre a realidade objetiva.

O processo aqui descrito foi empreendido entre os meses de agosto e dezembro de 2014, e

janeiro e fevereiro de 2015, sob a coordenação de equipe técnica da SNSA, do Ministério das

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Cidades. Cumpre elucidar que o SIMISAB é um sistema informatizado ainda não implementado,

cuja versão denominada “beta” consiste no principal produto do referido processo.

3 - RESULTADOS

Essa seção consiste na descrição do processo empreendido para a elaboração do SIMISAB, bem

como na apresentação de aspectos conceituais e operacionais de sua versão beta. Em seguida,

são apresentadas as ações ainda não implementadas e previstas para o ano de 2015, as quais

contemplam, por exemplo, o pré-teste e a disponibilização do Sistema para os municípios.

3.1 - SIMISAB: PROCESSO DE CRIAÇÃO No âmbito do Projeto “GEPRO_MCID_SNIS_II_2011”, e com o objetivo de elaborar uma proposta

de sistema municipal de informações em saneamento, formou-se um Grupo de Trabalho (GT)

composto por pesquisadores contratados, analistas de Tecnologia da Informação e especialistas

em saneamento internos à SNSA.

Inicialmente, foram revisados tanto a legislação setorial, quanto documentos institucionais

nacionais e literatura específica acerca da gestão dos serviços de saneamento básico. A pesquisa

bibliográfica permitiu conhecer os aspectos da gestão que perpassam os serviços de saneamento

no Brasil e identificar os tópicos que deveriam ser contemplados nos instrumentos de coleta do

sistema municipal de informações. Cumpre mencionar que a Lei 11.445 de 2007, o Decreto 7.217

de 2010, bem como a Resolução Recomendada n° 75, de 02 de julho de 2009 do Conselho das

Cidades, foram tidos como documentos balizadores pela equipe de trabalho.

Concomitantemente, foram analisados instrumentos de coleta de diferentes pesquisas nacionais e

internacionais sobre saneamento básico, a saber: Sistema Nacional de Informações sobre

Saneamento (SNIS), gerido pelo Ministério das Cidades; Pesquisa Nacional de Saneamento

Básico (PNSB), Censos Demográficos, Pesquisa de Amostra de Domicílios (PNAD) e Pesquisa de

Informações Básicas Municipais (MUNIC), todos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE); Asociación de Entes Reguladores de Agua e Saneamiento de Las Americas

(ADERASA); Associação Brasileira de Agências de Regulação (ABAR); Sistema de Información

de Agua y Saneamiento Rural (SIASAR); e Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da

Água para Consumo Humano (SISAGUA).

A partir dessa análise, foram identificadas e elencadas as questões relativas às funções de

gestão, as quais foram transcritas para arquivos digitais – algumas foram reformuladas - tendo

sido organizadas em um dos seguintes blocos temáticos: “Política Municipal de Saneamento

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Básico”, “Planos Municipais de Saneamento Básico”, “Controle Social”, “Regulação e

Fiscalização”, “Saneamento Rural” e “Saneamento em Comunidades Tradicionais”. Além disso,

aspectos não contemplados nas questões identificadas, mas que foram considerados pertinentes,

tendo-se em vista o conteúdo dos documentos utilizados como referência, foram transformados

em questões, as quais foram acrescentadas aos blocos temáticos supramencionados.

Ao longo dessas etapas, reuniões foram realizadas entre integrantes do GT para melhor conduzir

o processo de trabalho, definir as demandas, tais como aspectos conceituais e operacionais do

sistema, e planejar um cronograma de ações. Reuniões também foram realizadas com outros

atores, considerados chave em função de sua expertise no campo da gestão, do planejamento, da

regulação, da prestação de serviços, e da participação e do controle social em saneamento.

Nesse último caso, buscou-se estabelecer parcerias, de modo a angariar subsídios para ampliar o

conhecimento do GT no tocante à gestão em saneamento básico. Entre esses atores constaram

representantes das seguintes instituições: agência reguladora dos serviços de saneamento,

empresa de consultoria especializada na elaboração de planos municipais de saneamento,

integrantes de grupo de pesquisa de uma universidade federal, consultores independentes,

representantes de prestadores públicos estaduais e municipais de serviços de saneamento, além

de representantes de consórcio público.

Após a consolidação dos formulários de questões dos blocos temáticos pela GT, foi proposto um

processo avaliativo, denominado Painel de Especialistas, com o intuito de aprimorar e validar

esses instrumentos de coleta do sistema municipal de informações. Uma lista de especialistas da

área de saneamento foi elaborada; contemplou acadêmicos, consultores, servidores públicos,

entre outros. Foram enviados emails para os selecionados, contendo uma carta convite, os

formulários propostos para o SIMISAB, bem como as instruções e critérios para uma avaliação

virtual dos mesmos. Ao findar o prazo estabelecido para o recebimento das contribuições virtuais,

todas as sugestões foram analisadas e sistematizadas em planilhas de Excel.

Em seguida, foi agendada uma oficina para apresentação do SIMISAB, de seus objetivos, sua

relevância, aspectos conceituais e operacionais, e discussão dos formulários de coleta propostos.

Nesse evento, realizado nas dependências do Ministério das Cidades, também foram

apresentadas as contribuições dos especialistas, as convergências e divergências de opinião

acerca da pertinência das questões integrantes dos blocos temáticos. Cumpre salientar que, para

a oficina, não foram convidados todos os especialistas que participaram da fase de avaliação

virtual, por questões de restrição de recursos financeiros e entraves de logística.

Os encaminhamentos da oficina foram colocados em prática, tendo sido reformulados os

formulários de pesquisa do SIMISAB, os quais estão, atualmente, em processo de homologação

em ambiente Web.

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Quanto aos aspectos operacionais, o SIMISAB será acessado pelas prefeituras por intermédio do

sítio eletrônico do Ministério das Cidades. Em primeiro lugar, os técnicos da prefeitura terão que

realizar o download do programa e depois salvá-lo no computador da instituição. Consistirá em

plataforma informatizada de sistematização das informações municipais de saneamento, a qual

poderá ser aprimorada no âmbito local e adaptada às suas particularidades. Nesse sentido, e em

termos de classificação, o SIMISAB é um sistema aberto, caracterizado pela interação com o

ambiente externo que cerca a organização (PADOVEZE, 2010). Em adição, foi pensada uma

integração como SNIS, a qual se dará de forma gradual e, inicialmente, a partir da criação de um

Módulo de Gestão Municipal neste último sistema. Possivelmente, em período mais à frente,

espera-se que se constitua na base única do SINISA.

3.2 – ESTRUTURA DO SIMISAB O SIMISAB foi estruturado em quatro módulos, conforme esquematizado na Figura 1.

Figura 1 – Estrutura modular do SIMISAB

O módulo de “Informações de Cadastro e Contexto” visa caracterizar o município a partir de dados

socioeconômicos, demográficos, relativos à sua localização, e aspectos institucionais dos

serviços, como identificação e cadastramento dos prestadores – informações como nome, tipo de

prestação, se concessão ou não, abragência, se local ou mais ampla, e quais os serviços de

Monitoramento e Avaliação

Informações de Cadastro e Contexto

Gestão do Saneamento

Prestação dos serviços

1

2

3

4

1 - Política Municipal

Bloc

os te

mát

icos 2 - Plano Municipal

3 - Controle Social

4 - Regulação e Fiscalização

5 - Saneamento Rural

6 - Saneamento em ComunidadesTradicionais

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saneamento por eles operacionalizados -, bem como levantamento de informações sobre

existência de gestão associada.

O módulo “Gestão do Saneamento”, por sua vez, abriga seis Blocos Temáticos, que objetivam

levantar informações sobre as diferentes dimensões da gestão dos serviços de saneamento: 1)

“Política Municipal de Saneamento Básico”; 2) “Planos Municipais de Saneamento Básico”; 3)

“Controle Social”, 4) “Regulação e Fiscalização”, 5) “Saneamento Rural” e 6) “Saneamento em

Comunidades Tradicionais” (Figura 1).

O módulo “Prestação dos serviços” constitui-se dos formulários de coleta de dados de

abastecimento de água, esgotamento sanitário e resíduos sólidos, transpostos do SNIS. Apesar

da prestação de serviço ser uma das dimensões da gestão, foi necessário deixá-la num módulo à

parte por questões de aproveitamento de uma tecnologia operacional já estabelecida. Além disso,

o SNIS é um sistema de informação já consolidado, gerido pelo Ministério das Cidades, sendo

grande parte das informações por ele levantadas de caráter quantitativo, diferentemente das

informações contempladas no módulo de gestão. Permite, portanto, pelo caráter quantitativo das

informações, a construção de indicadores. Esses, também transpostos fielmente do SNIS,

integram o módulo “Monitoramento e Avaliação”, e dizem respeito à prestação dos serviços de

saneamento.

O aproveitamento da estrutura do SNIS e a transposição de seus formulários para o SIMISAB vai

ao encontro das diretrizes nacionais no que concerne à criação de sistemas de informação

articulados entre si. Considera-se que essa articulação possa se constituir um primeiro passo para

o estabelecimento do Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (SINISA),

previsto na Lei nacional do Saneamento (BRASIL, 2007).

O SIMISAB é um sistema de informações informatizado, previsto para ser administrado pelos

titulares dos serviços de saneamento básico e por eles alimentado anualmente e consultado

continuamente. O município é quem deve formular a política pública de saneamento básico, o que

abarca: i) elaborar os planos de saneamento; ii) organizar e prestar diretamente os serviços ou

autorizar a delegação deles; iii) definir o ente responsável pela regulação e fiscalização, assim

como os procedimentos a serem seguidos por ele; iv) fixar os direitos e deveres dos usuários; e v)

estabelecer mecanismos de controle social. Assim, embora possa delegar a prestação e a

regulação dos serviços de saneamento no âmbito de sua jurisdição, deve estar a par de todo o

aparato dos serviços, desde sua organização até sua prestação, perpassando todas as etapas

intermediárias. A Figura 2 destaca o papel central do titular no que se refere à gestão e à

alimentação do Sistema de Informações, bem como sua estreita relação com os prestadores – o

próprio titular ou outro prestador - e entes reguladores, também geradores de informações de

suma importância para o planejamento e gestão municipais.

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Em um primeiro momento, o SIMISAB será ofertado a um conjunto de municípios que receberam

subsídio financeiro federal para viabilizar a elaboração dos Planos Municipais de Saneamento

Básico (PMSB).

Figura 2 – Rede de informantes dos blocos/módulos do SIMISAB

A Figura 3 corresponde à imagem da interface do SIMISAB com o usuário. Nela, visualizam-se

três módulos do Sistema: i) Informações de cadastro e contexto; ii) Gestão dos serviços de

saneamento básico e; iii)Prestação dos serviços. Cumpre informar que o layout ainda está em

fase de testes, e sofrerá modificações e correções pela equipe de TI da SNSA/MCidades. Ainda

serão feitas análise de viabilidade e programação do Módulo de Monitoramento e Avaliação.

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Figura 3 – Interface do SIMISAB com o usuário

3.3 - PRÓXIMAS ETAPAS Está prevista, para até o final de 2015, a realização de pré-teste com os integrantes do GT e teste-

piloto com alguns dos municípios que receberam apoio financeiro do governo federal para a

elaboração de seus planos de saneamento básico. Todavia, o método e o cronograma ainda não

foram totalmente definidos. Ainda assim, algumas ações já foram estabelecidas, apresentadas

abaixo nas respectivas ordem de execução:

- Pré-teste e avaliação do Sistema pelo GT;

- Correções pela equipe de TI do GT;

- Teste-piloto, prevendo capacitação/treinamento prévio dos municípios para operacionalização e

alimentação do Sistema;

- Análise pelo GT das avaliações feitas pelos municípios após o teste-piloto;

- Novas correções pela equipe de TI do GT;

- Implantação do Sistema.

Como premissa para a realização do teste-piloto, deverão ser selecionados municípios de

diferentes portes populacionais e de diferentes abrangências dos serviços.

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4 - DISCUSSÃO 4.1 - POTENCIALIDADES E FRAGILIDADES DO SIMISAB

O SIMISAB representa um avanço para o setor de saneamento, desempenhando um papel

importante no remodelamento do planejamento municipal: sua operacionalização estimulará a

cultura de coleta, registro, processamento e análise de dados, ainda incipiente no país, sobretudo

no setor de saneamento. Ademais, o sistema está em consonância com as diretrizes nacionais,

que estabeleceram que os municípios devem criar seus próprios Sistemas de Informação. Como

mencionado anteriormente, os municípios apoiados ténica e financeiramente pela SNSA na

elaboração de seus PMSB tiveram diversas dificuldades para elaborarem seus respectivos

Sistemas. O SIMISAB foi criado para contornar esse entrave. Além disso, algumas questões

contidas nele serão contempladas no futuro Módulo de Gestão do SNIS, preparando a base para

o futuro SINISA, cujas diretrizes propostas para a sua concepção são:

“- abrangência de todas as etapas da gestão dos serviços de saneamento: planejamento, regulação, fiscalização, prestação e controle social; - universalização com informações para os quatro componentes do saneamento básico, em todos os municípios brasileiros; - integração de sistemas, visando a racionalidade na obtenção dos dados e a redução da duplicidade na sua captura; - intencionalidade na definição das informações e indicadores a serem captadas, visando o fortalecimento dos princípios e diretrizes do Plano Nacional de Saneamento Plansab; - interoperabilidade entre sistemas, que permita a troca de informações entre os mesmos e racionalidade em sua manutenção; - periodicidade, que atenda ao acompanhamento da evolução da prestação dos serviços e o desenvolvimento de projetos, subsidiando na elaboração de novos programas que atendam às demandas por saneamento básico; - padronização de conteúdos, de definições de processos, de parâmetros e de indicadores, visando facilitar a captação dos dados no nível municipal e garantir os objetivos do SINISA; - flexibilidade na implementação capaz de adequar o sistema às distintas realidades sócio-econômicas e culturais existentes no País; - segurança, capaz de conferir credibilidade e qualidade às informações produzidas; e a - visibilidade quanto ao conteúdo, fontes e estrutura dos sistemas de informação capaz de servir como orientação para os planejamentos dos governos municipais, estaduais e federal e produzir direcionalidade e adesão às orientações do Plansab” (MONTENEGRO e CAMPOS, 2011. p.338).

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Entre as diretrizes do SINISA que estão contempladas no SIMISAB, já com a visão de futuro para

o Sistema Nacional, estão as etapas da gestão dos serviços, a universalização, a integração – no

caso com o SNIS -, a periodicidade, a padronização e a visibilidade.

O GT identificou uma lacuna no que se refere ao saneamento rural e em comunidades tradicionais

nas fontes nacionais de dados sobre esse setor. Esses aspectos não são abordados, por

exemplo, no atual Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), em função da sua

estrutura; o SNIS é considerada a mais importante fonte de dados sobre saneamento no país. O

SIMISAB se apresenta, portanto, como uma oportunidade para se conhecer melhor a situação do

saneamento em tais contextos, a partir do momento em que, ao abarcar blocos temáticos

específicos para o contexto rural e as comunidades tradicionais, propicia a sistematização desses

dados.

Apesar desse cenário promissor, o sistema possui algumas fragilidades. Em termos de conteúdo

dos formulários, ainda não abarca informações que permitam identificar a existência, nem

caracterizar as soluções alternativas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário no

contexto urbano.

No que se refere especificamente aos formulários dos blocos temáticos “Saneamento Rural” e

“Saneamento em Comunidades Tradicionais”, esses ainda não contemplam muitas informações

sobre as dimensões técnico-operacionais e administrativas dos serviços e soluções de

saneamento aí implementados, e abrangem, majoritariamente, informações qualitativas. Esse

último aspecto culmina, portanto, na baixa capacidade de geração de indicadores sobre tais

contextos, a partir do SIMISAB. Em adição, os referidos formulários ainda não possibilitam um

levantamento de informações sobre os tipos de gestão dos serviços de saneamento adotados no

meio rural e nas comunidades tradicionais. Sabe-se que a ruralidade é um conceito ainda em

construção e complexo por sua dinamicidade. Em um país como o Brasil, o rural se manifesta de

diversas maneiras, dependendo do clima, da Região, de aspectos socioeconômicos, demográficos

e culturais. Caracterizar os serviços de saneamento nas diversas ruralidades brasileiras constistui

desafio a ser superado, ainda no século XXI. Ademais, os sistemas de informação sobre

saneamento existentes atualmente no país ainda não contemplam essas realidades – tanto o

rural, quanto as comunidades tradicionais - com a riqueza e a abrangência de informações e

indicadores necessárias.

4.2 - DESAFIOS A SEREM TRANSPOSTOS A Lei 11.445, ao estabelecer os municípios como titulares do serviços de saneamento, criou

obrigações para eles, tais como a elaboração da política e planos de saneamento, edição de

normas de regulação e a constituição de uma entidade reguladora. Entretanto, grande parte dos

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municípios brasileiros não estão preparados para tal empreitada, uma vez que, em muitos casos,

não possuem uma instituição específica para tratar dos serviços de saneamento básico. Os

profissionais que poderiam responder pelo saneamento e áreas correlatas encontram-se alocados

em setores distintos de diferentes secretarias e muitas vezes não interagem entre si,

segmentando a área de saneamento. Soma-se a isso a falta de qualificação de muitos

funcionários, o que comprometea eficiência, a eficácia e efetividade das ações para a promoção

do desenvolvimento (GEMELLI e FILIPIM, 2010).

O Brasil, com suas dimensões continentais e heterogeneidades regionais e intrarregionais, abriga

numerosos municípios de pequeno porte populacional, deficitários de recursos físicos, financeiros

e recursos humanos capacitados ou qualificados. Essa situação pode dificultar, ou mesmo

impossibilitar, o êxito da implantação do SIMISAB em todo o território nacional. Será necessária,

portanto, a realização de investimentos, tanto em infra-estrutura, quanto em capacitação de

pessoal, e a criação de um aparato institucional capaz de monitorar e auxiliar permanentemente

os municípios na alimentação e manutenção do sistema, para a sua consolidação.

A participação da esfera estadual, em parceira com o governo federal, seria de suma importância

no processo de capacitação e auxílio aos municípios na manutenção do Sistema. Apesar da Lei

11.445 não ter estabelecido a participação compulsória dos estados na criação de políticas,

planos, programas e ações relativas ao setor, a Constituição Federal instituiu como competência

da União, Unidades da Federação, Distrito Federal e municípios, a promoção de “programas de

construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico”

(BRASIL, CF, 1988, Art. 23, item IX). Ou seja, tais responsabilidades devem ser compartilhadas

entre as três esferas governamentais com o objetivo de promover maior qualidade de vida e

saúde humana e ambiental (BRASIL, 2011).

Nesse sentido, cabe aos estados e também à União oferecerem uma rede de suporte aos

municípios, titulares dos serviços, de todas as formas possíveis: desenvolvendo programas de

melhorias das condições do saneamento básico; capacitando os municípios para a elaboração

dos PMSB, e seu posterior acompanhamento; ofertando apoio técnico quanto ao preenchimento

de sistemas de informação acerca dos serviços – componente essencial para o diagnóstico, as

metas e o monitoramento do Plano – e também quanto à sua gestão e aprimoramento, para que

haja a sustentabilidade desses sistemas. Soma-se a isso a proximidade dos governos estaduais

com os municípios, considerando-se a descentralização vertical que caracteriza a forma de

Estado brasileiro, e a necessidade de geração de conhecimento também no nível estadual, para

subsidiar a tomada de decisões relativas a esse território. Vale destacar ainda que os estados,

perante suas competências relativas à gestão ambiental e dos recursos hídricos, ao criarem e

operarem instrumentos previstos nas respectivas políticas setoriais são responsáveis também

pela área do saneamento (MONTENEGRO e CAMPOS, 2011).

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XIX Exposição de Experiências Municipais em Saneamento De 24 a 29 de maio de 2015 – Poços de Caldas - MG

CONCLUSÃO

A promulgação da Lei nº 11.445/2007 e do Decreto Federal nº 7.217/2010 foram marcos para o

setor de saneamento no país e colocaram os municípios em posição estratégica para o

desenvolvimento do setor, uma vez que cabe a eles formular a política de saneamento básico,

elaborar os planos, definir o ente responsável pela regulação, prestar os serviços ou delegá-los.

Assim sendo, se por um lado foram abertas perspectivas promissoras, por outro foram colocados

novos desafios para os municípios.

Embora o país conte com diferentes bases de dados acerca do saneamento básico, persiste ainda

uma carência cultural relativa à sistematização e à disseminação desses dados no âmbito

municipal. O SIMISAB pretende contribuir para a transposição dessa lacuna, e, juntamente com

SNIS - na constituição de um Módulo de Gestão que o integrará - desempenhar papel relevante

no âmbito da constituição do SINISA.

No que concerne especificamente ao SIMISAB, existem ainda fragilidades e desafios a serem

superados, e aprimoramentos a serem feitos, conforme o trabalho apontou. Entretanto, o

horizonte que ora se vislumbra sinaliza reflexos positivos para o setor de saneamento básico, no

que tange ao avanço de instrumentos de apoio ao planejamento e à gestão municipais.

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