sintomas de ansiedade e depressão: a remodelação … juliana... · para casa para vê-la. aos...
TRANSCRIPT
-
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLNDIA Faculdade de Medicina
Programa de Ps-Graduao em Cincias da Sade
Sintomas de ansiedade e depresso: a
remodelao psquica na Insuficincia
Cardaca
Juliana de Souza Andro
Uberlndia
2010
-
Juliana de Souza Andro
Sintomas de ansiedade e depresso: a
remodelao psquica na Insuficincia
Cardaca
Dissertao apresentada ao Colegiado do
Programa de Ps-graduao em Cincias da
Sade, como parte das exigncias para obteno
do ttulo de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. Elmiro Santos Resende
Co-orientadora: Profa. Dra. Marilda de Oliveira Coelho
Uberlndia
2010
-
Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
A559s
Andro, Juliana de Souza, 1979-
Sintomas de ansiedade e depresso [manuscrito] : a
remodelao psquica na insuficincia cardaca [manuscrito] /
Juliana de Souza Andro. - 2010.
79 f. : il.
Orientador: Elmiro Santos Resende.
Co-orientadora: Marilda de Oliveira Coelho.
Dissertao (mestrado) - Universidade Federal de Uberlndia, Pro-
grama de Ps-Graduao em Cincias da Sade.
Inclui bibliografia.
1. 1. Insuficincia cardaca - Teses. 2. Depresso mental - Teses. 3. Ansiedade - Teses. I. Resende, Elmiro Santos. II. Coelho, Marilda de
Oliveira. III. Universidade Federal de Uberlndia. Programa de Ps-
Graduao em Cincias da Sade.III. Ttulo.
CDU: 616.12-008.315 Elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da UFU / Setor de Catalogao e Classificao
-
Juliana de Souza Andro
Sintomas de ansiedade e depresso: a
remodelao psquica na Insuficincia
Cardaca
Dissertao apresentada ao Colegiado do
Programa de Ps-graduao em Cincias da
Sade, como parte das exigncias para obteno
do ttulo de Mestre.
Uberlndia, 26 de abril de 2010.
______________________________________
Prof. Dr. Aguinaldo Coelho da Silva
______________________________________
Prof. Dr. Rodrigo Sanches Peres
______________________________________
Profa. Dra. Silvia Maria Cury Ismael
-
Dedicatria
A minha me Alda, que me fez direcionar o
olhar para a compreenso do universo dos
pacientes cardacos.
Aos pacientes que compartilharam comigo suas
histrias.
-
Agradecimentos
Diversas pessoas colaboraram direta ou indiretamente para a realizao deste trabalho com
sugestes, idias, crticas e opinies. Outros contriburam com afeto, carinho e amizade,
componentes essenciais para um bom trabalho. Agradeo a todos que me acompanharam
durante a realizao deste estudo. Porm, gostaria de agradecer especialmente a algumas
pessoas.
Aos meus pais, Alda e Jeov, pelos valores a mim ensinados, entre eles a busca pela
realizao de meus sonhos e o valor do estudo. Tambm pelo o esforo sem limites em busca
do meu bem estar, manifestado por meio de amor, carinho e cuidado.
Ao meu esposo Eduardo, por tornar minha vida to mais feliz na sua companhia, alm de me
apoiar durante todo esse tempo, suportando minha angstia em tantos momentos.
Aos meus irmos Jlio e Lucinia (Nia) pelo companheirismo, incentivo e exemplo. Em
especial a Nia, pelo carinho e amor imensos que me fazem sentir mais segura e confiante.
A minha cunhada Karine, por em ouvir com interesse, mesmo sendo de uma rea to
diferente, e tambm por me auxiliar na formatao desse trabalho.
Ao meu orientador, Dr. Elmiro, por me ensinar os caminhos da pesquisa cientifica, pela
confiana, compreenso, carinho e por dividir comigo seu conhecimento. Ele representa a
sabedoria em todos os sentidos.
A minha co-orientadora Marilda, pelas oportunidades a mim oferecidas e pelo incentivo na
busca da valorizao da nossa rea.
Gislene por me escutar, por me ajudar a amadurecer e a me conhecer. Aprendi muitas
coisas parceria que ficaro comigo para sempre.
Aos meus sogros Luzia e Jos, por entender a ausncia, aceitando-me com tanto carinho.
Bela, pela companhia em todas as tardes de escrita desse trabalho e por ser to bom voltar
para casa para v-la.
Aos novos amigos feitos durante essa trajetria, Ana Cludia, Fbia, Leandro, Priscila e
tantos outros, pelas conversas, risadas, conhecimentos trocados e, acima de tudo, por
compartilhar as dores e angstias em busca da concretizao deste trabalho.
A todos os pacientes que aceitaram participar da realizao desta pesquisa, minha mais
profunda gratido.
Enfim, parece que, de tudo isso, o que mais valeu a pena foram os vnculos criados ou
fortalecidos, seja com as pessoas, seja com o conhecimento.
-
Lista de abreviaturas e siglas
IC Insuficincia Cardaca
NYHA New York Heart Association
QV Qualidade de Vida
DSM-IV Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais
BDI Inventrio de Depresso de Beck
DSM-III Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais
BAI Inventrio de Ansiedade de Beck
HAD Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso
CEP Comit de tica em Pesquisa
UFU Universidade Federal de Uberlndia
SCID-I Structured Clinical Interview
-
Lista de tabelas
Tabela 1. Dados sociodemogrficos do grupo de estudo e do grupo controle.
34
Tabela 2. Escore mdio, desvio padro e probabilidades encontradas, quando da
aplicao do teste de Mann-Whitney aos valores obtidos pelo grupo de pacientes e pelo
grupo controle aos dados relativos depresso e ansiedade, medidos pela BDI.
35
Tabela 3. Dados relativos ao BDI do grupo de estudo e do grupo controle.
35
Tabela 4. Escore mdio, desvio padro e probabilidades encontradas, quando da
aplicao do teste de Mann-Whitney aos valores obtidos pelo grupo de pacientes e pelo
grupo controle aos dados relativos depresso e ansiedade, medidos pela BAI.
36
Tabela 5. Dados relativos ao BAI do grupo de estudo e do grupo controle.
36
Tabela 6. Escore mdio, desvio padro e probabilidades encontradas, quando da
aplicao do teste de Mann-Whitney aos valores obtidos pelo grupo de estudo e pelo
grupo controle aos dados relativos depresso e ansiedade, medidos pelo HAD.
37
Tabela 7. Dados relativos HAD do grupo de estudo e do grupo controle.
37
Tabela 8. Correlaes de Postos de Spearman entre os instrumentos psicolgicos e a
classe funcional de IC.
40
-
Lista de figuras
Quadro 1. Classificao da NYHA. 13
Quadro 2. Etiologia da IC. 13
Quadro 3. Principais sintomas presentes na depresso. 15
Quadro 4. Principais sinais e sintomas presentes nos transtornos de ansiedade. 17
Quadro 5. Pontos de corte do BDI para pacientes psiquitricos. 20
Figura 1. Principais sintomas avaliados pelas escalas de ansiedade. 22
Quadro 6. Pontos de corte do BAI para pacientes psiquitricos.
22
Quadro 7. Critrios de incluso e excluso do grupo de estudo.
28
Quadro 8. Critrios de incluso e excluso do grupo controle.
29
Fluxograma 1. Nmero de sujeitos selecionados e excludos no grupo de estudo. 33
Grfico 1. Distribuio percentual da etiologia das cardiopatias na IC. 38
Grfico 2. Distribuio percentual da classe funcional dos pacientes do grupo de estudo
com IC (NYHA). 39
-
Sumrio
LLiissttaa ddee aabbrreevviiaattuurraass ee ssiiggllaass .......................................................................................................................................................................................................... 88
LLiissttaa ddee ttaabbeellaass ...................................................................................................................................................................................................................................................... 99
LLiissttaa ddee ffiigguurraass .................................................................................................................................................................................................................................................. 1100
RReessuummoo .......................................................................................................................................................................................................................................................................... 1100
AAbbssttrraacctt .......................................................................................................................................................................................................................................................................... 1111
11 IInnttrroodduuoo .......................................................................................................................................................................................................................................................... 1155
1.1 Insuficincia Cardaca ................................................................................................ 16
1.2 Depresso e ansiedade ............................................................................................... 19
1.3 Inventrio de Depresso de Beck ............................................................................... 22
1.4 Inventrio de Ansiedade de Beck .............................................................................. 25
1.5 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso ............................................................ 26
22 OObbjjeettiivvoo .................................................................................................................................................................................................................................................................. 2299
33 MMaatteerriiaall ee mmttooddooss ................................................................................................................................................................................................................................ 3311
3.1 Amostra ........................................................................................................................... 32
3.1.1 Grupo de estudo ....................................................................................................... 32
3.1.2 Grupo controle.......................................................................................................... 32
3.2 Mtodos .......................................................................................................................... 33
3.2.1 Aspectos ticos ......................................................................................................... 33
3.2.2 Avaliao dos pacientes ........................................................................................... 33
3.2.3 Anlise estatstica ..................................................................................................... 34
44 RReessuullttaaddooss .......................................................................................................................................................................................................................................................... 3366
4.1 Seleo dos participantes do grupo de estudo ................................................................ 37
4.2 Dados sociodemogrficos ............................................................................................... 37
4.3 Resultados dos instrumentos psicolgicos ...................................................................... 39
4.3.1 Inventrio de Depresso de Beck ............................................................................. 39
4.3.2 Inventrio de Ansiedade de Beck ............................................................................. 40
4.3.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso ........................................................... 41
4.4 Etiologia da Insuficincia Cardaca ................................................................................ 42
4. 5 Classe Funcional ............................................................................................................ 43
4.6 Correlaes entre dados sociodemogrficos e os instrumentos psicolgicos. ................ 45
55 DDiissccuussssoo ............................................................................................................................................................................................................................................................ 3366
-
5.1 Dados sociodemogrficos ............................................................................................... 48
5.2 Ansiedade e depresso .................................................................................................... 49
5.3 Instrumentos psicolgicos: BDI, BAI E HAD. ............................................................... 52
5.4 Efeitos das classes funcionais ......................................................................................... 53
5.5. Etiologia da IC ............................................................................................................... 55
66 CCoonncclluusseess ........................................................................................................................................................................................................................................................ 5566
77 CCoonnssiiddeerraaeess ffiinnaaiiss .......................................................................................................................................................................................................................... 5588
RReeffeerrnncciiaass bbiibblliiooggrrffiiccaass .............................................................................................................................................................................................................. 6633
AAnneexxooss ............................................................................................................................................................................................................................................................................ 7700
AAnneexxoo AA .......................................................................................................................................................................................................................................................................... 7711
AAnneexxoo BB .......................................................................................................................................................................................................................................................................... 7755
AAnneexxoo CC ........................................................................................................................................................................................................................................................................ 7766
AAnneexxoo DD ........................................................................................................................................................................................................................................................................ 7799
AAnneexxoo EE .......................................................................................................................................................................................................................................................................... 8800
AAnneexxoo FF .......................................................................................................................................................................................................................................................................... 8811
-
Resumo
A insuficincia cardaca (IC) uma condio clnica crnica e incapacitante que provoca
repercusses emocionais importantes que, as quais podem levar a um prognstico pior da
doena, baixa adeso do paciente ao tratamento, ao aumento das readmisses hospitalares e
pior qualidade de vida. Esse estudo visou verificar a presena de sintomas de ansiedade e
depresso em pacientes com IC e compar-las com as de um grupo de pacientes sem IC
correlacionando-se esses achados com as principais caractersticas sociodemogrficas dos
grupos estudados. Foram avaliados 100 pacientes, sendo 50 com IC (grupo de estudo) e 50
sem IC (grupo controle). Verificou-se a presena de sintomas de ansiedade e de depresso
utilizando-se trs instrumentos psicolgicos: Inventrio de Ansiedade de Beck, Inventrio de
Depresso de Beck e Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso. Os pacientes foram
submetidos a uma avaliao mdica e responderam um questionrio sociodemogrfico. No
houve diferena significante entre os dois grupos em relao a ter ocupao e a ter filhos e
nem quanto ao gnero. Os pacientes com IC demonstraram mais sintomas ansiedade e
depresso do que o grupo controle em relao a todos os instrumentos. Entretanto o grupo
com IC tinha idade mais avanada, menos lazer e menor escolaridade que o controle. O
estudo aponta a importncia da utilizao de instrumentos psicolgicos para rastreamento de
sintomas de ansiedade e depresso nessa populao de pacientes com IC e tambm a
necessidade de assistncia psicolgica, principalmente para pacientes em classes funcionais
mais avanadas.
Palavras-chave: insuficincia cardaca, ansiedade, depresso.
-
Abstract
Heart failure (HF) is a chronic disease that incapacitates and provokes emotional
repercussions that may actually worsen the disease itself. Possible results include disinterest
by the patient in pursuing treatment, increased hospitalization and reduced quality of life. The
present study seeks to verify the presence of symptoms of anxiety and depression in patients
with HF and compare them with a group of patients without HF for analysis in terms of
principal socio demographic characteristics of the two groups. A total of 100 patients were
evaluated. Fifty of these (the study group) had HF and 50 (the control group) without the
disease. The presence of anxiety and depression were verified using three psychological
instruments: Beck's Anxiety Inventory, Beck's Depression Inventory and the Hospital Scale of
Anxiety and Depression. Patients were also submitted to a medical examination and
responded to a socio demographic questionnaire. There was no significant difference between
the two groups in terms of occupation, sex or number of children. The patients with HF
demonstrated more anxiety and depression than the control group, as measured by all of the
instruments. Further analysis revealed that the study group was older, had less leisure time
and less education than the control group. The study thus revealed the importance of
psychological instruments for the identification of symptoms of anxiety and depression
among patients with HF. The need for psychological assistance, principally for upper working
class patients was evident.
Keywords: heart failure, anxiety, depression.
-
11..IInnttrroodduuoo
-
IINNTTRROODDUUOO 16 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
1.1 Insuficincia Cardaca
Por definio, a Insuficincia Cardaca (IC) uma condio clnica que tem como
caracterstica principal a incapacidade de o corao suprir, com um volume sanguneo
necessrio, as demandas do metabolismo tecidual. Essa incapacidade funcional est
usualmente ligada ao comprometimento da funo contrtil do msculo cardaco (falncia
sistlica). Em certas situaes, para que ocorra uma perfuso tecidual adequada, torna-se
necessria uma presso de enchimento das cavidades cardacas anormalmente elevadas
(FELKER et al., 2003). O quadro clnico , assim, dominado por manifestaes orgnicas
secundrias ao processo isqumico ou congestivo com conseqente dispnia, edema e fadiga
(FRANCIS, 2005).
A IC caracteriza-se, portanto, como uma sndrome clnica complexa e decorre de
processos lesivos progressivos do corao que, ao provocar disfuno ventricular,
desencadeiam uma srie de mecanismos compensatrios que, uma vez exacerbados, passam
de uma resposta inicialmente benfica para outra em que ocorre acentuao das leses e piora
funcional (CLAUSELL, 2003).
Nos ltimos anos, a incidncia de insuficincia cardaca vem aumentando no Brasil e
no mundo e apesar de no existirem em nosso meio estudos epidemiolgicos suficientemente
abrangentes, estima-se que at 6,4 milhes brasileiros apresentem IC (II Diretrizes da
Sociedade Brasileira de Cardiologia para o Diagnstico e Tratamento da Insuficincia
Cardaca, 2002). Alguns nmeros podem ser verificados em registros nacionais. No ano de
2007, ocorreram 293.473 internaes hospitalares por IC, representando 3% dos custos totais
de internao e 6% dos bitos no Sistema nico de Sade SUS. (III Diretrizes da Sociedade
Brasileira de Cardiologia para o Diagnstico e Tratamento da Insuficincia Cardaca, 2009).
Isso aponta a importncia dessa doena em nosso meio.
bastante claro que, em qualquer sistema de sade, as internaes hospitalares
representam um componente desproporcional nos gastos totais. Em pases industrializados, as
altas taxas de hospitalizao para a IC e o tratamento contnuo e necessrio representam de
1% a 2% de todo o dinheiro alocado para o sistema de sade. O custo da IC aumenta com a
piora da disfuno sistlica e com a gravidade da doena. Em pacientes em classe funcional
IV, os custos chegam a ser de 8 a 30 vezes maiores que nos pacientes com classe funcional II
(ROSSI NETO, 2004).
-
IINNTTRROODDUUOO 17 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
No Brasil, a IC representa a terceira causa de mortalidade em diferentes grupos de
doenas cardiovasculares, e tem sido motivo freqente de internaes hospitalares, que
acarretam um elevado custo humano e financeiro (FREITAS et al, 2003).
Apesar do grande desenvolvimento tecnolgico e maiores recursos farmacolgicos
hoje disponiveis, este aumento da incidncia de IC, em parte, decorre do envelhecimento da
populao, fase em que a IC mais frequente. De outra parte, pode-se considerar que, uma
vez que se morre menos em decorrncia da cardiopatia de base, convive-se mais com a IC,
sendo ela a fase final comum das doenas cardiolgicas (BARRETTO; RAMIRES, 1998).
A IC tem sido classificada com base na intensidade da dispneia. Esta classificao
proposta pela New York Heart Association (NYHA) identifica quatro formas clnicas de
acordo com a intensidade dos sintomas. Essas classes estratificam o grau de limitao imposto
pela doena para atividades cotidianas do indivduo. O Quadro 1 ilustra as caractersticas
clnicas da classificao da NYHA. (III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para
o Diagnstico e Tratamento da Insuficincia Cardaca, 2009).
Classe I. Ausncia de sintomas (dispnia) durante atividades cotidianas. A limitao para
esforos semelhante esperada em indivduos normais;
Classe II. Sintomas desencadeados por atividades cotidianas;
Classe III. Sintomas desencadeados em atividades menos intensas que as cotidianas ou
pequenos esforos;
Classe IV. Sintomas em repouso.
Quadro 1. Classificao da NYHA.
Como se v no Quadro 2, existem vrias etiologias possveis para a IC, sendo
importante seu conhecimento para controle do fator que provocou a doena.
-
IINNTTRROODDUUOO 18 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Etiologia Situao clnica
Doena isqumica Especialmente na presena de fatores de risco, angina ou
disfuno segmentar
Hipertenso arterial Freqentemente associada hipertrofia ventricular e a frao
de ejeo preservada
Doena de Chagas Especialmente na presena de dados epidemiolgicos
sugestivos e bloqueio de ramo direito/bloqueio divisional
antero-superior
Cardiomiopatia Hipertrfica, dilatada, restritiva e displasia arritmognica do
ventrculo direito
Drogas Bloqueadores de canal de clcio, agentes citotxicos
Toxinas lcool, cocana, microelementos (mercrio, cobalto e
arsnio)
Doenas endcrinas Diabetes, hipo/hipertireoidismo, Cushing, insuficincia
adrenal, feocromocitoma, hipersecreo hormnio do
crescimento
Nutricional Deficincia de selnio, tiamina, carnitina, obesidade,
caquexia
Infiltrativa Sarcoidose, amiloidose, hemocromatose
Doena extra-cardaca Fstula artrio-venosa, beribri, doena de Paget, anemia
Outras Periparto, miocardiopatia do HIV, doena renal crnica
Quadro 2. Etiologia da IC
Fonte: (III Diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia para o Diagnstico e Tratamento da
Insuficincia Cardaca, 2009).
Pelo delineado at agora, verifica-se que pacientes com IC apresentam grande prejuzo
na qualidade de vida (QV). Essa situao se torna muito evidente quando essa QV
comparada de pacientes com outras doenas crnicas debilitantes, como diabetes melittus,
angina pectoris e doena pulmonar crnica (STEWART et al, 1989).
Vrias intercorrncias podem precipitar ou agravar a evoluo clnica de pacientes
cardiopatas. Pacientes com doena cardaca compensada, de qualquer etiologia, podem
desenvolver insuficincia cardaca aguda em resposta, inclusive, a fatores psicolgicos que
resultam em efeitos diretos e/ou indiretos. Os efeitos diretos incluem estmulo emocional
intenso, tais como ansiedade ou raiva, e sentimentos de depresso e desesperana. J os
-
IINNTTRROODDUUOO 19 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
indiretos resultam do comportamento do paciente e de negao da doena, que pode tomar a
forma de no adeso ao tratamento mdico (KAPLAN; SADOCK, 1986).
A IC uma doena crnica que pode evoluir durante anos e progredir de
comprometimento fsico mnimo at atingir situaes graves. O tratamento bem sucedido
exige, alm dos recursos farmacolgicos, modificaes no estilo de vida e interfere nas
atividades e na vida dos membros da famlia e dos cuidadores. Os pacientes podem ter uma
vida limitada, mas com qualidade razovel durante anos. Infelizmente a maioria est muito
limitada tornando-se incapacitada e considerada, assim, como membros improdutivos para
a sociedade (STARLING, 2005).
Transtornos psquicos, como depresso e ansiedade, tm sido associados a um pior
prognstico na IC, ao aumento das readmisses hospitalares, pior qualidade de vida e ao
aumento da mortalidade (PERLMAN et al, 1971; FALK et al, 2009).
Nesse sentido, pode-se perceber que a IC uma doena que, alm do
comprometimento orgnico, traz tambm grandes repercusses emocionais para o seu
portador e para sua famlia, pois demanda mudanas em hbitos, diminui a capacidade
produtiva do paciente o que, muitas vezes, reflete-se na questo financeira e modifica a viso
que o paciente tem de si como um ser autnomo vislumbrando em seu lugar uma pessoa
limitada e dependente. Nesse contexto, talvez, o maior sofrimento seja a possibilidade de
morte iminente que gera angstia e medo ao sujeito.
1.2 Depresso e ansiedade
Depresso um termo extensamente utilizado, porm existe certa ambiguidade na
terminologia. Depresso uma doena, ou melhor, um transtorno do humor, com critrios
diagnsticos que a diferenciam de qualquer outro e incluem sintomas somticos e afetivos.
Em outro aspecto, est a tristeza, um afeto presente na vida de todas as pessoas, sendo
considerado normal e adequado quando compatvel intensidade e durao do evento que a
provocou. A tristeza uma reao s situaes de perda, frustraes, derrota e outras
adversidades. uma resposta importante no sentido de que a pessoa entristecida poupa
energia e volta-se para seu mundo interno buscando refletir sobre suas atitudes.
De acordo com o DSM-IV - Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais
(2002) vrias categorias nosolgicas so estabelecidas para a depresso, sendo a caracterstica
-
IINNTTRROODDUUOO 20 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
predominante uma perturbao no humor. Os sintomas presentes so, como se v no Quadro
3:
a) Humor deprimido na maior parte do tempo;
b) Acentuada diminuio do interesse ou prazer nas atividades;
c) Perda ou ganho significativo de peso sem estar de dieta, ou diminuio ou aumento do
apetite;
d) Insnia ou hipersonia;
e) Agitao ou retardo psicomotor;
f) Fadiga ou perda de energia;
g) Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inadequada;
h) Capacidade diminuda de pensar ou concentrar-se, ou indeciso;
i) Pensamentos recorrentes de morte ou ideao suicida.
Quadro 3. Principais sintomas presentes na depresso.
O DSM-IV (2002) no tem a pretenso em estabelecer a etiologia dos transtornos e
sim descrever os fenmenos, estabelecendo os critrios diagnsticos. Dessa forma, o DSM-IV
no se compromete com nenhum pressuposto terico e pretende ser universal.
Por outro lado, algumas teorias psicolgicas so propostas para explicar o fenmeno
da depresso. A psicanlise, criada por Freud (1915), descreveu a melancolia, que se equipara
hoje depresso e poderia ser caracterizada como:
[...] um desnimo profundamente penoso, a cessao de interesse pelo mundo externo,
a perda da capacidade de amar, a inibio de toda e qualquer atividade, e uma
diminuio dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expresso em auto-
recriminao e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punio
(Freud, 1915, p.276)
Atualmente, na prtica clnica, toma-se com base dois referenciais clnicos opostos:
depresso patolgica ou melancolia e depresso psicognica ou reativa (FONTANA;
FONTANA, 2005a).
Transtornos emocionais como a depresso, podem ter um efeito significante e negativo
nos ndices de mortalidade, morbidade e qualidade de vida entre pacientes com doenas
fsicas, como as cardacas (BAMBAUER et al, 2005).
A prevalncia dos transtornos depressivos na populao, ao longo da vida, situa-se em
torno de 15% nas mulheres, podendo chegar a 25% (KAPLAN; SADOCK; GREBB, 1987).
-
IINNTTRROODDUUOO 21 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Com relao aos pacientes de clnica geral, este nmero chega a 10%, podendo atingir 15%
em enfermos internados por motivos mdicos gerais (FONTANA; FONTANA, 2005).
Em relao ansiedade, ela considerada um estado emocional com componentes
psicolgicos e fisiolgicos que faz parte do espectro normal das experincias humanas sendo
tambm propulsora do desempenho. Ela passa a ser patolgica quando desproporcional
situao que a desencadeia, ou quando no existe um objeto especfico ao qual se direcione
(GORENSTEIN; ANDRADE, 1998). A maneira prtica de se diferenciar ansiedade normal
de ansiedade patolgica avaliar se a reao ansiosa de curta durao, autolimitada e
relacionada ao estmulo do momento ou no (CASTILLO et al, 2000).
Os sinais e sintomas mais comuns relacionados ansiedade, de acordo com Fontana e
Fontana (2005), so os listados no Quadro 4:
Sintomas de excitao autonmica Palpitaes, batimentos cardacos fortes,
taquicardia, sudorese, boca seca (no decorrente
de medicao ou desidratao), tremor ou
estremecimento.
Sintomas envolvendo o trax e abdome Dificuldade de respirar, sensao de sufocao,
dor ou desconforto torcico, taquipnia,
dificuldade para engolir, nusea ou desconforto
abdominal, aumento do peristaltismo (diarria),
mico freqente.
Sintomas relacionados ao estado mental Sentimentos de atordoamento, desequilbrio,
desfalecimento, estonteamento, apreenso,
sensao de que algo terrvel est para acontecer,
dificuldade de concentrao, desrealizao,
despersonalizao, medo de perder o controle, de
ficar louco ou desmaiar, medo de morrer.
Sintomas gerais Ondas de calor ou calafrios, arrepios de frio,
sensaes de entorpecimento ou de
formigamento, piloereo, vasoconstrio,
midrase, sensao de tenso, dificuldade para
relaxar, contraturas, dores diversas inespecficas.
Quadro 4. Principais sinais e sintomas presentes nos transtornos de ansiedade.
-
IINNTTRROODDUUOO 22 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Os transtornos de ansiedade so estados, portanto, de fundo emocional e repetitivo, ou
mesmo persistentes, nos quais a ansiedade patolgica constitui sintoma fundamental
(FONTANA; FONTANA, 2005).
Em seu trabalho intitulado Inibies, sintomas e ansiedade, Freud (1926) chegou
concluso de que a ansiedade uma reao a uma situao de perigo, ou seja, os sintomas so
criados a fim de evitar uma situao de risco sinalizada pela ansiedade.
Melanie Klein (apud SPILLIUS, 1991) na sua teoria psicanaltica, postula que a
ansiedade est presente desde muito cedo na vida do ser humano, numa etapa do
desenvolvimento psquico denominada posio esquizoparanide. Segundo a autora, a
ansiedade, nesse perodo, do tipo persecutria, o medo que objetos perseguidores externos
invadam e destruam o mundo interno do sujeito. Desse modo, o medo da morte um herdeiro
desse primitivo medo do aniquilamento presente na tenra idade.
Existem vrios instrumentos propostos e utilizados na avaliao da ansiedade e
depresso. No presente estudo foram escolhidos trs instrumentos para avaliao dos sintomas
de ansiedade e depresso dos pacientes com IC. Eles esto descritos a seguir.
1.3 Inventrio de Depresso de Beck
O Inventrio de Depresso de Beck (BDI) (anexo A) universalmente conhecido para
medida da intensidade de sintomas depressivos. Foi originalmente criado por Beck, Ward,
Mendelson, Mock e Erbaugh em 1961 e revisado por Beck, Rush, Shaw e Emery entre 1979 e
1982 (CUNHA, 2001). , provavelmente, a medida de autoavaliao de depresso mais
amplamente usada, tanto em pesquisa como na clnica. Foi traduzido para vrios idiomas e
validado em diferentes pases (GORESTEIN; ANDRADE, 1998). A verso em portugus foi
desenvolvida por Cunha (2001).
O instrumento foi inicialmente estruturado como uma escala sintomtica de depresso
para uso em pacientes psiquitricos. Muitos estudos sobre suas propriedades psicomtricas
foram realizados nos anos seguintes ao seu aparecimento, passando a ser utilizado
amplamente, tanto na rea clnica como na de pesquisa e mostrando-se um instrumento til
tambm para a populao em geral (CUNHA, 2001). O BDI uma medida sensvel para
mensurar sintomas depressivos, mas no tem a inteno de ser um instrumento para
estabelecer categorias nosolgicas (KENDALL et al, 1987).
-
IINNTTRROODDUUOO 23 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
De acordo com o manual da verso em portugus, o contedo dos itens do BDI foi
analisado em relao aos critrios do Manual Diagnstico e Estatstico de Transtornos
Mentais - DSM-III que, essencialmente, tambm constituem as caractersticas sintomticas de
um episdio de depresso maior que podem ser assim resumidas:
1) Humor deprimido;
2) Perda de interesse ou prazer;
3) Perda ou ganho de peso, ou diminuio ou aumento do apetite;
4) Insnia ou hipersonia;
5) Fadiga ou perda de energia;
6) Sentimento de inutilidade ou culpa excessiva;
7) Capacidade diminuda de pensar ou concentrar-se, indeciso;
8) Agitao ou retardo psicomotor;
9) Pensamentos de morte recorrentes.
O BDI no abrange todos os 9 itens dos critrios diagnsticos sendo que, em relao
ao apetite e ao peso, indaga somente sobre falta e perda deles, no questionando sobre o
aumento de apetite ou de peso. Quanto ao sono, investiga somente sobre insnia e ignora a
hipersonia. Percebe-se, por outro lado, a ausncia de itens que avaliem sintomas de agitao
ou de retardo psicomotor. Porm, de acordo com Beck (1967 apud CUNHA, 2001, p.41), essa
ausncia foi intencional, uma vez que pacientes deprimidos se queixam mais constantemente
de perda de apetite e de peso e, em relao agitao, esta no foi includa por ser melhor
avaliada na observao clnica.
O BDI uma escala de auto-relato, de 21 itens, possuindo, cada um, quatro
alternativas subentendendo-se, nelas, graus crescentes de gravidade de depresso
(WILLIAMS; BARLOW; AGRAS, 1972), com escores variando de 0 a 3. Os itens do BDI
referem-se : 1) tristeza; 2) pessimismo, 3) sentimento de fracasso, 4) insatisfao, 5)
culpa, 6) punio, 7) auto-averso, 8) auto-acusao, 9) idias suicidas, 10)
choro, 11) irritabilidade, 12) retraimento social, 13) indeciso, 14) mudana na
auto-imagem, 15) dificuldade de trabalhar, 16) insnia, 17) fatigabilidade, 18) perda
de apetite, 19) perda de peso, 20) preocupaes somticas e 21) perda da libido
(CUNHA, 2001).
O BDI constitudo por duas sub-escalas, que apresentam itens cognitivo-afetivos e
itens que subentendem queixas somticas e de desempenho. Essa distino de padres
sintomticos se torna til ao se avaliar depresso em pacientes da clnica mdica que podem
-
IINNTTRROODDUUOO 24 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
manifestar sintomas que costumam ser compartilhados com pacientes depressivos (CUNHA,
2001).
Segundo o Manual do BDI na verso em portugus (CUNHA, 2001), o escore total o
resultado da soma dos escores individuais dos itens. O escore total permite a classificao de
nveis de intensidade de depresso. Nessa mesma verso, os nveis descritos no Manual de
Beck no so idnticos aos que devem ser usados em pacientes psiquitricos.
Na verso em portugus, so estabelecidos os seguintes pontos de corte para pacientes
psiquitricos, conforme se v no Quadro 5:
Nvel Escores
Mnimo 0 -11
Leve 12 19
Moderado 20 35
Grave 36 63
Quadro 5. Pontos de corte do BDI para pacientes psiquitricos.
Os autores acreditam que os pontos de corte podem variar conforme o propsito do
examinador e a amostra. No so sugeridos pontos de corte para populaes normais, embora
Oliver e Simmons (1984) acreditem que o BDI poderia ser utilizado para triagem tipo de
populao, sendo que um escore de 18 a 19 proporcionaria uma estimativa de depresso.
Kendall e colaboradores (1987) sugerem que o termo depresso deve ser reservado somente
para indivduos com escores acima de 20 e, preferencialmente, com diagnstico clnico j
estabelecido. Os autores ainda afirmam que para avaliar os transtornos psquicos, seria
desejvel utilizar mais de um instrumento na avaliao, o que poderia aumentar a confiana e
acurcia dos resultados.
No desenvolvimento da verso em portugus do BDI e do Inventrio de Ansiedade de
Beck (BAI) descrito abaixo, foram empregadas trs amostras normativas: a) amostra
psiquitrica (constituda por pacientes portadores de transtornos depressivos, transtornos
ansiosos e outros transtornos psiquitricos); b) amostra mdico-clnica (constituda por
pacientes portadores de doenas fsicas: cardiopatia, dor crnica, HIV+, disfuno ertil,
obesidade, diabetes mellitus, doena pulmonar obstrutiva crnica e pacientes de unidades de
cuidados primrios em sade) e c) amostra no-clnica (constituda por diferentes sub-
populaes sem problemas de sade). Entretanto, os pontos de corte apresentados no manual
da verso em portugus dos instrumentos em questo so referentes amostra psiquitrica.
-
IINNTTRROODDUUOO 25 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Apesar disso, esses pontos de corte tm sido utilizados em estudos nacionais voltados
avaliao de ansiedade e depresso em pacientes portadores de diversos tipos de doenas
fsicas, tais como pacientes submetidos a cirurgias eletivas de pequeno e mdio porte no
estudo de Marcolino e colaboradores (2007) e cardiopatas com histrico recente de episdio
agudo de doena coronria no estudo de Vilela (2008). Portanto este procedimento parece ser
o mais comum encontrado na literatura.
1.4 Inventrio de Ansiedade de Beck
O Inventrio de Depresso de Beck (BAI) (anexo B) foi criado por Beck, Epstein,
Brown e Steer em 1988 e uma escala de auto-relato, que mede a intensidade de sintomas de
ansiedade (CUNHA, 2001).
O instrumento, criado originalmente para uso em pacientes psiquitricos, mostrou-se
tambm adequado populao em geral. A verso em portugus foi desenvolvida por Cunha
(2001) e utilizada no s em grupos psiquitricos e no-psiquitricos, como tambm em
trabalhos que envolvem outros sujeitos da comunidade.
O construto ansiedade abrange vrios aspectos, sendo que, segundo Keedwell e
Snaith (1996), os aspectos avaliados pelas escalas, de ansiedade podem ser agrupados de
acordo com os seguintes tpicos: humor, cognio, comportamento, estado de hiperalerta,
sintomas somticos e outros.
A BAI d nfase aos aspectos somticos da ansiedade, conforme figura 1.
Figura 1. Principais sintomas avaliados pelas escalas de ansiedade.
Fonte: Andrade e Gorenstein, 1998.
-
IINNTTRROODDUUOO 26 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Segundo o manual do BAI, na verso em portugus, no desenvolvimento da escala
houve a inteno de que seus itens fossem representativos de critrios diagnsticos do DSM-
III para os transtornos de ansiedade, especialmente do pnico e ansiedade generalizada, o que
justifica a validade de conceito do instrumento.
O inventrio, de acordo com a verso em portugus, constitudo pelos 21 itens que
so afirmaes descritivas de ansiedade e que devem ser avaliados pelo sujeito com referncia
a si mesmo, numa escala de 4 pontos que refletem nveis de gravidade crescente de cada
sintoma. So eles: 1) Absolutamente no; 2) Levemente: No me incomodou muito; 3)
Moderadamente: Foi muito desagradvel, mas pude suportar; 4) Gravemente: Dificilmente
pude suportar. O escore total o resultado da soma dos escores dos itens individuais que pode
variar de 0 a 63.
O Quadro 6 representa os pontos de corte do BAI, para pacientes psiquitricos, na
verso em portugus, de acordo com o seu manual:
Nvel Escores
Mnimo 0 10
Leve 11 19
Moderado 20 30
Grave 31 63
Quadro 6. Pontos de corte do BAI para pacientes psiquitricos.
Assim como no BDI, o ponto de corte da BAI deve ser considerado conforme os
objetivos e amostra do estudo. No manual da verso em portugus, recomenda-se que, diante
de um escore total classificado como moderado ou grave, pode-se pressupor a presena de
indcios de uma ansiedade clnica.
1.5 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso
Ansiedade e depresso so os distrbios psiquitricos mais freqentemente associados
s doenas fsicas de uma forma geral (BOTEGA et al, 1998). Tanto a ansiedade como a
depresso apresentam sintomas somticos e psquicos e existem vrios deles associados elas
que tambm esto presentes em doenas fsicas.
-
IINNTTRROODDUUOO 27 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
A Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso (HAD) (anexo C) foi criada com a
preocupao de avaliar somente os sintomas psquicos da ansiedade e depresso. Itens como
insnia, fadiga, anorexia, perda de peso entre outros, que poderiam tambm ser sintomas de
doenas fsicas, no figuram na escala, a qual se centra nos sintomas de anedonia (ZIGMOND
E SNAITH, 1983), o que significa perda da sensao de prazer nos atos que costumavam
proporcion-la.
Inicialmente a HAD foi desenvolvida para identificar sintomas de ansiedade e
depresso em pacientes internados no-psiquitricos, sendo posteriormente, a partir dos
estudos realizados, utilizada em outros tipos de pacientes, em pacientes no internados e em
indivduos sem doena (MARCOLINO et al, 2007).
Em um estudo realizado por Marcolino e colaboradores (2007) para estudar a validade
de critrio e a confiabilidade da HAD em pacientes em pr-operatrio, utilizou-se dos
Inventrios de Depresso e Ansiedade de Beck como padro-ouro para a determinao da
sensibilidade e da especificidade da HAD. Os resultados do estudo demonstraram uma
correlao de 0,6 a 0,7, considerada como uma correlao de mdia para forte, concluindo-se
que a HAD apresenta ndices de consistncia interna recomendveis para instrumentos de
triagem.
Bjelland e colaboradores (2002) realizaram uma reviso de literatura de 747 artigos
que utilizaram a HAD para triagem de pacientes ansiosos e deprimidos e encontraram bom
desempenho da escala na avaliao de pacientes com doenas fsicas, psiquitricas e de
pessoas da populao em geral.
A HAD avalia melhor a presena e severidade dos sintomas de ansiedade e depresso
do que distingue entre diferentes tipos de transtornos. composta por 14 itens intercalados: 7
de ansiedade (HAD A) e 7 de depresso (HAD D), 6 itens so codificados de 0 a 3 e 8 de
3 a 0 (CACI et al, 2003).
Zigmond e Snaith (1983) sugerem que quando a escala for utilizada para fins de
pesquisa e forem includos casos que tenham uma alta probabilidade de sofrer de transtorno
de humor, isto , uma baixa proporo de falsos positivos, o ponto de corte estabelecido deve
ser 10/11 para cada subescala. Entretanto, quando a pesquisa exige a incluso de possveis
casos, isto , uma baixa proporo de falsos negativos, o ponto de corte de 8/9 deveria ser
usado.
Em um estudo realizado por Botega e colaboradores (1998) no Brasil, com o objetivo
de verificar a validade da HAD em pacientes epilpticos, tratados em ambulatrio, bem como
em um grupo controle, foi possvel estabelecer o ponto de corte de 7/8 (ou seja, acima de 8
-
IINNTTRROODDUUOO 28 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
pontos) que, ao mesmo tempo, proporcionou boa sensibilidade e especificidade de ansiedade
e depresso em ambas as escalas.
Botega e colaboradores (1998) afirmam que a utilizao de uma escala simples, como
a HAD, pode revelar, ao clnico, casos de transtorno de humor que freqentemente passam
despercebidos e seguem sem tratamento especfico.
Com base em todos os aspectos acima delineados e vinculados IC e s suas
manifestaes afetivas, torna-se justificvel, luz dos conhecimentos atuais e dos
instrumentos incorporados ao arsenal mdico e psicolgico, serem avaliados as manifestaes
de ansiedade e depresso nesse grupo especial de pacientes portadores de um grave transtorno
de sade.
-
22 OObbjjeettiivvoo
-
OOBBJJEETTIIVVOO 30 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Verificar a presena dos sintomas de ansiedade e depresso em pacientes com IC.
Comparar os resultados com aqueles de um grupo de pacientes sem IC.
Correlacionar esses achados com as caractersticas sociodemogrficas dos pacientes.
-
33 MMaatteerriiaall ee mmttooddooss
-
MMAATTEERRIIAALL EE MMTTOODDOOSS 32 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
O presente estudo do tipo caso-controle, sendo a coleta de dados realizada no
perodo de julho/2008 a janeiro/2009.
3.1 Amostra
3.1.1 Grupo de estudo:
Foi realizado um levantamento no Setor de Nosologia do Hospital de Clnicas de
Uberlndia (HCU) referente aos pacientes com diagnstico de IC atendidos no ambulatrio,
com idade entre 40 e 75 anos, no perodo de junho de 2006 a junho de 2007. Constatou-se que
155 indivduos foram atendidos nessas condies.
Foram os seguintes os critrios de incluso e excluso do estudo:
Critrios de incluso Critrios de excluso
Idade de 40 a 75 anos; Apresentar quaisquer outras doenas
crnicas associadas;
Diagnstico de IC em qualquer classe
funcional da NYHA;
Apresentar dificuldades em responder os
questionrios devidos a problemas
cognitivos;
Frao de ejeo 40%, verificado por
ecocardiograma empregando-se o
mtodo de Simpson;
Pacientes que faziam uso de
medicamentos para tratamento de
transtornos psiquitricos;
Diagnstico de IC de qualquer etiologia. Pacientes que se recusassem a participar
da pesquisa.
Quadro 7. Critrios de incluso e excluso do grupo de estudo.
3.1.2 Grupo Controle:
Os participantes do grupo controle composto por 50 voluntrios foram selecionados ao
acaso entre pacientes atendidos no Ambulatrio de Oftalmologia e de Dermatologia no HCU.
-
MMAATTEERRIIAALL EE MMTTOODDOOSS 33 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Critrios de incluso Critrios de excluso
Idade de 40 a 75 anos; os mesmos do grupo de estudo.
No apresentar IC.
Quadro 8. Critrios de incluso e excluso do grupo controle.
3.2 Mtodos
3.2.1 Aspectos ticos
O projeto foi aprovado pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP) da Universidade Federal
de Uberlndia (UFU) n28/2008/CEP (anexo F). Todos os participantes tiveram conhecimento
prvio do estudo e assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido (anexo D).
Quando havia necessidade de continuidade de acompanhamento mdico de qualquer
paciente includo no estudo, este era encaminhado ao ambulatrio didtico de IC existente no
prprio hospital. Quando se comprovava a necessidade de atendimento psicolgico, o
paciente recebia um encaminhamento ao servio mais prximo de seu domiclio uma vez que
o HCU no oferece este tipo de servio.
3.2.2 Avaliao dos pacientes
Os pacientes do grupo de estudo compareciam consulta previamente agendada por
telefone e eram submetidos a uma avaliao clnica feita por uma profissional mdica da
cardiologia no ambulatrio do HCU. A avaliao tinha o objetivo de registrar as condies
clnicas do paciente e estabelecer a etiologia e a classe funcional de IC. Aps essa avaliao, o
paciente era convidado a acompanhar a pesquisadora responsvel a uma sala reservada, para
responder aos instrumentos BDI, BAI, HAD e ao questionrio sociodemogrfico (anexo E).
Esse questionrio tinha como objetivo identificar os seguintes dados, em relao aos
pacientes; ocupao, trabalho, distrao, gnero, data de nascimento, filhos, situao conjugal,
suporte social e escolaridade.
-
MMAATTEERRIIAALL EE MMTTOODDOOSS 34 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Os instrumentos eram lidos pela pesquisadora, embora ambos sejam auto-aplicveis, em
voz alta, tanto para o grupo de estudo, quanto para o grupo controle, uma vez que foi
considerada a possibilidade de alguns pacientes apresentarem problemas de leitura, acuidade
visual baixa ou dificuldade de entendimento.
Quanto ao grupo controle, a pesquisadora responsvel entrava em contato com os
pacientes no ambulatrio, esclarecia quanto aos pontos principais da pesquisa e, caso o
paciente concordasse em participar, ela o conduzia a uma sala para leitura e assinatura do
Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e dos demais instrumentos de avaliao (BDI,
BAI, HAD, questionrio sociodemogrfico). Em outro momento, a pesquisadora realizava a
anlise do pronturio do paciente para confirmar as informaes dadas por ele quanto ao fato
de ser ou no o mesmo portador de doenas que se enquadrassem nos critrios de excluso.
3.2.3 Anlise estatstica
Para as anlises dos inventrios BDI e BAI, os pontos de corte utilizados foram os
estabelecidos por Cunha (2001) na validao brasileira dos instrumentos. Sendo assim, o
escore 20, em ambas as escalas, foram indicativos da presena de sintomas depressivos ou
ansiosos.
J a escala HAD, tanto para a subescala de ansiedade ou depresso, valores de escore 8,
conforme recomenda Botega (1998), foram considerados como indicativos de presena de
sintomas clinicamente significativos de depresso ou ansiedade.
A estatstica descritiva foi utilizada para a caracterizao demogrfica e clnica dos
participantes. Empregou-se o teste do Qui-quadrado para se verificar diferenas estatsticas
entre o grupo de pacientes e o grupo controle em relao s variveis sociodemogrficas. Fez-
se teste U de Mann-Whitney investigar a existncia de diferenas estatsticas significantes
relativas aos resultados dos instrumentos psicolgicos (BDI, BAI e HAD) nos dois grupos.
Para se detectar a existncia ou no de correlaes estatisticamente significantes entre a
classe funcional de IC dos pacientes do grupo de estudo e os valores relativos depresso e
ansiedade medidos pela HAD, pelo BDI e pelo BAI, foi aplicado o Coeficiente de Correlao
por Postos de Spearman.
O mesmo teste foi utilizado para verificao da presena de correlaes entre os dados
sociodemogrficos (idade, ocupao, lazer, gnero, situao conjugal, escolaridade e apoio
-
MMAATTEERRIIAALL EE MMTTOODDOOSS 35 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
social) e os valores relativos depresso e ansiedade medidos pela HAD, pelo BDI e pelo
BAI.
Para todas as anlises foi considerada diferena estatstica significante quando p < 0,05.
-
44 RReessuullttaaddooss
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 37 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
4.1 Seleo dos participantes do grupo de estudo
Na constituio do grupo de estudo, os 155 pronturios dos pacientes selecionados
foram analisados de acordo com os critrios de incluso e excluso. Desses, 30 foram
excludos por apresentarem outras doenas associadas e 14 que haviam evoludo para o bito.
Com os demais pacientes os 111 - restantes buscou-se contato, por ligao telefnica, para
prestar esclarecimento sobre a pesquisa e fazer o convite para eles participarem,
voluntariamente, do estudo. Desse total, 41 no foram encontrados nos telefones registrados
nos pronturios e 20 se recusaram a participar do estudo. A amostragem acabou sendo
composta por 50 pacientes.
Fluxograma 1. Nmero de sujeitos selecionados e excludos no grupo de estudo
4.2 Dados sociodemogrficos
Os dados sociodemogrficos dos participantes esto descritos na Tabela 1.
155
pacientes
Selecionados Excludos
41 no
encontrados
e 20 se
recusaram
50
pacientes
30
doenas
14
bito
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 38 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Tabela 1. Dados sociodemogrficos do grupo de estudo e do grupo controle.
Dados sociodemogrficos Grupo de estudo Grupo controle P
N % N %
Gnero
Masculino 24 48 15 30 0,065
Feminino 26 52 35 70
Filhos
No 3 6 1 2 0,307
Sim 47 94 49 98
Estado Civil
Casado 28 56 27 54
...
Vivos 14 28 8 16
Divorciados 5 10 8 16
Solteiros 3 6 5 10
Unio estvel 0 0 2 4
Escolaridade
No estudou 6 12 0 0
0,001*
1 grau incompleto 24 48 21 42
1 grau completo 13 26 8 16
2 grau incompleto 1 2 2 4
2 grau completo 6 12 7 14
Ensino superior incompleto 0 0 3 6
Ensino superior completo 0 0 9 18
Ocupao
Sim 39 78 42 84 0,727
No 11 22 8 12
Opes de lazer (percebido)
Sim 19 38 37 74
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 39 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Como pode ser observado na tabela 1, os grupos foram semelhantes em relao s
variveis ocupao, gnero e filhos. No que se refere idade, escolaridade e ao lazer, os
grupos foram estatisticamente diferentes, com o grupo de estudo apresentando idade mais
avanada, referindo menos oportunidades de lazer e menor escolaridade.
4.3 Resultados dos instrumentos psicolgicos
4.3.1 Inventrio de Depresso de Beck
O escore total mdio no BDI verificado para os pacientes foi de 18,50 e para o grupo
controle de 10,28, sendo a diferena estatisticamente significativa (p
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 40 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Tabela 3. Dados relativos ao BDI do grupo de estudo e do grupo controle.
Categorias do
BDI
Grupo de estudo Grupo controle
n % n %
Leve 16 32 12 24
Mnimo 14 28 31 62
Moderado 15 30 6 12
Grave 5 10 1 2
4.3.2 Inventrio de Ansiedade de Beck
O escore mdio do grupo de estudo foi 20,46 e do grupo controle de 8,26, com
diferena estatisticamente significante entre os grupos (p
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 41 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Tabela 5. Dados relativos ao BAI do grupo de estudo e do grupo controle.
Categorias do
BAI
Grupo de estudo Grupo controle
n % n %
Leve 8 16 7 14
Mnimo 16 32 37 74
Moderado 17 34 6 12
Grave 9 18 - -
4.3.3 Escala Hospitalar de Ansiedade e Depresso
Em relao ansiedade, os pacientes apresentaram, de acordo com a Tabela 6, escore
mdio de 8,51. J os controles mostraram escore mdio de 6,28. Quanto depresso, os
escores mdios foram 7,87 e 5,36, para pacientes e controles, respectivamente. Sendo a
diferena entre os grupos estatisticamente significantes.
Tabela 6. Escore mdio, desvio padro e probabilidades encontradas, quando da aplicao do teste de
Mann-Whitney aos valores obtidos pelo grupo de estudo e pelo grupo controle aos dados relativos
depresso e ansiedade, medidos pelo HAD.
Variveis Analisadas G. de estudo G. controle P
Escore mdio desvio padro
HAD D 7,87 4,34 5,36 3,70 0,001*
HAD - A 8,51 4,60 6,28 4,05 0,007*
(*) Significativo para p
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 42 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Tabela 7. Dados relativos HAD do grupo de estudo e do grupo controle.
Sub-escalas
(escore8)
Grupo de estudo Grupo controle
n % n %
Ansiedade 28 56 14 28
Depresso 28 56 12 24
Dessa forma, foram encontradas diferenas, estatisticamente significantes, entre os
valores das variveis depresso e ansiedade medidos pelo HAD, BDI e BAI, sendo que os
valores obtidos pelos pacientes foram mais elevados do que os obtidos pelo grupo controle,
em todos os casos.
4.4 Etiologia da Insuficincia Cardaca
Em relao ao grupo de pacientes estudados, a etiologia identificada foi: chagsica
(44%), hipertenso arterial (22%), isqumica (16%), hipertenso arterial e isqumica (8%),
chagsica e isqumica (6%) e cardiomiopatia (4%) (Grfico 1).
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 43 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Grfico 1. Distribuio percentual da etiologia das cardiopatias na IC.
4. 5 Classe Funcional
A maioria relativa dos pacientes do grupo de estudo (24) estava na classe funcional II
da NYHA (48%), seguidos por 16 (32%) na classe I, 9 (18%) na III e 1(2%) na II (Grfico 2).
44%
22%
16%
8%6%
4%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
30%
35%
40%
45%
50%
Etiologia da IC
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 44 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Grfico 2. Distribuio percentual da classe funcional dos pacientes do grupo de estudo com IC
(NYHA).
Foi realizada a anlise estatstica por meio de aplicao do Coeficiente de Correlao
por Postos de Spearman aos valores relativos classe funcional dos pacientes e aos valores
relativos depresso e ansiedade medidos pelo HAD, BDI e BAI. Encontraram-se
correlaes estatisticamente significantes entre as classes funcionais e os escores relativos
depresso e ansiedade (tabela 8).
32%
48%
18%
2%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
I II III IV
Classe funcional
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 45 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Tabela 8. Correlaes de Postos de Spearman entre os instrumentos psicolgicos e a classe funcional
de IC.
Instrumentos psicolgicos
HAD-D r 0,40
p 0,01*
HAD-A r 0.56
p 0.0001*
BDI r 0.52
p 0.0005*
BAI r 0.50
p 0.0013*
(*) Significativo para p
-
RREESSUULLTTAADDOOSS 46 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Tabela 9. Correlaes entre dados sociodemogrficos e clnicos do grupo de estudo e do grupo
controle e os escores medidos pelos instrumentos psicolgicos (BDI, BAI, HAD)
Grupo de estudo Grupo controle
G SC E AS I O L G SC E AS I O L
HAD-D r -0,09 0,22 -0,25 -0,10 -0,04 0,09 -0,36* -0,26 -0,26 0,05 -0,13 0,06 -0,01 -0,52*
p 0,54 0,12 0,08 0,51 0,80 0,53 0,01* 0,07 0,07 0,73 0,35 0,66 0,94 0,00*
HAD-A r -0,24 0,06 -0,02 -0,05 -0,11 0,07 -0,26 -0,18 -0,02 0,03 -0,14 -0,08 0,12 -0,37*
p 0,09 0,66 0,88 0,75 0,46 0,62 0,07 0,22 0,88 0,83 0,33 0,57 0,42 0,01*
BDI r -0,11 0,10 -0,30* -0,04 -0,02 -0,06 -0,27 -0,17 -0,27 0,03 -0,32* 0,13 -0,06 -0,38*
p 0,44 0,48 0,04* 0,76 0,88 0,70 0,06 0,24 0,06 0,82 0,02* 0,36 0,66 0,01*
BAI r -0,31 0,12 -0,13 -0,06 -0,06 -0,13 -0,30* -0,21 -0,19 0,03 -0,02 0,09 0,00 -0,34*
p 0,06 0,40 0,37 0,70 0,68 0,36 0,04* 0,14 0,19 0,85 0,89 0,51 0,98 0,02*
G gnero; SC situao conjugal; E escolaridade; AS apoio social; I idade; O ocupao; L
lazer
(*) Significativo para p
-
55 DDiissccuussssoo
-
DDIISSCCUUSSSSOO 48 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
5.1 Dados sociodemogrficos
Os pacientes do presente estudo mostram dados sociodemogrficos relativos a sexo,
idade e estado civil, semelhantes aos registrados por outros estudos realizados com pacientes
com IC (REDEKER, 2006; MULLER-TASCH et al, 2007; SCHERER et al, 2007). A mdia
de idade dos pacientes do grupo de estudo, 64,18 8,28, foi compatvel com a literatura que
confirma que a IC atinge principalmente os idosos (CARDOSO et al 2008).
Quanto diferena de idade do grupo de estudo e de controle, nota-se que foi pequena;
tambm no se encontrou correlao da idade com os escores de depresso e ansiedade,
embora existam estudos demonstrando essa correlao (REDEKER, 2006).
Os pacientes com IC desse estudo tm um nvel de escolarizao menor do que os do
grupo controle. A maioria dos pacientes com IC do presente estudo tem como etiologia a
cardiopatia chagsica, e devido origem rural, provavelmente tiveram menor acesso escola.
Outro estudo encontrado (GOTTLIEB et al 2004) avaliou o grau de escolaridade desse tipo de
pacientes e detectou-se que a maioria possua o 2 grau completo. Porm, preciso ressaltar
que esse estudo foi realizado nos Estados Unidos, com uma populao com caractersticas
sociais bastante diferentes do Brasil.
A maioria dos pacientes com IC afirma no desfrutar de nenhum tipo de lazer,
enquanto, no grupo controle, a grande maioria tem na sua rotina alguma forma de lazer. Esse
dado pode estar vinculado prpria limitao fsica e social imposta pela IC e ao tratamento e
tambm ao quadro depressivo, sendo que um dos seus aspectos o desinteresse do paciente
por atividades antes geradoras de prazer com consequente isolamento social.
A varivel lazer tambm mostrou correlao significante negativa com ansiedade e
depresso na maioria dos instrumentos psicolgicos (BDI, BAI, HAD) em ambos os grupos.
Isto quer dizer que quanto maiores so as possibilidades de lazer, menos sintomas de
ansiedade e depresso os pacientes apresentam. Algumas atividades de lazer podem ter um
potencial de reduo do estresse psicossocial possibilitando uma melhoria do humor positivo
e a reduo do humor negativo (IWASAKI Y; MANNELL, 2000). Alguns estudos tambm
mostram que o lazer tem um efeito positivo na sade fsica e na mental, o que, por sua vez,
reflete-se nos nveis de depresso e ansiedade (SANTOS; RIBEIRO; GUIMARES, 2003).
-
DDIISSCCUUSSSSOO 49 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
5.2 Ansiedade e depresso
Apesar do avano no tratamento da IC, a mortalidade dos pacientes em fase avanada
da doena a mesma de muitos cnceres agressivos, em torno de 40% em um ano
(MACMAHON; LIP, 2002). Os fatores psicolgicos implicam a precipitao das
hospitalizaes de muitos pacientes com IC, sendo que conflitos emocionais ou perdas de
entes queridos precedem admisso em 49% dos pacientes. A participao desses fatores em
pacientes admitidos em hospitais com outras doenas de 24% (PERLMAN et al, 1971).
Apesar dessas constataes, s recentemente tem sido feitos esforos no sentido de se estudar
e entender melhor a influncia dos fatores psicolgicos na evoluo da IC.
Em virtude da escassez de estudos nessa rea, os resultados encontrados no presente
estudo no podem ser facilmente comparados a outros dados. Ao se delimitar a anlise da
literatura s publicaes nacionais, percebe-se a inexistncia de estudos realizados no Brasil
com o objetivo de avaliar os nveis de ansiedade e depresso em pacientes com IC. Nos
estudos internacionais, diversos instrumentos so utilizados para medir os transtornos
psquicos. Quando utilizado o BDI e o BAI, vrios pontos de corte so adotados, o que
impossibilita, em alguns casos, a comparao dos resultados. Por fim, em muitos estudos
somente so avaliados pacientes internados, o que pode representar um vis na seleo dos
pacientes, uma vez que a literatura aponta a hospitalizao como fator causador da
instabilidade emocional.
Os pacientes do estudo apresentaram mdia dos escores na BDI e BAI, de 18,50 e
20,46, respectivamente, mais elevados que na amostra de pacientes cardiopatas e com outras
doenas relatados nas pesquisas realizadas por Cunha (2001) para validao das escalas na
verso brasileira utilizando, para isso, uma amostra mdico-clnica. A mdia dos escores dos
sujeitos no BDI foi, segundo Cunha (2001): cardiopatas (11), dor crnica (15), HIV+ (21),
disfuno ertil (17), obesidade (9), diabetes mellitus (16) e doena pulmonar obstrutiva
crnica (16). Pode-se perceber que somente os pacientes portadores de HIV+ possuem um
escore mais elevado que os pacientes com IC. Na BAI, a mdia dos escores dos pacientes com
IC apresentou-se sempre maior que todas as amostras mdico-clnicas avaliadas na validao
no Brasil: cardiopata (11,77), disfuno ertil (13), obesidade (6,87) e doena pulmonar
obstrutiva crnica (16).
-
DDIISSCCUUSSSSOO 50 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
Em relao s amostras dos grupos psiquitricos, os pacientes com IC do presente
estudo tiveram mdia de escores mais elevados na BDI do que pacientes dependentes de
lcool (16,54) e semelhantes a sujeitos com transtorno de agorafobia (19,37) e dependncia de
outras substncias (19,95). Quanto BAI, a mdia dos escores dos pacientes com IC foi
superior aos enfermos dependentes de lcool (12,94) e os de outras substncias (15,68). Esses
dados mostram que pacientes com IC possuem nveis de ansiedade e depresso semelhantes
ou piores quando comparados a pacientes com outras patologias graves e/ou crnicas.
Os resultados desse e de outros revelam que a depresso comum em pacientes com
IC. Gottlieb e colaboradores (2004) verificaram que 48% dos pacientes com IC avaliados pela
BDI apresentavam depresso. Westlake e colaboradores (2005), tambm utilizando a BDI,
encontraram prevalncia de depresso de 48,5% em pacientes com IC. Contudo, estes autores
utilizaram um ponto de corte > 10. Utilizando a BDI no presente estudo e estabelecendo um
ponto de corte > 20, 40% dos pacientes apresentaram um escore sugestivo de depresso.
Haworth e colaboradores (2005) encontraram a prevalncia de 18,4% e 28,6% de ansiedade e
depresso, respectivamente, em pacientes avaliados pela Structured Clinical Interview (SCID-
I).
Algumas hipteses explicativas so apontadas para justificar essa relao da depresso
a IC. Cardoso e colaboradores (2008) relacionam as seguintes:
- o fato de a IC ser uma doena crnica, incapacitante e de prognstico no favorvel;
- insnia, fadiga ou pesadelos so reportados por alguns pacientes que tomam
betabloqueadores;
- vida sexual perturbada pela doena e tambm pela disfuno ertil ligada aos
diurticos e aos bloqueadores adrenrgicos;
- a utilizao de amiodarona, que pode provocar disfuno tireoidiana, pode contribuir
para a instalao de um quadro depressivo secundrio.
- no adeso ao tratamento, pelos efeitos colaterais e custo financeiro;
- mecanismos fisiopatolgicos: ativao neurohumoral, alteraes do ritmo cardaco,
inflamao e hipercoagulabiliadade.
Quanto mdia dos escores da HAD, os pacientes do grupo de estudo obtiveram 8,51
de ansiedade e 7,87 de depresso, sendo que, tanto os pacientes ansiosos quanto os
deprimidos, representaram 56% da amostra. Esse resultado significativo, principalmente
quando comparado ao estudo de Junger e colaboradores (2005), que avaliou pacientes com IC
utilizando a HAD. Aps 24 meses da aplicao da escala, verificou-se o nmero de pacientes
-
DDIISSCCUUSSSSOO 51 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
sobreviventes e no-sobreviventes. Aqueles que no sobreviveram tiveram escore mdio de
ansiedade de 7,83,6 e de depresso 6,14,3.
A ansiedade uma condio geralmente presente em comorbidade com a depresso.
Porm, nos estudos encontrados, h escassez de trabalhos que avaliem ansiedade nos
pacientes com IC.
O presente estudo demonstrou nvel de ansiedade com relevncia clnica nas duas
escalas avaliadas: 56% na HAD e 52% na BAI e ambas apresentando diferena
estatisticamente significante dos resultados obtidos no grupo controle. Majani, Pierobon e
Giardini (1999), no encontraram diferena, em relao ansiedade, entre pacientes com IC e
aqueles internados com outras doenas avaliados com a escala Cognitive Behavioral
Assessment 2.0 Depression Scale. Porm, o estudo apresentou algumas limitaes e dentre
elas a de avaliar somente sujeitos do sexo masculino. Em outro estudo, Friedman (2006)
encontrou alta prevalncia de ansiedade e depresso em pacientes com IC, 45% (BDI -
escore>13) e 36% (State Trait Anxiety Inventory - escore >40) respectivamente, sendo
verificado por este autor que depresso, mas no ansiedade pode predizer a mortalidade
independentemente de outros dados demogrficos.
Konstam, Moser e Jong (2005) consideram que a ansiedade uma reao normal e
com funo de adaptao ao diagnstico de uma doena crnica e que ela somente torna-se
nociva se for persistente ou extrema.
Apesar dessas suposies, os transtornos de ansiedade deveriam despertar a ateno
dos pesquisadores, uma vez que a literatura cientfica demonstra, em estudos com populaes
portadoras de doenas cardacas, o efeito negativo da ansiedade na fisiologia do corao.
Quando se correlacionaram os escores de ansiedade e depresso dos pacientes do
grupo de estudo e do grupo controle aos dados sociodemogrficos, no foi encontrada
correlao em relao s variveis: gnero, idade, ocupao e situao conjugal. Rohyans
(2009) tambm no encontrou correlao entre as variveis depresso, sexo e estado civil,
numa pesquisa envolvendo 150 pacientes com IC. No mesmo estudo houve, entretanto,
correlao negativa entre a idade e sintomas depressivos. Outro estudo analisado (FRASURE-
SMITH et al, 2009) encontrou um risco maior de depresso para pacientes com IC no
casados.
Uma possvel explicao para a ausncia de correlao entre essas variveis
sociodemogrficos e a ansiedade e depresso no presente estudo o fato de que os pacientes
parecem atribuir suas dificuldades aos aspectos internos ao invs dos externos. A doena
-
DDIISSCCUUSSSSOO 52 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
provoca uma regresso psicolgica que leva o sujeito a retirar o investimento emocional dos
objetos externos (pessoas e coisas) para investir no prprio ego, consistindo em uma tentativa
de reconstituio do seu prprio eu (SIMONETTI, 2004).
Um aspecto importante a ser mencionado a ausncia de correlao encontrada no
presente estudo entre a existncia de algum tipo de suporte social e sintomas de ansiedade e
depresso. Houve correlao significante negativa somente no grupo controle e os escores da
BDI. Algumas pesquisas tm afirmado que o suporte social poderia ter um efeito amortecedor
nos eventos estressantes da vida (ZIGMOND; SNAITH, 1983; ROHYANS, 2009). Em
pacientes com IC sintomtica, verificou-se que o isolamento social constitui-se em preditor
significativo da mortalidade (MURBERG, 2004).
Desse modo, apesar de no ter havido correlao entre essas variveis no grupo de
estudo, existem algumas evidncias de que a ausncia de suporte social possa contribuir para
uma evoluo desfavorvel da IC.
5.3 Instrumentos psicolgicos: BDI, BAI E HAD.
Analisando-se os diversos instrumentos existentes e validados em nosso meio para
avaliar a depresso e ansiedade, verifica-se que no existe consenso entre os pesquisadores a
respeito de um ponto de corte que seja aplicvel para as diversas populaes mdico -
clinicas. Percebe-se, porm, a partir dos resultados do presente estudo, que a amostra de
pacientes com IC apresenta escores elevados que sugerem relevncia clnica da depresso e
ansiedade.
A avaliao de sintomas de ansiedade e de depresso apresenta dificuldades
principalmente no que diz respeito escolha dos instrumentos de avaliao. Muitos deles
avaliam os sintomas somticos e afetivos dos transtornos, o que pode causar confuso na
anlise de populaes mdico-clnicas, pois doenas fsicas como a IC, por exemplo,
compartilham sintomas somticos com os transtornos mentais. Apesar da dificuldade
existente, importante discernir se o paciente apresenta ansiedade ou depresso para que se
possa intervir de forma correta, visto que pacientes com sintomas psicolgicos no
-
DDIISSCCUUSSSSOO 53 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
observados tendem a no aderir aos tratamentos e a tornar crnicos seus sofrimentos
emocionais.
Botega e colaboradores (1998) verificaram a validade da HAD em indivduos
epilpticos tratados em ambulatrio e a escala revelou-se potencialmente til como
instrumento de rastreamento (screening) de pacientes. Os autores dizem ainda que o efeito
linear mostrou-se significante nas duas subescalas da HAD, de ansiedade e depresso, ou seja,
medida que a pontuao nas subescalas aumenta, cresce o nmero de diagnsticos de
ansiedade e depresso feitos pelo DSM-III.
Bjelland e colaboradores (2002) concluram, numa reviso de literatura acerca da
validade da HAD, que o instrumento adequado para triagem de casos de transtornos de
ansiedade e depresso e ainda consideram que ela tem as mesmas propriedades quando
aplicada em amostras da populao em geral, da clnica mdica e da psiquiatria.
Os instrumentos psicolgicos de Beck possuem o conveniente de serem largamente
utilizados em pesquisas no Brasil e no mundo, porm so padronizados visando a utilizao
restrita a profissionais da rea de sade mental (psiclogos). A HAD uma escala simples e
curta; avalia somente os sintomas psicolgicos dos transtornos e pode ser utilizada por outros
profissionais da sade, inclusive o cardiologista, facilitando o trabalho de identificao dos
sintomas depressivos e ansiosos e o encaminhamento do paciente ao profissional da sade
mental. A HAD tambm pode ser utilizada sem maiores dificuldades em indivduos com
baixa escolaridade os quais constituem a maioria dos usurios da sade pblica no contexto
nacional (DELFINI et al, 2009). No entanto, as pesquisas com a utilizao desse instrumento
no Brasil encontram-se apenas no incio.
5.4 Efeitos das classes funcionais
No presente estudo, ocorreu predomnio de pacientes na classe II de IC, o que se
mostra compatvel com o encontrado em outros estudos (JUNGER et al, 2005; HAWORTH et
al, 2005; REDEKER, 2006). Uma vez que os pacientes foram convidados a participar da
pesquisa, sups-se que aqueles que se sentiam melhor fisicamente aceitaram se deslocar de
-
DDIISSCCUUSSSSOO 54 __________________________________________________________________________
Juliana de Souza Andro
suas casas tanto para irem ao hospital como para participarem do estudo. Os pacientes nas
classes III e IV muitas vezes esto muito debilitados e indispostos.
medida que a classe funcional de IC avana, o paciente tambm se mostra mais
deprimido e ansioso. Esses achados so compatveis a outros estudos como o de Haworth e
colaboradores (2005), que consideram a classe funcional como um preditor de ansiedade e
depresso. A diminuio da capacidade funcional do paciente resulta numa diminuio dos
contatos sociais, aumento das limitaes de atividades, e aumento do sentimento de
desamparo e solido.
Jnger e colaboradores (2005) realizaram um estudo prospectivo com o objetivo de
investigar a influncia da depresso na mortalidade de pacientes com IC utilizando a HAD.
Eles descobriram que os pacientes que no sobreviveram estavam em classes funcionais mais
avanadas e apresentavam maiores ndices de depresso e ansiedade. Em uma observao
interessante, verificaram ainda, numa anlise multivariada, que a depresso pode predizer a
mortalidade independentemente da classe funcional. Os autores relacionam alguns fatores
para justificar essa descoberta, entre eles, a pouca aderncia ao tratamento por parte dos
pacientes deprimidos. Se esse fato for real, pode impactar resultados a mdio e longo prazo,
pois j sabemos que a adeso ao tratamento influencia diretamente na morbidade e
mortalidade na IC.
Na classe funcional I, o paciente no apresenta sintomas e limitaes nas suas
atividades rotineiras. Os sintomas fsicos mais intensos repercutem em classes mais avanadas
de maneira que, na classe IV, o paciente apresenta grandes limitaes fsicas, com sintomas
presentes mesmo quando est em repouso. Contrariamente, na classe I, o paciente tem o
conhecimento do diagnstico, tanto da doena de base que provocou a IC, como da prpria
IC, porm no apresenta limitaes fsicas relacionadas doena.
No presente estudo, foi verificado que o sofrimento emocional aumenta conforme
ocorre a progresso da classe funcional, o que nos faz supor que essa condio est associada
s limitaes fsicas que a IC impe ao paciente, uma vez que elas aproximam o doente da
morte fazendo-o sentir-se ameaado em sua integridade fsica e psquica. Porm, uma vez que
a BDI e a BAI avaliam os sintomas somticos e psquicos dos transtornos e a HAD somente
os sintomas psquicos, e os pacientes apresentaram altos ndices de ansiedade e depresso nos
trs instrumentos psicolgicos, pode-se perceber que os sintomas fsicos no so
determinantes, isoladamente, para a composio dos quadros clnicos de ansiedade e
depresso.
-
DDIISSCCUUSSSSOO 55 ___