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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CONSERVAÇÃO E MANEJO DE RECURSOS NATURAIS – NÍVEL MESTRADO SIMONE CZARNOBAI DIETA E USO DE HABITATS POR MAMÍFEROS CARNÍVOROS EM MOSAICO FORMADO POR REMANESCENTES DE FLORESTA ATLÂNTICA E PLANTIOS FLORESTAIS CASCAVEL-PR Dezembro/2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU EM CONSERVAÇÃO E

MANEJO DE RECURSOS NATURAIS – NÍVEL MESTRADO

SIMONE CZARNOBAI

DIETA E USO DE HABITATS POR MAMÍFEROS CARNÍVOROS EM MOSAICO

FORMADO POR REMANESCENTES DE FLORESTA ATLÂNTICA E PLANTIOS

FLORESTAIS

CASCAVEL-PR

Dezembro/2012

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SIMONE CZARNOBAI

DIETA E USO DE HABITATS POR MAMÍFEROS CARNÍVOROS EM MOSAICO

FORMADO POR REMANESCENTES DE FLORESTA ATLÂNTICA E PLANTIOS

FLORESTAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Conservação e Manejo de Recursos Naturais – Nível Mestrado, do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Conservação e Manejo de Recursos Naturais.

Área de Concentração: Conservação e Manejo

de Recursos Naturais

CASCAVEL-PR

Dezembro/2012

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Catalogação na Publicação (CIP) Sistema de Bibliotecas - UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão

Czarnobai, Simone

C998 Dieta e uso de habitats por mamíferos carnívoros em mosaico formado por remanescentes de floresta atlântica e plantios florestais. / Simone Czarnobai. – Cascavel, 2012.

48f.

Orientador: Profª. Drª. Sandra Bos Mikich. Co-orientador: Prof. Dr. José Flávio Cândido Júnior. Dissertação(Mestrado) – Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – Campus de Cascavel.

1. Mamíferos carnívoros – Dieta. 2. Mammalia, Carnivora. 3. Ecossistemas. 4. Florestas - Plantio. I. Mikich, Sandra Bos. II. Cândido Júnior, José Flávio. III. Título.

CDD – 599.74442 574.5

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A todos que torceram por mim e estiveram ao meu lado,

incondicionalmente, nessa caminhada,

em especial à minha mãe,

Dedico.

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A todos que torceram por mim e estiveram ao meu lado,

incondicionalmente, nessa caminhada,

em especial à minha mãe,

Dedico.

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"Para realizar grandes conquistas, devemos não apenas agir, mas também

sonhar; não apenas planejar, mas também acreditar."

Anatole France

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus e ao meu anjo da guarda por sempre iluminar meu

caminho.

Ao Programa de Pós-Graduação em Conservação e Manejo de Recursos

Naturais por viabilizar esta conquista.

À CAPES pelo incentivo à pesquisa e concessão da bolsa.

À Celulose Irani e Embrapa Florestas pelo financiamento do projeto e apoio

logístico.

À Dra Sandra Bos Mikich, pela contribuição para minha formação acadêmica,

pela orientação e por ter me proporcionado trabalhar com os carnívoros. Muito

obrigada.

Ao meu Co-orientador, professor Dr. José Flávio Cândido Júnior pelas

experiências e conhecimentos compartilhados, pelo incentivo, por acreditar em mim

e no meu trabalho e, principalmente, pelas suas sábias palavras. Muito obrigada.

À professora Dra Norma Catarina Bueno, Coordenadora do Programa, pela

sua dedicação, por estar sempre atenta aos discentes e especialmente pelo

exemplo de humanismo.

A todos os professores do Programa pelos ensinamentos, experiências e

outras contribuições à minha formação.

Às assistentes do PPGRN, Antônia Telles e Márcia Cruz por sempre

buscarem soluções práticas para nossos problemas quase diários.

Ao professor MSc Sérgio Bazílio pelas experiências compartilhadas, por me

ensinar triar as amostras fecais e preparar as lâminas, pelas dicas valiosas durante

as longas conversas e pelo constante incentivo.

À Dra Juliana Quadros pela identificação das amostras fecais, pela

experiência compartilhada e por me receber em sua casa.

Aos que participaram das coletas de campo antes mesmo de eu iniciar este

trabalho, Aline D'al Maso, Carolina R. C. Müller e principalmente Dieter Liebsch pelo

apoio em campo e por todas as contribuições para este trabalho.

À Ana M. Macagnan e Patrícia C. B. Souza pelo auxílio no laboratório

durante a preparação das lâminas e por me proporcionar um Natal Feliz!

À Adriana Juraszek, pelo auxílio na triagem das amostras fecais.

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Ao Juliano, da Celulose Irani, por fornecer os mapas da área de estudo.

À MSc Luziane Franciscon pelas análises estatísticas.

À Dra Ana T. B. Guimarães pelo auxílio estatístico e pelas palavras de

incentivo.

Ao professor Dr. Bartolomeu Tavares pelo espaço concedido para realizar o

Estágio de Docência, pelo incentivo e pelas dicas.

Às amizades que construí neste período, por compartilhar alegrias e

angústias, muito importantes para suportar a pressão, Daiane Pilatti, Meri Oliveira,

Olga Marluce, Maria Angélica, Luiz Berticelli, Darlene Gris, Victor Krepschi e Taís

Marcon. Muito obrigada pelo carinho!

Ao pessoal do Laboratório pela parceria e companheirismo, em especial aos

lontramaníacos, Lontra Man, Tocha Man e Gabi pelos momentos de descontração

no Gonzales Dias e no Maluco Safari.

Aos funcionários do Museu de História Natural Capão da Imbuia pela

calorosa recepção e fornecimento dos pelos para confecção da coleção de

referência.

À Michele Dias por me ensinar triar as amostras fecais.

Aos colegas do Mestrado por esses dois anos de convivência trocando

experiências, em especial à Marga pela ajuda com o fotomicroscópio.

Aos meus amigos conterrâneos de Francisco Beltrão pelo apoio e incentivo.

E finalmente, aos meus familiares, Edson, meu irmão parceiro e Vanilde,

minha cunhada, pelo incentivo; Daniel, meu sobrinho lindo, que me traz muitas

alegrias; minhas avós, Vanda e Maria do Carmo, pelo carinho e pelas orações e,

principalmente, aos meus pais Sonia e Rafael pelo apoio incondicional e incentivo

nesta e em todas as etapas da minha vida e em especial, ao Antony pelo apoio,

incentivo, compreensão e companheirismo, pela ajuda no laboratório e por estar

sempre presente. Minha gratidão eterna a essas pessoas especiais!!!

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO GERAL...............................................................................10

2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................12

3. CAPÍTULO 1: Dieta de carnívoros (Mammalia, Carnivora) neotropicais em

mosaico florestal no sul do Brasil...........................................................................14

Resumo..............................................................................................................14

Abstract..............................................................................................................15

Introdução.........................................................................................................15

Material e Métodos...........................................................................................16

Resultados........................................................................................................18

Discussão.........................................................................................................20

Agradecimentos................................................................................................24

Referências Bibliográficas................................................................................24

4. CAPÍTULO 2: Uso do habitat por carnívoros (Mammalia, Carnivora) em

mosaico formado por remanescentes de Floresta Atlântica e plantios

florestais................................................................................................................31

Resumo...........................................................................................................31

Abstract...........................................................................................................32

Introdução.......................................................................................................33

Material e Métodos..........................................................................................34

Resultados......................................................................................................38

Discussão........................................................................................................40

Conclusão.......................................................................................................43

Agradecimentos..............................................................................................43

Referências Bibliográficas..............................................................................43

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INTRODUÇÃO GERAL

O Brasil responde por grande parte da biodiversidade mundial

(MITTERMEIER et al. 1998). No cenário nacional, destaca-se o bioma Mata

Atlântica, que abriga uma elevada diversidade biológica e uma alta taxa de

endemismo (MMA; IBAMA, 2010), apesar de sua área original ter sido

drasticamente reduzida e fragmentada (RIBEIRO et al. 2009).

A exploração predatória de florestas nativas culminou com o aumento da

demanda por madeira e derivados, levando à expansão das áreas de plantios de

espécies exóticas, como Pinus spp. (BAPTISTA; RUDEL, 2006). Nesse particular,

é importante destacar o crescimento acelerado dos plantios florestais no mundo

que, nos últimos vinte anos, foi de 32,48% (FAO, 2011). Da mesma forma, entre

2005 e 2011, o Brasil aumentou sua produção em 18,6% e atualmente ocupa o

sétimo lugar no ranking mundial de florestas plantadas (ABRAF, 2012).

Embora os plantios florestais possam, de certa forma, aliviar a pressão

sobre os remanescentes de florestas nativas (BROCKERHOFF et al. 2008), junto

com o avanço da fronteira agrícola e da urbanização têm promovido a perda e a

fragmentação do habitat. A paisagem natural tem sido convertida em verdadeiros

mosaicos, nos quais pequenos fragmentos de floresta nativa ficam circundados

por uma matriz diferente da original (FAHRIG, 2003). Algumas espécies animais

são mais sensíveis aos efeitos dessas alterações do ambiente, podendo refletir

em aspectos da sua ecologia ou, em casos mais críticos, levar à sua extinção

(CROOKS, 2002).

Os carnívoros são animais topo de cadeia ocupando, portanto, um lugar

estratégico na manutenção do equilíbrio dos ecossistemas dos quais fazem parte

(TERBORGH et al. 2001). Esses animais ocorrem naturalmente em baixas

densidades e, geralmente, necessitam de grandes áreas para suprir suas

necessidades energéticas, tornando-se mais vulneráveis à perda e fragmentação

de seus habitats naturais (CHIARELLO, 1999). Em plantios florestais, a

disponibilidade e a diversidade de presas são menores quando comparadas a

ambientes naturais (SILVA, 2001), o que pode alterar a dieta dos carnívoros.

Além disso, a disponibilidade reduzida de presas pode gerar a necessidade de

ampliar suas áreas de forrageamento (FULLER; SIEVERT, 2001) e,

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consequentemente, alterar o uso do habitat dessas espécies. Por outro lado, os

plantios florestais, em contraste com outros usos do solo, como cultivos agrícolas

ou pastagens, fornecem abrigo, além de estabelecer conexão entre fragmentos

de floresta nativa, facilitando o deslocamento da fauna, incluindo os carnívoros

(MURCIA, 1995).

A conversão de florestas contínuas em manchas isoladas de

remanescentes fixados em uma matriz diferente da original é uma tendência

mundial. No entanto, as respostas das espécies animais às alterações do

ambiente foram pouco investigadas, tornando-se necessário entender como elas

reagem frente a essas modificações do habitat para delinear estratégias de

conservação. Nesse contexto, a dieta dos carnívoros, bem como o uso que fazem

do habitat podem ser ferramentas potenciais para preencher essas lacunas, visto

que alterações no ambiente refletem na ecologia dessas espécies.

Este trabalho foi dividido em dois capítulos, apresentados no formato de

artigos científicos. O primeiro capítulo trata da dieta dos mamíferos carnívoros,

descreve e quantifica os itens consumidos pelas espécies identificadas na área de

estudo, bem como analisa a sobreposição alimentar entre as espécies. O

segundo capítulo trata do uso de um mosaico florestal por mamíferos carnívoros e

analisa a preferência de ambientes pelas espécies. Dessa forma, fornece uma

base para o manejo desse importante grupo faunístico em mosaicos compostos

por florestas nativas e plantadas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE PRODUTORES DE FLORESTAS PLANTADAS -

ABRAF. Anuário Estatístico da ABRAF . Brasília: ABRAF, 2010. 140p.

BAPTISTA, S. R.; RUDEL, T. K. A re-emerging Atlantic forest? Urbanization,

industrialization and the forest transition in Santa Catarina, southern Brazil.

Environmental Conservation. v. 33, n. 3, p. 195-202, 2006.

BROCKERHOFF, E. G.; JACTEL, H.; PARROTTA, J. A.; QUINE, C. P.; SAYER,

J. Plantation forests and biodiversity: oxymoron or opportunity? Biodiversity and

Conservation . v. 17, p. 925-951, 2008.

CHIARELLO, A. G. Effects of fragmentation of the Atlantic forest on mammal

communities in south-eastern Brazil. Biological Conservation . v. 89, p. 71-82,

1999.

CROOKS, K. R. Relative sensitivities of mammalian carnivores to habitat

fragmentation. Conservation Biology . v. 16, n. 2, p. 488–502, 2002.

FAHRIG, L. Effects of habitat fragmentation. Annual Review of Ecology,

Evolution, and Systematics . v. 34, p. 487–515, 2003.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS –

FAO. State of the World’s Forests 2011 . Rome: FAO, 2012. 164p.

FULLER, T. K.; SIEVERT, P. R.. Carnivore demography and the consequences of

changes in prey availability. In: GITTLEMAN, J. L.; FUNK, S. M.; MACDONALD,

D. W.; WAYNE, R. K. (Orgs.). Carnivore Conservation. Cambridge: Cambridge

University Press, 2001. p. 163-178.

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MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE - MMA; INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO

AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS - IBAMA.

Monitoramento dos Biomas Brasileiros . Brasília: MMA, 2010. 100p.

MITTERMEIER, R. A.; MYERS, N.; THOMSEN J. B.; FONSECA, G. A. B.;

OLIVIERI, S. Biodiversity hotspots and major tropical wilderness areas:

Approaches to setting conservation priorities. Conservation Biology . v.12, n. 3,

p. 516-520, 1998.

MURCIA, C. Edge effects in fragmented forests: implications for conservation.

Tree Review . v. 10, n. 2, p. 58-62, 1995.

RIBEIRO, M. C.; METZGER, J. P.; MARTENSEN, A. C.; PONZONI, F. J.;

HIROTA, M. M. The Brazilian Atlantic Forest: How much is left, and how is the

remaining forest distributed? Implications for conservation. Biological

Conservation . v. 142, p. 1141-1153, 2009.

SILVA, C. R. Riqueza e diversidade de mamíferos não-voadores em um

mosaico formado por plantios de Eucalyptus saligna e remanescentes de

Floresta Atlântica no município de Pilar do Sul, SP . 2001. 81f. Dissertação

(Mestrado em Ciências Florestais) - Escola Superior de Agricultura Luiz de

Queiroz de Piracicaba, São Paulo, 2001.

TERBORGH, J.; LOPEZ, L.; NUÑEZ, P. V.; RAO, M.; SHAHABUDDIN, G.;

ORIHUELA, G.; RIVEROS, M.; ASCANIO, R.; ADLER, G. H.; LAMBERT, T. D.;

BALBAS, L. Ecological meltdown in predator-free forest fragments. Science . v.

294, p. 1923-1925, 2001.

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CAPÍTULO 1

Dieta de carnívoros (Mammalia, Carnivora) neotropicais em mosaico florestal no sul

do Brasil

Diet of Neotropical carnivores (Mammalia, Carnivora) in a forest mosaic in southern

Brazil

Simone Czarnobai1, Sandra Bos Mikich2,6, Juliana Quadros3, Dieter Liebsch4, José Flávio Cândido Júnior5

1Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Conservação e Manejo de Recursos Naturais, Universidade

Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Rua Universitária, n. 2069, Bairro Universitário, CP 711, CEP

85819-110, Cascavel, PR, Brasil. http://www.unioeste.br/pos/conservacaomanejo 2Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Laboratório de Ecologia, Centro Nacional de Pesquisa de

Florestas, Embrapa Florestas, Estrada da Ribeira, Km 111, CP 319, CEP 83411-000, Colombo, PR, Brasil.

http://www.cnpf.embrapa.br 3Universidade Federal do Paraná – UFPR, Campus Litoral. Rua Jaguariaíva, n. 512, Bairro Caiobá, CEP:

83260-000, Matinhos, PR, Brasil. http://www.litoral.ufpr.br 4Dieter Liebsch Consultoria Ambiental, Rua Tenente Ricardo Kirch, 188, Bairro Jardim das Americas, CEP:

81530-120, Curitiba, PR, Brasil. 5Laboratório de Zoologia dos Vertebrados e Biologia da Conservação, Universidade Estadual do Oeste do

Paraná – UNIOESTE, Rua Universitária, n. 2069, Bairro Universitário, CP 711, CEP 85819-110, Cascavel,

PR, Brasil. http://www.unioeste.br 6Autor para correspondência: Sandra Bos Mikich. E-mail: [email protected]

Resumo: Compreender a coexistência de carnívoros simpátricos em ambientes alterados pelo homem requer

conhecer a forma com que esses predadores partilham os recursos alimentares. Neste estudo, nós

investigamos a dieta de nove carnívoros que ocorrem em um mosaico composto por remanescentes de

Floresta Atlântica e plantios florestais no Sul do Brasil. Entre 2006 e 2008 foram coletadas 1038 amostras

fecais em cinco transectos de 6 km estabelecidos para amostrar a diversidade de ambientes da área de estudo.

Os mamíferos predominaram na dieta de todos os carnívoros estudados, seguidos de aves. As categorias

“répteis”, “peixes”, “vegetais” (frutos e sementes) e “invertebrados” foram consumidas esporadicamente. A

amplitude do nicho revelou que os felinos são especialistas em mamíferos e a sobreposição da dieta é quase

completa dentro dessa família. No entanto, esses resultados podem mudar caso as presas sejam identificadas

em níveis taxonômicos mais baixos.

Palavras-chave: conservação, Floresta Atlântica, Pinus spp., tricologia, partilha de recursos.

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Abstract: Understanding the coexistence of sympatric carnivores in disturbed environments requires knowing

the way these predators share food resources. In this study, we investigated the diet of nine carnivore species

that occur in a mosaic composed of Atlantic forest remnants and forest plantations in southern Brazil.

Between 2006 and 2008 1038 fecal samples were collected along five 6 km transects that were established to

sample the habitat diversity of the study area. The relatively high percentage (49.5%) of fecal samples

identified to species level is due to a modification of the proposed methodology for the separation of guard-

hairs, as described herein. Mammalian prey was predominant on the diet of all carnivores studied, followed

by birds. The food categories "reptiles", "fish", "vegetable" (fruits and seeds) and "invertebrates" were

consumed occasionally. Niche breadth showed that felids are specialists in mammals and diet overlap was

almost complete among this family. Nevertheless, such results could change if food categories were

identified to lower taxonomic levels.

Keywords: conservation, Atlantic Forest, Pinus spp., trichology, food partitioning

Introdução/ Introduction

Os carnívoros são predadores de topo de cadeia e desempenham importante papel na manutenção do

equilíbrio das comunidades em que estão inseridos (Crooks & Soulé, 1999, Teborgh, 2001, Estes et al. 2011).

Muitos vivem em simpatria, compartilhando o espaço e outros recursos essenciais, como o alimento (Fedriani

et al. 1999, Juarez & Marinho-Filho, 2002, Vieira & Port 2007). Como resultado da competição

interespecífica gerada por essas interações (p.ex. Fedriani et al. 2000), as espécies simpátricas tendem a

diversificar seu nicho, modificando o uso do habitat (Fedriani et al. 1999, St-Pierre et al. 2006), a dieta

(Scognamillo et al. 2003, Moreno et al. 2006) ou os padrões de atividade (Emmons, 1987, Di Bitetti et al.

2010), reduzindo a competição e promovendo a coexistência entre elas (Schoener, 1974).

Existe uma relação entre o tamanho corporal do predador com o de suas presas (Gittleman, 1985,

Oliveira, 1994). Grandes predadores se especializam em grandes presas, reduzindo assim a competição com

predadores menores (Rosenzweig, 1966, Emmons, 1987, Facure & Giaretta, 1996, Scognamillo et al. 2003,

Andheria et al. 2007). No entanto, essa relação pode ser alterada em ambientes modificados pelo homem ou

naturalmente pobres. A redução na qualidade e diversidade do habitat, resultado de alterações no ambiente

(Fahrig, 2003) é uma das principais causas da perda de biodiversidade, que afeta a disponibilidade de presas

para os carnívoros (Fuller & Sievert, 2001, Benton et al. 2003). Isso pode provocar mudanças nos hábitos

alimentares desses animais levando, eventualmente, ao aumento da sobreposição de suas dietas (Simonetti,

1986, Núñez et al. 2000, Azevedo et al. 2006).

Embora a dieta dos carnívoros neotropicais tenha sido relativamente bem documentada, estas

informações encontram-se fragmentadas em trabalhos que abordam isoladamente uma a poucas espécies

(p.ex. Emmons, 1987, Villa-Meza et al. 2002, Wang, 2002, Martins et al. 2008, Tófoli et al. 2009, Bianchi et

al. 2011), sendo escassos aqueles que avaliaram uma comunidade, como Bisbal (1986) na Venezuela,

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Konecny (1989) no México e Olmos (1993), Facure e Giaretta (1996) e Rocha-Mendes et al. (2010) no

Brasil.

Estudos sobre a dieta da comunidade de carnívoros em áreas submetidas a plantios florestais são

ainda mais raros, destacando-se duas pesquisas concluídas recentemente: Campos (2009) e Dias (2010),

demonstrando a atualidade do tema. Nesse particular, é importante destacar que os plantios florestais,

principalmente com espécies exóticas, crescem no mundo a um ritmo acelerado. Segundo a FAO (2011), nos

últimos vinte anos o aumento mundial foi de 32,4%. Da mesma forma, entre 2005 e 2011, o Brasil aumentou

sua produção em 18,6% e atualmente ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de florestas plantadas,

destinando 3,2% do seu território a este fim e contribuindo com 2,4% da produção mundial (ABRAF, 2012).

Assim, estudos sobre a temática da estruturação da comunidade de mamíferos e possíveis mecanismos de

coexistência dos carnívoros nesse tipo de ambiente florestal criado pelo homem tornam-se urgentes como

base para sua conservação a longo prazo.

Portanto, o objetivo foi descrever e quantificar a composição da dieta de carnívoros simpátricos,

bem como avaliar a sobreposição alimentar entre as espécies em um mosaico de remanescentes de Floresta

Atlântica e plantios florestais.

Material e Métodos/ Material and Methods

1. Área de estudo

Este estudo foi conduzido na área pertencente à empresa Celulose Irani S.A., localizada entre os

municípios de Vargem Bonita e Ponte Serrada, ambos na região centro-oeste do estado de Santa Catarina

(26° 52’ 05’’ S e 51° 47’ 40’’ E), região Sul do Brasil. A área compreende aproximadamente 18500 ha e é

caracterizada por um mosaico florestal formado por remanescentes de floresta nativa em diferentes estádios

sucessionais (46%) e plantios de pinus (45%), eucalipto (7%) e araucária (< 1%), o restante da área é

ocupado por infra-estrutura (Figura 1). A fauna da região é bastante diversificada, sendo que os mamíferos

compreendem 169 espécies e representam 24% das aproximadamente 700 espécies que ocorrem na região

Neotropical. Dentre os carnívoros, 15 espécies são descritas para o estado de Santa Catarina (Cimardi, 1996)

e 11 para a área de estudo (G.V. Bianconi, dados não publicados). A região pertence ao Bioma Mata

Atlântica e apresenta diversas formações, dentre elas a Floresta Ombrófila Mista, caracterizada pela presença

de Araucaria angustifolia (Klein, 1978). Esta formação vegetal recobria toda a área de estudo.

O clima, segundo Köppen, é do tipo sub-tropical úmido mesotérmico (Cfb). As estações são bem

definidas: os verões são brandos e no inverno as geadas são frequentes e severas. A temperatura média anual

é 17,3 °C e a precipitação anual é de 1930 mm distribuídos uniformemente nas quatro estações.

2. Coleta dos dados

A dieta dos carnívoros foi analisada por meio da análise de amostras fecais coletadas mensalmente

entre agosto de 2006 e agosto de 2008 ao longo de cinco transectos com 6 km cada, compostos por estradas

de terra e trilhas que atravessavam os diversos tipos de habitats presentes na área de estudo, além de amostras

eventualmente encontradas em outros locais dentro dessa área (Figura 1).

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Figura 1. Localização e cobertura florestal da área de estudo e dos cinco transectos utilizados para coleta de

fezes de carnívoros.

As amostras foram coletadas em sacos plásticos rotulados com data, horário e local da coleta. Em

laboratório, as amostras foram secas em estufa de ventilação forçada a 45 ºC durante 48 h e armazenadas em

cartuchos de papel até serem triadas. Para a triagem, foram lavadas em água corrente sobre uma peneira

(0,5mm de malha) e, em seguida, imersas em água em uma bandeja transparente colocada sobre uma fonte

luminosa, adaptando-se o método proposto por Silveira et al. (2004). Durante a triagem foram separados os

itens alimentares, bem como os pelos-guarda, caractere diagnóstico proveniente da autolimpeza dos

carnívoros (Quadros & Monteiro Filho, 2006a).

Os itens alimentares foram identificados com base no material não digerido, como: ossos, dentes,

penas, escamas, partes de exoesqueleto e material vegetal, sendo agrupados em seis categorias: mamíferos,

aves, répteis, peixes, invertebrados e vegetais. Os pelos foram preparados segundo Quadros & Monteiro

Filho (2006a) e identificados com base no seu padrão medular e cuticular seguindo Quadros & Monteiro

Filho (2006b). Apenas frutos e sementes foram considerados na categoria vegetais; outros resíduos vegetais

não foram incluídos nas análises porque não foram considerados itens alimentares (Facure & Giaretta, 1996),

contribuindo apenas para a digestão (Dietz, 1984, Silva-Pereira et al. 2011) ou ingeridos acidentalmente com

outros itens (Villa-Meza et al. 2002, Alves-Costa et al. 2004).

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3. Análises

Para descrever a dieta de cada espécie foram utilizadas a frequência de ocorrência (FO), calculada pela

divisão do número de amostras contendo uma categoria alimentar específica pelo total de amostras analisadas

(Konecny, 1989) e o porcentual de ocorrência (PO), calculado pela divisão da frequência de ocorrência de

uma categoria específica pela soma das frequências de todas as categorias alimentares (Maehr & Brady,

1986). Enquanto FO determina quão comum é determinada categoria na dieta, PO indica a importância de

cada categoria alimentar para a espécie em análise. Adicionalmente foi calculada a amplitude da dieta de

cada espécie por meio do Índice de Levins padronizado Bsta (Colwell & Futuyma, 1971), sendo que este varia

de 0 (máxima especialização) a 1 (máxima amplitude). A sobreposição da dieta entre as espécies, por sua

vez, foi determinada pelo Índice de Pianka (1973), que também varia de 0 a 1, onde 0 significa

dissimilaridade total e 1, completa sobreposição. Amplitude e sobreposição alimentar foram analisadas

somente para espécies com (no mínimo) 10 amostras identificadas.

Resultados/ Results

1. Identificação

Do total de 1038 amostras fecais de carnívoros coletadas e triadas 514 (49,5%) resultaram na

identificação de nove espécies (Tabela 1) por meio dos pelos-guarda.

Tabela 1. Relação das espécies de carnívoros identificadas com base em amostras fecais (N) coletadas em mosaico de florestas nativas e plantadas do estado de Santa Catarina, Brasil entre agosto de 2006 e agosto de 2008 (Enquadramento taxonômico baseado em Paglia et al., 2012). Table 1. List of carnivore species based on fecal samples (N) collected in a mosaic of native and planted forests of Santa Catarina state, Brazil between August 2006 and August 2008 (Taxonomy based on Paglia et al., 2012).

Espécie Nome comum N

Canidae Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766)

Graxaim 2

Felidae Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Jaguatirica 58

Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Gato-do-mato pequeno 226 Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Gato-maracajá 47

Puma concolor (Linnaeus, 1771) Onça-parda 23 Puma yagouaroundi (É. Geoffroy Saint-Hilaire, 1803) Gato-mourisco 110

Mustelidae

Eira barbara (Linnaeus, 1758) Irara 1 Galictis cuja (Molina, 1782) Furão-pequeno 6

Procyonidae

Nasua nasua (Linnaeus, 1766) Coati 41

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2. Dieta

Em geral, a categoria mamíferos foi mais frequente (FO= 98,2%) e a mais importante na dieta dos

carnívoros (PO= 79,4%), seguida da categoria aves (FO= 13,6%; PO= 11%). A dieta de Leopardus wiedii, L.

pardalis e Puma yagouaroundi incluiu cinco das seis categorias alimentares, com exceção de peixes.

Leopardus tigrinus foi a única espécie que apresentou todas as seis categorias alimentares na sua dieta,

embora peixes estivesse presente em apenas uma das 226 amostras fecais desse felino. Dentre os felídeos, L.

tigrinus apresentou o maior consumo de aves (PO= 11,6%), enquanto, L. wiedii apresentou o menor (PO=

7,3%). Leopardus pardalis apresentou o maior consumo de vegetais (PO= 6,7%) e Puma concolor foi o

único felídeo que não apresentou vegetais em sua dieta, incluindo somente mamíferos, aves, répteis e

invertebrados. Puma yagouaroundi apresentou o maior consumo de invertebrados (PO= 8,8%), seguido de P.

concolor (PO= 6,7%). Somente Nasua nasua e Eira barbara não apresentaram invertebrados em sua dieta,

que foi composta exclusivamente por vertebrados, incluindo mamíferos, aves e répteis para N. nasua e

apenas mamíferos para E. barbara. Cerdocyon thous teve sua dieta composta por apenas duas categorias:

mamíferos e invertebrados (Tabela 2).

3. Amplitude e sobreposição alimentar

O Índice de Levins padronizado revelou valores muito próximos a zero para todos carnívoros

analisados, sugerindo uma dieta especializada para esses animais. Em relação à sobreposição alimentar, o

Índice de Pianka foi extremamente alto para todos os pares de espécies, sugerindo uma alta sobreposição na

utilização das categorias alimentares (Tabela 3).

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Discussão/ Discussion

1. Dieta

O consumo médio de mamíferos por todas as espécies avaliadas (PO= 79,4%) foi acima do esperado

quando comparado a outros estudos conduzidos com carnívoros em ambientes similares, como Dias (2010),

no qual o consumo médio dessa categoria foi de 63,5% e Campos (2009), que encontrou apenas 33,7%. O

que pode explicar, ao menos parcialmente, essa diferença talvez seja um evento conhecido popularmente

como “ratada”. A floração da taquara-lixa (Merostachys spp.) ocorre em um ciclo de aproximadamente 30

anos e, devido à abundância de sementes produzidas, ocorre uma explosão populacional de pequenos

roedores, principalmente da família Cricetidae no Brasil, que se alimentam desse recurso (Jaksic & Lima,

2003). Nos estados do Paraná e Santa Catarina, a última floração de Merostachys spp. ocorreu entre os anos

de 2003 e 2006 (Liebsch & Reginato, 2009), coincidindo com o primeiro ano de coleta das amostras fecais

desse estudo. Portanto, o provável aumento populacional de roedores nesse período pode ter favorecido o alto

consumo de roedores nesse período pelos carnívoros da área de estudo e, portanto, reduzindo o consumo de

outras categorias alimentares.

A dieta de L. tigrinus foi baseada em vertebrados, corroborando outros estudos (Facure & Giaretta,

1996, Wang, 2002, Rocha-Mendes et al. 2010, Silva-Pereira et al. 2011). A presença de invertebrados e

vegetais, por sua vez, não parece ser frequente na dieta de L. tigrinus, embora sejam itens relativamente

comuns na dieta dessa espécie em ambientes perturbados, como em pequenos fragmentos cercados por

culturas agrícolas (Rocha-Mendes et al. 2010) ou por plantios florestais (Campos, 2009, Dias, 2010),

sugerindo alterações em seus hábitos alimentares nessas condições. O consumo de peixe por essa espécie, no

entanto, não foi relatada por nenhum estudo prévio e pode ter ocorrido de forma ocasional, tal como relatado

para outras espécies de felídeos neotropicais, a exemplo de L. pardalis (Facure & Giaretta, 1996) e P.

yagouaroundi (Konecny, 1989).

P. yagouaroundi tem sua dieta composta principalmente por mamíferos e aves (Bisbal, 1986,

Konecny, 1989, Facure & Giaretta 1996, Tófoli et al. 2009). Répteis também é uma importante categoria na

dieta dessa espécie em vários estudos (Bisbal, 1986, Manzani & Monteiro-Filho, 1989, Facure & Giaretta,

1996, Silva-Pereira et al. 2011), tal como invertebrados (Konecny, 1989, Rocha-Mendes, et al. 2010). No

Tabela 3. Índice de amplitude de nicho de Levins padronizado (Bsta) e Índice de sobreposição de Pianka de seis carnívoros neotropicais no estado de Santa Catarina, Brasil. Table 3. Niche breadth (Levins index = Bsta) and niche overlap (Pianka index) of six Neotropical carnivores in Santa Catarina state, Brazil.

Índice de sobreposição de Pianka

Bsta L. tigrinus L. wiedii P. concolor P. yagouaroundi N. nasua

L. pardalis 0,009143 0,997187 0,994266 0,993756 0,997089 0,993685

L. tigrinus 0,001645 * 0,996868 0,995800 0,996105 0,998740

L. wiedii 0,007622 * * 0,996578 0,992863 0,998109

P. concolor 0,022357 * * * 0,997731 0,994393

P. yagouaroundi 0,005233 * * * * 0,991728

N. nasua 0,006393 * * * * *

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entanto, a ocorrência simultânea de répteis e invertebrados ocorreu somente neste e em outros poucos estudos

(p. ex. Guerrero et al. 2002, Tófoli et al. 2009), os quais foram realizados em áreas de plantios florestais ou

ambientes com algum tipo de alteração, sugerindo que nesses ambientes P. yagouaroundi tende a ser mais

generalista, incluindo uma diversidade maior de categorias alimentares em sua dieta. No entanto, a presença

de invertebrados na dieta dos carnívoros pode ser decorrente da infestação das fezes por coleópteros

coprófagos (Michalski & Norris, 2010) ou ainda por ingestão secundária.

A composição da dieta de L. pardalis é principalmente baseada em mamíferos, categoria

predominante em todos os estudos prévios sobre a dieta dessa espécie que, pode também incluir aves e

répteis (Konecny, 1989, Villa-Meza et al. 2002, Wang, 2002, Martins et al. 2008, Rocha-Mendes et al. 2010,

Silva-Pereira et al. 2011, este estudo). A proporção de cada categoria alimentar varia de estudo para estudo.

No trabalho de Silva-Pereira et al. (2011), mamíferos tiveram uma porcentagem de ocorrência de 94%,

enquanto répteis e aves contribuíram apenas com 3% cada na dieta dessa espécie. Já em Villa-Meza et al.

(2002), a porcentagem de ocorrência de mamíferos foi de 45%, répteis 32% e aves 3%. Adicionalmente,

segundo esses autores, L. pardalis é oportunista, já que consome presas de acordo com sua abundância no

ambiente. Sementes também foram descritas na dieta de L. pardalis em estudos anteriores (Villa-Meza et al.

2002), assim como invertebrados (Konecny, 1989). Embora, nesse estudo, a espécie tenha apresentado o

maior consumo de vegetais (frutos e sementes) dentre os felídeos, a porcentagem de ocorrência dessa

categoria foi baixa (5,1%), sugerindo consumo ocasional.

A dieta do L. wiedii nesse estudo foi principalmente baseada em mamíferos, ao contrário de outros

estudos realizados em ambientes menos alterados, onde essa espécie apresentou um alto consumo de aves

(Wang, 2002, Rocha-Mendes et al. 2010, Bianchi et al. 2011), além de mamíferos, incluindo morcegos

conforme registro de Rocha-Mendes & Bianconi (2009). O alto consumo de aves e, provavelmente de

morcegos, está associado às adaptações dessa espécie para escalar árvores, facilitando sua captura (Oliveira,

1998). Nesse estudo, o baixo consumo de aves corrobora os estudos de Dias (2010) e Campos (2009), todos

em áreas de silvicultura. Embora os plantios florestais possam servir como corredores entre fragmentos de

floresta nativa (Tomasevic & Estades, 2008), comumente apresentam riqueza e abundância de aves reduzidas

(Marsden et al. 2001). Além disso, a já citada abundância de roedores, decorrente da floração da taquara-lixa

na área e período de estudo, pode ter contribuído para o alto consumo de mamíferos em detrimento das aves.

Invertebrados e frutos são os principais itens alimentares na dieta de N. nasua (Gompper & Decker,

1998), inclusive em áreas com plantios de pinus (Aguiar et al. 2011). A grande quantidade e diversidade de

frutos consumidos faz com que essa espécie atue como uma importante dispersora de sementes (Mikich,

2001, Alves-Costa et al. 2004). No entanto, nesse estudo o consumo de invertebrados e frutos não foi

registrado, tendo a dieta de N. nasua sido completamente baseada em vertebrados, principalmente

mamíferos, além de aves e répteis. Vertebrados também foram mais importantes na dieta dessa espécie no

estudo de Rocha-Mendes et al. (2010). Apesar de N. nasua possuir tal plasticidade alimentar, o alto consumo

de vertebrados pode refletir a disponibilidade de roedores em função da ratada, já citada. Alves-Costa et al.

(2004) sugere que a variação nos hábitos alimentares de N. nasua reflete a flutuação na disponibilidade de

recursos.

Embora P. concolor possa consumir aves, répteis, invertebrados e até frutos (Emmons, 1987, Facure

& Giaretta, 1996, Rocha-Mendes et al. 2010), em estudos anteriores, P. concolor consumiu

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preferencialmente mamíferos de maior porte, como veados (Mazama spp.), cutia (Dasyprocta spp.), paca

(Cuniculus paca), cateto (Pecari tajacu) (Martins et al. 2008) e (Tayassu pecari) (Novack et al. 2005,

Azevedo, 2008, Foster et al. 2010). Presas de médio e grande porte fornecem uma rentabilidade energética

maior para esse grande predador (Futuyma & Moreno, 1988). No presente estudo P. concolor também teve

nos mamíferos sua principal categoria alimentar, seguido de aves, répteis e invertebrados. Na área de estudo

as potenciais presas de médio e grande porte incluem cateto (Pecari tajacu), veados (Mazama americana e

M. gouazoubira), paca (Cuniculus paca) e cutia (Dasyprocta azarae) (G.V. Bianconi, dados não publicados).

A dieta de G. cuja é baseada em vertebrados, como pequenos mamíferos, aves, répteis, incluindo

serpentes e seus ovos, e anfíbios (Yensen & Tarifa, 2003). No entanto, informações sobre a dieta dessa

espécie são escassas. Estudos atuais baseados em análises fecais apresentam registro de reduzido número de

amostras, a exemplo de Dias (2010) e Rocha-Mendes et al. (2010), ambos com apenas uma amostra, sendo

invertebrados e capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) os itens identificados, respectivamente, desses dois

estudos. Neste estudo, apesar do baixo número de amostras (n = 6), foi possível identificar mamíferos, aves,

invertebrados e vegetais. A presença de frutos foi registrada apenas no estudo de Ebensperger et al. (1991).

Em estudos anteriores, a categoria frutos foi a mais frequente na dieta de C. thous (Facure &

Giaretta, 1996, Facure et al. 2003, Gatti et al. 2006), inclusive em áreas de silvicultura (Rocha et al. 2008),

embora esta espécie seja considerada generalista, incluindo invertebrados e pequenos vertebrados na sua

dieta (Facure et al. 2003). Nesse estudo houve apenas o consumo de invertebrados e mamíferos, mas esse

resultado é limitado pelo pequeno número de amostras analisadas (n = 2) dessa espécie.

Eira barbara apresenta dieta bastante diversificada, consumindo mamíferos, aves, invertebrados e

frutos (Konecny, 1989). Embora no presente estudo mamíferos tenha sido a única categoria alimentar

identificada para a dieta dessa espécie, esse resultado certamente está relacionado ao fato de apenas uma

amostra desse carnívoro ter sido coletada e analisada.

2. Amplitude e sobreposição de nicho

O alto consumo de um único item alimentar indica, normalmente, especialização na dieta (Colwell

& Futuyma, 1971). Nesse estudo, mamíferos foi a categoria mais representativa na dieta das espécies

analisadas, atingindo uma porcentagem de ocorrência maior que 70% para todas elas, justificando os valores

de amplitude de nicho próximos a zero. As outras categorias (aves, répteis, invertebrados, vegetais e peixes)

apenas complementaram a dieta desses animais, classificando-os como especialistas. No entanto, a alta

disponibilidade de roedores devido ao evento da ratada pode ter levado a um comportamento oportunístico

dos carnívoros analisados.

Esses dados diferem da maioria dos estudos realizados com as mesmas espécies em outras

localidades (ver Bisbal, 1986, Konecny, 1989, Wang, 2002, Alves-Costa et al. 2004, Rocha-Mendes et al.

2010, Silva-Pereira et al. 2011), embora seja esperado que a dieta dos carnívoros seja baseada em mamíferos

(Emmons & Feer, 1997, Redford & Eisenberg, 1992, Cheida et al. 2006), com exceção de N. nasua e C.

thous, cujas dietas são, primariamente, compostas por invertebrados e frutos, com mamíferos sendo

consumidos esporadicamente (Facure et al. 2003, Alves-Costa et al. 2004). No entanto, ao analisar a

amplitude da dieta por itens alimentares, como nos estudos citados acima, e não por categorias gerais, a

tendência é as espécies apresentarem maior amplitude de nicho, sendo mais generalistas. Assim, apesar de

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nesse estudo os carnívoros, principalmente os felídeos, terem apresentado todas as categorias alimentares,

exceto peixes que estava presente somente na dieta de L. tigrinus, o fato de serem utilizadas categorias

alimentares, sem especificar os itens a níveis taxonômicos mais baixos, especialmente no caso dos

mamíferos, contribuiu para classificar os carnívoros estudados como especialistas.

Da mesma forma, a sobreposição alimentar encontrada entre os pares de espécies foi elevada,

chegando a valores próximos ao máximo. Isso implicaria em elevada competição entre as espécies de

carnívoros estudadas, podendo comprometer a coexistência entre elas (Schoener, 1974). No entanto, esses

resultados também estão relacionados ao agrupamento de itens alimentares em categorias gerais. Assim, a

identificação dos itens alimentares ao menor nível taxonômico possível, principalmente da categoria

mamíferos, deverá resultar em menores índices de sobreposição de dieta entre os carnívoros da área de

estudo.

Os resultados obtidos demonstram que, apesar dos potenciais impactos ambientais negativos

causados pelos plantios florestais, como a perda de biodiversidade, pelo menos nove das 15 espécies de

carnívoros com distribuição geográfica conhecida para o estado de Santa Catarina ainda estão presentes na

área de estudo. Considerando que algumas delas, como L. pardalis e P. concolor, estão ameaçadas nesse

estado (CONSEMA, 2011), assim como no Brasil, incluindo L. tigrinus e L. wiedii, (Chiarello et al. 2008) e

no mundo (L. tigrinus) (IUCN, 2012), isso pode ser interpretado como um indicador positivo da qualidade do

ambiente e da importância dessa área. Acredita-se que a manutenção de uma grande extensão de

remanescentes de florestas nativas, muitos deles entremeados aos plantios, confere maior heterogeneidade ao

ambiente e, dessa forma, contribui para a permanência dos carnívoros na área, principalmente pela oferta de

diversos recursos, como os alimentares (Fuller & Sievert, 2001).

É importante ressaltar, no entanto, que a presença de indivíduos de uma espécie em uma

determinada área pode não representar a situação de sua população local e, neste sentido, uma análise mais

detalhada da sua dieta local pode ser uma ferramenta útil, revelando eventuais alterações, deficiências e

potenciais competidores. Mesmo agrupando os itens alimentares em categorias gerais, ficou evidente neste

estudo que a dieta de alguns dos carnívoros estudados diferiu do padrão esperado, principalmente aquele

encontrado em áreas menos perturbadas. Notou-se, ainda, hábitos oportunísticos para algumas espécies.

Essas alterações podem ser adaptações ao tipo de ambiente em que o estudo foi realizado, importantes para a

tolerância desses animais a ambientes perturbados ou podem ter relação direta com a abundância de roedores

no período do estudo por conta do evento da ratada. Dessa forma, recomenda-se que sejam conduzidos

estudos mais detalhados sobre a dieta dessas espécies, que poderão ajudar a esclarecer esses pontos e,

eventualmente, orientar o manejo da área e sua biota, uma vez que, se real, a alta sobreposição na dieta dos

carnívoros pode ser uma ameaça à sobrevivência dessas espécies a longo prazo.

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Agradecimentos/ Acknowledgments

À empresa Celulose Irani S.A. e Embrapa Florestas pelo apoio financeiro e logístico do projeto. À

CAPES pela concessão da bolsa de estudos à Simone Czarnobai. Ao Prof. MSc. Sérgio Bazílio pelas valiosas

contribuições para preparações das amostras. À Aline D'al Maso e Carolina R. C Müller pelo auxílio nas

coletas de campo. À Ana M. Macagnan e Patrícia C. B. Souza pelo auxílio na preparação dos pelos. À Profa.

Dra Ana T. B. Guimarães pelas análises estatísticas.

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CAPÍTULO 2

Uso do habitat por carnívoros (Mammalia, Carnivora) em mosaico formado por remanescentes de

Floresta Atlântica e plantios florestais

Simone Czarnobai1, Juliana Quadros2, Dieter Liebsch3, José Flávio Cândido Júnior4 Sandra Bos Mikich5*

1Programa de Pós-Graduação stricto sensu em Conservação e Manejo de Recursos Naturais, Universidade

Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Rua Universitária, n. 2069, Bairro Universitário, CP 711, CEP

85819-110, Cascavel, PR, Brasil; 2Universidade Federal do Paraná – UFPR, Campus Litoral. Rua

Jaguariaíva, n. 512, Bairro Caiobá, CEP: 83260-000, Matinhos, PR, Brasil; 3Dieter Liebsch Consultoria

Ambiental, Rua Tenente Ricardo Kirch, 188, Bairro Jardim das Americas, CEP: 81530-120, Curitiba, PR,

Brasil; 4Laboratório de Zoologia de Vertebrados e Biologia da Conservação, Universidade Estadual do Oeste

do Paraná – UNIOESTE, Rua Universitária, n. 2069, Bairro Universitário, CP 711, CEP 85819-110,

Cascavel, PR, Brasil; 5Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Laboratório de Ecologia, Estrada da

Ribeira, Km 111, CP 319, CEP 83411-000, Colombo, PR, Brasil.

*Autor para correspondência: Tel: 0055 41 36755703 E-mail: [email protected]

Resumo

A perda e a fragmentação de habitats é uma grande ameaça à biodiversidade, principalmente para

espécies mais vulneráveis, como os carnívoros. A maior parte dos remanescentes florestais está imersa em

matrizes diferentes da original, como plantios florestais de espécies exóticas. Assim, torna-se necessário

compreender como os carnívoros utilizam esses ambientes antropicamente modificados para delinear

estratégias de conservação. Neste estudo, foi avaliado o uso e a preferência do habitat por mamíferos

carnívoros que ocorrem em um mosaico de florestas nativas e plantadas no sul do Brasil por meio da

frequência de ocorrência de amostras fecais em três diferentes classes de habitat: florestas nativas, florestas

plantadas e áreas abertas. Puma concolor, P. yagouaroundi, Leopardus pardalis, L. tigrinus, e Nasua nasua

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utilizaram preferencialmente florestas nativas, enquanto L. wiedii, não apresentou preferência por nenhuma

classe de ambiente. Os resultados demonstram que embora ocupem ambientes modificados pelo homem, os

carnívoros mantêm a preferência por ambientes naturais. Assim, a persistência de carnívoros de médio e

grande porte, incluindo algumas espécies ameaçadas de extinção, em áreas florestais produtivas, parece estar

diretamente relacionada à presença de remanescentes de florestas nativas entremeadas aos plantios

homogêneos, sendo estes menos contrastantes com o ambiente natural quando comparados às áreas abertas e,

portanto, mais permeáveis à fauna nativa.

Palavras-chave: mamíferos, conservação, Pinus spp., permeabilidade da matriz, Floresta de Araucária.

Abstract

The loss and fragmentation of habitat is a major threat to biodiversity, especially for the most

vulnerable species such as carnivores. Forest remnants are often immersed in a matrix that is different to the

original habitat such as plantation forests of exotic species. Thus to develop effective conservation strategies,

it is necessary to understand how carnivores use these anthropogenically modified environments. We

evaluated habitat use and preference of carnivorous mammals in a mosaic of native and planted forests in

southern Brazil. The frequency of occurrence of fecal samples was compared in three different land cover

classes: natural forests, planted forests and open areas. Puma concolor, P. yagouaroundi, Leopardus

pardalis, L. tigrinus, and Nasua nasua used preferably native forests, while L. wiedii showed no preference

for any kind of habitat. Our results demonstrate that although carnivores occupy anthropogenically modified

environments, they maintain a preference for natural habitats. Thus, in productive forest areas, the persistence

of mid and large bodied carnivores, including endangered species, seems to be directly related to the presence

of remnants of native forests interspersed within homogenous plantations.

Keywords: mammals, conservation, Pinus spp., matrix permeability, Araucaria Forest

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1. Introdução

Os mamíferos carnívoros têm importante papel na manutenção do equilíbrio do ecossistema, sendo

responsáveis pelo controle populacional de suas presas, principalmente de herbívoros, os quais podem

aumentar descontroladamente suas populações na ausência de seus predadores naturais e interferir

negativamente nas comunidades vegetais (Terborgh et al. 2001; Estes et al. 2011). Os carnívoros,

principalmente os de grande porte, requerem grandes áreas de vida para suprirem suas necessidades

energéticas, além de ocorrerem naturalmente em baixas densidades (Noss et al. 1996), tornado-se mais

vulneráveis aos efeitos da fragmentação (Chiarello 1999; Crook 2002).

A perda e a fragmentação dos habitats naturais é uma das principais ameaças à biodiversidade

(Fahrig 2003). Atualmente, uma parcela significativa da biodiversidade encontra-se em paisagens

fragmentadas, como na Floresta Atlântica, que se estendia por toda a costa brasileira e sofreu drástica

redução, restando apenas 11% da sua área original (Ribeiro et al. 2009). Apesar disso, o bioma Mata

Atlântica ainda abriga grande diversidade de espécies e altas taxas de endemismo (Myers et al. 2000). A

criação de unidades de conservação vem sendo usada como estratégia para a proteção de sua biodiversidade.

No entanto, apesar dessa estratégia, apenas 9% dos remanescentes desse bioma estão protegidos e o restante é

constituído, em sua maior parte, por fragmentos menores que 50 ha (Ribeiro et al. 2009).

Pequenos remanescentes de vegetação nativa muitas vezes não suportam populações viáveis de

espécies com grandes áreas de vida, principalmente porque muitos desses remanescentes estão imersos em

matrizes urbanas ou agrícolas (Chiarello 1999; Ribeiro et al. 2009). O tipo da matriz que circunda os

fragmentos florestais tem efeito significativo sobre a perda e a fragmentação do habitat natural (Ricketts

2001) e, em alguns casos, a matriz pode, inclusive, fornecer recursos alternativos, como alimento (Caryl et al.

2012). Assim, a matriz age como um filtro seletivo, no qual a permanência das espécies depende de sua

habilidade em utilizá-la (Laurance 1994). Alguns estudos demonstraram que os plantios florestais são mais

permeáveis à fauna do que as pastagens (Borsboom et al. 2002) ou áreas agrícolas (Brockerhoff et al. 2008),

principalmente por promoverem a conectividade entre os fragmentos, facilitando o deslocamento da fauna

(Franklin 1993).

A substituição de florestas nativas por plantios florestais é uma estratégia para suprir o aumento da

demanda por madeira e derivados. Segundo dados da FAO (2012), entre 1990 e 2010, os plantios florestais

tiveram um aumento mundial de 32,4%. Da mesma forma, entre 2005 e 2011, o Brasil aumentou sua

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produção florestal em 18,6% e atualmente ocupa o sétimo lugar no ranking mundial de florestas plantadas,

destinando 3,2% do seu território para esse fim e contribuindo com 2,4% da produção mundial (ABRAF

2012). Portanto, é fundamental entender como os carnívoros utilizam os fragmentos florestais remanescentes

e a matriz florestal circundante para delinear estratégias de conservação para esse grupo.

A presença de vestígios (pegadas, fezes, abrigos) é largamente utilizada para avaliar o uso do habitat

por carnívoros (p.ex. Kruuk et al. 1986; Neale e Sacks 2001; Santos et al. 2004; Prigiori et al. 2008; Sánchez-

Lalinde e Pérez-Torres 2008; Zúñiga et al. 2009) e também para estimar sua abundância (Simonetti e

Huareco 1999; Sadlier et al. 2004), uma vez que são animais de difícil visualização, já que, em sua grande

maioria, apresentam hábitos noturnos e crepusculares (Emmons e Feer 1997). Embora apresentem algumas

limitações, como a dificuldade de encontrar vestígios do animal na área de estudo, admitindo-se sua ausência

equivocadamente (Kruuk 1986), técnicas que fazem uso de vestígios, além do baixo custo, permitem estudar

o comportamento e a ecologia desses animais de forma não invasiva (Simonetti e Huareco 1999; Quadros e

Monteiro-Filho 2006b).

Assim, o objetivo deste estudo foi avaliar o uso do habitat por carnívoros em um mosaico florestal,

bem como a preferência de habitat por esses animais, considerando a presença e a distribuição de suas

amostras fecais. A hipótese é que as espécies de carnívoros utilizem preferencialmente as florestas nativas,

em detrimento dos plantios florestais, ainda que bem desenvolvidos (> 5 anos) e, principalmente, dos

ambientes mais abertos, incluindo os plantios florestais jovens (< 5 anos).

2. Material e Métodos

2.1. Área de estudo

Este estudo foi conduzido em uma propriedade da empresa Celulose Irani S.A., localizada entre os

municípios de Vargem Bonita e Ponte Serrada, na região Centro-oeste do estado de Santa Catarina (26° 52’

05’’ S e 51° 47’ 40’’ O), região Sul do Brasil. A área compreende aproximadamente 18.500 ha e é

caracterizada por um mosaico florestal formado predominantemente por remanescentes de Floresta Atlântica

(46%) e plantios desenvolvidos de Pinus spp., Eucalyptus spp. e Araucaria angustifolia (33%), além de áreas

abertas (21%) (Figura 1).

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O clima da região, segundo Köppen, é do tipo sub-tropical úmido mesotérmico (Cfb), com quatro

estações bem definidas. Os verões são brandos, com temperaturas médias de 20 °C e os invernos são

rigorosos, com geadas frequentes. A precipitação anual média é de 1930 mm, distribuída uniformemente nas

quatro estações.

A região pertence ao bioma Mata Atlântica e apresenta diversas formações, dentre elas a Floresta

Ombrófila Mista, que recobria originalmente grande parte do estado de Santa Catarina, inclusive a área de

estudo. A Floresta Ombrófila Mista é caracterizada pela presença de Araucaria angustifolia, que predomina

no estrato superior da floresta, além de outras espécies, como angico-vermelho (Parapiptadenia rigida),

grápia (Apuleia leiocarpa), guajuvira (Patagonula americana), cedro (Cedrela fissilis) e canelas (Nectandra

lanceolata e N. megapotamica), dentre outras espécies arbóreas de alto valor econômico (Klein 1978).

A fauna do estado de Santa Catarina é bastante diversificada, sendo que os mamíferos compreendem

169 espécies e representam 24% das aproximadamente 700 espécies que ocorrem na região Neotropical.

Dentre os carnívoros, 15 espécies são descritas para o estado de Santa Catarina (Cimardi 1996).

A cobertura do solo da área de estudo foi atribuída a uma das três classes de ambiente que seguem:

1. Floresta nativa, representada por remanescentes de Floresta Atlântica entremeadas aos plantios florestais,

2. Plantios florestais, que incluíram todos os plantios ≥ 5 anos (Pinus spp. Eucalyptus spp e Araucaria

angustifolia) e 3. Áreas abertas, que reuniram os plantios < 5 anos, toda a infra-estrutura e os cultivos de soja,

por compartilharem baixo índice de cobertura florestal em comparação com as outras duas classes.

2.2. Coleta e análise de amostras fecais

Amostras fecais foram coletadas, sem qualquer seleção, entre agosto de 2006 e agosto de 2008, ao

longo de cinco transectos pré-existentes de 6 km cada. Estes haviam sido estabelecidos em estradas de terra e

trilhas que atravessavam as três classes de ambiente, distribuídas aleatoriamente, de tal forma que sua

proporção nos transectos ou na soma dos mesmos não representou a proporção desses ambientes na área de

estudo (Tabela 1, Figura 1). Em cada transecto, 120 pontos, separados por intervalos de 50 metros, foram

marcados e codificados, de tal forma que as amostras de fezes encontradas foram atribuídas ao ponto mais

próximo a estes intervalos, cuja caracterização do tipo de ambiente foi feita in loco por ocasião do estudo.

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36

Tabela1 Representatividade (comprimento total e percentual) das três classes de ambiente referente aos cinco transectos ao longo dos quais foram coletadas as amostras fecais de carnívoros em Santa Catarina, Brasil, entre agosto 2006 e agosto 2008. Classes de ambiente Extensão amostrada (m) % Floresta nativa 15800 53

Plantios florestais 11500 38

Áreas abertas 2700 9

Total 30000 100

Figura 1 Localização da área de estudo e dos transectos onde foram coletadas amostras fecais de carnívoros nas três classes de ambientes encontrados nas propriedades da Celulose Irani, em Santa Catarina, Brasil.

As amostras foram identificadas por microscopia óptica dos pelos-guarda encontrados nas fezes dos

carnívoros, os quais foram preparados de acordo com Quadros e Monteiro-Filho (2006a), tendo como base o

padrão das escamas cuticulares e a disposição das células medulares, conforme Quadros e Monteiro-Filho

(2006b).

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2.3. Curva de acúmulo de espécies

Uma curva de acúmulo de espécies de mamíferos carnívoros, com base nas amostras fecais, foi

construída pelo programa Excel para verificar a suficiência amostral em relação à riqueza de espécies da área

de estudo.

2.4. Uso do habitat

O uso do hábitat pelos carnívoros foi avaliado com base no número de amostras fecais por espécie

encontrado em cada classe de ambiente dividido pelo número total de amostras x 100, de acordo com

Prigioni et al. (2008). A significância dos efeitos das classes de habitats sobre a distribuição das fezes dos

carnívoros foi estimada pela análise de Deviance, para modelos lineares generalizados. A distribuição de

probabilidade usada foi a Poisson inflacionada de zeros (offset = comprimento do transecto). As

comparações entre os tratamentos foram por contrastes ortogonais (delineamento em blocos incompletos =

transectos). As análises foram realizadas utilizando o Programa R. O teste avaliou o número de amostras

fecais de cada espécie coletado em cada classe de ambiente para identificar as eventuais preferências das

espécies de carnívoros, considerando a proporção de cada classe de ambiente por transecto. A área disponível

de cada classe de ambiente foi mensurada a partir do comprimento relativo dos transectos em cada classe

(Tabela 1). Embora muitos carnívoros utilizem as fezes como marcação territorial (Martins et al. 2008),

assume-se que a abundância relativa de amostras fecais corresponde ao uso relativo do espaço (Neale e Sacks

2001). Assim, se as espécies utilizam o ambiente de forma homogênea, a distribuição de suas fezes será

proporcional à disponibilidade das classes de ambiente. No entanto, se houver concentração de fezes em

alguma classe, isso indicará uma preferência ou seleção daquele ambiente pelas espécies. Amostras coletadas

em pontos entre duas classes de ambientes, como floresta nativa e plantios florestais ou floresta nativa e áreas

abertas foram excluídas da análise de Deviance para evitar a criação de muitas classes intermediárias pouco

representativas ou a valorização de alguma classe em particular.

Espécies cujas amostras fecais representaram menos de 5% do total coletado foram desconsideradas

nas análises estatísticas. No entanto, em função do status de ameaça da maioria dos carnívoros, bem como da

escassez de dados sobre sua distribuição espacial e preferência por habitat, os resultados obtidos para todas as

espécies foram discutidos ao longo do texto.

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3. Resultados

3.1. Espécies

Das 987 amostras fecais coletadas, 463 foram identificadas ao nível específico, compreendendo oito

espécies de carnívoros, de quatro famílias com distribuição neotropical (Tabela 2). Destas, 125 (27%) foram

coletadas entre duas classes de ambiente diferentes e, conforme exposto anteriormente, excluídas das

análises.

Tabela 2 Relação das espécies de carnívoros identificadas com base em amostras fecais (N) coletadas em mosaico de florestas nativas e plantadas do estado de Santa Catarina, Brasil entre agosto de 2006 e agosto de 2008 (Enquadramento taxonômico baseado em Paglia et al. 2012).

Espécie Acrônimo Nome comum

N

Canidae

Cerdocyon thous (Linnaeus, 1766) Ct Graxaim

2

Felidae

Leopardus pardalis (Linnaeus, 1758) Lp Jaguatirica

43

Leopardus tigrinus (Schreber, 1775) Lt Gato-do-mato pequeno

140

Leopardus wiedii (Schinz, 1821) Lw Gato-maracajá

30

Puma concolor (Linnaeus, 1771) Pc Onça-parda

14 Puma yagouaroundi (É. Geoffroy Saint-Hilaire, 1803)

Py Gato-mourisco

72

Mustelidae

Galictis cuja (Molina, 1782) Gc Furão-pequeno

6

Procyonidae

Nasua nasua (Linnaeus, 1766) Nn Coati

31

A curva de acúmulo de espécies (Figura 2) revelou que a amostragem foi suficiente para representar

a riqueza de espécies da área, atingindo uma assíntota já no segundo mês de coleta.

1

2

3

4

5

6

7

8

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22

Riq

ue

za a

cum

ula

da

de

esp

éci

es

Meses de coleta

Figura 2 Curva de acumulação de espécies de carnívoros, baseada em 463 amostras fecais coletadas ao

longo de 22 meses em Floresta Atlântica do Sul do Brasil entre agosto de 2006 e agosto de 2008.

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3.2. Uso do habitat

No conjunto, as fezes de carnívoros analisadas (n= 338) apresentaram maior frequência de

ocorrência na floresta nativa (57,4%), seguida de plantios florestais (32%) e áreas abertas (10,7%) (Tabela 3).

O teste Qui-quadrado da análise de Deviance revelou que o ambiente influenciou na distribuição das

amostras fecais para todas as espécies analisadas, exceto Leopardus wiedii (Tabela 4). Leopardus pardalis, L.

tigrinus, Puma yagouaroundi e Nasua nasua apresentaram preferência pela classe floresta nativa (Tabela 5).

O número de amostras de Galictis cuja, Cerdocyon thous e Puma concolor forma insuficientes para aplicar a

análise de Deviance, no entanto, 78,6% das amostras fecais de P. concolor foram encontradas em floresta

nativa, sugerindo uma marcada preferência por essa classe de ambiente.

Tabela 3 Número (n) e frequência de ocorrência (FO) de amostras fecais (N= 338) de oito espécies de mamíferos carnívoros, coletadas entre agosto de 2006 e agosto de 2008 em três classes de ambientes em mosaico florestal no sul do Brasil.

Ambientes Ct Lp Lt Lw Pc Py Gc Nn Total

n FO n FO n FO n FO n FO n FO n FO n FO n FO

FN 0 0,0 27 62,8 76 54,3 21 70,0 11 78,6 37 51,4 4 66,7 18 58,1 194 57,4

PF 2 100 13 30,2 52 37,1 7 23,3 3 21,4 23 31,9 2 33,3 6 19,4 108 32,0

AA 0 0,0 3 7,0 12 8,6 2 6,7 0 0,0 12 16,7 0 0,0 7 22,6 36 10,7

Total 2 100 43 100 140 100 30 100 14 100 72 100 6 100 31 100 338 100

Onde: FN= Floresta nativa; PF= Plantios florestais; AA= Áreas abertas; Ct= Cerdocyon thous; Lp= Leopardus pardalis; Lt= Leopardus tigrinus; Lw= Leopardus wiedii; Pc= Puma concolor; Py= Puma yagouaroundi; Gc= Galictis cuja; Nn= Nasua nasua.

Tabela 4 Teste Qui-quadrado da Análise de Deviance utilizado para avaliar a influência da variável ambiente na distribuição das amostras fecais de cinco espécies de carnívoros da Floresta Atlântica do sul do Brasil entre agosto de 2006 e agosto de 2008. Nível descritivo de probabilidade

Espécies Lp Lt Lw Py Nn Total Valores <0,001* <0,0062* 0,0513ns <0,001* <0,001* <0,001*

Onde: Lp= Leopardus pardalis; Lt= Leopardus tigrinus; Lw= Leopardus wiedii; Py= Puma yagouaroundi; Nn= Nasua nasua; *significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns Não significativo estatisticamente.

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Tabela 5 Teste Qui-quadrado utilizado para avaliar a preferência dos carnívoros pelas três classes de ambiente encontradas na em mosaico florestal no sul do Brasil entre agosto de 2006 e agosto de 2008. Nível descritivo de probabilidade

Contrastes das Classes de ambiente

Lp Lt Py Nn

FN vs PF, AA 0,001* 0,0156* 0,0064* 0,0045* PF vs AA 0,7454 ns 0,2094 ns 0,0054* 0,0038*

Onde: FN= Floresta nativa; PF= Plantios florestais; AA= Áreas abertas; Lp= Leopardus pardalis; Lt= Leopardus tigrinus; Lw= Leopardus wiedii; Py= Puma yagouaroundi; Nn= Nasua nasua; *significativo ao nível de 5% de probabilidade; ns Não significativo estatisticamente.

4. Discussão

A maior parte das amostras dos carnívoros foi encontrada nas porções de floresta nativa dos

transectos amostrados, corroborando a hipótese do presente estudo de que os carnívoros fazem uso

diferenciado do ambiente, utilizando preferencialmente áreas nativas em detrimento de plantios florestais e

áreas abertas. Segundo Santos et al. (2004) e Goulart et al. (2009), em áreas com diferentes graus de

perturbação antrópica, a cobertura vegetal nativa é um dos fatores que influenciam a preferência de habitat

dos carnívoros.

Leopardus pardalis utilizou preferencialmente floresta nativa, bem como L. tigrinus, P.

yagouaroundi e N. nasua. Esses resultados eram esperados, uma vez que esses animais são primariamente de

ambientes florestais (Emmons e Feer 1997). De fato, L. pardalis, L. tigrinus parecem, segundo alguns autores

(e.g. Konecny 1989; Santos et al. 2004; Goulart et al. 2009), utilizar preferencialmente áreas de floresta

densa e protegida, embora Lyra-Jorge et al. (2008) as tenha considerado generalistas no uso do habitat em um

mosaico florestal formado por fragmentos de Floresta Estacional Semidecidual, Cerrado e plantios florestais,

com base em registros obtidos com armadilhas fotográficas e de areia.

De acordo com Konecny (1989), a preferência por florestas nativas pode estar associada à

diversidade e à densidade de presas que, segundo Silva (2001), é maior nesses ambientes do que em plantios

florestais. Isso se deve, principalmente, à ausência de sub-bosque nos plantios florestais, o que leva à redução

da biodiversidade local (Almeida 1996). Além disso, abrigo é fundamental para a seleção de habitats pelas

espécies (Orians e Wittenberger 1991), de tal forma que a presença de sub-bosque em florestas nativas pode

fornecer camuflagem aos carnívoros, deixando-os mais protegidos dos seus predadores, incluindo o homem.

Puma yagouaroundi, em contraste com outros estudos, foi mais frequentemente registrada em

floresta nativa. Em estudo conduzido na região sudeste do Brasil, Michalski et al. (2006) afirmam que esta

espécie utilizou preferencialmente plantios florestais, demonstrando grande flexibilidade no uso do ambiente.

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A preferência de N. nasua por floresta nativa justifica-se por ser uma espécie tipicamente florestal

(Gompper e Decker 1998). No entanto, é comum em mosaicos florestais, ser encontrada forrageando em

plantios (Aguiar et al. 2011). De fato, essa espécie é frequentemente encontrada em ambientes alterados,

inclusive sendo relatado o consumo de lixo doméstico em áreas urbanas (Aguiar et al. 2011).

Ao contrário de outros estudos que evidenciam a preferência por áreas mais conservadas por L.

wiedii, (Konecny 1989; Goulart et al. 2009), este estudo não revelou preferência estatisticamente significativa

de algum ambiente particular pela espécie, apesar de 70% de suas amostras terem sido coletadas em floresta

nativa. L. wiedii, L. tigrinus e Puma yagouarondi são espécies ecológica e morfologicamente similares

(Kiltie 1984), tornando-as potenciais competidoras por recursos alimentares (Silva-Pereira et al. 2011), de tal

forma que L. wiedii pode estar utilizando as classes de ambiente estrategicamente, de modo a evitar o

confronto com espécies competidoras na área de estudo.

Puma concolor é uma espécie ameaçada de extinção no Brasil (Chiarello et al. 2008) e no estado de

Santa Catarina (CONSEMA 2011), onde foi conduzido o presente estudo e, portanto, de alto valor para

conservação. Em concordância com as espécies anteriores, a maioria (78,6%) das amostras fecais desse

grande felino foi encontrada na floresta nativa. No entanto, esse resultado difere daquele obtido em estudo

anterior realizado por Zuñiga et al. (2009), envolvendo áreas naturais e florestas plantadas, onde P. concolor

foi encontrada com maior frequência (estatisticamente significativa) nos plantios florestais, baseado na

análise de 45 amostras fecais. Fato que estaria relacionado à sua capacidade de adaptação a diversos tipos de

ambientes (Mazzolli 2010), bem como à presença de presas introduzidas (Zuñiga et al. 2009; Lantschner et

al. 2012). Portanto, as preferências de P. concolor por diferentes tipos de ambientes precisa ser melhor

investigada, incluindo avaliações da sua dieta local e disponibilidade de suas presas preferenciais.

As demais espécies, Galictis cuja e Cerdocyon thous apresentaram baixo número de amostras

coletadas (seis e duas, respectivamente), não sendo possível avaliar as suas preferências por habitat na área

de estudo. No entanto, com base em estudos anteriores, em área de mosaico florestal no Chile, G. cuja

utilizou preferencialmente os plantios florestais (Zúñiga et al. 2009). A manutenção do sub-bosque nos

plantios como estratégia de manejo atrai pequenos roedores, aumentando a abundância de presas nesses

locais, o que pode explicar a preferência dos plantios por G. cuja (Zúñiga et al. 2009). Cerdocyon thous, por

sua vez, foi encontrada forrageando em diversos tipos de habitat (Juarez e Marinho-Filho 2002), incluindo

plantios florestais (Lyra-Jorge et al. 2008), sendo considerada uma espécie generalista (Juarez e Marinho-

Filho 2002).

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Embora os plantios florestais não sejam tão complexos quanto as florestas nativas, boa parte dos

carnívoros descritos para a região persistem na área de estudo, inclusive espécies ameaçadas de extinção no

estado de Santa Catarina, como L. pardalis e P. concolor (CONSEMA 2011), bem como no Brasil, incluindo

ainda L. tigrinus e L. wiedii (Chiarello et al. 2008) e no mundo (L. tigrinus) (IUCN 2012). Além disso, os

plantios florestais foram mais frequentemente utilizados pelos carnívoros do que as áreas abertas (32% e

10,7%, respectivamente), o que pode estar relacionado à permeabilidade da matriz. Plantios florestais

representam uma matriz de baixo contraste para espécies florestais, fornecendo habitat complementar quando

comparados a outros usos do solo, como a agricultura (Lindenmayer e Hobbs 2004; Brockerhoff et al. 2008).

Florestas plantadas promovem, além da conectividade, um aumento efetivo dos fragmentos (Murcia 1995),

favorecendo a permanência de espécies dependentes de floresta que exigem grandes áreas de vida, como os

grandes carnívoros. Segundo Lindenmayer e Hobbs (2004), remanescentes de floresta nativa entremeados a

plantios florestais influenciam a permanência da fauna nesses locais, permitindo-lhes abrigar maior riqueza

de espécies do que extensas áreas de plantios.

Apesar dos carnívoros poderem exibir comportamento mais generalista quanto ao uso do habitat em

ambientes fragmentados e modificados pelo homem, como evidenciado pelo estudo de Lyra-Jorge et al.

(2008), algumas espécies podem restringir-se a blocos de florestas nativos quando os recursos ali são

suficientes, evitando, dessa forma, áreas com atividades humanas como os plantios florestais, pastagens e

áreas abertas (Foster et al. 2010). Embora nenhuma das espécies estudadas tenha se restringido às florestas

nativas neste estudo, elas as utilizaram com frequência superior àquela esperada com base na sua cobertura

do solo na área de estudo, ressaltando a importância da presença de remanescentes de floresta nativa para a

sobrevivência dos carnívoros em áreas florestais produtivas.

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5. Conclusão

Os resultados do presente estudo evidenciam não apenas a preferência da maioria dos carnívoros

estudados por florestas nativas, mas também a aparente permeabilidade dos plantios florestais a essas

espécies, permitindo a sua sobrevivência em mosaicos florestais. Dessa forma, recomenda-se, como prática

de manejo em áreas de plantios florestais, a manutenção do subosque nos plantios e de fragmentos de floresta

nativa entremeados a esses plantios visando a conservação a longo prazo dos carnívoros nesse tipo de

ambiente e, consequentemente, dos processos ecológicos a eles relacionados, como a predação de herbívoros

e potenciais pragas florestais. Portanto, esses resultados demonstram que é possível conciliar produção e

conservação da diversidade biológica e ecológica.

6. Agradecimentos

À empresa Celulose Irani S.A. e Embrapa Florestas pelo apoio financeiro e logístico do projeto. À

CAPES pela concessão da bolsa de estudos para Simone Czarnobai. À Aline D'al Maso e Carolina R. C

Müller pelo auxílio nas coletas de amostras. À Ana M. Macagnan e Patrícia C. B. Souza pelo auxílio na

preparação dos pelos. À Adriana Juraszek pelo auxílio na triagem das amostras fecais. Ao Juliano de Souza

pela confecção do mapa de uso do solo e transectos. À MSc. Luziane Franciscon e ao Prof. Dr. Osmir

Lavoranti pelas análises estatísticas.

7. Referências Bibliográficas

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