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Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Química Coordenação de Graduação Trabalho de Conclusão de Curso Simulação bidimensional de escoamento de um fluido incompressível ao redor de uma seção circular, utilizando CFD.Aluno: Julia Satie Saito RA: 061852 Supervisor: Roger Josef Zemp Campinas SP dezembro de 2014

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Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Engenharia Química

Coordenação de Graduação

Trabalho de Conclusão de Curso

“Simulação bidimensional de escoamento de um fluido

incompressível ao redor de uma seção circular, utilizando

CFD.”

Aluno: Julia Satie Saito RA: 061852 Supervisor: Roger Josef Zemp

Campinas – SP dezembro de 2014

SUMÁRIO

1. RESUMO ........................................................................................................................................ 1

2. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 2

3. REVISÃO DA LITERATURA ..................................................................................................... 5

4. OBJETIVO DO TRABALHO ...................................................................................................... 7

5. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 8

5. METODOLOGIA .......................................................................................................................... 8

6. RESULTADOS............................................................................................................................. 10

6.1 Definição da malha................................................................................................................. 10

6.2 Simulação de escoamento ao redor de uma seção circular estacionária ........................... 14

6.3 Simulação de escoamento ao redor de uma seção circular com movimento forçado ...... 19

7. CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 25

8. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................... 26

NOTA:

Este trabalho foi desenvolvido como parte da pesquisa de iniciação científica no Programa de Formação de

Recursos Humanos da Agência Nacional do Petróleo da UNICAMP, PRH-15/ANP, sob orientação do Prof.

Dr. Celso Kazuyuki Morooka, do Departamento de Engenharia de Petróleo da UNICAMP

- 1 -

1. RESUMO

Dutos submarinos são utilizados nas operações marítimas de perfuração de poços e de

produção de petróleo e gás natural. Estes dutos podem estar apoiados no leito marinho

transportando o petróleo de um poço produtor até uma unidade de produção flutuante na superfície

do mar. São denominados de dutos submarinos ou linhas de escoamento enquanto apoiados no leito

marinho, e quando se encontrar suspenso, interligando o fundo do mar à unidade produtora na

superfície, são denominados de risers.

Estes dutos estão sujeitos à correnteza marítima, ondas e ao movimento induzido pela

unidade flutuante à qual estão conectados. Sua interação com a água do mar gera duas componentes

de força no duto: a força de arrasto (FD) e a transversal (FL), respectivamente, nas direções de

incidência e perpendicular da água em relação ao duto. A força transversal faz o duto oscilar na

direção perpendicular à velocidade de incidência do fluido, fenômeno conhecido como Vibração

Induzida por Vórtices (VIV), em sincronização com o desprendimento de vórtices. Esta vibração é

importante para o projeto de dutos, pois pode acelerar o processo de fadiga do duto, ocasionando

falhas.

Neste trabalho, aplica-se a dinâmica de fluidos computacional (Computacional Fluid

Dynamic – CFD) para solução do escoamento bidimensional ao redor de uma seção de um duto

submarino. Consideram-se duas situações: a primeira com seção transversal estacionária, e a

segunda, com a seção com um movimento forçado induzido na direção transversal ao escoamento

incidente. Coeficientes hidrodinâmicos de arrasto (CD) e de força transversal (CL), assim como o

número de Strouhal (St) para o escoamento são calculados, e comparações e análise dos resultados

com a literatura são realizados. Observa-se dos resultados de que um incremento grande é

observado no CL quando a freqüência de movimento forçado da seção é maior do que a freqüência

de desprendimento de vórtice para o cilindro estacionário. A partir dos resultados obtidos, é

possível aplicá-los na indústria do petróleo, no projeto de equipamentos que ficam submersos,

podendo otimizá-lo e aumentar sua vida útil, além de ser possível tornar estes equipamentos mais

seguros e com menos chance de falhas.

- 2 -

2. INTRODUÇÃO

O setor petrolífero no Brasil encontra-se em ascensão, devido à descoberta de petróleo

comercial na camada do pré-sal, nas bacias de Santos (SP) e de Campos (RJ). Desse modo, as

pesquisas relacionadas à perfuração de poços, à exploração, extração e transporte do petróleo e gás

natural, em águas profundas e ultra-profundas, são cada vez mais relevantes. A descoberta de

petróleo no pré-sal surge como um desafio devido à grande profundidade que os poços se

encontram, chegando a até 2.000 metros de lamina d’água e ainda mais 5.000 metros de rochas,

superando a profundidade dos poços até então perfurados no Brasil.

Figura 1: Profundidade de poços brasileiros ao longo dos anos.

Em diversas áreas de produção de petróleo, como a perfuração de poços, a extração e o

transporte do petróleo contido no fundo do mar, são utilizados dutos submersos cilíndricos de aço,

como mostra a Figura 2.

124 m 1997

293 m 1983

492 m 1998

781 m 1992

1027 m 1994

1853 m 1999

1886 m 2003

Até 7000 m

5000 m de rocha

2140 m 2006

Enchova Piraúna Marimbá Marlim Marlim Roncador Roncador B. de Santos Pré-sal

- 3 -

Figura 2: Esquema de produção de petróleo.

Estes dutos, quando fazem a interligação entre o fundo do mar com a unidade de produção

flutuante, são chamados de risers. Os poços do pré-sal podem alcançar até 2000 metros de

profundidade e, com isso, o tamanho dos risers utilizados para a extração de petróleo é muito

grande, o que resulta num peso-próprio muito elevado, podendo causar danos na unidade de

produção. Para minimizar a força que o riser exerce sobre a plataforma ou navio, pode-se utilizar

bóias de subsuperfície, estruturas cilíndricas localizadas a aproximadamente 100 metros da

superfície, e que suporta grande parte da força peso do riser, interligando-o à unidade de produção

através de outra estrutura cilíndrica, chamada de jumper flexível. Dutos submarinos, colocados ao

longo do leito marinho, muitas vezes com a extensão de dezenas a centenas de quilômetros, fazem

também o transporte do óleo ou gás (chamados de oleodutos ou gasodutos), do alto mar a um

terminal na costa litorânea.

Todas estas estruturas submersas, com seção circular uniforme, estão expostas à correnteza e

ondas do mar, além do movimento da unidade de produção flutuante. Estes parâmetros fazem o

duto interagir com a água do mar, originando diferenças de pressão que, conforme Sumer e Fredsøe

(1997), resultam em alterações periódicas na parede do duto, gerando o desprendimento alternado

de vórtices e resultando na variação periódica das componentes de força no cilindro, isto é, das

forças de arrasto (FD) e transversal (FL) paralela e perpendicular à direção do escoamento incidente.

A força transversal faz o duto sofrer vibrações, fenômeno conhecido como Vibração Induzida por

Vórtices (VIV) e de extrema importância para o projeto das tubulações submarinas visto que pode

onda

vento

Superfície do mar

Unidade flutuante de produção

correnteza

riser vertical

bóia de subsuperfície

jumper flexível

100 m

Fundo do mar

poço de petróleo

manifold

duto submarino

árvore de natal molhada

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provocar sua fadiga precoce, resultando em graves acidentes com conseqüências econômicas,

ambientais e humanas.

As forças de arrasto e transversal são adimensionalizadas em função da densidade do fluido,

do diâmetro e comprimento do duto e do quadrado da velocidade de incidência do fluido, resultando

nos coeficientes de arrasto (CD) e de força transversal (CL), respectivamente.

De acordo com Wendt (2009), os aspectos físicos de qualquer escoamento fluido são

governados por três princípios fundamentais: a conservação da massa; a Segunda Lei de Newton; e

a conservação da energia. Estes princípios podem ser expressos em expressões matemáticas que em

suas formas gerais são geralmente expressas em equações diferenciais parciais. A Dinâmica de

Fluidos Computacional (Computational Fluid Dynamics – CFD) é uma ferramenta que substitui

estas equações por números e utiliza-os avançando no tempo e no espaço para obter uma descrição

numérica final do escoamento fluido de interesse.

Através do CFD é possível simular o escoamento de fluidos através da aplicação de métodos

numéricos computacionais nas equações fundamentais da mecânica de fluidos. Esta técnica é

utilizada em alguns aspectos do projeto de dutos submarinos e risers, como por exemplo, na

previsão de esforços hidrodinâmicos devido à correnteza e ondas do mar, sendo, portanto, utilizada

em complemento aos métodos numéricos baseados em modelos semi-empíricos da mecânica de

fluidos que se fundamentam com resultados extraídos de experimentos em laboratórios.

O desenvolvimento da modelagem numérica é apresentado com uma análise de malha

computacional e, a partir dele, as simulações do escoamento externo ao redor de um cilindro liso de

seção circular são realizadas de maneira que a análise seja feita num plano bidimensional

considerando, portanto, uma seção transversal circular. Duas situações são estudadas, sendo a

primeira considerando que a seção está estacionária, ou seja, não se move em nenhuma direção, e a

segunda com a seção sob ação de um movimento forçado na direção transversal ao escoamento

incidente. Os coeficientes hidrodinâmicos CD e CL são calculados de acordo com as forças obtidas

pela solução do programa.

- 5 -

3. REVISÃO DA LITERATURA

Quando há escoamento de fluidos de baixa viscosidade (altos números de Reynolds), ao

redor de um corpo, a viscosidade tem efeito sensível sobre uma pequena camada adjacente à

superfície de um corpo, onde a velocidade varia rapidamente desde um valor nulo, próximo à

parede do corpo, até um valor característico do escoamento, chamada de camada limite. Fora desta

camada, as forças viscosas são pequena e podem ser consideradas desprezíveis. Para determinadas

velocidades do escoamento, a camada limite se desprende do corpo e forma-se uma esteira de

vórtices. Um maior detalhamento desta situação é descrito em Lopes (2006).

A partir da superfície do corpo, a velocidade da camada limite cresce desde zero até 99% da

velocidade de escoamento do fluido. Nesta camada, há predominância dos efeitos da viscosidade,

enquanto que fora dela estes efeitos são praticamente nulos. Quanto maior a velocidade do

escoamento, menor serão o comprimento, a espessura da camada limite laminar e da sub-camada

laminar. A pressão na camada limite é determinada pelo escoamento, de modo que em uma seção

da camada limite normal à superfície do corpo, a pressão pode ser considerada constante e igual a

do escoamento circundante.

Quando o escoamento se dá sobre a superfície de um cilindro posicionado transversalmente

ao escoamento, como na Figura 3, o campo de pressões deixa de ser constante. As partículas fluidas

aumentam de velocidade entre A e B (diminuição da pressão) e diminuem entre B e C (aumento da

pressão).

Figura 3: Escoamento ao redor de um cilindro.

Ao longo da camada limite, há perda de energia cinética por atrito, devido à viscosidade do

fluido e, conseqüentemente, a energia resultante pode ser insuficiente para suportar o aumento de

pressão necessário para chegar até C. Devido a isto, surge um movimento contrário à passagem do

fluido, que causa o descolamento da camada limite no ponto de separação, gerando um par de

vórtices estacionários, até aproximadamente Re=40. A partir deste valor, o desprendimento de

vórtices ocorre de forma periódica e alternada, com uma freqüência conhecida como freqüência de

Strouhal ou de shedding. A Figura 4 mostra como o comportamento do escoamento varia com a

faixa de Reynolds que o cilindro está localizado.

A

B

C

- 6 -

Figura 4: Formação de vórtices de acordo com a faixa de Reynolds. Retirado de

Pantazoupoulos (1994).

- 7 -

4. OBJETIVO DO TRABALHO

O objetivo deste trabalho é estudar os fundamentos envolvidos no comportamento estático e

dinâmico de uma estrutura submersa no mar, de geometria circular na sua seção transversal, como

risers e boias de subsuperfície. O comportamento dinâmico é analisado considerando um

movimento senoidal forçado da estrutura, na direção transversal à incidência da correnteza.

Simulações numéricas foram feitas através da fluidodinâmica computacional (CFD), e os resultados

foram avaliados e comparados com a literatura.

Para garantir os objetivos aqui descritos, primeiramente é necessário conhecer os

fundamentos básicos de mecânica dos fluidos, pois é a partir das equações descritas por Navier-

Stokes que se baseará a resolução descrita pelo software utilizado (ANSYS-CFX®

). Além disso, o

conhecimento de mecânica de fluidos também é necessário para analisar alguns parâmetros básicos

e importantes do escoamento, que neste caso utiliza um fluido incompressível no escoamento

externo.

O conhecimento básico de programação também é necessário para que seja possível

introduzir algumas equações nos dados de entrada do software computacional, como a equação do

movimento forçado, por exemplo. Conhecimentos de programação também são importantes para a

transformada rápida de Fourier, calculada através do software MATLAB®

e utilizada para

determinar a frequência de uma força oscilatória.

Os resultados aqui analisados e descritos são importantes não apenas para a indústria de

petróleo, na exploração e produção de poços submarinos, mas também podem ser avaliados em

trocadores de calor, importantes equipamentos utilizados em indústrias químicas, uma vez que os

tubos encontrados no interior destes equipamentos também estão sujeitos a um escoamento externo

e, portanto, também podem sofrer vibração devido a este escoamento.

- 8 -

5. METODOLOGIA

O software utilizado para fazer as simulações foi o ANSYS®. Para criação da geometria de

domínio fluido e geração de malha, utilizou-se o ANSYS Workbench. Já a simulação de

escoamento é feita pelo ANSYS-CFX®, que se divide em três sessões: CFX-Pre, para definição dos

parâmetros de análise (condições de contorno e do fluido); CFX-Solver, para solução do sistema de

equações; e, finalmente, CFX-Post, para pós-processamento e visualização dos resultados.

A análise é considerada bidimensional. Para isso, a geometria foi desenhada de modo que a

espessura ortogonal seja tão pequena para que haja apenas um elemento de malha nesta direção.

Para a geração da geometria, é feito um corte transversal, tomando um pequeno corte de fluido,

como mostrado na Figura 5. A partir da geometria gerada, a malha computacional é feita dividindo

a geometria em pequenos elementos, chamados de volumes de controle, para que a solução do

problema seja resolvida com base no método dos volumes finitos. Para isso, os elementos de malha

devem ser cuidadosamente escolhidos para que a solução do programa seja feito adequadamente, se

aproximando do caso real. As equações de Navier-Stokes são resolvidas para cada volume de

controle, descrevendo os processos de transferência de massa, de calor e de momento.

Figura 5: Malha computacional utilizada nas simulações.

Duto Submarino Transversal

Correnteza

z

y

x Arrasto

MALHA COMPUTACIONAL

- 9 -

Primeiramente, um estudo sobre a adequação da malha ao escoamento foi feito, testando

diferentes malhas para que não sobrecarregasse as simulações em relação ao tempo e espaço

computacional, porém representando bem o escoamento.

Definida a malha a ser utilizada, foi feita uma bateria de simulações considerando a seção

circular estacionária, para diferentes números de Reynolds (Re), variando-se a velocidade de

incidência do fluido. A partir dos resultados gerados de forças de arrasto (FD) e transversal (FL), é

possível obter do histórico de tempo destas forças os coeficientes hidrodinâmicos de arrasto (CD) e

de força transversal (CL), além do número de Strouhal.

Após as simulações com a seção circular estacionária, um movimento senoidal foi imposto

na direção transversal da seção, variando-se inicialmente a freqüência do movimento e

posteriormente a amplitude do movimento, para analisar as mudanças que ocorrem. Após a bateria

de simulações com duas diferentes amplitudes e uma faixa de freqüências, o número de Reynolds é

alterado, mantendo uma mesma amplitude e variando-se a freqüência de movimento, de modo que

seja possível observar a variação do coeficiente de força transversal (CL) com a freqüência e a

amplitude do movimento e também a velocidade de incidência do fluido.

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6. RESULTADOS

6.1 Definição da malha

A seção foi definida com um diâmetro de D=0,114m, e a distância à montante, à direita e à

esquerda da seção no plano bidimensional foi definida como dez vezes o tamanho do diâmetro da

mesma, ou seja, 1,14m, de modo que não haja nenhuma influência na camada limite e,

conseqüentemente, no desprendimento de vórtices. A distância à jusante é definida como vinte e

três vezes o diâmetro da seção, 2,622m, para que não haja influência da esteira de vórtices na

formação de novos. A geometria está ilustrada na Figura 6.

Figura 6: Geometria do domínio utilizada nas simulações.

O software utilizado resolve apenas problemas em três dimensões. Portanto, para que este

problema seja considerado como bidimensional, foi desenhada uma malha de espessura L muito

pequena, L=D/20=0,006m, de modo que haja apenas um elemento de volume finito na direção

perpendicular ao escoamento.

Para finalmente definir a malha, ou seja, o tamanho dos elementos de volume finitos, o

procedimento é feito no CFX-Mesh. Para sua definição, é necessário que haja independência de

malha, ou seja, o resultado deve permanecer praticamente inalterado, conforme o refinamento.

Partindo de uma malha grosseira, com elementos grandes, e refinando-a cada vez mais, caso haja

variação no resultado, a malha é considerada inadequada e é necessário refiná-la ainda mais até que

a independência seja atingida. Por outro lado, não deve imediatamente adotar uma malha muito

refinada, pois isto exigirá um maior esforço computacional, sendo necessário além de maior tempo

para realizar as simulações, também maior espaço em disco.

10D

23D

10D 10D

0,00 0,50 1,00 [m]

Domínio fluido Secção circular do

cilindro

- 11 -

A região bem próxima à seção, que representa a parede do duto cilíndrico, é de extrema

importância, pois é onde ocorrem formação e desprendimento da camada limite, e devido a isto,

deve ser mais refinada que as demais regiões. Para este caso em particular, foi adotada a condição

de y+, definida pelo programa como uma distância adimensional a partir da parede, em função da

distância entre a parede e o nó mais próximo a ela (y), do diâmetro da seção circular (D) e o número

de Reynolds (Re), e calculada a partir da equação 1, conforme descrito por ANSYS (2006).

14/1380 ReDyy (1)

onde Re é função da velocidade do (u), da massa específica (ρ) e da viscosidade dinâmica (μ) do

fluido, conforme mostra a equação 2.

DuRe (2)

Para realizar as simulações turbulentas, o modelo de turbulência utilizado foi o Shear Stress

Transport (SST) o qual, segundo ANSYS (2006), deve adotar o valor de y+ como sendo menor ou

igual a 2, Portanto, para utilizar apenas uma malha e realizar diversas simulações numa ampla faixa

de número de Reynolds, foi considerado um número máximo de Reynolds de Remáx=1x106, e a

partir dos valores de Remáx e y+, a distância entre a parede e o primeiro nó foi calculada como sendo

∆y=5,47x10-6

m. Assim para todos os valores de número de Reynolds simulados abaixo de Remáx, a

distância entre a parede e o primeiro nó (∆y) estará de acordo com a condição y+≤ 2.

A partir da condição de y+, a convergência dos resultados foi testada considerando, em

todas as simulações, as mesmas propriedades físicas, condições de contorno e de solver, para que os

resultados possam ser comparados. O fluido considerado em todas as simulações foi água, a 25°C, e

tem suas propriedades definidas na biblioteca do software, ρ=997 kg/m3

e μ=0,0008899 Pa.s. As

condições de contorno adotadas são:

• Parede (Wall): condição adotada em torno da seção circular de diâmetro D=0,114m. Trata a

fronteira como uma parede lisa em que não há deslizamento, ou seja, a velocidade é igual à

velocidade da parede que, como se encontra estacionária, é nula.

• Entrada (Opening): condição adotada na face arredondada com raio igual a 10D e localizada à

montante da seção circular. Nesta face, o programa assume que o fluido pode estar tanto

entrando quanto saindo do domínio, e foram prescritos os componentes de velocidade

cartesiana: u=1,5659m/s, v=0m/s e w=0m/s. A intensidade de turbulência é média.

- 12 -

• Saídas (Opening): condição adotada nas faces lateral e posterior (jusante da seção circular).

Nestas faces novamente o fluido pode estar tanto entrando quanto saindo do domínio e foi

adotada a pressão estática de 0 Pa para o fluido.

• Simetria (Simmetry): condição adotada na face inferior e superior do domínio fluido. Nestas

faces a velocidade normal à face (componente w) é nula e as velocidades no plano do

escoamento (componentes u e v) são iguais aos valores resultantes ao longo da simulação.

O passo de tempo (timestep) é o intervalo de tempo em que o programa resolverá as

equações de mecânica de fluidos para cada volume de controle e foi adotado como 0,005s. Também

adotou-se o máximo de 10 iterações para cada passo de tempo.

É necessário definir um conjunto de valores iniciais, como a velocidade do fluido e a

pressão relativa, para iniciar o processo iterativo. Assim, os componentes cartesianos de velocidade

são u=1,5659 m/s, v=0 m/s e w=0 m/s e a pressão relativa P=0 Pa.

Para comparar os resultados obtidos em cada uma das malhas, foi analisado tanto o

comportamento qualitativo do escoamento, em um mesmo instante de tempo, e também foi feita

uma análise quantitativa, calculando os coeficientes de arrasto (CD) e de força transversal (CL) e o

número de Strouhal (St), a partir das forças de arrasto (FD) e transversal (FL), segundo as equações

3, 4 e 5.

2

21 DLu

FC D

D

(3)

2

21 DLu

FC L

L

(4)

O coeficiente de arrasto (CD) é calculado com o valor da média da força de arrasto, FD,

enquanto que o coeficiente de força transversal (CL) é calculado a partir da amplitude de pico da

força transversal, FL, ambas as forças consideradas em estado estacionário.

O número de Strouhal (St) é calculado a partir da freqüência de desprendimento de vórtices

(fs), que foi considerada como sendo a mesma freqüência da força transversal (FL).

u

DfSt s (5)

O primeiro teste parte de uma malha bem simples, resultando num escoamento simétrico e

sem a ocorrência de desprendimento de vórtices. No segundo teste, a malha foi refinada ao redor de

- 13 -

seção circular e, do mesmo modo, não apresentou desprendimento de vórtices. A partir do terceiro

teste, com uma malha mais refinada ao redor de seção circular e na esteira de vórtices, o

desprendimento de vórtices foi observado. Diminuindo ainda mais o tamanho dos elementos nas

mesmas regiões, o quarto teste apresentou mudanças no comportamento do escoamento e também

houve uma alteração notável entre este teste e os anteriores, se comparados os coeficientes

hidrodinâmicos calculados entre eles. Para o quinto teste, utilizou-se elementos ainda menores nas

regiões de interesse, porém não houve mudança significativa no comportamento do escoamento e

dos coeficientes hidrodinâmicos, em relação ao quarto teste. Os coeficientes calculados para todos

os testes, com suas respectivas descrições, encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1: Valores calculados dos coeficientes hidrodinâmicos nos testes feitos para a

construção da malha.

Teste Nº de nós Nº de elementos CD CL St

01 6470 5880 0,53 0,01 -

02 9218 8142 0,35 0,08 0,281

03 27044 24932 0,35 0,33 0,276

04 84000 55154 0,70 0,41 0,239

05 105478 76588 0,69 0,42 0,243

Para reduzir o esforço computacional, a malha utilizada no Teste 04 da Tabela 1 foi

escolhida, devido à menor quantidade de elementos a partir do momento em que a convergência dos

resultados foi alcançada. A vista superior da malha está mostrada na Figura 7.

O tempo de execução dos cálculos através do software durou cerca de dois dias para as

simulações considerando a seção estacionária. Para a seção com movimento forçado, o tempo de

execução dos cálculos é ainda maior, alcançando até sete dias para obter os resultados. Este tempo

de execução é médio, para um AMD Athlon™ 64 X2 Dual-Core Processador 5000+, 2.61GHz,

3.43GB de RAM.

- 14 -

Figura 7: Malha de elementos aplicados para o domínio fluido nas simulações realizadas.

6.2 Simulação de escoamento ao redor de uma seção circular estacionária

Simulações de escoamento externo ao redor de uma seção circular considerada estacionária,

ou seja, sem movimento, são muito estudadas e, neste trabalho, foram feitas para diferentes valores

de número de Reynolds. Para isto, manteve-se a mesma malha de elementos, conforme descrita

anteriormente e, como o fluido considerado é o mesmo para todas as simulações, as alterações nos

números de Reynolds foram obtidas através da variação da velocidade de incidência do fluido (u).

A faixa estudada de número de Reynolds variou de 2000 a 800000, que corresponde ao Re de uma

velocidade entre u=0,02m/s até u=6,26m/s.

Segundo ANSYS (2006), o escoamento deve ser considerado laminar para valores de

Reynolds menores que 20000, decorrente de uma velocidade de correnteza de u=0,16m/s. Neste

caso, a escolha de um modelo de turbulência laminar na configuração do programa consiste na

desconsideração do modelo de turbulência na simulação. Nos casos de número de Reynolds maiores

que 20000, o modelo de turbulência adotado foi o SST, conforme já mencionado anteriormente. De

acordo com Stravopoulos et al (2005), o modelo SST é um híbrido dos modelos k-ε e k-ω de

turbulência, o qual reduz a deficiência de ambos os modelos pois caracteriza um limitador para a

equação de viscosidade turbulenta, levando em conta o transporte das tensões cisalhantes

turbulentas, que são deficientes em outros modelos de turbulência. Desse modo, o modelo SST

- 15 -

utiliza basicamente o modelo k-ω nas regiões próximas à parede e o modelo k-ε nas regiões mais

afastadas da mesma. Ainda, segundo ANSYS (2006), este modelo é recomendado para simulações

que exijam alta precisão na camada limite, como no caso estudado. Aprofundando mais o estudo,

observou-se que para valores muito alto de Reynolds, na ordem de 400000 (u≥3,13m/s), o modelo

de turbulência SST deve ser combinado com um modelo de transição chamado de γ-θ. Este modelo

de transição é baseado em duas equações de transporte. Uma delas, é de intermitência, e a outra do

critério de início da transição em termos do número de Reynolds da espessura do momento, Reδ*,

definido pela equação 6.

uRe

*

* (6)

onde a espessura do momento, δ*, é o deslocamento que a superfície precisaria receber para que o

fluxo de momento linear resultante fosse o mesmo, na hipótese da velocidade do fluido ser nula,

calculada pela equação 7.

dyu

u

e

0

* 1 (7)

Conforme uma simulação é feita, o programa calcula diversas variáveis para cada volume de

controle e em cada passo de tempo. A Figura 8 mostra o histórico de tempo obtido através do

cálculo do programa das forças de arrasto (FD) e transversal (FL), respectivamente. Estas forças

foram obtidas de uma simulação com escoamento incidente de u=1,5m/s, que resulta em

Re=191580 e o tempo total de simulação foi de 15 segundos.

Através da figura, pode-se observar que as duas forças em questão são oscilatórias no tempo

e a amplitude da força oscilatória transversal é cerca de 20 vezes maior que a amplitude da força de

arrasto. Entretanto, em relação ao módulo, a força de arrasto é maior que a força transversal.

- 16 -

Figura 8: Histórico de tempo das forças de arrasto (FD) e transversal (FL), com Re=191580.

Para obter a frequência das forças de arrasto e transversal, foi feita a transformada rápida de

Fourier (Fast Fourier Transform, FFT), através do software MATLAB®, como mostrado na Figura

9.

Figura 9: Transformada de Fourier das forças de arrastro e transversal, para Re=191580.

A partir da figura, pode-se observar que os resultados foram obtidos de acordo com as

afirmações de Bishop e Hassan (1964), ou seja, a frequência da força de arrasto é duas vezes maior

Frequência (Hz)

0

0.01

0 2 4 6 8 10

0

0.2

0 2 4 6 8 10 Frequência (Hz)

FFT da Força Transversal (N.s)

FFT da Força de Arrasto (N.s)

- 17 -

que a frequência da força transversal. A freqüência da força transversal está relacionada com a

freqüência de desprendimento de vórtices.

Os resultados obtidos para diferentes números de Reynolds nas simulações de escoamento

externo ao redor de uma seção circular estacionária estão mostrados na Tabela 2.

Tabela 2: Resultados obtidos na simulação numérica para seção circular estacionária.

u (m/s) Re FD (N) CD FL (N) CL fs (Hz) St Turbulência

6,26 800000 4,70 0,37 2,06 0,16 15,61 0,28 SST c/ γ-θ

3,91 500000 3,10 0,62 0,98 0,20 9,78 0,28 SST c/ γ-θ

3,13 400000 1,80 0,57 0,64 0,20 7,81 0,28 SST c/ γ-θ

2,00 255440 0,88 0,68 0,52 0,40 4,29 0,24 SST

1,57 200000 0,56 0,70 0,33 0,41 3,31 0,24 SST

1,50 191580 0,52 0,71 0,30 0,41 3,17 0,24 SST

1,00 127720 0,25 0,77 0,17 0,54 2,08 0,24 SST

0,50 63860 0,08 1,01 0,09 1,06 1,02 0,23 SST

0,16 20000 0,01 1,37 0,01 1,53 0,31 0,22 SST

0,06 8000 0,00 1,88 0,00 1,77 0,13 0,24 Laminar

0,02 2000 0,00 1,71 0,00 1,80 0,04 0,25 Laminar

De acordo com Shapiro (1961), a força de arrasto provocada pelo escoamento de fluido ao

redor de corpos com diferentes formas geométricas é proporcional ao quadrado da velocidade,

conforme observado nos resultados mostrados na Tabela 2.

O coeficiente de arrasto (CD) foi calculado para cada um dos casos simulados e o resultado

foi comparado com a literatura, conforme mostra a Figura 10.

Figura 10: Coeficiente de arrasto (CD) obtido das simulações em comparação com a literatura

(Fox et al, 2006).

10-1

100

101

102

10-1 100 101 102 103 104 105 106

Coeficiente de Arrasto(CD)

Número de Reynolds (Re)

Resultados da Simulação

- 18 -

Através da figura é possível observar que o coeficiente de arrasto diminui com o aumento do

número de Reynolds. Na região compreendida de número de Reynolds entre 105

e 106, essa

diminuição é mais acentuada devido à crise do arrasto. Em analogia com o estudo de Aguiar e

Rubine (2005), que é feito para uma esfera, pode-se interpretar que para valores de Reynolds

maiores de 20 há separação da camada limite, gerando uma esteira de vórtices. Esta separação

diminui significativamente a pressão à jusante do cilindro e a diferença das pressões à montante e à

jusante passam a dominar o arrasto. A crise do arrasto ocorre quando a camada limite torna-se

turbulenta, pois a turbulência faz com que a camada resista melhor à tendência de separação e o

ponto de descolamento da camada limite move-se para a parte mais posterior do cilindro,

diminuindo a área da esteira. Isto reduz a área do cilindro submetida a baixas pressões e causa uma

diminuição da resistência do fluido, ou seja, da força de arrasto. Este decaimento brusco de CD não

é evidente nas simulações como observado nos resultados experimentais da literatura, em geral.

Entretanto, a diminuição deste coeficiente nos valores do número de Re próximos a esta região é

bastante notável.

O coeficiente de força transversal (CL) também foi calculado para cada um dos casos

simulados e o resultado foi comparado com a literatura, conforme mostra a Figura 11Figura 10.

Figura 11: Coeficiente de força transversal (CL) obtido das simulações em comparação com a

literatura (Pantazoupoulos, 1994).

Pode-se perceber que os valores de pico do coeficiente de força transversal, calculados

através dos dados obtidos da simulação, se ajustam aos valores de pico da literatura, que

consideram um cilindro estacionário e com baixa intensidade de turbulência de escoamento e

rugosidade de superfície. O coeficiente transversal, assim como o de arrasto, também diminui com

Número de Reynolds (Re)

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1 ,2

1,4

10 2 10 3 10 4 10 5 10 6 10 7

amplitude rms

amplitude média amplitude de pico simulação atual

áreas sombreadas em rms

1,80 1,77 1,53

Coef

icie

nte

Tra

nsv

ersa

l (C

L)

- 19 -

o aumento do número de Reynolds. Também apresenta uma queda mais acentuada em valores

próximos a Re=105.

O valor do número de Strouhal (St) foi calculado de acordo com a freqüência da força

transversal (FL), e está comparado com valores obtidos da literatura na Figura 12.

Figura 12: Número de Strohal (St) obtido das simulações em comparação com a literatura

(Roshko, 1961).

É possível perceber que os dados obtidos para St nas simulações se encontram próximos dos

dados experimentais obtidos da literatura na faixa de Re entre 104 e 10

6. Conforme os resultados da

literatura, o número de Strouhal para valores de Re próximos de 106, apresenta um leve acréscimo,

concordando com os resultados obtidos.

6.3 Simulação de escoamento ao redor de uma seção circular com movimento forçado

A consideração de seção circular estacionária é utilizada para fins de simplificação e

validação dos resultados com a literatura. Uma vez feita a validação, a realização de simulações

considerando uma seção circular e com movimento aproxima o caso com os aspectos reais.

De acordo com Iwan e Blevins (1974) apud Pantazoupoulus (1994), não tem nenhuma

distinção nos fundamentos de mecânica de fluidos entre um cilindro com movimento forçado e um

cilindro movimentado elasticamente (considerando o cilindro preso por molas), se assumir que a

força entre o cilindro e o fluido depende apenas da média ponderada da velocidade e da aceleração

do fluido relativa ao cilindro. Segundo Stansby (1976) apud Pantazoupoulus (1994), para investigar

a relação entre a freqüência de desprendimento de vórtices, a freqüência de oscilação do cilindro e a

amplitude de oscilação, é melhor movimentar o cilindro mecanicamente. Neste trabalho o

movimento é forçado, apenas na direção transversal, segundo a equação 8:

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

10 4

10 5

10 6

10 7

Ribner & Etkin

Relf & Simmons

Delany & Sorensen

Roshko

Resultados da simulação

Número de Reynolds (Re)

mer

o d

e S

trou

hal

(St)

- 20 -

)2(sen tfAmov e (8)

Na equação 8, A é a amplitude e fe é a freqüência de oscilação do movimento. A Figura 13

mostra o esquema do movimento forçado da seção transversal circular.

Figura 13: Esquema para o movimento forçado da seção circular na direção

transversal.

A malha utilizada é a mesma utilizada nas simulações considerando a seção estacionária. As

simulações com a seção móvel foram feitas através da deformação da malha, primeiramente

considerando o número de Reynolds fixo em Re=191580, mantendo a velocidade de escoamento

em u=1,5m/s, e a amplitude do movimento também fixa em A=0,1D=0,0114m, realizando

simulações numa determinada faixa de freqüências de movimento.

Após esta bateria de simulações, a amplitude foi alterada para A=0,15D=0,0171m, e as

simulações foram realizadas considerando o mesmo Re=191580 e a mesma faixa de freqüências.

Finalmente, o número de Reynolds foi alterado para Re=63860, alterando a velocidade do

escoamento para u=0,5m/s, e as simulações foram realizadas para apenas uma amplitude de

movimento A=0,1D e a mesma faixa de freqüências simuladas anteriormente.

Dessa maneira, é possível observar como o número de Reynolds, a amplitude e a freqüência

do movimento influenciam no coeficiente de força transversal CL e, conseqüentemente, na força

transversal FL, responsável pela Vibração Induzida por Vórtices.

Para uma seção estacionária, com Re=191580, a freqüência de desprendimento de vórtices

(fs) é de 3,17Hz, como já observado pela Figura 9. Com a amplitude do movimento constante em

A=0,1D=0,0114m, a freqüência de oscilação foi variada em diversos valores desde abaixo de fs até

acima deste valor. As Figura 14 e Figura 15 mostram o resultado obtido do histórico de tempo das

forças de arrasto e transversal de duas simulações com o mesmo número de Reynolds e a mesma

amplitude de movimento (A=0,0114m), distinguindo-se nas freqüências de oscilação, que

encontram-se, respectivamente, abaixo e acima da freqüência de desprendimento de vórtices de uma

seção estacionária (fs).

A

D

velocidade do

escoamento, u y

x

mov

- 21 -

Figura 14: Histórico de tempo das forças de arrasto e transversal, para uma velocidade de

correnteza de u=1,5m/s e movimento forçado de A=0,0114m e fe=2Hz.

Figura 15: Histórico de tempo das forças de arrasto e transversal, para uma velocidade de

correnteza de u=1,5m/s e movimento forçado de A=0,0114m e fe=6Hz.

Através dos resultados obtidos, pode-se observar que a média da força de arrasto está muito

próxima nos dois casos mostrados nas Figura 14 e Figura 15, e também nos outros casos simulados,

para diferentes freqüências de oscilação. Por outro lado, a amplitude máxima da força transversal,

através da qual é calculado o coeficiente CL, apresentou grandes variações. A força transversal, em

geral, apresentou-se composta de uma superposição de duas componentes senoidais com diferentes

amplitudes e freqüências.

Para aprofundar o estudo na força transversal, foi realizada a transformada de Fourier (Fast

Fourier Transform, FFT) destas forças para os dois casos mostrados nas Figura 14 e Figura 15. Os

resultados da FFT estão mostrados na Figura 16.

0

0,51

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (s)

Força de Arrasto (N)

-1,5

0

1,5

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (s)

Força Transversal (N)

-0,020

0,02

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (s)

Movimento (m)

0

0,51

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (s)

Força de Arrasto (N)

-1,5

0

1,5

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (s)

Força Transversal (N)

-0,020

0,02

0 1 2 3 4 5 6 7Tempo (s)

Movimento (m)

0

0,5

1

0 1 2 3 4

5 6 7 Tempo (s)

Força de Arrasto (N)

-1,5

0

1,5

1 2 3 4 5 6 7

Força Transversal (N)

-0,02

0

0,02

0 1 2 3 4 5 6 7 Tempo

(s)

Movimento (m)

Tempo (s)

- 22 -

(a) (b)

Figura 16: FFT da força transversal (FL), para uma velocidade de correnteza de u=1,5m/s e

movimento forçado de A=0,0114m e (a) fe=2Hz e (b) fe=6Hz.

No resultado obtido, pode-se constatar que a força transversal apresenta duas freqüências, a

qual uma corresponde à freqüência do movimento forçado (fe) e a outra à freqüência de

desprendimento de vórtices para uma condição de seção estacionária (fs=3,17Hz). Quando estas

duas freqüências têm valores próximos entre si, a força transversal apresenta apenas uma

freqüência.

Ainda através da Figura 16: FFT da força transversal (FL), para uma velocidade de

correnteza de u=1,5m/s e movimento forçado de A=0,0114m e (a) fe=2Hz e (b) fe=6Hz. pode-se

observar que quando fe é menor que fs, a menor amplitude de pico está localizada na freqüência do

movimento forçado, fe. Por outro lado, quando fe é maior que fs, a menor amplitude de pico passa a

ser correspondente a freqüência de desprendimento de vórtices para uma condição estacionaria, fs.

A Figura 17 mostra a variação dos coeficientes de força transversal, calculados a partir da

amplitude de pico da força transversal (FL), retirada de seu histórico de tempo, desconsiderando-se

a parte transiente inicial. Os coeficientes CL variam em função da razão entre as freqüências de

movimento forçado e de desprendimento de vórtices na condição de seção estacionária. A variação

dos coeficientes CL em função desta razão estão apresentados para duas diferentes amplitudes de

movimento forçado, mantido um Re fixo.

0

0.2

0.4

0.6

0 2 4 6 Frequência (Hz)

FF

T d

e F

L (

N.s

)

0

0.2

0.4

0.6

0 2 4 6

FF

T d

e F

L (

N.s

)

Frequência (Hz)

- 23 -

Figura 17: Coeficiente de força transversal (CL) em função da razão fe/fs, para duas diferentes

amplitudes de movimentos e Re=191580.

Para uma seção na condição estacionária, o coeficiente de força transversal é igual a 0,41,

conforme mostra a Tabela 2: Resultados obtidos na simulação numérica para seção circular

estacionária. Valores próximo a este são obtidos para as simulações cuja freqüência de movimento

forçado é baixa e o valor de CL é aumentado conforme a razão fe/fs aumenta. Portanto, para razões

fe/fs abaixo de 1, o valor de CL é baixo. Quando a razão fe/fs aproxima da unidade, há um súbito

aumento de CL, que continua a crescer cada vez mais para razões fe/fs maiores que 1.

O aumento repentino do coeficiente de força transversal nas regiões de fe/fs próximas a

unidade também é observado no trabalho de Carberry et al (2005). Como o número de Reynolds e a

razão A/D analisados no presente estudo são diferentes daqueles analisados no trabalho de Carberry

et al (2005), os resultados qualitativos não podem ser comparados, mas a tendência qualitativa de

variação do coeficiente de força transversal em relação a razão fe/fs é semelhante em ambos os

casos.

Através da Figura 11, observa-se que para números de Reynolds menores, o valor de CL

tende a aumentar, para escoamentos considerando a seção na condição estacionária. Para a seção

circular sob movimento forçado, os valores de CL também foram analisados em relação a freqüência

de movimento forçado. Mantendo constante a amplitude do movimento forçado em A=0,1D, o

coeficiente de força transversal também segue a mesma tendência de variação com a freqüência de

movimento forçado, se analisado diferentes números de Reynolds, como mostra a Figura 18.

1,0

2,0

3,0

0 0,5 1,0 1,5 2,0 fe/fs

A/D=0.10

A/D=0.15

CL

- 24 -

Figura 18: Coeficiente de força transversal (CL) em função da razão fe/fs, para dois diferentes

números de Reynolds e A/D=0,1.

Através dos dados coletados, pode-se observar que o coeficiente de força transversal (CL)

varia de maneira similar com a razão de frequencias fe/fs. desse modo, mantendo-se fixo um número

de Reynolds e uma amplitude de movimento forçado, o CL sempre apresentou um valor

praticamente constante e próximo ao valor de CL obtido nas simulações considerando a seção

estacionária para razões fe/fs baixas. Quando fe/fs, ao valor de CL dá um salto, independente do

número de Reynolds ou amplitude de movimento forçado, e a partir daí continua a crescer com o

aumento da razão fe/fs.

Mantendo a amplitude e frequência de movimento forçado fixa, o CL aumentou com a

diminuição do número de Reynolds, assim como aconteceu nas simulações em que foram

consideradas a seção estacionária.

1,0

2,0

3,0

0 0,5 1,0 1,5 2,0

fe/fs

CL

Re=63860

Re=191580

- 25 -

7. CONCLUSÕES

Simulações numéricas de escoamento externo ao redor de uma seção circular foram

realizadas para uma faixa do número de Reynolds entre 103

até 106. Considerando a seção circular

na condição estacionária, em geral, os coeficientes hidrodinâmicos obtidos pela simulação numérica

apresentaram-se coerentes com os dados disponíveis na literatura.

Quando colocado um movimento forçado na direção transversal da seção, ainda exposto a

um escoamento de correnteza uniforme incidente, com um número de Reynolds relativamente alto e

com baixa amplitude de movimento de oscilação da seção, a força transversal ao escoamento

incidente oscila com duas frequências. Uma delas corresponde à freqüência do movimento forçado

(fe), e a outra à freqüência de desprendimento de vórtices para uma seção estacionária (fs). Quando o

movimento apresenta a mesma freqüência de desprendimento dos vórtices (“lock-in”), a força

transversal passa a oscilar com apenas uma freqüência e com amplitude bem elevada.

Analisando o coeficiente de força transversal CL em função da razão fe/fs, pode-se observar

um aumento diretamente proporcional. Para baixas razões fe/fs, este aumento é praticamente

despercebido, porém, quando a razão atinge a unidade, o coeficiente CL apresenta um aumento

brusco em seu valor, seguindo tendência apresentada também na literatura. Finalmente, para a

região de razão fe/fs maiores do que a unidade, o coeficiente CL tende também a aumentar, numa

taxa relativamente alta, com o aumento desta razão.

Comparando duas amplitudes de movimento forçado, mantendo-se o mesmo número de

Reynolds e a mesma frequencia de movimento forçado, pode-se observar que o coeficiente de força

transversal calculado foi maior para o caso de amplitude de movimento forçado maior.

Além disso, comparando-se os números de Reynolds, mantendo-se a mesma amplitude e

frequência de movimento forçado, observou-se que o coeficiente de força transversal aumentou

com a diminuição do número de Reynolds, assim como acontece quando a seção é considerada

estacionária.

- 26 -

8. REFERÊNCIAS

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Ensino de Física. Vol. 26, n.4, p 297-308, 2004.

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in a flowing fluid”, Phil. Trans. Royal Society, London, A 277, 51-75, 1964.

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Cylinder: Forces and Wake Modes. Journal of Fluid Mechanics, vol. 538, United Kingdom, pp.

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Livros Técnicos e Científicos.

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de Mestrado, 2006.

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number”. J. Fluid Mech. 10(3) 345-356, 1961.

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Vortex Induced Vibration Analysis of Marine Risers In Projects Marine 2005”, 2005.

[11] SUMER, B. M., FREDSOE, J. “Hydrodynamics around Cylindrical Structures”, World

Scientific, Singapore, 1997.

[12] WENDT, J. F. (Ed.), “Computational Fluid Dynamics: An Introduction”, 332p, Springer-

Verlag, 3rd

Ed., Berlin, 2009.