simulaÇÃo da dinÂmica populacional de leveduras

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MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS NAS DORNAS DE FERMENTAÇÃO DO PROCESSO DE PRODUÇÃO DE BIOETANOL

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Page 1: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

MODELAGEM E SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL

DE LEVEDURAS NAS DORNAS DE FERMENTAÇÃO DO

PROCESSO DE PRODUÇÃO DE BIOETANOL

M. I. BERTO2, M. A. C. SOUZA

1 , C. M. A. GALVÃO

1 e D. I. P. ATALA

1

1CTC – Centro de Tecnologia Canavieira

e-mail: [email protected] 2 GEPC – Instituto de Tecnologia de Alimentos

e-mail: [email protected]

RESUMO – No processo industrial de produção de bioetanol, a levedura utilizada para o

start-up da fermentação não é, necessariamente, a variedade que permanecerá no sistema

até o final da safra. Na maioria dos casos, a variedade de levedura que inicializa o

processo é substituída logo no primeiro mês por outras variedades de leveduras, que

adentram através da alimentação do mosto nas dornas, denominadas contaminantes ou

selvagens. Estas leveduras contaminantes do processo, geralmente apresentam

desempenho industrial inferior às leveduras selecionadas e trazem como conseqüência,

perdas de eficiência e desempenho industrial. Deste modo, conhecer a dinâmica

populacional das leveduras selecionadas e contaminantes ao processo fermentativo

fomentaria futuras estratégias de controle da contaminação. Para isso, foi realizada a

modelagem de um processo industrial de produção de bioetanol, operando em batelada

alimentada, com alimentação do mosto contendo leveduras contaminantes, floculantes ou

não, considerando o reciclo de células, perdas do fermento na etapa de centrifugação e na

purga (sangria) para controle do volume celular. A simulação das diversas condições

operacionais foi realizada através de um programa codificado em LabView 8.5 sendo o

conjunto de equações diferenciais integradas em algoritmo de Runge-Kutta de 4° ordem.

Como resultado, foi possível determinar o tempo de permanência da levedura industrial

selecionada em função do grau de contaminação e da variação da concentração de

substrato no mosto.

PALAVRAS-CHAVE: fermentação alcoólica; dinâmica populacional; leveduras; modelagem;

simulação.

Page 2: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

1. INTRODUÇÃO.

Os processos industriais de produção de bioetanol operam, em sua maioria, com o processo

denominado Melle Boinot, ou seja, processo batelada alimentada com reciclo de biomassa. Este

processo caracteriza-se por recuperar o fermento, com a utilização de centrífugas, e posterior

tratamento do mesmo, com a adição de ácido sulfúrico. Este tratamento tem a função de

controlar a contaminação bacteriana, promover a desfloculação das leveduras e aumentar a

viabilidade celular, entre outros.

O mosto usado para a fermentação é composto por uma mistura entre caldo, água e

melaço, sendo este último usado nas unidades que produzem açúcar e álcool. Sua concentração

em açúcar é uma função da qualidade da matéria prima (cana-de-açúcar), das condições

climáticas e operacionais (paradas programadas e não programadas) sendo estes os motivos que

conferem uma grande variabilidade de sua concentração ao longo dos 210 dias de safra no ano.

Da colheita, a cana carrega consigo uma imensa flora microbiana natural, entre elas

leveduras e bactérias, que entram na usina através das moendas. Estas leveduras e bactérias

resistem à maioria das etapas de processamento podendo chegar às dornas em elevada

proporção, dependendo das etapas de tratamento do caldo instalado nas unidades produtoras.

Estas leveduras contaminantes que chegam às dornas de fermentação através do mosto, são

denominadas de leveduras selvagens ou nativas e, na maioria dos casos, apresentam as seguintes

características:

Floculação;

Elevadas taxas de multiplicação;

Alta taxa de utilização do substrato para manutenção e crescimento;

Baixa capacidade de produção de etanol; e

Baixa resistência ao etanol

No entanto, pode acontecer que uma destas cepas selvagem tenha um ótimo desempenho

industrial podendo ser usada para a partida da safra seguinte. Vários são os fatores que

determinam a permanência ou não da levedura industrial selecionada no início do processo ao

longo da safra sendo os principais, listados a seguir:

Grau de contaminação do mosto;

Variabilidade da concentração de açúcar do mosto;

Eficiência da centrifuga;

Purga ou sangria;

Teor alcoólico das dornas; e

Contaminação bacteriana.

Varias foram as tentativas de monitorar a levedura durante o processo fermentativo. A

ferramenta mais utilizada é a técnica de plaqueamento seguida de análise de cariotipagem.

Page 3: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

Através desta análise, o setor tem como base que a levedura inoculada no início do processo

permanece cerca de 45 dias nas dornas. Nas unidades com as piores condições, este tempo é

reduzido para aproximadamente 20 dias e nas melhores unidades, pode-se prolongar esta

permanência, em pequena fração, até o final da safra.

Dentro deste contexto, o presente trabalho tem por finalidade avaliar a dinâmica

populacional de cepas de levedura no processo industrial de produção de bioetanol, utilizando a

técnica de modelagem e simulação, através da influência da concentração de substrato e do grau

de contaminação por levedura do mosto.

2. MATERIAL E MÉTODOS.

2.1 A Fermentação.

A Figura 1 apresenta o esquema do processo fermentativo batelada alimentada com reciclo

de biomassa (Melle Boinot) usado para o estudo da dinâmica populacional de leveduras.

Neste processo o mosto é alimentado com uma concentração conhecida de substrato,

contendo ou não contaminação, nas dornas de fermentação previamente carregadas com cerca de

1/3 de seu volume útil com o fermento tratado a uma concentração de 30% em volume.

O tempo de enchimento depende da capacidade instalada na usina e varia de unidade para

unidade. Um valor médio encontrado é de 4 horas, sendo que o processo permanece por mais 3

horas (operando em batelada) para que ocorra o consumo total dos açúcares presente no meio.

Após a fermentação, o volume é enviado para as centrifugas onde ocorre a separação em

duas linhas:

Vinho delevedurado; e

Creme ou leite de levedura.

A concentração da biomassa na linha de vinho delevedurado e creme de levedura

dependem, praticamente, de dois fatores:

Eficiência da Centrífuga; e

Levedura floculante ou não.

Page 4: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

Centrífuga

Fermentado

F, Xi, Yi, Zi, S, P

Vinho

Delevedurado

Fv, Xiv, Yiv, Ziv S, P

Tratamento

Fermento

Creme

Fc, Xic,Yic, Zic, S, P

Água e Ácido

Fw

Creme

Fr, Xir, Yir, Zir, Sr, Pr

Sangria

Purga

Fp, Xip,Yip, Zip, S, P

Alimentação

Fa, Xia, Yia, Zia, Sa, Pa

Fermentador

Pé-de-Cuba

Figura 1: Esquema do processo batelada alimentada com reciclo de biomassa (Melle Boinot)

usado para o estudo da dinâmica populacional de leveduras no processo industrial.

As centrífugas geralmente apresentam uma eficiência na ordem de 99%, fazendo que

somente 1% das leveduras presentes no processo saia, pela linha de vinho delevedurado para

posterior envio para as colunas de destilação.

A lei de Stokes é o fenômeno que rege a separação das partículas na centrífuga sendo que a

velocidade de sedimentação é proporcional ao quadrado do seu diâmetro. Assim, a fração de

biomassa que deixa o processo pela linha de vinho delevedurado é basicamente composto por

partículas de diâmetros menores, sendo improvável encontrar leveduras com características

floculantes nesta linha.

A purga ou sangria é feita com a finalidade de manter a concentração de biomassa

constante eliminando o excesso ocorrido pela multiplicação nas dornas. Nesta etapa, as cepas são

igualmente separadas e este ponto de eliminação pode variar de unidade para unidade. Para este

trabalho foi escolhido o ponto logo na saída da centrífuga.

No tratamento ácido é adicionado água e ácido sulfúrico com a finalidade de reduzir o pH

e ajustar a concentração do creme para a próxima etapa de fermentação. Neste trabalho a

concentração de biomassa foi ajustada para 30% em volume.

Page 5: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

Deste modo, tem-se o pé-de-cuba para a próxima fermentação completando assim, o ciclo

de fermentação. Na usina, considerando que as etapas de limpeza, de enchimento, de

fermentação, de centrifugação e de tratamento ácido somam um tempo total de 12 horas por

ciclo, aproximadamente. Assim, uma dorna é usada 2 vezes ao dia e 420 vezes na safra (210

dias).

2.2 Modelagem e Simulação.

O Balanço de Massa global e para os componentes biomassa viável (Xi), Biomassa morta

(Yi), Biomassa total (Zi), Substrato (S) e Produto (P) para o fermentador é apresentado nas

equações (1) a (6). Como premissa foi considerada que não há variação da densidade ao longo do

processo e o volume ocupado pela biomassa na dorna.

FFadt

dV (1)

VrxXiFXaiFadt

VXid

)(

(2)

VrdYiFYaiFadt

VYid

)(

(3)

YiXidt

VZid

)( (4)

VrsSFSaFadt

VSd

)( (5)

VrpPFPaFadt

VPd

)( (6)

Onde: V é o volume [L]; Fa é vazão de alimentação no fermentador [L/h]; F é vazão de saída do fermentador

[L/h]; X, Y e Z são as concentrações de biomassa viável, morta e total na dorna [g/L]; Xa, Ya e Za são as

concentrações de biomassa viável, morta e total na linha de alimentação [g/L]; o índice i representa o tipo de cepa de

levedura estudada; Sa e Pa são as concentrações de substrato (açúcar) e produto (etanol) na linha de alimentação

[g/L]; S e P são as concentrações de substrato (açúcar) e produto (etanol) na dorna [g/L]; rx, rd, rs e rp são as

velocidades de formação de biomassa viável, morte celular, consumo de substrato e formação de produto [g/L/h].

Das particularidades do processo, as equações (1) a (6) podem representar um processo

batelada, batelada alimentada e contínuo quando:

Batelada: Vazões de alimentação e retirada das dornas nulo (Fa=F=0) e volume

constante e maior que zero (dV/dt = 0);

Batelada Alimentada: Vazão de alimentação maior que zero (Fa>0), vazão de retirada

nulo (F=0) e acúmulo de volume na dorna (dV/dt >0);

Contínuo: Vazões de alimentação e retirada das dornas maior que zero (Fa>0 e F>0).

O volume pode ser constante desde que as vazões sejam iguais, caso contrário há

acúmulo ou esvaziamento da dorna.

Page 6: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

Assim, enquanto a dorna é alimentada com o mosto, o modelo que representa o processo é

o de batelada alimentada e quando se atinge o volume desejado o modelo que representa o

processo é o de batelada.

A velocidade com que a biomassa viável é formada (rx), da morte celular (rd), do consumo

de substrato (rs) e da formação de produto (rp) é representada pelas equações (7) a (10).

Xrx (7)

X;P))exp(Kdp(Kdt rd (8)

Xmx+ Yxs

rxrs (9)

Xmp+rx Yxs

Ypsrp (10)

Onde: é a velocidade especifica de crescimento celular [1/h]; Kdt é a constante de morte celular devido ao

efeito da temperatura [1/h]; Kdp é a constante de morte celular devido ao efeito da concentração de etanol [L/g];

Yxs é o rendimento em biomassa (quanto de substrato é usado para o crescimento celular); Yps é o rendimento em

produto (quanto de substrato é efetivamente transformado em produto – etanol); mx é o coeficiente de manutenção

celular [g de substrato/ g de biomassa/ h]; e mp produção de etanol associado ao crescimento celular [g de etanol/g

de biomassa/h].

A velocidade especifica de crescimento () é representada pela equação e contempla os

efeitos inibitórios exercido pela concentração de substrato, biomassa e produto.

mn

iPm

P

Xm

ZiSKi

SKs

S

11expmax (11)

Onde: max é a máxima velocidade específica de crescimento celular [1/h]; Ks é a constante de Monod [g/L];

Ki é a constante de inibição pelo substrato [g/L]; Xm é a máxima concentração de biomassa na qual cessa o

metabolismo da levedura [g/L]; Pm é a máxima concentração de etanol na qual cessa o metabolismo da levedura

[g/L]; n e m são coeficientes de ajuste.

O conjunto de equações diferenciais foi integrado usando o algoritmo de

Runge-Kutta de 4° ordem, codificado em Linguagem G, através do Software LabVIEW 8.5

produzido pela National Instruments.

Page 7: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES.

Os parâmetros e constantes cinéticas usados para realizar as simulações para os

microrganismos usados, são apresentados na Tabela 1. Os valores dos parâmetros e constantes

cinéticas foram baseados nos valores estimados nos trabalhos de

Atala et al. 2001, Andrade et al. 2007, Rivera et al. 2006. Somente 5 parâmetros foram alterados

os demais permaneceram constantes.

Tabela 1: Parâmetros e constantes cinéticas usados para a realização da simulação do processo fermentativo.

SA C1 C2 C3 C4

Floc Não Não Sim Não Sim

max 0,42 0,45 0,44 0,45 0,44

Pm 110 94 94 90 90

Yxs 0,045 0,08 0,08 0,08 0,08

Yps 0,47 0,45 0,45 0,43 0,43

Kdp 0,38 0,44 0,44 0,44 0,44

O microrganismo base foi a levedura industrial denominada SA (isolada da Usina Santa

Adélia) por ser amplamente usada nos processos industriais.

Foram usadas como contaminantes 4 leveduras com parâmetros cinéticos distintos. Todas

as leveduras contaminantes apresentaram elevados rendimentos em biomassa (Yxs), maior

velocidade especifica máxima de crescimento celular (max), baixa resistência à concentração de

etanol (Kdp), baixo rendimento em etanol (Yps) e menor concentração de etanol na qual cessa o

crescimento celular (Pm) quando comparada com a levedura industrial. As leveduras

contaminantes C2 e C4 apresentam características de floculação.

Para o estudo do efeito da concentração de leveduras contaminantes na alimentação foram

simuladas contaminações da ordem de 100 a 10

6 UFC (Unidades Formadoras de Colônias), em

proporções iguais de cada levedura contaminante. Nas dornas de fermentação a concentração

final é de aproximadamente 10 g/L e isto representa uma contagem da ordem de 107 UFC. Para o

estudo do efeito da concentração de substrato na alimentação foram simulados mostos contendo

140 g/L à 200 g/L de substrato.

A Figura 2 apresenta o estudo da influência da concentração de leveduras contaminantes

na permanência da levedura industrial ao longo dos 420 ciclos da safra, de um mosto contendo

180 g/L de substrato. Nesta figura é possível observar que contaminações com concentrações

acima de 106 UFC, a levedura industrial é eliminada praticamente nos primeiros 100 ciclos (50

dias). Contaminações da ordem de 4x105 UFC a levedura industrial é observada ao final dos 420

ciclos (35% aproximadamente), aumentando a medida que a concentração da contaminação

diminui. Em contaminações inferiores a 104 UFC, a fração da levedura industrial ao final dos

420 ciclos é superior a 90%.

Page 8: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

Figura 2: Estudo da influência da concentração de leveduras contaminantes na alimentação de um mosto com

180 g/L de substrato na permanência da levedura industrial ao longo dos 420 ciclos de safra.

A Figura 3 apresenta o estudo da influência da concentração de substrato na permanência

da levedura industrial, ao longo dos 420 ciclos da safra, para uma contaminação de 4x106 UFC

na alimentação. É possível observar que, para esta intensidade de contaminação, a concentração

de substrato não apresenta influência na permanência de levedura industrial sendo esta,

eliminada do processo após cerca 60 ciclos ou 30 dias de operação.

Figura 3: Estudo da influência da concentração de substrato na permanência da levedura industrial ao longo

dos 420 ciclos para uma contaminação de 4x106 células.

Para concentrações de contaminantes menores é possível observar a influência da

concentração de substrato na alimentação (Figura 4 e Figura 5). Quanto menor for a

concentração de substrato na alimentação, maior será o favorecimento do estabelecimento da

população de leveduras contaminantes. Deste modo, para aumentar a possibilidade de

permanência da levedura industrial, o processo deve operar com eleva concentração de substrato,

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450Ciclos

% S

A4 X 10^6

2 X 10^6

8 X 10^5

4 X 10^5

2 X 10^5

4 X 10^4

4 X 10^3

4 X 10^2

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Ciclos

% S

A

140 g/L

160 g/L

180 g/L

200 g/L

Page 9: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

pois isto gera, um meio com elevado teor alcoólico. Leveduras industriais toleram elevados

teores alcoólicos e este fato pode ser usado como um fator de seleção e de inibição do

estabelecimento da população contaminante.

Figura 4: Estudo da influência da concentração de substrato na permanência da levedura industrial ao longo

dos 420 ciclos para uma contaminação de 4x105 células.

Figura 5: Estudo da influência da concentração de substrato na permanência da levedura industrial ao longo

dos 420 ciclos para uma contaminação de 4x104 células.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 100 200 300 400

Ciclos

% S

A

140 g/L

160 g/L

180 g/L

200 g/L

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Ciclos

% S

A

140 g/L

160 g/L

180 g/L

200 g/L

Page 10: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

As Figuras 6 e 7 apresentam o estudo da dinâmica populacional das leveduras

contaminantes presentes no processo, após 420 ciclos de fermentação, para um mosto contendo

180 g/L de substrato e uma contaminação na alimentação de 4X105

e 4X106 UFC,

respectivamente.

Figura 6: Estudo da dinâmica populacional das leveduras contaminantes presentes no processo após 420

ciclos de fermentação para uma contaminação na alimentação de 4X105 e concentração de substrato

de 180 g/L.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Ciclos

% S

A

0

20

40

60

80

100

Eta

no

l [g

/L]

SA

C1

C2

C3

C4

P

Page 11: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

Figura 7: Estudo da dinâmica populacional das leveduras contaminantes presentes no processo após 420

ciclos de fermentação para uma contaminação na alimentação de 4X106 e concentração de substrato

de 180 g/L.

Na Figura 6, onde a contaminação do mosto apresenta um valor na ordem de 105 UFC, a

levedura industrial foi a que apresentou dominância, quando comparada individualmente no

processo, chegando ao final dos 420 ciclos com cerca de 35 %. Cerca de 35 % das leveduras

presentes são floculantes (C2+C4) e o restante, 30% é composto por leveduras não floculantes

contaminantes (C1+C3).

Do total, 65% das leveduras presentes são contaminantes e traz, como conseqüência, uma

redução da concentração de etanol na dorna, de 75 g/L (100% de levedura industrial) para cerca

de 70 g/L ao final dos 420 ciclos, ou seja, uma redução de 5g/L, o que impacta negativamente na

produtividade e no custo.

Quando se analisa a Figura 7, onde a contaminação na alimentação é da ordem de 106

UFC, a levedura industrial deixa o processo após 60 ciclos (30 dias). As leveduras contaminantes

dominam o ambiente trazendo como conseqüência, a redução da concentração de etanol de 75%

(100% da levedura industrial) para cerca de 65 g/L após 60 ciclos, ou seja, 10 g/L a menos de

etanol a cada ciclo por mais 350 ciclos de fermentação.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Ciclos

% S

A

0

20

40

60

80

100

Eta

no

l [g

/L]

SA

C1

C2

C3

C4

P

Page 12: SIMULAÇÃO DA DINÂMICA POPULACIONAL DE LEVEDURAS

4. CONCLUSÕES

O presente trabalho avalia a dinâmica populacional de leveduras industriais e

contaminantes no processo fermentativo de produção de bioetanol. Para isso, foi estudado o

impacto da concentração de substrato na alimentação (140 g/L a 200 g/L de açúcares

fermentescíveis) e do grau de contaminação do mosto (100 a 10

6 UFC) na permanência da

levedura industrial SA.

Elevado grau de contaminação (maior que 4x105 UFC) faz que a levedura industrial deixe

o processo, não havendo impacto positivo em trabalhar com elevados teores de açúcar.

Contaminações intermediárias (4x105 a 4x10

4 UFC) geram a expectativa de permanência

da levedura industrial ao longo dos 420 ciclos de fermentação. Neste caso, a utilização de mostos

mais concentrados em substrato promove uma maior expectativa de permanência da levedura

industrial por gerar vinhos mais alcoolizados e por estas leveduras apresentarem uma maior

resistência ao etanol (álcool tolerância) do que as leveduras contaminantes.

Contaminações inferiores (menor que 4x104

UFC) não interferem na permanência da

levedura industrial, finalizando os 420 ciclos de fermentação sempre com concentração superior

a 90% da população total.

Em todos os casos, a presença de leveduras contaminantes diminui a concentração de

etanol no vinho, quando comparado com o processo contendo somente levedura industrial, o que

impacta negativamente na produtividade e nos custo.

É importante ressaltar que este trabalho avalia um cenário, onde as leveduras

contaminantes apresentam um desempenho inferior às leveduras industriais. Com as tecnologias

disponíveis hoje, baseadas em biologia molecular, será possível avaliar e validar os modelos e os

resultados obtidos neste trabalho bem como propor processos que favorecem a permanência da

levedura industrial.

5. REFERÊNCIA

Atala, D. I. P., A. C. Costa, R. Maciel & F. Maugeri (2001) Kinetics of ethanol fermentation

with high biomass concentration considering the effect of temperature. Applied

Biochemistry and Biotechnology, 91-3, 353-365.

Andrade, R. R., E. C. Rivera, A. C. Costa, D. I. P. Atala, F. Maugeri & R. Maciel (2007)

Estimation of temperature dependent parameters of a batch alcoholic fermentation process.

Applied Biochemistry and Biotechnology, 137, 753-763.

Rivera, E. C., A. C. Costa, D. I. P. Atala, F. Maugeri, R. W. M. Maria & R. Maciel (2006)

Evaluation of optimization techniques for parameter estimation: Application to ethanol

fermentation considering the effect of temperature. Process Biochemistry, 41, 1682-1687.