sinais do ano 15 • edição 148 • r$ 9,90 portugal 4,90...

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A revista evangélica do Brasil ENTREVISTA Ismael Gontijo e seu evangelismo puro e simples: SINAIS DO SINAIS DO APOCALIPSE APOCALIPSE Tsunami no Japão e fanatismo Tsunami no Japão e fanatismo religioso: as profecias estão se religioso: as profecias estão se cumprindo? cumprindo? Massacre no Rio: o Brasil no Massacre no Rio: o Brasil no mapa do extremismo mapa do extremismo OSAMA BIN LADEN Morte do terrorista acirra conflitos ORAÇÃO DO CORPO Missionária se submete a jejum Ano 15 • Edição 148 • R$ 9,90 Portugal 4,90 € Eclesia148_Capa_2_3_4_1.indd 5 7/5/2011, 23:43:52

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A revista evangélica do Brasil

ENTREVISTA Ismael Gontijo e seu evangelismo puro e simples:

SINAIS DOSINAIS DO

APOCALIPSEAPOCALIPSE

•• Tsunami no Japão e fanatismo Tsunami no Japão e fanatismo religioso: as profecias estão se religioso: as profecias estão se cumprindo?cumprindo?

•• Massacre no Rio: o Brasil no Massacre no Rio: o Brasil no mapa do extremismomapa do extremismo

OSAMA BIN LADENMorte do terrorista acirra confl itos

ORAÇÃO DO CORPO Missionária se submete a jejum

Ano 1

5 •

Ediç

ão 1

48 •

R$ 9

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Port

ugal 4

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4

E P Í S T O L A D A R E D A Ç Ã O

Ao fi m da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), duas bombas

atômicas atingiram em cheio as cidades japonesas de Hiroshima e

Nagasaki. Estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham morrido,

sem contar os efeitos que a radiação causou nas gerações posteriores.

Sessenta e seis anos depois, o Japão é vítima de um novo e duríssimo golpe:

com a força equivalente a milhares de bombas atômicas, o terremoto de 9,0

graus só não fez mais vítimas do que as ogivas norte-americanas porque

o epicentro do cismo aconteceu a 32 mil metros de profundidade e a 130

quilômetros do continente. Mesmo assim, as ondas gigantes chegaram

ao litoral com força avassaladora, varrendo cidades inteiras e danifi cando

reatores nucleares. Novamente, então, impassível o mundo se vê ameaçado

pelo risco da contaminação do ar pelos gases radiativos.

Mas o que gira em torno de tragédias dessa magnitude? Enquanto os

céticos tentam entendê-las como fenômenos naturais, muitos evangélicos

– entre os quais se incluem teólogos e escatólogos – encontram explicações

nas Escrituras Sagradas, como em Lc 21.21-22: “Então, os que estiverem na

Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e

os que estiverem nos campos não entrem nela. Porque dias de vingança são

esses, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas”. Diante disso,

uma indagação: até que ponto o terremoto e o tsunami que devastaram o

Japão e levaram o mundo a temer o pior desastre nuclear de todos os tempos

são sinais do Apocalipse? Acompanhe a reportagem O Temor sob o Bramido

do Mar, e tire suas próprias conclusões. E também: a morte de Osama bin

Laden acirra ainda mais os confl itos de ordem religiosa, e ameaças de novos

ataques terroristas deixam o mundo ocidental em estado de alerta máximo.

Tragédia lá, tragédia cá. O Brasil não é chacoalhado por terremotos,

mas acaba de entrar no mapa – ou nas tristes estatísticas – dos crimes

motivados por fanatismo religioso. O massacre de crianças numa escola

da zona oeste do Rio de Janeiro é outro sinal, para os cristãos, de que a

humanidade realmente vive o fi m dos tempos. Ou não?!

Se pudéssemos escolher, nós, jornalistas, optaríamos por divulgar

somente “coisas” boas, positivas, alegres; contudo, o mundo caminha na

contramão de nossas vontades, fazendo-nos navegar por lados opostos,

tortuosos, tristes. Por ética, cumpre-nos informar, machuque ou não.

Prestemos, então, nossa solidariedade aos japoneses e às famílias das

vítimas de Realengo. Permaneçam fi rmes na fé; afi nal “só ele [o Senhor]

cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas” (Sl 147.3).

Edifi quem-se, na leitura!

JD Morbidelli

A REVISTA EVANGÉLICA DO BRASIL Filiada à Associação de Editores Cristãos (Asec)

Ano 15 – Número 148(11) 3346-2000

www.eclesia.com.br

DIREÇÃO

Diretor ExecutivoElias de Carvalho

[email protected]

Conselho Editorial Elias de Carvalho Junior, Maria da Graça Rêgo Barros,

Percival de Souza, Roseli de Carvalho, Samuel Medeiros

Jornalista ResponsávelMarcos Stefano Couto

[email protected]

REDAÇÃO

(11) 3346-2033

Editor José Donizetti Morbidelli

[email protected]

Repórteres Filipe Albuquerque, José Donizetti Morbidelli,

Karen Rodrigues, Marcos Stefano Couto, Rosana Ibanez

Colunistas Bráulia Ribeiro, Carlos Juliano Gonçalves dos Santos, Emerson Menegasse, Lourenço Stelio Rega, Luiz Leite, Maria de Fátima M. de Carvalho, Patrícia Guimarães,

Percival de Souza, Romney Cruz

Apoio Editorial Sandra Frazão

[email protected]

Editor de ArteEmerson de Lima

[email protected]

Assistente de ArteFernando Jorge Baptista

[email protected]

Site Diego Bittencourt

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Paulo Siqueira(11) 3346-2008

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ASSINATURAS

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CORRESPONDÊNCIAS

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DISTRIBUIÇÃO

Distribuidora Nacional de Publicações (DINAP)

ECLÉSIA é uma publicação da Editora Eclésia Ltda

Os artigos assinados, assim como o conteúdo comercial, são de responsabilidade exclusiva de seus autores, e

não representam necessariamente a opinião da revista.É proibida a reprodução total ou parcial de reportagens, entrevistas, artigos, seções, fotos e ilustrações sem a prévia autorização dos titulares de direitos autorais.

XIN

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A-N

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Tsunamis e fanatismo religioso: sinais do Apocalipse?

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18 ENTREVISTAEvangelismo puro e simples: estratégia do pastor Ismael Gontijo, que escreveu 21 livros em tempo recorde e recusa ofertas em cultos e campanhas evangelísticas

32 EVANGELISMO Projeto Tikuna: comunidade indígena amazonense prepara os nativos para pastorarem igrejas nas aldeias

38 INTERNACIONAL Tsunami e desastre nuclear no Japão, massacre de crianças no Rio de Janeiro e ameaças de novos ataques terroristas após a morte de Osama bin Laden: estão se cumprindo as profecias bíblicas?

52 COMPORTAMENTO A “oração do corpo”: missionária da Igreja Batista do Calvário se submete a jejum completo (sem comida e sem bebida) por 40 dias

58 MEMÓRIA Fausto Rocha: o adeus do comunicador e pastor evangélico que dedicou sua vida ao jornalismo e à religião

62 MINISTÉRIO Praticamente no anonimato e sob pressão da atividade dos maridos, muitas mulheres desempenham papel importante como companheiras, auxiliadoras e até mesmo conselheiras dos pastores

66 TELEVISÃO Fé, sem trapalhada: a transformação profissional e espiritual do mais sisudo dos trapalhões

S UMÁR I O

“O Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ver quem passa correndo”

(Habacuque 2.2)

ECLÉSIA • A revista evangélica do Brasil • Ano 15 – Número 148

SEÇÕES

4 Epístola da Redação8 Epístola dos Leitores12 Em Foco80 Agenda

COLUNAS

30 Opinião 34 Discipulado 36 Lugar de Mulher50 Observatório56 Pastoral60 Contexto 70 Missões76 Louvor e Adoração 82 Percival de Souza

MULTIMÍDIA

72 Música78 Literatura

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8

E P Í S T O L A S D O S L E I T O R E S

Por questão de espaço

disponível ou clareza

de texto, ECLÉSIA se

reserva o direito de

publicar os textos das

cartas que seleciona na

íntegra ou resumidos,

eventualmente

editados

CARNAVAL

Eu até concordo que

não devemos misturar

as coisas. Quem quer

evangelizar tem que ir

até as pessoas, mesmo

no carnaval. Contudo,

deem a elas folhetos

sem desculpas para cair

no samba. A respeito da

festa, do ritmo, focado

na matéria Evangelismo

Fulminante [edição

146], eu discordo. Claro que

cada um tem direito de gostar

de seu próprio ritmo, mas aos

cristãos nada é mais importante

do que adorar ao Pai e ao

Senhor Jesus Cristo.

Elisete Martins da Silva

VIA INTERNET

Esse é um assunto muito

complicado para se discutir,

pois cada indivíduo tem sua

própria opinião. Acho muito

legal evangelizar no carnaval,

como exposto na reportagem

Samba no Pé, Jesus no Coração

[edição 133]. No entanto, é

um pouco exagerado criar

blocos, desfiles e fantasias.

Vejo que os papéis estão se

invertendo; afinal, é o mundo

que deveria imitar a igreja e

não o contrário.

Bruna Gaspar

VIA INTERNET

Para tudo! Imagine Jesus

entrando na avenida para

brincar o carnaval! Será que ele

faria isso? Sinceramente a ideia

de evangélicos participarem da

festa não me agrada, nem por

um minuto. Sei que há crentes

com opiniões que divergem

da minha, que consideram

que não há nada de errado,

argumentando que Deus está

em todos

os lugares,

que temos

que nos

divertir e

não sermos

fanáticos

a ponto de

não nos

misturarmos

com o

mundo.

Carnaval,

no entanto,

significa

prazeres

da carne.

Quem procura por isso, deve

praticar as obras da carne.

Nunca devemos buscar a

satisfação para nossas próprias

vontades, e sim para a vontade

de Deus. Não podemos andar

em Espírito e

praticar as obras

da carne ao

mesmo tempo,

intencionalmente,

sabendo que é

errado. Claro que

pecamos, mas

devemos buscar

a santidade,

separando-

nos das coisas

do mundo.

Muitas igrejas

aproveitam

o feriado e

fazem retiro

espiritual; isso, sim, é oportuno,

principalmente aos jovens e

adolescentes.

Mariana Gomes Pires

CARAGUATATUBA (SP)

LUGAR DE MULHER E

OBSERVATÓRIO

Meu reconhecimento e minha

gratidão à revista, que me

é como vinho: quanto mais

velha, melhor fica. Sou leitor

desde a 2ª edição, quando

ainda se chamava Vinde. Achei

magníficos os artigos Quem

Escreveu o Quarto Evangelho

[coluna Lugar de Mulher,

edição 147], da escritora Maria

de Fátima M. de Carvalho;

e O Evangelho Esfarrapado

[coluna Observatório, edição

147], do teólogo Lourenço

Stelio Rega. Só posso dizer

obrigado! Que a cada minuto

Deus os iluminem para que

continuem escrevendo nessa

mesma linha, pois quem ganha

são os leitores. A Eclésia é,

para mim, uma verdadeira

enciclopédia.

José Alves

PROMISSÃO (SP)

Excelente o artigo Jesus e a

Quebra do Androcentrismo

[coluna Lugar de Mulher,

edição 146], e muito esclarecer

apesar do título complicado.

É um relato, ou

uma prova de que

a mulher, seja

na época atual

ou até mesmo

nos tempos

bíblicos, tinha

uma participação

bastante ativa e

importante no

contexto social.

Embora tenha

demorando

tanto tempo

para que seus

direitos fossem

reconhecidos,

essa luta começou há séculos e

contou com o aval de ninguém

menos do que Jesus Cristo.

Márcia Aparecida Galhardo

CAMPINAS (SP)

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9

EVANGELISMO

Vi na matéria Evangelismo

Fulminante [edição 146] que

os evangélicos estão levando

a Palavra de Deus a cidades

de tradição católicas, mas

é isso o que os católicos

sempre fizeram (...). A Bíblia

nos adverte hoje em dia

que muitos virão, dizendo-

se mandados em nome de

Jesus; mas, pelo dinheiro o

amor de muitos esfriará e

a Palavra de Deus cairá em

descrédito. Nós, católicos,

temos a Bíblia, a tradição e a

sucessão apostólica que garante

legitimidade da única igreja

fundada por Jesus Cristo. De

um lado temos Deus, perfeito

e Todo Poderoso; do outro o

maligno, as coisas do mundo.

Satanás erra na tentativa de

acabar com a Igreja Católica,

porque ele e suas seitas a

atacam ferozmente. Todos os

dias surgem novos hereges,

mas as heresias

são velhas

e sempre as

mesmas. Muitos

usam trechinhos

decorados da

Bíblia, saindo

do contexto e

dizendo o que não

é real. Por fim, a

igreja não perde

os fiéis e sim os

infiéis.

Wlamir Garcia

SANTO

ANASTÁCIO

(SP)

TITANIC

Com relação ao texto Zombar

de Deus Não é Bom Negócio

[seção Em Foco, edição 42],

não creio que o Senhor seja

vingativo. Primeiro porque,

até hoje, ninguém provou

aquele dito de que nem Deus

poderia afundar o Titanic; de

qualquer forma, a frase foi

atribuída a um engenheiro que

sequer participou

da viagem fatal.

Segundo: qual o

Deus que, para se

vingar, mataria

cruelmente

centenas de

pessoas inocentes

por causa da frase

de um idiota

que só soube

do naufrágio

por terceiros?

Tudo isso não

passa de uma

teologia barata

e sem qualquer

fundamento.

Nilo Sergio Krieger

BRUSQUE (SC)

JENNIFER KNAPP

Pena que a norte-americana

Jennifer Knapp,

objeto do texto

Do Jeito que

Eu Sou (seção

Multimídia

Música, edição

142) aponte que

a tradução para o

homossexualismo

não é o que a

Bíblia Sagrada

nos mostra. Ou

seja, ela dá mais

valor ao prazer

sexual do que

ao dever de

todo cristão em

obedecer a Deus.

Nelson Carneiro

VIA INTERNET

HISTÓRIA

Quando os professores

abordaram sobre a Noite de São

Bartolomeu no colégio onde

estudei tudo ficou meio dúbio,

pois a escola era católica

apostólica romana. Lembro-

me de que foi falado, mas

não comentado

ou explanado a

fundo. Lendo

a matéria O

Holocausto

do Século 16

[edição 118],

todas as minhas

dúvidas sobre o

assunto foram

sanadas. Fiquei

esclarecido, mas

não surpreso.

O que mais

me marcou

durante a leitura

foram algumas

coincidências em relação à

data. O massacre na França

aconteceu em 24 de agosto de

1572; no mesmo dia, séculos

à frente, morria o presidente

Getúlio Vargas, e foi em 24

de agosto de 2010 que eu

comecei a me interessar pelo

assunto. Coincidências?!

Jurandir

VIA INTERNET

É difícil comentar a

ignorância humana,

principalmente quando

conduzidos por doutrinas

absurdas. Assisti ao filme

Setembro Negro, objeto da

matéria De Quem é a Culpa:

Mórmons ou Paiutes? [edição

141]. Fico impressionado

com tamanha falta de

discernimento, por atrelarem

culpa ao demônio quando na

realidade a ação foi movida

pelo próprio homem. Em

muitas passagens bíblicas,

Jesus nos mostra que temos

condições de pensar e agir.

Quando ele disse “atire a

primeira pedra quem nunca

cometeu um pecado” aos

hebreus, por exemplo, o

homem pensou antes de agir.

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10

Temos o livre arbítrio, mas

não seremos os julgadores.

Imagino que os insanos que

cometeram tal massacre

passaram por

situações difíceis

no momento

celestial, e Deus

deve usar uma

medida justa

contra os que se

utilizam de sua

Palavra para fazer

o que consideram

correto para eles

próprios. Que

o Senhor tenha

misericórdia

desses pecadores.

Roberto

Smaczylo

VIA INTERNET

Senti-me horrorizado quando

assisti ao filme Setembro

Negro. Como é possível um

maluco, com pensamentos

malignos, conseguir liderar e

cegar uma grande quantidade

de lunáticos? Tal seita

distorce toda a Bíblia, que é

a única e verdadeira Palavra

deixada por Deus.

Lázaro Alves

VIA INTERNET

Depois de ler a matéria Jeito

Simples de Viver [edição

126], adquiri um pouco mais

de conhecimento de outra

cultura. Muito bom!

Rogério Alves Archanjo

CONTAGEM (MG)

MISSÕES

Muito apropriado o título da

matéria Grande Seara Ainda

Requer Muitos Ceifadores

[edição 130]. A evangelização

é uma obra muito bonita,

só que na verdade nem todo

mundo quer realizar esse

trabalho. As missões estão

no coração de Deus, e que ele

abençoe a todos que o seguem.

Evandro Macedo Silva

RECIFE (PE)

MITOLOGIA

Sempre fui

fascinado por

mitologia grega e

cultura clássica.

Contudo, sempre

fico frustrado

quando leio

matérias e artigos

que tentam fazer

um paralelo com

o cristianismo.

Vejo todo mundo

fugindo pela

tangente e sem

esclarecer quase nada. Gostaria

de textos mais

objetivos que

não ficassem

fazendo voltas

acerca do

assunto. Penso

que vivemos

num país livre e

ainda podemos

nos expressar

livremente,

ou será que

não? Quanto à

afirmação de

Jorge Pinheiro

na matéria

Entre Heróis e

Deuses [edição 134], gostaria

de dizer que razão e pensamento

científico têm suas metodologias

bastante semelhantes e que o

homem do pensamento comum

ainda continua preso às velhas

crenças e tradições antigas,

na maioria das vezes mitos e

lendas, inclusive as contidas nas

narrativas bíblicas. Portanto,

o homem moderno está longe

de atingir a tal liberdade que

a humanidade sempre sonhou.

Hoje, o que vemos é cada

vez mais pessoas vazias e

desesperadas à procura de não

se sabe o quê. Diante disso,

eu pergunto: o que a razão e o

pensamento científico fez pelo

homem moderno?

Carlos Rogério de Abreu

VIA INTERNET

LANNA HOLDER

Expor as fraquezas e os pecados

dos outros é muito fácil. Admiro

a missionária Lanna Holder, foco

da entrevista A Volta Depois da

Queda [edição 130], porque,

mesmo diante das acusações pelo

erro cometido, ela jamais omitiu

a verdade. E para Deus, é isso o

que importa. Não a vejo como

uma celebridade, mas como uma

pessoa comum, com pecados,

defeitos e qualidades tal qual a

mim e a todos.

Rosana Dantas

SÃO PAULO (SP)

QUALIDADE

EDITORIAL

Sou assinante desde

quando a revista

era denominada

Vinde. Enalteço

a ECLÉSIA por

todos esses anos de

reportagens a serviço

do Reino do Deus,

e pela excelência

das matérias aqui

publicadas. Parabéns!

Josanan Santos Mariano

SÃO PAULO (SP)

PARA COMENTAR AS

MATÉRIAS DE ECLÉSIA:

1 – Pelo site:

www.eclesia.com.br

2 – Por carta: Revista Eclésia

(Rua Pedro Vicente, 90 –

01109-010 – São Paulo SP

3 – Por e-mail:

[email protected] /

[email protected]

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12

crises políticas, sociais e

financeiras do país ao longo

dos anos; e, como simples ser

humano, lutou bravamente

contra um câncer que o tentava

derrubar há mais de uma

década. Conseguiu, em 29 de

março de 2011. Os discursos

do empresário e político eram

sempre marcados pela fala

mansa típica do “bom” mineiro –

se bem que, quando se discutia a

alta da taxa de juros, ele chegava

a se exaltar um pouco –, além

do humor característico e das

não raras referências religiosas.

“Eu não posso, de forma alguma,

pensar que vai acontecer

alguma coisa comigo sem

que Deus queira. E se

ele quiser, inclusive que

eu morra, vai ser bom

para mim, porque Deus

não faz nada ruim contra

ninguém”, disse, certa vez,

já moribundo. Em outra

entrevista, numa das tréguas

da doença, ele brincou com

o jornalista Paulo Henrique

Amorim, da Rede Record:

“Se Deus quiser me levar, ele

não precisa de câncer para

isso. Se não quiser que eu

vá, todavia, não há câncer

que me leve. E eu estou

desconfiado que ele não quer

que eu vá agora”. A morte,

portanto, não o assustava, ao

contrário da desonra. Mas,

pelo censo de justiça, retidão

política e empreendedorismo

como homem de negócios,

esse risco não o ameaçava.

Voltando à sua vida

espiritual, há quem diga que

José Alencar era evangélico.

Ser ou não ser, agora é um

mero detalhe. O que importa

é o legado por ele deixado,

inclusive para muitos que se

dizem crentes e não agem em

conformidade com os princípios

cristãos: “Confiar em Deus e ser

sempre submisso à sua vontade”.

(José Donizetti Morbidelli)

E M F O C O

O legado de José Alencar Discursos marcados pela fala mansa

e referências a Deus atestam a fé de

José Alencar; contudo, não evidenciam

se ele era ou não evangélico

Uma vida marcada por

histórias de superação.

Em poucas linhas, assim

pode ser resumida a vida do

ex-vice-presidente da República

José Alencar que, como figura

pública e homem de negócios,

testemunhou algumas das piores

JOSÉ ALENCAR: “SE DEUS QUISER me levar, ele não precisa de câncer para isso”

DIVULGAÇÃO

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13

Aos “vendilhões” da imprensa Senador, que se diz

vítima de perseguição

por parte da imprensa,

perde a compostura em

coletiva e compara sua

indignação a de Jesus

diante dos vendilhões

do templo

DIVULGAÇÃO

Depois de se irritar e arrancar o

gravador das mãos do jornalista

Victor Boyadjian, que o questionava

se ele abriria mão da aposentadoria

de R$ 24 mil como ex-governador

do Paraná, o senador peemedebista

Roberto Requião voltou ao plenário

um dia depois para jogar água fria

no imbróglio, que tem fomentado

discussões sobre atividades jornalísticas

e o cerceamento à liberdade de

expressão. Julgando-se vítima de

bullying – palavra de origem inglesa

que denota perseguição promovida por

um grupo mais forte sobre um mais

fraco –, o parlamentar fez uso até da

religião na tentativa de justifi car seu

comportamento pouco convencional

para quem ocupa um cargo público

de tamanha relevância. “Reconheço

que perdi a paciência. Há momentos

em que a indignação é uma virtude,

como foi a de Cristo ao responder aos

vendilhões do templo”, afi rmou, com

um pouco mais de tranquilidade. Agora,

enquanto o Sindicato dos Jornalistas,

em Brasília, tem cobrado do presidente

do Senado, José Sarney (PMDB-

AP), a aplicação de sanções contra o

paranaense, os demais políticos se veem

divididos entre a diplomacia e a defesa

do companheiro de plenário. O senador

Eduardo Suplicy (PT-SP), por exemplo,

sugeriu a conciliação com o repórter,

enquanto que o maranhense e também

peemedebista Lobão Filho disse que

compreende o momento vivido pelo

parlamentar. Com a cabeça fria e,

talvez, aconselhado por sua equipe de

assessores, é até provável que Requião

se retrate publicamente por sua atitude

intempestiva. Comparar, no entanto, seu

sofrimento ao de Jesus transcende os

limites da relação com a imprensa; para

os cristãos, é pura blasfêmia. (JDM)

Reportagem de Veja

sobre presença de

organizações terroristas

ligadas ao islamismo no

país causa indignação

na comunidade islâmica

brasileira, que não

descarta a hipótese de

ação judicial contra a

revista

ROBERTO REQUIÃO: “HÁ MOMENTOS EM QUE a indignação é uma virtude,

como foi a de Cristo ao responder aos vendilhões do templo”

Na edição 2211 de 06/04/2011,

a revista Veja publicou uma

reportagem intitulada A Rede de Terror

no Brasil, citando documentos da CIA,

FBI e PF que, segundo ela, comprova

a presença de organizações extremistas

internacionais – como a Al Qaeda que,

após a morte de Osama bin Laden,

deverá ser comandada pelo médico

egípcio Ayman al-Zawahri – no país.

Ainda, de acordo com a publicação,

existe uma rede de terror islâmico que

usa o Brasil para divulgar propaganda,

planejar atentados, fi nanciar operações

e aliciar militantes. Tão rápida quanto

um míssil foi a repercussão da matéria,

sobretudo entre a comunidade islâmica

brasileira. Indignada, a União Nacional

de Entidades Islâmicas (UNI) lançou

imediatamente uma campanha em seu

site com o intuito de recolher assinaturas

– ou melhor, procurações – dos fi éis

seguidores para a eventual adoção de

medidas judiciais contra a revista. “Basta

você preencher e assinar a procuração

para que nossos advogados movam

ações no fórum de pequenas causas”,

propaga a mensagem, frisando ainda

que exige retratação pelo que considera

“crime” de discriminação, calúnia,

racismo, difamação, danos morais,

intolerância religiosa, enfi m... Por sua

vez, a Federação Árabe Palestina do

Brasil (Fepal) classifi cou a revista como

“notória inimiga de políticas externas

não alinhadas a dos Estados Unidos,

e visível inimiga dos muçulmanos em

geral e dos árabes em particular”. Até

o fechamento dessa edição, a direção

do veículo não tinha se manifestado a

respeito do assunto. (JDM)

Na mira do IslãNa mira do Islã

POR MEIO DE SEU SITE, UNI recorre aos fi éis islâmicos antes de defi nir

eventual ação judicial

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14

Sessão inacabada Filme sobre a vida de

Jesus é interrompido

na Ásia por grupo de

radicais anticristãos

Por mais que já se conheça a

história do nascimento, morte e

ressurreição de Jesus, fi lmes que

retratam a vida do Messias são sempre

campeões de audiência em qualquer

parte: há quem encontre motivos na fé

e na emoção, e ainda quem assista por

mera curiosidade ou para fomentar as

discussões entre religiões. Independente

do motivo, inadmissível, no entanto, é

quando a sessão de cinema descamba

para a violência, com contornos de

preconceito e intolerância. Foi o que

aconteceu no mês de abril numa aldeia

na Ásia, quando cerca de 150 pessoas

– entre crianças, adolescentes, adultos

e membros da equipe de fi lmagens,

a convite de um empresário – foram

surpreendidas por um grupo de radicais

anticristãos, que bravejavam contra a

exibição da película num telão exposto

ao ar livre. Bem que Sarwar Howlader,

um dos membros que acompanhava

o pastor local, tentou apaziguar os

ânimos dos revoltosos alegando que os

líderes da aldeia haviam autorizado a

exibição. Inútil, e também não demorou

muito para que a própria multidão

se manifestasse contra os opressores

que, por sua vez, tentavam incitar os

espectadores, “alertando-os” que os

missionários queriam tão somente

forçá-los a aceitar o cristianismo na

marra. O confronto chegou, então,

às vias de fato; e, para não acarretar

maiores problemas à igreja, por

prudência os missionários decidiram

recuar e deixar a aldeia a contragosto

do público. Ao menos, naquela sessão a

fi ta não rodou na íntegra. Já, as orações

prosseguiram por intermédio do pastor

responsável pelo pequeno rebanho.

“Vamos orar pela segurança da equipe

que foi atacada”, pediu. (JDM)

INTOLERÂNCIA DIANTE DA TELONA: cerca de 150 pessoas não puderam assistir ao fi lme na íntegra

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A “profecia” do Family Radio Grupo que se intitula

cristão faz as contas

a partir do Grande

Dilúvio, descrito na

Bíblia, e apregoa o

fi m do mundo

Preparem-se aqueles que

realmente acreditam que o

mundo chegará ao fi m em

dezembro de 2012, pois um novo

alerta apocalíptico acaba de aportar no

Brasil: segundo ele, o fi m dos tempos

pode estar muito mais próximo do que

se imagina. Tudo começou quando

um grupo cristão norte-americano

intitulado Family Radio, que até

mantém uma vertente de seguidores

em Belo Horizonte (MG), rodou o

país divulgando uma mensagem de

que o Dia do Juízo Final tem data

marcada: 21 de maio. Harold

Camping, líder do grupo,

utiliza-se da matemática para

interpretar o que defi ne como

certeza bíblica: o fi m dos

tempos começaria 7 mil anos

depois do Grande Dilúvio,

que supostamente teria

acontecido em 4990 a.C.

Por considerarem as

“afi rmações” do Family Radio

como “falsas profecias” ou,

quem sabe, uma campanha

publicitária sensacionalista,

comunidades cristãs não têm poupado

críticas ao grupo; muitas, inclusive,

classifi cando-o como seita. Não por

menos; afi nal não é a primeira vez

que Camping dá uma de “profeta”

do fi m dos tempos. Na década de

1990, ele chegou até a publicar um

livro anunciando a provável volta de

Cristo para dali a quatro anos. Nada

aconteceu. A profecia pode ser falsa,

mas com o enorme outdoor indicando

as frequências em letras garrafais,

é muito provável que os índices de

audiência da rádio tenham aumentado

substancialmente, mesmo que movidos

por mera curiosidade. (JDM)

INVESTIMENTO PESADO EM DIVULGAÇÃO: letras garrafais trazem a data do juízo fi nal

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15

Toy Story. Entretanto, com o

diferencial de transmitir valores

cristãos e uma mensagem otimista

de fé. A campanha de divulgação

já começou na internet, além de

igrejas e diversas comunidades

cristãs. Responsável pela

distribuição internacional do

desenho a Warner Brothers

espera, com a ajuda dos crentes,

lotar os cinemas assim que o filme

chegue às telonas, o que deve

acontecer em breve. (JDM)

Fé em três dimensões

Foi divulgado em abril, mês

da Páscoa, o preview do

longametragem de animação

O Leão de Judá (Lion of Judah),

que vem sendo produzido pela

Eternal Pictures desde 2008. Até

aí, nenhuma grande novidade,

uma vez que produções com

temática cristã têm se tornado

investimentos corriqueiros para

a indústria do entretenimento

e os ministérios de orientação

religiosa. A diferença, no entanto,

é que se trata do primeiro

filme cristão produzido

em 3D. É a tecnologia em

terceira dimensão que, aliás,

não passa de uma ilusão

de ótica produzida pela

esteroscopia – fenômeno

responsável pela projeção

de imagens, da mesma cena,

com pontos de observação

ligeiramente diferentes.

Complicado? Então, melhor

partir para o roteiro, que é

ambientado na cidade de

Jerusalém dos tempos de

Jesus. Até mesmo por isso,

a animação já vem sendo

chamada de A Paixão de Cristo

para crianças, em alusão ao

sucesso de Mel Gibson, de 2004.

Personagens como Horácio

(o porco afetuoso), Monty (o

cavalo pessimista), Slink (o galo

brigão), Jack (o burro imaturo),

entre outros bichinhos animados

podem, segundo os produtores,

tornar-se tão populares entre a

criançada quanto os de desenhos

convencionais como o ogro

Shrek ou o cowboy Woody, de

Primeiro longametragem produzido com

tecnologia 3D, O Leão de Judá busca transmitir os

valores cristãos à criançada por meio da animação

O LEÃO DE JUDÁ: divulgação já começou na internet, igrejas e demais

comunidades cristãs

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Star of HopeA Sociedade Benefi cente Es-

trela da Esperança, tam-bém conhecida como Star

of Hope, é uma entidade fi lan-trópica, de origem sueca, estabe-lecida no Brasil desde 1970. Tem atuado numa área de fundamen-tal importância para a criança: a educação, por meio da fundação, apoio a centros educativos infantis e manutenção de creches.

Depois de iniciar suas ativida-des em Minas Gerais, a entidade passou a atuar também na cidade de São Paulo, totalizando quase 600 crianças atendidas diariamente em horário integral – atualmente, 63% das crianças brasileiras necessitam de creche; dessas, apenas 9% tem acesso às unidades públicas.

Devido à sua gênese evan-gelística, a entidade auxilia na orientação cristã das crianças, com o propósito de garantir a todas um bom aprendizado, cal-cado nos valores e princípios morais, no início da vida.

A Star of Hope atende as seguin-tes creches:

- Município de São Paulo (SP): no Centro Educação Infantil Erik Gunnar Eriksson, onde são atendidas 150 crianças carentes na faixa etária de 0 a 3 anos;

- Município de Montes Claros (MG): na Creche Estrela da

Esperança, onde são atendi-das 430 crianças carentes na faixa etária de 0 a 5 anos.

Em 19 de Julho de 2007, con-forme Lei Complementar nº 524, a Prefeitura de São Vicen-te concedeu à entidade uma área de 6.600 m2 no Jardim Rio Branco para a construção de uma Unidade de Referên-cia Social, em parceria com o município de São Paulo. Ao ser fi nalizada, a unidade ofere-cerá 500 vagas em creche para crianças de 0 a 6 anos, e 600 va-gas para a escolinha de futebol para os que compõem a faixa etária de 7 a 14 anos.

As crechesOs responsáveis pela entidade entendem que a faixa etária de 0 a 6 anos, ou seja, os primeiros anos de vida da criança, cons-tituem um período de intenso aprendizado e desenvolvimen-to. É quando se assentam as bases de todo o seu desenvol-vimento saudável. O trabalho a ser implantado tem como princípio viabilizar, a todas as crianças atendidas, vivências bem-sucedidas de aprendiza-gem, bem como proporcionar novas formas de interação e de relacionamento entre as pró-prias crianças, com a família, a

comunidade, enfi m... Só assim é que elas poderão compreender melhor o mundo e transformá-lo no futuro.

A escolinha de futebolAtende crianças entre 7 e 14 anos, propiciando lazer, vivências e in-teração social por meio da prática esportiva. A escolinha de futebol tem como objetivos principais: - Oferecer um espaço coletivo vol-

tado às crianças e adolescentes para desenvolvimento da práti-ca esportiva;

- Utilização do esporte como uma ferramenta reconhecidamente efi caz para a transformação e in-clusão social;

- Fornecer, por meio do espor-te, maiores oportunidades de desenvolvimento motor, intelec-tual e social;

- Identifi car potencialidades e de-senvolvê-las como perspectiva de um futuro melhor.

A caixa d`água A caixa d`água que está sendo construída refl ete bem o perfi l

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ecologicamente correto da uni-dade.

Programada para armazenar 54 mil litros de água, é dividi-da em dois compartimentos: um para receber água tratada (Sabesp) e outro para água de chuva, a qual será fi ltrada e utili-zada para os mais diversos fi ns.

Preocupada com a formação de uma identidade social, a Star of Hope, mediante essas ações sociais e estruturais, apresenta uma proposta de responsabi-lidade humanitária que visa a garantir condições mais dignas de vida às crianças e adolescen-tes atendidas pela entidade.

Encontro Empresarial Brasil-Suécia Realizado na Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo, o Encontro de Economia Verde Brasil-Suécia contou com a parti-cipação de inúmeros empresários brasileiros e estrangeiros, políticos e representantes da Star of Hope. Além disso, foi abrilhantado pela presença de John Fredrik Reinfel-dt, primeiro-ministro da Suécia. Na ocasião, o anfi trião Paulo Skaf condecorou o convidado com a “Ordem do Mérito Industrial de São Paulo”, a mais alta honraria concedida pela Fiesp. Na aber-tura do seminário, conduzida por Humberto Saccomandi, edi-tor internacional do jornal Valor Econômico, o primeiro-ministro abordou o tema O Caminho a Se-guir Após a Crise Financeira Mundial – Transição à Economia Verde.

Por ser uma das maiores ONGs de origem sueca, a Star of Hope teve a oportunidade de apresentar seu trabalho social a diversas lideranças empresa-riais locais e estrangeiras. Num dos pontos altos do evento, foi apresentado um fi lme com os dados estatísticos brasileiros, que entusiasmou signifi cativa-mente a todos os presentes.

Nascido em 7 de Novembro de 1929 na cidade sueca

de Remmarn, primeiramente o evangelista Erik Gunnar Eriksson fundou uma organização denominada Tältmissionen, por meio da qual realizou inúmeras cruzadas evangelísticas por mais de 50 nações. Em 1969, estabelece, também na Suécia, a Star of Hope International, com o objetivo específico de alcançar crianças carentes em vários locais do planeta. Um ano depois, inaugura em solo brasileiro, mais precisamente na cidade mineira de Montes Claros, um orfanato, que daria origem a Star of Hope Brasil. Em 1978, recebe o título de “Cidadão Emérito”.

Com o tempo as atividades da Star of Hope a nível mundial foram se intensificando cada vez mais, sobretudo no Leste Europeu. No México, em 1985, a entidade foi a primeira instituição européia a chegar ao local após o terremoto que fez centenas de vítimas fatais. Recentemente, no maremoto que atingiu a região da Indonésia, também foi a primeira entidade

não-governamental a participar da ajuda às vítimas, fazendo uso de maquinário pesado – tratores, caminhões – e helicópteros para o resgate em áreas isoladas. Em 1990, lança a campanha “Todos de Mãos Dadas”, incentivando as organizações internacionais de interesse social na ajuda humanitária.

Em 2003, torna-se a primeira organização sueca a adentrar a região de guerra no Iraque. Entre 2004 e 2005, a catástrofe do

tsunami na região sul da Ásia choca a humanidade. Ao lado de outras organizações governamentais, a Star of Hope destaca-se por sua agilidade na assistência a milhares de necessitados.

Erik Gunnar Eriksson faleceu em 11 de Junho de 2006, vítima de problemas cardíacos crônicos, mas será sempre lembrado por seu maravilhoso exemplo de vida e dedicação ao próximo. Como legado de seu trabalho, atualmente a Star of Hope presta assistência a mais de 50 mil crianças carentes em diversos países do mundo.

Erik Gunnar ErikssonO fundador da Star of Hope

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18

Sem rótulos, apenas bíblicoEvangelismo

puro e simples,

com ênfase

na salvação

e recusa

de ofertas

em cultos e

campanhas

evangelísticas:

peculiaridades

do pastor e

evangelista

Ismael Gontijo,

que se diz

ungido pelo

Espírito Santo

– com quem

conversa

diariamente –

por escrever 21

livros em apenas

três anos

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ÃO

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19

MARCOS STEFANO COUTO E

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

“O evangelista

prega e atrai

as pessoas aos

cultos, mas

quem cuida do

rebanho é o

pastor”

que lhe pedi foi que me garantisse

condições para sobreviver sem

nunca depender de ofertas das

igrejas. Em pouco tempo, descobri

que o Senhor paga muito melhor”,

explica, com bom humor. “Detesto

gente irritada”, crava, com

disfarçado semblante de seriedade.

A propósito, conversar com o

Espírito Santo se tornou uma

rotina quase que diária na vida

do evangelista. Por intercessão

dele que Ismael Gontijo garante

ter despertado para uma nova

aptidão – ou melhor, unção

–, que há tempos perseguia: a

literária. Nos últimos três anos,

ele escreveu nada menos do que

21 livros – cada um com mais

de 300 páginas –, e que juntos

compõem três coleções: Unção e

Poder, Essência de Deus e Planeta

Esperança. Se as duas primeiras

séries são voltadas para a prática

devocional, a terceira prima pela

conscientização da preservação

ambiental e a responsabilidade

do desenvolvimento humano,

outra bandeira assumida em

concomitância com o

Instituto Ismael Gontijo-Inelgon;

claro, com o aval do Espírito

Santo. “As antigas gerações

de evangélicos estavam mais

preocupadas com motivos

espirituais, mas as novas veem

as coisas com outros olhos. É

por isso que o Espírito Santo nos

deu esses livros, com a intenção

de trazer uma nova perspectiva

e consciência dos problemas que

todos irão passar caso não haja

uma mudança de comportamento”,

revela.

Em entrevista exclusiva à revista

ECLÉSIA, Ismael Gontijo

compartilha um pouco de sua

vida diária, no ambiente familiar,

ministerial e no mundo dos

negócios. Também, esclarece

melhor essa “intimidade” com

Presbiteriano de berço,

mas líder de um

movimento evangelístico

interdenominacional. Pode

parecer meio controverso para

alguns, mas não para o pastor e

evangelista Ismael Gontijo que,

de uma maneira bastante peculiar,

tramita na vida ministerial há mais

de duas décadas. Como? Com

um evangelismo que ele próprio

define como puro e simples, e

essa “simplicidade” na pregação

da Palavra se tornou uma das

bandeiras do ministério que

carrega seu nome. “A mensagem

deve ser simples e direta, sem

rodeios e sem sair do contexto

bíblico”, adverte o presidente do

Ministério Evangelístico Ismael

Gontijo (MEIG) com seu jeitão

falante, descontraído e – porque

não dizer – moderno. Adepto ao

evangelismo moderno, sim, ele

admite, mas sem rótulos. “Faço

parte de uma nova geração de

pastores, porém não me considero

neopentecostal, tradicional ou

pentecostal. Sou apenas bíblico, e

minha forma de pregar e ministrar

atende às necessidades de todos os

grupos evangélicos”, define.

Natural de Patrocínio (MG),

Ismael Gontijo faz parte de um

seleto grupo de empresários bem-

sucedidos no mercado financeiro;

também, por isso, não precisa de

“patrocínio” para levar adiante

seu evangelismo e promover uma

verdadeira semeadura dos genuínos

princípios cristãos. É com a

Gontijo Guimarães, Sistemas de

Ativos e Participações Ltda que

ele sustenta o ministério, podendo-

se dar ao “luxo” de recusar

veementemente dízimos e ofertas

durante os cultos, ministrações e

cruzadas em que participa. “Foi um

acordo que eu fiz com o Espírito

Santo. Quando ele me mostrou o

que eu deveria fazer em termos

de ministério, a primeira coisa

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20

o Espírito Santo, as estratégias

evangelísticas e ações por ele

perpetradas, como religioso e ser

humano preocupado com o destino

do planeta. “Nossa extinção está

mais próxima do que muitos

imaginam. Por isso, Jesus deverá

apressar a sua vinda”. Essa é, aliás,

a oração de todos os cristãos.

ECLÉSIA – Quais as influências

que seu pai Abílio Gontijo,

pastor jubilado pela Igreja

Presbiteriana, exerce sobre sua

vida e seu ministério?

ISMAEL GONTIJO – Meu pai

é marcante no meu ministério.

Somos presbiterianos de berço,

assim como meus avós foram

durante a vida toda. Eu cursei

seminário na mocidade, e até hoje,

mesmo presidindo um ministério

evangelístico interdenominacional,

ainda me sinto presbiteriano na

essência.

Como é sua vida em família?

Sou casado há 25 anos. Minha

esposa, Jocimara Gontijo, é

especialista em Língua Portuguesa

e graduada em Letras. Tenho dois

filhos: Michelle, recém-formada

em Direito; e Lucas, o caçula.

Sou simples, tanto no lar como no

ambiente ministerial. Minha vida é

marcada sempre pelo bom humor.

Detesto gente irritada.

Por que você decidiu se tornar

pastor e evangelista?

Quando jovem, eu atuava nas

igrejas pastoreadas pelo meu

pai. Na idade adulta, mesmo

tendo decidido pelo seminário eu

ainda não sentia aquele chamado

evangelístico. Apesar do incentivo

da família, a princípio não me

encaixei no perfil de evangelista

e acabei desistindo. Na época,

faltavam duas matérias para que

eu terminasse o curso de Direito

e eu também decidi que não

queria ser advogado. Só que, sem

que percebesse, o Senhor estava

me preparando para que eu me

tornasse pastor e evangelista. Hoje,

sou grato por tudo.

De imediato, o que essa decisão

acarretou à sua vida?

A decisão de assumir o

ministério evangelístico veio

das experiências adquiridas

dentro da perspectiva pastoral.

Primeiramente, percebi que um

evangelista interdenominacional

precisa saber bem o que envolve

a árdua atividade pastoral. Muitos

desmerecem o trabalho por

pensarem que são superiores só por

juntar grandes concentrações, o

que é um grande engano. O Senhor

me preparou para o ministério,

ensinando-me detalhes muito

importantes.

Como se deu a transição da

atividade pastoral para a

fundação do Ministério Ismael

Gontijo?

Foi um pouco traumática. Por

motivos que não valem a pena

mencionar, houve uma ruptura na

minha denominação. Eu fi quei com

uma das igrejas e aprendi o quão

difícil é ser pastor, principalmente

se essa não é a sua unção. Eu enchia

o templo, mas não conseguia segurar

as ovelhas e dar fundamento; ou

seja, crescia em número e não em

qualidade. Suportei pouco tempo e,

após muita oração e luta, decidimos

fazer a transição. Um processo

difícil e dolorido, mas necessário.

Por que Ministério Ismael

Gontijo? Isso não causa uma

impressão muito pessoal?

Pode dar essa impressão, porém

não é a intenção. Sou um

evangelista e a unção está sobre

a minha vida. Não quero que

ninguém pense que vou abrir

igrejas em todos os lugares onde

ministro. Qualquer nome pode

servir para uma denominação,

mas Igreja Ismael Gontijo é

praticamente impossível (risos).

“Agredi-la [a

Igreja Católica]

é o mesmo

que acender

uma dinamite

na própria

trincheira”

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21

Como é seu trabalho

evangelístico, e qual é o perfil

das igrejas onde são realizadas

suas ministrações?

Deus nos ensina de maneira

formidável. Um evangelista

precisa ter consciência de que não

pode entrar nas igrejas e tocar em

temas polêmicos, ou que sejam de

responsabilidade dos pastores. Se

não agir com inteligência, poderá

causar mais danos que benefícios.

Após a ministração, levará meses

para que o pastor implante as

ideias trazidas pelo evangelista. É

essa consciência que tem permeado

nossas ações, pois não é nada fácil

ministrar de maneira diferente para

cada denominação sem perder a

unção ou a direção do Evangelho.

O Senhor tem nos ensinado que o

evangelista prega e atrai as pessoas

aos cultos, mas quem cuida do

rebanho é o pastor. Eu atuo em

qualquer denominação. Há algum

tempo, inclusive, uma pessoa disse

que nós não gostamos da Igreja

Católica. Sabe o que eu fiz? Pedi

direcionamento ao Espírito Santo,

em oração, e a resposta foi que eu

devo pregar em qualquer igreja

ou paróquia que me convide.

Senti-me aliviado; o difícil é ser

convidado para pregar lá (risos).

O propósito do meu ministério é

pregar, mostrar o poder de Deus,

independente de igreja. Assim

fui ensinado e assim hei de fazer,

respeitando todas as doutrinas e

confissões.

Qual é a sua concepção sobre a

Igreja Católica?

Vejo pastores agredindo a Igreja

Católica, mas eu não compactuo

com isso; afinal, é a mãe de nossas

denominações. Claro que meu

coração dói quando vejo padres

acusados de pedofilia – ali está

um soldado ferido no campo de

batalha. Somos do mesmo exército

e devemos nos lembrar de que o

mundo não seria comandado pelo

pensamento cristão se não fosse a

Igreja Católica, da qual fazíamos

parte antes da Reforma Protestante.

Agredi-la é o mesmo que acender

uma dinamite na própria trincheira.

“Se falar mal de qualquer uma

das minhas igrejas, melhor que

fique em casa”, alertou-me o

Espírito Santo quando, ao pregar

numa cruzada, eu não economizei

críticas ao papa João Paulo II.

Aprendi, então, que estamos

do mesmo lado e não temos o

direito de falar mal de ninguém.

Em termos de erros ou pecados,

lembremos que a fruta nunca cai

muito longe do pé; afinal, também

temos as nossas falhas.

Diante disso, você se considera

ecumênico?

Não. Para mim, ecumenismo não

existe. Se não somos ecumênicos

nem entre os evangélicos, como

poderíamos ser com outras

religiões? Isso é impossível!

Uma das bandeiras levantadas

por seu ministério é a pregação

da Palavra de maneira pura e

simples. Como é pregar com

simplicidade?

O evangelista precisa ser rápido

para que as pessoas não percam a

concentração diante da mensagem,

a qual deve ser simples e direta,

sem rodeios e sem se desvirtuar

da Bíblia. Ao ficar dando voltas,

as pessoas carentes de consolo e

que buscam soluções na Palavra

logo se dispersam. A Bíblia é

o instrumento mais forte a ser

usado para transformar vidas, pois

apresenta o Senhor Jesus na sua

mais pura simplicidade. Assim,

quanto mais fácil a transmissão

da mensagem, maiores são as

conversões. Pregações muito

rebuscadas e complexas não

“Em termos

de erros ou

pecados,

lembremos que

a fruta nunca

cai muito longe

do pé; afi nal,

também temos

as nossas

falhas”

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tendem a ser bem compreendidas

e assimiladas. Minhas mensagens,

particularmente, são puras, simples

e diretas.

Então, você é uma pessoa

simples?

Nem penso nisso, mas não sou

complicado e tampouco cheio

de manias de grandeza. Quem

passou pelo deserto espiritual e

foi forjado nas quentes areias da

prova, aprende a andar com Deus,

deixando de lado qualquer empáfia

ou arrogância. Os arrogantes não

são usados pelo Espírito Santo;

ele não gosta de falsa grandeza e

só unge os humildes de coração. E

mais: não se pode ser complicado

diante de um ministério

evangelístico, pois as pessoas

“simples” que choram diante do

Senhor precisam ser ministradas,

libertas e salvas.

No que o Ministério Ismael

Gontijo se difere em relação a

tantos outros que existem no

Brasil?

Não sei se o nosso é diferente dos

demais ministérios. Não podemos

ser muito diferentes quando

servimos ao mesmo Senhor; por

sinal, diferentes são os que não

agem em conformidade com o que

as Escrituras Sagradas determinam.

Eu procuro apenas me concentrar

no trabalho.

É correto dizer que você faz

parte de uma geração de pastores

que prima por um evangelismo

mais moderno, nos moldes do

neopentecostalismo?

Faço parte de uma nova geração de

pastores, porém não me considero

neopentecostal, tradicional ou

pentecostal. Sou apenas bíblico, e

minha forma de pregar e ministrar

atende às necessidades de todos

os grupos evangélicos. Quem

duvida é só me convidar (risos).

O neopentecostalismo trouxe uma

forma realmente mais moderna

de pregação da Palavra de Deus,

mas se tornou muito comercial e

com isso tem perdido a unção de

impactar vidas. Sou moderno na

forma, mas não uso as mesmas

estratégias para implantar meu

ministério, seja no Brasil ou

no exterior. Nossa mensagem

é sempre bíblica e menos

neurolinguística, não precisamos

de métodos modernos no

convencimento de multidões para

alcançar vidas que sofrem. O povo

espera o consolo e a manifestação

do poder de Deus em suas vidas,

e pronto. Essa noção tem mais de

dois mil anos, e eu não vejo nada

de moderno nisso.

Em sua opinião, no que essa

doutrina agrega à causa

evangelística, e onde se encaixa

ou se contrapõe aos princípios

defendidos por seu ministério?

Diariamente surgem

novas organizações que se

autodenominam neopentecostais,

mas é quase impossível afirmar se

essas variadas doutrinas realmente

são o que afirmam suas lideranças.

Em muitos pontos nosso ministério

caminha na contramão, pois

algumas comunidades assim

chamadas não dão o real valor ao

conhecimento da Palavra. Outras

procuram pregar a teologia da

prosperidade a qualquer custo, o

que é um grande estorvo para o

Evangelho. É por isso que muitas

igrejas estão sofrendo, justamente

por não darem alimentos sólidos

a seus rebanhos. No geral, as

comunidades neopentecostais

“Quem passou

pelo deserto

espiritual e

foi forjado

nas quentes

areias da

prova, aprende

a andar

com Deus,

deixando de

lado qualquer

empáfi a ou

arrogância”

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são mais ousadas em suas ações

evangelísticas, e isso se assemelha

um pouco ao nosso ministério;

entretanto, não me enquadro em

nenhuma doutrina específica.

Então, você é contra a teologia

da prosperidade apregoada

por tantas igrejas evangélicas

atualmente?

Dinheiro é bom e todos nós

gostamos de conforto: porém, ser

rico financeiramente não significa

ser próspero. No meu trabalho,

mantenho contato com muita gente

cheia de grana, mas vazia de vida.

Fico até com medo quando vejo

pregadores gritando que, para

serem ricas, as pessoas devem

desafiar a Deus com sua fé. O

Senhor não precisa ser desafiado

para abençoar, basta pedir que

as coisas são colocadas em seus

devidos lugares. Muitas igrejas não

ensinam aos seus membros que o

dízimo é uma dádiva de amor, e

não uma obrigação pura e fria. E

mais: transformam a bênção num

escândalo, convencendo as pessoas

a darem até o que elas não têm

e desvirtuando do que realmente

importa: a salvação. Eu não tenho

coragem de manipular a mensagem

do Evangelho para conseguir

alguns trocados em forma de

desafios de fé.

É por isso que você não aceita

ofertas?

Foi um acordo que eu fiz com

o Espírito Santo. Quando ele

me mostrou o que eu deveria

fazer em termos de ministério, a

primeira coisa que lhe pedi foi

que me garantisse condições para

sobreviver sem nunca depender

de ofertas das igrejas. Em pouco

tempo, descobri que o Senhor

paga muito melhor (risos). É

por isso que nem mesmo aceito

que paguem minhas despesas.

Aliás, oriento os pastores a

recolherem os dízimos e ofertas

que frequentemente recolhem antes

de eu subir na plataforma. Depois,

não há mais possibilidade de pedir

qualquer coisa. Nem mesmo os

cantores e ministros de louvor que

trabalham conosco cobram em suas

ministrações. Se os organizadores

das cruzadas não têm dinheiro,

minha equipe providencia livros e

CDs para serem vendidos, e o valor

arrecadado financia as campanhas.

Considero correto e honrado agir

assim, e as pessoas não imaginam

o quanto temos sido abençoados.

Não sou contra o dízimo, mas o

considero legítimo somente às

igrejas. Nós não somos uma igreja.

Diante disso, como o ministério

se mantém?

Nossa forma de financiamento é

muito variada, a começar com meu

trabalho, do qual destino metade

para o sustento do ministério.

Tenho, também, amigos do mercado

financeiro que gostam de ajudar.

Temos livros e CDs, cujos cantores

são ministradores com unções

diferentes de tudo o que vemos no

meio gospel. Quando as pessoas nos

procuram com o intuito de semear

em nosso ministério, aceitamos

sob uma condição: desde que nos

deixem usar seus nomes e endereços

para que possamos lhes enviar os

materiais produzidos. Orientamos

que leiam nossos livros, ouçam

nossas músicas e distribuam entre

seus amigos. Assim, a semeadura se

multiplica e os resultados são muito

maiores. Tem funcionado muito

bem, pois como eu disse antes:

Deus paga muito melhor!

“Nossa

mensagem é

sempre bíblica

e menos

neurolinguís-

tica, não

precisamos

de métodos

modernos no

convencimento

de multidões

para alcançar

vidas que

sofrem”

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Num vídeo postado no seu

site, você fala sobre a unção

de escrever. É verdade que

produziu 21 livros em menos de

três anos?

Sim, é verdade. Contudo, sou

pregador e não escritor. Eu

havia tentado várias vezes,

mas os evangelistas raramente

conseguem escrever. Então, há

três anos eu pedi ao Senhor que

me ungisse com essa dádiva

específica. Meses depois,

assistindo ao culto numa igreja

em São Paulo, o Espírito Santo

me ordenou claramente: “Vá e

toque no pastor”. Em obediência,

eu fui até o púlpito e dei um

abraço nele. Ninguém entendeu

nada (risos). Imagine eu, formado

em teologia, presbiteriano

de berço, fazendo uma coisa

dessas?! Naquela madrugada,

exatamente às três horas da

manhã, fui despertado: “Sente-

se ao computador e escreva”,

disse-me o Espírito Santo. Isso

aconteceu em meados de 2008,

e até hoje eu escrevi 21 livros.

Antes eu levava três meses para

terminar uma obra, enquanto que

atualmente a média é de 20 dias.

O Senhor me deu três coleções

– a primeira já está à venda

em versão digital em nossa loja

virtual. Não pense que eu passe o

tempo todo escrevendo, na verdade

nunca escrevi um único capítulo

durante o dia. Meu momento exato

para escrever é às três horas da

madrugada, e o que digito é o que

permanece. Jamais apaguei sequer

uma frase ou um único parágrafo.

Qual é o conteúdo dos seus

livros?

Verdadeiros mistérios, cada um

com uma história. O mais incrível

é que antes mesmo de eu terminar

um, o Espírito Santo já me

revela o próximo, com títulos

e capítulos. Unção e Poder é

a primeira coleção, composta

de sete devocionais de grande

impacto na vida dos que os leem.

Quando a finalizei, já tinha

o nome da próxima coleção:

Essência de Deus, mais sete

volumes escritos em apenas nove

meses. E olha que não há nenhum

com menos de 300 páginas. Todos

ficam admirados, mas eu sempre

prego dizendo que se você pedir

o Senhor lhe dará. Quando eu

terminei a segunda coleção...

Bem, vou deixar para falar sobre

isso ao abordar o Instituto Ismael

Gontijo-Inelgon.

Essa unção também vale para as

músicas?

Sim, é outra bênção que o Senhor

colocou sobre meu ministério.

Por determinação do Espírito

Santo, passei a ministrar unções

específicas sobre algumas pessoas

e o impacto tem sido igual ao que

recebo para escrever os livros.

Há vários exemplos, mas citarei

somente uma: Kesia Queiroz,

uma ótima cantora, mas que

não conseguia compor qualquer

música. Quatro meses depois de

tê-la conhecido, ela já soma mais

de 100 composições – verdadeiras

manifestações do poder de Deus

em seu mais alto grau de pureza

para louvor e adoração. Não

precisa nem dizer que ela foi

levada ao deserto, seco e árido,

para que aprendesse a andar com

o Senhor. Nosso ministério é

marcado pela humildade, e gente

arrogante não anda conosco.

Por que você fala com tanta

naturalidade dessa relação com

o Espírito Santo?

Até parece conversa de gente que

se julga espiritualmente superior,

mas não é o meu caso. Converso

com o Espírito Santo, e ele me

responde normalmente. Aprendi a

ouvir a sua voz, e tenho ensinado

“Eu não tenho

coragem de

manipular a

mensagem

do Evangelho

para conseguir

alguns

trocados em

forma de

desafi os de fé”

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que com hipocrisia não é possível

conseguir nada dele. Não se trata

de mágica, mas de obediência

nas coisas mais simples da vida.

Não precisa se transformar em

querubim ou santo; basta ser

sincero e autêntico. Nada muito

complicado.

Você também é um executivo

bem-sucedido do mercado

financeiro. Como conciliar

as atribuições profissionais,

que envolve dinheiro, com as

ministeriais, que envolve a fé?

Por trabalhar no mercado

financeiro, viajo muito e para

vários países; porém, não tem

sido tão difícil, pelo menos

até agora. O Senhor tem me

capacitado para o trabalho, tanto

ministerial quanto profissional.

Basta organizar e contar com uma

boa equipe.

No que a carreira profissional

agrega valor à sua vida

ministerial?

Fui forjado nas fileiras dos

grandes executivos financeiros da

Europa. Iniciei na década de 1990

e, com o tempo, fui crescendo

e me sobressaindo. Com muita

determinação, aprendi a duras

penas a arte de dosar as reações

e ter equilíbrio na hora das

decisões. E essas experiências

têm sido muito importantes, até

mesmo na hora de me relacionar

com outros pastores. Quando

vivemos algum tempo dentro

da igreja, passamos a resumir

nossa visão de forma que os

desejos determinem as reações.

Assim, acabamos ferindo

pessoas e perdendo aliados

preciosos. Como executivo

internacional, preciso medir e

calcular o quanto posso perder ao

tomar uma decisão precipitada,

baseada apenas em emoções. No

mercado financeiro, convivemos

com gente de altíssimo nível,

verdadeiros experts em

temperamentos e reações. Não dá

para abrir a guarda nem por um

segundo.

Em sua opinião, o fato

dos crentes brasileiros

– atualmente, são mais

de 30 milhões – serem tão

pulverizados, ou seja, divididos

em tantas denominações

diferentes, não enfraquece a

Igreja Evangélica como um

todo?

Creio que não. Ganhamos na

diversificação. Somos um povo

miscigenado, e as misturas

de nações e raças determinam

também nossas maneiras

diferentes de pensar. As

denominações e seus multiformes

sistemas têm conseguido atrair

e satisfazer a todas as classes

sociais e níveis espirituais.

Visões e doutrinas variadas

levam vantagem sobre uma

doutrina fechada e estanque.

As igrejas novas, mesmo

que sofram com a falta de

profundidade e conhecimento

da Palavra, prestam um serviço

espiritual muito grande à nação.

Sim, espiritual, porque acabam

beneficiando o aspecto social.

Diante dos destinos do país,

nós, evangélicos, somos vistos

“Como

executivo

internacional,

preciso medir

e calcular

o quanto

posso perder

ao tomar

uma decisão

precipitada,

baseada

apenas em

emoções”

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como uma realidade poderosa,

diferente de décadas atrás quando

nem éramos considerados. Existe

uma poderosa consciência de igreja

como um só corpo; apresentações

de música gospel, por exemplo,

atraem membros de todas as

denominações. Na verdade dizem

que somos desunidos, mas é só na

aparência.

Como surgiu e no que consiste

o Instituto de Preservação

Ambiental e Desenvolvimento

Humano Ismael Gontijo-Inelgon?

Nosso instituto nasceu de uma

visão urgente sobre a nova

consciência que precisa ser

pregada. Há dois mil anos, Jesus

veio ao mundo e inaugurou uma

nova realidade chamada Reino de

Deus. Entretanto, com o caminhar

da história, as coisas foram ficando

complicadas, sem que déssemos

conta de que a maldade estava

aumentando e esvaziando os

corações da presença do Senhor.

Chegamos até os meados do século

20, e com ele o progresso baseado

na petroquímica, aliado à ganância

e ao egoísmo humano. Com um

desenfreado caminhar nesse último

meio século, destruímos 65%

de todos os recursos renováveis

do planeta, enquanto que os

oceanos foram contaminados

e estão morrendo – 70% dos

mares já são desérticos em suas

extensões e as águas dos rios estão

completamente impróprias para o

consumo. Obrigada a produzir cada

vez mais, a terra foi envenenada

por bilhões de toneladas de

adubos químicos, pesticidas e

inseticidas. Todos os ecossistemas

estão em desequilíbrio, e nossa

extinção está mais próxima do

que muitos imaginam. Por isso,

Jesus deverá apressar a sua vinda;

caso contrário, não teremos mais

lar para viver. O Espírito Santo

tem nos conscientizado sobre a

urgência da reação do planeta;

e dessa urgência nasceram sete

livros que compõem a coleção

Planeta Esperança, escrita em

apenas cinco meses.

Evangélico, num sentido

geral, também tem consciência

ecológica ou a mente dos crentes

está mais voltada para motivos

espirituais?

As antigas gerações de

evangélicos estavam mais

preocupadas com motivos

espirituais, mas as novas veem

as coisas com outros olhos. É

por isso que o Espírito Santo nos

deu esses livros, com a intenção

de trazer uma nova perspectiva

e consciência dos problemas que

todos irão passar caso não haja

uma mudança de comportamento.

Precisamos amar a nossa linda

joia azul chamada Terra. Quem

preserva nem sempre ama, mas

quem ama certamente preserva.

Não estamos aqui esperando as

desgraças do Apocalipse, mas

vivendo maravilhosamente e

aguardando a vinda do Senhor.

Questões de ordem social,

ambiental, humanitária, enfim,

também devem fazer parte do

cotidiano das igrejas?

Hoje, muito mais do que antes.

Não se tratam apenas de questões

humanas, mas espirituais, e as

igrejas precisam adquirir novas

perspectivas ministeriais. Juntar

a mensagem bíblica com a

necessidade urgente de mudar

os rumos das políticas é nossa

responsabilidade. Eu tenho feito

isso em todos os lugares onde

ministro, e o resultado tem sido

impactante. O Espírito Santo irá

levantar uma nova geração de

preservadores dentro das igrejas;

afinal, nossa mensagem é muito

mais forte do que as palavras dos

ambientalistas – eles também

precisam de ajuda.

“Visões e

doutrinas

variadas levam

vantagem

sobre uma

doutrina

fechada e

estanque”

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nós mesmos. Embora nossa

existência esteja em rota de

extinção, os governos não estão

preocupados com nada. Basta

ver as condições e os descasos

sociais, como o surgimento

de cracolândias por todos os

lados. Se no meio humano, eles

agem assim, o que dirá então

em relação ao meio ambiente? É

realmente vergonhosa a postura

dos governos, e infelizmente

muitas igrejas também não agem

de maneira muito diferente.

Diante dessas ponderações,

você não é a favor de pastores

na política?

Sou contra. Lugar de pastor

é na igreja cuidando de seus

rebanhos. Se eles querem se

candidatar a cargos políticos,

que larguem o ministério. Porém,

vejo como necessidade que haja

candidatos eleitos pelas igrejas

para proteger os interesses do

povo de Deus.

Como é o seu relacionamento

com os principais líderes

evangélicos do país?

Não disponho de tempo para

caminhar junto com a maioria

deles, mas não tenho qualquer

restrição. Como tudo na vida,

concordamos em alguns pontos

e discordamos em outros. O que

importa, no entanto, é que somos

irmãos e lutamos no mesmo

exército.

Alguma consideração final?

Nossa mensagem é urgente,

agora não somente pela realidade

espiritual da salvação ou

perdição eterna, mas também

pela destruição terrestre que

se aproxima rapidamente nos

horizontes da nossa fugaz

história. Cabe a nós, filhos de

Deus, mudar essa realidade. Só

que por enquanto, infelizmente

temos falhado. Que Deus abençoe

a todas as igrejas, pastores e

líderes, em nome de Jesus!

Praticar ações de cunho social

não interfere em assuntos

inerentes ao poder público?

Alguns pensam assim, mas eu

creio que não. Todo governo sofre

de uma incapacidade operacional

doentia. A corrupção, encapuzada

pela ineficiência e dominada

pela inconsciência faz doer o

coração. Não podemos permitir

que as coisas continuem assim:

ou nos apresentamos e fazemos

nossa parte, ou assistiremos os

principais ecossistemas naturais

morrerem diante de nossos olhos.

O poder público é hipócrita e

ineficiente, a justiça está torcida,

o direito invertido, e as questões

sociais e ambientais não parecem

importantes a homens que pensam

somente em si próprios. Com

isso, os mais afetados seremos

“Todo governo

sofre de uma

incapacidade

operacional

doentia. A

corrupção,

encapuzada

pela

inefi ciência e

dominada pela

inconsciência

faz doer o

coração”

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Sucesso sem PolêmicaÉ

possível fazer sucesso sem polêmica! Ape-nas com a Palavra. Essa tem sido a postura

adotada pelo Pastor Walter Bru-nelli (58) em seu Programa TV Bereana, exibido pela Rede Gos-pel de segunda a sexta às 22:30 h. O nome do programa, faz alusão à Igreja Assembleia de Deus Be-reana, presidida por ele, baseado no texto de Atos 17:10 e 11, que apresenta o povo de Beréia, co-nhecido por seu compromisso e envolvimento com a Palavra de Deus. “Esse tem sido o foco prin-cipal adotado pela Igreja, ao longo de seus 25 anos”, afi rma o Pastor! Com 34 anos de ministério, WB nunca teve facilidades em sua caminhada. Iniciou a Igreja com sua esposa Márcia, em uma sala de aula da Escola Superior de Teologia Evangélica – ESTE, tam-bém fundada pelo casal. Juntos, enfrentaram todos os desafi os de se iniciar um ministério sem recursos, porém, sem abrir mão das suas convicções doutrinárias por “ventos” que costumam faci-litar o crescimento. “Não negocio minhas convicções para ser popular: tenho compromisso com a Verdade”.

O Pr. WB é membro de uma família de pastores, tradicional da Assembleia de Deus. Orgu-lha-se de ter sido apresentado

pelo pastor Cícero Canuto de Lima quando nasceu e de ter sido criado na Assembleia de Deus do Ipiranga, onde, seu pastor, Alfredo Reikdal, era homem dedicado à Palavra de Deus. “Meu pastor jamais ousava fazer qualquer afi rmação que não tivesse respaldo seguro nas Escrituras Sagradas. Era es-tudioso da Bíblia. Recebi dele este legado”, afi rma WB.

O Pastor mostra preocupa-ções, mas também alimenta sonhos com a igreja. O que lhe preocupa é o rumo que a Igreja de Cristo tem tomado e desabafa: “Se de acordo com os dados do IBGE, seremos a maioria da população no Brasil em 2020, qual será o nosso perfi l, à luz do que presenciamos hoje? Vivemos os extremos da ultra-

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espiritualidade e, ao mesmo tempo, da secularização, com o apego de-masiado aos bens da Terra. É preciso realinhar a Igreja para que chegue mais preparada para esse tempo”.Pensando nisso, realizou recente-mente, com grande sucesso, um seminário de Escatologia no audi-tório de sua igreja, com a partici-pação dos Pastores Hermes Men-des e Magno Paganelli. O intuito desse evento, foi resgatar valores éticos e espirituais, de uma Igreja pós-moderna que já não se preo-cupa tanto com o arrebatamento.Quanto à ética, há vários aspec-tos que precisam ser revistos. WB lembra: “no passado bastava dizer que era evangélico para que as portas se abrissem para o cré-

dito e até para o emprego; hoje, infelizmente esse adjetivo já não é a melhor recomendação; não se dava cheque sem fundos, não se faltava com a palavra e irmão não levava irmão aos tribunais”. Quanto à liturgia, lamenta: “os cultos tomaram forma de show e até de circo. Há muitos ‘artistas’ e pregadores que exploram o povo de Deus”. Com respeito à teologia, desafi a: “se os nossos pastores se submetessem a um exame para testar o seu nível de conhecimento bíblico-teológico, muitos teriam que voltar para o seminário por-que não sabem, sequer, distinguir entre as doutrinas e as promessas do Antigo Testamento com as do Novo Testamento”, o que está

claro nos discursos atuais. Sonha com um grande aviva-mento que mobilize as igrejas, não em torno de personalidades, mas de Cristo; um avivamento que ressalte o verdadeiro amor, não esse pietismo piegas que adota linguagem infantil para expressá-lo, mas atitudes sérias e comprometidas com a dor do outro; um avivamento que traga fome pela Palavra de Deus; que traga verdadeira santidade e es-piritualidade que se traduzam em testemunho de vida cristã e em conversão de almas.

É possível conferir esse modo de pensar do Pr. WB, pessoalmen-te aos domingos em sua igreja! Fonte: Portal Bereana

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Romney Cruz é consultor em Marketing e Administração, e pastor no Ministério Gilearde em Vila Velha (ES) (www.pregandoapalavra.com.br)

O P I N I Ã O

Liberdade: anseio das

nações

“Por muito

tempo, a

razão de ser

de uma nação

foi esquecida,

principalmente

no Oriente

Médio, onde

somente o

desejo das

dinastias é

prezado e

respeitado”

“Abominação é aos

reis praticarem

impiedade,

porque com justiça é que se

estabelece o trono.”

(Pv 16.12)

Arrebatados, entorpecidos

e alucinados pelo poder

supremo, os líderes no

mundo árabe se acham acima

do bem e do mal. Há muito

tempo governando sem

questionamentos, sentem-

se donos de sua pátria

e seu povo; agindo sem

prerrogativas de avaliação,

consideram-se detentores

do poder de definição até

mesmo da vida e da morte.

Por décadas eles foram

inquestionáveis, imbatíveis

e irrevogáveis, fizeram

carreira na liderança a ponto

de se acharem no direito de

aniquilar qualquer um que

se oponha às suas normas e

regras ditatoriais.

Vivemos a era da

globalização, todas as nações

têm seus pontos positivos

e negativos. Enquanto

mais visualizáveis do que

outrora. Nessa busca pelo

equilíbrio da vida, os povos

começaram a questionar os

extremos que os regem. Por

muito tempo, a razão de ser

de uma nação foi esquecida,

principalmente no Oriente

Médio, onde somente o desejo

das dinastias é prezado e

respeitado. Quanto ao povo,

é massacrado, desrespeitado,

ultrajado, subjugado,

humilhado... A maioria tem

que se render à minoria, e os

cidadãos se tornam refém de

seus próprios líderes.

Os conceitos, regras e

práticas tão divulgadas pelos

ditadores – que os pregam

como costume da nação

– começou a ser desnudado,

como imposições absorvidas

pela falta do direito ao povo

de revelar seu verdadeiro

sentimento. Independente de

língua, raça ou cultura, todo

ser humano quer ser livre,

ter o direito de ir e vir, de

escolher periodicamente sua

liderança, de ter a justiça

como parâmetro principal

algumas são liberais demais,

outras permanecem presas ao

extremo; contudo, pelo acesso

à informação, os pontos de

equilíbrio da vida, das ações

e relações humanas são, hoje,

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31

No Bahrein, tanques do

exército foram enviados

para os arredores da praça

de Manama, onde as forças

de segurança dispersaram

os manifestantes contra a

monarquia vigente há duzentos

anos, provocando quatro

mortes.”

A crise é um fato, e a

essência dessa crise é uma

forte demonstração de que

todos os povos do planeta

anseiam serem governados

por justiça – não importa se

por brancos, negros, amarelos,

orientais... Afinal, somos

todos seres humanos.

Portanto, que caiam os

ditadores e se levantem

governantes cientes de que

as nações não são suas

propriedades particulares, mas

terras felizes para se viver em

ao líder da oposição, Mir

Mousavi, e houve incidentes

entre manifestantes e forças

de segurança.

Na Líbia, o “dia da

raiva” foi marcado por

protestos, repressão e morte

de quatro pessoas na cidade

de Al Baida e em Benghazi,

segunda maior cidade.

Centenas saíram às ruas

para exigirem a demissão de

Kadafi e do seu governo.

Em Saana, capital do

Iêmen, as manifestações

continuam orquestradas

sobre tudo por estudantes

e militantes que apelam

à mobilização através

da Internet. Milhares de

estudantes e advogados

tentaram chegar à Praça

Tahir, que tem o mesmo nome

da do Cairo, mas foram

impedidos pelas forças de

segurança.

de sua legislação. Por esse

grito silencioso preso na

garganta árabe, é que temos

assistido nos últimos dias a

tantos e severos conflitos.

É a busca pela democracia

– como citado no artigo Os

Acontecimentos no Mundo

Árabe, de Eleazar Van-

Dúnem, publicado no site

Jornal de Angola:

“Após a queda dos

presidentes da Tunísia

e do Egito, continua a

incerteza no mundo árabe.

O Irã do aiatolá Khameney

e Amadinejad, a Líbia de

Kadafi, o Iêmen de Abdullah

e o Bahrein de Al Khalifa

são os novos centros de

manifestações em prol da

democracia.

No Irã, manifestantes

gritaram frases como “morte

ao ditador”, prestaram apoio

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32

E VA N G E L I S M O

Com apoio da JMN, projeto de

evangelização de comunidade indígena

amazonense prevê a implantação de igrejas

ministradas pelos próprios nativos

Desbravando a fé d

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

“Antes que o homem aqui

chegasse, as terras bra-

sileiras eram habitadas

e amadas por mais de 3 milhões de

índios”; ou seja, Todo Dia Era Dia de

Índio, como diz a letra da música do

cantor e compositor carioca Jorge Ben

Jor. Agora, eles só têm um dia para

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comemorar. Tudo começou em 19 de

abril de 1940, no México, quando os

índios locais recusaram o convite para

participar do I Congresso Indigenista

Interamericano, por serem constante-

mente perseguidos e desrespeitados

pelos chamados “homens brancos”.

Apesar – ou, talvez, em virtude – da

recusa, o evento ganhou notoriedade

histórica e, desde então, a data acabou

sendo adotada como o Dia do Índio em

todo o continente americano – no Brasil,

a Lei nº 5.540 foi assinada três anos mais

tarde, mais precisamente em 2 de junho

de 1943 pelo presidente Getúlio Vargas.

Sim, os índios passaram a comemorar o

seu dia e, ao menos no papel, tiveram

seus direitos assegurados. Somente nas

linhas; afi nal, na prática a situação não é

lá muito favorável, a começar pelos nú-

meros. De acordo com o Departamento

de Assuntos Indígenas da Associação

de Missões Transculturais Brasileiras

(AMTB), entidade não governamental

de caráter evangelística, atualmente a

população indígena em solo brasileiro

não passa muito de 600 mil – 340 et-

nias, quatro “possivelmente” extintas –,

dos quais 52% vivem em aldeamentos

e 48% em regiões urbanizadas ou em

ALDEIA BOM CAMINHO, EM TABATINGA (AM): uma comunidade 100% evangelizada

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33

em 2009. No caso específi co da Aldeia

Bom Caminho, também falta amparo

por parte do órgão federal; pelo menos

na concepção de Eli Leão Catachun-

ga. “Indiretamente, eles parecem ser

contra a implantação do movimento

evangélico”, acusa.

Para compor a matéria Pelo Direito

de Pregar [edição 111, 2005], a revista

ECLÉSIA apurou que o trabalho de

evangelização entre os povos nativos é,

para a Funai, uma ameaça à sua integri-

dade; daí, o motivo de se desenrolarem

acirradas discussões com as entidades

cristãs. Para apaziguar, a oração do pas-

tor Valdir Soares é bastante oportuna:

“Que num breve futuro, possamos falar

a todo mundo que, em nosso Brasil, os

indígenas são verdadeiramente livres, e

que Jesus é o Senhor e Salvador de suas

vidas”, amém.

é dos tikunasvias de urbanização. E são os que po-

voam as aldeias, muitos ainda tratados

como “selvagens” por grande parcela

da sociedade, que têm despertado

maior atenção de ativistas de movimen-

tos sociais, militantes ambientalistas e

dezenas de entidades de classes, sejam

relacionadas ao meio ambiente, direitos

humanos ou até mesmo por questões

espirituais. Afi nal, para as associações

missionárias os povos não alcançados

carecem, e muito, de orientação reli-

giosa, independente de raça ou de quão

distante estejam assentados.

Braço ministerial da Igreja Batista

e engajada no propósito de direcionar

as comunidades indígenas pelas tri-

lhas da salvação, a Junta de Missões

Nacionais é uma das entidades cristãs

mais atuantes na região amazônica. Na

Aldeia Bom Caminho, em Tabatinga

(AM), a JMN não tem medido esforços

para colaborar no desenvolvimento do

Projeto Tikuna que, entre as estratégias

de evangelização, prevê a criação de

núcleos de estudos bíblicos nos lares

e a formação de líderes devidamente

capacitados biblicamente e com visão

multiplicadora. Se essa é a sementinha

que vem sendo cultivada, a implantação,

num curto prazo, de igrejas evangéli-

cas pastoreadas pelos próprios nativos

irá, de fato, comprovar se a terra é tão

fértil para o evangelismo como é para a

agricultura. Empecilhos, claro, existem;

contudo, para suplantar os desafi os os

missionários da JMN têm a seu favor

a fé e as parcerias mantidas com insti-

tuições unidas pelo mesmo objetivo. “A

primeira grande difi culdade consiste em

disponibilizar material humano, devida-

mente treinado e preparado transcultu-

ralmente”, afi rma Valdir Soares da Silva,

coordenador regional da JMN – Regiões

Centro-Oeste/Norte. Entre as parceiras,

o pastor cita a Associação Linguística

Evangélica Missionária (ALEM), ou

Missão Além, que oferece orientação e

preparo para voluntários em sua sede, lá

no Planalto Central.

Pelos “bons” caminhos – Com uma

população de mais de 40 mil índios, a

etnia tikuna é a maior do Brasil e está

distribuída em 145 aldeias, das quais

metade nunca teve qualquer acesso à

Palavra. Não é o que acontece na Aldeia

Bom Caminho, onde praticamente todos

os 1200 índios estão sendo evangeliza-

dos. É lá que vive Eli Leão Catachunga,

um dos líderes da comunidade; aliás,

há tempos que ele deixou de ser mais

um membro da tribo para se tornar

praticamente uma unanimidade entre os

“irmãos” indígenas. Pastor e vice-presi-

dente do Conselho Nacional de Pastores

e Líderes Evangélicos Indígenas (CON-

PLEI), suas atividades, agora, vão além

de cuidar dos interesses comunitários

e das terras demarcadas que, por lei,

pertencem a seu povo. “Não podemos

nos esquecer das necessidades sociais

e da preservação do meio ambiente,

mas o nosso grande propósito é a evan-

gelização”, afi rma. Para isso, ele conta

com a ajuda dos missionários e crê no

sucesso do Projeto Tikuna. “A gente tem

o apoio ministerial e fi nanceiro da JMN,

e graças a Deus não encontramos tantas

difi culdades no trabalho de evangeliza-

ção do nosso povo”, comemora.

Criada na década de 1970 em substi-

tuição ao Sistema de Proteção ao Índio

(SPI), a Fundação Nacional do Índio

(Funai) tem como missão primordial

melhorar a qualidade de vida das

populações indígenas, protegendo as

comunidades e terras por elas tradicio-

nalmente ocupadas. No entanto, talvez

pela vastidão geográfi ca do país, nem

sempre a fundação consegue cumprir

à risca seus objetivos, e vez ou outra

acaba se esbarrando em confl itos de

interesses diversos e difusos. Que o di-

gam os índios macuxis, que há alguns

anos se engalfi nharam com fazendeiros

na Raposa Serra do Sol, em Roraima;

demarcada como terras indígenas em

1993, a reserva só foi desocupada pe-

los “homens brancos” por decisão fi nal

do Supremo Tribunal Federal (STF),

LÍDER INDÍGENA E PASTOR EVANGÉLICO: responsabilidade em dobro para Eli Leão Catachunga

COORDENADOR REGINAL DA JMN, o pastor Valdir Soares da Silva destaca

a necessidade de uma preparação transcultural para o trabalho de missões

nas comunidades indígenas

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34

é escritor e um

D I S C I P U L A D O

IDE e fazeidiscípulos

“Nada do que

façamos fará

com que Deus

nos ame mais;

nada do que não

façamos fará

com que Deus

nos ame menos”

Após Jesus ter sido

crucifi cado, José de

Arimatéia vai até Pilatos

interceder pelo seu corpo. Pilatos

aceita o pedido e ordena que o

corpo seja entregue a José, que o

enrola num pano limpo de linho e

o deposita num túmulo novo; em

seguida, arrasta uma grande pedra

para a entrada do sepulcro e se

retira (Mt 27.57-66). No terceiro

dia, conforme a profecia, Jesus

ressuscita. Um anjo do Senhor

desce do céu e remove a pedra.

Seu aspecto é como um relâmpago,

e sua veste alva como a neve.

Os guardas fi cam apavorados; as

duas mulheres – Maria Madalena

e a outra Maria, como a Bíblia

a chama – também se espantam

com tal episódio. Então, o anjo

do Senhor se dirige a elas e diz:

“Não tenhais medo; pois eu sei que

buscais a Jesus, que foi crucifi cado.

Ele não está aqui, porque já

ressuscitou, como havia dito.

Vinde, vede o lugar onde o Senhor

jazia. Ide, pois, imediatamente, e

dizei aos seus discípulos que já

ressuscitou dentre os mortos. E eis

que ele vai adiante de vós para a

Galileia; ali o vereis. Eis que eu

vo-lo tenho dito” (Mt 28.5-7).

Após regressarem, Jesus

aparece aos discípulos no monte

na Galileia como ele mesmo

havia designado. Tal momento é

tido como a Grande Comissão.

Diz Jesus: “É me dado todo o

poder no céu e na terra. Portanto

ide, fazei discípulos de todas as

nações, batizando-os em nome do

Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”

(Mt 28.18-19).

Segundo a Bíblia, o desejo de

Deus é que todos os homens sejam

salvos. Deus, que é o dono de tudo

e que tudo pode, só não tem poder

sobre duas coisas: nossa própria

vontade e de deixar de nos amar.

Ele nos deu o livre arbítrio, o poder

de decisão. O Espírito Santo é um

cavalheiro; não invade – pede licença.

Jesus não age pela nossa decisão, mas

reage diante dela. Se o obedecermos,

experimentaremos o melhor da terra.

Jesus Cristo, em graça, também não

pode deixar de nos amar. Ficar preso

à cruz foi a manifestação real de seu

amor pela humanidade. Nada do

que façamos fará com que Deus nos

ame mais; nada do que não façamos

fará com que Deus nos ame menos.

Disse o Senhor a Jeremias “Com

amor eterno te amei...” (Jr 31.3).

Diz o apóstolo João, em 1Jo 4.8,

parafraseando essa passagem: “Deus

é amor”. Mas na Grande Comissão

Jesus nos deixou uma ordem, uma

missão. Cabe lembrar que não foi

uma opção a nós outorgada. Ele não

disse: “Se possível façam discípulos.

Se possível, falem do meu amor.

Quando não tiverem nada para fazer,

anunciem o Evangelho”. Não! Jesus

nos ordena, não como alternativa,

mas como mandamento que precisa

ser cumprido.

E o IDE signifi ca que cada um

de nós tem um compromisso como

proclamadores das boas novas. O

IDE, que ainda é válido para essa

geração, diz que devemos exercer

nosso papel de mensageiros de seu

amor com dedicação. Foi uma das

últimas determinações deixadas

por Jesus a seus discípulos antes

da ascensão aos céus: façam outros

discípulos.

Um seguidor de Jesus é capaz

de cumprir o IDE, mas somente um

discípulo é capaz de fazer outros

discípulos. Ser discípulo não é se

tornar um religioso, mas entender

que em nossos lábios está uma

palavra de cura, que temos palavras

que podem transformar vidas, que

temos um amor que nos supre

quando nos sentimos só, que nos

liberta quando nos sentimos cativos,

que nos aceita do jeito que somos.

Portanto: IDE e fazei discípulos.

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36

Maria de Fátima M. de Carvalho é escritora, advogada, palestrante e mestre em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba

L U G A R D E M U L H E R

Quem escreveu o Quarto Evangelho?

(Parte 2)

“Não há nada

no Novo

Testamento

que

fundamente

as hipóteses

de que Maria

Madalena

ou Lázaro

tenham sido

autores

do Quarto

Evangelho”

Na edição anterior,

destacamos sete

evidências que

ratificam a autoria joanina

para o Quarto Evangelho.

Encontramos, todavia,

outras correntes que

colocam dúvidas nessa

autoria. Para uns, o anônimo

discípulo amado, seu autor,

era Maria Madalena, e

que isso foi ocultado por

questões de gênero, pois a

Igreja Católica, detentora

da guarda dos principais

documentos da história do

cristianismo, não admite a

liderança de mulheres. E

fundamentam sua hipótese

no argumento de que os

relatos nele contidos acerca

da ressurreição de Jesus

só poderiam ser narrados

por alguém que houvesse

vivenciado a cena e não

apenas ouvido de terceiros.

Outros afirmam, por

analogia, que seu autor teria

sido Lázaro de Betânia,

porque nele está escrito que

Jesus o amava. Contudo,

não encontramos respaldo

Madalena ser a autora do

Quarto Evangelho implicaria

na inexistência do apóstolo

João, o que é totalmente

impossível, pois seu nome e

trabalho estão amplamente

divulgados no Novo

Testamento;

2) No interrogatório de

Jesus, o autor do Quarto

Evangelho afirma que entrou

na sala do sumo sacerdote

por ser seu conhecido. Os

que defendem a autoria de

Maria Madalena argumentam

que, sendo João um pescador,

não podia ser conhecido de

tal autoridade. Entretanto,

sabendo-se que João era

primo de Jesus, e que sua

mãe era parenta de Isabel que

pertencia à família sacerdotal,

é aceitável que ambos se

conhecessem. Impossível

imaginar a cena com Maria

Madalena! No rigor da lei

judaica, mulher ter livre

acesso à sala de audiências?

3) Na crucificação, quando

Jesus entregou sua mãe aos

cuidados do discípulo amado,

a própria expressão de gênero

no Novo Testamento para tais

argumentos:

Da impossibilidade de

Maria Madalena ter sido a

autora do Quarto Evangelho:

1) A hipótese de Maria

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37

antagônica. E Marta, sua

corajosa hospedeira, dava-lhe

abrigo e alimentos mesmo

sabendo dos riscos que a sua

casa corria diante da fúria

das autoridades judaicas que

queriam matá-lo;

6) Foi o apelo das irmãs

que fez Jesus viajar até

Betânia para socorrer

Lázaro, e foi a dor delas

que arrancou lágrimas dos

seus olhos e o moveram na

operação do grande milagre

da ressurreição.

O silogismo da autoria

joanina:

Não há nada no Novo

Testamento que fundamente

as hipóteses de que Maria

Madalena ou Lázaro

tenham sido autores do

Quarto Evangelho. Mas,

nas premissas a seguir

encontramos sua irrefutável

identificação:

1) Se o Quarto Evangelho

não menciona o apóstolo

João, mas os sinópticos o

mencionam e o declaram

um discípulo a quem Jesus

chamou, e que o seguiu, e

se fez presente em todos os

seus atos, inclusive na última

Ceia;

2) E se o Quarto

Evangelho menciona um

anônimo discípulo amado

que seguiu a Jesus e se

fez presente em todos os

seus atos, inclusive na

última Ceia, o qual não é

mencionado em nenhum dos

sinópticos;

3) Esclarecida está a

questão: o discípulo amado

do Quarto Evangelho é o

apóstolo João mencionado

nos evangelhos sinópticos.

E clara está a conclusão: o

autor do Quarto Evangelho,

que se identifica como o

discípulo amado, não é outro,

nu) e lançou-se ao mar” (Jo

21.7). Tal relato é suficiente

para entendermos que o

discípulo amado não era

Maria Madalena, mas sim,

o apóstolo João. Estaria ela

pescando com os discípulos?

Ficaria Pedro nu na presença

dela? Não, não! Esses relatos

demonstram a impossibilidade

do Quarto Evangelho ter sido

escrito por Maria Madalena.

Teria sido escrito por Lázaro?

Os registros contidos no

Novo Testamento também

não são favoráveis a esse

entendimento:

Os argumentos da

impossibilidade da autoria de

Lázaro:

1) O autor do Quarto

Evangelho era um pescador

galileu. O judeu Lázaro não

era pescador;

2) Os sinópticos não falam

sobre Lázaro, mas apenas

sobre Marta e Maria, suas

irmãs. Só o Quarto Evangelho

o menciona, e apenas nos

capítulos que narram sua

ressurreição, e a unção que

Jesus recebera em Betânia;

3) Ele não é chamado de

discípulo, mas de amigo;

4) Ao contrário do

discípulo amado, que

testificou e vivenciou tudo

quanto Jesus fez e falou,

porque o seguia aonde ele ia,

Lázaro só se encontrava com

Jesus quando ia para Betânia;

5) Todos os evangelhos

afirmam que em Betânia

Jesus se hospedava na casa

de Marta e Maria. Mas era

Marta quem o recebia! Ela era

a dona da casa. E o Quarto

Evangelho afirma literalmente

que “Jesus amava a Maria, e

a sua irmã, e a Lázaro” (Jo

11.5). Portanto, não era só a

Lázaro que ele amava, mas

toda a família, que era única

em meio a uma multidão

que ele usou, indica que se

tratava de um homem e não

mulher;

4) Embora o relato da

ressurreição contenha

palavras textuais de Maria

Madalena, é elementar

que os discípulos a

tenham interrogado para

compreenderem o acontecido,

e que ela lhes tenha prestado

um relatório dos seus

passos até a constatação do

fenômeno, minuciando depois

o encontro com o ressurreto.

O autor do Quarto Evangelho

transcreveu ipsis litteris o

que ouviu da Madalena. E

certamente ouviu muitas

vezes, pois, segundo a

tradição oriental, ela foi para

Éfeso, em companhia da mãe

de Jesus e do apóstolo João, e

lá permaneceu até sua morte;

5) Ainda sobre a

ressurreição, o autor afirma

que após receberem a notícia,

Pedro e o outro discípulo

foram ao sepulcro, viram

o túmulo vazio e voltaram

perplexos para casa. O

texto afirma literalmente:

“Tornaram, pois, os

discípulos para casa” (Jo

20.10). E o versículo seguinte

diz: “E Maria estava chorando

fora, junto ao sepulcro” (Jo

20.11). Portanto, o discípulo

anônimo não pode ser Maria

Madalena, já que ele voltou

para casa e ela permaneceu no

sepulcro;

6) Na narrativa da pescaria

em Tiberíades realizada

por alguns discípulos,

inclusive Tiago e João,

ali denominados filhos de

Zebedeu, está afirmado

que Jesus apresentou-se na

praia e foi reconhecido pelo

discípulo amado que estava

no barco, o qual avisou a

Pedro, e que esse, “ouvindo

que era o Senhor, cingiu-se

com a túnica (porque estava

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I N T E R N A C I O N A L

O temor sob o O temor sobbramido do marbramido do m

Terremoto, tsunami e radiação: até Terremoto, tsunami e radiação: até

que ponto a tragédia que devastou o que ponto a tragédia que devastou o

Japão e levou o mundo a temer o pior Japão e levou o mundo a temer o pior

desastre nuclear de todos os tempos desastre nuclear de todos os tempos

são sinais do Apocalipse?são sinais do Apocalipse?

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39

O temor sob o b o bramido do maro mar

CENAS DA CATÁSTROFE dão clara sensação de que as palavras de Jesus sobre o fi m do mundo estão se cumprindo

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40

Os sinais do fi m nunca foram tantos e atingiram a

tanta gente. Mas os desastres naturais, segundo Jesus, seriam apenas alguns deles. Confi ra outros, também muito destacados pelos especialistas:

Então virá o fi m...Restauração de IsraelA criação do Estado de Israel em 1948 e a volta dos judeus à sua pátria são vistos por muitas correntes teológicas como dois dos mais importantes prenúncios da volta de Cristo. “A Bíblia declara que Jerusalém

Aquele começo de tarde de 11

de março parecia prenunciar

mais um fi m de dia como

outro qualquer no Japão. Tudo mudou

repentinamente. Em certo ponto a 32

quilômetros de profundidade no oceano

Pacífi co, cerca de 400 quilômetros de

distância da capital Tóquio, o chão do

mar tremeu. O deslocamento das pla-

cas tectônicas não provocou somente

o maior terremoto da história do país

e o quarto mais violento já registrado

no mundo, com magnitude de 9,0

na escala Richter. Ao interromper o

frágil equilíbrio das águas, originou

ondas gigantes, com alturas de até dez

metros e viajando a impressionantes

800 quilômetros por hora – a mesma

velocidade de um jato comercial.

Em apenas cinco minutos, o colossal

vagalhão, enegrecido pelos destroços

daquilo que carregava, avançou sobre

a cidade litorânea de Sendai, arrastando

tudo o que encontrava pela frente. Bar-

cos, carros, trens, casas e prédios eram

arrancados do solo como se fossem de

brinquedo, rodopiavam no turbilhão

das águas e terminavam amontoados

em cima de outros edifícios e viadutos.

Quem escapou ao abalo foi vitimado

pela fúria das águas. Mais de 14 mil

pessoas morreram na catástrofe e ou-

tras 11 mil continuam desaparecidas.

Diante de tamanho caos, os japoneses

e o mundo todo temiam pelo pior: um

acidente nuclear ainda mais grave que o

de Chernobyl, há 25 anos.

Longe de ser um evento isolado,

a catástrofe que devastou o Japão é

mais uma entre tantas fatalidades que

tomaram os noticiários atualmente. Di-

vide espaço com furacões nos Estados

Unidos, epidemias e fomes na África,

enchentes na Austrália e no Brasil. Não

importa se é rico ou pobre, todo mundo

sofre. Há pouco mais de um ano, o Haiti

experimentou um terremoto 900 vezes

mais fraco do que o japonês; porém,

muito mais destrutivo e com dez vezes

mais vítimas. Assim como também

aconteceu no tsunami que arrasou a

Indonésia, em 2004. Cenas que antes só

se viam em fi lmes de fi cção ou nas pá-

ginas de textos bíblicos como os livros

de Daniel e do Apocalipse são comuns

em todos os lugares. E, apesar de muita

gente insistir que tudo não passa de

“coincidência”, que esse tipo de even-

to “sempre existiu”, é inevitável não

se perguntar: as coisas podem piorar

ainda mais? Ou como temem os céticos

e suspeitam os crentes: seriam esses os

tais sinais que evidenciariam o fi m do

mundo e a volta de Jesus Cristo?

A polêmica escatológica passa

necessariamente pelo Evangelho de

Lucas e de Mateus. Neles, Jesus fala

sobre eventos futuros. Algumas pro-

fecias notadamente já se cumpriram,

ONDAS GIGANTES NA VELOCIDADE de um jato comercial: destruição em questão de minutos

DIV

ULG

ÃO

MARCOS STEFANO COUTO

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seria pisada pelos gentios até ser restaurada nas mãos dos judeus e que um dia eles voltariam a ser uma nação. Também devemos levar em conta que nunca tantos deles se converteram ao cristianismo como em nossa época”, diz o jornalista e professor Eguinaldo Hélio de Souza, autor do livro Israel – Povo Escolhido (Editora Vale da Benção).

Guerras e rumores de guerrasO século 20 presenciou duas grandes guerras mundiais e milhares de confl itos que deixaram um saldo de 200 milhões de mortos. No novo século, que mal começou, a belicosidade continua em alta, agora com o requinte da motivação religiosa e do terrorismo.

como aquela em que ele adverte os

habitantes de Jerusalém de que não

fi caria ali pedra sobre pedra: “Então,

os que estiverem na Judeia, fujam para

os montes; os que estiverem no meio da

cidade, saiam; e os que estiverem nos

campos não entrem nela. Porque dias

de vingança são estes, para que se cum-

pram todas as coisas que estão escritas”

(Lc 21.21-22).

Há quem veja nesse texto um du-

plo sentido, referindo-se também aos

últimos dias do mundo, mas ninguém

duvida que, originalmente, cumpriu-se

no ano 70, quando as tropas romanas

comandadas por Tito cercaram a cidade

e destruíram o Templo de Herodes. Se-

gundo o historiador Flávio Josefo, que

viveu no primeiro século, tão grande

foi o banho de sangue que os sacerdotes

foram mortos ainda em seus deveres.

Seus corpos se misturaram no altar

do sacrifício aos de muitos fi éis que

traziam ofertas, e de vários soldados

gentios que invadiram o

lugar. Outras profecias,

porém, só estariam se

realizando agora, como

guerras, terremotos, fome

e pestilências. Tudo ao

mesmo tempo e em vá-

rias partes do planeta.

Dia de Todos os Santos

– “E haverá fomes, e

pestes, e terremotos, em

vários em vários luga-

res” (Mt 24.7), foram as

palavras de Cristo aos

seus discípulos, que perguntavam sobre

quais seriam os sinais do fi m e de seu

retorno. Quem duvida que ele estivesse

falando sobre os dias atuais argumenta

que grandes terremotos sempre existi-

ram. O mais letal de que se tem notícia,

por exemplo, aconteceu em Shensi, re-

gião central da China, em 23 de janeiro

de 1556. Foi a pior tragédia natural de

todos os tempos, atingindo oito provín-

cias e acabando com 98 cidades, que

perderam cerca de 60% da população.

A maior parte das 830 mil vítimas foi

soterrada na queda de casas mal cons-

truídas. Literalmente representou o fi m,

mas só àquela região.

Tempos depois, um evento bastante

semelhante ao que ocorreu recentemen-

te no Japão devastou Lisboa. De forma

muito parecida com o que acontece hoje

em vários países, também naquele tem-

po a capital portuguesa experimentava

uma época de grande prosperidade, que

seus habitantes atribuíam à benção divi-

na. Assim, quando a terra tremeu sob o

oceano Atlântico, a uma centena de qui-

lômetros da costa, em 1º de novembro

de 1755, ninguém esperava. Em apenas

três horas, a cidade foi atingida por três

tremores distintos, o maior alcançando

o equivalente a 9,0 pontos na escala

Richter, que ainda nem existia como

instrumento de medição. Era o Dia de

Todos os Santos e, com o povo nas

igrejas, a mortandade foi ainda maior

por conta dos desabamentos.

Os lisboetas que conseguiram fugir

buscaram refúgio no cais, região aberta,

mas acabaram surpreendidos por gigan-

tescas ondas. O serviço que nem o ba-

lanço da terra nem o mar conseguiram

fazer, o fogo deu cabo, com um incên-

dio que consumiu casas, catedrais, palá-

cios e bibliotecas durante uma semana.

“Estima-se que 85% da cidade tenha

sido destruída. Mais de 70 mil pessoas

morreram, além das vítimas no litoral

do Marrocos, na África. Podemos dizer

que a modernidade começou naquele

momento. As pessoas não entendiam

como isso podia ter acontecido, já que

Deus estava com elas. O desastre minou

a fé e abriu caminho para o emergente

Iluminismo e a idade da razão, bem

menos otimista”, explica o historiador

Edward Paice, autor do livro A Ira de

Deus (Editora Record).

Mais uma vez falou-se em fi m de

mundo, mas o tempo passou e a vida

COMO SE FOSSEM DE BRINQUEDOS, carros se misturam a aviões de pequeno porte em Sendai

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Avanço da ciênciaNunca a humanidade acumulou tanto conhecimento como nos últimos 40 anos. Infelizmente é que muito dessas conquistas ainda é empregado na acumulação de riquezas, com produtos para serem vendidos, ou com tecnologia para as guerras. Só o que os Estados Unidos gastam com seu sofi sticado arsenal, mais de US$ 4 bilhões anuais, poderia evitar a morte de 600 mil crianças

de doenças como malária e fabricar vacinas para enfermidades como o sarampo, salvando outras 500 mil todos os anos.

PoluiçãoVá a qualquer metrópole moderna e você não precisará esperar uma erupção vulcânica para se sentir sufocado. Calcula-se que 3 milhões de pessoas morrem a cada ano em consequência direta ou indireta da poluição do ar. O meio ambiente

seguiu. Portugal e o pensamento oci-

dental nunca mais seriam os mesmos.

E outras tragédias vieram, e também

foram superadas. O que leva, então,

a pensar que dessa vez seja diferente?

“O que chama a atenção é o aumento

da frequência com que acontecem

esses eventos e também o efeito des-

truidor. Se fosse em qualquer outro

lugar que não o bem preparado Japão,

o número de vítimas bateria recordes.

Agora, há uma multiplicidade deles:

uma guerra atrás de outra, desastres,

terremotos em vários lugares, crises

econômicas. Tudo ao mesmo tempo,

exatamente como Jesus disse que

aconteceria”, explica o pastor e pes-

quisador Magno Paganelli, professor

do Seminário Batista do Sul do Brasil

(STBSB) e autor de obras como E En-

tão Virá o Fim (Editora Bompastor)

e Os Sinas da Volta de Cristo (Arte

Editorial).

Não se trata de mera opinião. De

acordo com uma pesquisa feita em

2005 pela BBC em 27 países, as ca-

tástrofes foram consideradas os even-

tos mais signifi cativos. Na ocasião, o

mesmo estudo listou 360 desastres

naturais que, comparados, são bem

menores do que os números atuais.

Só para se ter uma ideia, um levanta-

mento feito por historiadores mostra

que no século 19 não havia mais de

meia dúzia de episódios do gênero a

cada ano. Enquanto isso, num único

ano recente, o mundo experimentou

168 inundações, 70 tornados e fura-

cões, e duas dezenas de secas que

afetaram diretamente a vida de 154

milhões de pessoas.

Cinco graus e um pesadelo – “E

haverá sinais no sol e na lua e nas

estrelas; e na terra angústia das nações,

em perplexidade pelo bramido do mar

e das ondas” (Lc 21.25), já dizia Jesus

há quase 2 mil anos. No entanto,

pouca gente sabia o que era um

tsunami até 2004, quando um imenso

vagalhão destruiu a Indonésia. Depois

daquilo, essa expressão japonesa que

aposentou o tradicional “maremoto”

e signifi ca “onda que avança sobre a

costa” já foi falada nas Ilhas Samoa,

em 2009, quando deixou um rastro de

189 vítimas; novamente na Indonésia,

e agora no Japão. São apenas os mais

conhecidos de seus feitos, já que a cada

ano são registrados seis fenômenos,

e nem sempre com consequências

apenas para uma nação. Em 1960,

houve um que começou no Chile,

atravessou o oceano, passou pelo

Havaí, causando destruição, e chegou

a matar mais 200 pessoas no Japão.

Nos evangelhos, Cristo cita textu-

almente o dilúvio bíblico de Gênesis.

Um evento usado como paralelo ao fi m

dos tempos e que representou o juízo

divino contra a maldade humana. Mais

uma vez, há evidências de sobra que

mostram tudo o que vem acontecendo,

não como uma arbitrariedade de Deus,

mas como resultado da ação do homem.

Desde o século 18, quando o acúmulo

de gases na atmosfera foi intensifi cado

pela Revolução Industrial, a temperatu-

ra no mundo não para de aumentar. De

acordo com a Agência Internacional de

Energia, será 3,5º C mais alta até 2035

e, em 50 anos, poderá superar a casa

dos 5º C.

Por sua vez, esse aquecimento glo-

bal provoca o derretimento das calotas

polares. Hoje já é possível observar

gigantescos blocos de gelo se despren-

dendo na Antártica e no Ártico. Num

primeiro momento, alguns cientistas

apostam que esse degelo deve provo-

car ainda mais movimentos da crosta

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também sofre: 30 bilhões de toneladas de lixo são despejadas nele anualmente sem o menor tratamento e, em alguns casos, sem o mínimo cuidado.

FomeAs pessoas não querem só comida, mas a ONU aponta que 2 bilhões sofrem com sérias carências alimentares mundo afora. Só na África, 70% enfrentam graves riscos de carência de alimentos.

SedeA água talvez seja o mais valioso produto do mundo moderno. Atualmente, 2 bilhões ou 1/3 de todas as pessoas do planeta já padecem com a falta de água potável. Até 2050, segundo dados da última Conferência do Clima de Exeter, no Reino Unido, esse número aumentará em mais 3 bilhões. Antes disso, porém, há sérios riscos de confl itos pela posse e uso de reservas de água. O Brasil, que detém cerca de 10% de toda a água potável disponível no globo, poderá ser um dos palcos dessas disputas.

terrestre e, com isso, mais terremotos

e tsunamis. Os problemas não param

por aí. Pouca gente duvida que a li-

gação entre as fortes ondas de calor

e invernos rigorosíssimos não tenham

a ver com a elevação da temperatura

mundial. Ou que as epidemias, a ex-

tinção maciça de espécies animais e

vegetais sejam obra do acaso. Resul-

tado: clima descontrolado na Europa,

secas na África e tantas inundações

na Austrália e Ásia. A forma como as

mudanças no clima afetam o planeta

fi ca evidente na atual temporada de

tornados nos Estados Unidos – como

o Katrina, que devastou Nova Orleans,

em 2005 – com números históricos e

alarmantes. Em um único mês, o esta-

do do Alabama sofreu mais de 300, e

ainda aguarda pelo pior.

Se a tendência aponta para

invernos cada vez mais frios e verões

mais quentes em algumas regiões,

principalmente as temperadas, as

equatoriais sofrerão com o calor,

que provocará enormes êxodos

da população em busca de água.

Assim, a Amazônia brasileira seria

transformada num tipo de savana ou

cerrado, enquanto que os habitantes

do sertão nordestino, já quente e seco,

seriam forçados a abandonar suas

casas. “Não se trata de catastrofi smo,

mas de realidade. A última

Conferência do Clima de Exeter, no

Reino Unido, estimou que até 2050 o

mundo terá 150 milhões de refugiados

somente por causa do clima e escassez

de água. Na Bíblia, Isaías 30.26 prevê

aquecimento; Apocalipse 8.10 fala de

problemas com as águas, enquanto

que 6.6 cita racionamento de alimento.

É difícil não relacioná-las com os

problemas atuais”, aponta Paganelli.

Mais difícil, no entanto, é entender

o que signifi cam os tais “sinais no sol,

e na lua e nas estrelas”. Se a frase não

for entendida como metáfora, pode-

se pensar que se refi ra ao choque

de algum meteoro contra o planeta,

como nos fi lmes hollywoodianos do

tipo Impacto Profundo, que adoram

explorar o tema para falar do fi m

do mundo. “Sinais no sol podem

signifi car o aumento das tempestades

solares com suas descargas de

radiação eletromagnética. No

passado, elas danifi cavam linhas de

telégrafo. Imagine o que não podem

fazer diante de nossa dependência

tecnológica”, interpreta Paganelli.

Outra possibilidade pode estar

relacionada aos vulcões. Os cientistas

apontam que existem seis gigantes no

planeta: três nos Estados Unidos, um

no Japão, um na Nova Zelândia e um

na Indonésia. Em erupção, entre outros

estragos, qualquer um deles poderia

lançar uma nuvem de cinzas 3 mil

vezes maior que aquela que cobriu a

Europa após o islandês Eyjafjallajökull

entrar em atividade, em 2010. Dias

virariam noites por muito tempo e os

transportes aéreos e as comunicações

fi cariam interrompidos.

2012 – “Mas todas essas coisas são

o princípio das dores” (Mt 24.8). As

palavras de Jesus são assustadoras,

mas nesse sentido, blockbusters como

2012, que retrata o aquecimento glo-

bal e marca o fi m do mundo de acordo

com o calendário maia, têm certa razão.

Pontuado por catástrofes quase sobre-

naturais, como erupções de vulcões gi-

gantescos, mudança do pólo magnético

DEPOIS DA CATÁSTROFE JAPONESES se mobilizam à procura de sobreviventes e para limpar as áreas afetadas

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da Terra e fortíssimas tempestades so-

lares, a obra dá certa dimensão do que

poderá acontecer no futuro. Contudo, o

que existe em comum entre fantasia e

realidade fi ca por aí. É o próprio Cris-

to quem adverte que ninguém sabe “o

dia ou a hora em que tudo ocorrerá”.

Mesmo assim, até cristãos costumam

ignorar o aviso.

O mais novo surgiu com certo estar-

dalhaço no começo desse ano. A Family

Radio, dos Estados Unidos, está rodan-

do o país para divulgar que o juízo é

mais iminente do que os mais pessimis-

tas autores de Hollywood imaginavam

e está confi rmado para o próximo dia 21

de maio. Há semanas, ônibus de Belo

Horizonte e Rio de Janeiro circulam

com uma propaganda enigmática em

sua traseira: “21/05/2011: Deus vai tra-

zer o dia do julgamento”.

Em várias cidades, grupos

ligados à organização

circulam pelas ruas mais

movimentadas com placas

aludindo ao mesmo evento.

Para chegar a essa data, os adeptos

da Family Radio fazem verdadeiros

malabarismos com números e datas do

Livro Sagrado. Para eles, o juízo fi nal

começaria 7 mil anos depois do dilúvio,

que teria ocorrido em 4990 a.C.. Não é

o primeiro Apocalipse que o líder da

organização, o norte-americano Harold

Camping, tenta emplacar. Nos anos

1990, ele publicou um livro em que

dizia haver alta probabilidade de Cristo

voltar em 6 de setembro de 1994. Seus

adeptos se reuniram em uma cidade da

Califórnia para esperar o evento. E, cla-

ro, voltaram para casa decepcionados.

Mas não são somente a fanáticos

religiosos ou heréticos que as pala-

vras de Jesus são endereçadas. Tudo

ele disse a seus seguidores, a base da

nascente Igreja de Cristo, a mesma que

atualmente parece ter se esquecido da

advertência: “Vigiai, pois, porque nao

sabeis o dia nem a hora em que o Filho

do homem há de vir” (Mt 25.13). “In-

felizmente, muitos parecem mais pre-

ocupados em aproveitar cada vez mais

as benesses desse mundo. A mensagem

triunfalista engana quem chega a tantas

IMAGEM QUE CORREU O MUNDO: sinais que evidenciam o fi m da humanidade?

EDWARD PAICE, AUTOR DE A IRA DE DEUS: “O desastre [terremoto de Lisboa, em 1755] minou a fé e abriu caminho para o emergente Iluminismo e a idade da razão, bem menos otimista”

MAGNO PAGANELLI: “O QUE CHAMA a atenção é o aumento da frequência com que acontecem esses eventos e também o efeito destruidor”

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denominações neopentecostais, pois as

faz pensar que a única coisa pela qual

devem lutar são bênçãos passageiras e

prosperidade material”, alerta o pastor

e jornalista Eguinaldo Hélio de Souza,

professor do Seminário Teológico Vale

da Benção, em Araçariguama (SP).

Se aquilo que o mundo começa a

experimentar é apenas “o começo das

dores” e depois “o sol escurecerá, a lua

não brilhará mais, as estrelas cairão

do céu, os poderes celestes serão aba-

lados”, sinais tão enigmáticos quanto

terríveis, a ponto de fazer com que

“os homens procurem a morte e não

a encontrem”, também é verdade que

“aparecerá no céu o sinal do Filho do

homem”. Ou seja, a volta de Jesus, que

signifi ca não só destruição, mas salva-

ção, também está profetizada. O pro-

blema é que muitas igrejas e pregadores

preferem deixar esse detalhe de lado.

Afi nal, se isso ocorrer, como poderão

desfrutar de tantas promessas para o

aqui e o agora? “Temos que aprender a

viver com os olhos voltados à eternida-

de. Em 1 Coríntios 7.29-31, o apóstolo

Paulo descreve a atitude do cristão que

usa com consciência as coisas desse

mundo, todas passageiras. Só assim, ele

não corre o risco de trocar o eterno pelo

provisório. A ênfase na volta do Senhor

é um bom remédio para o materialismo

que tira da igreja o seu foco maior”,

encerra Souza, deixando claro que a

existência de um dia depois do ama-

nhã é mais do que uma emocionante

história do cinema. Pelo menos, para

quem realmente crê.

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Rumores de Rumores de mais guerrasmais guerras

Morte de Osama

bin Laden é

comemorada com

muita festa no

Ocidente, mas pode

ser o estopim para

novos e pesados

ataques terroristas

Na segunda-feira, 2 de maio de

2011, a sensação nos Estados

Unidos era de que uma página

da história acabava de ser virada. Com

uma frase de efeito – “A justiça foi

feita” –, o presidente Barack Obama

anunciou, em pronunciamento na vés-

pera, pela televisão, que o inimigo nú-

mero um da nação, o terrorista Osama

bin Laden, estava morto. Mentor dos

atentados de 11 de setembro de 2001 e

personagem mais destacado na guerra

entre as potências ocidentais e o fanatis-

mo islâmico, Bin Laden foi encontrado

pela inteligência norte-americana em

uma mansão na cidade de Abbottabad,

próxima a Islamabad, capital do Pa-

quistão. A operação promovida por um

grupo de soldados de elite foi bastante

rápida: em não mais do que 45 minutos,

eles invadiram o local e mataram o líder

da temida organização Al Qaeda em

uma troca de tiros. Apesar da festa geral

que se seguiu ao anúncio, muitas dúvi-

das ainda pairam no ar. Não em relação

à morte. Apesar da estranheza provo-

cada pelo anúncio do sepultamento do

corpo no mar, versão que muitos acham

fantasiosa, criada para evitar futuras

peregrinações ao real túmulo do líder

terrorista, e pela ausência de imagens

do corpo, exames de DNA confi rmaram

a identidade de Bin Laden. Problema

maior é em relação ao que vem pela

frente. O homem mais procurado do

mundo pode se tornar mais perigoso

morto do que vivo. Isso, porque sua

morte difi cilmente matará seu discurso

e deve infl amar ainda mais os radicais.

Enquanto os norte-americanos come-

moravam em seu país com cânticos

de júbilo, milhares de paquistaneses

tomavam as ruas gritando palavras de

ordem e declarando ódio eterno contra

os inimigos do Islã.

Mais do que um líder, Bin Laden

era um símbolo. E sua morte vem

sendo tratada pelos radicais como

martírio. Defi nição que deve infl amar

ainda mais tantas organizações que nem

eram ligadas ao saudita, como a Jihad

Islâmica Egípcia; o Grupo Combatente

Islâmico Líbio; o Exército Islâmico de

Aden, no Iêmen; a Jamaat al Tawhid

wal Jihad, do Iraque; Lashkar-Taiba e

Jaish-e-Muhammad, da Caxemira; o

Movimento Islâmico do Uzbequistão; o

Grupo Armado Islâmico, da Argélia; o

Grupo Abu Sayya, com sede na Malásia

e nas Filipinas; e o Jemaah Islamiya, do

sudeste asiático. Além da própria Al Qa-

eda, que já possui células em cada país

europeu e antes mesmo da morte de Bin

Laden já estava sob a liderança prática

do médico egípcio Ayman al-Zawahiri.

“Vingaremos sua morte. Lançaremos

ataques contra os governos norte-

americano e paquistanês, assim como

contra as forças de segurança, inimigas

do Islã”, declarou em entrevista o porta

voz do Movimento dos Talebans do Pa-

quistão (TTP), Ehsanullah Ehsan.

As autoridades dos Estados Unidos

já se preparam para novos ataques e

reforçam a segurança em aeroportos

e estações de trem, metrô e ônibus.

“É certo que os terroristas tentarão

se vingar e precisamos fi car atentos”,

declarou Leon Panetta, diretor da CIA.

Diante desse quadro de apreensão, a

guerra ao terror deve mesmo ganhar

novos capítulos. No século 21, ela

parece mesmo ser a face mais visível

e assustadora das profecias bíblicas a

respeito dos confl itos que se tornariam

um sinal da volta de Cristo e do fi m do

mundo. (Marcos Stefano Couto)

HERANÇA DO TERROR: MORTE DO líder da Al Qaeda infl ama ainda mais o ódio dos radicais muçulmanos contra as nações cristãs

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Aumento da Aumento da maldade, maldade, esfriamento esfriamento do amordo amorMassacre contra crianças na Escola

Tasso da Silveira, no Rio, coloca o país

no mapa das tragédias motivadas por

fanatismo religioso

Mesmo que algumas ve-

zes sejam ignorados por

muitos, há outros dois

sinais do fim dos tempos citados

por Jesus que são tão perturbadores

quanto os demais: o fanatismo re-

ligioso, personificado pelos “falsos

profetas que enganarão a muitos”

e a banalização do ódio, evidente

com o “aumento da iniquidade” e

o “esfriamento do amor” de tan-

tos. Poucas vezes esses dois sinais

estiveram tão presentes num só

momento quanto no dia 7 de abril

passado, quando Wellington Mene-

zes de Oliveira, de 23 anos, aden-

trou nas dependências da Escola

Tasso da Silveira, em Realengo,

no Rio de Janeiro. Na sala de aula,

ele colocou sua sacola sobre a mesa

da professora e, com um sorriso,

avisou aos estudantes da 8ª série:

“Vim dar uma palestra”. Apesar da

proximidade da semana de palestras

com ex-alunos, estudantes e docen-

te ficaram intrigados. Não houve

tempo para reação. Ele abriu sua

bolsa, sacou um revólver calibre 38

e atirou contra a cabeça de uma alu-

na, depois outra. Eram as primeiras

das 12 que matou a sangue frio, jus-

tificado por delírios religiosos e um

amargo gosto de vingança, antes de

se suicidar.

É inegável que o sofrimento do

rapaz começou na infância. Com a

morte da mãe natural, foi criado por

parentes. A adotiva era Testemunha

de Jeová e com ela Wellington

aprendeu a usar somente calças e

camisas sociais, mesmo quando ia

a festas da escola. Era desprezado

e maltratado por outros alunos. Po-

rém, nos últimos anos, com a morte

dessa mãe, a situação piorou. Se-

gundo parentes, ele começou uma

pesquisa obsessiva sobre armas e

organizações terroristas islâmicas

na internet. Passou a usar apenas

roupas pretas e deixou crescer a

barba. No Colégio Estadual Madre

Teresa de Calcutá, onde cursou o

Ensino Médio, ele escreveu em sua

ficha de 2004, no campo “religião”:

“Testemunha de Jeová”. Dois anos

depois, mudou para muçulmano.

“Ele não tem qualquer vínculo com

as mesquitas e sociedades benefi-

centes mantidas pela comunidade

muçulmana no Brasil”, apressou-se

em dizer, logo após a tragédia, Ja-

mel El Bacha, presidente da União

Nacional das Entidades Islâmicas

(UNI). Até por isso, o fanatismo

do rapaz choca ainda mais. Antes

de ficar desempregado e praticar

tiro ao alvo numa mata perto de sua

casa, ele costumava rabiscar bone-

cos em papéis, os quais chamava

de homens-bomba. A um primo

confidenciou: “Vou jogar um avião

contra o Cristo Redentor”.

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A carta que deixou como tes-

tamento e na qual expressa seu

desejo sobre como gostaria de

ser sepultado é igualmente cho-

cante. Nela, Wellington fala que

“impuros” não poderão tocá-los

sem luvas; somente “os castos ou

aqueles que perderam a castidade

após o casamento”. Também diz

que “nenhum fornicador ou adúl-

tero” deverá ter contato com seu

corpo e que aqueles que tomarem

conta de seu sepultamento deverão

banhá-lo, secá-lo e envolvê-lo,

totalmente despido, em um lençol

branco. Em um dos textos encon-

trados em sua casa, ele explicou

a origem dessas ideias. “Passo

umas quatro horas por dia lendo o

Alcorão, e algumas vezes também

medito no 11/9”, escreveu,

numa referência aos aten-

tados terroristas de 2001,

nos Estados Unidos.

E, realmente, o ritual

incomum de sepultamento

escolhido por ele lembra o tes-

tamento de Mohamed Atta, um

dos terroristas de 11 de setembro

– documento fácil de ser achado

na internet. Mas não somente isso.

Há elementos extraídos de textos

cristãos, tanto das Testemunhas de

Jeová quanto de um pastor adven-

tista, de onde, provavelmente, ti-

rou a menção de poder “dormir” ao

lado da mãe adotiva. É bom que se

diga que nenhum desses textos faz

qualquer apologia à violência ou a

ataques homicidas. São estudos so-

bre inferno, alma e espírito, como

todo o resto, encontrados na rede

mundial de computadores e distor-

cidos pela mente doentia do rapaz .

Sinais dos tempos e a confirmação

dos riscos do fanatismo religioso.

O Brasil, que antes só via esse

tipo de coisa pela televisão, acaba

de entrar para o mapa do terror..

(Marcos Stefano Couto)

FANATISMO RELIGIOSO NÃO É MAIS coisa da fi cção ou de outros países: prova disso aconteceu em escola de Realengo, no Rio, no começo de abril

“PASSO UMAS QUATRO HORAS POR DIA lendo o Alcorão, e algumas vezes também medito no 11/9”, escreveu Wellington Menezes de Oliveira, autor da barbárie de Realengo

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50

O B S E RVAT Ó R I O

Igreja ou picadeiro?

“O mais

importante de

um culto não

é a pregação,

não é outra

coisa senão

a adoração, o

louvor que fl ui

e um coração

quebrantado e

contrito”

Tenho grandes

preocupações com o

caminho que muitos

líderes religiosos estão seguindo

hoje em dia. Parece-me que

estamos desejando reinventar

a igreja, à nossa moda. Causa-

me também a impressão de

que esses líderes estão mais

interessados em manter o

auditório animado num frenesi

recheado de entretenimento.

Deus se torna, então, um mero

detalhe e não deve atrapalhar

o culto-show. Se uma “ovelha”

não pode participar ou está

desanimada, logo é descartada

e substituída por quem está

“interessado”. Afi nal, o show

não pode parar.

O sermão acaba sendo

transformado num emaranhado

de chavões que levam o povo

ao delírio, desafi ando-o a

“contribuir” mais para com

a “causa” – não posso dizer

que essa é a causa de Deus,

mas certamente é a do líder

e da igreja. A Bíblia também

se torna apenas um detalhe de

onde são sacados os versículos,

geralmente fora de contexto,

para legitimar e sacralizar a

palavra certeira do pregador.

O momento de louvor passa

a ser uma verdadeira obra de

arte mobilizada por artistas bem

“afi nados” com a harmonia

musical, mas sem garantias de

que estejam sintonizados com

o mestre, vivendo uma vida de

santidade. Pois, o que importam

são os resultados, a obra refi nada

do entretenimento aprovado pelo

público.

O ofertório, no caso de uma

igreja “de mercado”, é que acaba

sendo o clímax do “culto”. É

o momento quando você deve

demonstrar a sua fé pagando o

sacrifício por um bem maior, dando

para o “reino” – certamente do líder

e da igreja – aquilo que lhe é mais

precioso. Num teatro e num circo há

uma diferença, você paga antes de

entrar; aqui, é no meio do “show”.

Parece-me que o que se

considera é a lei de mercado em

que a demanda é a impulsora e

geradora das estratégicas adotadas.

Agradar o “cliente” custe o que

custar, para que ele encha de

dinheiro o caixa da denominação

e mantenha a sua fi delização no

rol de membros para pontuar as

estatísticas da igreja e do “sucesso”

do seu líder.

Igreja é muito mais do que isso,

culto é muito mais do que isso.

Aliás, não é nada disso. Igreja

somos nós, pessoas por quem Cristo

morreu e ressuscitou. Viver igreja

é viver em partilhamento de vida,

viver em comunhão, depender

uns dos outros, ser motivo de cura

interior mútua, estimular o próximo

a viver pela fé...

Culto, muito mais do que um

evento, é um estado de vida (Rm

12.1). Culto é resultado de uma

vida vivida diariamente aos pés

do mestre em todos os sentidos

– no aspecto pessoal e íntimo,

no matrimônio e família, na vida

profi ssional, na vida social etc. O

mais importante de um culto não é

a pregação, não é outra coisa senão

a adoração, o louvor que fl ui e um

coração quebrantado e contrito. Se

isso pode ser feito como obra de

artista muito bem, mas se não pode,

Deus aceitará do mesmo modo.

Portanto, temos que decidir se

vivemos a igreja e cultuamos a

partir dos princípios do Evangelho

ou se a transformamos num

picadeiro.

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C O M P O R TA M E N T O

O jejum ainda é válido para os dias

atuais? Como ele deve ser feito? Qual

a sua duração? Para encontrar as

respostas, ECLÉSIA acompanhou a

incrível consagração da missionária

Marlene Braga, da Igreja Batista do

Calvário, em Maricá, Rio de Janeiro

O desafi o dos 40 dias

MARCOS STEFANO COUTO

Considerado “a oração do cor-

po”, há milhares de anos que

o jejum é uma prática defen-

dida por diversas religiões. Também

na Bíblia, o ato de privar o organismo

de comida e bebida por certo tempo é

uma importante atividade espiritual,

uma forma de se aproximar de Deus e

receber suas bênçãos nas mais diversas

áreas da vida. Ana jejuou porque queria

ter um fi lho e Deus lhe deu o profeta

Samuel. O povo de Israel jejuava no

Dia da Expiação e em tempos de crise.

O apóstolo Paulo jejuou em seguida à

sua conversão na estrada de Damasco.

Já, a igreja de Antioquia jejuou antes de

enviar o próprio Paulo e Barnabé para a

primeira viagem missionária. Ao longo

da história, o jejum ainda é associado

a importantes avivamentos. Jonathan

Edwards privou-se de alimento durante

22 horas antes de pregar seu célebre

sermão Pecadores nas Mãos de um

Deus Irado. Quando percebia que seus

ouvintes não lhe davam ouvidos e man-

tinham os corações frios, o evangelista

Charles Finney logo interrompia os

trabalhos para proclamar um período

de jejum e oração. O jejum teve papel

determinante no início das atividades

da Missão da Rua Azusa, considerada

o catalisador do moderno movimento

pentecostal no século passado. Ultima-

mente, no entanto, muitas igrejas têm

identifi cado o jejum com o sacrifício,

coisa que já não tem mais espaço no

discurso triunfalista de várias denomi-

nações. Diante de tanto progresso em

pleno século 21, mesmo com o cres-

cimento da fé, ainda há espaço para o

jejum fora das páginas das Escrituras?

Para responder a essa pergunta, ECLÉ-

SIA foi convidada para acompanhar um

acontecimento bastante inusitado: um

jejum de 40 dias.

Normalmente, quem jejua o faz em

segredo. É o próprio Evangelho que

aconselha, comparando: “O que sua

mão direita faz, não saiba a esquerda”

(Mt 6.3). Mas no caso de Marlene da

Cruz Braga, de 52 anos, missionária da

Igreja Batista do Calvário, em Maricá,

no Rio de Janeiro, foi diferente. “Foi

o Senhor quem ordenou o jejum. Ele

também nos orientou a chamarmos

uma instituição médica de renome

para realizar exames periódicos e um

jornalista de uma publicação respeitada

para acompanhar o processo. A

princípio fi camos receosos por causa

do que Jesus declara na Bíblia, mas

não tivemos dúvidas de sua vontade.

Creio que Deus queira mostrar que ele

é o mesmo do passado, que não muda

e continua fazendo milagres”, explica o

pastor Carlos Augusto Bezerra de Faria,

líder da denominação, que acredita no

batismo com o Espírito Santo e no uso

sobrenatural de dons espirituais para os

dias atuais.

O jejum deveria começar às 17

TRINTA QUILOS A MENOS PARA “edifi car o corpo de Cristo e levar

muitos à salvação”: jejum não foi fácil para a missionária, mas, segundo ela, ordenado por Deus

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53

horas da sexta-feira, 17 de dezembro

de 2010, e só se encerrar às 17 horas

da quinta-feira, 27 de janeiro de 2011,

totalizando 40 períodos de 24

horas em que Marlene Braga

não comeria nem beberia. Um

desafi o e tanto para a simpá-

tica senhora, uma verdadeira

mãezona e que “come com

gosto”, segundo contam os

familiares e irmãos da igreja.

Mas não somente por isso.

Do ponto de vista médico, um

jejum prolongado pode afetar

o raciocínio, tornando-o lento

pela falta, principalmente, de glicose. E

esse é somente o primeiro sintoma de

problemas. É difícil estipular quanto

tempo uma pessoa aguenta sem comer,

já que o organismo acumula reservas

– as chamadas gordurinhas – para os

momentos de privação alimentícia.

Assim, dependendo do organismo, a

pessoa poderia passar semanas, meses

talvez, sem alimentos sólidos. Con-

tudo, o maior problema é a privação

de água, essencial para que o corpo

realize as funções básicas. Estudos já

demonstraram lesões renais sérias em

indivíduos que fi caram apenas 36 horas

sem ingerir líquidos. “Sem água, os rins

desencadeiam uma série de reações

para reter o líquido ainda existente no

corpo, o que resulta no aumento da

pressão arterial, expondo o praticante

do jejum a elevado risco de um colapso

cardiovascular, como AVC ou infarto”,

adverte o médico cardiologista e clíni-

co geral Rogério Ruiz, de São Paulo,

membro da organização Médicos de

Cristo. Com Marlene, a preocupação

era dupla, pois ela já sofre normal-

mente com problemas como diabetes

e pressão alta.

Moisés, Elias e Jesus – Apesar de ser

uma prática corriqueira e até incentivada

na Bíblia, os textos sagrados registram

apenas três casos de jejuns de 40 dias,

um número de simbolismo importante

para judeus e cristãos; afi nal, foi depois

de 40 dias que o dilúvio cessou e depois

de 40 anos de peregrinação no deserto

que o povo chegou à terra prometida.

O primeiro a jejuar todo esse tempo foi

Moisés, que segundo o livro do Êxodo,

esteve na presença divina, no Monte

Sinai, onde recebeu a aliança com Is-

rael e as tábuas dos Dez Mandamentos.

Depois foi a vez do profeta Elias, que

vivia uma verdadeira crise existencial e

já havia pedido a morte quando recebeu

uma refeição, comeu e ouviu a ordem

de um anjo para que caminhasse em je-

jum até o Monte Horebe. Mas nenhum

caso foi tão emblemático quanto o de

Jesus, que antes de começar seu minis-

tério público, passou 40 dias em jejum

no deserto, sob a tentação de satanás.

Todos se enquadram como fatos bíbli-

cos excepcionais, providos de forma

sobrenatural por Deus.

Marlene Braga encara dessa mesma

maneira a tarefa que recebeu de Deus,

o que, para ela, não é novidade.

Durante 17 anos, a missionária viveu

experiências espíritas, conversando

e vendo entidades. “Conversava cara

a cara com o diabo, que sempre me

vinha em forma humana, geralmente

como alguém conhecido e que já havia

morrido. Por isso, tantas pessoas fi cam

lá: enganando e sendo enganadas”,

lembra. A situação mudou quando ela,

aos 23 anos, teve o fi lho desenganado

pela medicina. Afl ita, procurou dezenas

de centros diferentes de saúde. Cada

um lhe pedia uma oferenda diferente

– entenda-se: dinheiro. Ela pagava, mas

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DEPOIS DE DIVERSAS EXPERIÊNCIAS ESPÍRITAS,

Marlene se torna missionária e experimenta uma verdadeira

transformação em sua vida

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54

o problema persistia. No último deles, a

mãe-de-santo incorporou uma entidade

e começou a lhe falar com uma voz

bastante familiar. “Parecia meu falecido

sogro. A entidade dizia que levaria

meu fi lho. Tremi. A única alternativa,

segundo a mulher que incorporou o

espírito, seria pagar. Só que ela pedia

muito mais do que eu e meu marido

ganhávamos. Saí correndo dali e me

mudei para tentar fugir daquilo e da

vida que levava”, conta.

Junto com o marido e duas crianças,

ela acabou parando numa casa em fren-

te à Igreja Batista do Calvário, em Ma-

ricá. Como prevenir não custa nada e já

fazia muito tempo que ela não entrava

num confessionário, seu primeiro ato

foi procurar o padre local para relatar

seus problemas. “Não fi que ouvindo

os crentes cantarem. Saia de casa e vá

passear na praça com as crianças, senão

você vai se contaminar”, advertiu o

clérigo, conta ela. Em vez disso, fi nal-

mente ela aceitou o convite para assistir

a um culto; e, depois de entregar a vida

a Cristo, voltou para casa e encontrou

o fi lho, que antes não comia nada, fa-

minto e pedindo mamadeira. A criança

estava curada.

Hoje, Marlene tem uma vida mar-

cada por milagres e pelo sobrenatural

de Deus. Para viver dessa maneira,

precisou de uma grande transformação.

“Jejuar? Orar? Obedecer? Não gostava

de nada disso”, diz. Mudou de opinião

quando recebeu a cura de um terrível

tumor no ouvido num culto de oração.

Ela também relata que sofreu grande

oposição por parte dos pais ao se con-

verter, mas sempre respondia na mesma

medida: “Sem cerimônias, eu dizia que

quem não aceitasse a Cristo estaria

perdido e iria para o inferno. O Senhor

mudou meu modo de ser”, agradece a

missionária, que ainda gasta seu tempo

com outras atividades, como ensinar

– ela estudou somente até a quarta série

do fundamental –, escrever apostilas e

palestrar sobre assuntos espirituais e

seculares, da interpretação dos textos

bíblicos à tricologia, gases na atmosfe-

ra, doenças modernas como depressão

e fi losofi a. Quanto à questão social, sua

casa praticamente se tornou uma exten-

são da igreja e já abrigou e serviu de

lugar para a libertação de muitos jovens

viciados em drogas.

Realmente, quem conversa com a

missionária percebe uma mulher sensí-

vel e delicada, cuja atitude assume uma

postura de controle e autoridade quando

se diz usada por Deus. Enquanto isso, o

pessoal da igreja grava cada predição,

conferindo e atestando a veracidade de

tudo que é testemunhado.

Nem sacrifício nem moeda de

troca – O simples fato de alguém se

privar de alimentos não signifi ca que

esteja jejuando. Parece contraditório

com a própria defi nição do que seja

o jejum, mas não é. Se do ponto de

vista clínico o benefício principal do

jejum é trazer o organismo para seu

metabolismo basal, como se tivesse um

tempo de “depuração” de substâncias

tanto para realizar exames quanto em

procedimentos cirúrgicos, quando é

feito para Deus deve priorizar aspectos

espirituais. “Há quem use o jejum como

um sacrifício ou uma moeda de troca,

para conquistar alguma coisa. Ele não

serve nem para um nem para outro”,

aponta o médico Rogério Ruiz, que

também é pastor metodista e professor

de Bioética da Faculdade Metodista

Livre. “O jejum deve ser pensado como

uma consagração a Deus, um tempo

em que se quebranta e busca estar mais

CARLOS AUGUSTO BEZERRA DE FARIA, pastor da Igreja Batista do Calvário (ao fundo): “Foi o Senhor quem ordenou o jejum”

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perto dele. A pessoa se separa, prepara-

se, torna-se especial para se dedicar ao

Senhor. Signifi ca o reconhecimento de

que depende mais de Deus do que de

tudo, inclusive, do alimento”, emenda.

Esses foram justamente os princí-

pios, puramente espirituais, que nortea-

ram o jejum de Marlene Braga. Durante

os 40 dias, ela não saiu de casa. Perma-

necia na parte de cima do sobrado onde

mora, geralmente, no quarto. Queria

fi car na presença de Deus, dedican-

do-se às disciplinas espirituais, como

oração, refl exão e leitura bíblica. Ali-

ás, ela já tinha praticado outros jejuns

antes, de diferentes durações. “Sempre

que recebia uma ordem, conversava

primeiro com meu marido e com a

igreja. Agora, converso com o pastor.

Nunca faço nada por conta própria”,

afi rma. Para evitar qualquer problema,

o bebedouro foi tirado do andar, e o

acesso limitado. “Quando jejuo, não

durmo direito; pois, ninguém com fome

descansa plenamente. Às vezes sinto

enjoo, tontura, mas é normal”, relata

ela enquanto aponta para a parede, atrás

do repórter: “O relógio no quarto é a

minha bússola”.

Para fazer o acompanhamento clíni-

co foi escolhido o Laboratório Sérgio

Franco, um dos mais conhecidos do

Rio. Periodicamente eram realizados

exames de sangue e urina para hemo-

grama, além de testes de glicose, ácido

úrico e averiguações de rotina. Tudo

foi repassado e conferido pela revista.

“Ao fi nal do jejum, a pele dela estava

ressecada, mas o turgor era normal

e não havia sinais de desidratação.

Todos esperavam que estivesse muito

abatida, com ausência de micção e há-

lito de acetona. Nada disso aconteceu.

Mesmo urinando pouco, até o fi m ela

continuou indo pelo menos três vezes

ao dia ao banheiro”, explica a médica

Rosa Maria Miguel, membro da Igreja

Batista do Calvário e responsável por

acompanhar o jejum.

Ao fi nal dos 40 dias de jejum, mesmo

com 30 quilos a menos a missionária

estava animada. Evitava grandes esfor-

ços, mas não deixou de conversar sobre

seu trabalho e orar, inclusive, num culto

de ação de graças improvisado, ali mes-

mo em sua casa. “Esperávamos grandes

alterações entre o primeiro e o último

exame, mas isso também não ocorreu.

No sangue, o aumento das hemácias é

normal, e consequentemente também

o da hemoglobina e do hematócrito.

Na urina, as células epiteliais estavam

aumentadas, como também as cetonas.

Mas tudo era esperado”, diagnostica

Rosa Miguel.

Pós-jejum, a recuperação de dona

Marlene foi realizada gradualmente,

comendo aos poucos e priorizando a

hidratação – uma dieta balanceada.

Algumas semanas depois, ECLÉSIA

conseguir falar novamente com ela

que, recuperada, estava em viagem

missionária. “Quando tento fazer um

jejum, não consigo por um único dia.

Só consegui por causa da força de

Cristo. Quando ele ordenar, obedeça.

Essa é a essência do cristianismo e

precisamos recuperá-la”, ensina ela,

ao mesmo tempo em que desaconselha

jejuns prolongados feitos de qualquer

maneira. Para lá de explicado o motivo,

fi cou em aberto somente o propósito

da causa: “Busquei ao Senhor em

favor da igreja. Edifi car o corpo de

Jesus e levar muitos à salvação é

nosso grande objetivo. Estou errada?”,

responde, questionando e citando a

fome e a sede que Deus promete saciar

com sua Palavra.MA

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ALÉM DAS TESTEMUNHAS, O JEJUM contou também com o acompanhamento médico da Dra Rosa Maria Miguel

CARDIOLOGISTA E MEMBRO DA ORGANIZAÇÃO Médicos de Cristo, Rogério Ruiz adverte que a falta de água expõe o praticante do

jejum ao risco de um colapso cardiovascular ou infarto

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56

Luiz Leite é escritor, conferencista, administrador de empresas e psicanalista. Preside a International Fellowship Network e pastoreia a Igreja Vida com Cristo, em Belo Horizonte (MG)

P A S T O R A L

A absurda antessalado inferno

“Assimilar o

conceito de

um deus todo

poderoso a

governar o

destino dos

povos tornou-

se um desafi o

insuperável

para

muitos que

presenciaram

atrocidades”

“Se um certo

Jean-Paul

Sartre for

lembrado, eu gostaria que

as pessoas recordassem o

meio e a situação histórica

em que vivi, todas as

aspirações que eu tentei

atingir. É dessa maneira

que eu gostaria de ser

lembrado.”

Esse foi o apelo que o

grande existencialista

ateu fez cerca de cinco

anos antes de sua

morte. O pensamento

de qualquer pensador está

profundamente arraigado

na sua própria experiência

de vida. As influências

sofridas por cada um

determinam em muito

seu modo de pensar. É

impossível desvencilhar-

nos da própria bagagem

que a vida nos impôs, daí

se dizer que cada homem é

produto do seu tempo.

Com a maior parte de

sua obra escrita durante a

Segunda Guerra Mundial,

Sartre teve material farto

para compor sua ode à

desesperança. Seu tempo

foi marcado por grandes

“Se Deus fosse bom, ele

desejaria tornar suas

criaturas perfeitamente

felizes... E se fosse todo

poderoso, ele seria capaz de

fazer o que quisesse... Mas

as criaturas não são felizes.

Portanto, a Deus falta a

bondade ou o poder – ou

ambas as coisas.”

É mais ou menos assim que

se apresentam alguns dos

argumentos que refutam

a existência de um deus

bondoso. A presença

indesejável do mal no mundo

sempre foi um problema de

difícil compreensão. Segundo

o argumento acima exposto,

não pode haver nem um

deus bondoso nem um diabo

perverso, pois a presença

do primeiro teria que

necessariamente aniquilar

a ação do segundo, o que,

aparentemente, não acontece.

Vivi em Israel por quase um

ano e meio e lá encontrei

alguns sobreviventes da

longa noite de horror que a

Alemanha nazista impôs ao

mundo de maneira geral, e

sobre os judeus de forma

perversamente específica.

Ainda que o nazismo tenha

e dramáticos eventos, suas

ideias nos chegam como

um protesto de revolta

diante das catástrofes

absurdas a que foi submetida

sua geração. Talvez seu

conceito sobre Deus possa ser

resumido pelo silogismo que

segue:

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57

desequilíbrio na balança

da equidade, Sartre conclui

que o problema do mal não

é de ordem metafísica; não

é produto da emulação de

seres fantásticos de outras

dimensões. Sua fi losofi a

dispensa qualquer noção

de deuses ou demônios e

desemboca num humanismo

radical, onde o homem

– e somente o homem – é o

protagonista do seu pequeno

drama.

Deixado sozinho, a mercê da

própria sorte, o homem torna-

se responsável por aquilo

que é, e não deverá atribuir

a nada nem a ninguém seus

infortúnios. Se alcançar

sucesso, o fará graças tão

somente aos seus próprios

méritos; se, porventura,

naufragar nas ondas do

fracasso não terá o direito de

se lamentar, projetando sobre

outrem a responsabilidade

dos seus desacertos. Terá

que fazer suas escolhas,

posicionar-se e arcar com os

custos, sejam quais forem as

consequências.

Descartada a possibilidade

da eternidade e de acertos de

contas morais na pós-história,

como ensina o cristianismo,

o existencialismo procura

aliviar o dilema humano,

selando hermeticamente

toda e qualquer fresta por

onde possa se intrometer a

espiritualidade com sugestões

de juízos ou benesses

vindouras. Em outras

palavras, não há tal coisa

como uma continuidade entre

tempo e eternidade. Há que

aferrar-se ao tempo e fazer-se

como bem se entende.

O existencialismo ateu de

Sartre faz do mundo uma

absurda antessala do inferno!

No fim acabam tendo mesmo

razão: é uma questão de

escolha.

perseguido e martirizado

poloneses, ciganos,

homossexuais e prostitutas

de modo igualmente odiável,

a história publica com mais

ênfase a tragédia judaica.

Depois do inominável

genocídio a que foram

submetidos, muitos judeus

tiveram dificuldades imensas

de continuar crendo na

existência de uma divindade

bondosa a governar o

mundo.

O antiquíssimo problema

do mal emergiu como um

monstro hediondo das

águas escuras dos séculos e

desferiu um golpe demolidor

sobre a geração de Sartre.

Assimilar o conceito de

um deus todo poderoso

a governar o destino dos

povos tornou-se um desafio

insuperável para muitos que

presenciaram atrocidades.

Diante de certas vicissitudes

alguns perdem a fé; apaga-

se o lume da esperança,

esmagada pelo evento

trágico e sem explicação.

Resta, nesses casos, a

perplexidade, a expressão

de pasmo perante o que só

poderia ser classificado

como absurdo.

A geração de Sartre passou

por duas catástrofes

causadas, na leitura do

existencialismo, pela

loucura da livre escolha dos

homens. Nem deuses nem

demônios tomaram parte

na empreitada sinistra. Em

verdade, concluíram: não

há deuses ou demônios. O

homem é livre e sua vontade

é a responsável por moldar

o mundo e ditar o ritmo e o

rumo de indivíduos e nações

em sua marcha pela história.

Observando os extremos a

que pode chegar o homem,

as ações absurdas que pode

levar a cabo, o fl agrante

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58

M E M Ó R I A

Falecido em

abril, o pastor

e comunicador

evangélico Fausto

Rocha procurava

zelar pela ética

jornalística,

amparada, também,

por suas convicções

religiosas

Fé em Deus, ética no jornalismo

JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI

No começo do ano, mais preci-

samente no dia 17 de janeiro,

o comunicador evangélico

Fausto Rocha fez uma bela homenagem

a Gióia Jr, um dos mais proeminentes

personagens da poesia cristã, ao recitar

o poema Eu Sei Que o Meu Redentor

Vive. A reverência aconteceu num

campus do Centro Universitário das Fa-

culdades Metropolitanas Unidas (Uni-

FMU), por ocasião da consolidação da

parceria de preparação teológica entre a

instituição e o Conselho de Pastores do

Estado de São Paulo (COPESP). Menos

de três meses depois, foi a vez do jor-

nalista receber as homenagens daqueles

que o admiravam: ele faleceu de parada

cardíaca no dia 7 de abril, em Campinas

(SP), enquanto se recuperava de uma

cirurgia.

Fausto Rocha nasceu na capital

paulista em 1938. Apesar de evangélico

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desde que engatinhava, não fazia parte

dessa ou daquela igreja – era mais do

tipo “interdenominacional”; contudo,

não menos importante na propagação

da Palavra do que qualquer outro líder

religioso com quem tenha convivido ao

longo de sua vida. Somente bem mais

tarde que assumiria a direção da Asso-

ciação Evangélica Benefi cente (AEB), e

se tornaria pastor da Igreja do Nazareno

Central, em Campinas, onde ministrava

três cultos por semana.

No jornalismo, ele foi um

idealizador: iniciou a carreira na

extinta TV Tupi como apresentador do

telejornal Imagens do Dia, lá pelos idos

da década de 1960. Não demorou muito

para que sua popularidade o conduzisse

à vida pública: de locutor ofi cial do

governo paulista, elegeu-se vereador

na cidade de São Paulo por duas vezes,

e chegou à Assembleia Legislativa.

Depois, emendou três mandatos na

Câmara dos Deputados, ao mesmo

tempo em que se dedicou a atividades

paralelas – foi até empresário do setor

automobilístico. Mas o negócio dele

era mesmo o jornalismo e, na década

de 1990, adquiriu uma emissora de TV

fi liada à também extinta Manchete. Não

durou muito e, com a falência da rede,

foi obrigado a vender a subsidiária.

Uma das últimas “tentativas” de unir

a paixão jornalística com os princípios

cristãos foi com a TV Palavra, em São

Paulo, que ocupava os antigos estúdios

da Rede Globo no bairro de Santa

Cecília. Também, por pouco tempo.

Fausto Rocha era casado com Ju-

liana Teles Rocha, com quem teve três

fi lhos. Além da saudade, à família o

pastor deixa como legado as benesses

de uma íntegra trajetória religiosa, jor-

nalística e política: religiosa, por plena

convicção de sua fé; jornalística pela

vocação e ética; e política por consequ-

ência da popularidade delegada pelas

virtudes anteriores.

DE APRESENTADOR DE TELEJORNAL a pastor evangélico: jornalismo e religião marcaram a vida do comunicador Fausto Rocha

“Fausto Rocha foi um

exemplo para todos nós.

Sua vida política, seu

ministério e sua dedicação

à Palavra de Deus fi carão

gravadas em nossa

lembrança”

Pastor Paulo Freire

Deputado federal (PR-SP)

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Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante 30 anos e hoje se envolve em projetos internacionais de desenvolvimento nas ilhas do Pacifi co e da Ásia, morando em Kailua-Kona com sua família

C O N T E X T O

Braulinete e Reginaldo

“Acredito na

igualdade

entre os

homens como

acredito no

Deus que nos

criou e nos

salva”

Uma vez por semana nos

vestimos em roupas

queimadas de água

sanitária, enchemos o carro de

baldes e produtos químicos, e

vamos fazer limpeza em casas.

Não é um trabalho integral. Nem

nos seria permitido com nosso

visto religioso, e por gastamos

a maior parte do tempo no

trabalho missionário e viajando

conforme requerem os projetos.

Contudo, tornamo-nos os

típicos latinos que até se matam

atravessando fronteiras pelo

sonho do subemprego bem pago

na América.

A vida aqui é cara, e os “bicos”

de limpeza pagam as escolas

dos fi lhos, a conta de energia e o

diesel do velho Oldsmobile. Nas

primeiras vezes foi interessante,

e nós brincávamos com a ideia.

Passar paninho em móveis

signifi ca menos stress até para

quem já trabalhou tanto tempo

administrando crises de liderança

na vida de tribos inteiras. Só que

depois de algumas semanas, o

cheiro de água sanitária deixa

de ser agradável, e as horas

gastas na limpeza começam a

cobrar um preço alto demais em

nosso trabalho no campus. Pior

ainda, nossa autoestima começa

a fi car seriamente balançada.

apresenta venenosa nos encontros

sociais, na divisão de empregos, na

distribuição de renda. Pode-se ver a

casta na arquitetura de apartamentos

de classe média de qualquer grande

cidade brasileira. Por exemplo: no

fundo do imóvel, num quartinho de

dois metros por um e meio com um

banheiro menor ainda, sem vista

alguma e com entrada pela cozinha

ou área de serviço. O que isso

revela? Que ainda existe senzala no

Brasil do século 21.

Você sabe a que classe a pessoa

pertence pelo jeito dela falar,

pelas roupas que usa, pelo carro

que tem, pelo bairro onde mora.

A classe vai determinar como se

processa o relacionamento social

e as oportunidades de vida, e até

os direitos perante a lei. Não que a

pessoa esteja presa inexoravelmente

à classe, mas não são muitos os que

conseguem romper o disfarçado,

embora rígido, castismo do país para

alcançar padrões sociais mais altos

em relação aos de origem.

De certa forma, a igreja consegue

quebrar essas divisões, igualando-

nos no corpo de Cristo. No entanto,

à medida que envelhece acaba se

acomodando a uma transformação

superfi cial da cultura, e adotando

sincreticamente as mesmas classes

em outras formas.

A questão econômica, hoje, não é

Diante dessa refl exão, eu

pergunto: existe no Brasil o

conceito de casta? Como vemos

o trabalhador do subemprego, a

empregada doméstica, o braçal?

Se nos compararmos com a Índia,

Nepal e demais países asiáticos,

penso que não. Nosso sistema não

é franco, abertamente castista, nem

baseado em pressupostos religiosos.

Entretanto, a casta existe. Como

a de uma serpente, sua cabeça se

Quem somos nós, agora? Meros

imigrantes de baixa categoria tendo

que enfrentar uma carga de trabalho

elevada para sobreviver? Se antes

éramos líderes de missionários,

escritores e pregadores, então nosso

conceito de valor pessoal fi cou em

xeque.

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mesmas oportunidades de trabalho.

E eu e o Reinaldo aqui em nosso

velho Oldsmobile com a roupa

cheirando a Kiboa, repetimos para

nós mesmos que, apesar do Brasil

nos contradizer, trabalho braçal não

é desonroso. Roupa velha não nos

faz menos gente, e trabalhar como

doméstica não torna a mulher uma

cidadã de segunda categoria.

Enquanto a igualdade não se

tornar um grito primal da teologia

evangélica, não vamos chegar a

lugar algum. Enquanto não nos

crermos essencialmente dignos, sem

nenhum “se”, também não vamos

chegar lá. A ideia da igualdade

deve ser como um credo repetido

por todos, credo pelo qual estamos

dispostos a morrer. Acredito

na igualdade entre os homens

como acredito no Deus que nos

criou e nos salva; e creio numa

sociedade brasileira livre das classes

colonialistas e da injustiça sistêmica.

seu tempo, regulou os direitos

trabalhistas; contudo, a distância

econômica entre as classes

permanece abismal.

A consciência da igualdade

tem que vir de convicções mais

profundas. Ao pregar para multidões

de colonos britânicos na Virgínia, no

século 18, George Whitefi eld iniciou

um movimento sem precedentes

na Europa. A ideia da salvação

individual que ele pregava, até

então praticamente desconhecida,

provocou ondas de avivamentos

que chamavam para uma vida cristã

holística, que cuidava do pobre e do

necessitado, que se fazia presente

em todas as esferas da sociedade e

que valorizava cada indivíduo como

um verdadeiro cidadão. A partir de

Whitefi eld, os americanos sonharam

em ressurgir das cinzas da Europa

injusta, de governo autoritário e

sociedade dividida, para gerar um

Mundo Novo, onde todos fossem

iguais diante de Deus e com as

se países como o Brasil e a Índia vão

crescer ou não. Por circunstâncias

macroeconômicas, a riqueza está

nos caindo no colo. Mas será que o

crescimento e a riqueza signifi cam

uma melhora de vida para todos,

será que garantirão o mesmo a um

intocável e a um brahmin? Poderão

o Brasil e a Índia se transformar

numa América, remunerando um

pedreiro com a mesma honra de um

advogado?

O trabalho duro em si não

gera mais justiça social. O que

gera uma melhor distribuição

de renda é o pressuposto básico

da igualdade. Quando somos

iguais, o trabalho merece uma

paga digna. Assim, as diferentes

funções sociais e profi ssões se

tornam complementares. Somente

a força da lei não opera o milagre

da igualdade social. A constituição

indiana aboliu o sistema de

castas, mas ele continua existindo

na prática. Getúlio Vargas, em

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M I N I S T É R I O

Praticamente no anonimato e sob

pressão da atividade dos maridos, muitas

mulheres desempenham papel importante

como companheiras, auxiliadoras e até

mesmo conselheiras dos pastores

Ilustres anônimas

ROSANA IBANEZ

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Um jovem casal se conhece e

inicia um promissor relaciona-

mento, até que eles se casam e

constituem um novo lar. Essa é uma his-

tória mais do que comum em qualquer

parte do mundo; porém, as coisas mu-

dam quando ele afi rma ter se convertido

e decide ingressar na faculdade teológi-

ca, com o propósito de se aprofundar

nos estudos e, um dia, tornar-se pastor

evangélico. Pronto: a vida do casal se

transforma da água para o vinho. Ela,

antes entretida somente com as atribui-

ções do lar e que jurou respeitar e seguir

os passos do marido no momento de tro-

car alianças, adquire novas responsabi-

lidades e se conscientiza de que não está

mais casada com um cidadão comum,

Para a professora Nancy Gonçalves

Dusilek, vice-presidente da Convenção

Batista Brasileira (CBB), essa

cobrança é absolutamente normal e

não se restringe somente às esposas de

pastores. “As difi culdades enfrentadas

são naturais quando se lida com o ser

humano. A incompreensão das pessoas,

a inveja de alguns, o desejo de outros

de estar no lugar da gente, a ingratidão

depois de tudo que se faz são naturais

para quem exerce liderança”, explica

ela, hoje viúva do pastor batista Darci

Dusilek, com quem foi casada durante

quase quatro décadas. Em seu livro

Mulher sem Nome (Editora Vida), a

escritora explora bastante o tema, já

que, segundo ela própria, infelizmente

fi ca a impressão de que esposas de

líderes de igrejas não têm nome próprio.

“Numa conversa, meu marido – ele

faleceu em 2007, devido a um infarto

fulminante – sugeriu que eu escrevesse

o livro. Não fi z qualquer consulta

bibliográfi ca, simplesmente abri meu

coração e conversei na mesma ‘língua’

com quem me entende. O que mais tem

me chamado a atenção é que várias

mulheres me dizem que é como se eu

conhecesse a história delas. Então, eu

mas com alguém que, se seguir ao pé

da letra o que regem os princípios bí-

blicos, irá colocar Deus acima de todas

as coisas. Então, praticamente a igreja

se torna sua primeira casa, e os fi éis são

vistos como fi lhos carentes de atenção e

orientação cristã.

Há exceções, mas de simples dona de

casa geralmente a mulher passa também

a fazer parte do ministério, tornando-

se referência para muitas irmãs, que a

veem como exemplo a ser seguido. Para

não decepcioná-las, seu comportamento

muda na mesma medida que os hábitos;

afi nal, cobranças não lhe faltarão, e de-

senvolver uma postura ética e condizen-

te com a posição do marido na igreja é

vista “quase” como uma obrigação mo-

ral. Não há mais espaço para erros e tudo

tem que ser absolutamente perfeito.

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dou um sorriso e respondo: ‘Falamos

a mesma língua, só isso’”, conta.

Na obra, baseada em experiências

pessoais, ela apresenta alternativas

que podem ser usadas em diversas

situações, inclusive por cristãs bem

resolvidas espiritualmente e que veem

a convivência com homens de grandes

responsabilidades ministeriais como

bênção, e jamais castigo.

Mas, se há mulheres que encaram

a vocação pastoral dos maridos como

uma dádiva divina, também há quem

se sinta perturbada. Pesquisa focada na

família realizada nos Estados Unidos

pelo Fuller Institute, George Barna,

and Pastoral Care Inc, instituto vol-

tado para questões evangelísticas, apu-

rou que 80% dos cônjuges de pastores

afi rmaram que, se pudessem, teriam

escolhido outra profi ssão para os par-

ceiros; desse índice, 94% confessaram

já ter sentido algum tipo de pressão em

decorrência dessa situação. Há casos

em que a pressão psicológica chega ao

extremo de deixar a mulher deprimida

e solitária, o que acaba refl etindo e

adulterando sua própria personalida-

de, como a da norte-americana Mary

Winkler, que assassinou o marido, pas-

tor Matthew, com um tiro nas costas. Já

que a autora do crime não apresentava

nenhum desequilíbrio emocional, o

fato, ocorrido em 2006 no Tennessee,

gerou polêmica ao fomentar os deba-

tes sobre as pressões que a atividade

pastoral pode exercer nas esposas dos

religiosos. Uma alternativa, talvez,

seja delegar às mulheres maiores res-

ponsabilidades e poderes nas igrejas

para que elas também possam exercer

seus ministérios pastorais. É o que,

teoricamente, defende Alexvader Nu-

nes da Silva, pastor da Assembleia de

Deus Ministério Madureira. “Não há

propriamente um relato na Bíblia em

relação ao ministério da

mulher, mas na minha con-

cepção é de suma impor-

tância”, diz, ressaltando a

participação da companhei-

ra em sua vida ministerial.

“Como pastor eu sou a ca-

beça, mas os olhos são dela.

Ela é uma conselheira fi el

para auxílio em qualquer

coisa que eu faça em rela-

ção à casa de Deus”, elogia.

Na opinião de sua esposa,

Priscila Lyliane da Silva,

cabe à própria mulher o

cuidado de não escandalizar

ninguém. “Existe sempre uma cobran-

ça desde a hora em que eu entro até que

eu saio, pois as pessoas me veem como

um espelho. Deve-se sempre agir com

cautela, já que o olhar dos outros em

relação a nós é diferente”, explica ela,

que atualmente auxilia o pastor no de-

partamento infantil da igreja.

Mulheres decididas – Já que a socieda-

de costuma atribuir às esposas de prefei-

tos, governadores ou presidentes o título

de “primeira dama”, nada mais natural

que as companheiras dos pastores tam-

bém trabalhem para fazer com que seus

valores sejam reconhecidos e respeita-

dos, não somente dentro de casa, mas

também nas atividades ministeriais. E

é exatamente o que têm feito muitas

delas, algumas casadas com líderes

reconhecidos internacionalmente e que

aparecem mais na televisão do que mui-

to galã de novela. Quem, evangélico ou

não, nunca se deparou com o eloquente

Silas Malafaia ao zapear o controle

remoto? Considerado um dos pastores

mais populares do país, ele vê na famí-

lia a base sólida para todo cristão, e na

fi gura da esposa um valor imensurável

e preponderante para se chegar a essa

condição. “A mulher tem sua importân-

cia na edifi cação do lar, com sabedoria.

Dentre suas responsabilidades, dadas

PARCEIRAS EM CASA E NA IGREJA: esposas de pastores driblam pressões psicológicas e fazem do ministério dos maridos uma continuidade do lar

NANCY DUSILEK, vice-presidente da CBB:

“Preciso saber exatamente o que

Deus quer de mim”

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por Deus, destaco o papel de auxilia-

dora do marido, orientadora dos fi lhos,

e o ponto de equilíbrio desses com o

esposo”, ressalta o líder da Assembleia

de Deus Vitória em Cristo, e apresenta-

dor do programa homônimo, levado a

diversos países de todos os continentes.

A mulher a quem o assembleiano se

refere é a terapeuta familiar Elizete Ma-

lafaia, que o acompanha há mais de três

décadas. Além de “praticamente” dividir

as responsabilidades ministeriais com o

marido, ela faz parte do Corpo de Psi-

cólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), e

ainda é palestrante e escritora – ao todo,

já são cinco livros lançados. O caminho

por ela trilhado, no entanto, nem sempre

foi de rosas. “No início sofri com a com-

paração, pois havia um padrão de que

a esposa do pastor deveria ser cantora,

pregadora, líder de coral ou do departa-

mento feminino. Se você não tivesse um

desses perfi s, não estaria contribuindo

com seu ministério”, recorda. No campo

psicológico, Elizete é categórica quando

questionada se o motivo que leva muitas

mulheres a abandonaram a igreja e até

os maridos, está relacionado ao senti-

mento de, segundo elas, serem cobradas

por algo que não foram chamadas, por

Deus, para realizar. “Eu creio que o

Senhor irá cobrar de nós,

mulheres, a maneira como

desempenhamos o talento

que ele nos deu para desen-

volvermos”, resume, não sem

antes deixar uma receita, apa-

rentemente simples, para que

cada mulher possa viver em

harmonia, livre de pressões

e capacitada para os desa-

fi os de uma vida ministerial

sadia. “Fazer tudo com amor

e alegria, oferecendo sempre

o melhor e sem se preocupar

com o que as pessoas acham

ou pensam”, complementa.

Nancy Dusilek também

passou por experiências que

lhe valeram, não somente paciência

como também um grande aprendizado.

Entretanto, ela faz sempre questão de

ressaltar que ser esposa de pastor não

se trata de nenhum peso; pelo contrário,

é um privilégio. “As difi culdades foram

naturais, mas não me abateram. Para a

minha saúde emocional, eu preciso saber

exatamente o que Deus quer de mim

e caminhar debaixo da graça”, revela.

Nada melhor, então, do que seguir sem-

pre em frente, com a mente, o coração e

o foco bem defi nidos. “Às vezes a gente

se entristece, mas segue adiante; pois, o

compromisso com Deus vem em primei-

ro lugar”, fi naliza.

Divórcio – De acordo com o Instituto

Brasileiro de Geografi a e Estatística

(IBGE) a diferença entre divórcio e

separação é que, no primeiro caso,

os ex-parceiros usufruem do direito

a um novo casamento civil e religio-

so, enquanto que o segundo somente

desobriga marido e mulher de certos

compromissos, como a coabitação. E

mais: pesquisadores da Universidade

de Harvard e do Instituto de Tecno-

logia de Massachusetts, nos Estados

Unidos, revelaram recentemente que

divórcio e separação são responsáveis

DA IGREJA PARA OS TRIBUNAIS: assassinato de religioso norte-americano pela esposa fomenta debates sobre as pressões psicológicas da atividade pastoral

ESPOSA DE UM DOS MAIS CONHECIDOS pastores brasileiros,

Elizete Malafaia tem participação ativa no ministério do marido

pela redução de 30% dos índices de

violência doméstica. Apesar de bíblico

e proferido em todas as cerimônias de

casamento, hoje em dia o versículo “o

que Deus uniu, não separe o homem”

(Mt 19.6) não tem sido respeitado na

prática tal como é apregoado, inclu-

sive por casais cristãos; em suma, os

crentes podem até torcer o nariz para

os dados apurados, mas o divórcio tem

se tornado tão comum quanto o próprio

matrimônio, independente de confi ssão

religiosa. Motivos para a separação

enchem a página: pressão psicológica,

imaturidade, falta de assistência pasto-

ral ou psicoterápica etc. Entre os evan-

gélicos, no entanto, a principal razão é a

carência afetiva; pois, em muitos casos,

o marido prioriza tanto o ministério que

não lhe sobra tempo para se dedicar à

família e à vida conjugal. Diante disso,

não há união que resista. “Qualquer ser

humano que priorizar outra coisa que

não seja a família está sujeito a perdê-la.

É muito importante que os pastores en-

tendam que precisam separar um tempo

para a esposa e os fi lhos. Assim como as

máquinas precisam de um período para

manutenção, nós também precisamos”,

compara Elizete Malafaia.

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66

T E L E V I S Ã O

Dedé Santana, o

mais sisudo dos

trapalhões fala

sobre sua carreira

e como trocou a

vida desregrada

do passado pelo

evangelismo

Fé, sem trapalhada

KAREN RODRIGUES

Quase ninguém o chama pelo

nome de batismo – Manfried

Sant’Anna. Já, pelo pseudô-

nimo, não há quem não o conheça:

Dedé. O envolvimento com as artes

vem desde os primeiros meses de

vida, um legado deixado pela mãe

contorcionista de circo. Com o ir-

mão Dino, Dedé Santana formou

a dupla Maloca e Bonitão, mas foi

com Renato Aragão, na TV Excel-

sior, que ele defi nitivamente come-

çou a galgar os degraus da fama.

Surgia, então, a dupla Dedé e Didi,

à qual mais tarde se juntariam um

baixinho de risada engraçada e um

crioulo, responsável por popularizar

gírias como forévis e cacildis. Jun-

tos, Dedé, Didi, Mussum e Zacarias

formaram o quarteto mais famoso da

televisão brasileira – Os Trapalhões

–, humorístico que marcou as noites

de domingo nas décadas de 1980 e

90. Realizaram, também, inúmeros

fi lmes, transpondo da telinha para

as telonas muitos dos problemas so-

ciais do país, mas sempre com graça

e alegria. Apesar de ser considerado

o mais sisudo do quarteto, Dedé

Santana também garantia boas gar-

galhadas, e até hoje é o alvo preferi-

do das palhaçadas de Renato Aragão

no também dominical A Turma do

Didi, programa que voltou a reunir

os parceiros de longa data.

Circunspecto diante das câmeras,

mas desregrado distante delas. É as-

sim que pode ser definido o passado

de Dedé Santana: época de carrões,

envolvimento com mulheres, carto-

mantes, kardecismo e até macumba,

que o afastavam cada vez mais de

Deus, tornando-o um palhaço tris-

te, mal-humorado, vazio e infeliz,

como ele próprio enumera. Mas, já

que todo mundo na vida merece uma

segunda chance, o humorista en-

contraria sua oportunidade durante

uma viagem de avião, por meio de

um recado a ele entregue por uma

missionária – recado esse vindo de

Jesus, segundo ela. Situação inusita-

da para alguns, mas não para quem

experimenta uma verdadeira trans-

formação espiritual. A partir daquela

viagem, nascia um novo homem: o

Dedé de Deus.

Com a morte dos amigos Zacarias,

em 1990, e Mussum, em 1994, o

programa Os Trapalhões chegou ao

fi m. Já convertido, Dedé tentou re-

viver os bons tempos de humor com

Os Trapalhões em Portugal, sem lá

muito sucesso. Depois da curta ex-

periência internacional, o humorista

perambulou por outras produções

televisivas como Escolinha do Pro-

fessor Raimundo, Zorra Total, Gente

Inocente, Turma do Pererê, enfi m,

até comandar seu próprio programa:

Dedé e o Comando Maluco, pelo

SBT, que permaneceu no ar por cerca

de três anos.

As experiências profi ssionais e

espirituais revelaram outra face do

humorista: a de escritor. E é com

os livros que ele também costuma

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DEDÉ SANTANA: “PROCURO CUMPRIR com as minhas obrigações, sem trapalhadas”

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67

compartilhar sua história de vida, a

iminência da morte, a cura, os so-

bressaltos na carreira, o desemprego

e a volta por cima. E ainda incentiva

seus fãs e admiradores a experi-

mentarem a mesma experiência

espiritual que o tirou da escuridão

do passado. Dedé continua, sim,

fazendo trapalhadas nos sets

de fi lmagens; contudo, na vida

real está em paz com Deus e em

perfeita harmonia com a família

– ele é pai de oito fi lhos, todos

convertidos. Confi ra o que diz o

humorista nessa entrevista exclu-

siva à revista ECLÉSIA:

ECLÉSIA – O que faz o Dedé

Santana no dia a dia?

DEDÉ SANTANA – Muitos

shows, eventos e viajo bastante,

isso quando não estou gravando.

Eu moro em Itajaí (SC), tenho

uma pequena produtora em

Curitiba e frequento a 3ª Igreja

do Evangelho Quadrangular,

apesar de ter faltado muito em

virtude das viagens. Vou para o

Rio de Janeiro às segundas-feiras

e fi co até sexta para as gravações.

e a mandou dizer que eu o havia

esquecido. E ainda me deu um cartão

com o nome de um pastor, Roberto

Moreira. Começou assim, mas a

experiência mais forte aconteceu

quando eu estava internado num

hospital, em 1994. Uns pastores

apareceram para orar por mim e,

embora eu não quisesse, acabei

aceitando. Um deles era, justamente,

o Roberto Moreira. Fui curado, pois

até então não tinha me convertido.

E quando decidiu se converter?

Fui convidado para ir a Associação

de Homens de Negócio do

Evangelho Pleno (ADHONEP),

na Barra da Tijuca, Rio. A imagem

que eu tinha de evangélico era de

pobreza, pessoas usando roupas

compridas e mulheres com cabelos

até a cintura, mas vi um monte

de carro importado e gente bem

vestida. Aceitei o convite também

porque, naquele dia, apareceria por

lá uma pessoa que eu já conhecia:

o músico Mattos Nascimento, do

Paralamas do Sucesso, de quem

eu havia precisado uma vez para

tocar trombone num fi lme. Tanto

a pregação como os louvores

tocaram muito o meu coração;

então, aceitei a Jesus. Tornei-me

membro da Assembleia de Deus

Ministério Madureira, onde há

ótimos pastores e um trabalho

social muito bonito; contudo,

na época eles não aceitavam

que eu trabalhasse na televisão.

Atualmente, como disse antes,

estou na Quadrangular.

Quando você deixou de ser o

Manfried Sant’Anna para se

tornar o Dedé Santana? Aliás,

alguém ainda o chama pelo

nome de batismo?

Quando criança meu irmão

mais novo não conseguia me

chamar pelo nome verdadeiro,

“Longe de Deus,

todas as coisas

são fúteis”

Bem, como qualquer cidadão,

procuro cumprir com as minhas

obrigações, sem trapalhadas.

Como e quando ocorreu a sua

conversão, e que mudanças isso

trouxe à sua vida?

Longe de Deus, todas as coisas são

fúteis. Assim era a minha vida, cheia

de futilidades. Eu era uma pessoa

que não acreditava muito nas coisas,

e não queria saber de religião.

Depois, com minha conversão houve

uma mudança muito grande. Tive um

encontro com uma missionária num

avião – até pensei que ela era meio

maluca –, que me disse que Jesus

tinha um recado para mim.

Na hora achei impossível, eu tinha

perdido o voo e ela disse que

aquele também não era o voo dela.

Segundo ela, Jesus me amava muito

O ESCRITOR DEDÉ SANTANA: experiências profi ssionais e espirituais relatadas nos livros

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só de Dedé. Hoje, somente algumas

pessoas que me conhecem desde

criança se dirigem a mim como

Manfried.

Por décadas o programa Os

Trapalhões foi considerado um dos

melhores de humor da televisão

brasileira. Depois, com a morte

de Zacarias e Mussum, a atração

chegou ao fi m. De certa forma, isso

também infl uenciou para que você

se tornasse evangélico?

Certamente. Ali eu já comecei

perceber que o homem passa, a fama

passa, tudo passa... Até a uva passa

(risos).

Como seus amigos e as pessoas

mais próximas a você encararam

essa transformação?

No começo estranharam um pouco.

Achavam que seria passageira e que

logo eu voltaria para a vida fútil de

antes, mas depois viram a mudança

no meu comportamento. Hoje é

mais tranquilo, já que há muitos

evangélicos no meio artístico.

“Hoje em dia

o preconceito

é bem menor,

mas o deboche

em relação

ao evangélico

ainda existe

dentro ou

fora do meio

artístico”

E sua família? Aliás, você se

casou duas vezes e tem oito fi lhos.

Entre eles, há algum que também

frequente igrejas evangélicas?

Por ver, de verdade, que eu havia

aceitado a Jesus, minha família

também se converteu. Graças a

Deus, todos estão na igreja: oito

fi lhos lindos, e netos também lindos.

Você costuma falar sobre religião

com seus amigos e companheiros

de trabalho? Qual é a reação

deles?

Sempre que posso, e a reação é

de respeito e atenção. Alguns até

se converteram graças ao meu

testemunho. Mas isso tem que ser

feito com sabedoria e na hora certa,

para não se passar por um cara

chato.

Você chegou a sofrer algum tipo

de preconceito por sua opção

religiosa?

Claro. Se Jesus sofreu, imagina se o

Dedé Santana não sofreria. Hoje em

dia o preconceito é bem menor, mas

o deboche em relação ao evangélico

ainda existe dentro ou fora do meio

artístico.

OS TRAPALHÕES: ÉPOCA DE FAMA, carrões, mulheres e uma vida distante de Deus

DEDÉ PARTICIPOU DE INÚMEROS FILMES, como Os Trapalhões na Serra Pelada (1982): realidade social à base do bom humor

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pessoas. Entretanto, as coisas

vão acontecendo e a gente vai

aprendendo com o tempo.

Ao contrário do conservadorismo

de algumas igrejas mais

tradicionais, muitos pastores e

líderes religiosos têm utilizado

outras maneiras de evangelização,

como o humor, mas sem

transgredir os valores cristãos,

éticos e morais. Qual é a sua

opinião a respeito?

O Evangelho é democrático e tem

que ser pregado a toda a criatura,

não importa a forma, como disse

o apóstolo Paulo. Eu, quando

participo de algum evento, não

chego querendo pregar; afi nal, não

sou pastor, pregador e nem tenho

essa competência. Costumo brincar,

usando meu humor. Antes pensava

que isso era errado, até perceber

que muitos pastores de igrejas

norte-americanas também brincam

durante suas pregações. Aqui, o Silas

Malafaia, por exemplo, conta até

piada em seus cultos.

Isso é estratégico para atrair

os jovens à igreja, ou uma

nova tendência que, num

futuro próximo, possa redefinir

a maneira de se pregar o

Evangelho?

Sim, e sempre aparecerão

novidades. Só não podem mudar a

Palavra, isto é, a Bíblia Sagrada.

Por fim, e essa história de

escritor? O que os leitores podem

esperar de seus livros?

Eu gosto muito de escrever, porque

são experiências que vivi narradas

na minha própria linguagem. Os

leitores podem esperar por uma

literatura clara, simples, e de boa

qualidade. O que move os livros

são meus testemunhos, e eu tenho

certeza de que todos irão gostar.

“Há quem não

entrava numa

igreja e agora

entra para ver

o Dedé”

Você acha que essa decisão

desapontou alguns de seus fãs ou

pode incentivá-los a experimentar

a mesma transformação

espiritual?

As duas coisas: perdi alguns, ganhei

outros. Penso que a minha mudança

pode incentivar as pessoas, sim. Há

quem não entrava numa igreja e

agora entra para ver o Dedé, tanto

que os cultos em que participo são

sempre lotados.

De uns tempos para cá, a

conversão de pessoas ligadas ao

meio artístico tem aumentado

muito. Em sua opinião, isso se

deve a quê?

Ao tocar da trombeta, pois a vinda

do Senhor Jesus está muito próxima.

Você se arrepende de alguma

coisa que tenha feito antes de sua

conversão? Se pudesse mudar

algo em sua vida, o que mudaria

exatamente?

Se pudesse, eu teria aceitado a Jesus

Cristo antes. Certamente, mudaria

também meu comportamento

no passado, o desrespeito que

eu tinha com o sentimento das

FALAR DE DEUS E FAZER GRAÇA: humor é essencial para o evangelismo do artista

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Emerson Menegasse

é teólogo, fi lósofo, psicoanalista e missionário no Nepal, onde coordena o Projeto Nepali

M I S S Õ E S

Nuvens, nuvens e nuvens...

“Bendita

esperança

que nos

move, que

nos faz ver

e enxergar

– até mesmo

nessas

palavras há

diferenças”

Nessas minhas idas e

vindas, das viagens

de divulgação de

nosso projeto missionário,

pude passar por vários

estados brasileiros. Para

cumprir a agenda em tempo

hábil tive que ir quase

sempre de avião, pois seria

impossível somente por via

terrestre. Lá da janelinha

do avião, em minha última

viagem de divulgação, algo

me chamou muito a atenção.

Eu estava simplesmente

observando, quando uma

“coisa” aparentemente sem

sentido começou a tomar

forma, representando,

talvez, minhas memórias

inconscientes. Estou

me referindo àqueles

aglomerados brancos e

fofos que parecem algodão

doce e que, atravessados

pelo sol, refletem novas

cores, avermelhando-se

ou adquirindo um tom

prateado.

Eu, na luta com meu

fértil imaginário, ficava

tentando entender se elas

realmente adquiriam vida,

ou se eu próprio lhes

designava tais formas,

imaginando coisas que

traumas afetivorrelacionais

que todos vivenciamos

indistintamente. Falo de

coisas comuns a todos nós...

As formas denunciavam

minhas conjecturas,

articulações mentais, o

“ego” na frente de um

espelho, vendo se esculpir

os personagens da vida:

da minha vida, das minhas

relações, dos meus medos

e anseios, do “medo que

dá medo do medo que

dá”– numa leitura poética

à la Lenine. Isso não me

amedrontava, mas permitia

pensar a vida e seus muitos

percalços, que pode vitimar

ou impulsionar voos mais

altos.

Esse medo não era

destrutivo, mas construtivista

a partir do momento que me

permitia ver noutra esfera

da vida, da vida alheia que

tomava forma nas formas das

nuvens. Eram gentes, a minha

imago e a imago dei, que

me fazia refletir qual dessas

quero reproduzir na minha

vida. É claro que a primeira

ideia que vem é a divina.

Mas e minha humanidade,

onde é que fica?! Não posso

negá-la, tão pouco deixar de

deflagravam o meu próprio

inconsciente, detalhes que

a gente segreda da vida que

levou, leva ou ainda levará.

É como se projetássemos

imagem de pessoas que

amamos ou tentamos esquecer,

que foram mutiladas dos

relacionamentos pelas dores

causadas, numa tentativa de

evitar o sofrimento. Talvez até

tenha realmente sido o melhor,

uma vez que perdoar não é

sinal de esquecimento; antes

sim, lembrar sem dor dos

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daqueles a quem você dá

forma, que no campo das

relações pode ir muito além

das nuvens e atravessar os

céus. Acho que cheguei lá!

Talvez, agora, seja a sua vez

de tentar...

para quem sabe enxergar

suas próprias formas. E nessa

reflexão meio louca, talvez

você consiga articular dentro

de si mesmo as conjeturas

e as formas que a sua vida

toma; bem como, as formas

expressá-la, ainda que isso

fosse objeto de desejo. Deus

me fez humano, homem, ser

gente, imperfeito..., mas em

busca de!!! É, estou em busca

de ser e existir, dar sentido às

formas que me afetam pelos

seus sentidos. Porém, um

sentido novo, de existência

nova e em nada maldita;

antes sim, bendita.

Bendita esperança que

nos move, que nos faz ver e

enxergar – até mesmo nessas

palavras há diferenças. Pois

podemos ver apenas no

sentido literal ocular, mas

podemos deixar de enxergar

aquilo que está diante de

nós e grita existência, na

tentativa de se libertar.

Talvez você esteja muito

curioso com os personagens

da minha vida, das nuvens

e suas muitas formas. Pois

bem, olhe para as nuvens,

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pop, “a arte de tornar o lugar-

comum algo revelador”. Então,

Zé Bruno, guitarra e voz do

Resgate, quinteto peso pesado

do pop rock cristão – ou gospel,

como se convencionou chamar

equivocadamente no Brasil –,

encasquetou há 22 anos com a

ideia da transmissão da boa

nova de salvação forjada entre

guitarradas e postura rocker. E

o resultado? Há pouco mais de

um ano o grupo assinou com a

Sony Music, o que não signifi ca

o sonhado primeiro passo

rumo à cena pop nacional, ou o

caminho defi nitivo, pelo menos

por enquanto, para ser luz em

meio às trevas; a banda é parte do

braço gospel da companhia, sinônimo

de uma engrenagem musculosa de

marketing e distribuição a serviço de

Ainda Não É o Último, álbum mais

recente da banda, de 2010, dirigida

majoritariamente para o mercadão

evangélico. Ainda que, nas palavras

de Zé Bruno, a banda nunca tenha

desviado o foco para o que acontece

do lado de lá do muro “gospel”. É

que, para o grupo, bastam três acordes.

“Vejo o Resgate hoje como uma banda

que não está nem de um lado nem do

outro. Não temos uma grande aceitação

no meio evangélico porque tentamos

manter uma linguagem, apesar de ser

[banda] cristã que ainda tenha eco na

cabeça de um cara que não frequenta

igreja”, analisa. Ele cita composições

próprias que sustentam sua tese,

como Jack and Joe, Transformers,

Terapia, Neófi to. E mais: Outra Vez

M Ú S I C AM U LT I M Í D I A

Depois de duas décadas de estrada e um

contrato com uma grande gravadora, Zé

Bruno e o Resgate colhem resultados na

trilha tortuosa do rock cristão

Bastam três acordesFilipe Albuquerque

DIVULGAÇÃO

“E se bastassem três

acordes?”, pergunta uma

peça publicitária recente

do Canal Futura, emissora educativa

a cabo das Organizações Globo. A

imagem do fi nado Sid Vicious, baixista

do Sex Pistols, empunhando um

Fender Jazz Bass que ele mal sabia

tocar, já respondia a pergunta. Para o

quarteto punk londrino em 1977, para

os criadores do rock’n roll algumas

décadas antes e a um exército de

moleques que empunharam guitarras

desde sempre para gritar suas angústias

juvenis aos pais, professores e ao

mundo, três acordes são muito mais do

que sufi cientes.

Há algo de contraditório em

encontrar um guitarrista de uma

banda de rock em uma típica padaria

paulistana numa segunda-feira

às 15h30 para uma conversa de

pouco mais de uma hora, que tratou

basicamente de rock e sacou nomes

como Rolling Stones, The Who,

Nirvana, Black Crowes e Radiohead.

Mas o rock não é, em sua essência,

algo contraditório ao promover

tiozinhos de meia idade empunhando

guitarras enquanto levam adolescentes

à histeria? Não é uma banda cristã

de rock a suprema contradição? Os

quadris sacolejantes de Elvis Presley,

a Stratocaster fl amejante de Jimi

Hendrix e o dedo em riste de Joe

Strummer, três ícones do gênero mais

juvenil e rebelde da música universal,

diriam que sim.

Mas o rock’n roll é também, na

defi nição precisa de Greil Marcus,

o maior crítico vivo da música

(de Ainda Não É o Ultimo) e E Daí

(Resgate, 1997) também entram na

lista. Por enquanto, nada de uma visita

consistente ao pop rock nacional.

“Temos uma avassaladora maioria de

grupos que fala para os que estão na

igreja, e uma pequena minoria que

quer falar a quem não é da igreja”,

teoriza. “Por isso, há a questão da

linguagem”, emenda ao lembrar

que a música cristã “comercial” que

predomina hoje é a que fala sobre

realidades doutrinárias para quem é,

no mínimo, iniciado na doutrina. “Mas

a gente busca na linguagem, no som,

no tipo de produção, na capa, no bom

humor, tentar se aproximar [do público

não cristão] para falar de Cristo”,

complementa.

Zé Bruno fala da missão do

Resgate com a maturidade de um

homem já na casa dos 40 anos, família

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ZÉ BRUNO, SOBRE O RESGATE: “Não temos uma grande aceitação no meio evangélico porque tentamos manter uma linguagem, apesar de ser [banda] cristã que ainda tenha eco na cabeça de um cara que não frequenta igreja

formada, pastor da Igreja Casa da

Rocha, em São Paulo, mas com a

humildade de quem entende a dureza

que é tentar transcender as barreiras

do templo. Ao mesmo tempo que

reconhece a luta inglória que isso, num

país como o Brasil, signifi ca. Lançar

mão de letras subjetivas não é algo

que conte com a boa vontade do meio

evangélico. “A música precisa quebrar

algumas resistências. Para que isso

aconteça, você precisa ser subjetivo.

E o subjetivo, dentro do universo

evangélico, não pega bem”, constata.

Barulho – A turma evangélica também

costuma torcer o nariz quando as

referências estéticas de uma banda

cristã residem fora da igreja. Talvez

porque não entenda exatamente tais

referências. Quando o mesmo Resgate

abusou, no álbum homônimo, de 1997,

de efeitos de guitarra – phasers, reverb,

câmaras de eco e tremolos, além de

distorcedores classudos – para, ao

seu modo, pagar tributo ao indie rock

vigente nos anos 1990, que era regido

por barulho, microfonia e ambiências

sem perder a ternura, quase ninguém

do meio entendeu. “Quando a gente

começou a fazer esse disco, comprei

um monte de coisas alternativas”,

informa. Ainda que não lembre da

maioria dos discos que adquiriu para

pinçar ideias – mas cite o Radiohead

como uma das infl uências –, o espírito

da época deixou marcas indeléveis no

som da banda. “Era a vez do Nirvana.

Ainda não existia o Foo Fighters,

mas era o momento dos alternativos”,

traduz ao tentar lembrar de outro

grupo, cujos “acordes dissonantes

com distorção e as melodias eram

completamente fora do normal” e, de

certo modo, fi zeram Zé Bruno reavaliar

seu próprio som. Ainda assim, ele

ainda sonha com a possibilidade de um

novo álbum de louvor, como o Resgate

Praise, de 2000.

Porque é na ausência de referências

estéticas que reside boa parte do

fracasso da missão da música cristã

contemporânea em encontrar jovens

não crentes e conquistá-los por meio

da arte. Quando uma penca de cantoras

gospel têm como benchmarking

algo como um blended de Jane

Duboc, Rosana e outras intérpretes

populares da década de 1980, é que,

artisticamente, há algo de errado. E

é de se esperar que um público com

acesso ao que há de mais quente

surgido ontem na cena pop do

Brooklyn ou em algum clube úmido

de Londres rejeite o que seus pais já

deixaram para trás como algo tosco há

quase 30 anos.

Antenas ligadas – Zé Bruno se

considera antenado. Como quem

não quer se acomodar na passividade

artística do mundo pop cristão, diz

prestar atenção até no que não lhe

parece necessariamente agradável aos

ouvidos. “Ouço mais de uma vez, pode

ter alguma coisa boa ali”, comenta.

Desse modo, pode encontrar ideias para

os devidos respiros no som do Resgate,

que ele avalia como rock’n roll básico.

Na lista das infl uências, estão Rolling

Stones, Who e Black Crowes. No

carro, o CD é Somewhere Down The

Road, o último da cantora Amy Grant.

Dentre todas as críticas e avaliações

que já leu e ouviu sobre a banda, a

que mais o animou veio do quase xará

Bruno Batista, produtor e gerente

artístico da seara pop rock da Sony

Music. Sob a batuta dele estão Skank,

Capital Inicial, Charlie Brown Jr,

Claudia Leite e Vanessa da Mata, para

mencionar alguns. Maurício Soares,

responsável pelo braço gospel da

major, convidou Batista para ouvir

o produto fi nal de Ainda Não É o

Último, logo após a mixagem, ainda

no estúdio. “Ficamos olhando para

saber se ele estava gostando, se estava

batendo o pé”, relembra Zé Bruno.

A impressão do diretor artístico o

fez pensar que, fi nalmente, alguém

entendera.“Quando acabou a audição,

ele falou: ‘Genial. Pensei que eu vinha

aqui ouvir uma banda gospel’. Isso

me deu muita alegria. Não porque eu

tenha preconceito contra o gospel,

mas por entender que ele conseguiu

desligar o Resgate de algo que não

julgo se é bom ou ruim, mas que já

existe, e é estereotipado. Porque [ele

percebeu que] o nosso objetivo é falar

com o cara que não está na igreja. E

percebemos que estamos no caminho

certo”, conclui.

DIVULGAÇÃO

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74

Ativista e chefe da atual banda mais

poderosa do planeta, como todos os cristãos

Bono Vox parece também querer ver o

Espírito Santo face a face

Batendo na porta do céu

Será que ele ainda

não achou o que está

procurando em um dos três

shows ultralotados realizados

no estádio do Morumbi, em

São Paulo, em abril? Ou

em alguma apresentação da

excursão multimilionária

360º? Provavelmente não, se

o que realmente procura não

são somente cifras e fama. O

fato é que, para muita gente,

sobretudo pais de adolescentes

nas últimas três décadas, Bono

Vox ajudou a chutar para longe a

áurea maligna que acompanha o

rock’n roll desde seu nascimento

há meio século.

Bono Vox é o bandleader

que toda sogra pediu a Deus e

que muito crente usa para dizer

ao pastor que nem todo rock

é do mal. Além do pop,

assumiu o papel de ativista,

sobretudo quando o papo

são as mazelas do continente

africano e o descaso dos

ex-poderosos países do G8

com a pobreza em nações do

terceiro mundo. Em sua última

vinda ao Brasil, aproveitou

para, além de beijar a mão da

presidente Dilma Rousseff

e cantar num karaokê com

Ronaldo, encontrar integrantes

do Movimento de Combate à

Corrupção Eleitoral (MCCE) e

registrar apoio à Lei da Ficha

Limpa.

A BUSCA DE BONO CONTINUA: “Eu ainda não entrei o que estou procurando”, canta o vocalista do U2 na milionária turnê 360º

DIVULGAÇÃO

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Pagar de popstar engajado

não é novidade no showbizz. O

músico Bob Geldof, ex-líder e

vocalista do Boomtown Rats,

criou a fundação Live Aid na

década de 1980, celebrada pelo

megaevento que levou o mesmo

nome e que juntou as maiores

estrelas do pop para o combate

à fome na Etiópia. A ideia

surgiu com o single Do They

Know is Christmas, lançado

por ele e por Midge Ure, do

Ultravox, em 1984, sob o nome

de Band Aid, e que contou com

outra constelação de artistas

britânicos. Bono Vox, entre elas.

Mas a simpatia do povo

cristão com Bono encontra

razões já nos primeiros anos

da banda. Em 1981, fase do

U2 pós-punk, de cabelos

desgrenhados e gargantas

baseada nos mandamentos do

rock’n roll. Contudo, é em I

Still Haven’t Found What I’m

Looking For, de The Joshua

Tree, de 1987, que Bono rasga

o peito e narra sua busca

espiritual por algo pelo qual

anseia mais que a própria vida

– o Espírito Santo, segundo ele

mesmo. A música chegou ao

primeiro posto do Billboard Hot

100, sendo o segundo single

da banda a bater no primeiro

lugar da lista da revista norte-

americana Billboard. A também

gringa Rolling Stone incluiu

a faixa no grupo das 500

melhores músicas de todos os

tempos, que ainda faturou o

Grammy daquele ano.

Eu já escalei as montanhas

mais altas,

já corri através dos campos só

para estar com você.

Eu corri, rastejei,escalei estes

muros da cidade só para estar

com você,

mas eu ainda não encontrei o

que estou procurando.

Alguma relação com 1Corintios

13.12 ou simples coincidência?

Bono segue em busca da

transcendência até pedir

arrego e se entregar em uma

declaração de fé digna de

véspera de batismo:

Eu acredito na vinda do reino,

então, todas as cores irão

sangrar em apenas uma,

mas sim, ainda estou correndo.

Você quebrou as ligações,

afrouxou as correntes,

você carregou a cruz e a minha

vergonha,

você sabe que eu acredito nisso.

A música está no setlist da

360ª Tour 2011, incluindo os

shows realizados no Brasil.

Sinal de que a busca continua.

Que um dia, Bono a encontre.

(FA)

inflamadas pela revolta, crítica

e parte do público identificou

elementos espirituais em

letras do álbum October, do

mesmo ano. Na música Gloria,

Bono usa o refrão para clamar

“Senhor, se eu tivesse alguma

coisa, qualquer coisa, eu daria

a você”. Em With a Shout, o

vocalista cai de joelhos: “Quero

ir para os pés do Messias, para

os pés de quem me fez. (...)

Vamos estar lá de novo em

Jerusalém”.

Mais ou menos nesse

período Bono, The Edge e

Larry Mullen, os três cristãos

assumidos da banda, passaram

a integrar um grupo religioso

de Dublin chamado Shalom. O

posicionamento religioso fez

surgir questionamentos entre os

três ao relacionarem a fé à vida

DIVULGAÇÃO

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Patrícia Guimarães

é mestre em Musicologia, bacharel em Canto Lírico, e regente e professora de Canto em Juiz de Fora (MG)

L O U V O R E A D O R A Ç Ã O

Por um louvor atemporal

“Não há

dúvidas de que

a ‘nova’ escola

de louvor vem

abençoando a

Igreja de Cristo

no Brasil.

Contudo, não

temos dado

ênfase às

caracterís-

ticas do Deus

majestoso,

misericor-

dioso, bom e

justo”

Mudanças são

necessárias.

Algumas vezes,

dolorosas; outras, trazem

boas expectativas. Verdade é

que elas vêm carregadas de

emoções, e exigem adaptação.

Por isso, a sensação de

desconforto, sempre.

Instabilidade, insegurança

ao que se seguirá. Adaptar é

apropriar-se de uma situação

ou coisa que você considerava

de outro, é moldar-se a novos

espaços e circunstâncias.

Quando conheci Jesus, com

pouco mais de 11 anos de

vida, nem imaginava quantas

mudanças teria que passar.

Novos conceitos e atitudes

precisariam prevalecer em

minha vida para o novo

ideal abraçado – seguir o

mestre. Não muitos anos se

passaram e me vi envolvida

num lindo conjunto musical

de minha cidade natal

– na década de 1980, os

grupos musicais facilitavam

aos jovens experiências

com Deus e participações

especiais de louvor durante

os cultos. Textos poéticos

eram desenhados numa

teia melódica e harmônica

que refletiam a verdade da

iniciando a década de 1990,

vimos um novo cenário se

delineando na música gospel

brasileira. Era o início da

expressão “ministério de

louvor”, com repertório maior

e menor exigência na área

musical. Os conjuntos de antes

começaram a se enfraquecer,

pois não era preciso tanto ensaio

para “louvar”. Acompanhando

as mudanças, apropriamo-

nos do novo “modelo” de

adoração. Sabíamos que um

grupo enxugaria a participação

do outro e não tardaria o

desaparecimento do “antigo”

modo de adoração. As

“apresentações”, agora, estavam

fora de questão – embora eu

nunca tivesse pensado que,

enquanto ensaiava e cantava

com o conjunto, não estivesse

louvando! Se para os amantes de

antigos hinos dos cancioneiros

cristãos, os grupos musicais da

década de 1980 já eram muito

“ritmados” e “modernos”, a nova

onda de louvor dos anos 1990

causaria maior espanto pelo

uso de instrumentos mais altos,

vozes elevadas, músicas com

arranjos vocais mais simples

e grande aceitação pública.

Diversas gerações e memórias

musicais em conflito.

Palavra cantada, letras de um

culto racional envolvidas por

melodias tranquilas. E nossos

corações eram surpreendidos na

imprevisibilidade dos arranjos

musicais. Convertíamos nossas

atitudes após cada cântico novo.

Findos os anos 1980 e

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da criatura... E estamos

imprimindo esse Deus às novas

gerações.

Por isso, registro um clamor

ao novo levita que tenho

em minha casa: respeite as

diferenças, seja amoroso e

compreensivo para com as

gerações “passadas”, pois

são expressões de fé que têm

igual valor diante do Pai.

Jesus, enquanto viveu entre

nós, honrou o antigo Deus de

Abraão, Isaque e Jacó, e nasceu

da linhagem da estrangeira

Rute. Filho, adore-o na

congregação dos santos, conte

aos seus filhos o poder de suas

obras e não esqueça que seus

mandamentos são igualmente

justos. Em suas memórias

musicais, adore-o em qualquer

tempo! Porque “o seu louvor dura

para sempre” (Sl 111.10).

Texto dedicado a David, meu fi lho

por isso que o povo de Israel

celebrava a interferência de Deus

em sua história por meio de

cânticos – memórias transmitidas

aos filhos –, gerações de

várias épocas desafiadas a

cruzar desertos e mares. Em

nosso tempo, novas mudanças

surgirão para testar a maturidade

da trajetória em unidade de

gerações distintas.

Não há dúvidas de que a

“nova” escola de louvor vem

abençoando a Igreja de Cristo

no Brasil – sons expressivos

e próprios do ser humano

espelhados no relacionamento

com Deus. Contudo, não temos

dado ênfase às características

do Deus majestoso,

misericordioso, bom e justo.

Estamos mais distantes das

pessoas, mas humanizamos

Deus. Celebramos seu toque,

seu olhar, as batidas de seu

coração, o criador à semelhança

O desconforto, então, tornou-

se visível. Quem se adaptaria

a quem? Hinos como Santo,

Santo, Santo, Ao Deus de

Abraão Louvai e Ó, Mestre,

Nunca Cessarão Meus Lábios

trouxeram impacto às gerações

mais antigas, enquanto releituras

de riquezas como Castelo Forte,

Sou Feliz com Jesus, Bendita

a Hora de Oração sempre

confortaram a geração mais

nova.

Contudo, os recém-chegados

adoradores ao arraial, sedentos

pelo avivamento por meio

da liberdade de expressão,

trouxeram um tsunami de novas

canções entoadas em ritmos

frenéticos e contagiantes nos

cultos, utilizando mais de um

terço das sessões dominicais.

Registros de experiências de fé

e congraçamento do corpo de

Cristo sempre acompanharam as

composições musicais. Talvez

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Marcos Stefano Couto

L I T E R AT U R AM U LT I M Í D I A

À prova de dúvidas

que fosse ele mesmo que apareceu na

porta da casa onde estavam, após ser

milagrosamente solto da prisão por

um anjo. “Deve ser o espírito dele”,

duvidaram alguns. Também hoje, com

verdadeiras campanhas contra a religião

promovidas pelos neoateus Richard

Dawkins, Christopher Hitchens, Sam

Harris, Daniel Dennett e por tantos

outros pretensos cientistas, ninguém

está totalmente livre de vez ou outra

duvidar.

Por isso, há até quem já defenda

que alguns questionamentos podem

ser benéfi cos para o crente. Ajudam-

no a buscar respostas e a fi rmar suas

crenças. Claro, desde que as mais

difíceis perguntas obtenham as mais

satisfatórias respostas. Para confrontar

os pontos complicados da fé, a editora

Holy Bible está a lançando a série

de estudos bíblicos Defensores da

Fé, uma coleção que promete ajudar

os leitores a esclarecer suas dúvidas

sobre os mais variados assuntos, desde

“Não duvide, meu irmão!

Duvidar é pecado!” Quem

nunca ouviu esse tipo de

afi rmação em alguma igreja evangélica?

Apesar de considerada pelos cristãos

mais conservadores como uma postura

“herética” ou até como “falta de fé”, a

realidade é que a dúvida é mais comum

em qualquer religião do que muitos

imaginam. E, diante das agruras e

desafi os da vida, no cristianismo não é

diferente. A própria Bíblia está cheia de

personagens que viveram verdadeiros

dilemas com seus questionamentos.

Moisés quase brigou com Deus por

duvidar de que seria capaz de cumprir

a ordem de liderar a libertação do

povo escolhido. Davi, mesmo ungido

pelo profeta Samuel, escondeu-se

com suas dúvidas e frustrações em

uma caverna quando, em vez de

tornar-se rei, passou a ser ameaçado e

perseguido por Saul. Mesmo orando

pela libertação de Pedro, os apóstolos

e demais discípulos não acreditaram

Livros da nova série de estudos bíblicos

Defensores da Fé ajudam a acabar com os

difíceis questionamentos sobre temas como a

existência de Deus, a veracidade da Bíblia e a

diferença entre o cristianismo e outras religiões

a confi abilidade da Bíblia, com suas

aparentes contradições, à existência e

caráter de Deus. Afi nal, se Deus é bom,

como ele permite tanta dor e maldade

no mundo?

“Essa série serve como um bom

auxílio para aqueles que ainda

buscam a verdade e para

quem deseja estar melhor

preparado para compartilhar

sua fé. Em tempos de

questionamentos, mesmo

o mais fi el cristão precisa

estar bem equipado”,

defende o professor

Norman Geisler, um dos

mais renomados apologetas

cristãos da atualidade, na

apresentação da coleção.

Quatro volumes já estão

disponíveis para o estudante

brasileiro: Como Podemos

Saber que Deus Existe?,

Por que Deus Permite o

Sofrimento e o Mal?, Como Saber

se a Bíblia é Verdade? e Em que o

Cristianismo é Diferente de Outras

Religiões?.

Em todos, os temas são complexos.

O livro que trata sobre a Bíblia, por

exemplo, analisa a história de sua

escrita, as acusações de que estaria

cheia de mitos e lendas, as possíveis

contradições e o velho assunto dos

evangelhos e livros perdidos, que

está na moda entre os contestadores.

Apesar de se tratarem de questões

áridas, o academicismo, tão comum

nesse tipo de assunto, é trocado por

textos mais rápidos, perguntas práticas,

comparações atuais, revisões pontuais

e aplicações a serem feitas na vida do

estudante. Mérito para os autores John

Ankerberg e Dillon Burroughs, que

apesar de pouco conhecidos no Brasil,

nos Estados Unidos são famosos

justamente por simplifi car o que outros

difi cultam, seja no rádio, na televisão

ou na literatura.

DIVULGAÇÃO

DEFENSORES DA FÉ: temas complexos, mas os autores simplifi cam o que os outros difi cultam

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A G E N D A

conhecida como Cracolândia, na

capital paulista. No dia 28 de maio,

o Jeame estará comemorando seu

30º aniversário com um Culto de

Gratidão a Deus, que será celebrado

na 1ª Igreja Batista de São Paulo

– Praça Princesa Isabel, 233. Quem

quiser participar da festa ou obter

mais informações, basta ligar para o

número (11) 3237-4207 ou acessar o

site www.jeame.org.br.

Resgatar, reabilitar e reintegrar

crianças e adolescentes

em situação de risco social,

especialmente as que vivem nas

ruas de São Paulo e os internos da

Fundação CASA – a antiga Febem.

Esse é o propósito do Jeame, entidade

sem fi ns lucrativos sediada na região

“Cuidando de quem Cuida”sexualidade, esgotamento mental,

autocuidado e saúde emocional.

O evento acontece na Pousada

Betânia, em Curitiba, que fi ca

na Avenida Monteiro Tourinho,

1335 – Bacacheri. Para inscrições

e informações, os interessados

devem entrar em contato pelos

e-mails [email protected] ou

[email protected].

De 3 a 5 de junho, o Exodus

Brasil, entidade cristã

interdenominacional, estará

realizando o Retiro de Líderes 2011,

evento que tem como propósito

oferecer suporte e orientação

a líderes religiosos e a quem

objetiva iniciar um ministério de

redenção. Serão realizadas várias

palestras, focadas em temas como

Ministério Jeame Conexão Israel 2011

Durante o mês de junho, um grupo

de missionários voluntários da

Junta de Missões Mundiais (JMM)

seguirá para Israel com o propósito

de prover às comunidades locais

atividades de educação, assistência

social, intercessão, artes e esportes.

A missão terá como líder o pastor

Marcos Grava, coordenador do setor

de voluntários e do programa esportivo

missionário da JMM. Os voluntários

devem sair do Brasil no dia 9 de junho,

com previsão de retorno para o dia 26

do mesmo mês. Quem quiser obter

mais detalhes, bem como se inscrever

no programa, deve enviar um e-mail

para [email protected]. O site da

JMM é www.jmm.org.br.

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P E R C I VA L D E S O U Z A

O fi o de Ariadne

“Aproxima-se do

Altíssimo quem

não prioriza

a si mesmo e

faz a opção

espiritualmente

consciente”

Esse texto é um desafi o,

porque vou abordar o

caso das crianças de uma

escola em Realengo, no Rio

de Janeiro, vitimadas por um

francoatirador implacável, brutal e

cruel. “Brasileirinhos”, referiu-se a

elas, voz embargada, a presidente

Dilma Rousseff. “Foi um ato

tresloucado de alguém que teve

a mente envenenada”, comentou

o presidente em exercício Michel

Temer – Dilma estava em viagem

ofi cial, na China – ao condecorar

o sargento Márcio Alves, da

Polícia Militar, que salvou mais

vidas ao atingir o atirador, sem

antecedentes criminais, com um

tiro de fuzil segundos antes dele

se matar.

Texto-desafi o porque é

praticamente impossível decifrar

o enigma dessa história, que

engloba um potencial psicótico

e a inocência das pequenas

vítimas, vidas precocemente

ceifadas. O escritor português

Gonçalo Tavares debruçou-se

sobre a sordidez humana no livro

A Máquina de Joseph Walser,

lançado no Brasil pela Companhia

das Letras. Nenhum de nós está

fora do barco da maldade, diz o

escritor, sugerindo que o mal é

expressão da fraqueza humana: “O

ser humano é potencialmente uma

máquina de maldade. Mas também

é uma máquina de bondade. Temos

dois motores em funcionamento, o

de fazer atos maldosos e um para

atos bondosos”.

Texto-desafi o porque pode

ser relativamente fácil, embora

clinicamente irresponsável, elaborar

um pseudodiagnóstico, de ordem

psiquiátrica ou psicológica, para

mergulhar na introspecção do

atirador, que levou para o túmulo

seus segredos existenciais. Prefi ro,

ao contrário dos achistas de plantão

– aqueles que dizem “eu acho”

mesmo para perguntas que sequer

foram formuladas – a elaboração

de Dostoievski: “A vida é a luta

constante entre Deus e o diabo,

em que o palco é o coração dos

homens”. Não é isso que vem a ser

nascer em pecado? Bem que Albert

Camus, também escritor, tentou

compreender: “O mundo não tem

sentido fi nal, mas sei que algo nele

tem sentido, e é o homem, porque é

o único ser que reclama um sentido”.

Texto-desafi o porque busca, se

não respostas, pelo menos tentativa

de explicações. Socorro, poeta Ledo

Ivo: “Eram dois os caminhos/Indo

por um deles encontrei meu irmão

com uma arma na mão/A noite era

tão negra que não se distinguia o

amigo do inimigo/Na escuridão do

mundo sim, e não eram irmãos”.

Desafi o porque tenho que

demonstrar, com amparo nas

Escrituras, que nunca se viu antes

algo como a Palavra do Senhor.

Nada igual, também. Fiz citações,

até aqui. É hora da Palavra-bálsamo.

O Senhor “sara os quebrantados de

coração, e lhes ata as suas feridas”

(Sl 147.3). Prudente recomendação

encontramos em Deuteronômio

28.14: “E não te desviarás de todas

as palavras que hoje te ordeno,

nem para a direita nem para a

esquerda...”.

O massacre de Realengo nos

coloca dentro do labirinto humano.

Aliás, a mitologia grega nos remete

para o labirinto onde o insaciável

e devorador monstro Minotauro

dominava. Teseu consulta o oráculo

de Delfos, que lhe ensina que ele

poderá matar o monstro desde que

guiado pelo amor. Ariadne, a fi lha

do rei, apaixona-se por Teseu e

lhe mostra a chave do sucesso: ir

desfi ando um rolo de linha para

assinalar passagem e não se perder.

Sim, o amor é o guia. Deus é

amor. Aproxima-se do Altíssimo

quem não prioriza a si mesmo e faz

a opção espiritualmente consciente.

Nas mãos da igreja está a missão

que o próprio Cristo confi ou: ir e

anunciar. Se os cristãos não fi zerem

isso, haverá um vácuo que não será

preenchido. Desafi o fi nal: caberá a

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