sinais do ano 15 • edição 148 • r$ 9,90 portugal 4,90...
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A revista evangélica do Brasil
ENTREVISTA Ismael Gontijo e seu evangelismo puro e simples:
SINAIS DOSINAIS DO
APOCALIPSEAPOCALIPSE
•• Tsunami no Japão e fanatismo Tsunami no Japão e fanatismo religioso: as profecias estão se religioso: as profecias estão se cumprindo?cumprindo?
•• Massacre no Rio: o Brasil no Massacre no Rio: o Brasil no mapa do extremismomapa do extremismo
OSAMA BIN LADENMorte do terrorista acirra confl itos
ORAÇÃO DO CORPO Missionária se submete a jejum
Ano 1
5 •
Ediç
ão 1
48 •
R$ 9
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E P Í S T O L A D A R E D A Ç Ã O
Ao fi m da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), duas bombas
atômicas atingiram em cheio as cidades japonesas de Hiroshima e
Nagasaki. Estima-se que mais de 200 mil pessoas tenham morrido,
sem contar os efeitos que a radiação causou nas gerações posteriores.
Sessenta e seis anos depois, o Japão é vítima de um novo e duríssimo golpe:
com a força equivalente a milhares de bombas atômicas, o terremoto de 9,0
graus só não fez mais vítimas do que as ogivas norte-americanas porque
o epicentro do cismo aconteceu a 32 mil metros de profundidade e a 130
quilômetros do continente. Mesmo assim, as ondas gigantes chegaram
ao litoral com força avassaladora, varrendo cidades inteiras e danifi cando
reatores nucleares. Novamente, então, impassível o mundo se vê ameaçado
pelo risco da contaminação do ar pelos gases radiativos.
Mas o que gira em torno de tragédias dessa magnitude? Enquanto os
céticos tentam entendê-las como fenômenos naturais, muitos evangélicos
– entre os quais se incluem teólogos e escatólogos – encontram explicações
nas Escrituras Sagradas, como em Lc 21.21-22: “Então, os que estiverem na
Judeia, fujam para os montes; os que estiverem no meio da cidade, saiam; e
os que estiverem nos campos não entrem nela. Porque dias de vingança são
esses, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas”. Diante disso,
uma indagação: até que ponto o terremoto e o tsunami que devastaram o
Japão e levaram o mundo a temer o pior desastre nuclear de todos os tempos
são sinais do Apocalipse? Acompanhe a reportagem O Temor sob o Bramido
do Mar, e tire suas próprias conclusões. E também: a morte de Osama bin
Laden acirra ainda mais os confl itos de ordem religiosa, e ameaças de novos
ataques terroristas deixam o mundo ocidental em estado de alerta máximo.
Tragédia lá, tragédia cá. O Brasil não é chacoalhado por terremotos,
mas acaba de entrar no mapa – ou nas tristes estatísticas – dos crimes
motivados por fanatismo religioso. O massacre de crianças numa escola
da zona oeste do Rio de Janeiro é outro sinal, para os cristãos, de que a
humanidade realmente vive o fi m dos tempos. Ou não?!
Se pudéssemos escolher, nós, jornalistas, optaríamos por divulgar
somente “coisas” boas, positivas, alegres; contudo, o mundo caminha na
contramão de nossas vontades, fazendo-nos navegar por lados opostos,
tortuosos, tristes. Por ética, cumpre-nos informar, machuque ou não.
Prestemos, então, nossa solidariedade aos japoneses e às famílias das
vítimas de Realengo. Permaneçam fi rmes na fé; afi nal “só ele [o Senhor]
cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas” (Sl 147.3).
Edifi quem-se, na leitura!
JD Morbidelli
A REVISTA EVANGÉLICA DO BRASIL Filiada à Associação de Editores Cristãos (Asec)
Ano 15 – Número 148(11) 3346-2000
www.eclesia.com.br
DIREÇÃO
Diretor ExecutivoElias de Carvalho
Conselho Editorial Elias de Carvalho Junior, Maria da Graça Rêgo Barros,
Percival de Souza, Roseli de Carvalho, Samuel Medeiros
Jornalista ResponsávelMarcos Stefano Couto
REDAÇÃO
(11) 3346-2033
Editor José Donizetti Morbidelli
Repórteres Filipe Albuquerque, José Donizetti Morbidelli,
Karen Rodrigues, Marcos Stefano Couto, Rosana Ibanez
Colunistas Bráulia Ribeiro, Carlos Juliano Gonçalves dos Santos, Emerson Menegasse, Lourenço Stelio Rega, Luiz Leite, Maria de Fátima M. de Carvalho, Patrícia Guimarães,
Percival de Souza, Romney Cruz
Apoio Editorial Sandra Frazão
Editor de ArteEmerson de Lima
Assistente de ArteFernando Jorge Baptista
Site Diego Bittencourt
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Tsunamis e fanatismo religioso: sinais do Apocalipse?
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18 ENTREVISTAEvangelismo puro e simples: estratégia do pastor Ismael Gontijo, que escreveu 21 livros em tempo recorde e recusa ofertas em cultos e campanhas evangelísticas
32 EVANGELISMO Projeto Tikuna: comunidade indígena amazonense prepara os nativos para pastorarem igrejas nas aldeias
38 INTERNACIONAL Tsunami e desastre nuclear no Japão, massacre de crianças no Rio de Janeiro e ameaças de novos ataques terroristas após a morte de Osama bin Laden: estão se cumprindo as profecias bíblicas?
52 COMPORTAMENTO A “oração do corpo”: missionária da Igreja Batista do Calvário se submete a jejum completo (sem comida e sem bebida) por 40 dias
58 MEMÓRIA Fausto Rocha: o adeus do comunicador e pastor evangélico que dedicou sua vida ao jornalismo e à religião
62 MINISTÉRIO Praticamente no anonimato e sob pressão da atividade dos maridos, muitas mulheres desempenham papel importante como companheiras, auxiliadoras e até mesmo conselheiras dos pastores
66 TELEVISÃO Fé, sem trapalhada: a transformação profissional e espiritual do mais sisudo dos trapalhões
S UMÁR I O
“O Senhor me respondeu, e disse: Escreve a visão, grava-a sobre tábuas, para que a possa ver quem passa correndo”
(Habacuque 2.2)
ECLÉSIA • A revista evangélica do Brasil • Ano 15 – Número 148
SEÇÕES
4 Epístola da Redação8 Epístola dos Leitores12 Em Foco80 Agenda
COLUNAS
30 Opinião 34 Discipulado 36 Lugar de Mulher50 Observatório56 Pastoral60 Contexto 70 Missões76 Louvor e Adoração 82 Percival de Souza
MULTIMÍDIA
72 Música78 Literatura
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E P Í S T O L A S D O S L E I T O R E S
Por questão de espaço
disponível ou clareza
de texto, ECLÉSIA se
reserva o direito de
publicar os textos das
cartas que seleciona na
íntegra ou resumidos,
eventualmente
editados
CARNAVAL
Eu até concordo que
não devemos misturar
as coisas. Quem quer
evangelizar tem que ir
até as pessoas, mesmo
no carnaval. Contudo,
deem a elas folhetos
sem desculpas para cair
no samba. A respeito da
festa, do ritmo, focado
na matéria Evangelismo
Fulminante [edição
146], eu discordo. Claro que
cada um tem direito de gostar
de seu próprio ritmo, mas aos
cristãos nada é mais importante
do que adorar ao Pai e ao
Senhor Jesus Cristo.
Elisete Martins da Silva
VIA INTERNET
Esse é um assunto muito
complicado para se discutir,
pois cada indivíduo tem sua
própria opinião. Acho muito
legal evangelizar no carnaval,
como exposto na reportagem
Samba no Pé, Jesus no Coração
[edição 133]. No entanto, é
um pouco exagerado criar
blocos, desfiles e fantasias.
Vejo que os papéis estão se
invertendo; afinal, é o mundo
que deveria imitar a igreja e
não o contrário.
Bruna Gaspar
VIA INTERNET
Para tudo! Imagine Jesus
entrando na avenida para
brincar o carnaval! Será que ele
faria isso? Sinceramente a ideia
de evangélicos participarem da
festa não me agrada, nem por
um minuto. Sei que há crentes
com opiniões que divergem
da minha, que consideram
que não há nada de errado,
argumentando que Deus está
em todos
os lugares,
que temos
que nos
divertir e
não sermos
fanáticos
a ponto de
não nos
misturarmos
com o
mundo.
Carnaval,
no entanto,
significa
prazeres
da carne.
Quem procura por isso, deve
praticar as obras da carne.
Nunca devemos buscar a
satisfação para nossas próprias
vontades, e sim para a vontade
de Deus. Não podemos andar
em Espírito e
praticar as obras
da carne ao
mesmo tempo,
intencionalmente,
sabendo que é
errado. Claro que
pecamos, mas
devemos buscar
a santidade,
separando-
nos das coisas
do mundo.
Muitas igrejas
aproveitam
o feriado e
fazem retiro
espiritual; isso, sim, é oportuno,
principalmente aos jovens e
adolescentes.
Mariana Gomes Pires
CARAGUATATUBA (SP)
LUGAR DE MULHER E
OBSERVATÓRIO
Meu reconhecimento e minha
gratidão à revista, que me
é como vinho: quanto mais
velha, melhor fica. Sou leitor
desde a 2ª edição, quando
ainda se chamava Vinde. Achei
magníficos os artigos Quem
Escreveu o Quarto Evangelho
[coluna Lugar de Mulher,
edição 147], da escritora Maria
de Fátima M. de Carvalho;
e O Evangelho Esfarrapado
[coluna Observatório, edição
147], do teólogo Lourenço
Stelio Rega. Só posso dizer
obrigado! Que a cada minuto
Deus os iluminem para que
continuem escrevendo nessa
mesma linha, pois quem ganha
são os leitores. A Eclésia é,
para mim, uma verdadeira
enciclopédia.
José Alves
PROMISSÃO (SP)
Excelente o artigo Jesus e a
Quebra do Androcentrismo
[coluna Lugar de Mulher,
edição 146], e muito esclarecer
apesar do título complicado.
É um relato, ou
uma prova de que
a mulher, seja
na época atual
ou até mesmo
nos tempos
bíblicos, tinha
uma participação
bastante ativa e
importante no
contexto social.
Embora tenha
demorando
tanto tempo
para que seus
direitos fossem
reconhecidos,
essa luta começou há séculos e
contou com o aval de ninguém
menos do que Jesus Cristo.
Márcia Aparecida Galhardo
CAMPINAS (SP)
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EVANGELISMO
Vi na matéria Evangelismo
Fulminante [edição 146] que
os evangélicos estão levando
a Palavra de Deus a cidades
de tradição católicas, mas
é isso o que os católicos
sempre fizeram (...). A Bíblia
nos adverte hoje em dia
que muitos virão, dizendo-
se mandados em nome de
Jesus; mas, pelo dinheiro o
amor de muitos esfriará e
a Palavra de Deus cairá em
descrédito. Nós, católicos,
temos a Bíblia, a tradição e a
sucessão apostólica que garante
legitimidade da única igreja
fundada por Jesus Cristo. De
um lado temos Deus, perfeito
e Todo Poderoso; do outro o
maligno, as coisas do mundo.
Satanás erra na tentativa de
acabar com a Igreja Católica,
porque ele e suas seitas a
atacam ferozmente. Todos os
dias surgem novos hereges,
mas as heresias
são velhas
e sempre as
mesmas. Muitos
usam trechinhos
decorados da
Bíblia, saindo
do contexto e
dizendo o que não
é real. Por fim, a
igreja não perde
os fiéis e sim os
infiéis.
Wlamir Garcia
SANTO
ANASTÁCIO
(SP)
TITANIC
Com relação ao texto Zombar
de Deus Não é Bom Negócio
[seção Em Foco, edição 42],
não creio que o Senhor seja
vingativo. Primeiro porque,
até hoje, ninguém provou
aquele dito de que nem Deus
poderia afundar o Titanic; de
qualquer forma, a frase foi
atribuída a um engenheiro que
sequer participou
da viagem fatal.
Segundo: qual o
Deus que, para se
vingar, mataria
cruelmente
centenas de
pessoas inocentes
por causa da frase
de um idiota
que só soube
do naufrágio
por terceiros?
Tudo isso não
passa de uma
teologia barata
e sem qualquer
fundamento.
Nilo Sergio Krieger
BRUSQUE (SC)
JENNIFER KNAPP
Pena que a norte-americana
Jennifer Knapp,
objeto do texto
Do Jeito que
Eu Sou (seção
Multimídia
Música, edição
142) aponte que
a tradução para o
homossexualismo
não é o que a
Bíblia Sagrada
nos mostra. Ou
seja, ela dá mais
valor ao prazer
sexual do que
ao dever de
todo cristão em
obedecer a Deus.
Nelson Carneiro
VIA INTERNET
HISTÓRIA
Quando os professores
abordaram sobre a Noite de São
Bartolomeu no colégio onde
estudei tudo ficou meio dúbio,
pois a escola era católica
apostólica romana. Lembro-
me de que foi falado, mas
não comentado
ou explanado a
fundo. Lendo
a matéria O
Holocausto
do Século 16
[edição 118],
todas as minhas
dúvidas sobre o
assunto foram
sanadas. Fiquei
esclarecido, mas
não surpreso.
O que mais
me marcou
durante a leitura
foram algumas
coincidências em relação à
data. O massacre na França
aconteceu em 24 de agosto de
1572; no mesmo dia, séculos
à frente, morria o presidente
Getúlio Vargas, e foi em 24
de agosto de 2010 que eu
comecei a me interessar pelo
assunto. Coincidências?!
Jurandir
VIA INTERNET
É difícil comentar a
ignorância humana,
principalmente quando
conduzidos por doutrinas
absurdas. Assisti ao filme
Setembro Negro, objeto da
matéria De Quem é a Culpa:
Mórmons ou Paiutes? [edição
141]. Fico impressionado
com tamanha falta de
discernimento, por atrelarem
culpa ao demônio quando na
realidade a ação foi movida
pelo próprio homem. Em
muitas passagens bíblicas,
Jesus nos mostra que temos
condições de pensar e agir.
Quando ele disse “atire a
primeira pedra quem nunca
cometeu um pecado” aos
hebreus, por exemplo, o
homem pensou antes de agir.
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10
Temos o livre arbítrio, mas
não seremos os julgadores.
Imagino que os insanos que
cometeram tal massacre
passaram por
situações difíceis
no momento
celestial, e Deus
deve usar uma
medida justa
contra os que se
utilizam de sua
Palavra para fazer
o que consideram
correto para eles
próprios. Que
o Senhor tenha
misericórdia
desses pecadores.
Roberto
Smaczylo
VIA INTERNET
Senti-me horrorizado quando
assisti ao filme Setembro
Negro. Como é possível um
maluco, com pensamentos
malignos, conseguir liderar e
cegar uma grande quantidade
de lunáticos? Tal seita
distorce toda a Bíblia, que é
a única e verdadeira Palavra
deixada por Deus.
Lázaro Alves
VIA INTERNET
Depois de ler a matéria Jeito
Simples de Viver [edição
126], adquiri um pouco mais
de conhecimento de outra
cultura. Muito bom!
Rogério Alves Archanjo
CONTAGEM (MG)
MISSÕES
Muito apropriado o título da
matéria Grande Seara Ainda
Requer Muitos Ceifadores
[edição 130]. A evangelização
é uma obra muito bonita,
só que na verdade nem todo
mundo quer realizar esse
trabalho. As missões estão
no coração de Deus, e que ele
abençoe a todos que o seguem.
Evandro Macedo Silva
RECIFE (PE)
MITOLOGIA
Sempre fui
fascinado por
mitologia grega e
cultura clássica.
Contudo, sempre
fico frustrado
quando leio
matérias e artigos
que tentam fazer
um paralelo com
o cristianismo.
Vejo todo mundo
fugindo pela
tangente e sem
esclarecer quase nada. Gostaria
de textos mais
objetivos que
não ficassem
fazendo voltas
acerca do
assunto. Penso
que vivemos
num país livre e
ainda podemos
nos expressar
livremente,
ou será que
não? Quanto à
afirmação de
Jorge Pinheiro
na matéria
Entre Heróis e
Deuses [edição 134], gostaria
de dizer que razão e pensamento
científico têm suas metodologias
bastante semelhantes e que o
homem do pensamento comum
ainda continua preso às velhas
crenças e tradições antigas,
na maioria das vezes mitos e
lendas, inclusive as contidas nas
narrativas bíblicas. Portanto,
o homem moderno está longe
de atingir a tal liberdade que
a humanidade sempre sonhou.
Hoje, o que vemos é cada
vez mais pessoas vazias e
desesperadas à procura de não
se sabe o quê. Diante disso,
eu pergunto: o que a razão e o
pensamento científico fez pelo
homem moderno?
Carlos Rogério de Abreu
VIA INTERNET
LANNA HOLDER
Expor as fraquezas e os pecados
dos outros é muito fácil. Admiro
a missionária Lanna Holder, foco
da entrevista A Volta Depois da
Queda [edição 130], porque,
mesmo diante das acusações pelo
erro cometido, ela jamais omitiu
a verdade. E para Deus, é isso o
que importa. Não a vejo como
uma celebridade, mas como uma
pessoa comum, com pecados,
defeitos e qualidades tal qual a
mim e a todos.
Rosana Dantas
SÃO PAULO (SP)
QUALIDADE
EDITORIAL
Sou assinante desde
quando a revista
era denominada
Vinde. Enalteço
a ECLÉSIA por
todos esses anos de
reportagens a serviço
do Reino do Deus,
e pela excelência
das matérias aqui
publicadas. Parabéns!
Josanan Santos Mariano
SÃO PAULO (SP)
PARA COMENTAR AS
MATÉRIAS DE ECLÉSIA:
1 – Pelo site:
www.eclesia.com.br
2 – Por carta: Revista Eclésia
(Rua Pedro Vicente, 90 –
01109-010 – São Paulo SP
3 – Por e-mail:
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12
crises políticas, sociais e
financeiras do país ao longo
dos anos; e, como simples ser
humano, lutou bravamente
contra um câncer que o tentava
derrubar há mais de uma
década. Conseguiu, em 29 de
março de 2011. Os discursos
do empresário e político eram
sempre marcados pela fala
mansa típica do “bom” mineiro –
se bem que, quando se discutia a
alta da taxa de juros, ele chegava
a se exaltar um pouco –, além
do humor característico e das
não raras referências religiosas.
“Eu não posso, de forma alguma,
pensar que vai acontecer
alguma coisa comigo sem
que Deus queira. E se
ele quiser, inclusive que
eu morra, vai ser bom
para mim, porque Deus
não faz nada ruim contra
ninguém”, disse, certa vez,
já moribundo. Em outra
entrevista, numa das tréguas
da doença, ele brincou com
o jornalista Paulo Henrique
Amorim, da Rede Record:
“Se Deus quiser me levar, ele
não precisa de câncer para
isso. Se não quiser que eu
vá, todavia, não há câncer
que me leve. E eu estou
desconfiado que ele não quer
que eu vá agora”. A morte,
portanto, não o assustava, ao
contrário da desonra. Mas,
pelo censo de justiça, retidão
política e empreendedorismo
como homem de negócios,
esse risco não o ameaçava.
Voltando à sua vida
espiritual, há quem diga que
José Alencar era evangélico.
Ser ou não ser, agora é um
mero detalhe. O que importa
é o legado por ele deixado,
inclusive para muitos que se
dizem crentes e não agem em
conformidade com os princípios
cristãos: “Confiar em Deus e ser
sempre submisso à sua vontade”.
(José Donizetti Morbidelli)
E M F O C O
O legado de José Alencar Discursos marcados pela fala mansa
e referências a Deus atestam a fé de
José Alencar; contudo, não evidenciam
se ele era ou não evangélico
Uma vida marcada por
histórias de superação.
Em poucas linhas, assim
pode ser resumida a vida do
ex-vice-presidente da República
José Alencar que, como figura
pública e homem de negócios,
testemunhou algumas das piores
JOSÉ ALENCAR: “SE DEUS QUISER me levar, ele não precisa de câncer para isso”
DIVULGAÇÃO
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13
Aos “vendilhões” da imprensa Senador, que se diz
vítima de perseguição
por parte da imprensa,
perde a compostura em
coletiva e compara sua
indignação a de Jesus
diante dos vendilhões
do templo
DIVULGAÇÃO
Depois de se irritar e arrancar o
gravador das mãos do jornalista
Victor Boyadjian, que o questionava
se ele abriria mão da aposentadoria
de R$ 24 mil como ex-governador
do Paraná, o senador peemedebista
Roberto Requião voltou ao plenário
um dia depois para jogar água fria
no imbróglio, que tem fomentado
discussões sobre atividades jornalísticas
e o cerceamento à liberdade de
expressão. Julgando-se vítima de
bullying – palavra de origem inglesa
que denota perseguição promovida por
um grupo mais forte sobre um mais
fraco –, o parlamentar fez uso até da
religião na tentativa de justifi car seu
comportamento pouco convencional
para quem ocupa um cargo público
de tamanha relevância. “Reconheço
que perdi a paciência. Há momentos
em que a indignação é uma virtude,
como foi a de Cristo ao responder aos
vendilhões do templo”, afi rmou, com
um pouco mais de tranquilidade. Agora,
enquanto o Sindicato dos Jornalistas,
em Brasília, tem cobrado do presidente
do Senado, José Sarney (PMDB-
AP), a aplicação de sanções contra o
paranaense, os demais políticos se veem
divididos entre a diplomacia e a defesa
do companheiro de plenário. O senador
Eduardo Suplicy (PT-SP), por exemplo,
sugeriu a conciliação com o repórter,
enquanto que o maranhense e também
peemedebista Lobão Filho disse que
compreende o momento vivido pelo
parlamentar. Com a cabeça fria e,
talvez, aconselhado por sua equipe de
assessores, é até provável que Requião
se retrate publicamente por sua atitude
intempestiva. Comparar, no entanto, seu
sofrimento ao de Jesus transcende os
limites da relação com a imprensa; para
os cristãos, é pura blasfêmia. (JDM)
Reportagem de Veja
sobre presença de
organizações terroristas
ligadas ao islamismo no
país causa indignação
na comunidade islâmica
brasileira, que não
descarta a hipótese de
ação judicial contra a
revista
ROBERTO REQUIÃO: “HÁ MOMENTOS EM QUE a indignação é uma virtude,
como foi a de Cristo ao responder aos vendilhões do templo”
Na edição 2211 de 06/04/2011,
a revista Veja publicou uma
reportagem intitulada A Rede de Terror
no Brasil, citando documentos da CIA,
FBI e PF que, segundo ela, comprova
a presença de organizações extremistas
internacionais – como a Al Qaeda que,
após a morte de Osama bin Laden,
deverá ser comandada pelo médico
egípcio Ayman al-Zawahri – no país.
Ainda, de acordo com a publicação,
existe uma rede de terror islâmico que
usa o Brasil para divulgar propaganda,
planejar atentados, fi nanciar operações
e aliciar militantes. Tão rápida quanto
um míssil foi a repercussão da matéria,
sobretudo entre a comunidade islâmica
brasileira. Indignada, a União Nacional
de Entidades Islâmicas (UNI) lançou
imediatamente uma campanha em seu
site com o intuito de recolher assinaturas
– ou melhor, procurações – dos fi éis
seguidores para a eventual adoção de
medidas judiciais contra a revista. “Basta
você preencher e assinar a procuração
para que nossos advogados movam
ações no fórum de pequenas causas”,
propaga a mensagem, frisando ainda
que exige retratação pelo que considera
“crime” de discriminação, calúnia,
racismo, difamação, danos morais,
intolerância religiosa, enfi m... Por sua
vez, a Federação Árabe Palestina do
Brasil (Fepal) classifi cou a revista como
“notória inimiga de políticas externas
não alinhadas a dos Estados Unidos,
e visível inimiga dos muçulmanos em
geral e dos árabes em particular”. Até
o fechamento dessa edição, a direção
do veículo não tinha se manifestado a
respeito do assunto. (JDM)
Na mira do IslãNa mira do Islã
POR MEIO DE SEU SITE, UNI recorre aos fi éis islâmicos antes de defi nir
eventual ação judicial
DIVULGAÇÃO
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14
Sessão inacabada Filme sobre a vida de
Jesus é interrompido
na Ásia por grupo de
radicais anticristãos
Por mais que já se conheça a
história do nascimento, morte e
ressurreição de Jesus, fi lmes que
retratam a vida do Messias são sempre
campeões de audiência em qualquer
parte: há quem encontre motivos na fé
e na emoção, e ainda quem assista por
mera curiosidade ou para fomentar as
discussões entre religiões. Independente
do motivo, inadmissível, no entanto, é
quando a sessão de cinema descamba
para a violência, com contornos de
preconceito e intolerância. Foi o que
aconteceu no mês de abril numa aldeia
na Ásia, quando cerca de 150 pessoas
– entre crianças, adolescentes, adultos
e membros da equipe de fi lmagens,
a convite de um empresário – foram
surpreendidas por um grupo de radicais
anticristãos, que bravejavam contra a
exibição da película num telão exposto
ao ar livre. Bem que Sarwar Howlader,
um dos membros que acompanhava
o pastor local, tentou apaziguar os
ânimos dos revoltosos alegando que os
líderes da aldeia haviam autorizado a
exibição. Inútil, e também não demorou
muito para que a própria multidão
se manifestasse contra os opressores
que, por sua vez, tentavam incitar os
espectadores, “alertando-os” que os
missionários queriam tão somente
forçá-los a aceitar o cristianismo na
marra. O confronto chegou, então,
às vias de fato; e, para não acarretar
maiores problemas à igreja, por
prudência os missionários decidiram
recuar e deixar a aldeia a contragosto
do público. Ao menos, naquela sessão a
fi ta não rodou na íntegra. Já, as orações
prosseguiram por intermédio do pastor
responsável pelo pequeno rebanho.
“Vamos orar pela segurança da equipe
que foi atacada”, pediu. (JDM)
INTOLERÂNCIA DIANTE DA TELONA: cerca de 150 pessoas não puderam assistir ao fi lme na íntegra
DIVULGAÇÃO
A “profecia” do Family Radio Grupo que se intitula
cristão faz as contas
a partir do Grande
Dilúvio, descrito na
Bíblia, e apregoa o
fi m do mundo
Preparem-se aqueles que
realmente acreditam que o
mundo chegará ao fi m em
dezembro de 2012, pois um novo
alerta apocalíptico acaba de aportar no
Brasil: segundo ele, o fi m dos tempos
pode estar muito mais próximo do que
se imagina. Tudo começou quando
um grupo cristão norte-americano
intitulado Family Radio, que até
mantém uma vertente de seguidores
em Belo Horizonte (MG), rodou o
país divulgando uma mensagem de
que o Dia do Juízo Final tem data
marcada: 21 de maio. Harold
Camping, líder do grupo,
utiliza-se da matemática para
interpretar o que defi ne como
certeza bíblica: o fi m dos
tempos começaria 7 mil anos
depois do Grande Dilúvio,
que supostamente teria
acontecido em 4990 a.C.
Por considerarem as
“afi rmações” do Family Radio
como “falsas profecias” ou,
quem sabe, uma campanha
publicitária sensacionalista,
comunidades cristãs não têm poupado
críticas ao grupo; muitas, inclusive,
classifi cando-o como seita. Não por
menos; afi nal não é a primeira vez
que Camping dá uma de “profeta”
do fi m dos tempos. Na década de
1990, ele chegou até a publicar um
livro anunciando a provável volta de
Cristo para dali a quatro anos. Nada
aconteceu. A profecia pode ser falsa,
mas com o enorme outdoor indicando
as frequências em letras garrafais,
é muito provável que os índices de
audiência da rádio tenham aumentado
substancialmente, mesmo que movidos
por mera curiosidade. (JDM)
INVESTIMENTO PESADO EM DIVULGAÇÃO: letras garrafais trazem a data do juízo fi nal
DIVULGAÇÃO
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15
Toy Story. Entretanto, com o
diferencial de transmitir valores
cristãos e uma mensagem otimista
de fé. A campanha de divulgação
já começou na internet, além de
igrejas e diversas comunidades
cristãs. Responsável pela
distribuição internacional do
desenho a Warner Brothers
espera, com a ajuda dos crentes,
lotar os cinemas assim que o filme
chegue às telonas, o que deve
acontecer em breve. (JDM)
Fé em três dimensões
Foi divulgado em abril, mês
da Páscoa, o preview do
longametragem de animação
O Leão de Judá (Lion of Judah),
que vem sendo produzido pela
Eternal Pictures desde 2008. Até
aí, nenhuma grande novidade,
uma vez que produções com
temática cristã têm se tornado
investimentos corriqueiros para
a indústria do entretenimento
e os ministérios de orientação
religiosa. A diferença, no entanto,
é que se trata do primeiro
filme cristão produzido
em 3D. É a tecnologia em
terceira dimensão que, aliás,
não passa de uma ilusão
de ótica produzida pela
esteroscopia – fenômeno
responsável pela projeção
de imagens, da mesma cena,
com pontos de observação
ligeiramente diferentes.
Complicado? Então, melhor
partir para o roteiro, que é
ambientado na cidade de
Jerusalém dos tempos de
Jesus. Até mesmo por isso,
a animação já vem sendo
chamada de A Paixão de Cristo
para crianças, em alusão ao
sucesso de Mel Gibson, de 2004.
Personagens como Horácio
(o porco afetuoso), Monty (o
cavalo pessimista), Slink (o galo
brigão), Jack (o burro imaturo),
entre outros bichinhos animados
podem, segundo os produtores,
tornar-se tão populares entre a
criançada quanto os de desenhos
convencionais como o ogro
Shrek ou o cowboy Woody, de
Primeiro longametragem produzido com
tecnologia 3D, O Leão de Judá busca transmitir os
valores cristãos à criançada por meio da animação
O LEÃO DE JUDÁ: divulgação já começou na internet, igrejas e demais
comunidades cristãs
DIVULGAÇÃO
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Star of HopeA Sociedade Benefi cente Es-
trela da Esperança, tam-bém conhecida como Star
of Hope, é uma entidade fi lan-trópica, de origem sueca, estabe-lecida no Brasil desde 1970. Tem atuado numa área de fundamen-tal importância para a criança: a educação, por meio da fundação, apoio a centros educativos infantis e manutenção de creches.
Depois de iniciar suas ativida-des em Minas Gerais, a entidade passou a atuar também na cidade de São Paulo, totalizando quase 600 crianças atendidas diariamente em horário integral – atualmente, 63% das crianças brasileiras necessitam de creche; dessas, apenas 9% tem acesso às unidades públicas.
Devido à sua gênese evan-gelística, a entidade auxilia na orientação cristã das crianças, com o propósito de garantir a todas um bom aprendizado, cal-cado nos valores e princípios morais, no início da vida.
A Star of Hope atende as seguin-tes creches:
- Município de São Paulo (SP): no Centro Educação Infantil Erik Gunnar Eriksson, onde são atendidas 150 crianças carentes na faixa etária de 0 a 3 anos;
- Município de Montes Claros (MG): na Creche Estrela da
Esperança, onde são atendi-das 430 crianças carentes na faixa etária de 0 a 5 anos.
Em 19 de Julho de 2007, con-forme Lei Complementar nº 524, a Prefeitura de São Vicen-te concedeu à entidade uma área de 6.600 m2 no Jardim Rio Branco para a construção de uma Unidade de Referên-cia Social, em parceria com o município de São Paulo. Ao ser fi nalizada, a unidade ofere-cerá 500 vagas em creche para crianças de 0 a 6 anos, e 600 va-gas para a escolinha de futebol para os que compõem a faixa etária de 7 a 14 anos.
As crechesOs responsáveis pela entidade entendem que a faixa etária de 0 a 6 anos, ou seja, os primeiros anos de vida da criança, cons-tituem um período de intenso aprendizado e desenvolvimen-to. É quando se assentam as bases de todo o seu desenvol-vimento saudável. O trabalho a ser implantado tem como princípio viabilizar, a todas as crianças atendidas, vivências bem-sucedidas de aprendiza-gem, bem como proporcionar novas formas de interação e de relacionamento entre as pró-prias crianças, com a família, a
comunidade, enfi m... Só assim é que elas poderão compreender melhor o mundo e transformá-lo no futuro.
A escolinha de futebolAtende crianças entre 7 e 14 anos, propiciando lazer, vivências e in-teração social por meio da prática esportiva. A escolinha de futebol tem como objetivos principais: - Oferecer um espaço coletivo vol-
tado às crianças e adolescentes para desenvolvimento da práti-ca esportiva;
- Utilização do esporte como uma ferramenta reconhecidamente efi caz para a transformação e in-clusão social;
- Fornecer, por meio do espor-te, maiores oportunidades de desenvolvimento motor, intelec-tual e social;
- Identifi car potencialidades e de-senvolvê-las como perspectiva de um futuro melhor.
A caixa d`água A caixa d`água que está sendo construída refl ete bem o perfi l
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ecologicamente correto da uni-dade.
Programada para armazenar 54 mil litros de água, é dividi-da em dois compartimentos: um para receber água tratada (Sabesp) e outro para água de chuva, a qual será fi ltrada e utili-zada para os mais diversos fi ns.
Preocupada com a formação de uma identidade social, a Star of Hope, mediante essas ações sociais e estruturais, apresenta uma proposta de responsabi-lidade humanitária que visa a garantir condições mais dignas de vida às crianças e adolescen-tes atendidas pela entidade.
Encontro Empresarial Brasil-Suécia Realizado na Federação das In-dústrias do Estado de São Paulo, o Encontro de Economia Verde Brasil-Suécia contou com a parti-cipação de inúmeros empresários brasileiros e estrangeiros, políticos e representantes da Star of Hope. Além disso, foi abrilhantado pela presença de John Fredrik Reinfel-dt, primeiro-ministro da Suécia. Na ocasião, o anfi trião Paulo Skaf condecorou o convidado com a “Ordem do Mérito Industrial de São Paulo”, a mais alta honraria concedida pela Fiesp. Na aber-tura do seminário, conduzida por Humberto Saccomandi, edi-tor internacional do jornal Valor Econômico, o primeiro-ministro abordou o tema O Caminho a Se-guir Após a Crise Financeira Mundial – Transição à Economia Verde.
Por ser uma das maiores ONGs de origem sueca, a Star of Hope teve a oportunidade de apresentar seu trabalho social a diversas lideranças empresa-riais locais e estrangeiras. Num dos pontos altos do evento, foi apresentado um fi lme com os dados estatísticos brasileiros, que entusiasmou signifi cativa-mente a todos os presentes.
Nascido em 7 de Novembro de 1929 na cidade sueca
de Remmarn, primeiramente o evangelista Erik Gunnar Eriksson fundou uma organização denominada Tältmissionen, por meio da qual realizou inúmeras cruzadas evangelísticas por mais de 50 nações. Em 1969, estabelece, também na Suécia, a Star of Hope International, com o objetivo específico de alcançar crianças carentes em vários locais do planeta. Um ano depois, inaugura em solo brasileiro, mais precisamente na cidade mineira de Montes Claros, um orfanato, que daria origem a Star of Hope Brasil. Em 1978, recebe o título de “Cidadão Emérito”.
Com o tempo as atividades da Star of Hope a nível mundial foram se intensificando cada vez mais, sobretudo no Leste Europeu. No México, em 1985, a entidade foi a primeira instituição européia a chegar ao local após o terremoto que fez centenas de vítimas fatais. Recentemente, no maremoto que atingiu a região da Indonésia, também foi a primeira entidade
não-governamental a participar da ajuda às vítimas, fazendo uso de maquinário pesado – tratores, caminhões – e helicópteros para o resgate em áreas isoladas. Em 1990, lança a campanha “Todos de Mãos Dadas”, incentivando as organizações internacionais de interesse social na ajuda humanitária.
Em 2003, torna-se a primeira organização sueca a adentrar a região de guerra no Iraque. Entre 2004 e 2005, a catástrofe do
tsunami na região sul da Ásia choca a humanidade. Ao lado de outras organizações governamentais, a Star of Hope destaca-se por sua agilidade na assistência a milhares de necessitados.
Erik Gunnar Eriksson faleceu em 11 de Junho de 2006, vítima de problemas cardíacos crônicos, mas será sempre lembrado por seu maravilhoso exemplo de vida e dedicação ao próximo. Como legado de seu trabalho, atualmente a Star of Hope presta assistência a mais de 50 mil crianças carentes em diversos países do mundo.
Erik Gunnar ErikssonO fundador da Star of Hope
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18
Sem rótulos, apenas bíblicoEvangelismo
puro e simples,
com ênfase
na salvação
e recusa
de ofertas
em cultos e
campanhas
evangelísticas:
peculiaridades
do pastor e
evangelista
Ismael Gontijo,
que se diz
ungido pelo
Espírito Santo
– com quem
conversa
diariamente –
por escrever 21
livros em apenas
três anos
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19
MARCOS STEFANO COUTO E
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
“O evangelista
prega e atrai
as pessoas aos
cultos, mas
quem cuida do
rebanho é o
pastor”
que lhe pedi foi que me garantisse
condições para sobreviver sem
nunca depender de ofertas das
igrejas. Em pouco tempo, descobri
que o Senhor paga muito melhor”,
explica, com bom humor. “Detesto
gente irritada”, crava, com
disfarçado semblante de seriedade.
A propósito, conversar com o
Espírito Santo se tornou uma
rotina quase que diária na vida
do evangelista. Por intercessão
dele que Ismael Gontijo garante
ter despertado para uma nova
aptidão – ou melhor, unção
–, que há tempos perseguia: a
literária. Nos últimos três anos,
ele escreveu nada menos do que
21 livros – cada um com mais
de 300 páginas –, e que juntos
compõem três coleções: Unção e
Poder, Essência de Deus e Planeta
Esperança. Se as duas primeiras
séries são voltadas para a prática
devocional, a terceira prima pela
conscientização da preservação
ambiental e a responsabilidade
do desenvolvimento humano,
outra bandeira assumida em
concomitância com o
Instituto Ismael Gontijo-Inelgon;
claro, com o aval do Espírito
Santo. “As antigas gerações
de evangélicos estavam mais
preocupadas com motivos
espirituais, mas as novas veem
as coisas com outros olhos. É
por isso que o Espírito Santo nos
deu esses livros, com a intenção
de trazer uma nova perspectiva
e consciência dos problemas que
todos irão passar caso não haja
uma mudança de comportamento”,
revela.
Em entrevista exclusiva à revista
ECLÉSIA, Ismael Gontijo
compartilha um pouco de sua
vida diária, no ambiente familiar,
ministerial e no mundo dos
negócios. Também, esclarece
melhor essa “intimidade” com
Presbiteriano de berço,
mas líder de um
movimento evangelístico
interdenominacional. Pode
parecer meio controverso para
alguns, mas não para o pastor e
evangelista Ismael Gontijo que,
de uma maneira bastante peculiar,
tramita na vida ministerial há mais
de duas décadas. Como? Com
um evangelismo que ele próprio
define como puro e simples, e
essa “simplicidade” na pregação
da Palavra se tornou uma das
bandeiras do ministério que
carrega seu nome. “A mensagem
deve ser simples e direta, sem
rodeios e sem sair do contexto
bíblico”, adverte o presidente do
Ministério Evangelístico Ismael
Gontijo (MEIG) com seu jeitão
falante, descontraído e – porque
não dizer – moderno. Adepto ao
evangelismo moderno, sim, ele
admite, mas sem rótulos. “Faço
parte de uma nova geração de
pastores, porém não me considero
neopentecostal, tradicional ou
pentecostal. Sou apenas bíblico, e
minha forma de pregar e ministrar
atende às necessidades de todos os
grupos evangélicos”, define.
Natural de Patrocínio (MG),
Ismael Gontijo faz parte de um
seleto grupo de empresários bem-
sucedidos no mercado financeiro;
também, por isso, não precisa de
“patrocínio” para levar adiante
seu evangelismo e promover uma
verdadeira semeadura dos genuínos
princípios cristãos. É com a
Gontijo Guimarães, Sistemas de
Ativos e Participações Ltda que
ele sustenta o ministério, podendo-
se dar ao “luxo” de recusar
veementemente dízimos e ofertas
durante os cultos, ministrações e
cruzadas em que participa. “Foi um
acordo que eu fiz com o Espírito
Santo. Quando ele me mostrou o
que eu deveria fazer em termos
de ministério, a primeira coisa
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o Espírito Santo, as estratégias
evangelísticas e ações por ele
perpetradas, como religioso e ser
humano preocupado com o destino
do planeta. “Nossa extinção está
mais próxima do que muitos
imaginam. Por isso, Jesus deverá
apressar a sua vinda”. Essa é, aliás,
a oração de todos os cristãos.
ECLÉSIA – Quais as influências
que seu pai Abílio Gontijo,
pastor jubilado pela Igreja
Presbiteriana, exerce sobre sua
vida e seu ministério?
ISMAEL GONTIJO – Meu pai
é marcante no meu ministério.
Somos presbiterianos de berço,
assim como meus avós foram
durante a vida toda. Eu cursei
seminário na mocidade, e até hoje,
mesmo presidindo um ministério
evangelístico interdenominacional,
ainda me sinto presbiteriano na
essência.
Como é sua vida em família?
Sou casado há 25 anos. Minha
esposa, Jocimara Gontijo, é
especialista em Língua Portuguesa
e graduada em Letras. Tenho dois
filhos: Michelle, recém-formada
em Direito; e Lucas, o caçula.
Sou simples, tanto no lar como no
ambiente ministerial. Minha vida é
marcada sempre pelo bom humor.
Detesto gente irritada.
Por que você decidiu se tornar
pastor e evangelista?
Quando jovem, eu atuava nas
igrejas pastoreadas pelo meu
pai. Na idade adulta, mesmo
tendo decidido pelo seminário eu
ainda não sentia aquele chamado
evangelístico. Apesar do incentivo
da família, a princípio não me
encaixei no perfil de evangelista
e acabei desistindo. Na época,
faltavam duas matérias para que
eu terminasse o curso de Direito
e eu também decidi que não
queria ser advogado. Só que, sem
que percebesse, o Senhor estava
me preparando para que eu me
tornasse pastor e evangelista. Hoje,
sou grato por tudo.
De imediato, o que essa decisão
acarretou à sua vida?
A decisão de assumir o
ministério evangelístico veio
das experiências adquiridas
dentro da perspectiva pastoral.
Primeiramente, percebi que um
evangelista interdenominacional
precisa saber bem o que envolve
a árdua atividade pastoral. Muitos
desmerecem o trabalho por
pensarem que são superiores só por
juntar grandes concentrações, o
que é um grande engano. O Senhor
me preparou para o ministério,
ensinando-me detalhes muito
importantes.
Como se deu a transição da
atividade pastoral para a
fundação do Ministério Ismael
Gontijo?
Foi um pouco traumática. Por
motivos que não valem a pena
mencionar, houve uma ruptura na
minha denominação. Eu fi quei com
uma das igrejas e aprendi o quão
difícil é ser pastor, principalmente
se essa não é a sua unção. Eu enchia
o templo, mas não conseguia segurar
as ovelhas e dar fundamento; ou
seja, crescia em número e não em
qualidade. Suportei pouco tempo e,
após muita oração e luta, decidimos
fazer a transição. Um processo
difícil e dolorido, mas necessário.
Por que Ministério Ismael
Gontijo? Isso não causa uma
impressão muito pessoal?
Pode dar essa impressão, porém
não é a intenção. Sou um
evangelista e a unção está sobre
a minha vida. Não quero que
ninguém pense que vou abrir
igrejas em todos os lugares onde
ministro. Qualquer nome pode
servir para uma denominação,
mas Igreja Ismael Gontijo é
praticamente impossível (risos).
“Agredi-la [a
Igreja Católica]
é o mesmo
que acender
uma dinamite
na própria
trincheira”
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Como é seu trabalho
evangelístico, e qual é o perfil
das igrejas onde são realizadas
suas ministrações?
Deus nos ensina de maneira
formidável. Um evangelista
precisa ter consciência de que não
pode entrar nas igrejas e tocar em
temas polêmicos, ou que sejam de
responsabilidade dos pastores. Se
não agir com inteligência, poderá
causar mais danos que benefícios.
Após a ministração, levará meses
para que o pastor implante as
ideias trazidas pelo evangelista. É
essa consciência que tem permeado
nossas ações, pois não é nada fácil
ministrar de maneira diferente para
cada denominação sem perder a
unção ou a direção do Evangelho.
O Senhor tem nos ensinado que o
evangelista prega e atrai as pessoas
aos cultos, mas quem cuida do
rebanho é o pastor. Eu atuo em
qualquer denominação. Há algum
tempo, inclusive, uma pessoa disse
que nós não gostamos da Igreja
Católica. Sabe o que eu fiz? Pedi
direcionamento ao Espírito Santo,
em oração, e a resposta foi que eu
devo pregar em qualquer igreja
ou paróquia que me convide.
Senti-me aliviado; o difícil é ser
convidado para pregar lá (risos).
O propósito do meu ministério é
pregar, mostrar o poder de Deus,
independente de igreja. Assim
fui ensinado e assim hei de fazer,
respeitando todas as doutrinas e
confissões.
Qual é a sua concepção sobre a
Igreja Católica?
Vejo pastores agredindo a Igreja
Católica, mas eu não compactuo
com isso; afinal, é a mãe de nossas
denominações. Claro que meu
coração dói quando vejo padres
acusados de pedofilia – ali está
um soldado ferido no campo de
batalha. Somos do mesmo exército
e devemos nos lembrar de que o
mundo não seria comandado pelo
pensamento cristão se não fosse a
Igreja Católica, da qual fazíamos
parte antes da Reforma Protestante.
Agredi-la é o mesmo que acender
uma dinamite na própria trincheira.
“Se falar mal de qualquer uma
das minhas igrejas, melhor que
fique em casa”, alertou-me o
Espírito Santo quando, ao pregar
numa cruzada, eu não economizei
críticas ao papa João Paulo II.
Aprendi, então, que estamos
do mesmo lado e não temos o
direito de falar mal de ninguém.
Em termos de erros ou pecados,
lembremos que a fruta nunca cai
muito longe do pé; afinal, também
temos as nossas falhas.
Diante disso, você se considera
ecumênico?
Não. Para mim, ecumenismo não
existe. Se não somos ecumênicos
nem entre os evangélicos, como
poderíamos ser com outras
religiões? Isso é impossível!
Uma das bandeiras levantadas
por seu ministério é a pregação
da Palavra de maneira pura e
simples. Como é pregar com
simplicidade?
O evangelista precisa ser rápido
para que as pessoas não percam a
concentração diante da mensagem,
a qual deve ser simples e direta,
sem rodeios e sem se desvirtuar
da Bíblia. Ao ficar dando voltas,
as pessoas carentes de consolo e
que buscam soluções na Palavra
logo se dispersam. A Bíblia é
o instrumento mais forte a ser
usado para transformar vidas, pois
apresenta o Senhor Jesus na sua
mais pura simplicidade. Assim,
quanto mais fácil a transmissão
da mensagem, maiores são as
conversões. Pregações muito
rebuscadas e complexas não
“Em termos
de erros ou
pecados,
lembremos que
a fruta nunca
cai muito longe
do pé; afi nal,
também temos
as nossas
falhas”
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tendem a ser bem compreendidas
e assimiladas. Minhas mensagens,
particularmente, são puras, simples
e diretas.
Então, você é uma pessoa
simples?
Nem penso nisso, mas não sou
complicado e tampouco cheio
de manias de grandeza. Quem
passou pelo deserto espiritual e
foi forjado nas quentes areias da
prova, aprende a andar com Deus,
deixando de lado qualquer empáfia
ou arrogância. Os arrogantes não
são usados pelo Espírito Santo;
ele não gosta de falsa grandeza e
só unge os humildes de coração. E
mais: não se pode ser complicado
diante de um ministério
evangelístico, pois as pessoas
“simples” que choram diante do
Senhor precisam ser ministradas,
libertas e salvas.
No que o Ministério Ismael
Gontijo se difere em relação a
tantos outros que existem no
Brasil?
Não sei se o nosso é diferente dos
demais ministérios. Não podemos
ser muito diferentes quando
servimos ao mesmo Senhor; por
sinal, diferentes são os que não
agem em conformidade com o que
as Escrituras Sagradas determinam.
Eu procuro apenas me concentrar
no trabalho.
É correto dizer que você faz
parte de uma geração de pastores
que prima por um evangelismo
mais moderno, nos moldes do
neopentecostalismo?
Faço parte de uma nova geração de
pastores, porém não me considero
neopentecostal, tradicional ou
pentecostal. Sou apenas bíblico, e
minha forma de pregar e ministrar
atende às necessidades de todos
os grupos evangélicos. Quem
duvida é só me convidar (risos).
O neopentecostalismo trouxe uma
forma realmente mais moderna
de pregação da Palavra de Deus,
mas se tornou muito comercial e
com isso tem perdido a unção de
impactar vidas. Sou moderno na
forma, mas não uso as mesmas
estratégias para implantar meu
ministério, seja no Brasil ou
no exterior. Nossa mensagem
é sempre bíblica e menos
neurolinguística, não precisamos
de métodos modernos no
convencimento de multidões para
alcançar vidas que sofrem. O povo
espera o consolo e a manifestação
do poder de Deus em suas vidas,
e pronto. Essa noção tem mais de
dois mil anos, e eu não vejo nada
de moderno nisso.
Em sua opinião, no que essa
doutrina agrega à causa
evangelística, e onde se encaixa
ou se contrapõe aos princípios
defendidos por seu ministério?
Diariamente surgem
novas organizações que se
autodenominam neopentecostais,
mas é quase impossível afirmar se
essas variadas doutrinas realmente
são o que afirmam suas lideranças.
Em muitos pontos nosso ministério
caminha na contramão, pois
algumas comunidades assim
chamadas não dão o real valor ao
conhecimento da Palavra. Outras
procuram pregar a teologia da
prosperidade a qualquer custo, o
que é um grande estorvo para o
Evangelho. É por isso que muitas
igrejas estão sofrendo, justamente
por não darem alimentos sólidos
a seus rebanhos. No geral, as
comunidades neopentecostais
“Quem passou
pelo deserto
espiritual e
foi forjado
nas quentes
areias da
prova, aprende
a andar
com Deus,
deixando de
lado qualquer
empáfi a ou
arrogância”
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são mais ousadas em suas ações
evangelísticas, e isso se assemelha
um pouco ao nosso ministério;
entretanto, não me enquadro em
nenhuma doutrina específica.
Então, você é contra a teologia
da prosperidade apregoada
por tantas igrejas evangélicas
atualmente?
Dinheiro é bom e todos nós
gostamos de conforto: porém, ser
rico financeiramente não significa
ser próspero. No meu trabalho,
mantenho contato com muita gente
cheia de grana, mas vazia de vida.
Fico até com medo quando vejo
pregadores gritando que, para
serem ricas, as pessoas devem
desafiar a Deus com sua fé. O
Senhor não precisa ser desafiado
para abençoar, basta pedir que
as coisas são colocadas em seus
devidos lugares. Muitas igrejas não
ensinam aos seus membros que o
dízimo é uma dádiva de amor, e
não uma obrigação pura e fria. E
mais: transformam a bênção num
escândalo, convencendo as pessoas
a darem até o que elas não têm
e desvirtuando do que realmente
importa: a salvação. Eu não tenho
coragem de manipular a mensagem
do Evangelho para conseguir
alguns trocados em forma de
desafios de fé.
É por isso que você não aceita
ofertas?
Foi um acordo que eu fiz com
o Espírito Santo. Quando ele
me mostrou o que eu deveria
fazer em termos de ministério, a
primeira coisa que lhe pedi foi
que me garantisse condições para
sobreviver sem nunca depender
de ofertas das igrejas. Em pouco
tempo, descobri que o Senhor
paga muito melhor (risos). É
por isso que nem mesmo aceito
que paguem minhas despesas.
Aliás, oriento os pastores a
recolherem os dízimos e ofertas
que frequentemente recolhem antes
de eu subir na plataforma. Depois,
não há mais possibilidade de pedir
qualquer coisa. Nem mesmo os
cantores e ministros de louvor que
trabalham conosco cobram em suas
ministrações. Se os organizadores
das cruzadas não têm dinheiro,
minha equipe providencia livros e
CDs para serem vendidos, e o valor
arrecadado financia as campanhas.
Considero correto e honrado agir
assim, e as pessoas não imaginam
o quanto temos sido abençoados.
Não sou contra o dízimo, mas o
considero legítimo somente às
igrejas. Nós não somos uma igreja.
Diante disso, como o ministério
se mantém?
Nossa forma de financiamento é
muito variada, a começar com meu
trabalho, do qual destino metade
para o sustento do ministério.
Tenho, também, amigos do mercado
financeiro que gostam de ajudar.
Temos livros e CDs, cujos cantores
são ministradores com unções
diferentes de tudo o que vemos no
meio gospel. Quando as pessoas nos
procuram com o intuito de semear
em nosso ministério, aceitamos
sob uma condição: desde que nos
deixem usar seus nomes e endereços
para que possamos lhes enviar os
materiais produzidos. Orientamos
que leiam nossos livros, ouçam
nossas músicas e distribuam entre
seus amigos. Assim, a semeadura se
multiplica e os resultados são muito
maiores. Tem funcionado muito
bem, pois como eu disse antes:
Deus paga muito melhor!
“Nossa
mensagem é
sempre bíblica
e menos
neurolinguís-
tica, não
precisamos
de métodos
modernos no
convencimento
de multidões
para alcançar
vidas que
sofrem”
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24
Num vídeo postado no seu
site, você fala sobre a unção
de escrever. É verdade que
produziu 21 livros em menos de
três anos?
Sim, é verdade. Contudo, sou
pregador e não escritor. Eu
havia tentado várias vezes,
mas os evangelistas raramente
conseguem escrever. Então, há
três anos eu pedi ao Senhor que
me ungisse com essa dádiva
específica. Meses depois,
assistindo ao culto numa igreja
em São Paulo, o Espírito Santo
me ordenou claramente: “Vá e
toque no pastor”. Em obediência,
eu fui até o púlpito e dei um
abraço nele. Ninguém entendeu
nada (risos). Imagine eu, formado
em teologia, presbiteriano
de berço, fazendo uma coisa
dessas?! Naquela madrugada,
exatamente às três horas da
manhã, fui despertado: “Sente-
se ao computador e escreva”,
disse-me o Espírito Santo. Isso
aconteceu em meados de 2008,
e até hoje eu escrevi 21 livros.
Antes eu levava três meses para
terminar uma obra, enquanto que
atualmente a média é de 20 dias.
O Senhor me deu três coleções
– a primeira já está à venda
em versão digital em nossa loja
virtual. Não pense que eu passe o
tempo todo escrevendo, na verdade
nunca escrevi um único capítulo
durante o dia. Meu momento exato
para escrever é às três horas da
madrugada, e o que digito é o que
permanece. Jamais apaguei sequer
uma frase ou um único parágrafo.
Qual é o conteúdo dos seus
livros?
Verdadeiros mistérios, cada um
com uma história. O mais incrível
é que antes mesmo de eu terminar
um, o Espírito Santo já me
revela o próximo, com títulos
e capítulos. Unção e Poder é
a primeira coleção, composta
de sete devocionais de grande
impacto na vida dos que os leem.
Quando a finalizei, já tinha
o nome da próxima coleção:
Essência de Deus, mais sete
volumes escritos em apenas nove
meses. E olha que não há nenhum
com menos de 300 páginas. Todos
ficam admirados, mas eu sempre
prego dizendo que se você pedir
o Senhor lhe dará. Quando eu
terminei a segunda coleção...
Bem, vou deixar para falar sobre
isso ao abordar o Instituto Ismael
Gontijo-Inelgon.
Essa unção também vale para as
músicas?
Sim, é outra bênção que o Senhor
colocou sobre meu ministério.
Por determinação do Espírito
Santo, passei a ministrar unções
específicas sobre algumas pessoas
e o impacto tem sido igual ao que
recebo para escrever os livros.
Há vários exemplos, mas citarei
somente uma: Kesia Queiroz,
uma ótima cantora, mas que
não conseguia compor qualquer
música. Quatro meses depois de
tê-la conhecido, ela já soma mais
de 100 composições – verdadeiras
manifestações do poder de Deus
em seu mais alto grau de pureza
para louvor e adoração. Não
precisa nem dizer que ela foi
levada ao deserto, seco e árido,
para que aprendesse a andar com
o Senhor. Nosso ministério é
marcado pela humildade, e gente
arrogante não anda conosco.
Por que você fala com tanta
naturalidade dessa relação com
o Espírito Santo?
Até parece conversa de gente que
se julga espiritualmente superior,
mas não é o meu caso. Converso
com o Espírito Santo, e ele me
responde normalmente. Aprendi a
ouvir a sua voz, e tenho ensinado
“Eu não tenho
coragem de
manipular a
mensagem
do Evangelho
para conseguir
alguns
trocados em
forma de
desafi os de fé”
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que com hipocrisia não é possível
conseguir nada dele. Não se trata
de mágica, mas de obediência
nas coisas mais simples da vida.
Não precisa se transformar em
querubim ou santo; basta ser
sincero e autêntico. Nada muito
complicado.
Você também é um executivo
bem-sucedido do mercado
financeiro. Como conciliar
as atribuições profissionais,
que envolve dinheiro, com as
ministeriais, que envolve a fé?
Por trabalhar no mercado
financeiro, viajo muito e para
vários países; porém, não tem
sido tão difícil, pelo menos
até agora. O Senhor tem me
capacitado para o trabalho, tanto
ministerial quanto profissional.
Basta organizar e contar com uma
boa equipe.
No que a carreira profissional
agrega valor à sua vida
ministerial?
Fui forjado nas fileiras dos
grandes executivos financeiros da
Europa. Iniciei na década de 1990
e, com o tempo, fui crescendo
e me sobressaindo. Com muita
determinação, aprendi a duras
penas a arte de dosar as reações
e ter equilíbrio na hora das
decisões. E essas experiências
têm sido muito importantes, até
mesmo na hora de me relacionar
com outros pastores. Quando
vivemos algum tempo dentro
da igreja, passamos a resumir
nossa visão de forma que os
desejos determinem as reações.
Assim, acabamos ferindo
pessoas e perdendo aliados
preciosos. Como executivo
internacional, preciso medir e
calcular o quanto posso perder ao
tomar uma decisão precipitada,
baseada apenas em emoções. No
mercado financeiro, convivemos
com gente de altíssimo nível,
verdadeiros experts em
temperamentos e reações. Não dá
para abrir a guarda nem por um
segundo.
Em sua opinião, o fato
dos crentes brasileiros
– atualmente, são mais
de 30 milhões – serem tão
pulverizados, ou seja, divididos
em tantas denominações
diferentes, não enfraquece a
Igreja Evangélica como um
todo?
Creio que não. Ganhamos na
diversificação. Somos um povo
miscigenado, e as misturas
de nações e raças determinam
também nossas maneiras
diferentes de pensar. As
denominações e seus multiformes
sistemas têm conseguido atrair
e satisfazer a todas as classes
sociais e níveis espirituais.
Visões e doutrinas variadas
levam vantagem sobre uma
doutrina fechada e estanque.
As igrejas novas, mesmo
que sofram com a falta de
profundidade e conhecimento
da Palavra, prestam um serviço
espiritual muito grande à nação.
Sim, espiritual, porque acabam
beneficiando o aspecto social.
Diante dos destinos do país,
nós, evangélicos, somos vistos
“Como
executivo
internacional,
preciso medir
e calcular
o quanto
posso perder
ao tomar
uma decisão
precipitada,
baseada
apenas em
emoções”
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como uma realidade poderosa,
diferente de décadas atrás quando
nem éramos considerados. Existe
uma poderosa consciência de igreja
como um só corpo; apresentações
de música gospel, por exemplo,
atraem membros de todas as
denominações. Na verdade dizem
que somos desunidos, mas é só na
aparência.
Como surgiu e no que consiste
o Instituto de Preservação
Ambiental e Desenvolvimento
Humano Ismael Gontijo-Inelgon?
Nosso instituto nasceu de uma
visão urgente sobre a nova
consciência que precisa ser
pregada. Há dois mil anos, Jesus
veio ao mundo e inaugurou uma
nova realidade chamada Reino de
Deus. Entretanto, com o caminhar
da história, as coisas foram ficando
complicadas, sem que déssemos
conta de que a maldade estava
aumentando e esvaziando os
corações da presença do Senhor.
Chegamos até os meados do século
20, e com ele o progresso baseado
na petroquímica, aliado à ganância
e ao egoísmo humano. Com um
desenfreado caminhar nesse último
meio século, destruímos 65%
de todos os recursos renováveis
do planeta, enquanto que os
oceanos foram contaminados
e estão morrendo – 70% dos
mares já são desérticos em suas
extensões e as águas dos rios estão
completamente impróprias para o
consumo. Obrigada a produzir cada
vez mais, a terra foi envenenada
por bilhões de toneladas de
adubos químicos, pesticidas e
inseticidas. Todos os ecossistemas
estão em desequilíbrio, e nossa
extinção está mais próxima do
que muitos imaginam. Por isso,
Jesus deverá apressar a sua vinda;
caso contrário, não teremos mais
lar para viver. O Espírito Santo
tem nos conscientizado sobre a
urgência da reação do planeta;
e dessa urgência nasceram sete
livros que compõem a coleção
Planeta Esperança, escrita em
apenas cinco meses.
Evangélico, num sentido
geral, também tem consciência
ecológica ou a mente dos crentes
está mais voltada para motivos
espirituais?
As antigas gerações de
evangélicos estavam mais
preocupadas com motivos
espirituais, mas as novas veem
as coisas com outros olhos. É
por isso que o Espírito Santo nos
deu esses livros, com a intenção
de trazer uma nova perspectiva
e consciência dos problemas que
todos irão passar caso não haja
uma mudança de comportamento.
Precisamos amar a nossa linda
joia azul chamada Terra. Quem
preserva nem sempre ama, mas
quem ama certamente preserva.
Não estamos aqui esperando as
desgraças do Apocalipse, mas
vivendo maravilhosamente e
aguardando a vinda do Senhor.
Questões de ordem social,
ambiental, humanitária, enfim,
também devem fazer parte do
cotidiano das igrejas?
Hoje, muito mais do que antes.
Não se tratam apenas de questões
humanas, mas espirituais, e as
igrejas precisam adquirir novas
perspectivas ministeriais. Juntar
a mensagem bíblica com a
necessidade urgente de mudar
os rumos das políticas é nossa
responsabilidade. Eu tenho feito
isso em todos os lugares onde
ministro, e o resultado tem sido
impactante. O Espírito Santo irá
levantar uma nova geração de
preservadores dentro das igrejas;
afinal, nossa mensagem é muito
mais forte do que as palavras dos
ambientalistas – eles também
precisam de ajuda.
“Visões e
doutrinas
variadas levam
vantagem
sobre uma
doutrina
fechada e
estanque”
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nós mesmos. Embora nossa
existência esteja em rota de
extinção, os governos não estão
preocupados com nada. Basta
ver as condições e os descasos
sociais, como o surgimento
de cracolândias por todos os
lados. Se no meio humano, eles
agem assim, o que dirá então
em relação ao meio ambiente? É
realmente vergonhosa a postura
dos governos, e infelizmente
muitas igrejas também não agem
de maneira muito diferente.
Diante dessas ponderações,
você não é a favor de pastores
na política?
Sou contra. Lugar de pastor
é na igreja cuidando de seus
rebanhos. Se eles querem se
candidatar a cargos políticos,
que larguem o ministério. Porém,
vejo como necessidade que haja
candidatos eleitos pelas igrejas
para proteger os interesses do
povo de Deus.
Como é o seu relacionamento
com os principais líderes
evangélicos do país?
Não disponho de tempo para
caminhar junto com a maioria
deles, mas não tenho qualquer
restrição. Como tudo na vida,
concordamos em alguns pontos
e discordamos em outros. O que
importa, no entanto, é que somos
irmãos e lutamos no mesmo
exército.
Alguma consideração final?
Nossa mensagem é urgente,
agora não somente pela realidade
espiritual da salvação ou
perdição eterna, mas também
pela destruição terrestre que
se aproxima rapidamente nos
horizontes da nossa fugaz
história. Cabe a nós, filhos de
Deus, mudar essa realidade. Só
que por enquanto, infelizmente
temos falhado. Que Deus abençoe
a todas as igrejas, pastores e
líderes, em nome de Jesus!
Praticar ações de cunho social
não interfere em assuntos
inerentes ao poder público?
Alguns pensam assim, mas eu
creio que não. Todo governo sofre
de uma incapacidade operacional
doentia. A corrupção, encapuzada
pela ineficiência e dominada
pela inconsciência faz doer o
coração. Não podemos permitir
que as coisas continuem assim:
ou nos apresentamos e fazemos
nossa parte, ou assistiremos os
principais ecossistemas naturais
morrerem diante de nossos olhos.
O poder público é hipócrita e
ineficiente, a justiça está torcida,
o direito invertido, e as questões
sociais e ambientais não parecem
importantes a homens que pensam
somente em si próprios. Com
isso, os mais afetados seremos
“Todo governo
sofre de uma
incapacidade
operacional
doentia. A
corrupção,
encapuzada
pela
inefi ciência e
dominada pela
inconsciência
faz doer o
coração”
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Sucesso sem PolêmicaÉ
possível fazer sucesso sem polêmica! Ape-nas com a Palavra. Essa tem sido a postura
adotada pelo Pastor Walter Bru-nelli (58) em seu Programa TV Bereana, exibido pela Rede Gos-pel de segunda a sexta às 22:30 h. O nome do programa, faz alusão à Igreja Assembleia de Deus Be-reana, presidida por ele, baseado no texto de Atos 17:10 e 11, que apresenta o povo de Beréia, co-nhecido por seu compromisso e envolvimento com a Palavra de Deus. “Esse tem sido o foco prin-cipal adotado pela Igreja, ao longo de seus 25 anos”, afi rma o Pastor! Com 34 anos de ministério, WB nunca teve facilidades em sua caminhada. Iniciou a Igreja com sua esposa Márcia, em uma sala de aula da Escola Superior de Teologia Evangélica – ESTE, tam-bém fundada pelo casal. Juntos, enfrentaram todos os desafi os de se iniciar um ministério sem recursos, porém, sem abrir mão das suas convicções doutrinárias por “ventos” que costumam faci-litar o crescimento. “Não negocio minhas convicções para ser popular: tenho compromisso com a Verdade”.
O Pr. WB é membro de uma família de pastores, tradicional da Assembleia de Deus. Orgu-lha-se de ter sido apresentado
pelo pastor Cícero Canuto de Lima quando nasceu e de ter sido criado na Assembleia de Deus do Ipiranga, onde, seu pastor, Alfredo Reikdal, era homem dedicado à Palavra de Deus. “Meu pastor jamais ousava fazer qualquer afi rmação que não tivesse respaldo seguro nas Escrituras Sagradas. Era es-tudioso da Bíblia. Recebi dele este legado”, afi rma WB.
O Pastor mostra preocupa-ções, mas também alimenta sonhos com a igreja. O que lhe preocupa é o rumo que a Igreja de Cristo tem tomado e desabafa: “Se de acordo com os dados do IBGE, seremos a maioria da população no Brasil em 2020, qual será o nosso perfi l, à luz do que presenciamos hoje? Vivemos os extremos da ultra-
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espiritualidade e, ao mesmo tempo, da secularização, com o apego de-masiado aos bens da Terra. É preciso realinhar a Igreja para que chegue mais preparada para esse tempo”.Pensando nisso, realizou recente-mente, com grande sucesso, um seminário de Escatologia no audi-tório de sua igreja, com a partici-pação dos Pastores Hermes Men-des e Magno Paganelli. O intuito desse evento, foi resgatar valores éticos e espirituais, de uma Igreja pós-moderna que já não se preo-cupa tanto com o arrebatamento.Quanto à ética, há vários aspec-tos que precisam ser revistos. WB lembra: “no passado bastava dizer que era evangélico para que as portas se abrissem para o cré-
dito e até para o emprego; hoje, infelizmente esse adjetivo já não é a melhor recomendação; não se dava cheque sem fundos, não se faltava com a palavra e irmão não levava irmão aos tribunais”. Quanto à liturgia, lamenta: “os cultos tomaram forma de show e até de circo. Há muitos ‘artistas’ e pregadores que exploram o povo de Deus”. Com respeito à teologia, desafi a: “se os nossos pastores se submetessem a um exame para testar o seu nível de conhecimento bíblico-teológico, muitos teriam que voltar para o seminário por-que não sabem, sequer, distinguir entre as doutrinas e as promessas do Antigo Testamento com as do Novo Testamento”, o que está
claro nos discursos atuais. Sonha com um grande aviva-mento que mobilize as igrejas, não em torno de personalidades, mas de Cristo; um avivamento que ressalte o verdadeiro amor, não esse pietismo piegas que adota linguagem infantil para expressá-lo, mas atitudes sérias e comprometidas com a dor do outro; um avivamento que traga fome pela Palavra de Deus; que traga verdadeira santidade e es-piritualidade que se traduzam em testemunho de vida cristã e em conversão de almas.
É possível conferir esse modo de pensar do Pr. WB, pessoalmen-te aos domingos em sua igreja! Fonte: Portal Bereana
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Romney Cruz é consultor em Marketing e Administração, e pastor no Ministério Gilearde em Vila Velha (ES) (www.pregandoapalavra.com.br)
O P I N I Ã O
Liberdade: anseio das
nações
“Por muito
tempo, a
razão de ser
de uma nação
foi esquecida,
principalmente
no Oriente
Médio, onde
somente o
desejo das
dinastias é
prezado e
respeitado”
“Abominação é aos
reis praticarem
impiedade,
porque com justiça é que se
estabelece o trono.”
(Pv 16.12)
Arrebatados, entorpecidos
e alucinados pelo poder
supremo, os líderes no
mundo árabe se acham acima
do bem e do mal. Há muito
tempo governando sem
questionamentos, sentem-
se donos de sua pátria
e seu povo; agindo sem
prerrogativas de avaliação,
consideram-se detentores
do poder de definição até
mesmo da vida e da morte.
Por décadas eles foram
inquestionáveis, imbatíveis
e irrevogáveis, fizeram
carreira na liderança a ponto
de se acharem no direito de
aniquilar qualquer um que
se oponha às suas normas e
regras ditatoriais.
Vivemos a era da
globalização, todas as nações
têm seus pontos positivos
e negativos. Enquanto
mais visualizáveis do que
outrora. Nessa busca pelo
equilíbrio da vida, os povos
começaram a questionar os
extremos que os regem. Por
muito tempo, a razão de ser
de uma nação foi esquecida,
principalmente no Oriente
Médio, onde somente o desejo
das dinastias é prezado e
respeitado. Quanto ao povo,
é massacrado, desrespeitado,
ultrajado, subjugado,
humilhado... A maioria tem
que se render à minoria, e os
cidadãos se tornam refém de
seus próprios líderes.
Os conceitos, regras e
práticas tão divulgadas pelos
ditadores – que os pregam
como costume da nação
– começou a ser desnudado,
como imposições absorvidas
pela falta do direito ao povo
de revelar seu verdadeiro
sentimento. Independente de
língua, raça ou cultura, todo
ser humano quer ser livre,
ter o direito de ir e vir, de
escolher periodicamente sua
liderança, de ter a justiça
como parâmetro principal
algumas são liberais demais,
outras permanecem presas ao
extremo; contudo, pelo acesso
à informação, os pontos de
equilíbrio da vida, das ações
e relações humanas são, hoje,
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31
No Bahrein, tanques do
exército foram enviados
para os arredores da praça
de Manama, onde as forças
de segurança dispersaram
os manifestantes contra a
monarquia vigente há duzentos
anos, provocando quatro
mortes.”
A crise é um fato, e a
essência dessa crise é uma
forte demonstração de que
todos os povos do planeta
anseiam serem governados
por justiça – não importa se
por brancos, negros, amarelos,
orientais... Afinal, somos
todos seres humanos.
Portanto, que caiam os
ditadores e se levantem
governantes cientes de que
as nações não são suas
propriedades particulares, mas
terras felizes para se viver em
ao líder da oposição, Mir
Mousavi, e houve incidentes
entre manifestantes e forças
de segurança.
Na Líbia, o “dia da
raiva” foi marcado por
protestos, repressão e morte
de quatro pessoas na cidade
de Al Baida e em Benghazi,
segunda maior cidade.
Centenas saíram às ruas
para exigirem a demissão de
Kadafi e do seu governo.
Em Saana, capital do
Iêmen, as manifestações
continuam orquestradas
sobre tudo por estudantes
e militantes que apelam
à mobilização através
da Internet. Milhares de
estudantes e advogados
tentaram chegar à Praça
Tahir, que tem o mesmo nome
da do Cairo, mas foram
impedidos pelas forças de
segurança.
de sua legislação. Por esse
grito silencioso preso na
garganta árabe, é que temos
assistido nos últimos dias a
tantos e severos conflitos.
É a busca pela democracia
– como citado no artigo Os
Acontecimentos no Mundo
Árabe, de Eleazar Van-
Dúnem, publicado no site
Jornal de Angola:
“Após a queda dos
presidentes da Tunísia
e do Egito, continua a
incerteza no mundo árabe.
O Irã do aiatolá Khameney
e Amadinejad, a Líbia de
Kadafi, o Iêmen de Abdullah
e o Bahrein de Al Khalifa
são os novos centros de
manifestações em prol da
democracia.
No Irã, manifestantes
gritaram frases como “morte
ao ditador”, prestaram apoio
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32
E VA N G E L I S M O
Com apoio da JMN, projeto de
evangelização de comunidade indígena
amazonense prevê a implantação de igrejas
ministradas pelos próprios nativos
Desbravando a fé d
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
“Antes que o homem aqui
chegasse, as terras bra-
sileiras eram habitadas
e amadas por mais de 3 milhões de
índios”; ou seja, Todo Dia Era Dia de
Índio, como diz a letra da música do
cantor e compositor carioca Jorge Ben
Jor. Agora, eles só têm um dia para
FO
TO
S: D
IVU
LGA
ÇÃ
O
comemorar. Tudo começou em 19 de
abril de 1940, no México, quando os
índios locais recusaram o convite para
participar do I Congresso Indigenista
Interamericano, por serem constante-
mente perseguidos e desrespeitados
pelos chamados “homens brancos”.
Apesar – ou, talvez, em virtude – da
recusa, o evento ganhou notoriedade
histórica e, desde então, a data acabou
sendo adotada como o Dia do Índio em
todo o continente americano – no Brasil,
a Lei nº 5.540 foi assinada três anos mais
tarde, mais precisamente em 2 de junho
de 1943 pelo presidente Getúlio Vargas.
Sim, os índios passaram a comemorar o
seu dia e, ao menos no papel, tiveram
seus direitos assegurados. Somente nas
linhas; afi nal, na prática a situação não é
lá muito favorável, a começar pelos nú-
meros. De acordo com o Departamento
de Assuntos Indígenas da Associação
de Missões Transculturais Brasileiras
(AMTB), entidade não governamental
de caráter evangelística, atualmente a
população indígena em solo brasileiro
não passa muito de 600 mil – 340 et-
nias, quatro “possivelmente” extintas –,
dos quais 52% vivem em aldeamentos
e 48% em regiões urbanizadas ou em
ALDEIA BOM CAMINHO, EM TABATINGA (AM): uma comunidade 100% evangelizada
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33
em 2009. No caso específi co da Aldeia
Bom Caminho, também falta amparo
por parte do órgão federal; pelo menos
na concepção de Eli Leão Catachun-
ga. “Indiretamente, eles parecem ser
contra a implantação do movimento
evangélico”, acusa.
Para compor a matéria Pelo Direito
de Pregar [edição 111, 2005], a revista
ECLÉSIA apurou que o trabalho de
evangelização entre os povos nativos é,
para a Funai, uma ameaça à sua integri-
dade; daí, o motivo de se desenrolarem
acirradas discussões com as entidades
cristãs. Para apaziguar, a oração do pas-
tor Valdir Soares é bastante oportuna:
“Que num breve futuro, possamos falar
a todo mundo que, em nosso Brasil, os
indígenas são verdadeiramente livres, e
que Jesus é o Senhor e Salvador de suas
vidas”, amém.
é dos tikunasvias de urbanização. E são os que po-
voam as aldeias, muitos ainda tratados
como “selvagens” por grande parcela
da sociedade, que têm despertado
maior atenção de ativistas de movimen-
tos sociais, militantes ambientalistas e
dezenas de entidades de classes, sejam
relacionadas ao meio ambiente, direitos
humanos ou até mesmo por questões
espirituais. Afi nal, para as associações
missionárias os povos não alcançados
carecem, e muito, de orientação reli-
giosa, independente de raça ou de quão
distante estejam assentados.
Braço ministerial da Igreja Batista
e engajada no propósito de direcionar
as comunidades indígenas pelas tri-
lhas da salvação, a Junta de Missões
Nacionais é uma das entidades cristãs
mais atuantes na região amazônica. Na
Aldeia Bom Caminho, em Tabatinga
(AM), a JMN não tem medido esforços
para colaborar no desenvolvimento do
Projeto Tikuna que, entre as estratégias
de evangelização, prevê a criação de
núcleos de estudos bíblicos nos lares
e a formação de líderes devidamente
capacitados biblicamente e com visão
multiplicadora. Se essa é a sementinha
que vem sendo cultivada, a implantação,
num curto prazo, de igrejas evangéli-
cas pastoreadas pelos próprios nativos
irá, de fato, comprovar se a terra é tão
fértil para o evangelismo como é para a
agricultura. Empecilhos, claro, existem;
contudo, para suplantar os desafi os os
missionários da JMN têm a seu favor
a fé e as parcerias mantidas com insti-
tuições unidas pelo mesmo objetivo. “A
primeira grande difi culdade consiste em
disponibilizar material humano, devida-
mente treinado e preparado transcultu-
ralmente”, afi rma Valdir Soares da Silva,
coordenador regional da JMN – Regiões
Centro-Oeste/Norte. Entre as parceiras,
o pastor cita a Associação Linguística
Evangélica Missionária (ALEM), ou
Missão Além, que oferece orientação e
preparo para voluntários em sua sede, lá
no Planalto Central.
Pelos “bons” caminhos – Com uma
população de mais de 40 mil índios, a
etnia tikuna é a maior do Brasil e está
distribuída em 145 aldeias, das quais
metade nunca teve qualquer acesso à
Palavra. Não é o que acontece na Aldeia
Bom Caminho, onde praticamente todos
os 1200 índios estão sendo evangeliza-
dos. É lá que vive Eli Leão Catachunga,
um dos líderes da comunidade; aliás,
há tempos que ele deixou de ser mais
um membro da tribo para se tornar
praticamente uma unanimidade entre os
“irmãos” indígenas. Pastor e vice-presi-
dente do Conselho Nacional de Pastores
e Líderes Evangélicos Indígenas (CON-
PLEI), suas atividades, agora, vão além
de cuidar dos interesses comunitários
e das terras demarcadas que, por lei,
pertencem a seu povo. “Não podemos
nos esquecer das necessidades sociais
e da preservação do meio ambiente,
mas o nosso grande propósito é a evan-
gelização”, afi rma. Para isso, ele conta
com a ajuda dos missionários e crê no
sucesso do Projeto Tikuna. “A gente tem
o apoio ministerial e fi nanceiro da JMN,
e graças a Deus não encontramos tantas
difi culdades no trabalho de evangeliza-
ção do nosso povo”, comemora.
Criada na década de 1970 em substi-
tuição ao Sistema de Proteção ao Índio
(SPI), a Fundação Nacional do Índio
(Funai) tem como missão primordial
melhorar a qualidade de vida das
populações indígenas, protegendo as
comunidades e terras por elas tradicio-
nalmente ocupadas. No entanto, talvez
pela vastidão geográfi ca do país, nem
sempre a fundação consegue cumprir
à risca seus objetivos, e vez ou outra
acaba se esbarrando em confl itos de
interesses diversos e difusos. Que o di-
gam os índios macuxis, que há alguns
anos se engalfi nharam com fazendeiros
na Raposa Serra do Sol, em Roraima;
demarcada como terras indígenas em
1993, a reserva só foi desocupada pe-
los “homens brancos” por decisão fi nal
do Supremo Tribunal Federal (STF),
LÍDER INDÍGENA E PASTOR EVANGÉLICO: responsabilidade em dobro para Eli Leão Catachunga
COORDENADOR REGINAL DA JMN, o pastor Valdir Soares da Silva destaca
a necessidade de uma preparação transcultural para o trabalho de missões
nas comunidades indígenas
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34
é escritor e um
D I S C I P U L A D O
IDE e fazeidiscípulos
“Nada do que
façamos fará
com que Deus
nos ame mais;
nada do que não
façamos fará
com que Deus
nos ame menos”
Após Jesus ter sido
crucifi cado, José de
Arimatéia vai até Pilatos
interceder pelo seu corpo. Pilatos
aceita o pedido e ordena que o
corpo seja entregue a José, que o
enrola num pano limpo de linho e
o deposita num túmulo novo; em
seguida, arrasta uma grande pedra
para a entrada do sepulcro e se
retira (Mt 27.57-66). No terceiro
dia, conforme a profecia, Jesus
ressuscita. Um anjo do Senhor
desce do céu e remove a pedra.
Seu aspecto é como um relâmpago,
e sua veste alva como a neve.
Os guardas fi cam apavorados; as
duas mulheres – Maria Madalena
e a outra Maria, como a Bíblia
a chama – também se espantam
com tal episódio. Então, o anjo
do Senhor se dirige a elas e diz:
“Não tenhais medo; pois eu sei que
buscais a Jesus, que foi crucifi cado.
Ele não está aqui, porque já
ressuscitou, como havia dito.
Vinde, vede o lugar onde o Senhor
jazia. Ide, pois, imediatamente, e
dizei aos seus discípulos que já
ressuscitou dentre os mortos. E eis
que ele vai adiante de vós para a
Galileia; ali o vereis. Eis que eu
vo-lo tenho dito” (Mt 28.5-7).
Após regressarem, Jesus
aparece aos discípulos no monte
na Galileia como ele mesmo
havia designado. Tal momento é
tido como a Grande Comissão.
Diz Jesus: “É me dado todo o
poder no céu e na terra. Portanto
ide, fazei discípulos de todas as
nações, batizando-os em nome do
Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”
(Mt 28.18-19).
Segundo a Bíblia, o desejo de
Deus é que todos os homens sejam
salvos. Deus, que é o dono de tudo
e que tudo pode, só não tem poder
sobre duas coisas: nossa própria
vontade e de deixar de nos amar.
Ele nos deu o livre arbítrio, o poder
de decisão. O Espírito Santo é um
cavalheiro; não invade – pede licença.
Jesus não age pela nossa decisão, mas
reage diante dela. Se o obedecermos,
experimentaremos o melhor da terra.
Jesus Cristo, em graça, também não
pode deixar de nos amar. Ficar preso
à cruz foi a manifestação real de seu
amor pela humanidade. Nada do
que façamos fará com que Deus nos
ame mais; nada do que não façamos
fará com que Deus nos ame menos.
Disse o Senhor a Jeremias “Com
amor eterno te amei...” (Jr 31.3).
Diz o apóstolo João, em 1Jo 4.8,
parafraseando essa passagem: “Deus
é amor”. Mas na Grande Comissão
Jesus nos deixou uma ordem, uma
missão. Cabe lembrar que não foi
uma opção a nós outorgada. Ele não
disse: “Se possível façam discípulos.
Se possível, falem do meu amor.
Quando não tiverem nada para fazer,
anunciem o Evangelho”. Não! Jesus
nos ordena, não como alternativa,
mas como mandamento que precisa
ser cumprido.
E o IDE signifi ca que cada um
de nós tem um compromisso como
proclamadores das boas novas. O
IDE, que ainda é válido para essa
geração, diz que devemos exercer
nosso papel de mensageiros de seu
amor com dedicação. Foi uma das
últimas determinações deixadas
por Jesus a seus discípulos antes
da ascensão aos céus: façam outros
discípulos.
Um seguidor de Jesus é capaz
de cumprir o IDE, mas somente um
discípulo é capaz de fazer outros
discípulos. Ser discípulo não é se
tornar um religioso, mas entender
que em nossos lábios está uma
palavra de cura, que temos palavras
que podem transformar vidas, que
temos um amor que nos supre
quando nos sentimos só, que nos
liberta quando nos sentimos cativos,
que nos aceita do jeito que somos.
Portanto: IDE e fazei discípulos.
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36
Maria de Fátima M. de Carvalho é escritora, advogada, palestrante e mestre em Ciências das Religiões pela Universidade Federal da Paraíba
L U G A R D E M U L H E R
Quem escreveu o Quarto Evangelho?
(Parte 2)
“Não há nada
no Novo
Testamento
que
fundamente
as hipóteses
de que Maria
Madalena
ou Lázaro
tenham sido
autores
do Quarto
Evangelho”
Na edição anterior,
destacamos sete
evidências que
ratificam a autoria joanina
para o Quarto Evangelho.
Encontramos, todavia,
outras correntes que
colocam dúvidas nessa
autoria. Para uns, o anônimo
discípulo amado, seu autor,
era Maria Madalena, e
que isso foi ocultado por
questões de gênero, pois a
Igreja Católica, detentora
da guarda dos principais
documentos da história do
cristianismo, não admite a
liderança de mulheres. E
fundamentam sua hipótese
no argumento de que os
relatos nele contidos acerca
da ressurreição de Jesus
só poderiam ser narrados
por alguém que houvesse
vivenciado a cena e não
apenas ouvido de terceiros.
Outros afirmam, por
analogia, que seu autor teria
sido Lázaro de Betânia,
porque nele está escrito que
Jesus o amava. Contudo,
não encontramos respaldo
Madalena ser a autora do
Quarto Evangelho implicaria
na inexistência do apóstolo
João, o que é totalmente
impossível, pois seu nome e
trabalho estão amplamente
divulgados no Novo
Testamento;
2) No interrogatório de
Jesus, o autor do Quarto
Evangelho afirma que entrou
na sala do sumo sacerdote
por ser seu conhecido. Os
que defendem a autoria de
Maria Madalena argumentam
que, sendo João um pescador,
não podia ser conhecido de
tal autoridade. Entretanto,
sabendo-se que João era
primo de Jesus, e que sua
mãe era parenta de Isabel que
pertencia à família sacerdotal,
é aceitável que ambos se
conhecessem. Impossível
imaginar a cena com Maria
Madalena! No rigor da lei
judaica, mulher ter livre
acesso à sala de audiências?
3) Na crucificação, quando
Jesus entregou sua mãe aos
cuidados do discípulo amado,
a própria expressão de gênero
no Novo Testamento para tais
argumentos:
Da impossibilidade de
Maria Madalena ter sido a
autora do Quarto Evangelho:
1) A hipótese de Maria
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37
antagônica. E Marta, sua
corajosa hospedeira, dava-lhe
abrigo e alimentos mesmo
sabendo dos riscos que a sua
casa corria diante da fúria
das autoridades judaicas que
queriam matá-lo;
6) Foi o apelo das irmãs
que fez Jesus viajar até
Betânia para socorrer
Lázaro, e foi a dor delas
que arrancou lágrimas dos
seus olhos e o moveram na
operação do grande milagre
da ressurreição.
O silogismo da autoria
joanina:
Não há nada no Novo
Testamento que fundamente
as hipóteses de que Maria
Madalena ou Lázaro
tenham sido autores do
Quarto Evangelho. Mas,
nas premissas a seguir
encontramos sua irrefutável
identificação:
1) Se o Quarto Evangelho
não menciona o apóstolo
João, mas os sinópticos o
mencionam e o declaram
um discípulo a quem Jesus
chamou, e que o seguiu, e
se fez presente em todos os
seus atos, inclusive na última
Ceia;
2) E se o Quarto
Evangelho menciona um
anônimo discípulo amado
que seguiu a Jesus e se
fez presente em todos os
seus atos, inclusive na
última Ceia, o qual não é
mencionado em nenhum dos
sinópticos;
3) Esclarecida está a
questão: o discípulo amado
do Quarto Evangelho é o
apóstolo João mencionado
nos evangelhos sinópticos.
E clara está a conclusão: o
autor do Quarto Evangelho,
que se identifica como o
discípulo amado, não é outro,
nu) e lançou-se ao mar” (Jo
21.7). Tal relato é suficiente
para entendermos que o
discípulo amado não era
Maria Madalena, mas sim,
o apóstolo João. Estaria ela
pescando com os discípulos?
Ficaria Pedro nu na presença
dela? Não, não! Esses relatos
demonstram a impossibilidade
do Quarto Evangelho ter sido
escrito por Maria Madalena.
Teria sido escrito por Lázaro?
Os registros contidos no
Novo Testamento também
não são favoráveis a esse
entendimento:
Os argumentos da
impossibilidade da autoria de
Lázaro:
1) O autor do Quarto
Evangelho era um pescador
galileu. O judeu Lázaro não
era pescador;
2) Os sinópticos não falam
sobre Lázaro, mas apenas
sobre Marta e Maria, suas
irmãs. Só o Quarto Evangelho
o menciona, e apenas nos
capítulos que narram sua
ressurreição, e a unção que
Jesus recebera em Betânia;
3) Ele não é chamado de
discípulo, mas de amigo;
4) Ao contrário do
discípulo amado, que
testificou e vivenciou tudo
quanto Jesus fez e falou,
porque o seguia aonde ele ia,
Lázaro só se encontrava com
Jesus quando ia para Betânia;
5) Todos os evangelhos
afirmam que em Betânia
Jesus se hospedava na casa
de Marta e Maria. Mas era
Marta quem o recebia! Ela era
a dona da casa. E o Quarto
Evangelho afirma literalmente
que “Jesus amava a Maria, e
a sua irmã, e a Lázaro” (Jo
11.5). Portanto, não era só a
Lázaro que ele amava, mas
toda a família, que era única
em meio a uma multidão
que ele usou, indica que se
tratava de um homem e não
mulher;
4) Embora o relato da
ressurreição contenha
palavras textuais de Maria
Madalena, é elementar
que os discípulos a
tenham interrogado para
compreenderem o acontecido,
e que ela lhes tenha prestado
um relatório dos seus
passos até a constatação do
fenômeno, minuciando depois
o encontro com o ressurreto.
O autor do Quarto Evangelho
transcreveu ipsis litteris o
que ouviu da Madalena. E
certamente ouviu muitas
vezes, pois, segundo a
tradição oriental, ela foi para
Éfeso, em companhia da mãe
de Jesus e do apóstolo João, e
lá permaneceu até sua morte;
5) Ainda sobre a
ressurreição, o autor afirma
que após receberem a notícia,
Pedro e o outro discípulo
foram ao sepulcro, viram
o túmulo vazio e voltaram
perplexos para casa. O
texto afirma literalmente:
“Tornaram, pois, os
discípulos para casa” (Jo
20.10). E o versículo seguinte
diz: “E Maria estava chorando
fora, junto ao sepulcro” (Jo
20.11). Portanto, o discípulo
anônimo não pode ser Maria
Madalena, já que ele voltou
para casa e ela permaneceu no
sepulcro;
6) Na narrativa da pescaria
em Tiberíades realizada
por alguns discípulos,
inclusive Tiago e João,
ali denominados filhos de
Zebedeu, está afirmado
que Jesus apresentou-se na
praia e foi reconhecido pelo
discípulo amado que estava
no barco, o qual avisou a
Pedro, e que esse, “ouvindo
que era o Senhor, cingiu-se
com a túnica (porque estava
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38
I N T E R N A C I O N A L
O temor sob o O temor sobbramido do marbramido do m
Terremoto, tsunami e radiação: até Terremoto, tsunami e radiação: até
que ponto a tragédia que devastou o que ponto a tragédia que devastou o
Japão e levou o mundo a temer o pior Japão e levou o mundo a temer o pior
desastre nuclear de todos os tempos desastre nuclear de todos os tempos
são sinais do Apocalipse?são sinais do Apocalipse?
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O temor sob o b o bramido do maro mar
CENAS DA CATÁSTROFE dão clara sensação de que as palavras de Jesus sobre o fi m do mundo estão se cumprindo
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40
Os sinais do fi m nunca foram tantos e atingiram a
tanta gente. Mas os desastres naturais, segundo Jesus, seriam apenas alguns deles. Confi ra outros, também muito destacados pelos especialistas:
Então virá o fi m...Restauração de IsraelA criação do Estado de Israel em 1948 e a volta dos judeus à sua pátria são vistos por muitas correntes teológicas como dois dos mais importantes prenúncios da volta de Cristo. “A Bíblia declara que Jerusalém
Aquele começo de tarde de 11
de março parecia prenunciar
mais um fi m de dia como
outro qualquer no Japão. Tudo mudou
repentinamente. Em certo ponto a 32
quilômetros de profundidade no oceano
Pacífi co, cerca de 400 quilômetros de
distância da capital Tóquio, o chão do
mar tremeu. O deslocamento das pla-
cas tectônicas não provocou somente
o maior terremoto da história do país
e o quarto mais violento já registrado
no mundo, com magnitude de 9,0
na escala Richter. Ao interromper o
frágil equilíbrio das águas, originou
ondas gigantes, com alturas de até dez
metros e viajando a impressionantes
800 quilômetros por hora – a mesma
velocidade de um jato comercial.
Em apenas cinco minutos, o colossal
vagalhão, enegrecido pelos destroços
daquilo que carregava, avançou sobre
a cidade litorânea de Sendai, arrastando
tudo o que encontrava pela frente. Bar-
cos, carros, trens, casas e prédios eram
arrancados do solo como se fossem de
brinquedo, rodopiavam no turbilhão
das águas e terminavam amontoados
em cima de outros edifícios e viadutos.
Quem escapou ao abalo foi vitimado
pela fúria das águas. Mais de 14 mil
pessoas morreram na catástrofe e ou-
tras 11 mil continuam desaparecidas.
Diante de tamanho caos, os japoneses
e o mundo todo temiam pelo pior: um
acidente nuclear ainda mais grave que o
de Chernobyl, há 25 anos.
Longe de ser um evento isolado,
a catástrofe que devastou o Japão é
mais uma entre tantas fatalidades que
tomaram os noticiários atualmente. Di-
vide espaço com furacões nos Estados
Unidos, epidemias e fomes na África,
enchentes na Austrália e no Brasil. Não
importa se é rico ou pobre, todo mundo
sofre. Há pouco mais de um ano, o Haiti
experimentou um terremoto 900 vezes
mais fraco do que o japonês; porém,
muito mais destrutivo e com dez vezes
mais vítimas. Assim como também
aconteceu no tsunami que arrasou a
Indonésia, em 2004. Cenas que antes só
se viam em fi lmes de fi cção ou nas pá-
ginas de textos bíblicos como os livros
de Daniel e do Apocalipse são comuns
em todos os lugares. E, apesar de muita
gente insistir que tudo não passa de
“coincidência”, que esse tipo de even-
to “sempre existiu”, é inevitável não
se perguntar: as coisas podem piorar
ainda mais? Ou como temem os céticos
e suspeitam os crentes: seriam esses os
tais sinais que evidenciariam o fi m do
mundo e a volta de Jesus Cristo?
A polêmica escatológica passa
necessariamente pelo Evangelho de
Lucas e de Mateus. Neles, Jesus fala
sobre eventos futuros. Algumas pro-
fecias notadamente já se cumpriram,
ONDAS GIGANTES NA VELOCIDADE de um jato comercial: destruição em questão de minutos
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MARCOS STEFANO COUTO
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41
seria pisada pelos gentios até ser restaurada nas mãos dos judeus e que um dia eles voltariam a ser uma nação. Também devemos levar em conta que nunca tantos deles se converteram ao cristianismo como em nossa época”, diz o jornalista e professor Eguinaldo Hélio de Souza, autor do livro Israel – Povo Escolhido (Editora Vale da Benção).
Guerras e rumores de guerrasO século 20 presenciou duas grandes guerras mundiais e milhares de confl itos que deixaram um saldo de 200 milhões de mortos. No novo século, que mal começou, a belicosidade continua em alta, agora com o requinte da motivação religiosa e do terrorismo.
como aquela em que ele adverte os
habitantes de Jerusalém de que não
fi caria ali pedra sobre pedra: “Então,
os que estiverem na Judeia, fujam para
os montes; os que estiverem no meio da
cidade, saiam; e os que estiverem nos
campos não entrem nela. Porque dias
de vingança são estes, para que se cum-
pram todas as coisas que estão escritas”
(Lc 21.21-22).
Há quem veja nesse texto um du-
plo sentido, referindo-se também aos
últimos dias do mundo, mas ninguém
duvida que, originalmente, cumpriu-se
no ano 70, quando as tropas romanas
comandadas por Tito cercaram a cidade
e destruíram o Templo de Herodes. Se-
gundo o historiador Flávio Josefo, que
viveu no primeiro século, tão grande
foi o banho de sangue que os sacerdotes
foram mortos ainda em seus deveres.
Seus corpos se misturaram no altar
do sacrifício aos de muitos fi éis que
traziam ofertas, e de vários soldados
gentios que invadiram o
lugar. Outras profecias,
porém, só estariam se
realizando agora, como
guerras, terremotos, fome
e pestilências. Tudo ao
mesmo tempo e em vá-
rias partes do planeta.
Dia de Todos os Santos
– “E haverá fomes, e
pestes, e terremotos, em
vários em vários luga-
res” (Mt 24.7), foram as
palavras de Cristo aos
seus discípulos, que perguntavam sobre
quais seriam os sinais do fi m e de seu
retorno. Quem duvida que ele estivesse
falando sobre os dias atuais argumenta
que grandes terremotos sempre existi-
ram. O mais letal de que se tem notícia,
por exemplo, aconteceu em Shensi, re-
gião central da China, em 23 de janeiro
de 1556. Foi a pior tragédia natural de
todos os tempos, atingindo oito provín-
cias e acabando com 98 cidades, que
perderam cerca de 60% da população.
A maior parte das 830 mil vítimas foi
soterrada na queda de casas mal cons-
truídas. Literalmente representou o fi m,
mas só àquela região.
Tempos depois, um evento bastante
semelhante ao que ocorreu recentemen-
te no Japão devastou Lisboa. De forma
muito parecida com o que acontece hoje
em vários países, também naquele tem-
po a capital portuguesa experimentava
uma época de grande prosperidade, que
seus habitantes atribuíam à benção divi-
na. Assim, quando a terra tremeu sob o
oceano Atlântico, a uma centena de qui-
lômetros da costa, em 1º de novembro
de 1755, ninguém esperava. Em apenas
três horas, a cidade foi atingida por três
tremores distintos, o maior alcançando
o equivalente a 9,0 pontos na escala
Richter, que ainda nem existia como
instrumento de medição. Era o Dia de
Todos os Santos e, com o povo nas
igrejas, a mortandade foi ainda maior
por conta dos desabamentos.
Os lisboetas que conseguiram fugir
buscaram refúgio no cais, região aberta,
mas acabaram surpreendidos por gigan-
tescas ondas. O serviço que nem o ba-
lanço da terra nem o mar conseguiram
fazer, o fogo deu cabo, com um incên-
dio que consumiu casas, catedrais, palá-
cios e bibliotecas durante uma semana.
“Estima-se que 85% da cidade tenha
sido destruída. Mais de 70 mil pessoas
morreram, além das vítimas no litoral
do Marrocos, na África. Podemos dizer
que a modernidade começou naquele
momento. As pessoas não entendiam
como isso podia ter acontecido, já que
Deus estava com elas. O desastre minou
a fé e abriu caminho para o emergente
Iluminismo e a idade da razão, bem
menos otimista”, explica o historiador
Edward Paice, autor do livro A Ira de
Deus (Editora Record).
Mais uma vez falou-se em fi m de
mundo, mas o tempo passou e a vida
COMO SE FOSSEM DE BRINQUEDOS, carros se misturam a aviões de pequeno porte em Sendai
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42
Avanço da ciênciaNunca a humanidade acumulou tanto conhecimento como nos últimos 40 anos. Infelizmente é que muito dessas conquistas ainda é empregado na acumulação de riquezas, com produtos para serem vendidos, ou com tecnologia para as guerras. Só o que os Estados Unidos gastam com seu sofi sticado arsenal, mais de US$ 4 bilhões anuais, poderia evitar a morte de 600 mil crianças
de doenças como malária e fabricar vacinas para enfermidades como o sarampo, salvando outras 500 mil todos os anos.
PoluiçãoVá a qualquer metrópole moderna e você não precisará esperar uma erupção vulcânica para se sentir sufocado. Calcula-se que 3 milhões de pessoas morrem a cada ano em consequência direta ou indireta da poluição do ar. O meio ambiente
seguiu. Portugal e o pensamento oci-
dental nunca mais seriam os mesmos.
E outras tragédias vieram, e também
foram superadas. O que leva, então,
a pensar que dessa vez seja diferente?
“O que chama a atenção é o aumento
da frequência com que acontecem
esses eventos e também o efeito des-
truidor. Se fosse em qualquer outro
lugar que não o bem preparado Japão,
o número de vítimas bateria recordes.
Agora, há uma multiplicidade deles:
uma guerra atrás de outra, desastres,
terremotos em vários lugares, crises
econômicas. Tudo ao mesmo tempo,
exatamente como Jesus disse que
aconteceria”, explica o pastor e pes-
quisador Magno Paganelli, professor
do Seminário Batista do Sul do Brasil
(STBSB) e autor de obras como E En-
tão Virá o Fim (Editora Bompastor)
e Os Sinas da Volta de Cristo (Arte
Editorial).
Não se trata de mera opinião. De
acordo com uma pesquisa feita em
2005 pela BBC em 27 países, as ca-
tástrofes foram consideradas os even-
tos mais signifi cativos. Na ocasião, o
mesmo estudo listou 360 desastres
naturais que, comparados, são bem
menores do que os números atuais.
Só para se ter uma ideia, um levanta-
mento feito por historiadores mostra
que no século 19 não havia mais de
meia dúzia de episódios do gênero a
cada ano. Enquanto isso, num único
ano recente, o mundo experimentou
168 inundações, 70 tornados e fura-
cões, e duas dezenas de secas que
afetaram diretamente a vida de 154
milhões de pessoas.
Cinco graus e um pesadelo – “E
haverá sinais no sol e na lua e nas
estrelas; e na terra angústia das nações,
em perplexidade pelo bramido do mar
e das ondas” (Lc 21.25), já dizia Jesus
há quase 2 mil anos. No entanto,
pouca gente sabia o que era um
tsunami até 2004, quando um imenso
vagalhão destruiu a Indonésia. Depois
daquilo, essa expressão japonesa que
aposentou o tradicional “maremoto”
e signifi ca “onda que avança sobre a
costa” já foi falada nas Ilhas Samoa,
em 2009, quando deixou um rastro de
189 vítimas; novamente na Indonésia,
e agora no Japão. São apenas os mais
conhecidos de seus feitos, já que a cada
ano são registrados seis fenômenos,
e nem sempre com consequências
apenas para uma nação. Em 1960,
houve um que começou no Chile,
atravessou o oceano, passou pelo
Havaí, causando destruição, e chegou
a matar mais 200 pessoas no Japão.
Nos evangelhos, Cristo cita textu-
almente o dilúvio bíblico de Gênesis.
Um evento usado como paralelo ao fi m
dos tempos e que representou o juízo
divino contra a maldade humana. Mais
uma vez, há evidências de sobra que
mostram tudo o que vem acontecendo,
não como uma arbitrariedade de Deus,
mas como resultado da ação do homem.
Desde o século 18, quando o acúmulo
de gases na atmosfera foi intensifi cado
pela Revolução Industrial, a temperatu-
ra no mundo não para de aumentar. De
acordo com a Agência Internacional de
Energia, será 3,5º C mais alta até 2035
e, em 50 anos, poderá superar a casa
dos 5º C.
Por sua vez, esse aquecimento glo-
bal provoca o derretimento das calotas
polares. Hoje já é possível observar
gigantescos blocos de gelo se despren-
dendo na Antártica e no Ártico. Num
primeiro momento, alguns cientistas
apostam que esse degelo deve provo-
car ainda mais movimentos da crosta
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43
também sofre: 30 bilhões de toneladas de lixo são despejadas nele anualmente sem o menor tratamento e, em alguns casos, sem o mínimo cuidado.
FomeAs pessoas não querem só comida, mas a ONU aponta que 2 bilhões sofrem com sérias carências alimentares mundo afora. Só na África, 70% enfrentam graves riscos de carência de alimentos.
SedeA água talvez seja o mais valioso produto do mundo moderno. Atualmente, 2 bilhões ou 1/3 de todas as pessoas do planeta já padecem com a falta de água potável. Até 2050, segundo dados da última Conferência do Clima de Exeter, no Reino Unido, esse número aumentará em mais 3 bilhões. Antes disso, porém, há sérios riscos de confl itos pela posse e uso de reservas de água. O Brasil, que detém cerca de 10% de toda a água potável disponível no globo, poderá ser um dos palcos dessas disputas.
terrestre e, com isso, mais terremotos
e tsunamis. Os problemas não param
por aí. Pouca gente duvida que a li-
gação entre as fortes ondas de calor
e invernos rigorosíssimos não tenham
a ver com a elevação da temperatura
mundial. Ou que as epidemias, a ex-
tinção maciça de espécies animais e
vegetais sejam obra do acaso. Resul-
tado: clima descontrolado na Europa,
secas na África e tantas inundações
na Austrália e Ásia. A forma como as
mudanças no clima afetam o planeta
fi ca evidente na atual temporada de
tornados nos Estados Unidos – como
o Katrina, que devastou Nova Orleans,
em 2005 – com números históricos e
alarmantes. Em um único mês, o esta-
do do Alabama sofreu mais de 300, e
ainda aguarda pelo pior.
Se a tendência aponta para
invernos cada vez mais frios e verões
mais quentes em algumas regiões,
principalmente as temperadas, as
equatoriais sofrerão com o calor,
que provocará enormes êxodos
da população em busca de água.
Assim, a Amazônia brasileira seria
transformada num tipo de savana ou
cerrado, enquanto que os habitantes
do sertão nordestino, já quente e seco,
seriam forçados a abandonar suas
casas. “Não se trata de catastrofi smo,
mas de realidade. A última
Conferência do Clima de Exeter, no
Reino Unido, estimou que até 2050 o
mundo terá 150 milhões de refugiados
somente por causa do clima e escassez
de água. Na Bíblia, Isaías 30.26 prevê
aquecimento; Apocalipse 8.10 fala de
problemas com as águas, enquanto
que 6.6 cita racionamento de alimento.
É difícil não relacioná-las com os
problemas atuais”, aponta Paganelli.
Mais difícil, no entanto, é entender
o que signifi cam os tais “sinais no sol,
e na lua e nas estrelas”. Se a frase não
for entendida como metáfora, pode-
se pensar que se refi ra ao choque
de algum meteoro contra o planeta,
como nos fi lmes hollywoodianos do
tipo Impacto Profundo, que adoram
explorar o tema para falar do fi m
do mundo. “Sinais no sol podem
signifi car o aumento das tempestades
solares com suas descargas de
radiação eletromagnética. No
passado, elas danifi cavam linhas de
telégrafo. Imagine o que não podem
fazer diante de nossa dependência
tecnológica”, interpreta Paganelli.
Outra possibilidade pode estar
relacionada aos vulcões. Os cientistas
apontam que existem seis gigantes no
planeta: três nos Estados Unidos, um
no Japão, um na Nova Zelândia e um
na Indonésia. Em erupção, entre outros
estragos, qualquer um deles poderia
lançar uma nuvem de cinzas 3 mil
vezes maior que aquela que cobriu a
Europa após o islandês Eyjafjallajökull
entrar em atividade, em 2010. Dias
virariam noites por muito tempo e os
transportes aéreos e as comunicações
fi cariam interrompidos.
2012 – “Mas todas essas coisas são
o princípio das dores” (Mt 24.8). As
palavras de Jesus são assustadoras,
mas nesse sentido, blockbusters como
2012, que retrata o aquecimento glo-
bal e marca o fi m do mundo de acordo
com o calendário maia, têm certa razão.
Pontuado por catástrofes quase sobre-
naturais, como erupções de vulcões gi-
gantescos, mudança do pólo magnético
DEPOIS DA CATÁSTROFE JAPONESES se mobilizam à procura de sobreviventes e para limpar as áreas afetadas
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da Terra e fortíssimas tempestades so-
lares, a obra dá certa dimensão do que
poderá acontecer no futuro. Contudo, o
que existe em comum entre fantasia e
realidade fi ca por aí. É o próprio Cris-
to quem adverte que ninguém sabe “o
dia ou a hora em que tudo ocorrerá”.
Mesmo assim, até cristãos costumam
ignorar o aviso.
O mais novo surgiu com certo estar-
dalhaço no começo desse ano. A Family
Radio, dos Estados Unidos, está rodan-
do o país para divulgar que o juízo é
mais iminente do que os mais pessimis-
tas autores de Hollywood imaginavam
e está confi rmado para o próximo dia 21
de maio. Há semanas, ônibus de Belo
Horizonte e Rio de Janeiro circulam
com uma propaganda enigmática em
sua traseira: “21/05/2011: Deus vai tra-
zer o dia do julgamento”.
Em várias cidades, grupos
ligados à organização
circulam pelas ruas mais
movimentadas com placas
aludindo ao mesmo evento.
Para chegar a essa data, os adeptos
da Family Radio fazem verdadeiros
malabarismos com números e datas do
Livro Sagrado. Para eles, o juízo fi nal
começaria 7 mil anos depois do dilúvio,
que teria ocorrido em 4990 a.C.. Não é
o primeiro Apocalipse que o líder da
organização, o norte-americano Harold
Camping, tenta emplacar. Nos anos
1990, ele publicou um livro em que
dizia haver alta probabilidade de Cristo
voltar em 6 de setembro de 1994. Seus
adeptos se reuniram em uma cidade da
Califórnia para esperar o evento. E, cla-
ro, voltaram para casa decepcionados.
Mas não são somente a fanáticos
religiosos ou heréticos que as pala-
vras de Jesus são endereçadas. Tudo
ele disse a seus seguidores, a base da
nascente Igreja de Cristo, a mesma que
atualmente parece ter se esquecido da
advertência: “Vigiai, pois, porque nao
sabeis o dia nem a hora em que o Filho
do homem há de vir” (Mt 25.13). “In-
felizmente, muitos parecem mais pre-
ocupados em aproveitar cada vez mais
as benesses desse mundo. A mensagem
triunfalista engana quem chega a tantas
IMAGEM QUE CORREU O MUNDO: sinais que evidenciam o fi m da humanidade?
EDWARD PAICE, AUTOR DE A IRA DE DEUS: “O desastre [terremoto de Lisboa, em 1755] minou a fé e abriu caminho para o emergente Iluminismo e a idade da razão, bem menos otimista”
MAGNO PAGANELLI: “O QUE CHAMA a atenção é o aumento da frequência com que acontecem esses eventos e também o efeito destruidor”
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denominações neopentecostais, pois as
faz pensar que a única coisa pela qual
devem lutar são bênçãos passageiras e
prosperidade material”, alerta o pastor
e jornalista Eguinaldo Hélio de Souza,
professor do Seminário Teológico Vale
da Benção, em Araçariguama (SP).
Se aquilo que o mundo começa a
experimentar é apenas “o começo das
dores” e depois “o sol escurecerá, a lua
não brilhará mais, as estrelas cairão
do céu, os poderes celestes serão aba-
lados”, sinais tão enigmáticos quanto
terríveis, a ponto de fazer com que
“os homens procurem a morte e não
a encontrem”, também é verdade que
“aparecerá no céu o sinal do Filho do
homem”. Ou seja, a volta de Jesus, que
signifi ca não só destruição, mas salva-
ção, também está profetizada. O pro-
blema é que muitas igrejas e pregadores
preferem deixar esse detalhe de lado.
Afi nal, se isso ocorrer, como poderão
desfrutar de tantas promessas para o
aqui e o agora? “Temos que aprender a
viver com os olhos voltados à eternida-
de. Em 1 Coríntios 7.29-31, o apóstolo
Paulo descreve a atitude do cristão que
usa com consciência as coisas desse
mundo, todas passageiras. Só assim, ele
não corre o risco de trocar o eterno pelo
provisório. A ênfase na volta do Senhor
é um bom remédio para o materialismo
que tira da igreja o seu foco maior”,
encerra Souza, deixando claro que a
existência de um dia depois do ama-
nhã é mais do que uma emocionante
história do cinema. Pelo menos, para
quem realmente crê.
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46
Rumores de Rumores de mais guerrasmais guerras
Morte de Osama
bin Laden é
comemorada com
muita festa no
Ocidente, mas pode
ser o estopim para
novos e pesados
ataques terroristas
Na segunda-feira, 2 de maio de
2011, a sensação nos Estados
Unidos era de que uma página
da história acabava de ser virada. Com
uma frase de efeito – “A justiça foi
feita” –, o presidente Barack Obama
anunciou, em pronunciamento na vés-
pera, pela televisão, que o inimigo nú-
mero um da nação, o terrorista Osama
bin Laden, estava morto. Mentor dos
atentados de 11 de setembro de 2001 e
personagem mais destacado na guerra
entre as potências ocidentais e o fanatis-
mo islâmico, Bin Laden foi encontrado
pela inteligência norte-americana em
uma mansão na cidade de Abbottabad,
próxima a Islamabad, capital do Pa-
quistão. A operação promovida por um
grupo de soldados de elite foi bastante
rápida: em não mais do que 45 minutos,
eles invadiram o local e mataram o líder
da temida organização Al Qaeda em
uma troca de tiros. Apesar da festa geral
que se seguiu ao anúncio, muitas dúvi-
das ainda pairam no ar. Não em relação
à morte. Apesar da estranheza provo-
cada pelo anúncio do sepultamento do
corpo no mar, versão que muitos acham
fantasiosa, criada para evitar futuras
peregrinações ao real túmulo do líder
terrorista, e pela ausência de imagens
do corpo, exames de DNA confi rmaram
a identidade de Bin Laden. Problema
maior é em relação ao que vem pela
frente. O homem mais procurado do
mundo pode se tornar mais perigoso
morto do que vivo. Isso, porque sua
morte difi cilmente matará seu discurso
e deve infl amar ainda mais os radicais.
Enquanto os norte-americanos come-
moravam em seu país com cânticos
de júbilo, milhares de paquistaneses
tomavam as ruas gritando palavras de
ordem e declarando ódio eterno contra
os inimigos do Islã.
Mais do que um líder, Bin Laden
era um símbolo. E sua morte vem
sendo tratada pelos radicais como
martírio. Defi nição que deve infl amar
ainda mais tantas organizações que nem
eram ligadas ao saudita, como a Jihad
Islâmica Egípcia; o Grupo Combatente
Islâmico Líbio; o Exército Islâmico de
Aden, no Iêmen; a Jamaat al Tawhid
wal Jihad, do Iraque; Lashkar-Taiba e
Jaish-e-Muhammad, da Caxemira; o
Movimento Islâmico do Uzbequistão; o
Grupo Armado Islâmico, da Argélia; o
Grupo Abu Sayya, com sede na Malásia
e nas Filipinas; e o Jemaah Islamiya, do
sudeste asiático. Além da própria Al Qa-
eda, que já possui células em cada país
europeu e antes mesmo da morte de Bin
Laden já estava sob a liderança prática
do médico egípcio Ayman al-Zawahiri.
“Vingaremos sua morte. Lançaremos
ataques contra os governos norte-
americano e paquistanês, assim como
contra as forças de segurança, inimigas
do Islã”, declarou em entrevista o porta
voz do Movimento dos Talebans do Pa-
quistão (TTP), Ehsanullah Ehsan.
As autoridades dos Estados Unidos
já se preparam para novos ataques e
reforçam a segurança em aeroportos
e estações de trem, metrô e ônibus.
“É certo que os terroristas tentarão
se vingar e precisamos fi car atentos”,
declarou Leon Panetta, diretor da CIA.
Diante desse quadro de apreensão, a
guerra ao terror deve mesmo ganhar
novos capítulos. No século 21, ela
parece mesmo ser a face mais visível
e assustadora das profecias bíblicas a
respeito dos confl itos que se tornariam
um sinal da volta de Cristo e do fi m do
mundo. (Marcos Stefano Couto)
HERANÇA DO TERROR: MORTE DO líder da Al Qaeda infl ama ainda mais o ódio dos radicais muçulmanos contra as nações cristãs
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Aumento da Aumento da maldade, maldade, esfriamento esfriamento do amordo amorMassacre contra crianças na Escola
Tasso da Silveira, no Rio, coloca o país
no mapa das tragédias motivadas por
fanatismo religioso
Mesmo que algumas ve-
zes sejam ignorados por
muitos, há outros dois
sinais do fim dos tempos citados
por Jesus que são tão perturbadores
quanto os demais: o fanatismo re-
ligioso, personificado pelos “falsos
profetas que enganarão a muitos”
e a banalização do ódio, evidente
com o “aumento da iniquidade” e
o “esfriamento do amor” de tan-
tos. Poucas vezes esses dois sinais
estiveram tão presentes num só
momento quanto no dia 7 de abril
passado, quando Wellington Mene-
zes de Oliveira, de 23 anos, aden-
trou nas dependências da Escola
Tasso da Silveira, em Realengo,
no Rio de Janeiro. Na sala de aula,
ele colocou sua sacola sobre a mesa
da professora e, com um sorriso,
avisou aos estudantes da 8ª série:
“Vim dar uma palestra”. Apesar da
proximidade da semana de palestras
com ex-alunos, estudantes e docen-
te ficaram intrigados. Não houve
tempo para reação. Ele abriu sua
bolsa, sacou um revólver calibre 38
e atirou contra a cabeça de uma alu-
na, depois outra. Eram as primeiras
das 12 que matou a sangue frio, jus-
tificado por delírios religiosos e um
amargo gosto de vingança, antes de
se suicidar.
É inegável que o sofrimento do
rapaz começou na infância. Com a
morte da mãe natural, foi criado por
parentes. A adotiva era Testemunha
de Jeová e com ela Wellington
aprendeu a usar somente calças e
camisas sociais, mesmo quando ia
a festas da escola. Era desprezado
e maltratado por outros alunos. Po-
rém, nos últimos anos, com a morte
dessa mãe, a situação piorou. Se-
gundo parentes, ele começou uma
pesquisa obsessiva sobre armas e
organizações terroristas islâmicas
na internet. Passou a usar apenas
roupas pretas e deixou crescer a
barba. No Colégio Estadual Madre
Teresa de Calcutá, onde cursou o
Ensino Médio, ele escreveu em sua
ficha de 2004, no campo “religião”:
“Testemunha de Jeová”. Dois anos
depois, mudou para muçulmano.
“Ele não tem qualquer vínculo com
as mesquitas e sociedades benefi-
centes mantidas pela comunidade
muçulmana no Brasil”, apressou-se
em dizer, logo após a tragédia, Ja-
mel El Bacha, presidente da União
Nacional das Entidades Islâmicas
(UNI). Até por isso, o fanatismo
do rapaz choca ainda mais. Antes
de ficar desempregado e praticar
tiro ao alvo numa mata perto de sua
casa, ele costumava rabiscar bone-
cos em papéis, os quais chamava
de homens-bomba. A um primo
confidenciou: “Vou jogar um avião
contra o Cristo Redentor”.
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A carta que deixou como tes-
tamento e na qual expressa seu
desejo sobre como gostaria de
ser sepultado é igualmente cho-
cante. Nela, Wellington fala que
“impuros” não poderão tocá-los
sem luvas; somente “os castos ou
aqueles que perderam a castidade
após o casamento”. Também diz
que “nenhum fornicador ou adúl-
tero” deverá ter contato com seu
corpo e que aqueles que tomarem
conta de seu sepultamento deverão
banhá-lo, secá-lo e envolvê-lo,
totalmente despido, em um lençol
branco. Em um dos textos encon-
trados em sua casa, ele explicou
a origem dessas ideias. “Passo
umas quatro horas por dia lendo o
Alcorão, e algumas vezes também
medito no 11/9”, escreveu,
numa referência aos aten-
tados terroristas de 2001,
nos Estados Unidos.
E, realmente, o ritual
incomum de sepultamento
escolhido por ele lembra o tes-
tamento de Mohamed Atta, um
dos terroristas de 11 de setembro
– documento fácil de ser achado
na internet. Mas não somente isso.
Há elementos extraídos de textos
cristãos, tanto das Testemunhas de
Jeová quanto de um pastor adven-
tista, de onde, provavelmente, ti-
rou a menção de poder “dormir” ao
lado da mãe adotiva. É bom que se
diga que nenhum desses textos faz
qualquer apologia à violência ou a
ataques homicidas. São estudos so-
bre inferno, alma e espírito, como
todo o resto, encontrados na rede
mundial de computadores e distor-
cidos pela mente doentia do rapaz .
Sinais dos tempos e a confirmação
dos riscos do fanatismo religioso.
O Brasil, que antes só via esse
tipo de coisa pela televisão, acaba
de entrar para o mapa do terror..
(Marcos Stefano Couto)
FANATISMO RELIGIOSO NÃO É MAIS coisa da fi cção ou de outros países: prova disso aconteceu em escola de Realengo, no Rio, no começo de abril
“PASSO UMAS QUATRO HORAS POR DIA lendo o Alcorão, e algumas vezes também medito no 11/9”, escreveu Wellington Menezes de Oliveira, autor da barbárie de Realengo
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50
O B S E RVAT Ó R I O
Igreja ou picadeiro?
“O mais
importante de
um culto não
é a pregação,
não é outra
coisa senão
a adoração, o
louvor que fl ui
e um coração
quebrantado e
contrito”
Tenho grandes
preocupações com o
caminho que muitos
líderes religiosos estão seguindo
hoje em dia. Parece-me que
estamos desejando reinventar
a igreja, à nossa moda. Causa-
me também a impressão de
que esses líderes estão mais
interessados em manter o
auditório animado num frenesi
recheado de entretenimento.
Deus se torna, então, um mero
detalhe e não deve atrapalhar
o culto-show. Se uma “ovelha”
não pode participar ou está
desanimada, logo é descartada
e substituída por quem está
“interessado”. Afi nal, o show
não pode parar.
O sermão acaba sendo
transformado num emaranhado
de chavões que levam o povo
ao delírio, desafi ando-o a
“contribuir” mais para com
a “causa” – não posso dizer
que essa é a causa de Deus,
mas certamente é a do líder
e da igreja. A Bíblia também
se torna apenas um detalhe de
onde são sacados os versículos,
geralmente fora de contexto,
para legitimar e sacralizar a
palavra certeira do pregador.
O momento de louvor passa
a ser uma verdadeira obra de
arte mobilizada por artistas bem
“afi nados” com a harmonia
musical, mas sem garantias de
que estejam sintonizados com
o mestre, vivendo uma vida de
santidade. Pois, o que importam
são os resultados, a obra refi nada
do entretenimento aprovado pelo
público.
O ofertório, no caso de uma
igreja “de mercado”, é que acaba
sendo o clímax do “culto”. É
o momento quando você deve
demonstrar a sua fé pagando o
sacrifício por um bem maior, dando
para o “reino” – certamente do líder
e da igreja – aquilo que lhe é mais
precioso. Num teatro e num circo há
uma diferença, você paga antes de
entrar; aqui, é no meio do “show”.
Parece-me que o que se
considera é a lei de mercado em
que a demanda é a impulsora e
geradora das estratégicas adotadas.
Agradar o “cliente” custe o que
custar, para que ele encha de
dinheiro o caixa da denominação
e mantenha a sua fi delização no
rol de membros para pontuar as
estatísticas da igreja e do “sucesso”
do seu líder.
Igreja é muito mais do que isso,
culto é muito mais do que isso.
Aliás, não é nada disso. Igreja
somos nós, pessoas por quem Cristo
morreu e ressuscitou. Viver igreja
é viver em partilhamento de vida,
viver em comunhão, depender
uns dos outros, ser motivo de cura
interior mútua, estimular o próximo
a viver pela fé...
Culto, muito mais do que um
evento, é um estado de vida (Rm
12.1). Culto é resultado de uma
vida vivida diariamente aos pés
do mestre em todos os sentidos
– no aspecto pessoal e íntimo,
no matrimônio e família, na vida
profi ssional, na vida social etc. O
mais importante de um culto não é
a pregação, não é outra coisa senão
a adoração, o louvor que fl ui e um
coração quebrantado e contrito. Se
isso pode ser feito como obra de
artista muito bem, mas se não pode,
Deus aceitará do mesmo modo.
Portanto, temos que decidir se
vivemos a igreja e cultuamos a
partir dos princípios do Evangelho
ou se a transformamos num
picadeiro.
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52
C O M P O R TA M E N T O
O jejum ainda é válido para os dias
atuais? Como ele deve ser feito? Qual
a sua duração? Para encontrar as
respostas, ECLÉSIA acompanhou a
incrível consagração da missionária
Marlene Braga, da Igreja Batista do
Calvário, em Maricá, Rio de Janeiro
O desafi o dos 40 dias
MARCOS STEFANO COUTO
Considerado “a oração do cor-
po”, há milhares de anos que
o jejum é uma prática defen-
dida por diversas religiões. Também
na Bíblia, o ato de privar o organismo
de comida e bebida por certo tempo é
uma importante atividade espiritual,
uma forma de se aproximar de Deus e
receber suas bênçãos nas mais diversas
áreas da vida. Ana jejuou porque queria
ter um fi lho e Deus lhe deu o profeta
Samuel. O povo de Israel jejuava no
Dia da Expiação e em tempos de crise.
O apóstolo Paulo jejuou em seguida à
sua conversão na estrada de Damasco.
Já, a igreja de Antioquia jejuou antes de
enviar o próprio Paulo e Barnabé para a
primeira viagem missionária. Ao longo
da história, o jejum ainda é associado
a importantes avivamentos. Jonathan
Edwards privou-se de alimento durante
22 horas antes de pregar seu célebre
sermão Pecadores nas Mãos de um
Deus Irado. Quando percebia que seus
ouvintes não lhe davam ouvidos e man-
tinham os corações frios, o evangelista
Charles Finney logo interrompia os
trabalhos para proclamar um período
de jejum e oração. O jejum teve papel
determinante no início das atividades
da Missão da Rua Azusa, considerada
o catalisador do moderno movimento
pentecostal no século passado. Ultima-
mente, no entanto, muitas igrejas têm
identifi cado o jejum com o sacrifício,
coisa que já não tem mais espaço no
discurso triunfalista de várias denomi-
nações. Diante de tanto progresso em
pleno século 21, mesmo com o cres-
cimento da fé, ainda há espaço para o
jejum fora das páginas das Escrituras?
Para responder a essa pergunta, ECLÉ-
SIA foi convidada para acompanhar um
acontecimento bastante inusitado: um
jejum de 40 dias.
Normalmente, quem jejua o faz em
segredo. É o próprio Evangelho que
aconselha, comparando: “O que sua
mão direita faz, não saiba a esquerda”
(Mt 6.3). Mas no caso de Marlene da
Cruz Braga, de 52 anos, missionária da
Igreja Batista do Calvário, em Maricá,
no Rio de Janeiro, foi diferente. “Foi
o Senhor quem ordenou o jejum. Ele
também nos orientou a chamarmos
uma instituição médica de renome
para realizar exames periódicos e um
jornalista de uma publicação respeitada
para acompanhar o processo. A
princípio fi camos receosos por causa
do que Jesus declara na Bíblia, mas
não tivemos dúvidas de sua vontade.
Creio que Deus queira mostrar que ele
é o mesmo do passado, que não muda
e continua fazendo milagres”, explica o
pastor Carlos Augusto Bezerra de Faria,
líder da denominação, que acredita no
batismo com o Espírito Santo e no uso
sobrenatural de dons espirituais para os
dias atuais.
O jejum deveria começar às 17
TRINTA QUILOS A MENOS PARA “edifi car o corpo de Cristo e levar
muitos à salvação”: jejum não foi fácil para a missionária, mas, segundo ela, ordenado por Deus
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horas da sexta-feira, 17 de dezembro
de 2010, e só se encerrar às 17 horas
da quinta-feira, 27 de janeiro de 2011,
totalizando 40 períodos de 24
horas em que Marlene Braga
não comeria nem beberia. Um
desafi o e tanto para a simpá-
tica senhora, uma verdadeira
mãezona e que “come com
gosto”, segundo contam os
familiares e irmãos da igreja.
Mas não somente por isso.
Do ponto de vista médico, um
jejum prolongado pode afetar
o raciocínio, tornando-o lento
pela falta, principalmente, de glicose. E
esse é somente o primeiro sintoma de
problemas. É difícil estipular quanto
tempo uma pessoa aguenta sem comer,
já que o organismo acumula reservas
– as chamadas gordurinhas – para os
momentos de privação alimentícia.
Assim, dependendo do organismo, a
pessoa poderia passar semanas, meses
talvez, sem alimentos sólidos. Con-
tudo, o maior problema é a privação
de água, essencial para que o corpo
realize as funções básicas. Estudos já
demonstraram lesões renais sérias em
indivíduos que fi caram apenas 36 horas
sem ingerir líquidos. “Sem água, os rins
desencadeiam uma série de reações
para reter o líquido ainda existente no
corpo, o que resulta no aumento da
pressão arterial, expondo o praticante
do jejum a elevado risco de um colapso
cardiovascular, como AVC ou infarto”,
adverte o médico cardiologista e clíni-
co geral Rogério Ruiz, de São Paulo,
membro da organização Médicos de
Cristo. Com Marlene, a preocupação
era dupla, pois ela já sofre normal-
mente com problemas como diabetes
e pressão alta.
Moisés, Elias e Jesus – Apesar de ser
uma prática corriqueira e até incentivada
na Bíblia, os textos sagrados registram
apenas três casos de jejuns de 40 dias,
um número de simbolismo importante
para judeus e cristãos; afi nal, foi depois
de 40 dias que o dilúvio cessou e depois
de 40 anos de peregrinação no deserto
que o povo chegou à terra prometida.
O primeiro a jejuar todo esse tempo foi
Moisés, que segundo o livro do Êxodo,
esteve na presença divina, no Monte
Sinai, onde recebeu a aliança com Is-
rael e as tábuas dos Dez Mandamentos.
Depois foi a vez do profeta Elias, que
vivia uma verdadeira crise existencial e
já havia pedido a morte quando recebeu
uma refeição, comeu e ouviu a ordem
de um anjo para que caminhasse em je-
jum até o Monte Horebe. Mas nenhum
caso foi tão emblemático quanto o de
Jesus, que antes de começar seu minis-
tério público, passou 40 dias em jejum
no deserto, sob a tentação de satanás.
Todos se enquadram como fatos bíbli-
cos excepcionais, providos de forma
sobrenatural por Deus.
Marlene Braga encara dessa mesma
maneira a tarefa que recebeu de Deus,
o que, para ela, não é novidade.
Durante 17 anos, a missionária viveu
experiências espíritas, conversando
e vendo entidades. “Conversava cara
a cara com o diabo, que sempre me
vinha em forma humana, geralmente
como alguém conhecido e que já havia
morrido. Por isso, tantas pessoas fi cam
lá: enganando e sendo enganadas”,
lembra. A situação mudou quando ela,
aos 23 anos, teve o fi lho desenganado
pela medicina. Afl ita, procurou dezenas
de centros diferentes de saúde. Cada
um lhe pedia uma oferenda diferente
– entenda-se: dinheiro. Ela pagava, mas
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DEPOIS DE DIVERSAS EXPERIÊNCIAS ESPÍRITAS,
Marlene se torna missionária e experimenta uma verdadeira
transformação em sua vida
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o problema persistia. No último deles, a
mãe-de-santo incorporou uma entidade
e começou a lhe falar com uma voz
bastante familiar. “Parecia meu falecido
sogro. A entidade dizia que levaria
meu fi lho. Tremi. A única alternativa,
segundo a mulher que incorporou o
espírito, seria pagar. Só que ela pedia
muito mais do que eu e meu marido
ganhávamos. Saí correndo dali e me
mudei para tentar fugir daquilo e da
vida que levava”, conta.
Junto com o marido e duas crianças,
ela acabou parando numa casa em fren-
te à Igreja Batista do Calvário, em Ma-
ricá. Como prevenir não custa nada e já
fazia muito tempo que ela não entrava
num confessionário, seu primeiro ato
foi procurar o padre local para relatar
seus problemas. “Não fi que ouvindo
os crentes cantarem. Saia de casa e vá
passear na praça com as crianças, senão
você vai se contaminar”, advertiu o
clérigo, conta ela. Em vez disso, fi nal-
mente ela aceitou o convite para assistir
a um culto; e, depois de entregar a vida
a Cristo, voltou para casa e encontrou
o fi lho, que antes não comia nada, fa-
minto e pedindo mamadeira. A criança
estava curada.
Hoje, Marlene tem uma vida mar-
cada por milagres e pelo sobrenatural
de Deus. Para viver dessa maneira,
precisou de uma grande transformação.
“Jejuar? Orar? Obedecer? Não gostava
de nada disso”, diz. Mudou de opinião
quando recebeu a cura de um terrível
tumor no ouvido num culto de oração.
Ela também relata que sofreu grande
oposição por parte dos pais ao se con-
verter, mas sempre respondia na mesma
medida: “Sem cerimônias, eu dizia que
quem não aceitasse a Cristo estaria
perdido e iria para o inferno. O Senhor
mudou meu modo de ser”, agradece a
missionária, que ainda gasta seu tempo
com outras atividades, como ensinar
– ela estudou somente até a quarta série
do fundamental –, escrever apostilas e
palestrar sobre assuntos espirituais e
seculares, da interpretação dos textos
bíblicos à tricologia, gases na atmosfe-
ra, doenças modernas como depressão
e fi losofi a. Quanto à questão social, sua
casa praticamente se tornou uma exten-
são da igreja e já abrigou e serviu de
lugar para a libertação de muitos jovens
viciados em drogas.
Realmente, quem conversa com a
missionária percebe uma mulher sensí-
vel e delicada, cuja atitude assume uma
postura de controle e autoridade quando
se diz usada por Deus. Enquanto isso, o
pessoal da igreja grava cada predição,
conferindo e atestando a veracidade de
tudo que é testemunhado.
Nem sacrifício nem moeda de
troca – O simples fato de alguém se
privar de alimentos não signifi ca que
esteja jejuando. Parece contraditório
com a própria defi nição do que seja
o jejum, mas não é. Se do ponto de
vista clínico o benefício principal do
jejum é trazer o organismo para seu
metabolismo basal, como se tivesse um
tempo de “depuração” de substâncias
tanto para realizar exames quanto em
procedimentos cirúrgicos, quando é
feito para Deus deve priorizar aspectos
espirituais. “Há quem use o jejum como
um sacrifício ou uma moeda de troca,
para conquistar alguma coisa. Ele não
serve nem para um nem para outro”,
aponta o médico Rogério Ruiz, que
também é pastor metodista e professor
de Bioética da Faculdade Metodista
Livre. “O jejum deve ser pensado como
uma consagração a Deus, um tempo
em que se quebranta e busca estar mais
CARLOS AUGUSTO BEZERRA DE FARIA, pastor da Igreja Batista do Calvário (ao fundo): “Foi o Senhor quem ordenou o jejum”
MA
ÍRA
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DO
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55
perto dele. A pessoa se separa, prepara-
se, torna-se especial para se dedicar ao
Senhor. Signifi ca o reconhecimento de
que depende mais de Deus do que de
tudo, inclusive, do alimento”, emenda.
Esses foram justamente os princí-
pios, puramente espirituais, que nortea-
ram o jejum de Marlene Braga. Durante
os 40 dias, ela não saiu de casa. Perma-
necia na parte de cima do sobrado onde
mora, geralmente, no quarto. Queria
fi car na presença de Deus, dedican-
do-se às disciplinas espirituais, como
oração, refl exão e leitura bíblica. Ali-
ás, ela já tinha praticado outros jejuns
antes, de diferentes durações. “Sempre
que recebia uma ordem, conversava
primeiro com meu marido e com a
igreja. Agora, converso com o pastor.
Nunca faço nada por conta própria”,
afi rma. Para evitar qualquer problema,
o bebedouro foi tirado do andar, e o
acesso limitado. “Quando jejuo, não
durmo direito; pois, ninguém com fome
descansa plenamente. Às vezes sinto
enjoo, tontura, mas é normal”, relata
ela enquanto aponta para a parede, atrás
do repórter: “O relógio no quarto é a
minha bússola”.
Para fazer o acompanhamento clíni-
co foi escolhido o Laboratório Sérgio
Franco, um dos mais conhecidos do
Rio. Periodicamente eram realizados
exames de sangue e urina para hemo-
grama, além de testes de glicose, ácido
úrico e averiguações de rotina. Tudo
foi repassado e conferido pela revista.
“Ao fi nal do jejum, a pele dela estava
ressecada, mas o turgor era normal
e não havia sinais de desidratação.
Todos esperavam que estivesse muito
abatida, com ausência de micção e há-
lito de acetona. Nada disso aconteceu.
Mesmo urinando pouco, até o fi m ela
continuou indo pelo menos três vezes
ao dia ao banheiro”, explica a médica
Rosa Maria Miguel, membro da Igreja
Batista do Calvário e responsável por
acompanhar o jejum.
Ao fi nal dos 40 dias de jejum, mesmo
com 30 quilos a menos a missionária
estava animada. Evitava grandes esfor-
ços, mas não deixou de conversar sobre
seu trabalho e orar, inclusive, num culto
de ação de graças improvisado, ali mes-
mo em sua casa. “Esperávamos grandes
alterações entre o primeiro e o último
exame, mas isso também não ocorreu.
No sangue, o aumento das hemácias é
normal, e consequentemente também
o da hemoglobina e do hematócrito.
Na urina, as células epiteliais estavam
aumentadas, como também as cetonas.
Mas tudo era esperado”, diagnostica
Rosa Miguel.
Pós-jejum, a recuperação de dona
Marlene foi realizada gradualmente,
comendo aos poucos e priorizando a
hidratação – uma dieta balanceada.
Algumas semanas depois, ECLÉSIA
conseguir falar novamente com ela
que, recuperada, estava em viagem
missionária. “Quando tento fazer um
jejum, não consigo por um único dia.
Só consegui por causa da força de
Cristo. Quando ele ordenar, obedeça.
Essa é a essência do cristianismo e
precisamos recuperá-la”, ensina ela,
ao mesmo tempo em que desaconselha
jejuns prolongados feitos de qualquer
maneira. Para lá de explicado o motivo,
fi cou em aberto somente o propósito
da causa: “Busquei ao Senhor em
favor da igreja. Edifi car o corpo de
Jesus e levar muitos à salvação é
nosso grande objetivo. Estou errada?”,
responde, questionando e citando a
fome e a sede que Deus promete saciar
com sua Palavra.MA
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ALÉM DAS TESTEMUNHAS, O JEJUM contou também com o acompanhamento médico da Dra Rosa Maria Miguel
CARDIOLOGISTA E MEMBRO DA ORGANIZAÇÃO Médicos de Cristo, Rogério Ruiz adverte que a falta de água expõe o praticante do
jejum ao risco de um colapso cardiovascular ou infarto
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56
Luiz Leite é escritor, conferencista, administrador de empresas e psicanalista. Preside a International Fellowship Network e pastoreia a Igreja Vida com Cristo, em Belo Horizonte (MG)
P A S T O R A L
A absurda antessalado inferno
“Assimilar o
conceito de
um deus todo
poderoso a
governar o
destino dos
povos tornou-
se um desafi o
insuperável
para
muitos que
presenciaram
atrocidades”
“Se um certo
Jean-Paul
Sartre for
lembrado, eu gostaria que
as pessoas recordassem o
meio e a situação histórica
em que vivi, todas as
aspirações que eu tentei
atingir. É dessa maneira
que eu gostaria de ser
lembrado.”
Esse foi o apelo que o
grande existencialista
ateu fez cerca de cinco
anos antes de sua
morte. O pensamento
de qualquer pensador está
profundamente arraigado
na sua própria experiência
de vida. As influências
sofridas por cada um
determinam em muito
seu modo de pensar. É
impossível desvencilhar-
nos da própria bagagem
que a vida nos impôs, daí
se dizer que cada homem é
produto do seu tempo.
Com a maior parte de
sua obra escrita durante a
Segunda Guerra Mundial,
Sartre teve material farto
para compor sua ode à
desesperança. Seu tempo
foi marcado por grandes
“Se Deus fosse bom, ele
desejaria tornar suas
criaturas perfeitamente
felizes... E se fosse todo
poderoso, ele seria capaz de
fazer o que quisesse... Mas
as criaturas não são felizes.
Portanto, a Deus falta a
bondade ou o poder – ou
ambas as coisas.”
É mais ou menos assim que
se apresentam alguns dos
argumentos que refutam
a existência de um deus
bondoso. A presença
indesejável do mal no mundo
sempre foi um problema de
difícil compreensão. Segundo
o argumento acima exposto,
não pode haver nem um
deus bondoso nem um diabo
perverso, pois a presença
do primeiro teria que
necessariamente aniquilar
a ação do segundo, o que,
aparentemente, não acontece.
Vivi em Israel por quase um
ano e meio e lá encontrei
alguns sobreviventes da
longa noite de horror que a
Alemanha nazista impôs ao
mundo de maneira geral, e
sobre os judeus de forma
perversamente específica.
Ainda que o nazismo tenha
e dramáticos eventos, suas
ideias nos chegam como
um protesto de revolta
diante das catástrofes
absurdas a que foi submetida
sua geração. Talvez seu
conceito sobre Deus possa ser
resumido pelo silogismo que
segue:
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57
desequilíbrio na balança
da equidade, Sartre conclui
que o problema do mal não
é de ordem metafísica; não
é produto da emulação de
seres fantásticos de outras
dimensões. Sua fi losofi a
dispensa qualquer noção
de deuses ou demônios e
desemboca num humanismo
radical, onde o homem
– e somente o homem – é o
protagonista do seu pequeno
drama.
Deixado sozinho, a mercê da
própria sorte, o homem torna-
se responsável por aquilo
que é, e não deverá atribuir
a nada nem a ninguém seus
infortúnios. Se alcançar
sucesso, o fará graças tão
somente aos seus próprios
méritos; se, porventura,
naufragar nas ondas do
fracasso não terá o direito de
se lamentar, projetando sobre
outrem a responsabilidade
dos seus desacertos. Terá
que fazer suas escolhas,
posicionar-se e arcar com os
custos, sejam quais forem as
consequências.
Descartada a possibilidade
da eternidade e de acertos de
contas morais na pós-história,
como ensina o cristianismo,
o existencialismo procura
aliviar o dilema humano,
selando hermeticamente
toda e qualquer fresta por
onde possa se intrometer a
espiritualidade com sugestões
de juízos ou benesses
vindouras. Em outras
palavras, não há tal coisa
como uma continuidade entre
tempo e eternidade. Há que
aferrar-se ao tempo e fazer-se
como bem se entende.
O existencialismo ateu de
Sartre faz do mundo uma
absurda antessala do inferno!
No fim acabam tendo mesmo
razão: é uma questão de
escolha.
perseguido e martirizado
poloneses, ciganos,
homossexuais e prostitutas
de modo igualmente odiável,
a história publica com mais
ênfase a tragédia judaica.
Depois do inominável
genocídio a que foram
submetidos, muitos judeus
tiveram dificuldades imensas
de continuar crendo na
existência de uma divindade
bondosa a governar o
mundo.
O antiquíssimo problema
do mal emergiu como um
monstro hediondo das
águas escuras dos séculos e
desferiu um golpe demolidor
sobre a geração de Sartre.
Assimilar o conceito de
um deus todo poderoso
a governar o destino dos
povos tornou-se um desafio
insuperável para muitos que
presenciaram atrocidades.
Diante de certas vicissitudes
alguns perdem a fé; apaga-
se o lume da esperança,
esmagada pelo evento
trágico e sem explicação.
Resta, nesses casos, a
perplexidade, a expressão
de pasmo perante o que só
poderia ser classificado
como absurdo.
A geração de Sartre passou
por duas catástrofes
causadas, na leitura do
existencialismo, pela
loucura da livre escolha dos
homens. Nem deuses nem
demônios tomaram parte
na empreitada sinistra. Em
verdade, concluíram: não
há deuses ou demônios. O
homem é livre e sua vontade
é a responsável por moldar
o mundo e ditar o ritmo e o
rumo de indivíduos e nações
em sua marcha pela história.
Observando os extremos a
que pode chegar o homem,
as ações absurdas que pode
levar a cabo, o fl agrante
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58
M E M Ó R I A
Falecido em
abril, o pastor
e comunicador
evangélico Fausto
Rocha procurava
zelar pela ética
jornalística,
amparada, também,
por suas convicções
religiosas
Fé em Deus, ética no jornalismo
JOSÉ DONIZETTI MORBIDELLI
No começo do ano, mais preci-
samente no dia 17 de janeiro,
o comunicador evangélico
Fausto Rocha fez uma bela homenagem
a Gióia Jr, um dos mais proeminentes
personagens da poesia cristã, ao recitar
o poema Eu Sei Que o Meu Redentor
Vive. A reverência aconteceu num
campus do Centro Universitário das Fa-
culdades Metropolitanas Unidas (Uni-
FMU), por ocasião da consolidação da
parceria de preparação teológica entre a
instituição e o Conselho de Pastores do
Estado de São Paulo (COPESP). Menos
de três meses depois, foi a vez do jor-
nalista receber as homenagens daqueles
que o admiravam: ele faleceu de parada
cardíaca no dia 7 de abril, em Campinas
(SP), enquanto se recuperava de uma
cirurgia.
Fausto Rocha nasceu na capital
paulista em 1938. Apesar de evangélico
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desde que engatinhava, não fazia parte
dessa ou daquela igreja – era mais do
tipo “interdenominacional”; contudo,
não menos importante na propagação
da Palavra do que qualquer outro líder
religioso com quem tenha convivido ao
longo de sua vida. Somente bem mais
tarde que assumiria a direção da Asso-
ciação Evangélica Benefi cente (AEB), e
se tornaria pastor da Igreja do Nazareno
Central, em Campinas, onde ministrava
três cultos por semana.
No jornalismo, ele foi um
idealizador: iniciou a carreira na
extinta TV Tupi como apresentador do
telejornal Imagens do Dia, lá pelos idos
da década de 1960. Não demorou muito
para que sua popularidade o conduzisse
à vida pública: de locutor ofi cial do
governo paulista, elegeu-se vereador
na cidade de São Paulo por duas vezes,
e chegou à Assembleia Legislativa.
Depois, emendou três mandatos na
Câmara dos Deputados, ao mesmo
tempo em que se dedicou a atividades
paralelas – foi até empresário do setor
automobilístico. Mas o negócio dele
era mesmo o jornalismo e, na década
de 1990, adquiriu uma emissora de TV
fi liada à também extinta Manchete. Não
durou muito e, com a falência da rede,
foi obrigado a vender a subsidiária.
Uma das últimas “tentativas” de unir
a paixão jornalística com os princípios
cristãos foi com a TV Palavra, em São
Paulo, que ocupava os antigos estúdios
da Rede Globo no bairro de Santa
Cecília. Também, por pouco tempo.
Fausto Rocha era casado com Ju-
liana Teles Rocha, com quem teve três
fi lhos. Além da saudade, à família o
pastor deixa como legado as benesses
de uma íntegra trajetória religiosa, jor-
nalística e política: religiosa, por plena
convicção de sua fé; jornalística pela
vocação e ética; e política por consequ-
ência da popularidade delegada pelas
virtudes anteriores.
DE APRESENTADOR DE TELEJORNAL a pastor evangélico: jornalismo e religião marcaram a vida do comunicador Fausto Rocha
“Fausto Rocha foi um
exemplo para todos nós.
Sua vida política, seu
ministério e sua dedicação
à Palavra de Deus fi carão
gravadas em nossa
lembrança”
Pastor Paulo Freire
Deputado federal (PR-SP)
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60
Bráulia Ribeiro trabalhou na Amazônia durante 30 anos e hoje se envolve em projetos internacionais de desenvolvimento nas ilhas do Pacifi co e da Ásia, morando em Kailua-Kona com sua família
C O N T E X T O
Braulinete e Reginaldo
“Acredito na
igualdade
entre os
homens como
acredito no
Deus que nos
criou e nos
salva”
Uma vez por semana nos
vestimos em roupas
queimadas de água
sanitária, enchemos o carro de
baldes e produtos químicos, e
vamos fazer limpeza em casas.
Não é um trabalho integral. Nem
nos seria permitido com nosso
visto religioso, e por gastamos
a maior parte do tempo no
trabalho missionário e viajando
conforme requerem os projetos.
Contudo, tornamo-nos os
típicos latinos que até se matam
atravessando fronteiras pelo
sonho do subemprego bem pago
na América.
A vida aqui é cara, e os “bicos”
de limpeza pagam as escolas
dos fi lhos, a conta de energia e o
diesel do velho Oldsmobile. Nas
primeiras vezes foi interessante,
e nós brincávamos com a ideia.
Passar paninho em móveis
signifi ca menos stress até para
quem já trabalhou tanto tempo
administrando crises de liderança
na vida de tribos inteiras. Só que
depois de algumas semanas, o
cheiro de água sanitária deixa
de ser agradável, e as horas
gastas na limpeza começam a
cobrar um preço alto demais em
nosso trabalho no campus. Pior
ainda, nossa autoestima começa
a fi car seriamente balançada.
apresenta venenosa nos encontros
sociais, na divisão de empregos, na
distribuição de renda. Pode-se ver a
casta na arquitetura de apartamentos
de classe média de qualquer grande
cidade brasileira. Por exemplo: no
fundo do imóvel, num quartinho de
dois metros por um e meio com um
banheiro menor ainda, sem vista
alguma e com entrada pela cozinha
ou área de serviço. O que isso
revela? Que ainda existe senzala no
Brasil do século 21.
Você sabe a que classe a pessoa
pertence pelo jeito dela falar,
pelas roupas que usa, pelo carro
que tem, pelo bairro onde mora.
A classe vai determinar como se
processa o relacionamento social
e as oportunidades de vida, e até
os direitos perante a lei. Não que a
pessoa esteja presa inexoravelmente
à classe, mas não são muitos os que
conseguem romper o disfarçado,
embora rígido, castismo do país para
alcançar padrões sociais mais altos
em relação aos de origem.
De certa forma, a igreja consegue
quebrar essas divisões, igualando-
nos no corpo de Cristo. No entanto,
à medida que envelhece acaba se
acomodando a uma transformação
superfi cial da cultura, e adotando
sincreticamente as mesmas classes
em outras formas.
A questão econômica, hoje, não é
Diante dessa refl exão, eu
pergunto: existe no Brasil o
conceito de casta? Como vemos
o trabalhador do subemprego, a
empregada doméstica, o braçal?
Se nos compararmos com a Índia,
Nepal e demais países asiáticos,
penso que não. Nosso sistema não
é franco, abertamente castista, nem
baseado em pressupostos religiosos.
Entretanto, a casta existe. Como
a de uma serpente, sua cabeça se
Quem somos nós, agora? Meros
imigrantes de baixa categoria tendo
que enfrentar uma carga de trabalho
elevada para sobreviver? Se antes
éramos líderes de missionários,
escritores e pregadores, então nosso
conceito de valor pessoal fi cou em
xeque.
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61
mesmas oportunidades de trabalho.
E eu e o Reinaldo aqui em nosso
velho Oldsmobile com a roupa
cheirando a Kiboa, repetimos para
nós mesmos que, apesar do Brasil
nos contradizer, trabalho braçal não
é desonroso. Roupa velha não nos
faz menos gente, e trabalhar como
doméstica não torna a mulher uma
cidadã de segunda categoria.
Enquanto a igualdade não se
tornar um grito primal da teologia
evangélica, não vamos chegar a
lugar algum. Enquanto não nos
crermos essencialmente dignos, sem
nenhum “se”, também não vamos
chegar lá. A ideia da igualdade
deve ser como um credo repetido
por todos, credo pelo qual estamos
dispostos a morrer. Acredito
na igualdade entre os homens
como acredito no Deus que nos
criou e nos salva; e creio numa
sociedade brasileira livre das classes
colonialistas e da injustiça sistêmica.
seu tempo, regulou os direitos
trabalhistas; contudo, a distância
econômica entre as classes
permanece abismal.
A consciência da igualdade
tem que vir de convicções mais
profundas. Ao pregar para multidões
de colonos britânicos na Virgínia, no
século 18, George Whitefi eld iniciou
um movimento sem precedentes
na Europa. A ideia da salvação
individual que ele pregava, até
então praticamente desconhecida,
provocou ondas de avivamentos
que chamavam para uma vida cristã
holística, que cuidava do pobre e do
necessitado, que se fazia presente
em todas as esferas da sociedade e
que valorizava cada indivíduo como
um verdadeiro cidadão. A partir de
Whitefi eld, os americanos sonharam
em ressurgir das cinzas da Europa
injusta, de governo autoritário e
sociedade dividida, para gerar um
Mundo Novo, onde todos fossem
iguais diante de Deus e com as
se países como o Brasil e a Índia vão
crescer ou não. Por circunstâncias
macroeconômicas, a riqueza está
nos caindo no colo. Mas será que o
crescimento e a riqueza signifi cam
uma melhora de vida para todos,
será que garantirão o mesmo a um
intocável e a um brahmin? Poderão
o Brasil e a Índia se transformar
numa América, remunerando um
pedreiro com a mesma honra de um
advogado?
O trabalho duro em si não
gera mais justiça social. O que
gera uma melhor distribuição
de renda é o pressuposto básico
da igualdade. Quando somos
iguais, o trabalho merece uma
paga digna. Assim, as diferentes
funções sociais e profi ssões se
tornam complementares. Somente
a força da lei não opera o milagre
da igualdade social. A constituição
indiana aboliu o sistema de
castas, mas ele continua existindo
na prática. Getúlio Vargas, em
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62
M I N I S T É R I O
Praticamente no anonimato e sob
pressão da atividade dos maridos, muitas
mulheres desempenham papel importante
como companheiras, auxiliadoras e até
mesmo conselheiras dos pastores
Ilustres anônimas
ROSANA IBANEZ
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Um jovem casal se conhece e
inicia um promissor relaciona-
mento, até que eles se casam e
constituem um novo lar. Essa é uma his-
tória mais do que comum em qualquer
parte do mundo; porém, as coisas mu-
dam quando ele afi rma ter se convertido
e decide ingressar na faculdade teológi-
ca, com o propósito de se aprofundar
nos estudos e, um dia, tornar-se pastor
evangélico. Pronto: a vida do casal se
transforma da água para o vinho. Ela,
antes entretida somente com as atribui-
ções do lar e que jurou respeitar e seguir
os passos do marido no momento de tro-
car alianças, adquire novas responsabi-
lidades e se conscientiza de que não está
mais casada com um cidadão comum,
Para a professora Nancy Gonçalves
Dusilek, vice-presidente da Convenção
Batista Brasileira (CBB), essa
cobrança é absolutamente normal e
não se restringe somente às esposas de
pastores. “As difi culdades enfrentadas
são naturais quando se lida com o ser
humano. A incompreensão das pessoas,
a inveja de alguns, o desejo de outros
de estar no lugar da gente, a ingratidão
depois de tudo que se faz são naturais
para quem exerce liderança”, explica
ela, hoje viúva do pastor batista Darci
Dusilek, com quem foi casada durante
quase quatro décadas. Em seu livro
Mulher sem Nome (Editora Vida), a
escritora explora bastante o tema, já
que, segundo ela própria, infelizmente
fi ca a impressão de que esposas de
líderes de igrejas não têm nome próprio.
“Numa conversa, meu marido – ele
faleceu em 2007, devido a um infarto
fulminante – sugeriu que eu escrevesse
o livro. Não fi z qualquer consulta
bibliográfi ca, simplesmente abri meu
coração e conversei na mesma ‘língua’
com quem me entende. O que mais tem
me chamado a atenção é que várias
mulheres me dizem que é como se eu
conhecesse a história delas. Então, eu
mas com alguém que, se seguir ao pé
da letra o que regem os princípios bí-
blicos, irá colocar Deus acima de todas
as coisas. Então, praticamente a igreja
se torna sua primeira casa, e os fi éis são
vistos como fi lhos carentes de atenção e
orientação cristã.
Há exceções, mas de simples dona de
casa geralmente a mulher passa também
a fazer parte do ministério, tornando-
se referência para muitas irmãs, que a
veem como exemplo a ser seguido. Para
não decepcioná-las, seu comportamento
muda na mesma medida que os hábitos;
afi nal, cobranças não lhe faltarão, e de-
senvolver uma postura ética e condizen-
te com a posição do marido na igreja é
vista “quase” como uma obrigação mo-
ral. Não há mais espaço para erros e tudo
tem que ser absolutamente perfeito.
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63
dou um sorriso e respondo: ‘Falamos
a mesma língua, só isso’”, conta.
Na obra, baseada em experiências
pessoais, ela apresenta alternativas
que podem ser usadas em diversas
situações, inclusive por cristãs bem
resolvidas espiritualmente e que veem
a convivência com homens de grandes
responsabilidades ministeriais como
bênção, e jamais castigo.
Mas, se há mulheres que encaram
a vocação pastoral dos maridos como
uma dádiva divina, também há quem
se sinta perturbada. Pesquisa focada na
família realizada nos Estados Unidos
pelo Fuller Institute, George Barna,
and Pastoral Care Inc, instituto vol-
tado para questões evangelísticas, apu-
rou que 80% dos cônjuges de pastores
afi rmaram que, se pudessem, teriam
escolhido outra profi ssão para os par-
ceiros; desse índice, 94% confessaram
já ter sentido algum tipo de pressão em
decorrência dessa situação. Há casos
em que a pressão psicológica chega ao
extremo de deixar a mulher deprimida
e solitária, o que acaba refl etindo e
adulterando sua própria personalida-
de, como a da norte-americana Mary
Winkler, que assassinou o marido, pas-
tor Matthew, com um tiro nas costas. Já
que a autora do crime não apresentava
nenhum desequilíbrio emocional, o
fato, ocorrido em 2006 no Tennessee,
gerou polêmica ao fomentar os deba-
tes sobre as pressões que a atividade
pastoral pode exercer nas esposas dos
religiosos. Uma alternativa, talvez,
seja delegar às mulheres maiores res-
ponsabilidades e poderes nas igrejas
para que elas também possam exercer
seus ministérios pastorais. É o que,
teoricamente, defende Alexvader Nu-
nes da Silva, pastor da Assembleia de
Deus Ministério Madureira. “Não há
propriamente um relato na Bíblia em
relação ao ministério da
mulher, mas na minha con-
cepção é de suma impor-
tância”, diz, ressaltando a
participação da companhei-
ra em sua vida ministerial.
“Como pastor eu sou a ca-
beça, mas os olhos são dela.
Ela é uma conselheira fi el
para auxílio em qualquer
coisa que eu faça em rela-
ção à casa de Deus”, elogia.
Na opinião de sua esposa,
Priscila Lyliane da Silva,
cabe à própria mulher o
cuidado de não escandalizar
ninguém. “Existe sempre uma cobran-
ça desde a hora em que eu entro até que
eu saio, pois as pessoas me veem como
um espelho. Deve-se sempre agir com
cautela, já que o olhar dos outros em
relação a nós é diferente”, explica ela,
que atualmente auxilia o pastor no de-
partamento infantil da igreja.
Mulheres decididas – Já que a socieda-
de costuma atribuir às esposas de prefei-
tos, governadores ou presidentes o título
de “primeira dama”, nada mais natural
que as companheiras dos pastores tam-
bém trabalhem para fazer com que seus
valores sejam reconhecidos e respeita-
dos, não somente dentro de casa, mas
também nas atividades ministeriais. E
é exatamente o que têm feito muitas
delas, algumas casadas com líderes
reconhecidos internacionalmente e que
aparecem mais na televisão do que mui-
to galã de novela. Quem, evangélico ou
não, nunca se deparou com o eloquente
Silas Malafaia ao zapear o controle
remoto? Considerado um dos pastores
mais populares do país, ele vê na famí-
lia a base sólida para todo cristão, e na
fi gura da esposa um valor imensurável
e preponderante para se chegar a essa
condição. “A mulher tem sua importân-
cia na edifi cação do lar, com sabedoria.
Dentre suas responsabilidades, dadas
PARCEIRAS EM CASA E NA IGREJA: esposas de pastores driblam pressões psicológicas e fazem do ministério dos maridos uma continuidade do lar
NANCY DUSILEK, vice-presidente da CBB:
“Preciso saber exatamente o que
Deus quer de mim”
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por Deus, destaco o papel de auxilia-
dora do marido, orientadora dos fi lhos,
e o ponto de equilíbrio desses com o
esposo”, ressalta o líder da Assembleia
de Deus Vitória em Cristo, e apresenta-
dor do programa homônimo, levado a
diversos países de todos os continentes.
A mulher a quem o assembleiano se
refere é a terapeuta familiar Elizete Ma-
lafaia, que o acompanha há mais de três
décadas. Além de “praticamente” dividir
as responsabilidades ministeriais com o
marido, ela faz parte do Corpo de Psi-
cólogos e Psiquiatras Cristãos (CPPC), e
ainda é palestrante e escritora – ao todo,
já são cinco livros lançados. O caminho
por ela trilhado, no entanto, nem sempre
foi de rosas. “No início sofri com a com-
paração, pois havia um padrão de que
a esposa do pastor deveria ser cantora,
pregadora, líder de coral ou do departa-
mento feminino. Se você não tivesse um
desses perfi s, não estaria contribuindo
com seu ministério”, recorda. No campo
psicológico, Elizete é categórica quando
questionada se o motivo que leva muitas
mulheres a abandonaram a igreja e até
os maridos, está relacionado ao senti-
mento de, segundo elas, serem cobradas
por algo que não foram chamadas, por
Deus, para realizar. “Eu creio que o
Senhor irá cobrar de nós,
mulheres, a maneira como
desempenhamos o talento
que ele nos deu para desen-
volvermos”, resume, não sem
antes deixar uma receita, apa-
rentemente simples, para que
cada mulher possa viver em
harmonia, livre de pressões
e capacitada para os desa-
fi os de uma vida ministerial
sadia. “Fazer tudo com amor
e alegria, oferecendo sempre
o melhor e sem se preocupar
com o que as pessoas acham
ou pensam”, complementa.
Nancy Dusilek também
passou por experiências que
lhe valeram, não somente paciência
como também um grande aprendizado.
Entretanto, ela faz sempre questão de
ressaltar que ser esposa de pastor não
se trata de nenhum peso; pelo contrário,
é um privilégio. “As difi culdades foram
naturais, mas não me abateram. Para a
minha saúde emocional, eu preciso saber
exatamente o que Deus quer de mim
e caminhar debaixo da graça”, revela.
Nada melhor, então, do que seguir sem-
pre em frente, com a mente, o coração e
o foco bem defi nidos. “Às vezes a gente
se entristece, mas segue adiante; pois, o
compromisso com Deus vem em primei-
ro lugar”, fi naliza.
Divórcio – De acordo com o Instituto
Brasileiro de Geografi a e Estatística
(IBGE) a diferença entre divórcio e
separação é que, no primeiro caso,
os ex-parceiros usufruem do direito
a um novo casamento civil e religio-
so, enquanto que o segundo somente
desobriga marido e mulher de certos
compromissos, como a coabitação. E
mais: pesquisadores da Universidade
de Harvard e do Instituto de Tecno-
logia de Massachusetts, nos Estados
Unidos, revelaram recentemente que
divórcio e separação são responsáveis
DA IGREJA PARA OS TRIBUNAIS: assassinato de religioso norte-americano pela esposa fomenta debates sobre as pressões psicológicas da atividade pastoral
ESPOSA DE UM DOS MAIS CONHECIDOS pastores brasileiros,
Elizete Malafaia tem participação ativa no ministério do marido
pela redução de 30% dos índices de
violência doméstica. Apesar de bíblico
e proferido em todas as cerimônias de
casamento, hoje em dia o versículo “o
que Deus uniu, não separe o homem”
(Mt 19.6) não tem sido respeitado na
prática tal como é apregoado, inclu-
sive por casais cristãos; em suma, os
crentes podem até torcer o nariz para
os dados apurados, mas o divórcio tem
se tornado tão comum quanto o próprio
matrimônio, independente de confi ssão
religiosa. Motivos para a separação
enchem a página: pressão psicológica,
imaturidade, falta de assistência pasto-
ral ou psicoterápica etc. Entre os evan-
gélicos, no entanto, a principal razão é a
carência afetiva; pois, em muitos casos,
o marido prioriza tanto o ministério que
não lhe sobra tempo para se dedicar à
família e à vida conjugal. Diante disso,
não há união que resista. “Qualquer ser
humano que priorizar outra coisa que
não seja a família está sujeito a perdê-la.
É muito importante que os pastores en-
tendam que precisam separar um tempo
para a esposa e os fi lhos. Assim como as
máquinas precisam de um período para
manutenção, nós também precisamos”,
compara Elizete Malafaia.
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66
T E L E V I S Ã O
Dedé Santana, o
mais sisudo dos
trapalhões fala
sobre sua carreira
e como trocou a
vida desregrada
do passado pelo
evangelismo
Fé, sem trapalhada
KAREN RODRIGUES
Quase ninguém o chama pelo
nome de batismo – Manfried
Sant’Anna. Já, pelo pseudô-
nimo, não há quem não o conheça:
Dedé. O envolvimento com as artes
vem desde os primeiros meses de
vida, um legado deixado pela mãe
contorcionista de circo. Com o ir-
mão Dino, Dedé Santana formou
a dupla Maloca e Bonitão, mas foi
com Renato Aragão, na TV Excel-
sior, que ele defi nitivamente come-
çou a galgar os degraus da fama.
Surgia, então, a dupla Dedé e Didi,
à qual mais tarde se juntariam um
baixinho de risada engraçada e um
crioulo, responsável por popularizar
gírias como forévis e cacildis. Jun-
tos, Dedé, Didi, Mussum e Zacarias
formaram o quarteto mais famoso da
televisão brasileira – Os Trapalhões
–, humorístico que marcou as noites
de domingo nas décadas de 1980 e
90. Realizaram, também, inúmeros
fi lmes, transpondo da telinha para
as telonas muitos dos problemas so-
ciais do país, mas sempre com graça
e alegria. Apesar de ser considerado
o mais sisudo do quarteto, Dedé
Santana também garantia boas gar-
galhadas, e até hoje é o alvo preferi-
do das palhaçadas de Renato Aragão
no também dominical A Turma do
Didi, programa que voltou a reunir
os parceiros de longa data.
Circunspecto diante das câmeras,
mas desregrado distante delas. É as-
sim que pode ser definido o passado
de Dedé Santana: época de carrões,
envolvimento com mulheres, carto-
mantes, kardecismo e até macumba,
que o afastavam cada vez mais de
Deus, tornando-o um palhaço tris-
te, mal-humorado, vazio e infeliz,
como ele próprio enumera. Mas, já
que todo mundo na vida merece uma
segunda chance, o humorista en-
contraria sua oportunidade durante
uma viagem de avião, por meio de
um recado a ele entregue por uma
missionária – recado esse vindo de
Jesus, segundo ela. Situação inusita-
da para alguns, mas não para quem
experimenta uma verdadeira trans-
formação espiritual. A partir daquela
viagem, nascia um novo homem: o
Dedé de Deus.
Com a morte dos amigos Zacarias,
em 1990, e Mussum, em 1994, o
programa Os Trapalhões chegou ao
fi m. Já convertido, Dedé tentou re-
viver os bons tempos de humor com
Os Trapalhões em Portugal, sem lá
muito sucesso. Depois da curta ex-
periência internacional, o humorista
perambulou por outras produções
televisivas como Escolinha do Pro-
fessor Raimundo, Zorra Total, Gente
Inocente, Turma do Pererê, enfi m,
até comandar seu próprio programa:
Dedé e o Comando Maluco, pelo
SBT, que permaneceu no ar por cerca
de três anos.
As experiências profi ssionais e
espirituais revelaram outra face do
humorista: a de escritor. E é com
os livros que ele também costuma
FO
TO
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ÇÃ
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DEDÉ SANTANA: “PROCURO CUMPRIR com as minhas obrigações, sem trapalhadas”
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compartilhar sua história de vida, a
iminência da morte, a cura, os so-
bressaltos na carreira, o desemprego
e a volta por cima. E ainda incentiva
seus fãs e admiradores a experi-
mentarem a mesma experiência
espiritual que o tirou da escuridão
do passado. Dedé continua, sim,
fazendo trapalhadas nos sets
de fi lmagens; contudo, na vida
real está em paz com Deus e em
perfeita harmonia com a família
– ele é pai de oito fi lhos, todos
convertidos. Confi ra o que diz o
humorista nessa entrevista exclu-
siva à revista ECLÉSIA:
ECLÉSIA – O que faz o Dedé
Santana no dia a dia?
DEDÉ SANTANA – Muitos
shows, eventos e viajo bastante,
isso quando não estou gravando.
Eu moro em Itajaí (SC), tenho
uma pequena produtora em
Curitiba e frequento a 3ª Igreja
do Evangelho Quadrangular,
apesar de ter faltado muito em
virtude das viagens. Vou para o
Rio de Janeiro às segundas-feiras
e fi co até sexta para as gravações.
e a mandou dizer que eu o havia
esquecido. E ainda me deu um cartão
com o nome de um pastor, Roberto
Moreira. Começou assim, mas a
experiência mais forte aconteceu
quando eu estava internado num
hospital, em 1994. Uns pastores
apareceram para orar por mim e,
embora eu não quisesse, acabei
aceitando. Um deles era, justamente,
o Roberto Moreira. Fui curado, pois
até então não tinha me convertido.
E quando decidiu se converter?
Fui convidado para ir a Associação
de Homens de Negócio do
Evangelho Pleno (ADHONEP),
na Barra da Tijuca, Rio. A imagem
que eu tinha de evangélico era de
pobreza, pessoas usando roupas
compridas e mulheres com cabelos
até a cintura, mas vi um monte
de carro importado e gente bem
vestida. Aceitei o convite também
porque, naquele dia, apareceria por
lá uma pessoa que eu já conhecia:
o músico Mattos Nascimento, do
Paralamas do Sucesso, de quem
eu havia precisado uma vez para
tocar trombone num fi lme. Tanto
a pregação como os louvores
tocaram muito o meu coração;
então, aceitei a Jesus. Tornei-me
membro da Assembleia de Deus
Ministério Madureira, onde há
ótimos pastores e um trabalho
social muito bonito; contudo,
na época eles não aceitavam
que eu trabalhasse na televisão.
Atualmente, como disse antes,
estou na Quadrangular.
Quando você deixou de ser o
Manfried Sant’Anna para se
tornar o Dedé Santana? Aliás,
alguém ainda o chama pelo
nome de batismo?
Quando criança meu irmão
mais novo não conseguia me
chamar pelo nome verdadeiro,
“Longe de Deus,
todas as coisas
são fúteis”
Bem, como qualquer cidadão,
procuro cumprir com as minhas
obrigações, sem trapalhadas.
Como e quando ocorreu a sua
conversão, e que mudanças isso
trouxe à sua vida?
Longe de Deus, todas as coisas são
fúteis. Assim era a minha vida, cheia
de futilidades. Eu era uma pessoa
que não acreditava muito nas coisas,
e não queria saber de religião.
Depois, com minha conversão houve
uma mudança muito grande. Tive um
encontro com uma missionária num
avião – até pensei que ela era meio
maluca –, que me disse que Jesus
tinha um recado para mim.
Na hora achei impossível, eu tinha
perdido o voo e ela disse que
aquele também não era o voo dela.
Segundo ela, Jesus me amava muito
O ESCRITOR DEDÉ SANTANA: experiências profi ssionais e espirituais relatadas nos livros
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só de Dedé. Hoje, somente algumas
pessoas que me conhecem desde
criança se dirigem a mim como
Manfried.
Por décadas o programa Os
Trapalhões foi considerado um dos
melhores de humor da televisão
brasileira. Depois, com a morte
de Zacarias e Mussum, a atração
chegou ao fi m. De certa forma, isso
também infl uenciou para que você
se tornasse evangélico?
Certamente. Ali eu já comecei
perceber que o homem passa, a fama
passa, tudo passa... Até a uva passa
(risos).
Como seus amigos e as pessoas
mais próximas a você encararam
essa transformação?
No começo estranharam um pouco.
Achavam que seria passageira e que
logo eu voltaria para a vida fútil de
antes, mas depois viram a mudança
no meu comportamento. Hoje é
mais tranquilo, já que há muitos
evangélicos no meio artístico.
“Hoje em dia
o preconceito
é bem menor,
mas o deboche
em relação
ao evangélico
ainda existe
dentro ou
fora do meio
artístico”
E sua família? Aliás, você se
casou duas vezes e tem oito fi lhos.
Entre eles, há algum que também
frequente igrejas evangélicas?
Por ver, de verdade, que eu havia
aceitado a Jesus, minha família
também se converteu. Graças a
Deus, todos estão na igreja: oito
fi lhos lindos, e netos também lindos.
Você costuma falar sobre religião
com seus amigos e companheiros
de trabalho? Qual é a reação
deles?
Sempre que posso, e a reação é
de respeito e atenção. Alguns até
se converteram graças ao meu
testemunho. Mas isso tem que ser
feito com sabedoria e na hora certa,
para não se passar por um cara
chato.
Você chegou a sofrer algum tipo
de preconceito por sua opção
religiosa?
Claro. Se Jesus sofreu, imagina se o
Dedé Santana não sofreria. Hoje em
dia o preconceito é bem menor, mas
o deboche em relação ao evangélico
ainda existe dentro ou fora do meio
artístico.
OS TRAPALHÕES: ÉPOCA DE FAMA, carrões, mulheres e uma vida distante de Deus
DEDÉ PARTICIPOU DE INÚMEROS FILMES, como Os Trapalhões na Serra Pelada (1982): realidade social à base do bom humor
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pessoas. Entretanto, as coisas
vão acontecendo e a gente vai
aprendendo com o tempo.
Ao contrário do conservadorismo
de algumas igrejas mais
tradicionais, muitos pastores e
líderes religiosos têm utilizado
outras maneiras de evangelização,
como o humor, mas sem
transgredir os valores cristãos,
éticos e morais. Qual é a sua
opinião a respeito?
O Evangelho é democrático e tem
que ser pregado a toda a criatura,
não importa a forma, como disse
o apóstolo Paulo. Eu, quando
participo de algum evento, não
chego querendo pregar; afi nal, não
sou pastor, pregador e nem tenho
essa competência. Costumo brincar,
usando meu humor. Antes pensava
que isso era errado, até perceber
que muitos pastores de igrejas
norte-americanas também brincam
durante suas pregações. Aqui, o Silas
Malafaia, por exemplo, conta até
piada em seus cultos.
Isso é estratégico para atrair
os jovens à igreja, ou uma
nova tendência que, num
futuro próximo, possa redefinir
a maneira de se pregar o
Evangelho?
Sim, e sempre aparecerão
novidades. Só não podem mudar a
Palavra, isto é, a Bíblia Sagrada.
Por fim, e essa história de
escritor? O que os leitores podem
esperar de seus livros?
Eu gosto muito de escrever, porque
são experiências que vivi narradas
na minha própria linguagem. Os
leitores podem esperar por uma
literatura clara, simples, e de boa
qualidade. O que move os livros
são meus testemunhos, e eu tenho
certeza de que todos irão gostar.
“Há quem não
entrava numa
igreja e agora
entra para ver
o Dedé”
Você acha que essa decisão
desapontou alguns de seus fãs ou
pode incentivá-los a experimentar
a mesma transformação
espiritual?
As duas coisas: perdi alguns, ganhei
outros. Penso que a minha mudança
pode incentivar as pessoas, sim. Há
quem não entrava numa igreja e
agora entra para ver o Dedé, tanto
que os cultos em que participo são
sempre lotados.
De uns tempos para cá, a
conversão de pessoas ligadas ao
meio artístico tem aumentado
muito. Em sua opinião, isso se
deve a quê?
Ao tocar da trombeta, pois a vinda
do Senhor Jesus está muito próxima.
Você se arrepende de alguma
coisa que tenha feito antes de sua
conversão? Se pudesse mudar
algo em sua vida, o que mudaria
exatamente?
Se pudesse, eu teria aceitado a Jesus
Cristo antes. Certamente, mudaria
também meu comportamento
no passado, o desrespeito que
eu tinha com o sentimento das
FALAR DE DEUS E FAZER GRAÇA: humor é essencial para o evangelismo do artista
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Emerson Menegasse
é teólogo, fi lósofo, psicoanalista e missionário no Nepal, onde coordena o Projeto Nepali
M I S S Õ E S
Nuvens, nuvens e nuvens...
“Bendita
esperança
que nos
move, que
nos faz ver
e enxergar
– até mesmo
nessas
palavras há
diferenças”
Nessas minhas idas e
vindas, das viagens
de divulgação de
nosso projeto missionário,
pude passar por vários
estados brasileiros. Para
cumprir a agenda em tempo
hábil tive que ir quase
sempre de avião, pois seria
impossível somente por via
terrestre. Lá da janelinha
do avião, em minha última
viagem de divulgação, algo
me chamou muito a atenção.
Eu estava simplesmente
observando, quando uma
“coisa” aparentemente sem
sentido começou a tomar
forma, representando,
talvez, minhas memórias
inconscientes. Estou
me referindo àqueles
aglomerados brancos e
fofos que parecem algodão
doce e que, atravessados
pelo sol, refletem novas
cores, avermelhando-se
ou adquirindo um tom
prateado.
Eu, na luta com meu
fértil imaginário, ficava
tentando entender se elas
realmente adquiriam vida,
ou se eu próprio lhes
designava tais formas,
imaginando coisas que
traumas afetivorrelacionais
que todos vivenciamos
indistintamente. Falo de
coisas comuns a todos nós...
As formas denunciavam
minhas conjecturas,
articulações mentais, o
“ego” na frente de um
espelho, vendo se esculpir
os personagens da vida:
da minha vida, das minhas
relações, dos meus medos
e anseios, do “medo que
dá medo do medo que
dá”– numa leitura poética
à la Lenine. Isso não me
amedrontava, mas permitia
pensar a vida e seus muitos
percalços, que pode vitimar
ou impulsionar voos mais
altos.
Esse medo não era
destrutivo, mas construtivista
a partir do momento que me
permitia ver noutra esfera
da vida, da vida alheia que
tomava forma nas formas das
nuvens. Eram gentes, a minha
imago e a imago dei, que
me fazia refletir qual dessas
quero reproduzir na minha
vida. É claro que a primeira
ideia que vem é a divina.
Mas e minha humanidade,
onde é que fica?! Não posso
negá-la, tão pouco deixar de
deflagravam o meu próprio
inconsciente, detalhes que
a gente segreda da vida que
levou, leva ou ainda levará.
É como se projetássemos
imagem de pessoas que
amamos ou tentamos esquecer,
que foram mutiladas dos
relacionamentos pelas dores
causadas, numa tentativa de
evitar o sofrimento. Talvez até
tenha realmente sido o melhor,
uma vez que perdoar não é
sinal de esquecimento; antes
sim, lembrar sem dor dos
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daqueles a quem você dá
forma, que no campo das
relações pode ir muito além
das nuvens e atravessar os
céus. Acho que cheguei lá!
Talvez, agora, seja a sua vez
de tentar...
para quem sabe enxergar
suas próprias formas. E nessa
reflexão meio louca, talvez
você consiga articular dentro
de si mesmo as conjeturas
e as formas que a sua vida
toma; bem como, as formas
expressá-la, ainda que isso
fosse objeto de desejo. Deus
me fez humano, homem, ser
gente, imperfeito..., mas em
busca de!!! É, estou em busca
de ser e existir, dar sentido às
formas que me afetam pelos
seus sentidos. Porém, um
sentido novo, de existência
nova e em nada maldita;
antes sim, bendita.
Bendita esperança que
nos move, que nos faz ver e
enxergar – até mesmo nessas
palavras há diferenças. Pois
podemos ver apenas no
sentido literal ocular, mas
podemos deixar de enxergar
aquilo que está diante de
nós e grita existência, na
tentativa de se libertar.
Talvez você esteja muito
curioso com os personagens
da minha vida, das nuvens
e suas muitas formas. Pois
bem, olhe para as nuvens,
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pop, “a arte de tornar o lugar-
comum algo revelador”. Então,
Zé Bruno, guitarra e voz do
Resgate, quinteto peso pesado
do pop rock cristão – ou gospel,
como se convencionou chamar
equivocadamente no Brasil –,
encasquetou há 22 anos com a
ideia da transmissão da boa
nova de salvação forjada entre
guitarradas e postura rocker. E
o resultado? Há pouco mais de
um ano o grupo assinou com a
Sony Music, o que não signifi ca
o sonhado primeiro passo
rumo à cena pop nacional, ou o
caminho defi nitivo, pelo menos
por enquanto, para ser luz em
meio às trevas; a banda é parte do
braço gospel da companhia, sinônimo
de uma engrenagem musculosa de
marketing e distribuição a serviço de
Ainda Não É o Último, álbum mais
recente da banda, de 2010, dirigida
majoritariamente para o mercadão
evangélico. Ainda que, nas palavras
de Zé Bruno, a banda nunca tenha
desviado o foco para o que acontece
do lado de lá do muro “gospel”. É
que, para o grupo, bastam três acordes.
“Vejo o Resgate hoje como uma banda
que não está nem de um lado nem do
outro. Não temos uma grande aceitação
no meio evangélico porque tentamos
manter uma linguagem, apesar de ser
[banda] cristã que ainda tenha eco na
cabeça de um cara que não frequenta
igreja”, analisa. Ele cita composições
próprias que sustentam sua tese,
como Jack and Joe, Transformers,
Terapia, Neófi to. E mais: Outra Vez
M Ú S I C AM U LT I M Í D I A
Depois de duas décadas de estrada e um
contrato com uma grande gravadora, Zé
Bruno e o Resgate colhem resultados na
trilha tortuosa do rock cristão
Bastam três acordesFilipe Albuquerque
DIVULGAÇÃO
“E se bastassem três
acordes?”, pergunta uma
peça publicitária recente
do Canal Futura, emissora educativa
a cabo das Organizações Globo. A
imagem do fi nado Sid Vicious, baixista
do Sex Pistols, empunhando um
Fender Jazz Bass que ele mal sabia
tocar, já respondia a pergunta. Para o
quarteto punk londrino em 1977, para
os criadores do rock’n roll algumas
décadas antes e a um exército de
moleques que empunharam guitarras
desde sempre para gritar suas angústias
juvenis aos pais, professores e ao
mundo, três acordes são muito mais do
que sufi cientes.
Há algo de contraditório em
encontrar um guitarrista de uma
banda de rock em uma típica padaria
paulistana numa segunda-feira
às 15h30 para uma conversa de
pouco mais de uma hora, que tratou
basicamente de rock e sacou nomes
como Rolling Stones, The Who,
Nirvana, Black Crowes e Radiohead.
Mas o rock não é, em sua essência,
algo contraditório ao promover
tiozinhos de meia idade empunhando
guitarras enquanto levam adolescentes
à histeria? Não é uma banda cristã
de rock a suprema contradição? Os
quadris sacolejantes de Elvis Presley,
a Stratocaster fl amejante de Jimi
Hendrix e o dedo em riste de Joe
Strummer, três ícones do gênero mais
juvenil e rebelde da música universal,
diriam que sim.
Mas o rock’n roll é também, na
defi nição precisa de Greil Marcus,
o maior crítico vivo da música
(de Ainda Não É o Ultimo) e E Daí
(Resgate, 1997) também entram na
lista. Por enquanto, nada de uma visita
consistente ao pop rock nacional.
“Temos uma avassaladora maioria de
grupos que fala para os que estão na
igreja, e uma pequena minoria que
quer falar a quem não é da igreja”,
teoriza. “Por isso, há a questão da
linguagem”, emenda ao lembrar
que a música cristã “comercial” que
predomina hoje é a que fala sobre
realidades doutrinárias para quem é,
no mínimo, iniciado na doutrina. “Mas
a gente busca na linguagem, no som,
no tipo de produção, na capa, no bom
humor, tentar se aproximar [do público
não cristão] para falar de Cristo”,
complementa.
Zé Bruno fala da missão do
Resgate com a maturidade de um
homem já na casa dos 40 anos, família
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ZÉ BRUNO, SOBRE O RESGATE: “Não temos uma grande aceitação no meio evangélico porque tentamos manter uma linguagem, apesar de ser [banda] cristã que ainda tenha eco na cabeça de um cara que não frequenta igreja
formada, pastor da Igreja Casa da
Rocha, em São Paulo, mas com a
humildade de quem entende a dureza
que é tentar transcender as barreiras
do templo. Ao mesmo tempo que
reconhece a luta inglória que isso, num
país como o Brasil, signifi ca. Lançar
mão de letras subjetivas não é algo
que conte com a boa vontade do meio
evangélico. “A música precisa quebrar
algumas resistências. Para que isso
aconteça, você precisa ser subjetivo.
E o subjetivo, dentro do universo
evangélico, não pega bem”, constata.
Barulho – A turma evangélica também
costuma torcer o nariz quando as
referências estéticas de uma banda
cristã residem fora da igreja. Talvez
porque não entenda exatamente tais
referências. Quando o mesmo Resgate
abusou, no álbum homônimo, de 1997,
de efeitos de guitarra – phasers, reverb,
câmaras de eco e tremolos, além de
distorcedores classudos – para, ao
seu modo, pagar tributo ao indie rock
vigente nos anos 1990, que era regido
por barulho, microfonia e ambiências
sem perder a ternura, quase ninguém
do meio entendeu. “Quando a gente
começou a fazer esse disco, comprei
um monte de coisas alternativas”,
informa. Ainda que não lembre da
maioria dos discos que adquiriu para
pinçar ideias – mas cite o Radiohead
como uma das infl uências –, o espírito
da época deixou marcas indeléveis no
som da banda. “Era a vez do Nirvana.
Ainda não existia o Foo Fighters,
mas era o momento dos alternativos”,
traduz ao tentar lembrar de outro
grupo, cujos “acordes dissonantes
com distorção e as melodias eram
completamente fora do normal” e, de
certo modo, fi zeram Zé Bruno reavaliar
seu próprio som. Ainda assim, ele
ainda sonha com a possibilidade de um
novo álbum de louvor, como o Resgate
Praise, de 2000.
Porque é na ausência de referências
estéticas que reside boa parte do
fracasso da missão da música cristã
contemporânea em encontrar jovens
não crentes e conquistá-los por meio
da arte. Quando uma penca de cantoras
gospel têm como benchmarking
algo como um blended de Jane
Duboc, Rosana e outras intérpretes
populares da década de 1980, é que,
artisticamente, há algo de errado. E
é de se esperar que um público com
acesso ao que há de mais quente
surgido ontem na cena pop do
Brooklyn ou em algum clube úmido
de Londres rejeite o que seus pais já
deixaram para trás como algo tosco há
quase 30 anos.
Antenas ligadas – Zé Bruno se
considera antenado. Como quem
não quer se acomodar na passividade
artística do mundo pop cristão, diz
prestar atenção até no que não lhe
parece necessariamente agradável aos
ouvidos. “Ouço mais de uma vez, pode
ter alguma coisa boa ali”, comenta.
Desse modo, pode encontrar ideias para
os devidos respiros no som do Resgate,
que ele avalia como rock’n roll básico.
Na lista das infl uências, estão Rolling
Stones, Who e Black Crowes. No
carro, o CD é Somewhere Down The
Road, o último da cantora Amy Grant.
Dentre todas as críticas e avaliações
que já leu e ouviu sobre a banda, a
que mais o animou veio do quase xará
Bruno Batista, produtor e gerente
artístico da seara pop rock da Sony
Music. Sob a batuta dele estão Skank,
Capital Inicial, Charlie Brown Jr,
Claudia Leite e Vanessa da Mata, para
mencionar alguns. Maurício Soares,
responsável pelo braço gospel da
major, convidou Batista para ouvir
o produto fi nal de Ainda Não É o
Último, logo após a mixagem, ainda
no estúdio. “Ficamos olhando para
saber se ele estava gostando, se estava
batendo o pé”, relembra Zé Bruno.
A impressão do diretor artístico o
fez pensar que, fi nalmente, alguém
entendera.“Quando acabou a audição,
ele falou: ‘Genial. Pensei que eu vinha
aqui ouvir uma banda gospel’. Isso
me deu muita alegria. Não porque eu
tenha preconceito contra o gospel,
mas por entender que ele conseguiu
desligar o Resgate de algo que não
julgo se é bom ou ruim, mas que já
existe, e é estereotipado. Porque [ele
percebeu que] o nosso objetivo é falar
com o cara que não está na igreja. E
percebemos que estamos no caminho
certo”, conclui.
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Ativista e chefe da atual banda mais
poderosa do planeta, como todos os cristãos
Bono Vox parece também querer ver o
Espírito Santo face a face
Batendo na porta do céu
Será que ele ainda
não achou o que está
procurando em um dos três
shows ultralotados realizados
no estádio do Morumbi, em
São Paulo, em abril? Ou
em alguma apresentação da
excursão multimilionária
360º? Provavelmente não, se
o que realmente procura não
são somente cifras e fama. O
fato é que, para muita gente,
sobretudo pais de adolescentes
nas últimas três décadas, Bono
Vox ajudou a chutar para longe a
áurea maligna que acompanha o
rock’n roll desde seu nascimento
há meio século.
Bono Vox é o bandleader
que toda sogra pediu a Deus e
que muito crente usa para dizer
ao pastor que nem todo rock
é do mal. Além do pop,
assumiu o papel de ativista,
sobretudo quando o papo
são as mazelas do continente
africano e o descaso dos
ex-poderosos países do G8
com a pobreza em nações do
terceiro mundo. Em sua última
vinda ao Brasil, aproveitou
para, além de beijar a mão da
presidente Dilma Rousseff
e cantar num karaokê com
Ronaldo, encontrar integrantes
do Movimento de Combate à
Corrupção Eleitoral (MCCE) e
registrar apoio à Lei da Ficha
Limpa.
A BUSCA DE BONO CONTINUA: “Eu ainda não entrei o que estou procurando”, canta o vocalista do U2 na milionária turnê 360º
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Pagar de popstar engajado
não é novidade no showbizz. O
músico Bob Geldof, ex-líder e
vocalista do Boomtown Rats,
criou a fundação Live Aid na
década de 1980, celebrada pelo
megaevento que levou o mesmo
nome e que juntou as maiores
estrelas do pop para o combate
à fome na Etiópia. A ideia
surgiu com o single Do They
Know is Christmas, lançado
por ele e por Midge Ure, do
Ultravox, em 1984, sob o nome
de Band Aid, e que contou com
outra constelação de artistas
britânicos. Bono Vox, entre elas.
Mas a simpatia do povo
cristão com Bono encontra
razões já nos primeiros anos
da banda. Em 1981, fase do
U2 pós-punk, de cabelos
desgrenhados e gargantas
baseada nos mandamentos do
rock’n roll. Contudo, é em I
Still Haven’t Found What I’m
Looking For, de The Joshua
Tree, de 1987, que Bono rasga
o peito e narra sua busca
espiritual por algo pelo qual
anseia mais que a própria vida
– o Espírito Santo, segundo ele
mesmo. A música chegou ao
primeiro posto do Billboard Hot
100, sendo o segundo single
da banda a bater no primeiro
lugar da lista da revista norte-
americana Billboard. A também
gringa Rolling Stone incluiu
a faixa no grupo das 500
melhores músicas de todos os
tempos, que ainda faturou o
Grammy daquele ano.
Eu já escalei as montanhas
mais altas,
já corri através dos campos só
para estar com você.
Eu corri, rastejei,escalei estes
muros da cidade só para estar
com você,
mas eu ainda não encontrei o
que estou procurando.
Alguma relação com 1Corintios
13.12 ou simples coincidência?
Bono segue em busca da
transcendência até pedir
arrego e se entregar em uma
declaração de fé digna de
véspera de batismo:
Eu acredito na vinda do reino,
então, todas as cores irão
sangrar em apenas uma,
mas sim, ainda estou correndo.
Você quebrou as ligações,
afrouxou as correntes,
você carregou a cruz e a minha
vergonha,
você sabe que eu acredito nisso.
A música está no setlist da
360ª Tour 2011, incluindo os
shows realizados no Brasil.
Sinal de que a busca continua.
Que um dia, Bono a encontre.
(FA)
inflamadas pela revolta, crítica
e parte do público identificou
elementos espirituais em
letras do álbum October, do
mesmo ano. Na música Gloria,
Bono usa o refrão para clamar
“Senhor, se eu tivesse alguma
coisa, qualquer coisa, eu daria
a você”. Em With a Shout, o
vocalista cai de joelhos: “Quero
ir para os pés do Messias, para
os pés de quem me fez. (...)
Vamos estar lá de novo em
Jerusalém”.
Mais ou menos nesse
período Bono, The Edge e
Larry Mullen, os três cristãos
assumidos da banda, passaram
a integrar um grupo religioso
de Dublin chamado Shalom. O
posicionamento religioso fez
surgir questionamentos entre os
três ao relacionarem a fé à vida
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76
Patrícia Guimarães
é mestre em Musicologia, bacharel em Canto Lírico, e regente e professora de Canto em Juiz de Fora (MG)
L O U V O R E A D O R A Ç Ã O
Por um louvor atemporal
“Não há
dúvidas de que
a ‘nova’ escola
de louvor vem
abençoando a
Igreja de Cristo
no Brasil.
Contudo, não
temos dado
ênfase às
caracterís-
ticas do Deus
majestoso,
misericor-
dioso, bom e
justo”
Mudanças são
necessárias.
Algumas vezes,
dolorosas; outras, trazem
boas expectativas. Verdade é
que elas vêm carregadas de
emoções, e exigem adaptação.
Por isso, a sensação de
desconforto, sempre.
Instabilidade, insegurança
ao que se seguirá. Adaptar é
apropriar-se de uma situação
ou coisa que você considerava
de outro, é moldar-se a novos
espaços e circunstâncias.
Quando conheci Jesus, com
pouco mais de 11 anos de
vida, nem imaginava quantas
mudanças teria que passar.
Novos conceitos e atitudes
precisariam prevalecer em
minha vida para o novo
ideal abraçado – seguir o
mestre. Não muitos anos se
passaram e me vi envolvida
num lindo conjunto musical
de minha cidade natal
– na década de 1980, os
grupos musicais facilitavam
aos jovens experiências
com Deus e participações
especiais de louvor durante
os cultos. Textos poéticos
eram desenhados numa
teia melódica e harmônica
que refletiam a verdade da
iniciando a década de 1990,
vimos um novo cenário se
delineando na música gospel
brasileira. Era o início da
expressão “ministério de
louvor”, com repertório maior
e menor exigência na área
musical. Os conjuntos de antes
começaram a se enfraquecer,
pois não era preciso tanto ensaio
para “louvar”. Acompanhando
as mudanças, apropriamo-
nos do novo “modelo” de
adoração. Sabíamos que um
grupo enxugaria a participação
do outro e não tardaria o
desaparecimento do “antigo”
modo de adoração. As
“apresentações”, agora, estavam
fora de questão – embora eu
nunca tivesse pensado que,
enquanto ensaiava e cantava
com o conjunto, não estivesse
louvando! Se para os amantes de
antigos hinos dos cancioneiros
cristãos, os grupos musicais da
década de 1980 já eram muito
“ritmados” e “modernos”, a nova
onda de louvor dos anos 1990
causaria maior espanto pelo
uso de instrumentos mais altos,
vozes elevadas, músicas com
arranjos vocais mais simples
e grande aceitação pública.
Diversas gerações e memórias
musicais em conflito.
Palavra cantada, letras de um
culto racional envolvidas por
melodias tranquilas. E nossos
corações eram surpreendidos na
imprevisibilidade dos arranjos
musicais. Convertíamos nossas
atitudes após cada cântico novo.
Findos os anos 1980 e
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da criatura... E estamos
imprimindo esse Deus às novas
gerações.
Por isso, registro um clamor
ao novo levita que tenho
em minha casa: respeite as
diferenças, seja amoroso e
compreensivo para com as
gerações “passadas”, pois
são expressões de fé que têm
igual valor diante do Pai.
Jesus, enquanto viveu entre
nós, honrou o antigo Deus de
Abraão, Isaque e Jacó, e nasceu
da linhagem da estrangeira
Rute. Filho, adore-o na
congregação dos santos, conte
aos seus filhos o poder de suas
obras e não esqueça que seus
mandamentos são igualmente
justos. Em suas memórias
musicais, adore-o em qualquer
tempo! Porque “o seu louvor dura
para sempre” (Sl 111.10).
Texto dedicado a David, meu fi lho
por isso que o povo de Israel
celebrava a interferência de Deus
em sua história por meio de
cânticos – memórias transmitidas
aos filhos –, gerações de
várias épocas desafiadas a
cruzar desertos e mares. Em
nosso tempo, novas mudanças
surgirão para testar a maturidade
da trajetória em unidade de
gerações distintas.
Não há dúvidas de que a
“nova” escola de louvor vem
abençoando a Igreja de Cristo
no Brasil – sons expressivos
e próprios do ser humano
espelhados no relacionamento
com Deus. Contudo, não temos
dado ênfase às características
do Deus majestoso,
misericordioso, bom e justo.
Estamos mais distantes das
pessoas, mas humanizamos
Deus. Celebramos seu toque,
seu olhar, as batidas de seu
coração, o criador à semelhança
O desconforto, então, tornou-
se visível. Quem se adaptaria
a quem? Hinos como Santo,
Santo, Santo, Ao Deus de
Abraão Louvai e Ó, Mestre,
Nunca Cessarão Meus Lábios
trouxeram impacto às gerações
mais antigas, enquanto releituras
de riquezas como Castelo Forte,
Sou Feliz com Jesus, Bendita
a Hora de Oração sempre
confortaram a geração mais
nova.
Contudo, os recém-chegados
adoradores ao arraial, sedentos
pelo avivamento por meio
da liberdade de expressão,
trouxeram um tsunami de novas
canções entoadas em ritmos
frenéticos e contagiantes nos
cultos, utilizando mais de um
terço das sessões dominicais.
Registros de experiências de fé
e congraçamento do corpo de
Cristo sempre acompanharam as
composições musicais. Talvez
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78
Marcos Stefano Couto
L I T E R AT U R AM U LT I M Í D I A
À prova de dúvidas
que fosse ele mesmo que apareceu na
porta da casa onde estavam, após ser
milagrosamente solto da prisão por
um anjo. “Deve ser o espírito dele”,
duvidaram alguns. Também hoje, com
verdadeiras campanhas contra a religião
promovidas pelos neoateus Richard
Dawkins, Christopher Hitchens, Sam
Harris, Daniel Dennett e por tantos
outros pretensos cientistas, ninguém
está totalmente livre de vez ou outra
duvidar.
Por isso, há até quem já defenda
que alguns questionamentos podem
ser benéfi cos para o crente. Ajudam-
no a buscar respostas e a fi rmar suas
crenças. Claro, desde que as mais
difíceis perguntas obtenham as mais
satisfatórias respostas. Para confrontar
os pontos complicados da fé, a editora
Holy Bible está a lançando a série
de estudos bíblicos Defensores da
Fé, uma coleção que promete ajudar
os leitores a esclarecer suas dúvidas
sobre os mais variados assuntos, desde
“Não duvide, meu irmão!
Duvidar é pecado!” Quem
nunca ouviu esse tipo de
afi rmação em alguma igreja evangélica?
Apesar de considerada pelos cristãos
mais conservadores como uma postura
“herética” ou até como “falta de fé”, a
realidade é que a dúvida é mais comum
em qualquer religião do que muitos
imaginam. E, diante das agruras e
desafi os da vida, no cristianismo não é
diferente. A própria Bíblia está cheia de
personagens que viveram verdadeiros
dilemas com seus questionamentos.
Moisés quase brigou com Deus por
duvidar de que seria capaz de cumprir
a ordem de liderar a libertação do
povo escolhido. Davi, mesmo ungido
pelo profeta Samuel, escondeu-se
com suas dúvidas e frustrações em
uma caverna quando, em vez de
tornar-se rei, passou a ser ameaçado e
perseguido por Saul. Mesmo orando
pela libertação de Pedro, os apóstolos
e demais discípulos não acreditaram
Livros da nova série de estudos bíblicos
Defensores da Fé ajudam a acabar com os
difíceis questionamentos sobre temas como a
existência de Deus, a veracidade da Bíblia e a
diferença entre o cristianismo e outras religiões
a confi abilidade da Bíblia, com suas
aparentes contradições, à existência e
caráter de Deus. Afi nal, se Deus é bom,
como ele permite tanta dor e maldade
no mundo?
“Essa série serve como um bom
auxílio para aqueles que ainda
buscam a verdade e para
quem deseja estar melhor
preparado para compartilhar
sua fé. Em tempos de
questionamentos, mesmo
o mais fi el cristão precisa
estar bem equipado”,
defende o professor
Norman Geisler, um dos
mais renomados apologetas
cristãos da atualidade, na
apresentação da coleção.
Quatro volumes já estão
disponíveis para o estudante
brasileiro: Como Podemos
Saber que Deus Existe?,
Por que Deus Permite o
Sofrimento e o Mal?, Como Saber
se a Bíblia é Verdade? e Em que o
Cristianismo é Diferente de Outras
Religiões?.
Em todos, os temas são complexos.
O livro que trata sobre a Bíblia, por
exemplo, analisa a história de sua
escrita, as acusações de que estaria
cheia de mitos e lendas, as possíveis
contradições e o velho assunto dos
evangelhos e livros perdidos, que
está na moda entre os contestadores.
Apesar de se tratarem de questões
áridas, o academicismo, tão comum
nesse tipo de assunto, é trocado por
textos mais rápidos, perguntas práticas,
comparações atuais, revisões pontuais
e aplicações a serem feitas na vida do
estudante. Mérito para os autores John
Ankerberg e Dillon Burroughs, que
apesar de pouco conhecidos no Brasil,
nos Estados Unidos são famosos
justamente por simplifi car o que outros
difi cultam, seja no rádio, na televisão
ou na literatura.
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DEFENSORES DA FÉ: temas complexos, mas os autores simplifi cam o que os outros difi cultam
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80
A G E N D A
conhecida como Cracolândia, na
capital paulista. No dia 28 de maio,
o Jeame estará comemorando seu
30º aniversário com um Culto de
Gratidão a Deus, que será celebrado
na 1ª Igreja Batista de São Paulo
– Praça Princesa Isabel, 233. Quem
quiser participar da festa ou obter
mais informações, basta ligar para o
número (11) 3237-4207 ou acessar o
site www.jeame.org.br.
Resgatar, reabilitar e reintegrar
crianças e adolescentes
em situação de risco social,
especialmente as que vivem nas
ruas de São Paulo e os internos da
Fundação CASA – a antiga Febem.
Esse é o propósito do Jeame, entidade
sem fi ns lucrativos sediada na região
“Cuidando de quem Cuida”sexualidade, esgotamento mental,
autocuidado e saúde emocional.
O evento acontece na Pousada
Betânia, em Curitiba, que fi ca
na Avenida Monteiro Tourinho,
1335 – Bacacheri. Para inscrições
e informações, os interessados
devem entrar em contato pelos
e-mails [email protected] ou
De 3 a 5 de junho, o Exodus
Brasil, entidade cristã
interdenominacional, estará
realizando o Retiro de Líderes 2011,
evento que tem como propósito
oferecer suporte e orientação
a líderes religiosos e a quem
objetiva iniciar um ministério de
redenção. Serão realizadas várias
palestras, focadas em temas como
Ministério Jeame Conexão Israel 2011
Durante o mês de junho, um grupo
de missionários voluntários da
Junta de Missões Mundiais (JMM)
seguirá para Israel com o propósito
de prover às comunidades locais
atividades de educação, assistência
social, intercessão, artes e esportes.
A missão terá como líder o pastor
Marcos Grava, coordenador do setor
de voluntários e do programa esportivo
missionário da JMM. Os voluntários
devem sair do Brasil no dia 9 de junho,
com previsão de retorno para o dia 26
do mesmo mês. Quem quiser obter
mais detalhes, bem como se inscrever
no programa, deve enviar um e-mail
para [email protected]. O site da
JMM é www.jmm.org.br.
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P E R C I VA L D E S O U Z A
O fi o de Ariadne
“Aproxima-se do
Altíssimo quem
não prioriza
a si mesmo e
faz a opção
espiritualmente
consciente”
Esse texto é um desafi o,
porque vou abordar o
caso das crianças de uma
escola em Realengo, no Rio
de Janeiro, vitimadas por um
francoatirador implacável, brutal e
cruel. “Brasileirinhos”, referiu-se a
elas, voz embargada, a presidente
Dilma Rousseff. “Foi um ato
tresloucado de alguém que teve
a mente envenenada”, comentou
o presidente em exercício Michel
Temer – Dilma estava em viagem
ofi cial, na China – ao condecorar
o sargento Márcio Alves, da
Polícia Militar, que salvou mais
vidas ao atingir o atirador, sem
antecedentes criminais, com um
tiro de fuzil segundos antes dele
se matar.
Texto-desafi o porque é
praticamente impossível decifrar
o enigma dessa história, que
engloba um potencial psicótico
e a inocência das pequenas
vítimas, vidas precocemente
ceifadas. O escritor português
Gonçalo Tavares debruçou-se
sobre a sordidez humana no livro
A Máquina de Joseph Walser,
lançado no Brasil pela Companhia
das Letras. Nenhum de nós está
fora do barco da maldade, diz o
escritor, sugerindo que o mal é
expressão da fraqueza humana: “O
ser humano é potencialmente uma
máquina de maldade. Mas também
é uma máquina de bondade. Temos
dois motores em funcionamento, o
de fazer atos maldosos e um para
atos bondosos”.
Texto-desafi o porque pode
ser relativamente fácil, embora
clinicamente irresponsável, elaborar
um pseudodiagnóstico, de ordem
psiquiátrica ou psicológica, para
mergulhar na introspecção do
atirador, que levou para o túmulo
seus segredos existenciais. Prefi ro,
ao contrário dos achistas de plantão
– aqueles que dizem “eu acho”
mesmo para perguntas que sequer
foram formuladas – a elaboração
de Dostoievski: “A vida é a luta
constante entre Deus e o diabo,
em que o palco é o coração dos
homens”. Não é isso que vem a ser
nascer em pecado? Bem que Albert
Camus, também escritor, tentou
compreender: “O mundo não tem
sentido fi nal, mas sei que algo nele
tem sentido, e é o homem, porque é
o único ser que reclama um sentido”.
Texto-desafi o porque busca, se
não respostas, pelo menos tentativa
de explicações. Socorro, poeta Ledo
Ivo: “Eram dois os caminhos/Indo
por um deles encontrei meu irmão
com uma arma na mão/A noite era
tão negra que não se distinguia o
amigo do inimigo/Na escuridão do
mundo sim, e não eram irmãos”.
Desafi o porque tenho que
demonstrar, com amparo nas
Escrituras, que nunca se viu antes
algo como a Palavra do Senhor.
Nada igual, também. Fiz citações,
até aqui. É hora da Palavra-bálsamo.
O Senhor “sara os quebrantados de
coração, e lhes ata as suas feridas”
(Sl 147.3). Prudente recomendação
encontramos em Deuteronômio
28.14: “E não te desviarás de todas
as palavras que hoje te ordeno,
nem para a direita nem para a
esquerda...”.
O massacre de Realengo nos
coloca dentro do labirinto humano.
Aliás, a mitologia grega nos remete
para o labirinto onde o insaciável
e devorador monstro Minotauro
dominava. Teseu consulta o oráculo
de Delfos, que lhe ensina que ele
poderá matar o monstro desde que
guiado pelo amor. Ariadne, a fi lha
do rei, apaixona-se por Teseu e
lhe mostra a chave do sucesso: ir
desfi ando um rolo de linha para
assinalar passagem e não se perder.
Sim, o amor é o guia. Deus é
amor. Aproxima-se do Altíssimo
quem não prioriza a si mesmo e faz
a opção espiritualmente consciente.
Nas mãos da igreja está a missão
que o próprio Cristo confi ou: ir e
anunciar. Se os cristãos não fi zerem
isso, haverá um vácuo que não será
preenchido. Desafi o fi nal: caberá a
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