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SIMULAÇÃO DA GESTÃO DE UMA
EMPRESA INDUSTRIAL COM O
EMPRESÁRIO®3
Debora Barbosa Aires (FEB-UNESP )
Debora Scardine da Silva Pistori (FEB-UNESP )
Jose de Souza Rodrigues (FEB-UNESP )
Murilo Roberto Jesus Maganha (FEB-UNESP )
Sendo o tempo uma variável importante do processo competitivo, as
tecnologias que integram processos e reduzem seus tempos de
realização tornam-se poderosas ferramentas competitivas. Neste
sentido, os sistemas de gestão integrados (ERPs) tornam-se uma
necessidade para as organizações modernas. Este artigo apresenta os
resultados de uma simulação com o Empresário®3 realizada com
alunos dos cursos de Engenharia de Produção e Engenharia Elétrica
da FEB/UNESP, em que se procurou analisar se o conceito de
integração dos sistemas ERP independe dos usuários, ou seja, a ação
do usuário pode afetar os ganhos possíveis da integração
proporcionada pelo ERP? Para responder a esta questão foi montado
um experimento com alunos de graduação em engenharia de uma
universidade pública com o software Empresário®3, tornando o
experimento em um “objeto de aprendizagem” de conteúdos
relacionados à área de administração e gestão de operações em um
ambiente de produção make-to-order (MTO, fazer sob encomenda). Os
resultados demonstraram que o usuário pode afetar a capacidade de
integração do software indicando que para que ele atue de forma a
levar o software a cumprir o prometido necessita de um preparo que
pode ultrapassar o que o treinamento proporciona.
Palavras-chaves: ERP, Ensino-aprendizagem, Gestão de Empresas,
MTO
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1. Introdução
O contexto global exige profissionais cada vez mais preparados para atuarem em um mercado
de trabalho competitivo e que exige trabalho colaborativo. Como parte do processo formativo
e preparativo para o exercício profissional os estudantes realizam estágios, visitas técnicas,
desenvolvem projetos de extensão, iniciação científica de pesquisa entre outras atividades. Em
sala de aula, porém, é necessário proporcionar essa aproximação com o mercado de trabalho
com atividades como exercícios simulados, os quais podem levar os estudantes a desenvolver
o pensamento sistêmico na tomada de decisões dentro de uma organização.
Dentro desse contexto e com a finalidade de facilitar aos graduandos a aquisição de novas
competências, estimular o aprendizado e a integração dos conteúdos vistos durante o curso de
graduação, foi feita esta pesquisa utilizando o software de uso comercial denominado
Empresário®3 com os estudantes de dois cursos da Faculdade de Engenharia de Bauru da
Universidade Estadual Paulista (FEB – UNESP), tendo como premissas básicas o seguinte: a)
o experimento ser um “objeto de aprendizagem” de conteúdos relacionados à área de
administração e gestão de operações em um ambiente de produção make-to-order (MTO,
fazer sob encomenda) e b) ser um objeto que permita investigar o aspecto da integração de
empresas com tecnologia da informação (TI).
Considerando estas duas premissas, o objetivo dessa pesquisa, portanto, é verificar se os
agentes e suas decisões, em um ambiente corporativo tendo-se como base o nível de
informação e comunicação interpessoal deles, influenciam na eficiência de sistemas de gestão
integrados (ERP - Enterprise Resource Planning) e, consequentemente, nos resultados
obtidos. Ao ser fixado este objetivo pretende-se responder a seguinte questão: a ação do
usuário pode afetar os ganhos possíveis via integração prometida por ERPs?
A pesquisa se justifica pela contribuição que traz em dois aspectos: a) aprendizagem, à
medida que seu produto pode ser utilizado para ser um facilitador da aprendizagem e b)
ampliar o campo de investigação sobre os usuários e os sistemas de gestão integrados, desta
vez considerando a integração sob a ótica da ação dos usuários e não somente da componente
tecnológica.
Este artigo apresenta, na seção 2, o resultado do levantamento bibliográfico. A seção 3
apresenta a metodologia de pesquisa, e a seção 4, os resultados obtidos. Por fim, na seção 5
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são apresentadas as conclusões e considerações. A seção Apêndices trás as ferramentas
desenvolvidas pelos autores utilizadas na pesquisa.
2. Revisão da literatura
2.1. Sistemas ERP
Os sistemas ERP, foram introduzidos pela primeira vez no início da década de 90. Podem ser
definidos como sistemas de informação de gestão (SIG), adquiridos na forma de um pacote de
software comercial, com a finalidade de dar suporte a maioria das operações de uma empresa,
integrando todos os departamentos e funções de uma empresa (SACCOL, 2003; BASOGLU,
2007; LONGINIDIS; GOTZAMANI, 2009).
Os ERPs são divididos em módulos especializados, que se comunicam e atualizam uma
mesma base de dados, ou seja, utilizam de um único local de armazenamento para unificar as
informações e evitar duplicidade de dados, aumentando a confiabilidade das informações que
são extraídas (ver Figura 1). Desse modo, informações alimentadas em um módulo são
instantaneamente disponibilizadas para os demais módulos que delas dependem e são
integrados (DAVENPORT, 1998; LAUDON; LAUDON, 2011).
Figura 1 - Estrutura de um sistema ERP
Fonte: Davenport (1998)
Os ERPs permitem às organizações automatizar e integrar uma grande parcela de seus
processos de negócios. Permitem também uniformizá-los, compartilhar dados, produzir e
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utilizar informações em tempo real e com mais rapidez (COLANGELO, 2001; SHATAT;
UDINE, 2012), sendo possível, assim, extrair informações com um grau de qualidade maior.
Particularmente, das características dos sistemas ERP, o tempo de resposta é crucial para o
sucesso operacional (CHOU; HONG, 2013). A rapidez, confiabilidade e qualidade na
extração de dados e informações vêm de encontro com os cinco objetivos de desempenho de
Slack (1997), que, além destes, incluem flexibilidade e redução de custos. Estes cinco
objetivos devem fazer parte da estratégia empresarial de qualquer organização que deseja ser
bem-sucedida a longo prazo (SLACK, 1997).
As informações centralizadas dos sistemas ERP, têm a caraterística de dar um norte para
decisões estratégicas, táticas e operacionais, haja vista que o ERP disponibiliza informações
integradas (ZAREI, 2011), que rapidamente podem ser utilizadas para decisões gerenciais,
que para Choudhury (2009) através dessas informações desses softwares, se consegue atender
todas as funções de uma empresa, quebrando todas as barreiras impostas pelas estruturas
departamentais, dessa forma aumentando a eficiência global da organização (HWANG;
GRANT, 2011).
A adoção dos sistemas ERP, tem sido considerada como uma chave para obtenção de
vantagem competitiva no ambiente empresarial, tornando-se uma das mais importantes
ferramentas utilizadas na gestão de negócios nos últimos anos (LEE, 2010). A utilização desse
sistema ERP, possibilita respostas positivas em relação ao mercado, e conforme estudos o
ERP pode melhorar o desempenho organizacional (BRAZEL; DANG, 2008).
2.2. Empresário®3
O Empresário®3 é um software ERP comercial brasileiro que tem como público alvo
empresas de pequeno e médio porte. Foi desenvolvido em 1994 em parceria com o Sebrae-SP
(INTELECTA, 2014). Atualmente o software é distribuído pela empresa Intelecta
Distribuidora de Tecnologia Ltda. O software ERP Empresário®3 foi escolhido como suporte
tecnológico nesta pesquisa por já pertencer ao acervo de softwares da graduação da FEB-
UNESP, além de ser uma ferramenta mais compacta quando comparado aos demais softwares
de sua classe, sendo, assim, uma opção maleável para o ensino-aprendizagem de ERP.
2.3. O processo ensino-aprendizagem com o uso da tecnologia
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Dowbor (2001) ressalta em seus estudos que o conhecimento se tornou mais fluido em virtude
da velocidade de sua disseminação através de recursos tecnológicos, ou seja, uma vez
codificado para o ambiente digital pode ser instantaneamente compartilhado, tornando-o
matéria-prima de novos saberes e, num processo continuado, torna-se uma rede de
aprendizagem. Paulo Freire (2002), renomado educador brasileiro, ressalta que o “aprender” e
o “ensinar” fazem parte do processo global do conhecimento. O ato de ensinar desdobra-se
para os sujeitos que aprendem, ocorrendo, portanto, uma interação, um aprendizado para
ambos os lados.
As informações estão à disposição de todos, porém, é nesse ponto, que o papel do instrutor e
das ferramentas por ele utilizadas pode fazer toda a diferença. Uma das tarefas do educador
será a de ajudar o discente na localização das informações mais importantes e também de
auxiliá-lo a utilizá-las na explanação de ideias ou na solução de problemas. Isso fará com que
o aluno consiga “extrapolar”, projetar, ir além, baseado em tendências que o farão conjecturar
e buscar novas respostas.
Cabe aqui, ressaltar o enfoque humanístico, que, numa visão resumida, é uma nova tentativa
de compreender, explicar e orientar o processo educacional, em especial o processo de
aprendizagem. Integra ciência, tecnologia e a pessoa, na busca de uma visão mais completa e
interdisciplinar dos problemas humanos e sociais (PISTORI, 2011). Segundo Guarezi (2004),
o humanismo certamente acaba por adotar em suas bases aspectos tais como a realização do
homem à frente de qualquer processo educacional, isto é, torná-lo o eixo central do processo
de aprendizado.
Essa abordagem teve seu início marcado na década de 40 nos Estados Unidos e Carls R.
Rogers – psicólogo e autor renomado no campo da educação centrada no ser humano
(MOSQUERA, 1977) - é um dos autores mais citados. A empatia enfatizada por ele em seus
estudos (que significa sentir-se solidário com alguém, de modo que se beneficie a pessoa
através do reconhecimento de sua autenticidade pessoal e do seu desenvolvimento auto-
atualizado), tem sido analisada e muito aproveitada em termos de ensino. Ou seja, aprender
pelo próprio gosto é ainda a maneira mais rica de aprender. Na medida em que uma pessoa se
sente mais segura, mais livre, ela aprende de forma mais completa e totalizadora
(MOSQUERA, 1977).
Portanto, para se falar de educação e aprendizagem deve-se falar do desenvolvimento de
competências importantes. Segundo Ornellas, (2013 apud Boog e Boog 2013, p. 236)
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“aprendizagem é ação”. É um processo contínuo e precisa estar disponível sempre a qualquer
hora e lugar.
Boog e Boog (2013) enfatizam que a tecnologia transformou os conceitos tradicionais de
tempo, espaço, distância e velocidade, diminuindo o planeta e tornando-o mais veloz, o que
cria condições para a criação de novos formatos de aprendizagem cada vez mais criativos e
estratégicos.
Diante do exposto, embora haja diversidade quanto à forma de aprendizado dos indivíduos, os
exercícios simulados em ambientes tecnológicos são perfeitamente aplicáveis como recurso
didático em processos de ensino-aprendizagem ao passo que são métodos ativos. O
Empresário®3 associado às tarefas e desafios impostos aos estudantes durante esta pesquisa,
proporcionou aos participantes a aplicação dos conceitos teóricos, cujo foco foi o processo de
gestão empresarial com o devido gerenciamento dos recursos disponíveis.
3. Método da pesquisa
Esta pesquisa é caracterizada como experimental aplicada e exploratória (GIL, 2002). O
experimento utilizou como objeto de estudo alunos do segundo ano do curso de Engenharia
de Produção e alunos do quarto ano do curso de Engenharia Elétrica, todos da Faculdade de
Engenharia de Bauru da Universidade Estadual Paulista (FEB – UNESP). A simulação foi
realizada em duas etapas: pré-teste e experimento, conforme é mostrado na Figura 2.
Figura 2 - Diagrama de etapas da simulação
Fonte: Produzido pelo autor
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a) Pré-teste: Essa etapa ocorreu no período de três dias, e durou cerca de 2 horas diárias.
Foi feito com quatro alunos convidados do segundo ano do curso de Engenharia de
Produção com o objetivo de aperfeiçoar o experimento e eliminar erros. Estes alunos
não tinham conhecimento sobre ambientes de produção, mas já tiveram contato com o
ERP Empresário®3 em ambiente educacional;
b) Experimento: O experimento teve participação de oito alunos do 4° ano de engenharia
elétrica, os quais não tinham conhecimento sobre ambientes de produção e nunca
tiveram contato com um ERP em ambiente educacional. Este experimento foi realizado
em duas fases, uma prática e uma aplicação de questionário, cada uma em dias
diferentes, sendo que no primeiro rendeu cerca de 4 horas e no segundo, cerca de 1
hora.
A simulação foi realizada de março a abril de 2014 e suas etapas formuladas com base em
quatro áreas funcionais de uma empresa de manufatura: Vendas, Produção, Compras/Estoque,
Finanças/Contábil. Foi estruturada no Empresário®3 uma empresa que atende a demanda no
sistema make-to-order (MTO, fazer sob encomenda). Os exercícios e análises foram baseados
no fluxo de atividades em um ambiente MTO (APÊNDICE A).
Cada participante representava um agente: vendedor, administrador da produção, comprador e
administrador de estoque, administrador financeiro. Estes tinham um usuário e senha com as
permissões e funcionalidades necessárias ao agente que representava.
Cada grupo de quatro alunos utilizou uma única máquina com o ambiente Empresário®3 já
configurado, permitindo que os pesquisadores pudessem filmar e cronometras as ações de
cada agente. Assim a sequência de atividades realizadas por cada grupo pôde ser observada
pelos condutores do exercício.
Como várias operações foram realizadas em um único dia e o sistema não trabalha com datas
futuras, as atividades foram datadas com 2013. Cada venda efetuada dava início a um novo
ciclo de atividades, assim o grupo deveria realizar três ciclos de operações que se repetiam a
cada ciclo.
4. Análise e discussão dos resultados
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4.1. Pré-teste
Inicialmente apresentamos a pesquisa, seus objetivos e cronograma de trabalho, além do
esclarecimento de dúvidas.
No segundo dia, deu-se início ao desafio de simular algumas atividades práticas. Para essa
etapa da pesquisa, foi utilizado o laboratório de informática. Solicitamos aos estudantes que
descrevessem sua visão sobre a sequência de atividades em um ambiente MTO. A intenção
era identificar o que eles conheciam do tema e o que seriam capazes de ampliar após
participar da experiência.
Os participantes foram, então, convidados a cumprir atividades de acordo com as áreas
funcionais que lhes foram atribuídas aleatoriamente. Cada participante recebeu um esquema
das atividades que deveria cumprir com as informações exclusivas do agente que
representava. Foi solicitado aos estudantes que não conversassem entre si para tomada de
decisões em suas tarefas.
O terceiro dia foi uma continuidade das atividades do segundo dia. Ao final, entregamos os
fluxos, que foram descritos no primeiro dia, de volta para cada um e solicitamos que
corrigissem caso necessário. Interessante notar que todos fizeram alterações, mesmo que
pequenas em seus fluxos iniciais. Após este processo, somente um dos fluxos descritos pelos
alunos foi compatível com o fluxo de atividades MTO, sendo que o restante não considerou
que a produção deve ser programada antes da compra de matéria prima. No último momento,
colhemos a opinião dos participantes sobre a experiência. Segundo eles, o sistema
Empresário®3 não é intuitivo.
Observamos que no último dia de atividades os participantes já não tinham tantas dúvidas
como no início. De acordo com a sequência que foi tomada para realizar as atividades, cada
participante estava trabalhando de acordo com o interesse da sua própria função e não em
benefício geral da empresa.
O pré-teste revelou-se importante na medida em que trouxe a luz, aspectos importantes a
serem melhorados na etapa oficial do experimento. Algumas melhorias identificadas foram:
Mudamos parâmetros do sistema para não permitir movimentação de matéria prima e
produtos acabados sem estoque disponível;
Alteramos as permissões de algumas telas que se mostraram necessárias e bloqueios
de outras que não seriam utilizadas.
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Mudamos a linguagem do material escrito para torna-lo mais compreensível;
4.2. Experimento
Na fase prática separamos dois grupos (A e B) com quatro alunos cada. O experimento foi
feito simultaneamente com os dois grupos, um em cada sala. A segunda fase consistiu na
aplicação de um questionário para ambos os grupos.
4.2.1. Fase prática com o grupo A
Cada participante teve acesso a um documento produzido pelos pesquisadores que mostra
passo-a-passo cada operação e exemplos de como preencher as telas necessárias às atividades
de seus respectivos agentes (já que, como observamos no pré-teste, o sistema Empresário®3
não é intuitivo). Os participantes receberam esquemas das atividades que deveriam cumprir
com as informações exclusivas do agente que eles representavam.
Este grupo não teve acesso ao fluxo correto de atividades do MTO, foi dito apenas que o
ambiente de produção era manufatura por encomenda.
Orientamos os participantes a não conversar entre si para discutir e tomar decisões em grupo.
A intenção, neste caso, era comparar se a comunicação interferiria nos resultados deste grupo
e de um próximo grupo que teria a oportunidade de trocar informações durante todo o
processo.
Pedimos para que os estudantes iniciassem o processo sem que o grupo discutisse qual seria a
sequência correta das operações. Assim o experimento com o grupo A ocorreu na ordem que
é mostrada no Quadro1.
Quadro 1 - Sequência das operações do grupo A
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Fonte: Produzido pelo autor
Neste experimento os alunos do grupo A não tiveram acesso a todas as informações
necessárias para a tomada de decisão. Além disso, a decisão de cada área funcional foi tomada
individualmente por cada respectivo agente, fazendo com que cada um se preocupasse
exclusivamente com suas funções, não pensando nas consequências globais de suas ações.
Como não houve um treinamento para a utilização do software e nem uma explicação da
visão global da empresa, cada agente utilizou apenas as informações que constavam nos
documentos fornecidos, deixando margem para a livre interpretação. Também observamos
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que o tempo que cada agente levou para realizar basicamente a mesma tarefa diminuiu a cada
rodada.
4.2.2. Fase prática com o grupo B
O grupo B recebeu as mesmas informações fornecidas ao grupo A, além de serem informados
da sequência correta do fluxo de atividades do MTO. Orientamos os participantes a conversar
entre si para discutir e tomar decisões em grupo. Assim o experimento com o grupo B ocorreu
na ordem que é mostrada no Quadro 2.
Quadro 2 - Sequência das operações do grupo B
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Fonte: Produzido pelo autor
Podemos observar que neste experimento os alunos do grupo B tiveram acesso a todas as
informações necessárias para a tomada de decisão e mesmo assim cometeram alguns erros,
em sua maioria por não observarem atentamente a todas as instruções. Também observamos
que o tempo que o agente levou para realizar basicamente a mesma tarefa diminuiu a cada
rodada. Nesta fase houve mais intervenções do condutor do exercício, o que foi equivalente a
um treinamento, que ao contrário do grupo A, o grupo B poderia receber. Percebemos que
depois de cada intervenção, os erros não se repetiram. Também percebemos que o grupo B
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seguiu a sequência correta do fluxo de atividades em um ambiente de produção MTO,
consequência da prévia informação que tiveram sobre esta sequência.
4.2.3. Aplicação do questionário
O segundo dia de experimento ocorreu duas semanas depois à fase prática. Aplicamos um
questionário de pós-experiência de utilização do Empresário®3 nos participantes deste
experimento, assim pudemos avaliar se o experimento gerou conhecimento duradouro. No
Quadro 3 encontra-se o resumo compilado das respostas dos grupos A e B.
Quadro 3 - Compilado das respostas dos grupos A e B
Fonte: Produzido pelo autor
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As respostas do questionário mostram que a informação privilegiada do grupo B sobre o fluxo
de atividades no MTO não gerou conhecimento duradouro.
Os erros cometidos pelos integrantes do grupo A levaram-nos a perceberam que dentro da
empresa precisa haver sintonia, trabalho em conjunto, comunicação e discussão entre os
membros dos diversos setores para que a empresa e, consequentemente, cada setor seja
beneficiado.
Através das respostas do questionário, percebemos que ambos os grupos relataram que a
simulação os ajudou a compreender a dinâmica entre os setores de uma empresa e suas
diversas funções.
5. Considerações finais
No pré-teste pudemos observar que o sistema não era intuitivo, ao ponto do usuário necessitar
de instruções detalhadas de cada etapa do processo. Mesmo estando especificados no passo-a-
passo que foi fornecido na fase experimental, alguns participantes não se atentaram ao
preencher os principais campos. Assim percebemos que apenas as instruções fornecidas por
escrito algumas vezes não são suficientes, tornando indispensável o contato interpessoal
durante o treinamento.
Tanto no pré-teste quanto na fase experimental com o grupo A, analisando a sequência que foi
tomada para realizar as atividades e observando comentários como “agora não é sua vez, é
minha”, observamos que cada participante estava trabalhando de acordo com o interesse da
sua própria função e não em benefício geral da empresa. Como não houve um treinamento
para a utilização do software e nem uma explicação da visão global da empresa, cada agente
utilizou apenas as informações que constavam nos documentos fornecidos, deixando margem
para a livre interpretação, que em sua maioria, não foram de acordo com as expectativas dos
pesquisadores. Este mesmo comportamento não foi observado no grupo B, percebe-se, então,
que a informação privilegiada que este grupo teve sobre o correto fluxo de atividade de um
ambiente MTO foi de vital importância para um melhor desempenho.
Observamos que, no geral, nos últimos ciclos de atividades os participantes têm menos
dificuldades e demoram menos para realizar as mesmas atividades, e concluímos que este fato
é decorrente da prática de uso do software.
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Percebemos que o fluxo de atividades MTO não é obvio para alunos que nunca tiveram aulas
sobre ambientes de produção. Tanto no pré-teste quanto no experimento com o grupo A,
podemos observar que é quase unânime a falta do conhecimento do fluxo de atividades em
um ambiente MTO. Da mesma maneira, os questionários respondidos pelo grupo B mostram
que o conhecimento sobre o fluxo de atividades no MTO, adquirido na simulação em
laboratório, não foi duradouro. Este problema torna-se pontual quanto ao momento certo de
programar a produção. Parece-nos que a falta de conhecimento do funcionamento de uma
empresa faz com que o fluxo de atividades em um ambiente MTO seja abstrato. Este fato
demostra que o exercício simulado vem como um complemento das aulas tradicionais, onde a
teoria é melhor explorada e compreendida.
Através das respostas do questionário, percebemos que ambos os grupos relataram que a
simulação os ajudou a compreender a dinâmica entre os setores de uma empresa e suas
diversas funções.
O grupo de agentes e suas decisões (baseada no nível de informação e comunicação
interpessoal dos participantes) influenciam na eficiência do ERP e consequentemente nos
resultados alcançados. Concluímos, por tanto, que a ação do usuário pode afetar os ganhos
possíveis da integração proporcionada pelo ERP, tornando o conceito de integração dos
sistemas ERP dependente dos usuários e de suas ações dentro do sistema.
Para trabalhos futuros sugerimos simular este experimento com outros grupos, com
características diferentes, ou em outros ambientes ERPs para poder chegar a conclusões mais
coesas e precisas.
Agradecimentos
Agradecemos a Faculdade de Engenharia de Bauru da Universidade Estadual Paulista (FEB –
UNESP) por nos fornecerem laboratórios e softwares necessários para a realização desta
simulação. Aos alunos participantes desta simulação dos cursos Engenharia de Produção e
Engenharia Elétrica, por aceitarem ser objetos deste estudo. Em especial aos discentes
Leandro do Prado Ferres e Iris Fajoulle, os quais foram essenciais para o desenvolvimento
deste trabalho.
REFERÊNCIAS
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XXXIV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Engenharia de Produção, Infraestrutura e Desenvolvimento Sustentável: a Agenda Brasil+10
Curitiba, PR, Brasil, 07 a 10 de outubro de 2014.
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APÊNDICES
Apêndice A - Fluxo de atividades em um ambiente MTO
Demanda Empresa (MTO)
Projeto
Programação
Produção
Faz o pedido
Processa o
pedido e
encaminha
produção
DEMANDAVenda/Expedição/Finan
çasPrograma a Produção Produção
Cliente
Venda
Expedição
Financeiro/ComprasFornecedor
Fornecedores
Recebe produto
Estoque
Suprimentos
Recebe e processa
pedido
Sim
Confere
produtos e
coloca-os no
estoque
Processa
materail
conforme
programa de
produção
Finaliza o
pedido
Envia para a
expedição
Confere envia
ao cliente
Estoque
Consome os
produtos
Processam as vendas e
entregam os produtos
Controla os níveis de
estoques
Alinha recursos produtivos
com a demandaPlaneja e executa a produção
Planeja o consumo de
materiais, MO e
executa a produção
Compra os
materiais
Não
Envia material
para a produção
Faz lista de materiais e
consumo, programa a
produção
Solicita materiais ao
estoqueHá estoque?
Requisição
de compra
Envia produtos
Recebe produto
e finaliza
processo
FaturamentoAgenda e realiza
pagamentos
Fonte: Produzido pelo autor