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SIMULADO FGV Prof. Fernando Pestana Ajuste fiscal esbarra na injusta carga tributária brasileira Recessão afetou consumo, fonte de mais da metade da arrecadação nacional. Países desenvolvidos preferem taxar renda e patrimônio. O ajuste fiscal do governo produziu um resultado oposto ao pretendido, como se vê no Orçamento proposto para 2016, com um rombo de 30 bilhões de reais e estimativas de que a dívida pública só cairá no último ano da gestão Dilma Rousseff. Não era difícil imaginar o tiro no pé. Ao contrário dos países desenvolvidos, a carga tributária brasileira, principal fonte de dinheiro do poder público, concentra-se no consumo. E este recuou junto com o PIB, graças à recessão causada pelo ajuste. Em 2013, último dado disponível na Receita Federal, 51,3% da arrecadação no País nasceu da taxação sobre o comércio de bens e serviços. Entram na conta impostos federais (Cofins, PIS e IPI), o ICMS estadual e o ISS municipal. Nos países ricos, o peso da tributação do consumo é bem menor. Na média dos filiados à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é de 34%, segundo dados de 2010. Na OCDE, prefere-se taxar mais a renda e o patrimônio (38% da carga total) do que no Brasil (22%). O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS, que em 2013 respondeu por 7,5 pontos percentuais da carga tributária de 35,9%. No primeiro semestre, porém, o varejo teve o pior resultado em 12 anos. Não podia ser diferente. Graças ao ajuste fiscal, houve 500 mil demissões de janeiro a julho, algo inédito desde 2002. A taxa oficial de desemprego subiu de 4,3% para 7,5%, enquanto a renda média estacionou em 2,1 mil reais mensais. Não surpreende que a Cofins, quarto maior tributo do País, tenha, de janeiro a julho, gerado 3% a menos do que na comparação com os mesmos sete meses de 2014. Uma perda de 5 bilhões de reais. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sabe da importância do consumo para as finanças públicas. No segundo semestre de 2014, antes de ser chamado para o cargo, Levy publicou um artigo sobre “Robustez Fiscal”. Escreveu ele: “A maior incidência dos tributos no Brasil se dá sobre a cesta de consumo, onerada tanto pelos impostos federais quanto estaduais e municipais (ICMS, IPI, ISS e PISCOFINS). Essa incidência é muito maior do que na maioria dos países, inclusive desenvolvidos, e tem efeitos negativos sobre a distribuição de renda.” Os “efeitos negativos sobre a distribuição de renda” podem ser traduzidos em linguagem didática. “No ato do consumo, o rico, o pobre e a classe média pagam o mesmo imposto. Se o imposto é elevado, pior ainda, porque o pobre pagará uma carga desproporcional à sua renda. Portanto, melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo”, diz o economista João Sicsú, ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os alimentos são um exemplo ilustrativo dos efeitos perversos da tributação sobre o consumo. A alimentação tem um peso aproximado de 20% no orçamento das famílias

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SIMULADO FGV Prof. Fernando Pestana

Ajuste fiscal esbarra na injusta carga tributária brasileira

Recessão afetou consumo, fonte de mais da metade da arrecadação nacional. Países desenvolvidos preferem taxar renda e patrimônio.

O ajuste fiscal do governo produziu um resultado oposto ao pretendido, como se vê no Orçamento proposto para 2016, com um rombo de 30 bilhões de reais e estimativas de que a dívida pública só cairá no último ano da gestão Dilma Rousseff. Não era difícil imaginar o tiro no pé. Ao contrário dos países desenvolvidos, a carga tributária brasileira, principal fonte de dinheiro do poder público, concentra-se no consumo. E este recuou junto com o PIB, graças à recessão causada pelo ajuste. Em 2013, último dado disponível na Receita Federal, 51,3% da arrecadação no País nasceu da taxação sobre o comércio de bens e serviços. Entram na conta impostos federais (Cofins, PIS e IPI), o ICMS estadual e o ISS municipal. Nos países ricos, o peso da tributação do consumo é bem menor. Na média dos filiados à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é de 34%, segundo dados de 2010. Na OCDE, prefere-se taxar mais a renda e o patrimônio (38% da carga total) do que no Brasil (22%). O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS, que em 2013 respondeu por 7,5 pontos percentuais da carga tributária de 35,9%. No primeiro semestre, porém, o varejo teve o pior resultado em 12 anos. Não podia ser diferente. Graças ao ajuste fiscal, houve 500 mil demissões de janeiro a julho, algo inédito desde 2002. A taxa oficial de desemprego subiu de 4,3% para 7,5%, enquanto a renda média estacionou em 2,1 mil reais mensais. Não surpreende que a Cofins, quarto maior tributo do País, tenha, de janeiro a julho, gerado 3% a menos do que na comparação com os mesmos sete meses de 2014. Uma perda de 5 bilhões de reais. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sabe da importância do consumo para as finanças públicas. No segundo semestre de 2014, antes de ser chamado para o cargo, Levy publicou um artigo sobre “Robustez Fiscal”. Escreveu ele: “A maior incidência dos tributos no Brasil se dá sobre a cesta de consumo, onerada tanto pelos impostos federais quanto estaduais e municipais (ICMS, IPI, ISS e PISCOFINS). Essa incidência é muito maior do que na maioria dos países, inclusive desenvolvidos, e tem efeitos negativos sobre a distribuição de renda.” Os “efeitos negativos sobre a distribuição de renda” podem ser traduzidos em linguagem didática. “No ato do consumo, o rico, o pobre e a classe média pagam o mesmo imposto. Se o imposto é elevado, pior ainda, porque o pobre pagará uma carga desproporcional à sua renda. Portanto, melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo”, diz o economista João Sicsú, ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os alimentos são um exemplo ilustrativo dos efeitos perversos da tributação sobre o consumo. A alimentação tem um peso aproximado de 20% no orçamento das famílias

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brasileiras. Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a taxação média nos alimentos é de 17%. Nos principais países da União Europeia, diz Sicsú, é de 5%. Na Inglaterra, é zero. Em 34 dos 50 estados norte-americanos, idem. Para Sicsú, a crise fiscal brasileira oferece uma oportunidade para se discutir a reforma do sistema tributário, de modo a reequilibrar o ônus entre os segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo em que desoneraria o consumo, afirma, o Estado deveria carregar mais na taxação da renda e do patrimônio, especialmente sobre os mais ricos. Opções para a nova equação não faltam. Os lucros e dividendos recebidos por sócios e donos de empresas são isentos de imposto de renda, jabuticaba existente só no Brasil e na Estônia, segundo o economista Rodrigo Orair, pesquisador do Ipea. Nas contas dele, acabar com a mordomia poderia render uns 50 bilhões de reais por ano. O imposto de renda cobrado das pessoas físicas tem alíquota máxima de 27,5% no Brasil. É a menor alíquota máxima entre todos os 116 países que tiveram seus sistemas tributários pesquisados por uma consultoria, a KPMG. Nos Estados Unidos, o teto é de 39,6%. Japão e Chile cobram 40%. Inglaterra, Austrália e França, 45%. O IPTU dos fazendeiros, o ITR, rende 800 milhões de reais por ano e deveria gerar bem mais, segundo o economista José Roberto Afonso, incrédulo com uma arrecadação “insignificante em um país de tais dimensões”. Os impostos sobre herança e doações também oferecem “um enorme espaço fiscal”, na opinião dele. A taxação das heranças morde no máximo 8% e representa irrisórios 0,09% da carga tributária total, 4 bilhões de reais em 2013. Na Inglaterra, diz Sicsú, a mordida chega a 40%. No Chile, a 35%. No Japão, a 55%. Na França, a 60%. Proposto pelo governo ao Congresso com previsão de déficit, a lei orçamentária de 2016 deverá sofrer ajustes durante sua votação pelos parlamentares até dezembro. Há boas chances de vingar uma solução via aumento de impostos. “A perda do grau de investimento”, diz o relator-geral do orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), “é mais cara do que algum aumento de carga tributária. O setor produtivo sabe disso e vai apoiar.” Será que o capital também toparia uma reformulação mais profunda da tributação nacional? (Carta Capital, por André Barrocal) 1 O único segmento do texto que não se enquadra no seu próprio tema central é (A) “... acabar com a mordomia poderia render uns 50 bilhões de reais por ano.” (B) “Nos países ricos, o peso da tributação do consumo é bem menor.” (C) “O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS...” (D) “... melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo”

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(E) “A alimentação tem um peso aproximado de 20% no orçamento das famílias brasileiras.” 2 O texto se vale de diversas estratégias argumentativas, que têm por objetivo sustentar a ideia central do texto sobre o fato de a recessão ter afetado o consumo. A alternativa que não apresenta uma forma de estratégia é (A) Fato-exemplo (B) Dados estatísticos (C) Argumento de autoridade (D) Comparação (E) Contra-argumentação 3 “A taxação das heranças morde no máximo 8% e representa irrisórios 0,09% da carga tributária total, 4 bilhões de reais em 2013.” O segmento acima tem dois elementos sublinhados, que podem ser substituídos sem prejuízo do sentido, por duas palavras de sentido não figurado. (A) come / insignificantes (B) devora / desimportantes (C) retira / diminutos (D) consome / significativos (E) suprime / relevantes 4 “E este recuou junto com o PIB, graças à recessão causada pelo ajuste.” A expressão destacada têm papel coesivo semelhante a determinada expressão abaixo. Aponte-a. (A) a despeito de (B) em face de (C) em prol de (D) à guisa de (E) com o escopo de 5 Para Sicsú, a crise fiscal brasileira oferece uma oportunidade para se discutir a reforma do sistema tributário, de modo a reequilibrar o ônus entre os segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo em que desoneraria o consumo, afirma, o Estado deveria carregar mais na taxação da renda e do patrimônio, especialmente sobre os mais ricos. Opções para a nova equação não faltam. A afirmação correta sobre o trecho acima está em

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(A) O segmento “a reforma do sistema tributário” tem o papel sintático de complementar o sentido do verbo “discutir”. (B) Os termos preposicionados “da renda” e “do patrimônio” exercem função de adjunto adnominal do substantivo “taxação”. (C) O vocábulo “ricos” tem o mesmo valor morfológico que “tributário”. (D) O conectivo “de modo a” introduz uma noção consecutiva. (E) Se o segmento “opções para a nova equação” fosse deslocado para depois do verbo “faltar”, não haveria incorreção gramatical no uso do singular: “Falta opções para a nova equação”. 6 “Ao contrário dos países desenvolvidos, a carga tributária brasileira, principal fonte de dinheiro do poder público, concentra-se no consumo.” A reescrita do segmento acima que mantém o sentido original e a correção gramatical é (A) Diferentemente dos países desenvolvidos, a carga tributária do Brasil — principal fonte de dinheiro do governo, concentra-se no consumo. (B) Não obstante os países desenvolvidos, a carga tributária do Brasil, cuja fonte principal é o dinheiro do poder público, encontra-se no consumo. (C) Contrariamente aos países desenvolvidos, os impostos brasileiros, dos quais saem o dinheiro do governo, estão diretamente ligados ao consumo. (D) Embora seja diferente nos países desenvolvidos, concentra-se no consumo a carga tributária brasileira (principal fonte de dinheiro do poder público). (E) Malgrado ser feita de uma maneira diferente nos países desenvolvidos a arrecadação de impostos, no Brasil a principal fonte de dinheiro do poder público é a carga tributária, que concentra-se no consumo. 7 Levando-se em conta a progressão textual, pode-se afirmar que (A) o setor produtivo é a favor do aumento de impostos. (B) a maior variação de carga tributária se deve ao crescimento dos tributos estaduais. (C) brasileiros com renda menor pagam 53% dos impostos no país. (D) o governo assegurou o cumprimento da meta de superávit primário. (E) as contas públicas brasileiras completam três anos de fracasso. 8 “O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS, que em 2013 respondeu por 7,5 pontos percentuais da carga tributária de 35,9%. No primeiro semestre, porém, o varejo teve o pior resultado em 12 anos.” Os elementos coesivos destacados têm valores referencial e sequencial, respectivamente, pois (A) o primeiro refere-se a “consumo” e o segundo estabelece uma relação de acréscimo entre o período anterior e o período em que se encontra. (B) o primeiro refere-se a “ICMS” e o segundo estabelece uma relação de oposição entre o período anterior e o período em que se encontra.

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(C) o primeiro refere-se a “base” e o segundo estabelece uma relação de ressalva entre o período anterior e o período em que se encontra. (D) o primeiro refere-se a “País” e o segundo estabelece uma relação de restrição entre o período anterior e o período em que se encontra. (E) o primeiro refere-se a “maior imposto” e o segundo estabelece uma relação de concessão entre o período anterior e o período em que se encontra. 9 Em “Recessão afetou consumo, fonte de mais da metade da arrecadação nacional. Países desenvolvidos preferem taxar renda e patrimônio.”, subentende-se que (A) no Brasil, há uma preferência a taxar renda e patrimônio sobre taxar consumo. (B) entre os países desenvolvidos, prefere-se taxar consumo a taxar renda e patrimônio. (C) no Brasil, não se prefere taxar consumo, e sim taxar patrimônio e renda. (D) entre os países desenvolvidos, não há taxação de consumo, só de renda e patrimônio. (E) entre os países desenvolvidos, há uma preferência a taxar renda e patrimônio sobre taxar consumo. 10 Nos pares abaixo, o adjetivo que pode ser classificado entre os adjetivos de relação é: (A) dívida pública (B) países desenvolvidos (C) sistema tributário (D) lei orçamentária (E) exemplo ilustrativo 11 As aspas duplas são usadas no texto em abundância. No entanto, em um dos segmentos abaixo, ela tem função diferente das demais. Aponte essa opção. (A) No segundo semestre de 2014, antes de ser chamado para o cargo, Levy publicou um artigo sobre “Robustez Fiscal”. (B) Escreveu ele: “A maior incidência dos tributos no Brasil se dá sobre a cesta de consumo, onerada tanto pelos impostos federais quanto estaduais e municipais (ICMS, IPI, ISS e PISCOFINS). Essa incidência é muito maior do que na maioria dos países, inclusive desenvolvidos, e tem efeitos negativos sobre a distribuição de renda.” (C) Os “efeitos negativos sobre a distribuição de renda” podem ser traduzidos em linguagem didática. (D) “No ato do consumo, o rico, o pobre e a classe média pagam o mesmo imposto. Se o imposto é elevado, pior ainda, porque o pobre pagará uma carga desproporcional à sua renda. Portanto, melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo”, diz o economista João Sicsú, ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). (E) “A perda do grau de investimento”, diz o relator-geral do orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), “é mais cara do que algum aumento de carga tributária. O setor produtivo sabe disso e vai apoiar.”

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12 O segmento introduzido por preposição tem valor semântico diferente dos demais em (A) ajuste fiscal do governo (B) dinheiro do poder público (C) maior imposto do País (D) taxa oficial de desemprego (E) perda de 5 bilhões ----------------------------------------------------------------------------------------------------------

GABARITO COMENTADO

Ajuste fiscal esbarra na injusta carga tributária brasileira

Recessão afetou consumo, fonte de mais da metade da arrecadação nacional. Países desenvolvidos preferem taxar renda e patrimônio.

O ajuste fiscal do governo produziu um resultado oposto ao pretendido, como se vê no Orçamento proposto para 2016, com um rombo de 30 bilhões de reais e estimativas de que a dívida pública só cairá no último ano da gestão Dilma Rousseff. Não era difícil imaginar o tiro no pé. Ao contrário dos países desenvolvidos, a carga tributária brasileira, principal fonte de dinheiro do poder público, concentra-se no consumo. E este recuou junto com o PIB, graças à recessão causada pelo ajuste. Em 2013, último dado disponível na Receita Federal, 51,3% da arrecadação no País nasceu da taxação sobre o comércio de bens e serviços. Entram na conta impostos federais (Cofins, PIS e IPI), o ICMS estadual e o ISS municipal. Nos países ricos, o peso da tributação do consumo é bem menor. Na média dos filiados à Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), é de 34%, segundo dados de 2010. Na OCDE, prefere-se taxar mais a renda e o patrimônio (38% da carga total) do que no Brasil (22%). O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS, que em 2013 respondeu por 7,5 pontos percentuais da carga tributária de 35,9%. No primeiro semestre, porém, o varejo teve o pior resultado em 12 anos. Não podia ser diferente. Graças ao ajuste fiscal, houve 500 mil demissões de janeiro a julho, algo inédito desde 2002. A taxa oficial de desemprego subiu de 4,3% para 7,5%, enquanto a renda média estacionou em 2,1 mil reais mensais. Não surpreende que a Cofins, quarto maior tributo do País, tenha, de janeiro a julho, gerado 3% a menos do que na comparação com os mesmos sete meses de 2014. Uma perda de 5 bilhões de reais. O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, sabe da importância do consumo para as finanças públicas. No segundo semestre de 2014, antes de ser chamado para o cargo, Levy publicou um artigo sobre “Robustez Fiscal”. Escreveu ele: “A maior incidência dos tributos no Brasil se dá sobre a cesta de consumo, onerada tanto pelos impostos federais quanto estaduais e municipais (ICMS, IPI, ISS e PISCOFINS). Essa incidência é muito maior do que na maioria dos países, inclusive desenvolvidos, e tem efeitos negativos sobre a distribuição de renda.”

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Os “efeitos negativos sobre a distribuição de renda” podem ser traduzidos em linguagem didática. “No ato do consumo, o rico, o pobre e a classe média pagam o mesmo imposto. Se o imposto é elevado, pior ainda, porque o pobre pagará uma carga desproporcional à sua renda. Portanto, melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo”, diz o economista João Sicsú, ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Os alimentos são um exemplo ilustrativo dos efeitos perversos da tributação sobre o consumo. A alimentação tem um peso aproximado de 20% no orçamento das famílias brasileiras. Segundo levantamento da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), a taxação média nos alimentos é de 17%. Nos principais países da União Europeia, diz Sicsú, é de 5%. Na Inglaterra, é zero. Em 34 dos 50 estados norte-americanos, idem. Para Sicsú, a crise fiscal brasileira oferece uma oportunidade para se discutir a reforma do sistema tributário, de modo a reequilibrar o ônus entre os segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo em que desoneraria o consumo, afirma, o Estado deveria carregar mais na taxação da renda e do patrimônio, especialmente sobre os mais ricos. Opções para a nova equação não faltam. Os lucros e dividendos recebidos por sócios e donos de empresas são isentos de imposto de renda, jabuticaba existente só no Brasil e na Estônia, segundo o economista Rodrigo Orair, pesquisador do Ipea. Nas contas dele, acabar com a mordomia poderia render uns 50 bilhões de reais por ano. O imposto de renda cobrado das pessoas físicas tem alíquota máxima de 27,5% no Brasil. É a menor alíquota máxima entre todos os 116 países que tiveram seus sistemas tributários pesquisados por uma consultoria, a KPMG. Nos Estados Unidos, o teto é de 39,6%. Japão e Chile cobram 40%. Inglaterra, Austrália e França, 45%. O IPTU dos fazendeiros, o ITR, rende 800 milhões de reais por ano e deveria gerar bem mais, segundo o economista José Roberto Afonso, incrédulo com uma arrecadação “insignificante em um país de tais dimensões”. Os impostos sobre herança e doações também oferecem “um enorme espaço fiscal”, na opinião dele. A taxação das heranças morde no máximo 8% e representa irrisórios 0,09% da carga tributária total, 4 bilhões de reais em 2013. Na Inglaterra, diz Sicsú, a mordida chega a 40%. No Chile, a 35%. No Japão, a 55%. Na França, a 60%. Proposto pelo governo ao Congresso com previsão de déficit, a lei orçamentária de 2016 deverá sofrer ajustes durante sua votação pelos parlamentares até dezembro. Há boas chances de vingar uma solução via aumento de impostos. “A perda do grau de investimento”, diz o relator-geral do orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), “é mais cara do que algum aumento de carga tributária. O setor produtivo sabe disso e vai apoiar.” Será que o capital também toparia uma reformulação mais profunda da tributação nacional?

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(Carta Capital, por André Barrocal) 1 O único segmento do texto que não se enquadra no seu próprio tema central é (A) “... acabar com a mordomia poderia render uns 50 bilhões de reais por ano.” (B) “Nos países ricos, o peso da tributação do consumo é bem menor.” (C) “O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS...” (D) “... melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo” (E) “A alimentação tem um peso aproximado de 20% no orçamento das famílias brasileiras.” Comentário: O tema central do texto gira em torno de dois conceitos: consumo e imposto. Todas as opções se referem direta ou indiretamente a essas duas ideias, exceto a letra A. Gabarito: A. 2 O texto se vale de diversas estratégias argumentativas, que têm por objetivo sustentar a ideia central do texto sobre o fato de a recessão ter afetado o consumo. A alternativa que não apresenta uma forma de estratégia é (A) Fato-exemplo (B) Dados estatísticos (C) Argumento de autoridade (D) Comparação (E) Contra-argumentação Comentário: Ocorre “fato-exemplo” quando se explicita uma constatação a fim de exemplificar determinado ponto. Isso ocorre em alguns momentos do texto, como no 1º parágrafo. Os “dados estatísticos” são usados como forte recurso retórico, devido ao peso dos números sobre uma tese. Isso ocorre em alguns momentos do texto; basta ver o elemento “%”. O “argumento de autoridade” ou “testemunho de autoridade” ocorre quando se cita alguém importante/relevante ou aquilo que este alguém disse dentro do assunto tratado. Isso ocorre no texto quando se apresenta o nome e o cargo de alguém. A “comparação” se estabelece no texto quando se comparam países e seus modos de tributação. A “contra-argumentação” é uma estratégia retórica que apresenta uma ideia diferente da tese usada pelo autor do texto para em seguida refutá-la, a fim de enfraquecer tese alheia. Isso não ocorre no texto. Gabarito: E. 3 “A taxação das heranças morde no máximo 8% e representa irrisórios 0,09% da carga tributária total, 4 bilhões de reais em 2013.” O segmento acima tem dois elementos sublinhados, que podem ser substituídos sem prejuízo do sentido, por duas palavras de sentido não figurado.

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(A) come / insignificantes (B) devora / desimportantes (C) retira / diminutos (D) consome / significativos (E) suprime / relevantes Comentário: Os verbos “comer” e “devorar” têm sentido figurado, por isso as opções A e B estão excluídas. Os adjetivos “significativos” e “relevantes” têm sentido diverso de “irrisórios”. Logo, as opções D e E estão excluídas. Sendo assim, por exclusão, a melhor resposta é a letra C. Gabarito: C. 4 “E este recuou junto com o PIB, graças à recessão causada pelo ajuste.” A expressão destacada têm papel coesivo semelhante a determinada expressão abaixo. Aponte-a. (A) a despeito de (B) em face de (C) em prol de (D) à guisa de (E) com o escopo de Comentário: A primeira expressão indica concessão; a segunda indica causa, por isso pode substituir “graças a”; a terceira indica favor/benefício; a quarta indica modo; a última indica finalidade. Gabarito: B. 5 Para Sicsú, a crise fiscal brasileira oferece uma oportunidade para se discutir a reforma do sistema tributário, de modo a reequilibrar o ônus entre os segmentos da sociedade. Ao mesmo tempo em que desoneraria o consumo, afirma, o Estado deveria carregar mais na taxação da renda e do patrimônio, especialmente sobre os mais ricos. Opções para a nova equação não faltam. A afirmação correta sobre o trecho acima está em (A) O segmento “a reforma do sistema tributário” tem o papel sintático de complementar o sentido do verbo “discutir”. (B) Os termos preposicionados “da renda” e “do patrimônio” exercem função de adjunto adnominal do substantivo “taxação”. (C) O vocábulo “ricos” tem o mesmo valor morfológico que “tributário”. (D) O conectivo “de modo a” introduz uma noção consecutiva. (E) Se o segmento “opções para a nova equação” fosse deslocado para depois do verbo “faltar”, não haveria incorreção gramatical no uso do singular: “Falta opções para a nova equação”.

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Comentário: Em A, a afirmação está incorreta, pois o termo entre aspas exerce função sintática de sujeito paciente do verbo na voz passiva sintética (“se discutir”). Em B, os termos entre aspas exercem função de complemento nominal do substantivo abstrato “taxação”, pois têm sentido passivo. Em C, “ricos” se classifica como substantivo, pois vem substantivado pelo artigo definido “os” e “tributário” é adjetivo, pois caracteriza o substantivo “sistema”. Em D, “de modo a” introduz uma oração com valor semântico consecutivo, ou seja, indica uma consequência. Em E, a afirmação está incorreta, pois “opções para a nova equação” é o sujeito, cujo núcleo está no plural, logo o verbo só pode ficar no plural, independentemente da posição do sujeito. Gabarito: D. 6 “Ao contrário dos países desenvolvidos, a carga tributária brasileira, principal fonte de dinheiro do poder público, concentra-se no consumo.” A reescrita do segmento acima que mantém o sentido original e a correção gramatical é (A) Diferentemente dos países desenvolvidos, a carga tributária do Brasil — principal fonte de dinheiro do governo, concentra-se no consumo. (B) Não obstante os países desenvolvidos, a carga tributária do Brasil, cuja fonte principal é o dinheiro do poder público, encontra-se no consumo. (C) Contrariamente aos países desenvolvidos, os impostos brasileiros, dos quais saem o dinheiro do governo, estão diretamente ligados ao consumo. (D) Embora seja diferente nos países desenvolvidos, concentra-se no consumo a carga tributária brasileira (principal fonte de dinheiro do poder público). (E) Malgrado ser feita de uma maneira diferente nos países desenvolvidos a arrecadação de impostos, no Brasil a principal fonte de dinheiro do poder público é a carga tributária, que concentra-se no consumo. Comentário: Em A, há um erro de pontuação, pois deveria um segundo travessão no lugar da segunda vírgula. Em B, a expressão “não obstante” indica concessão e não contrariedade; além disso, há uma mudança de sentido ao indicar que a fonte principal da carga tributária do Brasil é o dinheiro do poder público, quando na verdade a fonte principal de dinheiro do poder público é a carga tributária. Em C, o verbo “sair” deveria estar no singular para concordar com o sujeito “o dinheiro do governo”. Em D, o sentido é o mesmo e a correção gramatical está perfeita. Em E, há um desvio de colocação pronominal, pois o pronome relativo “que” é uma palavra atrativa, logo a próclise é obrigatória na última oração. Gabarito: D. 7 Levando-se em conta a progressão textual, pode-se afirmar que (A) o setor produtivo é a favor do aumento de impostos. (B) a maior variação de carga tributária se deve ao crescimento dos tributos estaduais. (C) brasileiros com renda menor pagam 53% dos impostos no país. (D) o governo assegurou o cumprimento da meta de superávit primário.

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(E) as contas públicas brasileiras completam três anos de fracasso. Comentário: A afirmação da letra A encontra respaldo no penúltimo parágrafo. As demais opções não encontram respaldo em parte alguma do texto. Gabarito: A. 8 “O consumo é a base do maior imposto do País, o ICMS, que em 2013 respondeu por 7,5 pontos percentuais da carga tributária de 35,9%. No primeiro semestre, porém, o varejo teve o pior resultado em 12 anos.” Os elementos coesivos destacados têm valores referencial e sequencial, respectivamente, pois (A) o primeiro refere-se a “consumo” e o segundo estabelece uma relação de acréscimo entre o período anterior e o período em que se encontra. (B) o primeiro refere-se a “ICMS” e o segundo estabelece uma relação de oposição entre o período anterior e o período em que se encontra. (C) o primeiro refere-se a “base” e o segundo estabelece uma relação de ressalva entre o período anterior e o período em que se encontra. (D) o primeiro refere-se a “País” e o segundo estabelece uma relação de restrição entre o período anterior e o período em que se encontra. (E) o primeiro refere-se a “maior imposto” e o segundo estabelece uma relação de concessão entre o período anterior e o período em que se encontra. Comentário: O vocábulo “que” é um pronome relativo, que se refere ao termo anterior (“ICMS”). O vocábulo “porém” é uma conjunção coordenativa adversativa, que estabelece uma relação de oposição entre dois períodos. Gabarito: B. 9 Em “Recessão afetou consumo, fonte de mais da metade da arrecadação nacional. Países desenvolvidos preferem taxar renda e patrimônio.”, subentende-se que (A) no Brasil, há uma preferência a taxar renda e patrimônio sobre taxar consumo. (B) entre os países desenvolvidos, prefere-se taxar consumo a taxar renda e patrimônio. (C) no Brasil, não se prefere taxar consumo, e sim taxar patrimônio e renda. (D) entre os países desenvolvidos, não há taxação de consumo, só de renda e patrimônio. (E) entre os países desenvolvidos, há uma preferência a taxar renda e patrimônio sobre taxar consumo. Comentário: Do segmento destacado só se pode subentender que no Brasil há uma preferência por taxação de consumo e, nos países desenvolvidos, há uma preferência por taxação de renda e patrimônio. Gabarito: E.

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10 Nos pares abaixo, o adjetivo que não pode ser classificado entre os adjetivos de relação é: (A) dívida pública (B) países desenvolvidos (C) sistema tributário (D) lei orçamentária (E) exemplo ilustrativo Comentário: Um adjetivo de relação ou relacional é aquele que sofre derivação sufixal a partir de um substantivo e não pode variar em grau. O único adjetivo que não deriva de substantivo e pode sofrer variação em grau é “desenvolvidos” (“desenvolvidíssimos”). Gabarito: B. 11 As aspas duplas são usadas no texto em abundância. No entanto, em um dos segmentos abaixo, ela tem função diferente das demais. Aponte essa opção. (A) No segundo semestre de 2014, antes de ser chamado para o cargo, Levy publicou um artigo sobre “Robustez Fiscal”. (B) Escreveu ele: “A maior incidência dos tributos no Brasil se dá sobre a cesta de consumo, onerada tanto pelos impostos federais quanto estaduais e municipais (ICMS, IPI, ISS e PISCOFINS). Essa incidência é muito maior do que na maioria dos países, inclusive desenvolvidos, e tem efeitos negativos sobre a distribuição de renda.” (C) Os “efeitos negativos sobre a distribuição de renda” podem ser traduzidos em linguagem didática. (D) “No ato do consumo, o rico, o pobre e a classe média pagam o mesmo imposto. Se o imposto é elevado, pior ainda, porque o pobre pagará uma carga desproporcional à sua renda. Portanto, melhor é que o imposto sobre o consumo seja baixo”, diz o economista João Sicsú, ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). (E) “A perda do grau de investimento”, diz o relator-geral do orçamento, deputado Ricardo Barros (PP-PR), “é mais cara do que algum aumento de carga tributária. O setor produtivo sabe disso e vai apoiar.” Comentário: Em todas as opções, as aspas servem para marcar a fala de alguém, exceto na letra A, em que as aspas servem apenas para destacar um tema. Gabarito: A. 12 O segmento introduzido por preposição tem valor semântico diferente dos demais em (A) ajuste fiscal do governo (B) dinheiro do poder público (C) maior imposto do País (D) taxa oficial de desemprego (E) perda de 5 bilhões

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Comentário: Todos os termos preposicionados têm valor semântico de posse, o que os torna adjuntos adnominais. Na letra E, há um valor semântico de passividade, pois “perda de 5 bilhões” equivale a dizer que “5 bilhões foram perdidos”, o que torna “de 5 bilhões” um complemento nominal. Gabarito: E.

ELABORADOR DO SIMULADO

FERNANDO PESTANA - Formado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ. - Professor atuante, há 14 anos, em todos os segmentos voltados para concursos. - Autor dos livros “A Gramática para Concursos Públicos” e “As Dúvidas de Português mais Comuns em Concursos” e do aplicativo para celular “Regência Verbal para Concursos”. - Atualmente, além de ministrar aulas de gramática da língua portuguesa nos cursos EuVouPassar e Estratégia Concursos, viaja pelo Brasil dando aulas presenciais. Conheça mais: I- Livro "A Gramática para Concursos Públicos" (com desconto): http://goo.gl/DLxsFY II- Livro "As Dúvidas de Português mais Comuns em Concursos" (com desconto): http://goo.gl/gdmpRj III- Aplicativo de regência verbal (só na Play Store): http://goo.gl/GRuqOx IV- Canal no Youtube: http://goo.gl/3y5NpR V- Grupo de estudos no Facebook: http://goo.gl/G6xY8x VI- Página no Facebook: http://goo.gl/zwDD9g VII- Cursos de português em PDF (Estratégia Concursos): http://goo.gl/4yGN8m VIII- Cursos de português em videoaulas (EuVouPassar): http://goo.gl/1NWezy