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Editores tcnicos Carlos Alexandre Costa Crusciol Marcelo de Almeida Silva Raffaella Rossetto Rogrio Peres Soratto

Tpicos em

Ecofisiologia da Cana-de-Acar

Fundao de Estudos e Pesquisas Agrcolas e Florestais Botucatu 2010

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Copyright Fundao de Estudos e Pesquisas Agrcolas e Florestais 1 edio 2010 Tiragem: 500 exemplares Capa e Projeto grfico Colorau Comunicao e Design Diagramao Diagrama Editorial FEPAF Fundao de Estudos e Pesquisas Agrcolas e Florestais Unesp Campus de Botucatu Lageado. Fazenda Experimental Lageado s/n 18.603-970 Botucatu SP Brasil Tel.: (14) 3882-7373 [email protected] www.fepaf.org.br

FICHA CATALOGRFICA ELABORADA PELA SEO TCNICA DE AQUISIO E TRATAMENTO DA INFORMAO SERVIO TCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAO - UNESP - FCA - LAGEADO - BOTUCATU (SP)

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Tpicos em ecofisiologia da cana-de-acar / Editores tcnicos: Carlos Alexandre Costa Crusciol ... [et al.]. Botucatu: FEPAF - Fundao de Estudos e Pesquisas Agrcolas e Florestais, 2010 111 p. : il., grfs., tabs., fots. color. ISBN 978-85-98187-25-9 1. Cana-de-acar. 2. Ecofisiologia. I. Crusciol, Carlos Alexandre Costa. II. Silva, Marcelo de Almeida. III. Rossetto, Raffaella. IV. Soratto, Rogrio Peres. V. Fundao de Estudos e Pesquisas Agrcolas e Florestais. VI. Ttulo. CDD 21.ed. (633.61)

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ndiceApresentao...............................................................................................................4 Carlos Alexandre Costa Crusciol Introduo....................................................................................................................5 Paul H. Moore Fenologia da Cana-de-acar ..................................................................................... 8 Marcelo de Almeida Silva, Claudiana Moura dos Santos, Marcel Toms Arantes, Renata Passos Pincelli Modelagem de variveis climticas, edficas e de manejo para a predio de produtividade em cana-de-acar..............................................22 Paulo Eduardo Argenton, Edgar Gomes Ferreira de Beauclair, Maximiliano Salles Scarpari Zoneamento agrcola da cultura da cana de aucar para o Brasil e estimativa da produtividade .............................................................27 Orivaldo Brunini A interao entre a cana-de-acar e ambientes de produo estressantes ............. 34 Marcos Guimares de Andrade Landell, Ricardo Silvrio Machado, Daniel Nunes da Silva, Maximiliano Salles Scarpari, Mauro Alexandre Xavier, Silvana Creste, Ivan Antnio dos Anjos, Hlio do Prado, Luciana Rossini Pinto, Mrcio Aurlio Pitta Bidia Alteraes morfofisiolgicas na cana-de-acar em resposta deficincia hdrica ..............................................................................43 Marcelo de Almeida Silva & Renata Passos Pincelli Interao entre gua e nitrognio na produtividade de cana-de-acar (Saccharum sp.) ............................................................................49 Glauber Jos de Castro Gava, Oriel Tiago Klln, Raul Andres Martinez Uribe, Paulo Cesar Ocheuze Trivelin, Heitor Cantarella Adubao Nitrogenada em Cana-de-Acar: Reflexos do Plantio Colheita .......... 67 Henrique Coutinho Junqueira Franco & Paulo Cesar Ocheuze Trivelin Herbicide Effects on Sugarcane .................................................................................85 Edward P. Richard, Jr. & Caleb D. Dalley Herbicides as Stimulators, Regulators, and Ripeners ................................................89 Ryan P. Viator, Caleb. D. Dalley and Edward P. Richard, Jr. Uso de maturadores com ou sem misturas ...............................................................93 Carlos Alexandre Costa Crusciol, Glauber Henrique Pereira Leite, Gabriela Ferraz de Siqueira Melhoramento molecular da cana-de-acar CTC para eficincia fisiolgica .........103 Sabrina Moutinho Chabregas

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ApresentaoO presente livro teve como base as palestras apresentadas no I e II SIMCANA Simpsio sobre Ecofisiologia, Maturao e Maturadores em Cana de acar, realizados em Botucatu-SP nos anos de 2008 e 2010; Tpicos em Ecofisiologia da Cana-de-Acar aborda a fisiologia da cana de acar. Segmentado em 12 captulos, o captulo de abertura demonstra a relevncia do tema e da pequena quantidade de publicaes sobre a cincia da cana-de-acar, de autoria do maior fisiologista do mundo, Dr. Paul Moore, parceiro e colaborador desde a edio de 2008. Alm deste, so amplamente discutidos os temas de fenologia, estudos sobre modelagem e previso de produtividade, ambiente de produo e fisiologia do estresse hdrico, seguidos de assuntos sobre nutrio, adubao, reguladores vegetais e herbicidas. E finalmente, a biologia molecular como ferramenta para melhoramento da eficincia fisiolgica da cultura da cana de acar. As edies do SIMCANA so uma realizao da Faculdade de Cincias Agronmicas da UNESP cmpus de Botucatu em conjunto com o APTA Agncia Paulista de Tecnologia no Agronegcio, STAB - Sociedade dos Tcnicos Aucareiros e Alcooleiros do Brasil e FEPAF Fundao de Estudos e Pesquisas Agrcolas e Florestais, com apoio de instituies como CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico, FAPESP Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado de So Paulo, CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior, UDOP Unio dos Produtores de Bioenergia, Portal Dia de Campo e TechField e, patrocinados pela Syngenta, DuPont, Stoller e Ihara. Agradecemos aos autores, pela pacincia em atender nossas solicitaes, comisso organizadora, pelo dedicado empenho na edio do livro e Syngenta e Fapesp pela ajuda financeira para a publicao deste livro.

Botucatu, 19 de outubro de 2010.

Carlos Alexandre Costa Crusciol Coordenador Geral do SIMCANA UNESP/FCA/DPV

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IntroductionSugarcane is an important food and bioenergy source and a significant component of the economy in many countries in the tropics and subtropics: nearly 100 countries produce the crop over an area of 22 million hectares--approximately 0.5% of the total world area used for agriculture (FAOSTAT, 2008). Of the worlds four most productive cropsrice, wheat, maize, and sugarcanesugarcane produces the greatest crop tonnage and provides the fourth highest quantity of plant calories in the human diet (Ross-Ibarra et al., 2007), even though each of the major cereals occupies a several-fold larger fraction of the worlds arable land. The largest world grower of sugarcane is Brazil with production of more than 549 million tons of cane or approximately 37% of the total of the top 20 sugarcane producing countries of the world. The very high levels of sugarcane biomass production and the efficiency with which ethanol can be produced from its extracted juice have made sugarcane a leading crop for bioenergy production. Sugarcane stalks, crushed and extracted for juice, are burned in the sugarcane factories for production of steam and electrical energy. Sugarcane juice is currently being used as a source for ethanol as a fuel for replacing gasoline, but once second-generation bioenergy technologies are developed, the entire sugarcane crop biomass may be used as a lignocellulosic feed stock. The significant potential for sugarcane as a food and bioenergy crop is currently driving a rapid expansion of sugarcane production areas throughout the world, especially in Brazil. In short, sugarcane is rapidly becoming one of the worlds most important crops. Despite sugarcanes burgeoning importance, few sugarcane-specific reference books exist. Those reference books that do exist, although excellent when they were first published, do not include recent findings in modern plant biology. The lack of reference works specific to sugarcane is particularly problematic considering that among the worlds most productive crops sugarcane is the only one that is strictly tropical, perennial, and vegetatively propagated and harvested. Conventional agronomic wisdom presented in more general plant physiology books does not apply. Sugarcane growers and researchers world-wide need publication of the proceedings of conferences such as this Brazilian Symposium on Ecophysiology, Maturation and Ripeners for sharing current information on the fundamental biology of sugarcane and on practices for improving agronomic production and the yield potential of crop germplasm. The most common sugarcane reference books available can be described as industry descriptive texts for students (Barnes, 1974; Blackburn, 1984; Blume, 1985; James, 2004), or as sugarcane production manuals focusing on agronomic practices (Bakker, 1999; Clements,1980; Humbert, 1968; King,1965). These are frequently regionally focused but some present a wider view of their topic. Less common are the reference books on some specific aspects of the sugarcane plant such as sugarcane pests and diseases (Rott et al., 2000), germplasm improvement (Heinz,1987), fundamental biology (Alexander, 1973; Dillewijn, 1952), and ethanol production (Cortez, 2010). Of the texts mentioned, Botany of Sugarcane stands out as not only the first, but also the best summary account of sugarcane structure (anatomy and morphology). All subsequent books mostly used the same anatomical and structural figures. This means that there has not been any book containing

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new descriptions of sugarcane structure for more than 56 years. In addition, the only book covering the physiology of sugarcane is more than 35 years old. During the 36- to 57-year interval since the publication of a significant sugarcane text, the growth of knowledge regarding plant physiology, based largely on advances in molecular biology, instrumentation for data gathering, and information science for storing and analyzing massive amounts of data has been revolutionary. Although that growth of knowledge has been slower in sugarcane than in simpler model plants, the information about sugarcane physiology that has accumulated these past 30 years is nevertheless extensive. Considering the growing importance of sugarcane as a food and energy crop and the failure of extant sugarcane texts to link modern plant physiology to problems of sugarcane improvement and production, there is a critical need for a new synopsis on sugarcane physiology that is currently being met through meetings as this. This symposium and its previous one in 2008 address a wide range of sugarcane ecophysiology issues including growth and development, crop and plant responses to abiotic stresses (primarily those involving insufficient water, but also inadequate soil nutrients), agronomic practices including the use of herbicides, growth regulators and ripeners for increasing sucrose yields, and the development of models for managing the crop, predicting yields and yield potential for new lands coming under cultivation, and longer term effects of climate change on the sugarcane industry. Publishing these proceedings is a valuable service to Brazils sugarcane research and production community. The published proceedings of this symposium will be valuable for at least three groups associated with agriculture and sugarcane. First are the college-trained sugarcane growers, plantation managers, or sectional managers, such as agriculturalists or crop control superintendents, who need to know the fundamentals of the crop plant on which their business depends. Second are the plant biology, plant physiology, and agronomy students with interest in, or need to know, sugarcane biology. Third are sugarcane research scientists, who require broad knowledge of the sugarcane plant in order to relate their specific research area to other aspects of crop production. Thanks are due to the organizers of this meeting for providing valuable research communications to Brazils sugarcane community. Paul H. Moore Hawaii Agriculture Research Center Kunia, Hawaii

References ALEXANDER, A.G. Sugarcane Physiology: A Comprehensive Study of the Saccharum Source-to-Sink System. Elsevier Scientific Publishing Co. Amsterdam, 1973. 752p.

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BAKKER, H. Sugar Cane Cultivation and Management. Kluwer Academic / Plenum Publishers. New York,1999. 679p. BARNES, A.C. The Sugar Cane. Leonard Hill Books. Aylesbury, Bucks, 1974. 572p. BLACKBURN, F. Sugar-cane. Longman, London, 1984. 414p. BLUME, H. Geography of Sugar Cane. Verlag Dr. Albert Bartens, Berlin, 1985. 371p. CLEMENTS, H.F. Sugarcane Crop Logging and Crop Control: Principles and Practices. The University Press of Hawaii. Honolulu, 1980. 520p. CORTEZ, L.A.B. Sugarcane Bioethanol: R&D for Productivity and Sustainability. Blucher, So Paulo SP Brazil, 2010. 954p. DILLEWIJN, C.V. Botany of Sugarcane. The Chronica Botanica Company. Waltham,1952. 371p. FAOSTAT (United Nations Food and Agricultural Organization). FAO 2008. Available from http:// faostat.fao.org/default.aspx HEINZ, D.J. (Ed.). Sugarcane Improvement through Breeding. Elsevier, Amsterdam, 1987. 603p. HUMBERT, R.P. The Growing of Sugar Cane. Elsevier Publishing Company. Amsterdam, 1978. 779p. JAMES, J. (Ed). Sugarcane. Blackwell Publishing Ltd, 2004. 216p. KING, N.J., Mungomery, R.W., Hughes, C.G. Manual of Cane-growing. American Elsevier Publishing Company. Inc. New York, 1965. 375p. ROSS-IBARRA, J.; MORREL, P.L.; GAUT, B.S. Plant domestication, a unique opportunity to identify the genetic basis of adaptation. Proceedings of the National Academy of Sciences, sup 1, p.8641-8648, 2007. ROTT P.; BAILEY R.A.; COMSTOCK J.C.; CROFFT B.J., SAUMTALLY, S. (Eds.). A Guide to Sugarcane Diseases. CIRAD and ISSCT, 2000. 339p.

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Fenologia da Cana-de-acar

Fenologia da Cana-de-acarMarcelo de Almeida Silva1, Claudiana Moura dos Santos2, Marcel Toms Arantes3, Renata Passos Pincelli21

Pesquisador Cientfico, Agncia Paulista de Tecnologia dos Agronegcios (APTA), Polo Centro-Oeste, Rodovia SP 304, (Ja - Bariri), Km 304, Caixa Postal 66, 17201-970, Ja (SP). Email: [email protected] 2Biloga, Programa de Ps-Graduao em Agricultura, Faculdade de Cincias Agronmicas (FCA/UNESP), Caixa Postal 237, 18610-307, Botucatu (SP). E-mail: [email protected]; [email protected] 3 Engenheiro Agrnomo, Programa de Ps-Graduao em Agricultura, Faculdade de Cincias Agronmicas (FCA/UNESP), Caixa Postal 237, 18610307, Botucatu (SP). E-mail: [email protected]

1. IntroduoA cana-de-acar uma planta monocotilednea, algama e perene, provavelmente originria das regies da Indonsia e Nova Guin, pertencente famlia Poaceae, tribo Andropogoneae e gnero Saccharum. Seus atuais cultivares so hbridos interespecficos, sendo que nas constituies genticas participam as espcies S. officinarum, S. spontaneum, S. sinense, S. barberi, S. robustum e S. edule (Gupta et al., 2010). Trata-se de uma planta de reproduo sexuada; porm, quando cultivada comercialmente multiplicada assexuadamente, por propagao vegetativa (Caieiro et al., 2010). caracterizada pela inflorescncia do tipo pancula, flor hermafrodita, caule em crescimento cilndrico composto de ns e entrens, e folhas alternas, opostas, presas aos ns dos colmos, com lminas de slica em suas bordas, e bainha aberta (Miller; Gilbert, 2009). cultivada em regies tropicais e subtropicais de mais de 90 pases, difundida em uma ampla faixa de latitude de 35oN e 30oS, adaptando-se a diversas condies de clima e solo exigindo precipitaes pluviomtricas entre 1500 a 2500 mm por ciclo vegetativo (Doorembos; Kassam, 1979; Tavares, 2009). uma cultura de grande importncia econmica no mundo. cultivada principalmente como matria prima para produo de acar e lcool, sendo o Brasil o maior produtor mundial de acar, destacando-se o estado de So Paulo como o maior produtor nacional e tambm o maior exportador do mundo (Waclawovsk et al., 2010). As principais regies brasileiras produtoras so Nordeste e Centro-Sul, o que permite dois perodos de safra, de setembro a abril e de abril a novembro, respectivamente, proporcionado o desenvolvimento da cultura canavieira as mais variadas condies climticas (Tavares, 2009). De acordo com Inman-Bamber e Smith (2005), uma precipitao pluvial anual a partir de 1.000 mm, bem distribuda, suficiente para a obteno de altas produes na cana-de-acar. Isso implica que o manejo hdrico seja realizado com eficincia, com suprimentos hdricos adequados durante o desenvolvimento vegetativo8 Tpicos em Ecofisiologia da Cana de Acar

(principalmente nas fases de germinao, perfilhamento e alongamento dos colmos) e alguma restrio no perodo de maturao, para forar o repouso fisiolgico e o enriquecimento em sacarose. O crescimento alcanado quando a temperatura ultrapassa 20C, h um aumento na taxa de crescimento da cultura, sendo que a faixa de 25C a 33C a mais favorvel ao desenvolvimento vegetativo (Liu et al., 1998; Almeida et al., 2008). O comportamento vegetativo da cana-de-acar altamente dependente de fatores climticos, as variaes na disponibilidade trmica, pluviosidade, intensidade de luz exercem grande influncia sobre o desenvolvimento fenolgico da cultura afetando sua produtividade (Liu et al., 1998; Smit; Singels, 2006; Uehara et al., 2009). A deficincia hdrica, alm de temperaturas extremas e baixa radiao solar so algumas das principais limitaes ao seu desenvolvimento (Inman-Bamber et al., 2004; Smit; Singels, 2006; Mccormick et al., 2008; Heerden et al., 2010). A avaliao do comportamento fenolgico propicia o conhecimento e a definio das pocas em que ocorrem as diversas fases do perodo vegetativo das plantas, o que pode auxiliar na escolha das prticas culturais indicando, por exemplo, a melhor poca de colheita e de plantio para cada espcie (Larcher, 2004). Sendo assim, o conhecimento da dinmica fenolgica indispensvel para a elaborao de estratgias de conservao e manejo de uma cultura. Recentemente pesquisadores tm voltado ateno para estudos sobre processos de acmulo de biomassa em cana-de-acar, buscando desvendar os fenmenos ambientais subjacentes reduo do crescimento ao longo das fenofases, alm de relacionarem esses fatores com o desenvolvimento, maturao da cana-de-acar e o tempo de colheita (Inman-Bamber et al., 2009; Heerden et al., 2010; Uehara et al., 2010). A cana-de-acar, segundo Gascho e Shih (1983), apresenta quatro diferentes sub-perodos ou estdios

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em sua fenologia (Figura 1), conhecidos por: Brotao e Emergncia dos brotos (colmos primrios); Perfilhamento e Estabelecimento da cultura (da emergncia dos brotos ao final do perfilhamento); Perodo do Grande Cresci-

mento (do perfilhamento final ao inicio de acumulao da sacarose), e Maturao (intensa acumulao de sacarose nos colmos).

Fase de brotao e estabelecimento

Fase de perfilamento

Perodo de crescimento dos colmos

Fase de maturao

Figura 1. Estdios fenolgicos da cana-de-acar. Fonte: Gascho e Shih (1983) Muitas caractersticas morfolgicas da cana-de-acar podem ajudar a entender a questo de como a gua utilizada pela planta e como se comporta sob baixas temperatura, conseqentemente, esclarecer certos padres fenolgicos encontrados em regies tropicais. Dentre estas caractersticas pode-se destacar rea foliar e nmero de folhas (Inman-Bamber, 2004; Oliveira et al., 2005), senescncia foliar (Smit; Singel, 2006), altura da planta (Almeida et al., 2008), dimetro, nmero de colmos e perfilhamento (Ramesh; Mahadevaswany, 2000; Silva et al., 2008), florescimento (Araldi, et al., 2010), sendo essas caractersticas geneticamente variadas entre variedades e largamente influenciadas pelos fatores climticos. Nessa sucesso de eventos, a cana-de-acar passa por estdios fenolgicos que determinam fases importantes na formao da produo das plantas e sendo bem caracterizados, podem auxiliar em pesquisas relativas estimativa de produo, previso de poca de maturao, controle fitossanitrio e programas de melhoramento da cultura Diante dos fatos supracitados, o objetivo deste captulo foi descrever os diferentes padres fenolgicos da cana-de-acar e relacion-los com os principais fatores ambientais, buscando compreender o comportamento do desenvolvimento da cultura diante do estresse abitico.

2. Interao das principais fenofases da cana-deacar com os fatores ambientais2.1. Propagao: germinao de sementes e brotao das gemas Na produo de cana-de-acar, as sementes tm importncia em programas de melhoramento gentico, o sucesso desses programas dependente da obteno de sementes de qualidade fisiolgica superior (Caieiro et al., 2010). A semente botnica de cana-de-acar na realidade um fruto, do tipo cariopse com colorao marrom, forma elpitica, com aproximadamente 1,5 mm de comprimento por 0,5 mm de dimetro. A cariopse tem um pericarpo muito reduzido, com duas epidermes justapostas, seu cotildone denominado de escutelo, intimamente aderido ao seu endosperma (Lucchesi, 2000). Dentre os fatores ambientais que interferem na germinao destaca-se a gua como o principal fator no incio da germinao, uma vez que a semente precisa ser reidratada o suficiente e atingir um contedo de gua para germinar, alm da qualidade de luz, durante a maturao da semente da cana-de-acar tambm um importante fator controlador da germinao (Lee, 1984).

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A temperatura um fator com influncia significativa na expresso da dormncia em sementes de em canade-acar, de acordo com Cesnik e Miocque (2004), a temperatura ideal para a germinao das sementes encontram-se na faixa de 25 a 32C, as temperaturas mais baixas, ao redor de 18,5C inibem a sua germinao, o que corrobora com Caieiro et al. (2010) que verificaram a faixa de 20 a 30C adequada para a germinao de sementes. A cana-de-acar se propaga vegetativamente atravs da brotao de suas gemas. O plantio realizado atravs de pedaos de colmo, contendo uma ou mais gemas, constitui uma fase importante, pois a brotao reflete um bom comeo, que trar a rea cultivada plantas

vigorosa (Silva et al., 2004). A brotao das gemas afetada por fatores intrnsecos e externos. De acordo com Casagrande (1991), a falta de umidade do solo pode prejudicar a brotao dos toletes, assim como o excesso causado pela irrigao, drenagem irregular e acmulo de gua de chuva. Em casos de baixa aerao do solo como solos encharcados ou compactados a brotao das gemas pode ocorrer antes da emisso dos primrdios radiculares em funo da falta de oxignio. Se houver condies ambientais favorveis, principalmente temperatura e umidade, ocorrer a emergncia do primeiro perfilho; esta fase altamente energtica, energia que provm da degradao de substncias de reserva do tolete (Figura 2).

Figura 2. Desenvolvimento do sistema radicular e perfilho primrio em diferentes situaes. (a) sistema radicular desenvolvendo-se antes do perfilho primrio, (b) perfilho primrio desenvolvendo-se antes do sistema radicular, baixa aerao do solo (c) ambos desenvolvendo-se ao mesmo tempo. Fonte: Casagrande (1991). A brotao das gemas tambm sofre forte influncia com a temperatura ambiente. A temperatura tima para brotao das gemas de 32 a 38C, e paralisa quando a temperatura inferior a 20C (Barbieri, 1981). J Liu et al. (1998), estudando brotao na cana-de-acar verificaram temperatura base 11,6C como referencial para o surgimento dos brotos e temperatura tima entre 28C e 30C. Pincelli et al. (2010) verificaram brotao diferencial entre cultivares de cana-de-acar sob baixa temperatura, entre 16C e 24C, onde das 10 cultivares10 Tpicos em Ecofisiologia da Cana de Acar

estudadas, quatro, SP80-1842, SP83-2847, RB855453 e RB867515, mostraram-se mais adaptadas para emergncia sob essa condio. Com boas condies de umidade e temperatura, iniciase a brotao das gemas presentes nos toletes e simultaneamente ocorre a emisso das razes de fixao a partir do tolete. Nesta fase de desenvolvimento inicial, o broto depende das reservas de carboidratos, lipdeos e protenas presentes no tolete (Liu et al., 1998). Aps 20

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a 30 dias se inicia a emergncia do perfilho primrio na superfcie do solo e, simultaneamente ao seu crescimento, a partir da base do colmo, observa-se o desenvolvimento de novas razes e o desenvolvimento de outros perfilhos (Segato et al., 2006). A variabilidade gentica pode resultar em comportamentos diferenciados tanto na brotao da cana planta como na soqueira. Silva et al. (2004) relatam que mesmo sobre condies ambientais idnticas, a brotao pode ser diferente entre as variedades. Uma variedade que vem sendo muito plantada pelos produtores da regio Centro- Sul a RB855156 devido ao alto potencial produtivo, elevado teor de sacarose e precocidade de maturao. Entretanto, esta tem apresentado srios problemas de brotao, acarretando em perda de grande parte de sua produo de cana planta ou m formao do estande inicial (Silva et al., 2004). Alm de considerar os fatores genticos, outras caractersticas devem ser levadas em considerao para se obter uma boa brotao, como a idade da muda, umidade do tolete, posio da gema, concentrao de nutrientes e acares como reserva dos toletes. Na questo do manejo deve-se levar em considerao o armazenamento e a nutrio das mudas. A preocupao de se planejar o plantio de fundamental importncia para o bom rendimento da brotao sendo que os produtores de cana-de-acar precisam estar atentos ao tempo que sua muda ir ficar armazenada at sua distribuio no sulco de plantio. Santos (1983) desenvolveu um trabalho sobre brotao e desenvolvimento inicial da cana-de-acar influenciados pelo ambiente, tempo de armazenamento e tamanho de toletes. Foi observado que a resistncia das mudas ao armazenamento aumentou com o tamanho de estaca, enquanto a eficincia da germinao foi reduzida em razo do tempo em que permaneceram armazenadas. Na fase de brotao os aspectos nutricionais dos toletes so importantes para um bom crescimento e desenvolvimento das gemas. Alguns estudos mostram que altas doses de nutrientes, principalmente o nitrognio no plantio das mudas, podem aumentar a porcentagem e a velocidade de brotao (Camargo, 1970; Rugai; Orlando Filho, 1971; Machado, 1976). Sendo, portanto, ideal a montagem de viveiro de mudas em solos de alta fertilidade para se atender as melhores condies nutricionais das mudas. Hoje existem tcnicas usuais como a aplicao de reguladores vegetais e estimulantes adicionados a minerais que auxiliam na fisiologia da brotao. Silva et al. (2010a), trabalhando com biorreguladores associados a fertilizantes lquidos, obtiveram aumento da produtividade

de colmos e na produo de acar em cana-soca, possibilitando aumento na longevidade do canavial. O tratamento com fungicidas e inseticidas podem aumentar os ndices de brotao devido proteo dos toletes contra insetos e fungos presentes no ambiente, possibilitando obter plantios mais uniformes com alto vigor e rpido desenvolvimento. Essas tcnicas vem a acrescentar cada dia mais na qualidade de plantio e dar mais segurana ao produtor em relao a infestao de pragas e doenas no canavial, podendo assim alcanar maiores produtividades e lucratividade. Outros fatores importantes no manejo que aumentam a porcentagem da brotao como a profundidade de sulcao, quantidade de terra na cobrio dos toletes, tempo em que os sulcos ficam abertos, quantidade de palha sobre o solo entre outros, devem ser avaliados, pois para se obter bons resultados importante se atender a um conjunto de aes de manejo e no a um fator isolado. 2.2. Perfilhamento Aps a emisso do perfilho primrio, ou tambm denominado como perfilho materno, inicia-se o crescimento e desenvolvimento das razes dos perfilhos, que tem por finalidade absorver gua e nutrientes do solo, no dependendo mais das reservas do tolete (Figura 3). Perfilhamento o processo de emisso de colmos, originrio da base da planta ou da regio axilar da folha basal por uma mesma planta, os quais recebem a denominao de perfilhos (Bezuidenhou et al., 2003). Sob condies ideais para os acontecimentos desses estdios, o perfilhamento assume papel principal no processo produtivo da cana-de-acar. Segundo Cmara (1993) o segundo estdio fenolgico (perfilhamento) que permitir o estabelecimento da cultura em condies de campo e fornecer s touceiras o nmero de colmo adequados a produo. O processo de perfilhamento regulado pelo hormnio de crescimento auxina, o qual exerce dupla funo alongamento do colmo e inibio do desenvolvimento de gemas laterais. Com o desenvolvimento da brotao, as auxinas sintetizadas na gema apical, com transporte polar baspeto, induzem a alongao dos tecidos (entrens), podendo inibir a emergncia das gemas laterais atravs da dominncia apical, processo pelo qual complexo do hormnio no pice promoveria um carregamento preferencial de carboidratos para essa regio em detrimento as gemas laterais (Miller; Gilbert, 2009). Cinco diferentes estdios fenolgicos da cultura durante o desenvolvimento dos perfilhos foram identificadas por11

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Fenologia da Cana-de-acar

Perfilho primrio

Perfilho secundrio Tolete

Perfilho secundrio Razes dos perfilhos

Razes dos toletes Figura 3. Tolete de cana-de-acar em processo de perfilhamento e formao do sistema radicular. Fonte: Dillewijn (1952). Bezuidenhou et al. (2003), seguindo a ordem sequencial, fase 1 de pr-germinativo (final da colheita da muda e incio para a germinao do primeiro broto), durante esta fase as gemas permanecem dormentes; fase 2 de pr-emergncia (germinao de gemas at a emergncia do primeiro perfilho primrio); fase 3 de surgimento de perfilhos primrios (primeiros afilhamentos at a emergncia do ltimo perfilho primrio); fase 4 de surgimento de perfilhos secundrios (aparecimento dos ltimos perfilhos primrios senescncia desses perfilhos),e fase 5 de senescncia de perfilhos (senescncia dos primeiros perfilhos colheita). A fase de perfilhamento intenso das touceiras ocorre quando atingem o mximo da produo de novos perfilhos, chegando algumas variedades a produzir 20 ou mais perfilhos por touceira. A partir do ponto mximo de perfilhamento, a competio entre perfilhos pelos fatores de crescimento (luz, espao, gua e nutrientes) torna-se elevada, de maneira que se constata a reduo do perfilhamento atravs da diminuio e paralizao desse processo, alm de morte dos perfilhos mais jovens (Castro; Christofoletti, 2005).12 Tpicos em Ecofisiologia da Cana de Acar

A radiao solar um fator climtico importante na formao e crescimento dos perfilhos. A variao da densidade de perfilhos nestas fases varia de acordo com a intensidade luminosa, sendo que, em condies de maiores intensidades luminosas a cultura pode promover a foto-oxidao do pice, reduzindo o alongamento e aumentando o nmero de perfilhos (Bezuidenhou et al., 2003). Por outro lado, a baixa luminosidade reduz drasticamente a emisso de novos perfilhos (Cmara, 1993), o auto-sombreamento induz inibio do perfilhamento por competio intraespecfica e acelera o crescimento do colmo principal (Rodrigues, 1995). Dillewjn (1952) explica o mecanismo em que a intensidade luminosa afeta o perfilhamento. Considerando que as auxinas produzidas no apice da planta que so responsveis pelo perfilhamento e estas descem em fluxo continuo promovendo o alongamento dos colmos e impedindo o desenvolvimento das gemas laterais, sendo que sob alta intensidade luminosa o fluxo de auxinas do apice para as partes basais diminui, consequentemente

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ocorre o decrscimo no grau de inibio das gemas laterais, resultando na formao dos perfilhos. Ao estudar as caractersticas ideais de crescimento de cultivares de cana-de-acar, Terauchi e Matsuoka (2000) observaram que a taxa de perfilhamento reduziu drasticamente com o fechamento do dossel, porm as taxas de alongamento do colmo mais velho aumentaram quando perfilhos comearam a experimentar a competio por luz. Inman-Bamber (1994) tambm observou que a senescncia de perfilhos jovens pode ser esperada quando o dossel intercepta menos de 70% da radiao recebida. O perfilhamento, assim como a brotao das gemas, fortemente influenciado por variaes de temperatura. A formao e crescimento dos perfilhos, dimetro e nmero de entren so favorecidos pelo aumento da temperatura at o mximo de 30C (Liu et al., 1998), temperaturas abaixo de 20C podem promover a paralisao do crescimento dos perfilhos (Cmara, 1993). Efeito similar foi observado por Almeida et al. (2008) que verificaram temperaturas timas de 25,5C e 27C para o desenvolvimento do perfilho, combinados com o suprimento hdrico adequado. Segundo Camargo (1970), em condies de baixa temperatura, por ocasio do perfilhamento, deve-se plantar em profundidades rasas, para que a luminosidade contrabalance os efeitos da baixa temperatura. O estresse hdrico tambm pode causar reduo na emisso de novos perfilhos, pois a falta de gua cessa a diviso e o alongamento celular impedindo a diferenciao e o crescimento dos tecidos que daro origem as novas estruturas dos perfilhos. Durante o perodo de perfilhamento a cultura exige uma grande quantidade de gua para que ocorra o seu pleno estdio de desenvolvimento vegetativo (Bezuidenhou et al., 2003). Ramesh e Mahadevaswany (2000), estudando o efeito da seca nas diferentes fases do ciclo da cana-de-acar, constataram que os cultivares que perfilham menos, alm de apresentarem menores porcentagens de mortalidade dos perfilhos, tinham perfilhos com maior estatura, dimetro de colmo e maior massa seca, indicando uma correlao positiva com os cultivares mais produtivos. O perfilhamento comea a partir de cerca de 40 dias aps o plantio e pode atingir pico em cerca de 3-5 meses sob condies favorveis de chuva, como foi constatado em vrios estudos (Oliveira et al., 2004; Silva et al., 2008; Almeida et al., 2008). De acordo a Silva et al. (2008), o aumento no perfilhamento pode ocorrer at seis meses de idade, e posterior reduo de cerca de 50%, seguida de estabilizao tanto em cana-planta quanto em cana-soca, a partir dos nove meses (Castro; Christofoleti, 2005). Com a estabilidade desse estdio,

os perfilhos que esto mais desenvolvidos continuam o crescimento em altura e espessura (Bezuidenhou et al., 2003). Na questo do manejo varietal, o perfilhamento pode variar de variedade para variedade, dependendo das caractersticas genticas (Casagrande, 1991). Segundo Terauchi et al. (1999), o elevado perfilhamento uma caracterstica inadequada para a obteno de cultivares melhoradas, pois promoveria um gasto energtico para a produo destes perfilhos, no representando uma correlao positiva com o aumento de produtividade da cultura. Alm do efeito gentico, a poca de plantio e a poca de corte da cana planta ou das soqueiras, influem no perfilhamento e no nmero final de colmos industrializveis (Machado et al., 1982; Cmara, 1993). A prtica de espaamento correto no plantio proporciona maiores produtividades e a irrigao na cana-de-acar proporciona melhor brotao da cana planta e um melhor perfilhamento da soqueira nos primeiros seis meses de desenvolvimento (Galvani et al., 1997; Soares et al., 2004). 2.3. Crescimento e Desenvolvimento da parte area As relaes hdricas desempenham papel importante na alongao dos perfilhos e no crescimento final dos colmos da cana-de-acar. Ramesh e Mahadevaswamy (2000) relatam que ainda que em condies de estresse hdrico, os tecidos de elongamento meristemtico, encontrados em maior grau nos intrens em expanso so os mais severamente afetados. Em estudo realizado em cana-de-acar sob dficit hdrico em condies foram observaram reduo no alongamento do colmo e menor desenvolvimento foliar (Inman-Bamber, 2004). Em estudo de diferentes estdios fenolgicos da cultura em condio deficincia hdrica do solo, Machado et al. (2009) verificaram a reduo na matria seca do colmo e no contedo de slidos solveis ocasionada pela reduo da fotossntese, o que causou menor produo de fotoassimilados necessrios para o crescimento do colmo e produo de sacarose. Inman-Bamber; Smith (2005) relatam que a suscetibilidade da cana-de-acar deficincia hdrica maior quando as plantas esto na fase de alongamento dos colmos, o que causa srios prejuzos na produo de fitomassa e no rendimento de sacarose Sabe-se que a alongao celular e o crescimento da cultura so intimamente ligados aos nveis de umidade do solo, quanto maior a disponibilidade hdrica do solo maior o crescimento da cultura. Por outro lado, quanto mais prolongado for o perodo de estiagem, maior ser a formao de ns e entrens muito curtos e prximos entre si, diminuindo drasticamente o volume de parnquima para armazenamento de sacarose (Cmara, 1993).13

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Durante a fase adulta dos colmos no perodo final de maturao, uma nova fenofase pode ser registrada com o aparecimento de brotes (chupo), esses so brotos desenvolvidos aps a estabilizao dos colmos principais na cultura, e cujo comportamento similar ao de uma cana jovem (Carlin et al., 2008). Esses brotes diferenciam dos perfilhos do inicio do crescimento pois apresentam caules mais grossos e folhas mais largas e curtas do que os dos colmos principais (Bonnett et al., 2005). Dentre os fatores externos de estmulo ao aparecimento desses brotes destaca-se os elevados perodos de precipitaes (Berding et al., 2005; Bonnett et al., 2005; Carlin et al., 2008) que elevam a umidade do solo. Em adio, o aumento da disponibilidade de nitrognio no final do ciclo da cultura, eleva a incidncia de luz e vento sobre as touceiras, que favorecem o tombamento das plantas adultas, favorecendo o aparecimento dos brotes (Berding et al., 2005). Ao serem colhidos juntamente com a cana madura, h uma tendncia para diminuio da qualidade da matria-prima, devido ao reduzido teor de sacarose e elevado teor de acares redutores nos mesmos (Berding et al., 2005). As folhas constituem-se os rgos assimiladores da canade-acar, e surgem a partir do meristema apical de cada colmo, formada de lmina e bainha. O nmero de folhas por colmo pequeno em plantas jovens e aumenta medida que o colmo cresce, atingindo um nmero mximo de 10 ou mais folhas por colmo, dependendo da variedade e condies de crescimento (Miller; Gilbert, 2009). O estdio de desenvolvimento das folhas ocorrem ao mesmo tempo que o perfilhamento e alongao do colmo, coincidindo com o perodo de maior desenvolvimento da cultura (Bezuidenhout et al., 2003). O crescimento das plantas depende da converso da energia luminosa e energia qumica, cuja intensidade proporcional interceptao capturada da luz pelo dossel da cultura (Smit; Singels, 2006). Bezuidenhout et al. (2003) sugerem trs fases fenolgicas para a parte area da cana-de-acar em relao ao desenvolvimento do dossel e densidade do perfilho. Essas so: fase 1 de emergncia da parte area primria que coincide com o perodo de desenvolvimento de perfilhos primrios, os quais surgem a partir de gemas ou brotos subterrneos; a fase 2 de emergncia da parte area secundria, definida como a continuao do desenvolvimento de perfilhos primrio e estabelecimento dos perfilhos secundrios. E por ltimo a fase 3 de senescncia foliar que ocorre devido competio por luz pelos perfilhos.14

A eficincia de crescimento da cultura determinada pela quantidade de radiao solar interceptada e sua converso em matria seca, sendo a eficincia de seu uso no processo de fotossntese o principal motor da acumulao de biomassa (Sinclair et al., 2004; Heerden et al., 2010). Segundo Singels et al. (2005), o desenvolvimento do dossel regulado essencialmente pela temperatura e radiao, podendo sofrer interferncia no seu desenvolvimento pela cultivar, densidade de plantio (espaamento), o estado hdrico e nutricional. A curva de crescimento da cana-de-acar em funo do tempo apresenta como caracterstica a forma sigmide (Silva et al., 2005). Segundo Machado et al. (1891), esta pode ser divida em trs fases: fase inicial, em que o crescimento lento (at 200 dias aps o plantio); fase de crescimento rpido (entre 200 a 400 dias aps o plantio), onde 75% de toda matria seca acumulada, e fase final (entre 400 e 500 dias aps o plantio) em que o crescimento novamente lento, acumulando 11 % de toda fitomassa. A produo da cultura da cana-deacar est diretamente relacionada ao desenvolvimento da rea foliar, altura e quantidade de colmos por unidade de rea. O aumento do ndice de rea foliar em cana-de-acar rpido, ocorrendo durante trs a cinco meses do seu cultivo (Inman-Bamber, 2004). Estudos mostram que a rea foliar da cana-de-acar aumenta no perodo de grande crescimento da cultura, quando verificam-se os maiores ndice de rea foliar e nmeros de folhas nesse perodo, ou seja, alta eficincia fotossinttica (Sinclair et al., 2004; Silva et al., 2005; Oliveira et al., 2005), entretanto resultados mostraram que com o passar do tempo a capacidade fotossinttica da cana-de-acar decresce, representada pela diminuio da rea foliar (Silva et al., 2005; Oliveira et al., 2005). Os autores sugerem que a capacidade fotossinttica diminui com o desenvolvimento da cultura, pois a planta est tambm mantendo outros rgos, que no foliares, que demandam energia, e que so chamados de drenos, como os colmos, razes e folhas velhas. A dependncia da emisso de folhas em funo da temperatura foi confirmada por vrios estudo (InmanBamber, 1994; Sinclair et al., 2004). Os autores constataram que a temperatura mnima base necessria para o inicio do desenvolvimento foliar 10,8C. Quando a planta submitida temperaturas mais baixas resulta em restrio sobre a taxa de desenvolvimento da rea foliar. A restrio hdrica tambm afeta diretamente o desenvolvimento foliar. Sabe-se que perodos de seca durante a safra, afeta negativamente o desenvolvimento do dossel pela desacelerao da produo de novos brotos

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e folhas e pela acelerada senescncia da parte area (Inman-Bamber, 2004). Smit e Singels (2006), estudando o desenvolvimento fenolgico da cana-de-acar durante o estresse hdrico, verificaram o aumento da senescncia foliar e reduo da rea foliar. Estes resultados esto de acordo com Machado et al. (2009) que tambm constataram uma acentuada senescncia foliar e restrio ao surgimento de novas folhas no perodo de seca. Colaborando nesse entendimento, Robertson et al (1999) observaram que com a suspenso da irrigao ocorreu a queda linear da produo de folhas e perfilhos, pois ocorre reduo na massa seca das folhas e diminuio da rea foliar. Os fatores genticos das plantas influenciam no crescimento da parte area da cana-de-acar, e dependendo do ciclo de maturao da variedade pode interferir no acmulo de matria seca. Variedades de maturao precoce acumulam sacarose antecipadamente, podendo produzir menos biomassa por rea comparada a uma variedade tardia. Em relao ao manejo da adubao, os picos de absoro de nutrientes acontecem nesta fase, sendo que para a cana-planta a absoro da maioria dos elementos minerais ocorre dos nove meses em diante, enquanto para a cana-soca o pico de absoro processa-se na primeira metade do ciclo da cultura, ou seja, do zero aos seis meses de idade. Deve-se atender ao equilbrio nutricional no perodo de grande crescimento, pois o excesso de componentes minerais como o caso do nitrognio pode causar um crescimento excessivo da planta atrasando o perodo de maturao, prejudicando a qualidade da matria-prima, pela diminuio do teor de sacarose dos colmos (Casagrande, 1991). 2.4. Emergncia da inflorescncia e florescimento A cana-de-acar forma uma pancula aberta tipo inflorescncia, cuja forma, grau de ramificao e tamanho so altamente especficos de cada variedade. A inflorescncia consiste de um eixo principal com ramificaes primrias e secundrias. Presas as ramificaes esto as espiguetas arranjadas em pares que contm as flores individuais (Miller; Gilbert, 2009). As flores hermafroditas se apresentam numa inflorescncia terminal tipo pancula, bem ramificada e com formato conoidal, o rgo masculino constitudo por trs estames que sustentam uma antera cada um (Mozambani et al., 2006). O florescimento uma caracterstica gentica da canade-acar existindo variedades florferas e no florferas. Ocorre quando a planta atinge uma maturao relativa de desenvolvimento, nesse momento os primrdios foliares

param de crescer iniciando a produo de inflorescncia, passa de vegetativo para reprodutivo (Miller; Gilbert, 2009). Embora essa seja uma caracterstica desejvel sob o ponto de vista do melhorista, trata-se de um fenmeno indesejvel em reas comerciais, uma vez que nos processos de formao e emisso da inflorescncia ocorre elevado consumo de sacarose e reduo do volume do caldo resultando no aumento do teor de fibras (Araldi et al., 2010). Diversos fatores contribuem para o florescimento de cana tais como: a pr-disponibilidade da variedade para florescer, idade mnima, fotoperodo e intensidade de luz, temperatura, umidade e fertilidade do solo, estado nutricional da planta e altitude, sendo o fotoperodo o fator crtico que determina o momento da induo (Araldi et al., 2010). A induo floral, as hibridaes e produo de sementes de cana-de-acar ocorrem somente sob condies especficas de temperatura e fotoperodo. Nas regies tropicais, o florescimento ocorre naturalmente enquanto nas regies sub-tropicais e temperadas, o fotoperodo deve ser gerado por meio de cmaras de crescimento (Berding; Hurney, 2005). Aliado ao florescimento ocorre o processo de isoporizao, mais conhecido como chochamento, processo que causa a desidratao do tecido e consequente perda no peso final; este processo ocorre de cima para baixo no colmo podendo variar conforme a variedade (Caputo et al., 2007). A cana-de-acar considerada termossensvel para a induo floral, sendo necessrias temperaturas ideais principalmente no perodo noturno. Dentro desse perodo fotoindutivo, a variao de temperatura muito importante no intervalo noite-dia, em que quanto maior o nmero de dias com temperaturas mnimas acima de 18C e temperaturas mximas abaixo de 31C, melhor ser a condio de florescimento e quanto menor for a amplitude de variao trmica, melhor a condio de induo ao florescimento. Se associado temperatura houver bom suprimento de gua nas plantas haver boas condies para a induo do florescimento (Azevedo, 1981). Nos locais onde ocorre florescimento profuso, a temperatura mnima raramente fica abaixo de 18C e a mxima nunca ultrapassa os 32 a 35C (Levi, 1983). Em relao latitude, Rodrigues (1995) relatam que em latitudes maiores, o florescimento sazonal, ocorrendo, principalmente, quando o fotoperodo diminui, isto , quando as plantas esto concluindo o perodo vegetativo. Segundo Clements e Awada (1965), o florescimento geralmente mais profuso em latitudes de 5-15 graus, especificamente entre 7 e 8 graus.15

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A pancula, tambm chamada de bandeira ou flecha da cana-de-acar, sensvel a diferentes fotoperodos desde o perodo de induo at o inicio do alongamento, sendo que o estdio inicial de diferenciao do meristema vegetativo em reprodutivo exige comprimento de dia intermedirio e o estdio mais avanado da formao da pancula e da inflorescncia necessita que o comprimento do dia seja curto (Mozambani et al., 2006). A condio bsica para florescer que o fotoperodo indutivo ocorre quando a durao do dia decresce de 12,8 para 12,3 horas de luz. O nmero de horas de luz/escuro que induz o florescimento em cana-de-acar difere de variedade para variedade (Clements; Awada, 1965). Em relao umidade do solo, Rodrigues (1995) relata que a deficincia hdrica durante o ciclo indutivo, atrasa e reduz o florescimento. Logo, uma tcnica aplicada em locais onde h irrigao, suspender a irrigao (durante os trs meses anteriores induo floral) a fim de se provocar enorme tenso ou estresse hdrico na planta, evitando o florescimento. Esta tcnica pode apresentar alguns problemas, como a cana-de-acar, mesmo em dficit hdrico, pode florescer ou florescer mais tarde ou, ainda, no se recuperar devido ao estresse proporcionado pela seca. No processo de florescimento da cana-de-acar, as clulas meristemticas apicais passam por estmulos de diferenciao deixando de produzir folhas e colmos para formar a inflorescncia. importante detectar o momento desta diferenciao para que se faa o manejo adequado atravs de aplicaes de reguladores vegetais e inibidores do florescimento. Caputo et al. (2007) avaliaram a eficcia de etefon e sulfometuronmetil na maturao, no florescimento, na isoporizao e na produtividade de sete gentipos de cana-de-acar. Identificaram respostas diferenciadas dos gentipos em relao aos maturadores, no sentido que, entre aqueles que floresceram e isoporizaram, apenas houve controle total desses fatores no SP80-1842, enquanto no IAC873396 houve controle total do florescimento e parcial da isoporizao, com maior eficincia para o sulfometuronmetil. Por outro lado, houve controle parcial e semelhante do florescimento pelos dois produtos no gentipo IAC893124, porm a isoporizao foi mais bem controlada pelo etefon. A nutrio das plantas pode afetar a emisso das inflorescncias, principalmente em relao ao nitrognio. De acordo com Araldi et al. (2010), altas doses de nitrognio alteram a relao carbono/nitrognio, diminuindo o florescimento, assim como os demais minerais tambm tm relaes com o florescimento na cana-de-acar. Alexander (1973) observou que h menor florescimento16

quando se combinam altas doses de nitrognio com a suspenso da irrigao, em perodo adequado. Em relao ao potssio, o comportamento no florescimento varivel em funo da variedade utilizada. Doses altas de potssio aumentam o ndice de florescimento em algumas variedades, mas diminuiu em outras (Araldi et al., 2010). 2.5. Maturao Os colmos que sobrevivem forte competio da fase de perfilhamento intenso continuam seus processos de crescimento e desenvolvimento, acumulando cada vez mais sacarose em seus entrens, medida que estes vo amadurecendo (Inman-Bamber et al., 2009). O colmo considerado o fruto agrcola da cana-de-acar, constituise num reservatrio, rgo de armazenamento dos fotoassimilados (sacarose) (Rodrigues, 1995; Inman-Bamber, 2004), apresenta uma estrutura cilindrica, ereto, fibroso e constitudo de ns e entrens; a altura varia de 1,0 a 5,0m e o dimetro pode variar desde menos de 1,0 cm at 5,0 cm (Miller; Gilbert, 2009). Uma sucesso de entrens em diferentes estdios fisiolgicos compe o colmo, isto , entrens maduros, em maturao e imaturos. Os entrens imaturos, localizados na regio do colmo com folhas verdes, so fibrosos, com alta concentrao de hexose e baixa concentrao de sacarose (Inman-Bamber, 2004). medida que estes entrens se desenvolvem sua taxa de crescimento diminui progressivamente, at ser nula, quando os entrens amadurecem (Heerden et al., 2010). Ocorre nessa fase a perda de umidade do colmo que equilibrado por ganho de sacarose e de fibras, o amadurecimento prossegue da parte inferior para a parte superior, portanto, a inferior contm mais acares do que na parte superior (Lisson et al., 2005). As cultivares modernas de cana-de-acar, sob condies ideais, so capazes de armazenar sacarose nos tecidos do parnquima do caule at 62% do peso seco ou 25% do peso fresco (Moore, 2005). A cana-de-acar em funo do seu ciclo perene sofre influncia das variaes climticas durante todo ano. Para atingir alta produo de sacarose a planta precisa de temperatura e umidade adequadas para permitir o mximo crescimento na fase vegetativa, seguida de restrio hdrica ou trmica para favorecer o acmulo da sacarose no colmo na poca do corte (Inman-Bamber; Smith, 2005). Por ser uma planta do tipo C4, possui alta eficincia fotossinttica a ponto luminoso elevado (Mccormick et al., 2008). Na realizao da fotossntese ocorre produo de carboidratos que ser usado primeiramente no de-

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senvolver folhas e razes, em seguida os carboidratos so cada vez mais divididos entre matria seca estrutural e acmulo na forma de acares no colmo. Portanto, quanto maior for a saturao luminosa, mais fotossntese ser realizada contribuindo assim para o aumento na taxa de sacarose acumulada durante a maturao dos entrens, refletindo diretamente em ganho econmico da cultura (McCormick et al., 2008; Moore, 2005). De acordo com Inman-Bamber (2009), as taxas fotossintticas das folhas jovens e maduras no podem explicar as diferenas no armazenamento de sacarose. Isso pode ser explicado pelas diferenas na fotossntese em nvel de planta inteira ou pelas diferenas que ocorrem dentro do colmo ou no sistema de transporte entre a fonte de fotoassimilados nas folhas e da deposio dos fotoassimilados dentro do colmo (Moore, 2005). A temperatura talvez o fator mais efetivo para explicar o acmulo de sacarose na cana-de-acar. O tempo frio retarda o desenvolvimento do colmo e melhora o teor de sacarose (Yamori et al., 2005). De acordo com Alexander (1973), o processo de maturidade fisiolgica depende da reduo da temperatura do ar, diminuindo a taxa de desenvolvimento vegetativo, sem, no entanto, significativamente afetar o processo de fotossntese, de modo que uma maior quantidade de produtos fotossintetizados transformados em acares estar disponvel para o armazenamento nos tecidos da planta. Em estudos realizados sobre a influncia da baixa temperatura na maturao por Uehara et al. (2009) foi verificado que quando a cana-de-acar foi aclimatada em temperaturas baixas de 15,3C no periodo da noite e 26,6C durante o dia, essas temperaturas induziram baixas taxas fotossintticas durante o dia, e as taxas de respirao foram maiores durante a noite quando comparadas com o controle. Os autores constataram tambm que a temperatura baixa diminuiu tanto o comprimento de caule e matria fresca, mas aumentou a concentrao de sacarose, apesar da supresso do crescimento do caule. Portanto, sugerem que desde o crescimento do caule suprimido, o caminho da sntese da sacarose ativado por uma temperatura baixa se de dia ou de noite, assim mais fotoassimilados so direcionado para a produo de sacarose. Quando as condies ambientais comeam a ficar desfavorveis ao desenvolvimento vegetativo da canade-acar, isto baixas temperaturas e baixa umidade do solo, a planta comea a intensificar nesse perodo o acmulo de sacarose, que geralmente ocorre de 11 a 20 meses aps o plantio, conforme a poca da instalao do canavial e variedade utilizada (Cmara, 1993).

Os nutrientes minerais influenciam a maturao da cana-de-acar de acordo com a poca em que esto disponveis s plantas. O excesso de nitrognio principalmente em cobertura estimula o crescimento vegetativo da planta retardando o processo de maturao. A aplicao de vinhaa pode interferir no processo de acmulo de sacarose, por ser composta de gua, matria orgnica, nitrognio e, principalmente, potssio. Atualmente a utilizao de maturadores qumicos, definidos como reguladores vegetais, destaca-se como sendo uma ferramenta importante, visando o manejo da colheita, antecipao da maturao de certas variedades e promove melhorias na qualidade da matria-prima (Leite, 2005; Leite et al., 2009; Silva et al., 2010b). Caputo et al., (2008) trabalharam com reguladores vegetais em resposta a gentipos de cana-de-acar buscando a induo da maturao, concluram que o emprego dos maturadores antecipou a colheita de cana-de-acar em pelo menos 21 dias, em relao testemunha.

3. Consideraes finaisA cada ciclo de desenvolvimento a cultura da cana-deacar submetida a diferentes condies ambientais. O ambiente em que a cultura est instalada promove diferentes respostas nas plantas dependendo do seu estdio fenolgico. Pode-se constatar neste estudo a ntida influncia dos fatores ambientais nos diferentes estdios da cultura, como a restrio hdrica que pode causar limitao no comprimento dos entrens do colmo, a temperatura que o fator de maior importncia para o acmulo de sacarose na maturao e na fase inicial de brotao, e que a radiao solar tem fator de importncia no processo de fotossntese na folha e a baixa luminosidade reduz drasticamente a emisso de novos perfilhos. Assim, estudos desta natureza, so fundamentais para compreender os processos do potencial fotossinttico e de produo de biomassa na cana-de-acar e suas relaes com o ambiente em que esto se desenvolvendo, permitindo a ampliao dos conhecimentos sobre sua adaptabilidade s condies de cultivo.

4. Referncias bibliogrficasALMEIDA, A.C.S.; SOUZA, J.L.; TEODORO, I.; BARBOSA, G.V.S.B.; MOURA FILHO, G.; FERREIRA JNIOR, R.A.F. Desenvolvimento vegetativo e produo de variedades de cana-de-aucar em relao a disponibilidade hdrica e unidades trmicas. Cincia e Agrotecnologia, v.32, n.5, p.1441-1448, 2008.

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Modelagem de variveis climticas, edficas e de manejo para a predio de produtividade em cana-de-acar

Modelagem de variveis climticas, edficas e de manejo para a predio de produtividade em cana-de-acarUniversidade de So Paulo, Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Dept. de Produo Vegetal, Avenida Pdua Dias, 11, CP 9, Bairro Agronomia, CEP 13.418-900, Piracicaba, So Paulo, Brasil. E-mail: [email protected] (*Autor correspondente) 2Centro Avanado de Pesquisa Tecnolgica de Agronegcio de Cana, Caixa Postal 206, 14001-970 Ribeiro Preto (SP). E-mail: [email protected]

Paulo Eduardo Argenton1, Edgar Gomes Ferreira de Beauclair1*, Maximiliano Salles Scarpari2

1. IntroduoO desenvolvimento e a adoo de ferramentas de gesto da produo, que necessariamente utilizam modelos de previso de produtividade, usados na criao de cenrios para planejar e dimensionar a produo de uma unidade canavieira so fundamentais, uma vez que o manejo da cultura envolvendo a escolha e alocao de variedades uma tarefa que envolve inmeras variveis e, conseqentemente, vrias solues. Cabe, portanto, aos modelos, a obteno de tais solues, visando sempre a maximizao dos lucros auferidos com a atividade (Scarpari; Beauclair, 2004). Os modelos que se encontram neste trabalho podem ser classificados de acordo com Sadler e Russel (1997) como modelos de previso de colheita que visem simulao de planejamento via vislumbramento de possveis cenrios de produo. Ainda, de acordo com Baier (1973) so modelos emprico-estatsticos construdos a partir de sries histricas de dados agrometeorolgicos e observaes de dados de produtividade. Um modelo ideal seria aquele que fornecesse uma resposta quantificvel tal como crescimento e produo da planta, baseada nos processos fsicos e fenolgicos das mesmas, utilizando para tanto o efeito de diversas variveis agrometeorolgicas e de manejo de forma conjunta. Tais modelos seriam uma evoluo em relao aos aqui apresentados. Portanto, h necessidade irrefutvel da utilizao de modelos de previso de safras, no entanto, estes, s funcionam adequadamente, se forem alimentados com dados e estimativas confiveis (Scarpari et al., 2007). Uma primeira aproximao se faz necessria atravs da alimentao de modelos de avaliao das variveis de produo que sejam significativas, com dados oriundos do campo, ou seja, de bancos de dados referentes aos rendimentos das variedades utilizadas comercialmente, face as possveis interaes entre planta, solo, clima e manejo. Desta maneira, este trabalho teve como objetivo, a construo de modelos matemticos de previso da produtividade ao longo do ciclo utilizando trs variedades de cana-de-acar cultivadas na regio de Piracicaba, SP em funo das variveis armazenamento de gua22 Tpicos em Ecofisiologia da Cana de Acar

no solo, somatria calrica e produtividade dos cortes anteriores, estratificadas por ambientes de produo.

2. Materiais e mtodosO presente estudo foi realizado tomando como base os dados referentes produo de todos os cortes das variedades de cana-de-acar RB845210, RB855035 e RB855113 (Tabela 1), cultivadas na regio de Piracicaba, SP. Como fatores de manejo foram considerados os Ambientes de produo (Prado, 2005). Assim, foram obtidos modelos matemticos estratificados separando as caractersticas qualitativas e discretas e, dentro delas, foram analisadas as qualitativas e contnuas. Para efeito de anlise, foram agrupados os ambientes de produo A e B (superior), C e D (mdio), e E (inferior). Para cada variedade, buscou-se o maior nmero possvel de repeties de observaes de produo sempre dentro de seus respectivos grupos de manejo de solos. Cada variedade, portanto, teve quantidade diferente de dados analisados como mostra a Tabela 2. Obtiveram-se dados climticos decendiais referentes temperatura e precipitao pluvial de todos os subperodos considerados juntamente com as datas de plantio e corte de todas as variedades do estudo, estas, por sua vez, balizaram os clculos de somatria calrica e balano hdrico de todos os subperodos. Com base nos dados das datas de plantio, corte e temperaturas previamente levantadas foram calculadas as somatrias calricas (graus-dia) (Vila Nova et al., 1972) referentes aos subperodos entre o plantio e o primeiro corte e, entre todos os cortes de todas as variedades para as observaes (repeties) dentro de seus grupos de manejo, segundo a frmula abaixo:G.D.= (Tmax +Tmin)/2 Tb (1)

onde: G.D. = graus dia no perodo considerado;

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Modelagem de variveis climticas, edficas e de manejo para a predio de produtividade em cana-de-acar

Tmax = temperatura mxima diria; Tmin = temperatura mnima diria; Tb = temperatura basal da cana-de-acar. Foram calculados os balanos hdricos decendiais da regio de cultivo, via mtodo de Thornthwait e Matter (1955), considerando diferentes capacidades de gua disponvel no solo - CAD de 100, 75 e 50 mm, de acordo com o grupo de manejo no qual as variedades foram

cultivadas. Ou seja, foi utilizado CAD de 100 mm para os grupos A e B, CAD de 75 mm para os grupos C e D, e, finalmente, CAD de 50 mm para o grupo E. De posse desses dados obteve-se o armazenamento de gua no solo compreendido entre o plantio e o primeiro corte e entre todos os cortes das variedades e suas repeties dentro de seus ambientes de produo alm dos dados finais de rendimento em toneladas de colmo por hectare - TCH para todas as repeties de todos os cortes e variedades em todos os ambientes de produo.

Tabela 1. Caractersticas das variedades empregadas no estudo. Variedade RB845210 RB855035 Brotao Boa Muito boa Cana Planta Brotao Cana Soca Colheita Manual Brotao Cana Soca Colheita Mecan. Perf. Cana Planta Perf. Cana Soca Velocidade de Cresc. Porte Hbito de Cresc. Fechamento Entrelinhas Tombamento Produo Agrcola Maturao Teor de Acar Teor de Fibra PUI Florao Chochamento Adaptabilidade Estabilidade Resitncia a seca Herbicidas poca de Corte Densidade do Colmo Despalha Ambiente de Produo Boa Boa Mdio Mdio Regular Regular Ereto Bom Eventual Alta Precoce Alto Mdio Longo Ausente Ausente Ampla Regular Mdia Tolerante Mai-jun alta Boa Mdia restrio Boa Boa Mdio Mdio Rpido Mdio Ereto Bom Raro Mdia Precoce Alto Mdio Curto Freqente Mdio Ampla Boa Mdia Tolerante Abr.-maio mdia Regular Sem restrio

RB855113 Muito boa Muito boa Muito boa Alto Alto Lento Mdio Ereto Bom Raro Alta Mdia Alto Baixo Mdio Raro Pouco Alta Boa Mdia Sensvel Jul-ago alta Regular Mdia restrio

Tabela 2. Nmero de observaes analisadas por variedade, cortes e ambientes de produo. Variedade Nmero de observaes por ambiente de produo Ambiente A + B Ambiente C + D Ambiente E RB85-5035 58 233 RB84-5210 21 88 190 RB85-5113 220 264- variedade no cultivada no ambiente de produo correspondente.23 Tpicos em Ecofisiologia da Cana de Acar

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Construram-se modelos matemticos de previso de produtividade via regresso linear mltipla por mtodo Stepwise com auxlio do Software Statistical Analisys System SAS, verso 6.11 (SAS INSTITUTE, 1989), referentes interao das variveis graus dia - GD, armazenamento de gua no solo - BH e produtividade dos cortes anteriores, segundo a equao abaixo:y j, k, l = a + jbh + kgd + lcorte + mcorte2

y = toneladas de cana por hectare do corte n; gd = graus dia do perodo considerado; bh = armazenamento de gua no solo no perodo considerado; corte = produtividade do corte n-1; corte2 = produtividade do corte n-1 elevado ao quadrado; ** = modelo significativo a menos de 1%. Os dois modelos calculados foram significativos e todas as variveis independentes que compem os mesmos apresentaram significncia a menos de 15%. Nota-se que a produtividade dos cortes anteriores foi um fator que afetou sobremaneira os resultados obtidos, sendo o armazenamento de gua no solo um fator de influncia positiva apenas nos ambientes C e D, possivelmente devido s melhores condies do solo por melhor capacidade de reteno de gua (maior CAD) comparativamente ao ambiente E. 3.2. Variedade RB845210 Os modelos de previso de produtividade para a variedade RB845210 encontram-se representados pelas eq. (5), (6) e (7). Ambientes de produo A e B:y 0,5 = 390,35144 0,04323gd 15,48670corte R2 = 0,7699** (5)

(2)

onde: y = produo de cana-de-acar (em toneladas por hectare); a = intercepto (corte 1); bh = armazenamento de gua no solo; gd = graus dia; corte = corte da cana-de-acar; corte2 = corte da cana-de-acar elevado ao quadrado; j, k, l, m = coeficientes calculados.

3. Resultados e discussoSegue abaixo os modelos de previso de produtividade das trs variedades de cana-de-acar obtidos neste trabalho. Vale lembrar que tais modelos, de acordo com USDA (1978) encontram-se no primeiro estgio da modelagem, ou seja, esto com nvel de preciso aproximado e no testado, assim, ainda h espao para evoluo para um segundo nvel, ou seja, de validao e predio. 3.1. Variedade RB855035 Os modelos de previso de produtividade para a variedade RB855035 encontram-se representados pelas eq. (3) e (4). Ambientes de produo C e D:y 0,5 = 196,590 + 0,05658bh 5,49947corte R2 = 0,1592 (3)

Ambientes de produo C e D:y 0,5 = 360,89887 33,19894corte + 2,85392 corte2 (6) R2 = 0,4487**

Ambiente de produo E:y 0,5 = 363,45616 43,67745 corte + 4,05331 corte2 (7) R2 = 0,4505**

Ambiente de produo E:y 0,5 = 453,60234 0,01058gd 89,57240corte + 10,47776 corte2 R2 = 0,5595** (4)

Os trs modelos calculados foram significativos, e todas as variveis independentes que compem os mesmos apresentaram significncia a menos de 15%. Nota-se nos modelos que a varivel corte novamente explicou

onde:

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grande parte das causas de variao da produtividade da cana-de-acar. 3.3 Variedade RB855113 Os modelos de previso de produtividade para a variedade RB855113 encontram-se representados pelas eq. (8) e (9). Ambientes de produo C e D:y 0,5 = 366,70163 0,00628bh - 33,59112corte + 2,86554 corte2 (8) R2 = 0,2608**

Ambiente de produo E:y 0,5 = 384,58735 0,00689gd - 43,78228 corte + 3,61876 corte2 (9) R2 = 0,5488**

efeito sobre a produtividade e precisam ser modelados. Apesar do agrupamento das reas produtivas em ambientes de produo, h ainda, outros fatores de manejo, que no foram contemplados nessa pesquisa, portanto, so causas de variaes no explicadas pelos modelos desenvolvidos neste trabalho, como por exemplo, a utilizao de irrigao com vinhaa, a compactao causada pelo maquinrio agrcola, a poca da colheita (se mida ou seca), o tipo de colheita (se manual ou mecnica), o uso de fogo para despalha, a presena e o controle de plantas daninhas, a ocorrncia e o controle de pragas de solo, fertilidade do solo, bem como adubao e correo do solo, a quantidade de palha presente aps a colheita, a relao entre dimetro dos colmos e brotao e o perfilhamento. Portanto, so grandes reas de oportunidade que podero e devero ser abordadas em outros estudos dessa natureza. Santos (1981) estudou os principais fatores que causam flutuaes na produtividade da cana-de-acar e observou que existe uma correlao positiva entre disponibilidade hdrica e produtividade, sendo que o efeito positivo dos anos midos foi de 56% e o coeficiente de determinao foi de 0,8315, ou seja, 0,8315 das causas de variao foram explicadas pela gua, da mesma maneira, lvares (1975) tambm encontrou correlao entre produtividade e precipitao pluvial, sendo que 51% das causas de variao foram explicadas exclusivamente pela chuva. Beauclair (1991, 1994) encontrou relaes entre a produtividade da cana e alguns atributos qumicos do solo, adubao e nutrio das plantas. Trabalhos realizados pelo PLANALSUCAR (1986) mostram o efeito inegvel da temperatura no aumento do nmero de interndios, no dimetro e comprimento dos colmos. Pode-se concluir que a disponibilidade hdrica e a temperatura (somatria calrica) influenciam positivamente na produo da cana-de-acar, no entanto, h outros componentes da produo, que se mal manejados podem interferir negativamente na produo final, no entanto, se estes estiverem adequados contribuem em larga escala para o aumento da produo, assim, os mesmos devem ser incorporados aos modelos, para que o maior nmero possvel de causas de variao seja explicado. De maneira geral, os estudos envolvendo predio da produtividade da cana-de-acar, no consideram as variveis clima, solo, manejo, variedades e produtividade dos cortes anteriores de forma conjunta, como foi abordado neste trabalho, mas sim as analisam isoladamente, isso logicamente, obtm-se constantemente modelos com elevados coeficientes de determinao e com alta correlao entre as variveis estudadas que geralmente so poucas, a exemplo dos resultados obtidos por Santos25

Os dois modelos calculados foram significativos e todas as variveis independentes que compem os mesmos, apresentaram significncia a menos de 15%. Nota-se nos modelos, que a varivel corte novamente explicou grande parte das causas de variao da produtividade da cana-de-acar. Os cortes, por vezes, apresentaram maior importncia na explicao das causas da variao de produtividade da cana do que as variveis edafoclimticas, isso pode ser explicado pela grande heterogeneidade das condies de cultivo e pelos fatores externos. Beauclair (1994), em seu trabalho, tambm detectou que o nmero de cortes tem um grande efeito depressivo sobre a produtividade agrcola da cana-de-acar, sendo responsvel por uma reduo mdia de 26 toneladas para cada corte, assim, somente este efeito explica quase a metade da variao da produtividade (r2 = 0,499) de todos os dados por ele utilizados, desta maneira, as informaes obtidas neste trabalho de pesquisa corroboram as obtidas pelo autor acima citado. A grande importncia de se obter coeficientes de determinao estatisticamente significativos, que, independentemente de seus valores ou ordem de grandeza, as variveis independentes tm influncia comprovada sobre a varivel dependente. Mesmo que os valores no sejam altos as variveis estudadas tm efeito real sobre a produtividade da cana-de-acar. Por outro lado, nos casos em que os coeficientes de determinao so baixos, h uma ntida indicao de que h outras variveis no includas na modelagem que tambm tm

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Modelagem de variveis climticas, edficas e de manejo para a predio de produtividade em cana-de-acar

(1981) e lvares (1975) resultados estes que podem no ser adequados para predizer a produtividade de uma situao real de campo, onde h inmeras variveis que influenciam no resultado final.

PLANALSUCAR-PLANO NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO DA CANA DE ACAR. Cultura da cana-de-acar: manual de orientao. Piracicaba: IAA, Coordenadoria Regional Sul, 1986. 56 p. PRADO, H. Ambientes de produo de cana-de-acar na regio Centro-Sul do Brasil. Piracicaba: Potafs. Informaes Agronmicas, v.110, p.13-17, 2005. SAS INSTITUTE. SAS language and procedures: usage; version 6. Cary, 1989. 638 p. SADLER, E.J.; RUSSELL, G. Modeling crop yield for specific site management. In: USA. The site specific management for agricultural systems. Madison: ASA; CSSA; SSSA, 1997. p.69-79. SANTOS, M.J.Z. Influncias climticas associadas s pedolgicas e econmicas na produo de cana-deacar nos ncleos canavieiros do Estado de So Paulo. So Paulo: Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas/USP, 1981. 411p. Tese (Doutorado em Geografia). SCARPARI, M.S.; BEAUCLAIR, E.G.F. de Sugarcane maturity estimation through edaphic-climatic parameters. Scientia Agricola, v.61, n.5, p.486-491, 2004. SCARPARI, M.S.; LANDELL, M.G.A.; BEAUCLAIR, E.G.F. Optimised agricultural planning of sugarcane using linear programming. In: XXVI CONGRESS OF INTERNATIONAL SOCIETY OF SUGAR CANE TECHNOLOGISTS, 2007, Durban. 2007. p.185-189. USDA. United States Department of Agriculture. Technical manual 520: Modeling. Washington, 1978. p. 1- 11. VILLA NOVA, N.A.; PEDRO JNIOR, M.J.; PEREIRA, A.R.; OMETTO, J.C. Estimativa de graus-dia acumulados acima de qualquer temperatura base, em funo das temperaturas mxima e mnima. Caderno de Cincia da Terra, v.30, n.2, p.1-8, 1972.

4. Concluses1. As anlises foram feitas com dados oriundos de diversas condies edafoclimticas, ou seja, tiveram uma boa variabilidade espacial, fato que confere robustez e credibilidade aos modelos; 2. Os dados, na grande maioria dos casos, tiveram bons ajustes aos modelos, fato comprovado pelos bons R2 encontrados para condies de produo comercial no campo e pela boa significncia em todos os modelos, no entanto, os modelos no conseguiram explicar a totalidade das causas de variao da produtividade; 3. A produtividade dos cortes anteriores explica grande parte das causas de variao dos dados nos modelos encontrados, e, reduz, nos modelos, a influncia de fatores como o armazenamento de gua no solo e somatria calrica.

5. RefernciasALVAREZ, F.G. Cana-de-accar. Caracas: Fundo Nacional de Investigaciones Agropecurias, 1975. 667 p. BAIER, W. Crop-weather analysis model. 1. Summary. International Journal of Biometeorology, Leiden, v. 20, n. 2, p. 313-20, 1973. BEAUCLAIR, E.G.F. Produtividade da cana-de-acar em funo de alguns macronutrientes presentes no caldo e no solo. Piracicaba: ESALQ/USP, 1994. 98p. Tese (Doutorado em Agronomia). BEAUCLAIR, E.G.F. Relaes entre algumas propriedades qumicas do solo e a produtividade da cana-de-acar (Saccharum spp.), atravs de regresso linear mltipla. Piracicaba: ESALQ/USP,1991. 90p. Dissertao (Mestrado em Agronomia).

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Zoneamento agrcola da cultura da cana de aucar para o Brasil e estimativa da produtividade

Zoneamento agrcola da cultura da cana de aucar para o Brasil e estimativa da produtividadeOrivaldo BruniniEngenheiro Agrnomo PhD Agrometeorologia, Pesquisador Instituto Agronmico de Campinas - APTA - SAA, Presidente Fundao de Apoio Pesquisa Agrcola

1. IntroduoO aspectos das mudanas climticas globais vem sido alvo de intenso estudo desde a dcada de 1980, assim como os estudos e os efeitos que esta anomalia ocasiona no planeta e as implicaes para a economia e a vida em sociedade. A Conveno-Quadro das Naes Unidas sobre Mudanas Climticas (CQNUMC), aprovada em 1992, define mudana climtica global como a mudana que possa ser direta ou indiretamente atribuda atividade humana, que altere a composio da atmosfera mundial e que se some quela provocada pela variabilidade climtica natural observada ao longo de perodos comparveis. mercado de carbono j se encontrava em operao de fato, a partir de iniciativas piloto que pretendiam ser reconhecidas com a oficializao do mercado. De acordo com o Relatrio Mudana do Clima 2007: a Base das Cincias Fsicas, publicado em fevereiro de 2007 pelo Painel Intergovernamental sobre Mudana do Clima (IPCC) da Organizao das Naes Unidas (ONU), os aumentos globais da concentrao de dixido de carbono se devem principalmente ao uso de combustveis fsseis e mudana no uso da terra. J os aumentos da concentrao de metano e xido nitroso so devidos principalmente agricultura. Com base nisso, os especialistas do IPCC afirmam com uma confiana muito grande o que, na linguagem do relatrio indic