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II Colóquio Internacional de Mídia e Discurso na Amazônia 2015. Caderno de Resumo. Apresentação do trabalho: A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO ATRÁVES DO DISCURSO NO CONTO DORES FANTASMAS DE DANIEL DA ROCHA LEITE. UFPA-Belém - Nov/2015

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Page 1: Simpósio 9 poeticidades
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BELÉM: TRÊS OLHARES E UM LUGAR EM TRANSFORMAÇÃO

Luís Heleno Montoril del Castilo (UFPA)

[email protected]

A evolução de uma cidade gira em torno de alguns fatores que a condicionam. São eles a manufaturação de matérias-primas (industrialização) e sua comercialização. É sintomático que os grandes aglomerados humanos nas cidades foram e são condicionados por uma efervescente economia além do aprimoramento técnico necessário para suprir as carências provenientes do crescimento urbano sejam elas agrícolas, educacionais, espaciais, de transporte para deslocamento, construção em larga escala, como, por exemplo, edifícios públicos, muralhas da cidade e sistemas de irrigação etc. As primeiras cidades surgidas por volta de 3.500 a. C., no vale compreendido pelo Tigre e o Eufrates tiveram estas condições para sua origem e evolução, dentro de uma perspectiva da sua época estas primeiras cidades provavelmente tinham seu “teor de modernidade”. Desta maneira, as bases para a evolução urbana das cidades e de seu desenvolvimento são sua evolução tecnológica e sua evolução da organização social. Na história da evolução urbana o progresso tecnológico surge como o grande propulsor para expansão da cidade, no entanto, isto se torna viável a partir de uma organização social que o permite. Diante deste condicionamento para o crescimento urbano e evolução das chamadas “cidades modernas” quais seriam os elementos caracterizadores da cidade de Belém do ciclo da borracha? Os "clarões" modernos de Belém do Pará em fins do século XIX e início do XX produzem um etos cultural de modernidade em seu aspecto mais visível na paisagem arquitetônica, urbana e humana. Quem a representou no momento mesmo de sua transformação. Quem a representou no momento mesmo de seu acontecimento? O presente trabalho procura ler três olhares que refletem o espaço amazônico em transformação nesse período de ascensão econômica e mudança vertiginosa de Belém, no chamado Ciclo da Borracha: os poetas de um certo romantismo sertanista, os versos de um poema popular “A Praça da República” e a lenda do Boto. Bem como identifica essa cidade nas suas ruínas da Belém do Grão-Pará atual.

Palavras-chave: Belém; Literatura; Espaço; Modernidade; Cidade.

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“AH EU EM BELÉM, AH ELA EM BELÉM”: A CIDADE DE ALFREDO E DE

LUCIANA NOS ROMANCES PRIMEIRA MANHÃ E PONTE DO GALO DE

DALCÍDIO JURANDIR.

Flávia Roberta Menezes de Souza (UFPA)

[email protected]

A proposta desse trabalho é apresentar uma relação entre a cidade de Belém -

representada na narrativa de Dalcídio Jurandir (9109-1979) como espaço

ficcional dos romances Primeira manhã (1967) e Ponte do galo (1971) – e o drama

dos personagens Alfredo e Luciana. Dalcídio Jurandir escreveu o conjunto da

obra Extremo Norte, composta por dez romances. Com exceção do romance

Marajó (1947), os outros nove narram a história do personagem Alfredo que

sonha em estudar e ter um futuro diferente dos meninos de sua idade em

Cachoeira, onde mora com a família, no Marajó. Seu desejo é realizado com o

apoio da mãe, D. Amélia que o leva para Belém, onde ele dá continuidade aos

seus estudos. Alfredo avança a tal ponto em seu objetivo, que chega ao Ginásio,

momento narrado no sexto livro do conjunto da obra, Primeira manhã. Nesse

romance, Alfredo já possui uma visão mais amadurecida sobre o que é a cidade,

pois sai do centro e passa a viver na periferia de Belém, acompanhando as

mudanças sociais dos espaços da cidade. A representação da cidade sofre

constantes alterações e releituras conforme Alfredo vai crescendo e ganhando

experiência como homem em formação. O ápice dessa fase de transição para

um Alfredo mais consciente dos problemas e dificuldades na cidade se dá

quando ele conhece a história de Luciana. Luciana é uma personagem que

nunca aparece de fato na história, pois encontra-se desaparecida, desde que

fugiu da casa da tia e caiu na errância pela cidade, sem mandar notícias. Desde

o momento em que essa história é mencionada no romance, o acontecimento

com Luciana já é passado. Assim como Alfredo, Luciana também morava no

Marajó e sonhava em viver na cidade, com o objetivo de prosseguir nos

estudos, mas foi impedida, ao sofrer represálias da família. Alfredo não sabe o

que fazer com essa história e sente o dever de procurar por essa moça. Suas

andanças por Belém e sua leitura sobre a periferia da cidade o ajudam a

descobrir o quanto essa busca por Luciana é uma busca por ele mesmo.

Palavras-chave: Primeira Manhã; Ponte Do Galo; Narrativa; Espaço Ficcional.

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BELÉM: ÚTERO DE AREIA, REPRESENTAÇÃO POÉTICA E AGÔNICA NA CIDADE DECRÉPITA DE DALCÍDIO JURANDIR

Paulo Nunes (UNAMA)

[email protected] A cidade principalmente a partir da modernidade baudelairiana, salvo engano, ganhou contornos temáticos incisivos na escrita de grandes autores da literatura universal. Belém que sob o ponto de vista da história da economia ocidental viveu seu fausto durante o ciclo da Borracha (Belém e Manaus, segundo Benedito Nunes e Milton Hatoum eram duas capitais importantes da América Latina no século XIX). Desde então, Belém que é a capital ocidental da Amazônia brasileira, se representa no discurso do consenso de do contrassenso através a melancolia do fausto como apontam autores como Aldrin Figueredo e Fábio de Castro, por exemplo. A literatura, combatendo o “senso comum”, refaz o papel da cidade de Belém e o faz com a maestria de grandes escritores nacionais e locai, dentre eles podemos apontar a partir do Modernismo literário, Raul Bopp, Mário de Andrade, Paes Loureiro, entre outros. No romance moderno, um autor destaca-se pela criação do romance de formação de Alfredo, protagonista de 8 das 10 obrasde temática amazônica; este autor é Dalcídio Jurandir (Ponta de Pedras, 1909/Rio de Janeiro, 1979). Na terceira etapa do “Ciclo do Extremo Norte”, ele publica Belém do Grão-Pará (1960). Ali, se percebe a representação, através, de sentimentos temáticos (espanto, encantamento e melancolia) que se espraiam num “tableaux” urbano, que tem Belém, capital do Pará nos anos 20 do século XX, como cenário ativo. A construção de Belém do Grão-Pará configura um processo de migração do Marajó a Belém, projeto de sonho de dona Amélia para seu filho Alfredo (o protagonista da história) que conta com a cumplicidade do narrador, num processo de efabulação fascinante do “Ciclo do Extremo Norte”, criado por Dalcídio Jurandir. Assim é que a cidade Belém ora como personagem, ora como cenário ativo com uma iluminação teórica em que se destacam Willi Bolle e Walter Benjamin, é pintada com cenas que demonstram a decadência socioeconômica e de carácter da classe média urbana da Amazônia. Ao representar os Alcântara (família que abriga o migrante Alfredo), Dalcídio Jurandir desnuda as hipocrisias e maledicências de uma sociedade corroída que tem a cidade como discurso de sacrifício, tensão e distensão, resultado de acontecimentos sórdidos de uma elite decrépita. Palavra-chave: Enunciação, Fisiognomia da Cidade, Ciclo do Extremo Norte, Dalcídio Jurandir.

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REATUALIZAÇÕES MÍTICAS EM ACAUÃ

Joyce Cristina Farias de Amorim (UNAMA) [email protected]

A mitologia no decorrer da história e da evolução do pensamento humano, não desapareceu, na verdade se transformou. E a relação entre mito e literatura, que é bastante antiga, surge principalmente a partir da necessidade que a sociedade possui, de um modo geral, de explicar, dentre outras coisas, suas origens. A literatura se apropria dos mitos, e esta se tornou o principal suporte por meio do qual eles se mantêm vivos, e nesse suporte, ou a partir dele, o mito pode ser compreendido como uma possibilidade de reflexão sobre inúmeras situações, inquietações e até relações em sociedade, e ainda se tornar passível de diferentes interpretações, ou seja, nem sempre estará mantida a ideia inicial do mito, o que pressupõem a sua reatualização, mas a sua essência não mudará. Certos traços que constituem o mito permanecem, explícita ou implicitamente, na ficção literária moderna. E partindo desse pressuposto, o presente estudo tomou como objeto de análise a narrativa Acauã do livro Contos Amazônicos do escritor naturalista Inglês de Sousa, com o intuito de apresentar de que maneira as características de personagens míticas da antiguidade clássica estão presentes no conto inglesiano. Por considerar a importância da obra e do seu respectivo autor para a literatura brasileira de expressão amazônica, além do conto especificamente, cujo se destaca no campo da literatura fantástica. Assim se constitui o interesse e a proposta deste que enveredará pelo universo do mítico, do maravilhoso e do fantástico, e que envolverá personagens da mitologia grega como a Medusa e a Fênix, além de outros dois, no caso, o personagem bíblico Moisés e outro que faz parte da história da antiguidade clássica, o lendário rei acádio, Sargão. O objetivo é realizar uma análise comparativa entre estes personagens míticos e as personagens da narrativa inglesiana. Esta proposta será embasada, principalmente, nos estudos sobre mito e literatura a partir dos arcabouços teóricos como Benjamin (1987), Turchi (2003), Eliade (1972), Brandão (1986), Campbell (1990), entre outros teóricos sobre a temática. Palavras-chave: Mito; Literatura; Fantástico; Narrativa; Acauã.

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A REPRESENTAÇÃO DO FEMININO ATRÁVES DO DISCURSO NO CONTO DORES FANTASMAS DE DANIEL DA ROCHA LEITE.

Priscila de Lima e Silva Dutra (UFPA - Campus Bragança) [email protected]

O trabalho proposto traz a análise discursiva e estrutural do conto Dores Fantasmas encontrado no livro Ave Eva(2012), do escritor paraense Daniel da Rocha Leite, premiado pela própria obra em 2011 pelo Instituto de Artes do Pará(IAP). Esta é apenas uma de suas obras riquíssimas e premiadas da literatura paraense que abordam o universo feminino. O conto traz a narração de uma prostituta, aonde o narrador revela seu interior conflituoso pelos discursos que a atravessam e a fazem (re)agir com seu silenciamento durante toda a narrativa. Ela tentará cumprir sua função, tentando deslocar seus pensamentos para fora de si, na hora em que está mantendo relações sexuais. Mas estas tentativas são falíveis, pois diversos discursos começam a atravessar na tentativa de não vivência o que está acontecendo, e outros mais vão surgindo, juntamente com as atitudes de seus clientes que a fazem (re)agir de diferentes maneiras. A pesquisa embasou-se em Orlandi(2009) aonde construiu-se a análise e interpretação desse feminino a partir da construção do discurso do narrador e da personagem no lugar social que este feminino está, que, também, condiciona o seu intradiscurso através dos interdiscurso que a permeiam. A mulher é a personagem principal, entretanto não há seu discurso direto dentro da narrativa, e entender-se-á por discurso da personagem feminina o que Franco Jr. (2003, p. 46) defini como monólogo interior: “ O monólogo interior também implica o diálogo de uma personagem consigo mesma, mas tal processo não se realiza sob a forma de uma solilóquio, e sim sob a forma de um processo metal no qual a personagem questiona a si própria numa determinada situação dramática.” A pesquisa não terá um viés feminista, apesar de utilização de Simone de Beauvoir para complementar a análise discursiva deste feminino, e o seu silenciamento pelos discursos que a atravessam, seja os da memória, sejam os das personagens que interagem com ela, causando lhe tais (re)ações. Como Dispositivo de Análise serão comparados aos discursos que encontramos disponíveis nas mídias de mulheres que são prostitutas. A análise descritiva do conto fundamentou-se, também, em Franco Jr.(id.), e através dele que concluirei com a interpretação da estrutura, e na interpretação minuciosa e combinativa desta estrutura, com a discursividade do conto que compõem uma pequena parte desse universo feminino que Daniel da Rocha Leite nos traz. Palavras-chave: Conto Paraense; Feminino; Discurso; Monólogo Interior; Estrutura.

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ANÁLISE INTERDISCURSIVA DA OBRA MACHADIANA DOM CASMURRO

Adriane Beatriz Lima de Souza (UFPA)

Randell Silva dos Santos (UFPA) Este trabalho contém uma análise interdiscursiva dos dois primeiros capítulos de uma das obras literárias pertencentes à chamada “trilogia realista”, de um dos maiores escritores da Literatura Brasileira Machado de Assis. Essa interdiscursividade configura-se no diálogo entre discursos e materializa-se – na obra – na intertextualidade, sendo um mecanismo de inserção de textos exteriores em relação ao texto em questão. Auxilia, primeiramente, na busca por informações novas e, assim, obtém-se uma compreensão mais apurada acerca da obra. A trama se passa no Rio de Janeiro, na época do Segundo Império, apresentando Bento Santiago como personagem principal, este por sua vez é um velho senhor que resolve escrever um livro, buscando recompor suas vivências existenciais, “atar as duas pontas da vida”, ou seja, unir relatos desde usa mocidade até os dias em que está escrevendo o livro, esse fenômeno é apresentado no primeiro capítulo nomeado “Do título”. Por conseguinte, no segundo capítulo intitulado “Do livro”, é possível perceber o foco deste trabalho: a interdiscursividade, aqui com a Grécia Antiga, ao mencionar imperadores como Júlio Cézar, Nero, Augusto, Massinissa. Também se observa a preocupação em fazer uma busca às características do período clássico e figuras antigas em pinturas americanas, propiciando ao leitor ambiente favorável para que fique a par do contexto histórico no qual a história está se desenvolvendo. Ainda, Machado faz uso da intertextualidade quando ressalva uma obra conhecida como Fausto, obra esta, pertencente a um escritor alemão, conhecido como Goethe (1749-1832). Com uma linguagem adornada, o autor trabalha em um jogo de ideias capaz de apresentar ao leitor, além da história em si, a necessidade de adquirir novas informações no âmbito do conhecimento e, até mesmo, das experiências já vivenciadas pelo leitor. Palavras-chave: Discurso. Diálogo. Intertextualidade.

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BELÉM, SINGULAR, PLURAL − UMA CIDADE FEITA DE PALAVRAS

Lívia Lopes Barbosa (UFPA) [email protected]

Tomando o devido empréstimo a Italo Calvino, toda cidade é imaginária, para além de seus contornos geográficos, seus monumentos e construções, seu traçado e paisagismo, das intervenções presentes em sua visualidade urbana, enfim, de sua fisicalidade. Para além mesmo de seus costumes e crenças, seus pequenos e grandes rituais coletivos, artefatos, etnias e formas materiais que contribuem para a sua identificação, outros elementos construtores emergem, impalpáveis, na criação de metrópoles ou vilarejos. Neste último caso, percebe-se a existência de uma (?) Belém interna a cada um que ali vive (u) ou que aí vem (veio), que se traduz inicialmente em percepções filtradas pelos sentidos e pelos sentimentos, matérias-primas da tessitura dos primeiros fios cognitivo-emocionais do que vai se tornar memória e história − história coletiva, história pessoal, história falada ou escrita, documental ou inventada −, novelo de impressões (que, como já denuncia o nome, ficarão gravadas, ainda que como rastros parciais, imperfeitos), participando no fornecimento de pistas-fibras que tecerão, adiante, “tapeçarias que são fotografias da impercebida terra visitada”, no dizer drummondiano. A Belém vista/percorrida torna-se, portanto, Beléns, cidade-plural percebida/imaginada por diversos “veres”, “sentires”, “viveres”, pluralidade que se dá não somente em função de ser a urbe tão vária quanto vários são os indivíduos que dela fazem algum tipo de registro, mas de um mesmo indivíduo poder percebê-la de modos diferentes, imerso que se encontra em contextos cambiantes que lhe alteram as feições da cidade e a natureza de suas repercussões mnésicas. Neste estudo, percorreremos algumas dessas Beléns, servindo-nos, como fios condutores, de manifestações literárias e paraliterárias: o poema, o conto, o diário de viagem, a canção popular, a crônica, de autores locais e não-locais, para que, a partir destes fragmentos de olhares diversos em que se mesclam o documental e o imaginário, o acontecido e o projetado, o descrito e o capturado pela memória, o afetivo e o cognitivo, possam ser identificados, nesses textos, alguns recursos estilísticos e estratégias sígnicas utilizados para a “montagem” desta cidade múltipla e parcialmente inventada, como parecem ser, aliás, todas as cidades, de maneiras distintas. Palavras-chave: Belém; canção; poema; conto; crônica.

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MEMÓRIA, IDENTIDADE E PATRIMÔNIO CULTURAL EM PARÁ, CAPITAL: BELÉM, DE HAROLDO MARANHÃO

Aiana Cristina Pantoja de Oliveira (UFPA) [email protected]

Perto de completar 400 anos, a cidade de Belém ocupa o centro das mais variadas discussões. Sob a perspectiva de reflexão sobre a capital paraense, o presente trabalho tem como objetivo analisar a obra Pará, Capital: Belém Memórias e Pessoas e Coisas e Loisas da Cidade, de Haroldo Maranhão. O livro reúne textos de diversos autores e gêneros como crônica, prosa literária e poesia. O escritor paraense edifica uma montagem com os textos, acrescentando para cada um destes um título de sua autoria, mantendo, contudo, a assinatura daqueles que os escreveram. A antologia, como é chamado o livro por Haroldo Maranhão, contempla questões sobre memória, identidade e patrimônio cultural. O estudo utiliza a obra As cidades invisíveis, de Ítalo Calvino, no intuito de abordar a cidade de Belém para além do conceito geográfico, entendendo-a como um espaço de existência e complexidades humanas. Os aspectos memorialísticos provindos da dinâmica de vida dos formadores da população belenense serão analisados segundo as teorias de Wander Melo Miranda e Walter Benjamin. A identidade também será um dos temas a ser tratado. As marcas identitárias da cidade, determinadas pela diversidade de olhares sobre seu espaço, serão discutidas a partir dos textos de Stuart Hall, evidenciando-se como estes pontos de vista influenciaram e determinaram as características e a história da capital paraense. No que se refere aos objetos culturais componentes da memória da cidade, serão utilizadas as análises críticas de Carlos A. C. Lemos e Carla Galvão de Souza, dedicadas respectivamente ao conceito e ampliação da concepção de patrimônio cultural. O estudo dos elementos elencados evidencia a colaboração da referida obra haroldiana como escritura colaboradora para a preservação e renovação da memória histórica e cultural da cidade. Pará, Capital: Belém favorece também o entendimento da identidade de Belém a partir da variedade de etnias que constituíram seu espaço urbano e revela a interação entre os aspectos material e imaterial de seu patrimônio cultural.

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VITRINA LÍQUIDA COM GENTE DENTRO: VIGIA E A ÁGUA NA POESIA DE JOSÉ ILDONE

Simone Carvalho Oliveira (UNAMA)

[email protected]

Este estudo versa sobre a experiência citadina que é evocada na obra poética Chão d’ água, do escritor José Ildone. Nela o poeta apresenta seres e ambientes de Vigia a partir de quadros vivenciais, o que confere uma certa honestidade aos seus escritos. Destaca especialmente o cenário ao redor das águas, com o qual a realidade do homem vigiense está intimamente imbricada. Não são evocados apenas realidades, sons, paisagens, mas, sobretudo, um estado de alma da cidade que é vislumbrada na obra. Neste sentido, pretende-se analisar como a cidade de Vigia, em sua intrínseca relação com a água, se inscreve na experiência artística, o que se torna extremamente relevante para compreendermos, num âmbito maior, a relação entre arte e cultura, ou seja, a arte que se constroi através de elementos contextuais em que a dimensão simbólica da cultura local pode ser auscultada através dos poemas. Estes devem sua grandeza ao fato de não se limitarem a um conjunto de experiências individuais, mas sim por extraírem delas o seu caráter universal. Por isso mesmo, a cidade que é evocada na obra é fruto da concepção do poeta, porém assentada num imaginário coletivo, compartilhada, assim, por um grupo maior. Valendo-nos de uma abordagem microscópica, ou seja, partindo de fatos particulares para tentar retirar deles temas mais abrangentes, almeja-se através dos poemas retratar os contornos da cidade que é tecida na obra, destacando-a nos seus pontos mais significativos. Esse pensamento, porém, não significa dizer, dentre outras coisas, que as imagens suscitadas pelos poemas são reflexos imediatos da realidade, mas sim que são construções simbólicas que se encontram atreladas à cultura do lugar. Desta maneira, tenciona-se observar como determinados elementos da cultura vigiense encontram-se presentes no discurso poético, buscando localizar nos poemas os sinais, as marcas que podem nos levar a uma compreensão da cidade que é plasmada na obra, procurando, deste modo, ouvir aquilo que o poeta teria desejado dizer em determinado momento.

Palavras-chave: Água; Cidade; Arte; Cultura; Poema.

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URBE DE ESPÓLIOS: O ESPAÇO URBANO EM HARMADA, DE JOÃO GILBERTO NOLL

Benedito de Jesus Serrão Rodrigues (UEPA-UFPA) [email protected]

“A cidade torna-se um complexo texto humano”, cujo método de conhecimento, de caráter político e cultural, funda a análise das experiências empíricas do sujeito social – experiências de sonhos, de necessidades, de desejos, de temores – consubstanciando, assim, o imaginário e a organização da própria cidade. Ela, meticulosamente, é o lócus íntimo da vida político-social, da qual a complexidade procura cartografar símbolos, memórias, desejos, identidades que, significativamente, representam tendências estéticas e filosóficas à condensação do espaço urbano (TEIXEIRA, 2007). Na base interna desse pensamento, a urbe é o espaço de “reflexão, experiências e conjeturas”. Em sentido sensitivo, fundamentando-se nas relações propriamente sociais, o espaço urbano fomenta sensações - de natureza física e/ou metafisica - que se despertam simultaneamente - cujo meio de explorá-las versa-se no anseio latente de regozijar-se, ainda que momentaneamente, em um espaço imbricado de agitação; a cidade refina os desejos, intensifica sensações de gozo, de pleno júbilo e/ou realização, pois nenhum desejo, cultivado nela, torna-se dilapidado. No entanto, “a fadiga que dá forma aos desejos toma dos desejos a sua forma, e você acha que está se divertindo em Anastácia quando não passa de seu escravo” (CALVINO, 1990). Nessa perspectiva, esta comunicação divide-se em duas partes; na primeira, centra-se o olhar sobre o espaço citadino de Harmada – cidade fictícia que evoca relações interpessoais estruturadas pelo fastio cultural de um sujeito itinerante - romance contemporâneo, de 1993, de João Gilberto Noll; no romance, a cidade configura-se como personagem, cuja projeção simbolicamente abarca acontecimentos fúteis, de natureza desprezível, múltiplas possibilidades de adaptação e, com isso, novas formas de comportamento e sociabilidade (BRANDÃO, 2005; CANDIDO, 1993; CALVINO, 1990; GOMES, 2008...); na segunda, nossa ótica assenta-se no sujeito itinerário nolliano, de identidade conflitiva, pois seus desejos íntimos tornam sua experiência anônima, a cidade tem o poder de torná-lo indefinido, isto é, com crise de identidade. (BRANDÃO, 2005, DUBAT, 2009; HALL, 1999...). Para tanto, conclui-se que, a cultura urbana torna-se premissa epistemológica que defini a noção de cidade e, não obstante, o conceito de identidade cultural Palavras-chave: Romance contemporâneo; Harmada; Espaço urbano; Personagem; Identidade cultural.

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PARAGOMINAS – TERRA DE CORDEIS

José Guilherme de Oliveira Castro – UNAMA [email protected]

Elaine Ferreira de Oliveira – UNAMA [email protected]

A Amazônia paraense apresenta várias expressões literárias, no campo da arte popular. As narrativas guardadas na memória do povo já foram elencadas pelos pesquisadores do IFNOPAP – Imaginário das Formas Narrativas Orais Populares na Amazônia Paraense, sendo objeto de estudo de dissertações de Mestrado e de teses de Doutorado. No entanto, além desses “causos”, existem outras manifestações populares, como é o caso da literatura de cordel. Esse gênero de poesia, no Pará, encontrou cultivo em muitas regiões, como na cidade de Paragominas, fundada na década de 70, por iniciativa de políticos goianos e mineiros. Quando a cidade estava em construção, mandaram buscar operários nordestinos, em maioria do Piauí e do Ceará, para trabalharem na construção das cidades e nos terrenos, onde seriam construídas as futuras fazendas. No meio desses operários, vinha sempre um trovador, um poeta violeiro, que recitava e cantava composições populares de sua autoria e de outros artistas. Esses cantadores trouxeram a técnica da poesia de cordel nordestina para a Amazônia e adaptaram-na aos temas regionais. Neste caso, existe uma nítida aproximação entre a entrada da poesia de cordel, em Paragominas, com a chegada do lirismo provençal, na literatura portuguesa, quando D. Dinis, o rei trovador, mandou buscar colonos, no sul da França e, no meio dos lavradores, vinham poetas que divulgaram o lirismo provençal, na Península Ibérica. Esse gênero de poesia floresceu de tal maneira, na cidade de Paragominas, que os trovadores fundaram uma associação que, promove, todos os anos, concurso para publicar os melhores trabalhos. Também. Uma outra característica dessa manifestação popular, é a presença de mulheres trovadoras, como Conceição Oliveira e Simone Mota. No que se refere aos gêneros cultivados, destaca-se o lírico (canções e romances) e o satírico (sátira pessoal e social). O fato é que a poesia de cordel é valorizada pela sociedade local, inclusive pelos fazendeiros, pois segundo declarações de Conceição Oliveira, os donos de fazenda sempre contratam para “deleite” dos seus convidados, em ocasiões de festas, em suas casas. Neste aspecto, esse fato também lembra os saraus, nas cortes medievais, quando o rei mantinha o trovador, com o objetivo de deleitar a nobreza. Palavras – Chave: Cordel, Trovador, Paragominas, Lirismo, Memória.

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O SUJEITO AMAZÔNICO A PARTIR DA OBRA DE AUGUSTE FRANÇOIS BIARD

Gabriella Barros (UNAMA) [email protected]

O presente artigo tem como objetivo analisar o indivíduo amazônico a partir da obra “Dois anos no Brasil” do pintor francês Auguste François Biard, que percorreu a Amazônia no século XIX. Procura-se com este estudo investigar a narrativa do viajante, o que há nela que se diferencia das demais, e analisar a forma que os indivíduos são retratados. Observar a frequência discursiva, constatando núcleos de conceitos formados pelo autor sobre estes indivíduos amazônicos, as concepções formuladas por este ao entrar em contato com o nativo. Através de tabelas foram feitas análises, nas quais se procurou visualizar o que o viajante discursa, sobre quem discursa e como discursa, fazendo assim uma trilha para encontrar a frequência dos conceitos usados, possibilitando entender quando eles são usados e para quem são direcionados. A partir desta tabela de síntese discursiva formulada, foi feita uma tabela de frequência discursiva, apontando os principais conceitos e os dividindo por etnia, para possibilitar o entendimento que determinado conceito se refere ao índio, ao negro, ao mulato, ou a todos em geral. O estudo procura analisar o discurso do viajante também pela vasta coleção de esboços existentes, feitos pelo próprio autor, que ilustram a narrativa, gerando também a análise imagética do homem amazônico, que foi feita a partir de uma tabela em que se analisa o conteúdo representado, a constância de características na maneira que é ilustrado determinado indivíduo. Formula-se uma analise combinada a partir destas tabelas, em que é explorando o lado do discurso e o imagético, sintetizados para uma compreensão vasta e total do que o autor propõe como sendo o homem amazônico do século XIX. Assimilar o estudo com base na proposta de Michel Foucault, por meio das análises da narrativa, no qual se busca identificar a construção da imagem do homem amazônico do século XIX, compreendido a partir da visão de Auguste François Biard. Palavras-chave: Viajantes; Amazônia; Discurso; Indivíduo; Narrativa.

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O ANTROPOCENTRISMO CIENTÍFICO DOS VIAJANTES: ANÁLISE NOS RELATOS DO CASAL AGASSIZ

Francisca Karina Torres dos Reis (UNAMA) [email protected]

O presente artigo visa explorar a forma como o casal americano Louis e

Elizabeth Agassiz enxergaram a Amazônia durante sua expedição pelo Brasil

no século XIX. Através dos relados deixados pelo casal no livro “Viagem pelo

Brasil”, busca-se analisar a forma como os dois descreveram suas vivências na

sociedade amazônica, além de analisar como o casal usou determinadas

correntes teóricas científicas como base de seus estudos para explorar a cultura

local. A escolha do casal tem como principal objetivo entender e analisar pontos

de como estas pessoas, ao realizarem uma viagem pelo Brasil, mas

precisamente pela Amazônia, conduziram, pensaram e expressaram seus

olhares nas paisagens naturais e humanas da região, e mesmo, entender como

era o olhar deles diante do outro, já que se encontravam em um país, uma

cultura e mesmo classes sociais diferentes. Nesse ponto, busca-se compreender

como estes observadores selecionaram, emolduraram e exploraram os

elementos que compõem a paisagem amazônica, partindo do princípio que o

casal norte-americano considerou a região e seus habitantes um verdadeiro

laboratório para suas pesquisas intelectuais, já que a expedição deu destaque

principalmente para as atividades científicas de Louis Agassiz, reforçando

estratégias de legitimação das teorias raciais e biogeográficas defendidas por

vários cientistas naquela época. Para o casal, a miscigenação no Brasil era um

dado difícil de solucionar, já que tomava as raças humanas como espécies

distintas, por isso a expedição tornou-se uma oportunidade para que eles

pudessem provar que suas teorias tinham bases verdadeiras, utilizando-se dos

problemas suscitados durante aquela viagem, como uma forma de mostrar que

essas teorias não estavam ligadas apenas a problemas encontrados em

determinados locais. Portando, todos os relatos aqui discutidos são impressões

de um casal de cientistas, que, atravessado pela cultura de sua época, tangem

um olhar e um discurso diante de uma nova cultura, e que buscam, através

dessa expedição, meios para comprovar suas teorias.

Palavras-chave: Casal Agassiz; Expedição; Amazônia; Antropocentrismo; Creacionismo.

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ARTES POR “PENAS” ADULTERINAS: MAL DITAS POÉTICAS DAS BORDAS DE BELÉM

Hiran de Moura Possas UNIFESSPA

[email protected] Flanar pelas bordas de Belém - refiro-me aos bares, às praças, aos cemitérios e aos rios-ruas, dentre outros interstícios da criação - pode significar um encontro casual marcado com fingidores cujos barros-signos, em divórcio algumas vezes conflituosos com os seus sentidos habituais, procuram compulsiva e insistentemente germinar processos criatórios em outros campos semânticos. Essa argúcia devoradora-discursiva pode ser herdeira de um querer antropofágico desde sempre Latino-Americano de aglomerados de párias, como A Malta de Poetas Folhas & Ervas; Sociedade dos Poetas Vivos Cirandeiros das Palavras e o Instituto Cultural do Extremo Norte. Dessas experiências subversivas, recolho vozes de reuniões entusiastas, performances, cursos, apresentações musicais e teatrais, declamações e publicações de livros. As “traduções” para esses aglomerados de artistas “marginais” são babélicas, mas sem o efeito “do vinho barato” para liberação da “carne cedida às afiadas lâminas da existência”, há um coral de vozes em desacordos. Mesmo semioticamente, estéril no exercício de alguns sentidos, vi e ouvi professores, cientistas, militares, açougueiros, arte-educadores, animadores de festas infantis, filhos de boto, filósofos e compositores. Desenhando e, ao mesmo tempo, acompanhando os reencaixes desse microuniverso da criação, vi na gambiarra uma expressão mais próxima para traduzir a Arte de fingidores ou de malabaristas culturais, àqueles que administram “três objetos num território para apenas dois” ou invenção de solução improvisada para um problema. A gambiarra está nos malabares dos sinais de trânsito, nos poetas que se arriscam, nas pesquisas sem certezas, nas esquinas, nas praças e nas feiras das Amazônias. Artistas da vida procuram dilatar territórios da obviedade: onde antes cabiam dois, caberiam, três, quatro ou mil. Longe de compreensões, explicações e revelações, a pesquisa mergulha-inventando elos com esses territórios existenciais, gesto-escutando cartógrafos-antropófagos atentos aos movimentos dos desejos e das “afectações” de velhos/novos universos simbólicos. Palavras-chave: Malta de Poetas Folhas & Ervas; Sociedade dos Poetas Vivos Cirandeiros das Palavras; Instituto Cultural do Extremo Norte; Bordas; Devoração.