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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU CENTRO DE ENSINO, PESQUISA, EXTENSÃO E ATENDIMENTO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL – CEPAE I CONGRESSO NACIONAL DE LIBRAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA I CONALIBRAS-UFU
ISSN 2447-4959
Realização:
SINAL-TERMO, LÍNGUA DE SINAIS E GLOSSÁRIO BILÍNGUE: ATUAÇÃO DA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NAS PESQUISAS TERMINOLOGICAS
EIXO: Libras: Linguística, Ensino e Aquisição
Daniela PROMETI, UnB1 Messias Ramos COSTA, UnB2
Patrícia TUXI, UnB3
Resumo: O presente trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de elaboração de glossários bilíngues para as línguas de sinais. O objeto de estudo é os sinais-termos para a compreensão do processo de criação de conceitos e de significados, o termo sinal-termo é para designar um sinal que compõe um termo específico da LSB, sob a fundamentação teórica da Lexicologia e da Terminologia. Esse conceito determina que as técnicas para a elaboração de repertórios lexicográficos têm de seguir mecanismos de registro da ficha terminológica, que é o banco de dados para registrar as informações em vários contextos de uso. A importância desse registro nas fichas terminológicas é apontada por Faulstich (1995) que compara a ficha terminológica a uma “certidão de nascimento de um termo”. Esse estudo surgiu a partir da necessidade de se estabelecer os elementos necessários e básicos que um glossário bilíngue da língua de sinais deve apresentar. Os procedimentos metodológicos adotados são: i) Reconhecimento e identificação do Público-alvo; ii) Delimitação das áreas pesquisadas iii) Coleta e organização dos dados iv) Organização do glossário e teste de validade com os pesquisadores Surdos no Laboratório de Linguística de Língua de Sinais Brasileira – LabLibras, da Universidade de Brasília – UnB. Palavras-chave: Sinal-termo. Glossário bilíngue. Terminologia. Introdução O presente estudo objetiva mostrar o que é sinal-termo na Língua de Sinais Brasileira
(LSB) criada por Faulstich (2014) e esse termo aparece pela primeira vez na dissertação de
1 Professora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) na Universidade de Brasília - UnB. Mestre e doutoranda em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). É membro pesquisadora do Laboratório de Linguística de Língua de Sinais (LabLibras), atuando na linha de pesquisa: Terminologia e Língua de Sinais Brasileira. E-mail: [email protected] 2 Professor do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) na Universidade de Brasília - UnB. Mestre e doutorando em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). É membro pesquisador do Laboratório de Linguística de Língua de Sinais (LabLibras), atuando na linha de pesquisa: Terminologia e Língua de Sinais Brasileira. E-mail: [email protected] 3 Professora do Departamento de Linguística, Português e Línguas Clássicas (LIP) na Universidade de Brasília - UnB. Mestre e doutoranda em Linguística pela Universidade de Brasília (UnB). É membro pesquisadora do Laboratório de Linguística de Língua de Sinais (LabLibras), atuando na linha de pesquisa: Terminologia e Língua de Sinais Brasileira. E-mail: [email protected]
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mestrado de Costa (2012), mas o objetivo central desta pesquisa é apresentar uma proposta de
elaboração de glossários bilíngues para as línguas de sinais.
Faulstich (2014) explica que a expressão sinal ou sinais não faz parte dos termos
científicos ou técnicos no significado do contexto das linguagens de especialidade. A
expressão sinal serve para os significados usados no vocabulário comum da Libras. Faulstich
(?) mostra que:
“... a expressão sinal-termo é a que corresponde às necessidades de uso especializado. Para melhor compreender a criação desse termo novo, é preciso ver os significados separadamente, como aparecem no glossário sistêmico de léxico
terminológico, em elaboração, transcrito a seguir: Sinal. 1. Sistema de relações que constitui de modo organizado as línguas de sinais. 2. Propriedades linguísticas das línguas dos surdos. Nota: a forma plural –sinais- é a que aparece na composição língua de sinais. Termo. Palavra simples, palavra composta, símbolo ou fórmula que designam os conceitos de áreas especializadas do conhecimento e do saber. Também chamado unidade terminológica. “
Para saber melhor a expressão sinal-termo, Faulstich (2014) conta o histórico da
composição:
“A palavra sinal é de origem latina signalis e quer dizer ‘que serve de signo, de sinal’. No início tinha valor de adjetivo, mas, posteriormente, passou a substantivo para designar ‘uma unidade de informação’. Por sai vez, a palavra termo, também de origem latina terminus quer dizer ‘limite, fim, extremidade, determinatum’. Convém observar que signo linguístico é unidade linguística constituída pela união de um conceito para chegar ao(s) significado(s). A composição sinal-termo é, portanto, uma nova terminologia que une dois conceitos expressivos, para designar um significado concreto em língua de sinais. ”
Assim podemos entender o que é sinal-termo por Faulstich (2014):
“Sinal-termo. 1. Termo da Língua de Sinais Brasileira que representa conceitos com características de linguagem especializada, próprias de classe de objetos, de relações ou de entidades. 2. Termo criado para, na Língua de Sinais Brasileira, denotar conceitos contidos nas palavras simples, compostas, símbolos ou fórmulas, usados nas áreas especializadas do conhecimento e do saber. 3. Termo adaptado do português para representar conceitos por meio de palavras simples, compostas, símbolos ou fórmulas, usados nas áreas especializadas do conhecimento da Língua de Sinais Brasileira. “
O presente artigo está organizado em quatro seções. Na primeira seção, faremos uma
breve apresentação da importância do vocabulário bilíngue. Em seguida, na segunda seção,
discutimos a regra da formação do sinal-termo. Na terceira seção, mostraremos os
procedimentos para a elaboração de um glossário bilíngue da LSB e, por fim na quarta seção,
algumas considerações finais são apresentadas.
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1- A importância do vocabulário e glossário bilíngue na Língua de Sinais
Vocabulário é o conjunto de vocábulos, empregados em um texto, caracterizadores de
uma atividade, de uma técnica, de uma pessoa, etc. De acordo com a terminologia linguística,
vocabulário é uma lista de ocorrências lexicais que figuram em um corpus. (Faulstich, 2012,
p. 41). O termo vocabulário justifica-se plenamente em estudos sobre corpus especializado:
vocabulário do futebol, vocabulário da economia, vocabulário da pesca. A unidade de
vocabulário é o vocábulo que não deve ser confundido com palavras. (Faulstich, 2012, p. 41).
No livro organizado por Salles, Faulstich, Carvalho e Ramos (2004, p. 94),
encontramos que “ampliar o vocabulário é acrescentar ao vocabulário fundamental unidades
lexicais do vocabulário comum e completá-los com termos de áreas especializadas das
ciências, da tecnologia, das artes e de outros meios sociais.” Faulstich, (2012, p. 41) explica
que:
Vocábulo é a unidade de língua efetivamente empregada em um ato de comunicação; representa uma unidade particular, um significado, usada na linguagem falada ou escrita. Unidade aqui não tem sentindo de um numérico, mas de um semântico: em Setor Habitacional Individual Sul há quatro palavras, mas um vocabulário semanticamente integrado e qualquer comutação alterará seu significado.
Prometi (2013, p. 29) afirma que o vocabulário é um dos principais desafios para os
Surdos em programas de educação bilíngue, na educação dos Surdos. Os Surdos têm que
adquirir um léxico escrito que possa ser efetivamente utilizado na leitura ou na escrita.
De acordo com as autoras Salles, Faulstich, Carvalho e Ramos, (2004, p. 90), “o que
importa são as relações comunicativas que se estabelecem entre usuários, e, nas relações
comunicativas, o léxico tem papel fundamental, porque nele está contido o vocabulário.”
Faulstich (2012, p. 2) destaca que:
Ampliação de vocabulário é um processo lexical em que o falante acrescenta ao seu vocabulário fundamental (vocabulário 1) unidades lexicais do vocabulário comum (vocabulário 2) e os complementa com termos de áreas especializadas das ciências, das técnicas, das artes e de outros meios sociais (vocabulário 3).
Para explicar o que vêm a ser essa questão acima, a autora Prometi (2013, p. 29)
mostra que existem três tipos de vocabulários, o vocabulário 1 que é aquele onde o falante da
língua tem o seu léxico, ou seja o conjunto de palavras que ele conhece na língua, ou seja, o
vocabulário fundamental, o vocabulário 2 que é aquele que é o do dia-a-dia, de interação, de
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uso na mídia, nos meios tecnológicos e outros meios, e este vocabulário é o comum, e o
vocabulário 3 que é aquele mais técnico, que advém de áreas de especialidades, como na
música e em outras áreas que apresentam muitos termos técnicos e que necessitam ser
divulgados e urgentemente compartilhados com todos para que uma efetiva política de língua
seja implementada, assim como complementados através de diferentes processos linguísticos.
Faulstich (2012, p. 2) chama atenção para a importância do uso do dicionário para a
consulta de vocábulos:
O vocabulário é ampliado ou enriquecido à medida que o falante aumenta sua convivência sociocultural, lê obras diversificadas e procura indagar metodicamente o significado de palavras desconhecidas. Nesse caso, o dicionário é um importante documento de consulta, que auxilia o usuário a compreender os significados das palavras e a aprender os significados de outras que não fazem parte de seu vocabulário, para então usá-las com propriedade.
Em uma pesquisa, Andrade e Góes:
Constataram que os surdos têm pouco contato com o material escrito fora da escola e, quanto à leitura, além do pouco contato, preferem ler revistas com fotos, que possibilitam a compreensão, pois uma de suas maiores dificuldades é com o vocabulário. (Andrade e Góes Apud Fernandes, 2008, p. 82).
Prometi (2013, p. 30) demonstra que a falta de vocabulário em Libras dificulta os
Surdos adquirirem conceitos científicos ou técnicos, assim como a compreensão do conteúdo
abordado em sala de aula. O vocabulário é um dos aspectos mais importantes na
aprendizagem de uma língua, tanto na L1 quanto L2.
Para Faulstich (2013, p.3): “glossário é um repertório exaustivo de termos,
normalmente de uma área do conhecimento, apresentado em ordem sistêmica ou em ordem
alfabética, com informação gramatical, definição, registro opcional de contexto de ocorrência
do termo e de remissões. E diz a autora que os glossários apresentam diferentes feições:
a) do ponto de vista da política da língua, faz parte do material didático como
apêndice que aparece nos livros de ensino; é um “elucidador sinonímico” das palavras
“difíceis” que aparecem nos textos. E, nessa percepção, a finalidade dos glossários é justapor
dois discursos – um mais hermético e outro menos hermético, num contínuo de linguagens
que vai da +difícil para a –difícil.
b) do ponto de vista do papel do “reformulador” do texto científico para incluir
“palavras especializadas” num glossário, o que prevalece é a operação linguística de
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paráfrase sinonímica ou textual. Mas, no fundo da cena, resta verificar se a representação
linguística e cultural é bem acionada.
Faulstich (2013, p.5) considera que:
[...] é preciso notar que as linguagens científica e técnica exigem requisitos além da simples interpretação do conteúdo; exigem representação, isto é, um (o elaborador do glossário) precisa posicionar-se como se fosse o outro (o consultor do glossário). Por exemplo, quando elaboramos glossários tendo como língua de partida o português e como língua de chegada a língua de sinais brasileira, é preciso considerar que os sinais seguem parâmetros diferentes das línguas orais.
Um elaborador de glossário ou de dicionário bilíngue português - língua de sinais
brasileira e vice-versa precisa conhecer as duas línguas para, necessariamente, representar os
léxicos de acordo com os conceitos em harmonia. Harmonizar as línguas é combinar seus
sistemas de tal forma que, no léxico, o resultado apareça no bilinguismo explícito em
conformidade conceitual entre os itens lexicais. Nesse caso, não basta traduzir a língua de
sinais para o português ou o português para a língua de sinais porque poderá prevalecer, na
língua de sinais, palavras soletradas manualmente. (FAULSTICH, 2013, p.5).
Castro Júnior (2014, p. 135) mostra que umas das dificuldades da pesquisa dos sinais-
termo em uma perspectiva lexicográfica e terminográfica será pensar em como seria o registro
ideal dos sinais-termo em Libras. Muitas propostas têm sido discutidas e utilizadas, mas será
preciso haver um consenso entre os pesquisadores. Essa dificuldade acontece, porque muitos
dados em Libras advêm de registros coletados em vídeos filmados dos Surdos e ou falantes de
Libras sinalizando. Apesar de ter propostas para a escrita de Libras, nem sempre é
compreendida por todos os falantes, e o registro se dá em LP. Entendemos que pensar em uma
alternativa para o registro em LP é também importante.
2- A formação do sinal-termo na Língua de Sinais Brasileira
A LSB tem as suas estruturas próprias como fonologia, morfologia, sintaxe e léxico
que fazem com que a língua de sinais funcione com autonomia na criação dos sinais-termos.
Os parâmetros da LSB são entidades visuais que formam significados, científicos ou não
científicos.
Podemos dizer que na figura a seguir, aparecem dois sinais do termo CORAÇÃO, um
mostra o sinal para os significados usados no vocabulário comum da Libras que no caso que
indicam de amor, romantismo e já no outro sinal em seguida, é o sinal-termo do termo da
Língua de Sinais Brasileira que representa conceitos com características de linguagem
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especializada, que no caso o sinal-termo CORAÇÃO que é na área de especialidade do corpo
humano.
Figura 1- Diferença entre o sinal comum e o sinal-termo
Fonte: COSTA, M. R. Proposta de modelo de enciclopédia visual bilíngue juvenil: Enciclolibras - o corpo humano, 2012.
A regra para a formação do sinal-termo ocorre em todas as estruturas da língua de
sinais que já estudamos, como podemos ver a seguir:
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Figura 2- Formação do sinal-termo da LSB
Fonte: COSTA, M. R. Proposta de modelo de enciclopédia visual bilíngue juvenil: Enciclolibras - o corpo humano, 2012.
Costa (2012) mostra que essa sinalização de coração é um sinal-termo, um sinal
científico, porque tem o formato do coração, de acordo com a concepção anatômica. O
conceito de coração é visto com clareza como na figura acima porque o sinal descreve o
formato anatômico do coração na área de especialidade.
3- Procedimentos para elaboração dos sinais-termos no glossário bilíngue em Língua
de Sinais Brasileira
O encontro dos pesquisadores de LSB ocorre semanalmente, pelo menos uma vez por
semana no Laboratório de Libras da UnB (LabLibras), durante a nossa pesquisa semanal,
sempre ocorre uma discussão da criação do sinal-termo de cada área de especialidade dos
pesquisadores. Todo o trabalho tem como base a Socioterminologia, tomando como foco
Faulstich (1995). Continuamente são seguidos os passos demonstrados abaixo:
• Reconhecimento e identificação do Público-alvo;
• Delimitação das áreas pesquisadas;
• Coleta e organização dos dados;
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• Organização do glossário;
• Teste de validade.
3.1 - Metodologia para recolha dos dados
A metodologia utiliza uma ordem básica já adotada em grande parte os trabalhos da
Terminografia na área de Língua de Sinais na Universidade de Brasília – UnB. São eles:
Reconhecimento e identificação do Público-alvo; Delimitação das áreas pesquisadas; Coleta e
organização dos dados; Organização do glossário e Teste de validade.
3.1.1 Reconhecimento e identificação do Público-alvo;
Os dados têm o destino inicial de formar glossários bilíngues para o usuário surdo.
Sendo assim foi analisado o perfil do surdo dentro de cada área de atuação. Porém por ser
bilíngue o trabalho tem também as entradas de uso possível dos usuários da Língua
Portuguesa como primeira língua. Como forma de recolher os dados foi feita também parceria
entre outras instituições, como o Instituto Federal de Brasília - IFB que possui professores
surdos pesquisadores e atuantes na área da Lexicologia e Terminologia.
3.1.2 Delimitação das áreas pesquisadas
Outro ponto que merece ser destacado é o entendimento que os profissionais acima
citados têm sobre a importância de delimitar a área pesquisada. Muitas vezes a constituição do
glossário não é feita levando em consideração a necessidade de se seguir uma linha conceitual
sempre com base lexical similar. Os pesquisadores têm como premissa de que para a
elaboração do glossário é levado em conta o uso efetivo dos termos técnicos na linguagem
cotidiana das áreas escolhidas, considerando as variantes tanto no nível linguístico quanto no
nível sócio-profissional.
Este ponto é vital pois no ímpeto de originar um banco de dados de diversas áreas é
preciso que o pesquisador tenha cuidado e delimite a área a ser pesquisada O método de
pesquisa para utilizado na captação dos dados visa identificar e registar os termos mais usados
pelos surdos e também intérpretes das áreas.
3.1.3 Coleta e organização dos dados
Para o alcance desse objetivo utilizamos abordagem qualitativa pois esta abordagem
permite que a coleta de dados ocorra no espaço pesquisando, dando assim ao pesquisador a
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possibilidade de atuar como um instrumento chave que irá descrever e interagir com o foco
principal que são os léxicos em língua de sinais.
Na pesquisa qualitativa o pesquisador procurará presenciar o número de situações em
que se manifesta o fenômeno a ser estudados que exige um contato direto e constante com o
dia-a-dia. (LUDKE É ANDRE 1986, P 11)
Segundo Tuxi (2009) a abordagem qualitativa tem um papel importante na
constituição da pesquisa.
Pela abordagem qualitativa é possível entender os processos e as trocas feitas em um determinado contexto social interativo específico. Ao atuar nos espaços pesquisados é possível entender como o participante atua no processo de constituição do que está sendo investigado, permitindo analisar as influências das relações sociais e das interações que ele estabelece com seus pares. (TUXI, 2009, p.38)
Inicialmente são delimitados os termos. Posteriormente são feitas análises de
dicionários técnicos já existentes, em Língua Portuguesa e textos especializados. O objetivo é
apreender ao máximo os termos mais utilizados. Após a coleta serão feitos os registros dos
termos em fichas terminológicas que levarão a formação dos verbetes. A importância desse
registro nas fichas terminológicas é apontada por Faulstich (1995) que compara a ficha
terminológica a uma “certidão de nascimento de um termo”.
Por esta ficha será possível localizar o contexto do termo e recuperar as informações
de onde ele foi retirado. A ficha apresenta vários campos de informações sendo possível
apresentar seus vários contextos de uso. É necessário destacar a possibilidade disso acarreta a
existência de vários modelos de ficha terminológica, Segundo Martins (2007) aponta que a
ficha terminológica é considerada um dos itens mais importantes do trabalho terminológico
pois esta é indispensável para a geração de glossários ou dicionários por se tratar de um
registro completo e organizado de informações referentes a um termo.
Na pesquisa de mestrado desenvolvida por Prometi (2013), o modelo de ficha
terminológica apresentado foi:
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Figura 3- Modelo da ficha terminológica por Prometi (2013)
Fonte: PROMETI, D. Glossário bilíngue da língua de sinais brasileira: Criação de sinais dos termos da música, 2013.
Mostramos a seguir a ficha terminológica, os dados que compõem da ficha mostrada
anterior:
Figura 4 - Ficha Terminológica PORTUGUÊS/LIBRAS
PORTUGUÊS – LIBRAS
ent. palavra, termo
var. se houver
cat. sempre marcado
gên. sempre marcado
def. em texto português
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Fonte def.
em texto português e abreviado
cont. em texto português
Para Faulstich (2001, p.12), os elementos que compõem um verbete assim se explicam:
entrada [ent.] Unidade linguística que possui o conteúdo semântico da expressão
terminológica na linguagem de especialidade. É o termo propriamente
dito, o termo principal.
categoria gramatical [cat.] Indicativo da categoria, na gramática da língua, a que
pertence o termo ou da estruturação sintático-semântica do termo. Pode
ser s = substantivo; v = verbo; st = sintagma terminológico; utc = unidade
terminológica complexa etc.
gênero [gên.] Indicativo do gênero a que pertence o termo na língua descrita, como m =
masculino; f = feminino.
variante [var.] Formas concorrentes com a entrada. As variantes correspondem a uma
das alternativas de denominação para um mesmo referente. Elas podem
ser variantes terminológicas linguísticas e variantes terminológicas de
registro.
definição [def.] Sistema de distinções recíprocas que servem para descrever conceitos
pertinentes aos termos.
contexto [cont.] Fragmento de texto em que o termo principal aparece registrado,
transcrito com o fim de demonstrar como é usado na linguagem de
especialidade.
Figura 5- Ficha Terminológica LIBRAS/PORTUGUÊS
LIBRAS - PORTUGUÊS
ent. foto
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var. em foto, se tiver
cat. sempre marcado
gên. depende se inanimado não marcará gênero, se for animado haverá marcação de gênero
def. em glosa
cont. em glosa
imagem figura ou desenho
Fonte imagem
fonte onde tirou a figura ou desenho
No campo entrada para a língua de sinais, apresentamos o sinal-termo em foto.
O campo variante, será preenchido caso se tiver outro sinal-termo.
No campo categoria, destinado às informações gramaticais, informaremos a categoria
como é utilizada dentro do contexto. Apesar de todos os itens lexicais pertencerem
inicialmente à categoria dos substantivos, optamos por manter este campo, uma vez que nossa
proposta leva em consideração um glossário completo.
O campo gênero na língua de sinais não é marcado no sexo masculino, quando se
refere a objetos ou coisas inanimadas; a marcação de gênero vai aparecer em casos de citação
a pessoas ou algo animado.
O campo definição e contexto serão preenchidos com a glosa, para registrar em vídeo.
No campo imagem e fonte da imagem, no primeiro caso, teremos uma imagem
propriamente dita e no segundo sua fonte. Todas as imagens foram retiradas de sites da
internet.
3.1.4 - Organização do glossário
Após a coleta dos dados e dos registros das fichas os pesquisadores iniciam o processo
de gravação em língua de sinais.
Para tanto ocorre uma reunião com pesquisadores linguistas surdos no Laboratório de
Linguística de Língua de Sinais Brasileira – LabLibras. Inicialmente o pesquisador que irá
gerar os dados para a sua pesquisa, apresenta um power point com informações visuais acerca
do termo apresentado. Em seguida esse conceito surge na língua portuguesa, caso ainda seja
necessária uma explicação maior do termo que terá o seu sinal criado.
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Com o conceito já bem internalizado por todos, inicia uma discussão acerca do sinal.
Uma análise dos parâmetros é feita para que como foi escrito acima, respeitando a
necessidade de se seguir uma linha conceitual sempre com base lexical similar. Após a
escolha do sinal e aprovação do grupo, é feita uma filmagem em câmera profissional para
posterior armazenamento em um computador.
3.1.5 Teste de validade
Os termos analisados são constantemente validados junto a outros pesquisadores
linguistas surdos no Laboratório de Linguística de Língua de Sinais Brasileira – LabLibras.
Para tanto são também utilizados canais de comunicação sociais interativos utilizados por
diversos surdos e com a finalidade de uma “validação” e criação de sinais.
Atualmente os pesquisadores participam de dois grandes grupos de pesquisa via
programas de whatsapp. O primeiro denominado “Pesquisadores de Libras” e o outro no
programa Telegram – “Lexicologia e Terminologia”. Todos os programas são coordenados
por pesquisadores linguistas surdos com representação acadêmica e trabalhos apresentados.
4. Conclusão
Entendemos que é importante a criação dos sinais-termos na área de especialidade.
Nas aulas de Léxico e Terminologia, tivemos a oportunidade de conhecer a tipologia de
repertórios lexicográficos e terminográficos, entre eles, a representação mental dos conceitos
e significados através da língua de sinais. Daí, passamos a estudar mais profundamente
Lexicologia, Terminologia e Lexicografia da língua de sinais para construir uma proposta de
um modelo de glossário bilíngue, mas os estudos não para, nós pesquisadores da Língua de
Sinais do Laboratório de Linguística de Língua de Sinais Brasileira – LabLibras, da
Universidade de Brasília – UnB continuaremos pesquisando, para que chegamos a uma
conclusão certa, de qual modelo de um glossário bilíngue para que seja usada como primeira
língua dos Surdos; e o português por escrito, como segunda língua.
Referências Bibliográficas:
ANDRADE, Sônia M. A. Rodrigues de; GÓES, Maria Cecília Rafael de. Considerações sobre a reflexividade de alunos surdos frente à linguagem escrita. Revista Brasileira de Educação Especial, Piracicaba, v. 1, n. 2, p. 7 – 16, 2008.
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CASTRO JÚNIOR, Gláucio de. Projeto varlibras. 2014. 259 f., il. Tese (Doutorado em Linguística). Universidade de Brasília, Brasília, 2014. COSTA, M. R. Proposta de modelo de enciclopédia visual bilíngue juvenil: Enciclolibras - o corpo humano. Dissertação de Mestrado, PPGL/UnB, 2012. FAULSTICH, Enilde. A Terminologia entre as políticas de língua e as políticas linguísticas na educação linguística brasileira. 2013. (inédito).
_________________, Enilde. Aspectos de Terminologia Geral e Terminologia Variacionista. TradTerm 7. São Paulo: Humanistas, 2001.
_________________, Enilde. Base metodológica para pesquisa em socioterminologia: termo e variação. Brasília: Centro Lexterm, 1995. 31p.
_________________, Enilde. Glossário sistêmico de Léxico terminológico para pesquisadores surdos. Brasília. Centro Lexterm, 2012. Em elaboração. _________________, Enilde. Sinal-Termo. Nota lexical. Centro Lexterm, 2014. _________________, Enilde. Socioterminologia: mais que um método de pesquisa, uma disciplina. Brasília, v.24, n. 3, p. 281-288, 1995.
MARTINS, Arlon Francisco Carvalho. Terminologia da Indústria do Alumínio. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em Letras, Área de Concentração em Terminologia, Universidade Federal do Pará, 2007
LÜDKE, Menga e ANDRÉ, Marli E. D. A. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.
PROMETI, D. Glossário bilíngue da língua de sinais brasileira: Criação de sinais dos termos da música. Dissertação de Mestrado, PPGL/UnB, 2013. SALLES, Heloísa M. M. L. et al. Ensino de Língua Portuguesa para surdos: caminhos para a prática pedagógica. Vol. 2. Brasília: MEC/SEESP, 2004.
TUXI, Patrícia. A Atuação do Intérprete Educacional no Ensino Fundamental. Brasília: UNB, 2009.83 f. Dissertação (Mestrado em Educação) ‐ Programa de Pós‐Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade de Brasília, 2009.