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Em 2019, três Terras Indígenas sofreram intenso processo de invasão de grileiros e madeireiros no norte da bacia do Xingu. Apesar das operações de fiscalização realizadas na região em outubro, as TIs Cachoeira Seca, Apyterewa e Ituna Itatá foram as mais desmatadas em novembro e dezembro. Estas três TIs também foram as mais desmatadas do Corredor em 2019 superando mais de 7 mil hectares de supressão da vegetação cada uma. Em quarto lugar, a TI Trincheira Bacajá teve 3.969 ha desmatados em 2019, sendo 437 ha apenas nos últimos dois meses, resultado das três frentes de invasão ativas dentro desta TI. Na Terra Indígena Kayapó foi identificada a expansão de uma pista de pouso clandestina em um dos afluentes do Rio Fresco, na região sudeste da TI. No último bimestre houve um aumento de 25% no desmatamento detectado em comparação aos dois meses anteriores, consequência da expansão do garimpo ilegal. nov - dez 2019 siradx - boletim nº 16 sistema de indicação por radar de desmatamento na bacia do xingu desmatamento 2019 desmatamento acumulado até dezembro de 2018 bacia hidrográfica do rio Xingu corredor de diversidade socioambiental do Xingu áreas protegidas área crítica corpos d’água desmatados em novembro 9.487 ha desmatados em dezembro 52% de aumento do desmatamento no Corredor em 2019 em relação a 2018 MUNICÍPIOS Senador José Porfírio e São Félix do Xingu, no Pará, foram os municípios que apresentaram maiores taxas de desmatamento no último bimestre de 2019, com 3.966 ha e 3.808 ha respectivamente. Em quarto lugar o município mato-grossense União do Sul chama a atenção por seu acentuado aumento. Somente em dezembro, foram detectados 1.702 ha, 7.211% a mais que no mês de novembro, quando o desmatamento foi somente 23 hectares. TERRAS INDÍGENAS novembro dezembro área desmatada (ha) 1.000 2.000 3.000 4.000 3.966 ha 431 ha 0 Senador José Porfírio - PA São Félix do Xingu - PA Altamira - PA União do Sul - MT Anapu - PA Medicilândia - PA Brasil Novo - PA Marcelândia - MT Porto de Moz - PA Feliz Natal - MT novembro dezembro área desmatada (ha) TI Ituna / Itatá TI Cachoeira Seca do Iriri TI Apyterewa TI Trincheira / Bacajá TI Kayapó 2.450 ha 290 ha 500 1.000 1.500 2.000 2.500 0 94% do território da TI Ituna Itatá foi autodeclarado no Cadastro Ambiental Rural (CAR) Foram desmatados 2.455 ha em Unidades de Conservação em novembro e dezembro. Desse montante, 87% se concentrou na APA Triunfo do Xingu, a campeã de desmatamento dentre todas as Áreas Protegidas do Brasil em 2019, somando quase 36 mil hectares de floresta derrubada, o que equivaleria à derrubada de 82 árvores por minuto. UNIDADES DE CONSERVAÇÃO ÁREAS CRÍTICAS 9.831 ha Veja os polígonos de desmatamento atualizados mensalmente no Observatório Xingu www.xingumais.org.br/observatorios/degradacao Cadastre-se para receber o Boletim SIRAD X e os alertas de desmatamento publicados mensalmente. Escreva um email para a gente no [email protected] O Boletim SIRAD X é publicado a cada dois meses na Plataforma Rede Xingu + (www.xingumais.org.br) Os polígonos e boletins estão disponíveis em http://bit.ly/SIRADX 1 Porto de Moz 2 Senador José Porfírio 3 Altamira 4 Brasil Novo 5 Anapu 6 Medicilândia 7 São Félix do Xingu 8 Marcelândia 9 União do Sul 10 Feliz Natal 23% do total desmatado em 2019 aconteceu dentro de Áreas Protegidas As TIs Apyterewa, Ituna Itatá e Cachoeira Seca foram as campeãs de desmatamento em 2019 Mais de 201 milhões de árvores foram derrubadas na bacia do Xingu em 2019. Ao todo, foram detectados 168.111 ha de desmatamento de janeiro a dezembro de 2019. Desse total, 23% (39.384 ha) se concentraram dentro das Áreas Protegidas do Corredor de Diversidade Socioambiental, um aumento de 52% em comparação com 2018. Em 2019, os meses de junho a setembro, período mais seco do ano, apresentaram as maiores taxas de desmatamento. A partir de outubro, com a intensificação das fiscalizações, ocorreu uma queda nos índices, também influenciada pelo início das chuvas na região. APRESENTAÇÃO RESULTADOS A porção paraense da bacia concentrou 76% das detecções de desmatamento dos últimos dois meses do ano. Ainda que a intensidade do desmatamento seja maior no Pará, houve um aumento de 52% nas taxas de desmatamento no Mato Grosso em relação à setembro e outubro, somando 4.635 ha de floresta derrubada. DESMATAMENTO DETECTADO EM NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2019 NA BACIA DO XINGU POR ESTADO N S E W 1 Ituna Itatá 2 Trincheira Bacajá 3 Koatinemo 4 Araweté Igarapé Ipixuna 5 Arara da Volta Grande do Xingu Vila Mocotó estradas terras indígenas Ituna Itatá cadastro ambiental rural desmatamento nov e dez de 2019 desmatamento 2019 até outubro desmatamento acumulado até 2018 km 75 150 300 nº de polígonos área desmatada no PA área desmatada no MT 2018 2019 0 pol. 1.000 pol. 3.000 pol. 4.000 pol. 5.000 pol. 2.000 pol. 10.000 ha 15.000 ha 5.000 ha 20.000 ha 25.000 ha 0 ha nov dez jan jul ago set out nov dez fev mai jun mar abr PA 76% MT 24% A APA Triunfo do Xingu foi a Área Protegida mais desmatada no Brasil em 2019. 94% TI Ituna Itatá A Terra Indígena Ituna Itatá, localizada nos municípios de Altamira e Senador José Porfírio, sofre, desde 2014, um processo de ocupação ilegal que se intensificou nos últimos anos. Em 2019, foram abertos 473 polígonos que totalizaram 7.467 hectares desmatados, colocando a área no ranking das TIs mais desmatadas do período. 79% do desmatamento ocorrido até o final de 2019 aconteceu nos últimos dois anos. Se continuar nesse ritmo, a Ituna Itatá perderá toda sua cobertura florestal em menos de cincos anos. O avanço do desmatamento também coloca em risco a vida dos povos que moram nas Terras Indígenas vizinhas, como é o caso da TI Koatinemo, dos Assurini e a TI Trincheira Bacajá, dos Xikrin. Em dezembro, 65 hectares foram detectados na TI Koatinemo nos seus limites com a Ituna Itatá. Em uma operação de fiscalização do Ibama realizada em janeiro de 2020 foram apreendidos 5 mil litros de combustíveis em postos clandestinos na Vila Mocotó, distante aproximadamente 25 km da TI Ituna Itatá. Segundo os agentes, esse combustível seria utilizado para abastecimento dos maquinários usados no desmatamento ilegal. Um levantamento realizado em dezembro de 2019 pelo Greenpeace mostrou que a TI Ituna Itatá teve 94% do seu território autodeclarado no Cadastro Ambiental Rural (CAR) em mais de 200 registros. Isso comprova que está em curso um processo ostensivo de grilagem de terras na região, com pretensões futuras de regularização encorajadas pelo discurso do atual governo. novembro dezembro área desmatada (ha) 2.122 ha 19 ha APA Triunfo do Xingu RESEX Verde para Sempre REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo FLONA de Altamira ESEC da Terra do Meio 2.000 1.500 1.000 500 0 3 4 1 7 8 9 2 10 6 5 1 2 3 4 5

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  • Em 2019, três Terras Indígenas sofreram intenso processo de invasão de grileiros e madeireiros no norte da bacia do Xingu. Apesar das operações de fiscalização realizadas na região em outubro, as TIs Cachoeira Seca, Apyterewa e Ituna Itatá foram as mais desmatadas em novembro e dezembro. Estas três TIs também foram as

    mais desmatadas do Corredor em 2019 superando mais de 7 mil hectares de supressão da vegetação cada uma.

    Em quarto lugar, a TI Trincheira Bacajá teve 3.969 ha desmatados em 2019, sendo 437 ha apenas nos últimos dois meses, resultado das três frentes de invasão ativas dentro desta TI.

    Na Terra Indígena Kayapó foi identificada a expansão de uma pista de pouso clandestina em um dos afluentes do Rio Fresco, na região sudeste da TI. No último bimestre houve um aumento de 25% no desmatamento detectado em comparação aos dois meses anteriores, consequência da expansão do garimpo ilegal.

    nov - dez2019

    siradx - boletim nº 16sistema de indicação por radar de desmatamento na bacia do xingu

    desmatamento 2019

    desmatamento acumulado até dezembro de 2018

    bacia hidrográfica do rio Xingu

    corredor de diversidade socioambiental do Xingu

    áreas protegidas

    área crítica

    corpos d’água

    desmatados em novembro

    9.487 hadesmatados em dezembro

    ↑ 52%de aumento do desmatamento no Corredor em 2019 em relação a 2018

    MUNICÍPIOS Senador José Porfírio e São Félix do Xingu, no Pará, foram os municípios que apresentaram maiores taxas de desmatamento no último bimestre de 2019, com 3.966 ha e 3.808 ha respectivamente. Em quarto lugar o município mato-grossense União do Sul chama a atenção por seu acentuado aumento. Somente em dezembro, foram detectados 1.702 ha, 7.211% a mais que no mês de novembro, quando o desmatamento foi somente 23 hectares.

    TERRAS INDÍGENAS

    novembro dezembroárea desmatada (ha)

    1.000 2.000 3.000 4.000

    3.966 ha431 ha

    0

    Senador José Porfírio - PASão Félix do Xingu - PA

    Altamira - PAUnião do Sul - MT

    Anapu - PAMedicilândia - PA

    Brasil Novo - PA Marcelândia - MTPorto de Moz - PA

    Feliz Natal - MT

    novembro dezembroárea desmatada (ha)

    TI Ituna / ItatáTI Cachoeira Seca do Iriri

    TI ApyterewaTI Trincheira / Bacajá

    TI Kayapó

    2.450 ha290 ha

    500 1.000 1.500 2.000 2.5000

    94% do território da TI Ituna Itatá foi autodeclarado no Cadastro Ambiental Rural (CAR)

    Foram desmatados 2.455 ha em Unidades de Conservação em novembro e dezembro. Desse montante, 87% se concentrou na APA Triunfo do Xingu, a campeã de desmatamento

    dentre todas as Áreas Protegidas do Brasil em 2019, somando quase 36 mil hectares de floresta derrubada, o que equivaleria à derrubada de 82 árvores por minuto.

    UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

    ÁREAS CRÍTICAS

    9.831 ha

    Veja os polígonos de desmatamento atualizados mensalmente no Observatório Xingu www.xingumais.org.br/observatorios/degradacao

    Cadastre-se para receber o Boletim SIRAD X e os alertas de desmatamento publicados mensalmente.

    Escreva um email para a gente no [email protected]

    O Boletim SIRAD X é publicado a cada dois meses na Plataforma Rede Xingu + (www.xingumais.org.br)

    Os polígonos e boletins estão disponíveis em http://bit.ly/SIRADX

    1 Porto de Moz2 Senador José Porfírio3 Altamira4 Brasil Novo5 Anapu6 Medicilândia7 São Félix do Xingu8 Marcelândia9 União do Sul10 Feliz Natal

    23%do total desmatado em 2019 aconteceu dentro de Áreas Protegidas

    As TIs Apyterewa, Ituna Itatá e Cachoeira Seca foram as campeãs de desmatamento em 2019

    Mais de 201 milhões de árvores foram derrubadas na bacia do Xingu em 2019. Ao todo, foram detectados 168.111 ha de desmatamento de janeiro a dezembro de 2019. Desse total, 23% (39.384 ha) se concentraram dentro das Áreas Protegidas do Corredor de

    Diversidade Socioambiental, um aumento de 52% em comparação com 2018.

    Em 2019, os meses de junho a setembro, período mais seco do ano, apresentaram as maiores taxas de desmatamento. A partir de

    outubro, com a intensificação das fiscalizações, ocorreu uma queda nos índices, também influenciada pelo início das chuvas na região.

    APRESENTAÇÃO

    RESULTADOS A porção paraense da bacia concentrou 76% das detecções de desmatamento dos últimos dois meses do ano. Ainda que a intensidade do desmatamento seja maior no Pará, houve um aumento

    de 52% nas taxas de desmatamento no Mato Grosso em relação à setembro e outubro, somando 4.635 ha de floresta derrubada.

    DESMATAMENTO DETECTADO EM NOVEMBRO E DEZEMBRO DE 2019 NA BACIA DO XINGU POR ESTADO

    N

    S

    EW

    1 Ituna Itatá2 Trincheira Bacajá3 Koatinemo4 Araweté Igarapé

    Ipixuna5 Arara da Volta Grande do Xingu

    Vila Mocotó estradas terras indígenas

    Ituna Itatá cadastro

    ambiental rural desmatamento

    nov e dez de 2019 desmatamento

    2019 até outubro desmatamento acumulado até 2018

    km75 150 300

    nº de polígonosárea desmatada no PAárea desmatada no MT2018 2019

    0 pol.

    1.000 pol.

    3.000 pol.

    4.000 pol.

    5.000 pol.

    2.000 pol.10.000 ha

    15.000 ha

    5.000 ha

    20.000 ha

    25.000 ha

    0 hanov dez jan jul ago set out nov dezfev mai junmar abr

    PA 76%

    MT 24%

    A APA Triunfo do Xingu foi a Área Protegida mais desmatada no Brasil em 2019.

    94%

    TI Ituna Itatá

    A Terra Indígena Ituna Itatá, localizada nos municípios de Altamira e Senador José Porfírio, sofre, desde 2014, um processo de ocupação ilegal que se intensificou nos últimos anos. Em 2019, foram abertos 473 polígonos que totalizaram 7.467 hectares desmatados, colocando a área no ranking das TIs mais desmatadas do período. 79% do desmatamento ocorrido até o final de 2019 aconteceu nos últimos dois anos. Se continuar nesse ritmo, a Ituna Itatá perderá toda sua cobertura florestal em menos de cincos anos.

    O avanço do desmatamento também coloca em risco a vida dos povos que moram nas Terras Indígenas vizinhas, como é o caso da TI Koatinemo, dos Assurini e a TI Trincheira Bacajá, dos Xikrin. Em dezembro, 65 hectares foram detectados na TI Koatinemo nos seus limites com a Ituna Itatá.

    Em uma operação de fiscalização do Ibama realizada em janeiro de 2020 foram apreendidos 5 mil litros de combustíveis em postos clandestinos na Vila Mocotó, distante aproximadamente 25 km da TI Ituna Itatá. Segundo os agentes, esse combustível seria utilizado para abastecimento dos maquinários usados no desmatamento ilegal.

    Um levantamento realizado em dezembro de 2019 pelo Greenpeace mostrou que a TI Ituna Itatá teve 94% do seu território autodeclarado no Cadastro Ambiental Rural (CAR) em mais de 200 registros. Isso comprova que está em curso um processo ostensivo de grilagem de terras na região, com pretensões futuras de regularização encorajadas pelo discurso do atual governo.

    novembro dezembroárea desmatada (ha)

    2.122 ha19 haAPA Triunfo do Xingu

    RESEX Verde para Sempre REBIO Nascentes da Serra do Cachimbo

    FLONA de AltamiraESEC da Terra do Meio

    2.0001.5001.0005000

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    https://www.xingumais.org.br/observatorios/degradacaomailto:deolhonoxingu%40xingumais.org?subject=http://www.xingumais.org.brhttp://bit.ly/SIRADXhttps://g1.globo.com/pa/para/noticia/2019/12/12/terra-indigena-mais-desmatada-da-amazonia-tem-94percent-de-area-declarada-por-grileiros-no-pa-aponta-greenpeace.ghtml