sisal trabalho

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INTRODUÇÃO O sisal (Agave sisalana), é da família Agavaceae, e é uma planta grandemente utilizada para fins comerciais, sendo preferivelmente cultivado em regiões semi-áridas. No Brasil, aparecem como principais produtores, os estados da Paraíba e também é destaque na Bahia, especialmente na região chamada de sisaleira, onde está localizado o maior pólo produtor e industrial do sisal do mundo, que é a cidade de Conceição do Coité. Do sisal, utiliza-se principalmente a fibra das folhas que, após o beneficiamento, é destinada majoritariamente à indústria de cordoaria (cordas, cordéis, fios, tapetes etc). A cultura teve seu apogeu econômico durante a Crise do Petróleo nas décadas de 60 e 70. A utilização das fibras sintéticas, porém a necessidade de preservação da natureza e a forte pressão dos grupos ambientalistas vem contribuindo para o incremento da utilização de fios naturais. A Agave sisalana é uma planta originária do México. Os primeiros bulbilhos do sisal foram introduzidos na Bahia, em 1903, pelo Comendador Horácio Urpia Júnior nos municípios de Madre de Deus e Maragogipe, trazidos provavelmente da Flórida, através de uma firma americana, foi difundido inicialmente no estado da Paraíba e somente no final da década de 30 na Bahia. Atualmente o Brasil é o maior produtor de sisal do mundo e a Bahia é responsável por 80% da produção da fibra 3

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Page 1: Sisal Trabalho

INTRODUÇÃO

O sisal (Agave sisalana), é da família Agavaceae, e é uma planta

grandemente utilizada para fins comerciais, sendo preferivelmente cultivado em

regiões semi-áridas. No Brasil, aparecem como principais produtores, os

estados da Paraíba e também é destaque na Bahia, especialmente na região

chamada de sisaleira, onde está localizado o maior pólo produtor e industrial do

sisal do mundo, que é a cidade de Conceição do Coité.

Do sisal, utiliza-se principalmente a fibra das folhas que, após o

beneficiamento, é destinada majoritariamente à indústria de cordoaria (cordas,

cordéis, fios, tapetes etc). A cultura teve seu apogeu econômico durante a

Crise do Petróleo nas décadas de 60 e 70. A utilização das fibras sintéticas,

porém a necessidade de preservação da natureza e a forte pressão dos grupos

ambientalistas vem contribuindo para o incremento da utilização de fios

naturais.

A Agave sisalana é uma planta originária do México. Os primeiros

bulbilhos do sisal foram introduzidos na Bahia, em 1903, pelo Comendador

Horácio Urpia Júnior nos municípios de Madre de Deus e Maragogipe, trazidos

provavelmente da Flórida, através de uma firma americana, foi difundido

inicialmente no estado da Paraíba e somente no final da década de 30 na

Bahia. Atualmente o Brasil é o maior produtor de sisal do mundo e a Bahia é

responsável por 80% da produção da fibra nacional.

A importância do sisal para a economia do setor agrícola nordestino

pode ser analisada sob diversos aspectos, merecendo destaque a geração de

renda e emprego para um contingente de aproximadamente 800 mil pessoas,

proporcionando divisas para os Estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do

Norte (EMBRAPA 2006).

O ciclo de transformação do sisal em fios naturais tem início aos 3 anos

de vida da planta, ou quando suas folhas atingem até cerca de 140 cm de

comprimento que podem resultar em fibras de 90 a 120 cm. As fibras

representam apenas 4 a 5% da massa bruta da folha do sisal. As folhas são

cortadas a cada 6 meses durante toda vida útil da planta que é de 6/7 anos. Ao

final do período é gerada uma haste (inflorescência), a flecha, onde surgem as

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Page 2: Sisal Trabalho

sementes de uma nova planta. Uma característica da família é que a planta

morre após gerar as sementes.

O sisal pode ser colhido durante todo o ano: para isto ser possível, não

são destacadas do caule as folhas mais novas.

É uma planta resistente á aridez e ao sol intenso do sertão nordestino. É

a fibra vegetal mais dura que existe. Os principais produtos são os fios

biodegradáveis utilizados em artesanato; no enfardamento de forragens;

cordas de várias utilidades, inclusive navais; torcidos, terminais e cordéis. O

sisal também é utilizado na produção de estofos; pasta para indústria de

celulose; produção de tequila; tapetes decorativos; remédios; biofertilizantes;

ração animal; adubo orgânico e sacarias. As fibras podem ser utilizadas

também na indústria automobilística, substituindo a fibra de vidro. Uma

fibra sintética demora até 150 anos para se decompor no solo, enquanto a fibra

do sisal, em meses, torna-se um fertilizante natural.

Atualmente a Tanzânia, Quênia, Uganda (África Oriental) e Brasil, fazem

parte do maiores cultivadores de sisal do mundo. Também são de destaque os

países: Angola, México e Moçambique.

Este trabalho tem por objetivo revisar a cultura do sisal.

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Page 3: Sisal Trabalho

1. O sisal no nordeste

A importância do sisal para a economia do setor agrícola nordestino pode

ser analisada sob diversos aspectos, merecendo destaque a geração de renda

e emprego para um contingente de aproximadamente 800 mil pessoas,

proporcionando divisas para os Estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do

Norte. Na Bahia, maior produtor desta cultura, com mais de 95% da produção

da fibra nacional, o cultivo do sisal se estende por 75 municípios atingindo uma

área de 190 mil ha, em propriedades de pequeno porte, menores que 15ha,

nas quais predominam a mão-de-obra familiar, perfazendo uma população de

aproximadamente 700 mil pessoas que vivem, direta ou indiretamente, em

estreita relação com esta fibrosa.

Apesar de sua importância, o desempenho dessa cultura no Estado vem

sofrendo, nos últimos anos, declínio na área plantada e na produtividade

estando os principais fatores responsáveis por este declínio ligados

diretamente ao baixo valor pago pela fibra, à competição com os fios sintéticos,

ao alto custo de produção, a falta de máquinas modernas para a colheita, a

longos períodos de estiagem e sobretudo ao fato de ser aproveitado apenas 3

a 4% do total da planta, referentes à porção da fibra.

Mesmo diante destas dificuldades, é preciso se entender que o sisal

continua sendo uma das poucas opções econômicas para a região semi-árida

do Nordeste do Brasil e dificilmente uma outra cultura poderá ser mais rentável

economicamente e mais vantajosa para a área em questão, por isso e é

imprescindível garantir sua continuidade, realizar estudos e trabalhos capazes

de estimular a expansão e promover o progresso tecnológico.

Este Sistema de Produção reúne os conhecimentos gerados na

Embrapa ao longo de 20 anos de pesquisa e descreve de forma sucinta e

objetiva os segmentos da cadeia produtiva do sisal. Aborda ainda, o

aproveitamento dos resíduos oriundos do desfibramento, com ênfase na

utilização da mucilagem para alimentação animal.

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Page 4: Sisal Trabalho

2. Importância econômica

O sisal (Agave sisalana) é a principal fonte de extração de fibras duras

vegetais do mundo. No Brasil, o seu cultivo ocupa uma extensa área de solos

pobres na região semi-árida dos Estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do

Norte, em regiões com escassa ou nenhuma alternativa para exploração de

outras culturas.

A fibra do sisal beneficiada ou industrializada rende cerca de 80 milhões

de dólares em divisas para o Brasil, além de gerar, mais de meio milhão de

empregos diretos e indiretos por meio de sua cadeia produtiva, sendo o cultivo

dessa agavaceae um dos principais agentes de fixação do homem à região

semi-árida nordestina.

Apesar da sua relevância, tem-se constatado nos últimos anos, um

declínio contínuo desta cultura, expresso em reduções da área cultivada,

produção e produtividade. Vários fatores têm contribuído para esta decadência,

dentre os quais o baixo índice de aproveitamento da planta de sisal (somente

4% das folhas colhidas se convertem em produto vendável); a concorrência

com as fibras duras sintéticas; o elevado custo inicial para a produção da

monocultura sisaleira; a falta de variedades adaptadas às regiões produtoras; o

não aproveitamento dos resíduos do desfibramento, doenças e o manejo

deficitário da fertilidade dos solos.

Neste contexto, o desenvolvimento de novos sistemas de produção que

viabilizem a competição da fibra com os fios sintéticos, a redução de custos de

produção, o aproveitamento dos subprodutos do desfibramento e a maior

eficiência no processo de descorticamento, são fundamentais para elevar a

sustentabilidade da atividade sisaleira e promover a inclusão social das

comunidades que subsistem desta cultura.

3. A planta

O sisal é uma planta de elevada complexidade morfofisiológica, sendo

uma monocotiledônea. Apresenta sistema radicular fibroso e em forma de tufo.

Possui dois tipos de raízes designadas por transportadoras e alimentadoras,

sendo as primeiras responsáveis pela fixação da planta ao solo.

Não tem caule e as folhas são destituídas de pecíolos, podendo chegar a

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Page 5: Sisal Trabalho

quase dois metros de comprimento. Os estômatos são em criptas e no

parênquima esponjoso acham-se embebidas as fibras, mecânicas e as em

forma de fitas. As flores são hermafroditas e agrupadas em cachos. Os frutos

são cápsulas com três lóculos e as sementes são pretas com seis a sete

milímetros na maior dimensão.

Apresenta metabolismo fotossintético do tipo CAM, abrindo os

estômatos à noite, para não perder água via transpiração durante o dia e se

beneficiar do orvalho. É uma espécie que prefere locais de altitude e possui

elevada resistência à seca e ao estresse térmico, apresentando eficiência

transpiratória e gastando pouquíssima água para produzir fitomassa – menos

de 100g de água/g de fitomassa, contra quase dez vezes mais no caso do

algodão herbáceo. Necessita de precipitação pluvial de pelo menos

400mm/ano e temperaturas médias entre 20 e 28°C. Prefere solos com

elevados teores de cálcio, que não encharquem facilmente e que tenham boa

fertilidade natural.

Pertence à classe das monocotiledôneas, família Agavaceae, subfamília

Agavoidea e seu principal produto é a fibra tipo dura, com elevados teores de

celulose e lignina, que oferecem inúmeras aplicações. Trata-se de uma espécie

perene, plurianual, porém monocárpica, fenecendo depois do processo de

frutificação, que demora alguns anos para ocorrer e se completar. Existem

duas espécies no gênero Agave, de importância econômica: A. Sisalana, que

tem a Bahia como maior produtor mundial, e a A. fourcroydes, explorada no

México sob a denominação de henequém e cuja fibra é utilizada para a

fabricação de fios e cordas.

As folhas, com ápice ponteagudo crescem em torno de um bulbo

central, são rígidas, lisas, cor verde – lustrosa com 10cm. de largura e 1,5m. de

comprimento aproximadamente.

4. Cultivares

Dois genótipos são utilizados no cultivo de sisal no Nordeste brasileiro:

A. sisalana ou sisal comum, que é amplamente cultivado na região, e o Híbrido

11648, que foi desenvolvido na região Oeste da África (SOUZA SOBRINHO et

al.,1985).

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Page 6: Sisal Trabalho

O comprimento da folha e a resistência da fibra, características

importantes para a indústria, são qualidades intrínsecas de A. sisalana. O

híbrido 11648, entretanto, é mais resistente à seca, o que permite colheita

durante todo o ano. No processo de desfibramento, o híbrido 11648, quando

comparado a A. sisalana, tem a desvantagem de exigir maior esforço do

operador da máquina desfibradora; esta desvantagem, no entanto, pode ser

superada com o uso de máquinas desfibradoras automáticas.

Desta forma, ao escolher o genótipo a ser plantado, o agricultor deverá

levar em consideração a disponibilidade do clone em sua região, os critérios de

qualidade da fibra exigidos pela indústria e o tipo de máquina desfibradora

existente na propriedade (BEZERRA et al., 1991; SILVA e BELTRAO, 1999)

A espécie mais cultivada é a Agave sisalana. Há em uso os híbridos-da-

Paraíba e híbrido-do-Rio-Grande-do-Norte, mais exigentes em solo/clima e que

produzem até 700 folhas no ciclo (6 a 8 anos), contra 180 a 240 folhas do

comum em 5 a 15 anos. O ciclo médio de vida do sisal comum é 8 anos, findos

os quais a planta entra em floração e morre sem frutificar. O híbrido frutifica.

5. Cadeia produtiva

O sisal é a principal fibra dura produzida no mundo, correspondendo a

aproximadamente 70% da produção comercial de todas as fibras desse tipo.

No Brasil, a agaveicultura se concentra em áreas de pequenos produtores, com

predomínio do trabalho familiar. Além de ser fonte de renda e emprego para

muitos trabalhadores, o sisal fixa o homem no semi-árido nordestino, onde, não

raro, é a única alternativa de cultivo com resultados econômicos satisfatórios

para comunidades e famílias inteiras.

A fibra do sisal, beneficiada ou industrializada, rende mais de 80 milhões

de dólares em divisas para o Brasil, além de gerar mais de meio milhão de

empregos na sua cadeia de serviços, que começa com as atividades de

manutenção das lavouras, colheita, desfibramento e beneficiamento da fibra e

termina de forma direta com uma industrialização bastante concreta, e a

confecção de artesanato.

Levando-se em consideração o grande número de trabalhadores

envolvidos nos processos produtivo e industrial da fibra do sisal, é fundamental

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Page 7: Sisal Trabalho

a busca de alternativas que viabilizem a competição da fibra com os fios

sintéticos, que são os principais responsáveis pelo baixo preço do sisal no

mercado internacional, portanto a redução de custos de produção, o

aproveitamento dos subprodutos do desfibramento e a maior eficiência no

processo de descorticamento são pontos que devem ser enfocados em

primeiro plano para tornar a cultura mais atrativa ao produtor rural.

5.1 Clima

A temperatura de conforto para o sisal fica em torno de 25ºC (média), e

chuvas entre 1.000-1.500mm/ano bem distribuídas.

5.2 Solos

Os solos ideais são os que possuem textura média (areno-argiloso a

argilo-arenoso), rico em cálcio, magnésio e potássio, permeável, com boa

drenagem, boa fertilidade, livres de encharcamento, profundidade mínima de

0,5m., pH 5,5 a 6,0, declividade abaixo de 5%.

5.3 Plantio

Em terrenos planos, recomenda-se que as linhas de plantio sejam

orientadas no sentido norte-sul, a fim de evitar o sombreamento entre as

plantas. É aconselhável também, dividir a área em talhões de

aproximadamente 2 ha, com o objetivo de facilitar a operação de colheita e o

transporte das folhas.

O plantio das mudas poderá ser realizado em sulcos, com o auxílio de

um sulcador tratorizado, em solos que permitam o tráfego de máquinas. Em

terrenos com topografia acidentada, pode-se também plantar as mudas em

covas, com o uso de enxadas ou enxadões. Na região Nordeste, a época

adequada para o plantio é antes do início da estação chuvosa.

5.4 Preparo da área

Limpeza, queima, aração, gradagem, adubação.

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Page 8: Sisal Trabalho

Aração: a trator ou animal, a uma profundidade de 20cm., cortando-se o

sentido das águas.

Gradagem: deve ser leve para nivelar o terreno e eliminar ervas daninhas.

6. Material para Plantio

O sisal é propagado assexuadamente por bulbilhos e rebentos. Os

bulbilhos são produzidos no escapo floral, após a queda das flores; os rebentos

se originam de rizomas subterrâneos emitidos pela planta-mãe. Normalmente,

os rebentos têm sido mais utilizados no plantio do sisal no Nordeste brasileiro

Caso sejam escolhido rebentos, como material para plantio, estes

devem ser selecionados levando-se em consideração os seguintes aspectos:

A planta-mãe deve ser sadia, ter adequado desenvolvimento

vegetativo e produtivo, assim como boas condições fitossanitárias;

Devem ser separados quanto à idade, tamanho e diâmetro do

bulbo;

Descartar os rebentos advindos de plantas-mãe no final de ciclo,

pois estes possuem menor longevidade;

Devem ser selecionados de acordo com a sua altura (40 a 50cm)

e número de folhas (entre 12 e 15).

Como dispensam enviveiramento, os rebentos são mais disponíveis

que os bubilhos, diminuindo despesas adicionais. Além disto, são resistentes

às intempéries climáticas, podendo ser arrancados e armazenados por alguns

dias em lugares frescos e abrigados do sol e do vento.

No caso de se optar por bulbilhos, como material para plantio, estes

deverão ser cultivados considerando os seguintes aspectos:

O viveiro deverá ser alocado em terreno fértil, de boa drenagem,

propício à irrigação e próximo da área de plantio definitivo;

Os bulbilhos selecionados deverão apresentar tamanho superior a

10cm, sendo, preferencialmente, isentos de espinho nos bordos laterais das

folhas;

A planta mãe deve ser produtiva, vigorosa e saudável.

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Page 9: Sisal Trabalho

O plantio em viveiro deverá ser feito no espaçamento de 20cm entre

plantas e de 50cm entre linhas, onde a planta permanece neste local até atingir

a altura de 40 a 50cm.

Na escolha do tipo das mudas para a formação do campo de sisal,

deverão ser considerados fatores econômicos e a disponibilidade de material

adequado na área, pois não existe diferença quanto a produtividade, qualidade

de fibra e longevidade das plantas em sisalais formados por bulbilhos ou

rebentos (MEDINA, 1963).

No plantio definitivo, a muda deve ser alinhada com a fileira de plantas,

na posição vertical, alocando-a em profundidade adequada (aproximadamente

20cm), tendo o cuidado de manter a parte de inserção das folhas do colo fora

da superfície do solo. A fim de dar maior sustentação, deve-se comprimir a

terra ao redor da muda.

6.1Configuração e Densidade de Plantio

Existem basicamente dois tipos de plantio de sisal: o tradicional ou em

fileiras simples e o plantio em fileiras duplas (MEDINA, 1954). A escolha da

configuração adequada deverá levar em consideração fatores relacionados

com a topografia, tipo de solo, disponibilidade de mão de obra e existência de

outro tipo de atividade agrícola na propriedade, entre outros.

6.2Plantio em Fileiras Simples

O sistema de plantio em fileiras simples, amplamente utilizado nas

principais regiões produtoras é composto por espaçamento de 2,0x1m, com

uma população de 5000 plantas/ha. Entretanto, em cultivos mais tecnificados,

são recomendados espaçamentos mais largos, como 2,5x1,0m, que mantêm

densidade de 4.000 plantas/ha e possibilita a implantação de culturas

intercalares nos dois primeiros anos, além de permitir que algumas operações

sejam mecanizadas, tais como o roço e o transporte das folhas.

Para a situação de consórcio de sisal com a pecuária bovina, o

espaçamento mais recomendado é o de 3x1,5m, com densidade de 2200

plantas/ha, o que facilita a ampla circulação dos animais.

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Page 10: Sisal Trabalho

6.3Plantio em Fileiras Duplas

O sistema de plantio em fileiras duplas é adequado principalmente para

grandes áreas, em que são utilizadas práticas de cultivo mais elaboradas. Esta

configuração permite maior proteção do solo quanto aos efeitos da erosão;

entretanto, torna os tratos culturais dispendiosos, principalmente a operação do

roço (MEDINA, 1954; LOCK, 1969). Os espaçamentos mais recomendados

para plantio em fileiras duplas são: 3x1x1m com 3,3 mil plantas/ha e 4x1x1m

com 2,5 mil plantas/ha.

6.4Plantio propriamente dito

Abre-se covas (20cm.) com enxadas apropriadas, coloca-se a muda

em terreno úmido apertando-se a terra em volta da muda. O plantio faz-se nos

períodos normais de chuvas (inverno e/ou trovoadas).

7. Tratos

Capinas ou Roço

O sisal é bastante sensível a concorrência das plantas invasoras,

especialmente nos dois primeiros anos, por isso recomenda-se duas a três

capinas no primeiro ano, dependendo da incidência das invasoras, e uma ou

duas capinas no segundo ano, podendo ser a primeira após o início do período

chuvoso e a segunda ao final deste período. As operações de limpeza podem

ser feitas com o cultivador a tração animal ou, então, tratorizadas com uma

grade leve, quando o espaçamento entre fileiras o permitir. Em ambos os

casos, recomenda-se a capina manual com enxada ou enxadão, entre as

plantas de sisal, como complemento das operações anteriores.

A partir do terceiro ano, recomenda-se o roço manual ou tratorizado,

uma ou duas vezes ao ano. Caso seja uma vez ao ano, este deverá ser no final

do período chuvoso. Quando as operações de limpeza forem realizadas com o

trator deve-se um afastamento mínimo de 50cm das folhas baixeiras a fim de

evitar danos às mesmas.

Erradicação dos Rebentos

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Page 11: Sisal Trabalho

Após a colheita das folhas, é necessário erradicar o excesso de

rebentos para evitar a competição destes com a planta-mãe por

fotoassimilados. Recomenda-se deixar um ou dois filhotes para substituir a

planta mãe, a partir do terceiro ou quarto corte de folhas . Estes deverão ser

vigorosos e estar alinhados à fileira de plantio.

- Eliminar e substituir plantas que emitirem o pendão.

- Efetuar o raleamento deixando-se sempre 2 rebentos por planta-mãe

(época da roçagem), a partir do 3º ano.

- Adubar com químicos no plantio e após colheita; adubar com resíduo

de sisal à distância mínima de 20cm. do pé.

- Renova-se o plantio quando 70% das plantas tiverem emitido o

pendão floral. 

8. Pragas e Doenças

Cochonilha, joaninha, vespas, fungos.

Doenças são decorrentes de desequilíbrio nutricional e estagnação de

água no solo. 

Embora a epiderme da folha de sisal com sua cutícula espessa e

cerosa possa conferir uma barreira natural à penetração de microrganismos

patogênicos, esta planta pode ser afetada por várias doenças capazes de

causar sérios prejuízos à cultura (BOCK, 1965).

Há várias doenças que afetam o sisal, mas apenas duas foram relatadas

até o presente no Brasil: a antracnose, causada pelo fungo Colletotrichum

agaves (MEDINA, 1954), que não se constitui propriamente um problema

fitossanitário de importância econômica, e a podridão vermelha do tronco, ou

simplesmente podridão do tronco do sisal (LIMA et al., 1998), que tem afetado,

de forma isolada, desde a década de 1970, os sisalais do Brasil, nas principais

áreas produtoras dos estados da Bahia, Paraíba e Rio Grande do Norte,

atingindo níveis críticos a partir de 1998. A incidência da doença varia entre as

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Page 12: Sisal Trabalho

regiões de cultivo; em algumas, não ultrapassa 5% da área e, em outras, pode

alcançar 40% de infestação (ALVES et al., 2004). As folhas de plantas afetadas

pela podridão do tronco não se prestam ao desfibramento e as plantas

sintomáticas morrem com o progresso da doença.

Embora ainda existam dúvidas com relação a etiologia da doença, três

fungos já foram relatados causando podridões no tronco do sisal: Pythium

aphanidermatum, Lasiodiplodia theobromae e Aspergillus niger (BOCK, 1965;

LIMA et al, 1998; IKITOO e KHAYRALLAH, 2001). Esses fungos são

classificados como saprófitas ou parasitas fracos em função de serem

dependentes de lesões de origem mecânica ou fisiológica e de condições

ambientais adversas ao hospedeiro para iniciar o processo de infecção. No

Brasil, apenas L. theobromae foi relatada causando podridão no tronco do sisal

(LIMA et al.,1998).

A doença é caracterizada pelo escurecimento dos tecidos internos do

tronco; as áreas afetadas variam da coloração cinza-escuro ao rosa pálido e se

estendem da base das folhas à base do tronco da planta (LIMA et al.,1998).

Em plantas com estádios avançados da doença, as folhas se tornam

amareladas e o tronco completamente apodrecido. Embora seja fatal para a

cultura, plantas de sisal infectadas pela doença podem sobreviver por algum

tempo, em função do apodrecimento resultante da colonização pelo(s)

agente(s) etiológico(s) ocorrer de forma lenta (BOCK, 1965). A podridão do

tronco afeta plantas de sisal em todos os estágios fenológicos, desde rebentos

a plantas no final do ciclo.

Os fungos relatados até o momento como causadores de podridões no

tronco de sisal não penetram em tecidos não injuriados do hospedeiro

(WALLACE e DIEKMAHNS, 1952; LOCK, 1962; LIMA et al., 1998),

necessitando, portanto, de lesões de origem mecânica ou fisiológica; portanto,

ferimentos causados na base das folhas por ocasião do corte dessas folhas

para o desfibramento e aqueles causados abaixo da superfície do solo por

instrumentos utilizados para realização de tratos culturais, como capinas,

desbaste de touceiras ou mesmo a retirada de filhotes (rebentos) da planta-

mãe para implantação de novos campos ou renovação de áreas, poderão

constituir-se em importantes vias de penetração para esses patógenos,

principalmente em plantas submetidas a algum tipo de estresse (deficiência

14

Page 13: Sisal Trabalho

hídrica e nutricional).

Não existe tratamento curativo para a podridão do tronco do sisal;

entretanto, algumas medidas preventivas podem ser implementadas no manejo

da doença, como arrancar e queimar plantas com sintomas da doença; plantar

filhotes (rebentos) provenientes de campos sadios para implantação de novos

campo; utilizar o resíduo do desfibramento como adubação orgânica para

melhorar a fertilidade do solo, evitando-se estresses nutricionais à planta.

9. Colheita e pós-colheita

Corte das Folhas

No cultivo de A. sisalana, cujo ciclo varia entre 8 e 10 anos, o primeiro

corte é realizado aproximadamente aos 36 meses após o plantio, no qual

podem ser colhidas de 50 a 60 folhas/planta. Nesta primeira colheita, 30 a 40%

são folhas curtas, impróprias para a cordoaria enquanto, que nas colheitas

subseqüentes, são retiradas cerca de 30 folhas/planta. Para o sisal híbrido

11648, que tem ciclo de vida semelhante ao de A. sisalana, o primeiro corte é

realizado aos 48 meses, podendo ser colhidas cerca de 110 folhas/planta. Nas

colheitas subseqüentes são extraídas entre 50 a 70 folhas/planta. Em

condições normais de colheita recomenda-se após o corte, deixar de sete a

nove folhas remanescentes para A. sisalana e de nove a doze folhas para o

híbrido 11648.

As operações de corte, enfeixamento, transporte e desfibramento

devem ser sincronizadas, de modo que as folhas cortadas sejam beneficiadas

no mesmo dia, para evitar o murchamento, o que dificulta o desfibramento e

causa depreciação da fibra.

Transporte

No Nordeste brasileiro, o transporte mais comum das folhas de sisal do

campo até a máquina desfibradora é feito por jumentos. O animal pode

transportar uma carga de aproximadamente 200 folhas, cujo peso varia de 100

a 130 Kg. Quando há uma máquina desfibradora automática, que é fixa e tem

maior capacidade de processamento, as folhas são reunidas em feixes de

15

Page 14: Sisal Trabalho

aproximadamente 50 unidades e transportadas em caminhão ou reboques

tracionados a trator.

9.1Tratos Pós-colheita

Desfibramento

A principal operação pós-colheita é o desfibramento do sisal, processo

pelo qual se elimina a polpa das fibras, mediante uma raspagem mecânica, o

que torna esta prática complexa e de custo elevado. No Nordeste brasileiro, o

desfibramento é realizado por meio de uma máquina denominada “motor de

agave” ou “máquina Paraibana”. Esta máquina desfibra em torno de 150 a

200kg de fibra seca em um turno de 10 horas de trabalho, desperdiçando, em

média, 20 a 30% da fibra. Além disso, envolve um número elevado de pessoas

para a sua operacionalização (SILVA e BELTRÃO, 1999). As mão de obra

envolvida no desfibramento com a máquina paraibana pode ser dividida

em:Colhe as folhas das plantas, cortando-as com um instrumento apropriado

denominado foice. Cortador: O número de pessoas envolvidas nesta atividade

pode variar de uma a três;

1. enfeixador: Amarra as folhas em forma de feixes que serão

transportados até a máquina de desfibradora;

2. cambiteiro: Recolhe os feixes e os transporta até a máquina, com o

auxílio de tração animal;

3. puxador: É o responsável pela operacionalização da máquina. Esta

atividade envolve uma ou duas pessoas, dependendo da região produtora;

4. fibreiro: Responsável pelo abastecimento da máquina com as folhas e

pela recepção das fibras, que são pesadas com umidade. Esta atividade

poderá ser realizada por uma ou duas pessoas;

5. bagaceiro: Retira da parte inferior da máquina os resíduos sólidos do

desfibramento. Esta atividade pode envolver uma ou duas pessoas;

6. lavadeira: Faz a lavagem, secagem e armazenamento da fibra.

A rusticidade da máquina exige grande esforço do operador (puxador).

Em uma operação normal desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto,

16

Page 15: Sisal Trabalho

ou 1.200 a 1.800 folhas por hora. A fadiga, aliada à falta de segurança da

máquina, expõe os operadores a constantes riscos de acidentes, o que

constitui em um dos principais problemas da operação de desfibramento da

folha do sisal.

A rusticidade da máquina exige grande esforço do operador (puxador).

Em uma operação normal desfibram-se, em média, 20 a 30 folhas por minuto,

ou 1.200 a 1.800 folhas por hora. A fadiga, aliada à falta de segurança da

máquina, expõe os operadores a constantes riscos de acidentes, o que

constitui em um dos principais problemas da operação de desfibramento da

folha do sisal.

Nas regiões produtoras de sisal existe um grande número de pessoas

com mãos mutiladas pela máquina Paraibana. No entanto, é importante

salientar que pelo fato deste equipamento ser um dos únicos disponíveis no

mercado, ter baixo custo aquisitivo e ser de fácil manutenção, tem grande

aceitação por parte dos pequenos e médios produtores. Desde o surgimento da

máquina Paraibana, poucas modificações foram introduzidas com o propósito

de melhorar sua capacidade produtiva e a redução dos riscos de acidente.

Dentre essas modificações, destaca-se o dispositivo protetor montado no

orifício de alimentação da máquina, desenvolvido pela Fundação Jorge Duprat

Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (FUNDACENTRO), com a

finalidade de evitar que a mão do operador alcance o rotor desfibrador (ROBIN

e XAVIER FILHO, 1984).

9.2Lavagem e secagem da fibra

Após o término da operação diária de desfibramento, a fibra obtida é

transportada em carrinho de mão ou no dorso de animais, para tanques com

água limpa, onde deverá ser imersa durante oito a doze horas. Isto é

necessário para a eliminação dos resíduos da mucilagem péctica e da seiva

clorofílica, que ficam aderidos a fibra de sisal. Não é aconselhada a utilização

de água salobra para a lavagem da fibra do sisal, em virtude da sua alta

higroscopicidade, que poderá afetar a qualidade da fibra depois de secas.

Após a lavagem, as fibras deverão secar ao sol por 8 a 10 horas. Se

este período for ultrapassado, os raios solares poderão depreciar a fibra,

17

Page 16: Sisal Trabalho

causando amarelecimento. O local de secagem poderá ser uma área onde as

fibras não absorvam impurezas, como em varais ou estaleiros, feitos com fio de

arame galvanizado, ou em área cimentada devidamente limpa. Depois de

secas, as fibras são arrumadas em pequenos feixes, denominados de

manocas, amarradas pela parte mais espessa e armazenadas em depósito

sem serem dobradas.

9.3Limpeza da Fibra

No Nordeste brasileiro, grande parte dos produtores de sisal

comercializa seu produto na forma bruta, sem realizar qualquer processo de

melhoria do produto, como o batimento ou penteamento. Esta operação visa

remover o pó e o tecido parenquimatoso aderido aos feixes fibrosos, além de

retirar as fibras de pequeno comprimento, o que resulta em um produto limpo,

brilhoso, macio e valorizado.

As batedeiras são máquinas de funcionamento semelhante às

desfibradoras, e são dotadas de um tambor rotativo de aproximadamente

0,60m de diâmetro e seis lâminas planas de 5cm de largura, protegidas por

uma tampa metálica, que gira no sentido inverso ao das desfibradoras. A

velocidade de giro do tambor está em torno de 200 rpm. Nesta operação,

geralmente, são perdidas entre 8 a 10% do peso original da fibra.

O pó, que é um resíduo do batimento, pode ser utilizado como adubo

orgânico e até mesmo em misturas para ração animal, enquanto que a bucha

pode ser empregada para obtenção de celulose, no revestimento interno de

estofados e como componente de polímeros para uso doméstico e até mesmo

para a indústria automobilística.

9.4Seleção e Classificação da Fibra

Após o batimento, as fibras são selecionadas de acordo com os

padrões de classificação vigentes no Brasil, segundo Portarias do Ministério de

Agricultura e Abastecimento, tendo como base a classe (comprimento) e o tipo

(qualidade) da fibra.

A fibra beneficiada de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 71, de

16 de março de 1993 (BRASIL, 1987), quanto à classe em longa (comprimento

18

Page 17: Sisal Trabalho

acima de 0,90m), média (comprimento entre 0,71 e 0,90m) e curta

(comprimento entre 0,60 e 0,70m), e quanto ao tipo em Tipo Superior, Tipo 1,

Tipo 2 e Tipo 3, conforme detalhamento:

Tipo superior: Material constituído de fibras lavadas, secadas e bem

batidas ou escovadas, de coloração creme-claro, em ótimo estado de

maturação, com maciez, brilho e resistência bem acentuados, umidade máxima

de 13,5%, bem soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas, de

substâncias pécticas, de entrançamentos e nós, fragmentos de folhas e

cascas, e de quaisquer outros defeitos.

Tipo 1: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de

coloração creme-claro ou amarelada, em ótimo estado de maturação, com

maciez, brilho e resistência normais, manchas com pequena variação em

relação à cor, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas

de impurezas, substâncias pécticas, entrançamentos e nós, fragmento de

folhas e cascas, e de quaisquer outros defeitos.

Tipo 2: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de

coloração amarelada ou pardacenta, com pequenas extensões esverdeadas,

em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais, ligeiramente

ásperas, umidade máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de

impurezas, entrançamentos, nós e cascas.

Tipo 3: Constituído de fibras secas e bem batidas ou escovadas, de

coloração amarelada, com parte de tonalidade esverdeada, pardacenta ou

avermelhada, em bom estado de maturação, com brilho e resistência normais,

ásperas, manchas com variação bem acentuadas em relação à cor, umidade

máxima de 13,5%, soltas e desembaraçadas, isentas de impurezas,

entrançamentos, nós e cascas.

A fibra bruta de sisal é classificada, segundo a Portaria n°. 211, de 21 de

abril de 1975, em quatro classes: Extra longa – EL (comprimento acima de

1,10m), Longa – L (comprimento acima 0,90 até 1,10m), Média – M

(comprimento acima de 0,70 até 0,90m) e Curta – C (comprimento de 0,60 até

0,70 m), e em dois tipos (A e B), conforme detalhamento:

TIPO A: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, lavadas,

brilho, natural, cor creme claro, uniforme, secas, com grau de umidade de

13,5%, com quantidades normais de fragmentos de polpa aderentes aos feixes

19

Page 18: Sisal Trabalho

fibrosos, rigorosamente selecionados quanto à classe e que, depois de

submetidas ao processo de escovamento ou batimento, em condições normais

(adequada armazenamento e tempo hábil), se enquadrem no Tipo Superior

e/ou Tipo 1 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.

TIPO B: Constituído de fibras com perfeito desfibramento, brilho natural,

cor creme-claro ou amarelada, secas, com grau de umidade que não exceda

de 13,5%, com quantidades normais de fragmentos da polpa, aderentes aos

feixes fibrosos, rigorosamente selecionadas quanto à classe e que, depois de

submetidas ao processo de escovamento ou batimento, em condições normais

(adequada armazenamento e tempo hábil), e enquadrem no Tipo 1 e/ou no

Tipo 2 das especificações aprovadas pela resolução do Concrex.

9.5Enfardamento

Depois de classificada, a fibra é acondicionada em fardos para o seu

transporte até a indústria de fiação. Os fardos são preparados em prensas

mecânicas ou hidráulicas, dotadas de caixas de dimensões médias de

150x50x70cm, podendo variar entre 200 e 250kg de peso. O fardo deve ser

envolto por uma faixa de tecido contendo as seguintes informações, em

caracteres perfeitamente legíveis: produto, safra, lote, número do fardo, nome

da prensa, classe, tipo, peso bruto, local de prensagem, cidade, unidade

federativa e data da prensagem.

9.6Armazenamento

O armazenamento é uma operação simples, desde que sejam

observados os seguintes pontos:

Os fardos deverão ser colocados em duas pilhas cruzadas, em

cada lado do corredor central do armazém. A altura da pilha deverá ter no

máximo 2,4m, de modo a facilitar a ventilação dos fardos;

O armazém deverá oferecer segurança contra incêndio, ter boa

ventilação e possuir número suficiente de portas para o escoamento do produto

armazenado;

20

Page 19: Sisal Trabalho

Deverá ser rigorosamente proibido fumar nos armazéns e, por

medida de precaução, os mesmos deverão possuir de sistemas de combate a

incêndios.

10.Mercado e comercialização

Na região sisaleira do Nordeste brasileiro, a comercialização da fibra é

formada por uma cadeia de intermediários desde o processamento

(desfibramento, batimento e enfardamento) até a comercialização. Geralmente,

o produtor negocia sua lavoura com o proprietário do motor (desfibrador) que,

por sua vez, estabelece uma relação financeira com o intermediário, que

financia todas as despesas com o desfibramento e transporte, em troca do

compromisso de entrega da fibra bruta. Este intermediário poderá ser o agente

de compra que comercializa a fibra bruta ou aquele que beneficia em sua

batedeira para depois entregá-la à indústria ou ao exportador.

11.Aproveitamento da fibra

Apenas 3 a 5% do peso das folhas de sisal são aproveitadas; o

restante, chamados de resíduos de desfibramento, constituem, em média, 15%

de mucilagem ou polpa (formado pela cutícula e por tecido palissádico e

parenquimatoso), 1% de bucha (fibras curtas) e 81% de suco ou seiva

clorofilada (HARRISON, 1984).

A fibra é industrializada e convertida em fios, barbantes, cordas, tapetes,

sacos, bolsas, chapéus e artesanato. Também pode ser utilizada na fabricação

de pasta celulósica, empregada na confecção do papel Kraft e de outros tipos

de papéis finos. Além dessas aplicações, a fibra de sisal pode ser empregada

na indústria automotiva, de móveis e eletrodomésticos, na mistura com

polipropileno e na construção civil. Apesar de todas essas aplicações, a

principal utilização da fibra do sisal é a fabricação de fios agrícolas (Twines).

O Baler Twine é o principal fio agrícola produzido da fibra de sisal. Este

produto é feito de fio torcido, elaborado a partir de fibras de sisal paralelizadas

que, necessariamente, devem ter uniformidade de comprimento para

regularidade do seu diâmetro e melhor resistência. O Baler Twine é utilizado

para a amarração de fardos de feno de cereais (alfafa, palhada de aveia, trigo,

21

Page 20: Sisal Trabalho

centeio etc.) nos Estados Unidos, Canada e Europa (RIGHT, 1985) e, mais

recentemente no Brasil.

11.1 Aproveitamento dos resíduos do desfibramento

Poucos são os produtores que aproveitam os resíduos do

desfibramento para recompor parte da fertilidade de suas lavouras de sisal ou

como alimento para ruminantes. Quando utilizados como adubo, os resíduos

são distribuídos na própria cultura, entre as fileiras do sisal para depois ser

espalhada em toda a área.

Frequentemente, observam-se bovinos, ovinos e caprinos alimentando-

se dos resíduos frescos do desfibramento mas, quando utilizado in natura, este

alimento pode ocasionar problemas aos animais., pela presença de uma

grande quantidade de fibra (bucha) e suco (seiva). A ingestão destes resíduos

poderá ocasionar a oclusão do rúmen do animal em função da sua não

degradação pela flora bacteriana, causando timpanismo (FIGUEREDO, 1974;

PAIVA, 1986).

A separação da bucha da mucilagem poderá ser realizada por meio de

um equipamento de concepção simples e de baixo custo, denominado peneira

ou gaiola rotativa, desenvolvido pela Embrapa Algodão. O equipamento deverá

ser instalado próximo a máquina desfibradora para aproveitar todo o resíduo

produzido no processo de desfibramento.

A mucilagem contém altas concentrações de cinza e cálcio e baixos

teores de proteína bruta e fósforo. Para viabilizar uma ração equilibrada, é

conveniente a adição de elementos que estejam ausentes, como por exemplo o

nitrogênio, por meio da uréia pecuária, que pode elevar os níveis de proteína

bruta, melhorando a conversão do Nitrogênio Não Protéico (NNP) em proteína,

pela microbiota do rúmen (HARRISON, 1984; FIGUEREDO, 1974; PAIVA,

1986; LAKSESVELA e SAID, 1970; GOHL, 1975).

A mucilagem de sisal pode ser utilizada na alimentação animal in natura,

na forma de feno ou silagem. O processo de fenação e ensilagem da

mucilagem de sisal são descritas abaixo:

Fenação: A mucilagem peneirada deverá ser exposta ao sol em área

cimentada ou chão batido limpo, em camadas finas e uniformes de 5cm a 7cm

22

Page 21: Sisal Trabalho

de espessura pelo tempo de dois a três dias, até alcançar o teor de umidade

entre 15 a 20%. Durante o dia, recomenda-se fazer o revolvimento da massa,

para uniformizar a secagem e, ao final deste, amontoar e cobrir a massa com

lona plástica para evitar a umidade noturna.

Ensilagem: A mucilagem pós desfibramento tem entre 90 a 95% de

umidade e para ser ensilada adequadamente, esta umidade deverá ser

reduzida para 30%, através da exposição ao sol, em procedimento semelhante

ao descrito para fenação. A ensilagem poderá ser feita na forma de monte,

sobre o solo, coberto com lona ou em silos do tipo trincheira ou, ainda, em

sacos plástico. Para todos esses métodos é necessário que se faça a

compressão do material, visando a expulsão do ar contido na massa ensilada.

A mucilagem fenada ou ensilada deve ser oferecida aos animais

misturadas a uma fonte de nitrogênio, como a uréia pecuária e uma fonte de

enxofre, que pode ser sulfato de cálcio ou sulfato de amônio. Se a fonte de

enxofre escolhida for o sulfato de cálcio (gesso agrícola), utilizar-se-á uma

parte para quatro partes de uréia pecuária; se utilizado sulfato de amônio,

adicionar-se-á uma parte para nove partes de uréia pecuária. A uréia pecuária

e a fonte de enxofre escolhida devem ser bem misturadas com o auxílio de

uma pá ou enxada, e o composto resultante guardado em local seco, fora do

alcance dos animais.

O composto uréia pecuária e fonte de enxofre deve ser diluído em água

e adicionado a mucilagem fenada, uniformemente, iniciando-se com 0,5%, nos

três primeiros dias, aumentando-se para 1,0% nos três dias subseqüentes, até

atingir 2,0%, a partir do nono dia (período de rotina).

Além desta mistura, recomenda-se que a mucilagem seja associada a

outros alimentos protéicos ou não protéicos a fim de tornar a ração mais

equilibrada e melhorar a sua palatabilidade. Dentre os alimentos utilizados

destaca-se a torta de algodão, farelo de trigo, milho moído, leucena, capim

buffel, palma forrageiras, entre outros (SILVA et. al., 1999).

12.Novos usos

A utilização de materiais compostos por uma mistura de fibras naturais

com plásticos reciclados pós-consumo (lixo) ou virgens é uma alternativa que

23

Page 22: Sisal Trabalho

terá grande demanda no futuro próximo, devido à crescente escassez e alto

custo de materiais sintéticos baseados no petróleo como os plásticos. A

crescente substituição de plásticos por fibras naturais tem ainda vantagens

ecológicas (fibras naturais são recicláveis e renováveis), sociais (criação de

empregos rurais), mecânicas (mais leves e mais resistentes que fibras

concorrentes como a fibra de vidro) e econômicas (são mais baratas). Painéis

interiores de automóveis já são fabricados com estes materiais, mas muito

estudo será ainda necessário para determinar a composição ótima para cada

aplicação, com diferentes propriedades mecânicas (resistência, segurança

ativa e passiva) e químicas.

A imensa variedade e disponibilidade de fibras naturais no Brasil, faz

deste estudo uma área de investimento muito promissora. As pressões

ambientalistas e a crescente competitividade pressionam nossas empresas a

fazer mais (quantidade de produtos, qualidade) com menos (matérias-primas,

energia, impacto ambiental, etc.). A intensidade de uso dos materiais deve

levar em conta o custo de fabricação, utilização, reutilização, reciclagem e

disposição final. Em outras palavras, deve-se aumentar a eficiência de

conversão dos recursos naturais, prolongar a vida útil dos produtos, considerar

sua reciclabilidade e usar tecnologias ambientalmente corretas ao meio

ambiente e aos trabalhadores da empresa.

A indústria de compósitos tem a expectativa de ser o mais importante

segmento da indústria de plásticos. As perspectivas são imensas para atender

a mercados em grandes quantidades, com baixo preço e que ofereçam um

balanço favorável de produto, qualidade, desempenho e custo. As fibras

naturais são de particular interesse, pois são abundantes, renováveis,

apresentam baixa densidade, e ainda são extremamente favoráveis sob a

relação resistência-peso, comparadas com outros materiais poliméricos.

13.CONSIDERAÇÕES FINAIS

O sisal destaca-se pela capacidade de geração de empregos, por meio

de uma cadeia de serviços que abrange, desde os trabalhos de manutenção

das lavouras (baseados na mão-de-obra familiar), a extração e o

processamento da fibra para o beneficiamento, até as atividades de

24

Page 23: Sisal Trabalho

industrialização de diversos produtos, bem como seu uso para fins artesanais.

A resistência do sisal ao clima adverso tem sido uma das razões por

que, em algumas áreas do Nordeste, os agricultores optaram pelas

explorações sisaleiras. O segmento do sisal é intensivo em de mão-de-obra em

todas as fases de implantação, manutenção, colheita e desfibramento. Além do

contingente de mão-de-obra diretamente ocupado na atividade sisaleira,

grande número de outras pessoas é dependente dessa cultura ainda no setor

primário, bem como no secundário e terciário. Pertencem a essas categorias os

proprietários sitiantes, os fazendeiros que exploram o sisal, os fazendeiros

administradores, os fazendeiros ausentes e os demais agentes da produção

que estão nos outros setores da economia (beneficiadores, industriais e

exportadores).

ALVES e SANTIAGO (2005) resalta que as principais estratégias para o

desenvolvimento socioeconômico do sisal podem ser delineadas a partir das

seguintes ações:

- Incentivar a realização de pesquisas científicas sobre o sisal nas

universidades, Embrapa e centros de pesquisa, no intuito de potencializar a

sua exploração econômica. Seria importante desenvolver experimentos

utilizando a bioquímica no processo de desfibramento da folha do sisal, forma

de eliminar o desfibramento mecânico e melhorar a produtividade e as

condições de trabalho.

- Paralelamente, promover articulação das universidades, órgãos de

pesquisa e empresas privadas com institutos de pesquisa de excelência para

que seja projetada máquina desfibradora que aumente a produtividade e

elimine a possibilidade de causar acidentes de trabalho.

- Disseminar os resultados das pesquisas concluídas e em andamento

sobre as variadas alternativas de exploração econômica do sisal (fármacos,

geotêxteis, componentes para uso na indústria automobilística, química,

construção civil, papel e celulose). É fundamental aproximar as diversas

instituições de pesquisa do setor produtivo e de suas representações com os

governos federal e estadual.

- Viabilizar, através da Secretaria Nacional de Economia Solidária

(SNAES), do MTE, apoio técnico e financeiro para implantação e consolidação

de cooperativas e associações de produtores.

25

Page 24: Sisal Trabalho

- Destinar recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT), para

capacitação dos trabalhadores rurais para o aperfeiçoamento do manejo da

cultura e a melhoria da produtividade do sisal no campo.

- Apoiar a EBDA para a instalação de batedeiras nos projetos de

assentamento rural em áreas produtoras de sisal da Bahia. Esta ação poderá

amenizar o problema da concentração da renda.

- Assegurar formas de financiamento específico para projetos

exemplares realizados por ONGs, pautados na concepção do desenvolvimento

territorial e que envolvam a integração entre organização de produtores,

consórcio de culturas e utilização de recursos naturais disponíveis no Semi–

Árido Nordestino (Articulação do Semi-Árido – ASA, Cáritas,MOC e outras).

- Sugerir ao MTE a ampliação de bolsas do Programa de Erradicação do

Trabalho Infantil para diminuir a incidência do trabalho infantil. Paralelamente, é

importante apoiar os programas estaduais, voltados para a geração de

ocupação e renda, já desenvolvidos e com comprovado êxito (Projeto

Prosperar).

- Articular o Programa do Artesanato Brasileiro (PAB), do MDA com os

programas de apoio ao artesanato dos estados produtores de sisal (BA, PB,

RN e CE), na perspectiva de ampliar as possibilidades do mercado interno e

buscar novos espaços de mercado externo.

- Estabelecer contatos com agências internacionais de desenvolvimento

(BID, GTZ, OXFAN TRADING), objetivando buscar apoio técnico e financeiro

para dinamizar o setor sisaleiro.

REFERENCIAS

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região nordestina produtora de sisal (versão preliminar). Fortaleza: Banco do

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