silveira, comportamento eleitoral

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Opinião Pública, Campinas, vol. II, nº 2, Dezembro, 1994, p. 95-116 Escolha intuitiva: nova modalidade de decisão do voto Flávio Eduardo Silveira Professor do Departamento de Sociologia da UFRGS Resumo O autor afirma a existência de um novo tipo de voto – o voto intuitivo. A escolha intuitiva difere das tipologias tradicionais de decisão do voto: o processo de decisão do voto intuitivo é baseado na sensibilidade e elementos naturais e instintivos. Palavras-chave: escolha intuitiva, participação política, atitudes e valores, eleição presidencial Abstract The author affirms the existence of a new kind of vote – the intuitive vote. The intuitive choice differs from the traditional tipologies of voting decision: the intuitive voting decision process is based on sensibility, natural and instinctive elements. Keywords: intuitive choice, political participation, values and atittudes, presidential election

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Comportamento eleitoral no Brasil

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  • Opinio Pblica, Campinas, vol. II, n 2, Dezembro, 1994, p. 95-116

    Escolha intuitiva: nova modalidade de deciso do voto

    Flvio Eduardo Silveira Professor do Departamento de Sociologia da

    UFRGS

    Resumo O autor afirma a existncia de um novo tipo de voto o voto intuitivo. A escolha intuitiva difere das tipologias tradicionais de deciso do voto: o processo de deciso do voto intuitivo baseado na sensibilidade e elementos naturais e instintivos. Palavras-chave: escolha intuitiva, participao poltica, atitudes e valores, eleio presidencial Abstract The author affirms the existence of a new kind of vote the intuitive vote. The intuitive choice differs from the traditional tipologies of voting decision: the intuitive voting decision process is based on sensibility, natural and instinctive elements. Keywords: intuitive choice, political participation, values and atittudes, presidential election

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    Introduo

    O objetivo de conferir previsibilidade ao voto orientou grande parte das

    teorias e tipologias sobre o comportamento eleitoral. Buscando identificar variveis-chave e construir modelos capazes de prever a opo de voto dos eleitores, muitos pesquisadores voltaram-se explicao e tipificao de comportamentos previs-veis.

    A identificao partidria, considerada nas dcadas de 1940 a 1960 o melhor elemento preditor do voto nos Estados Unidos e em pases europeus, indica um comportamento facilmente previsvel: eleitores partidariamente identificados, dificilmente deixam de votar em candidatos do partido de sua preferncia.

    O mesmo pode ser dito em relao s explicaes do voto, em voga neste mesmo perodo, como produto da posio scio-econmica ou do contexto social. Caractersticas sociais similares (formao familiar, educao, religio, origem tnica, classe social, local de residncia, entre outras) implicam predisposio a comportamentos eleitorais semelhantes. Deste modo, considerava-se provvel nos anos 1960, que um prspero agricultor protestante norte-americano escolhesse o partido republicano e que um operrio sindicalizado, politicamente consciente, de um centro urbano europeu, votasse no partido situado esquerda (LAZARSFELD, 1966; LIPSET, 1967).

    O voto clientelista, considerado predominante pelos estudos sobre comporta-mento eleitoral no Brasil nas dcadas de 1940 a 1960, tambm expressa um comportamento previsvel eleitores desinformados, incultos, rurais, subordinados aos chefes polticos locais, trocam seu voto por benefcios pessoais imediatos, votam a cabresto ou seguem a orientao de um poltico personalista, em funo de admirao/devoo pessoal, fidelidade, tradio familiar ou pertencimento a um reduto eleitoral (VIANNA, 1930; LEAL, 1949; JAGUARIBE, 1950).

    Nada mais previsvel do que o comportamento dos eleitores ideolgicos que dispem de informao e conhecimento poltico e que escolhem seu candidato em funo das idias e dos programas polticos. Como demonstrou Converse (1964), na dcada de 1960, possvel predizer o comportamento eleitoral e as opinies polticas dos eleitores que compem este seleto grupo (chamados por ele de idelogos) a partir do conhecimento prvio de outras das suas opinies e atitudes, pois eles apresentam forte inter-relao lgica entre suas idias polticas.

    O objetivo da previsibilidade est igualmente presente nos modelos da escolha racional e do eleitor consumidor, valorizados e desenvolvidos a partir das alteraes substanciais no comportamento eleitoral, observadas nos contextos norte-americano e europeu nas duas ltimas dcadas: o declnio da identificao

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    partidria, da transmisso do voto de gerao a gerao, do voto classista, da fidelidade a partidos ou candidatos, da continuidade do hbito de voto e o crescimento do voto orientado por questes substantivas, do voto flutuante, voltil, instvel, infiel, mudancista e volvel.

    De acordo com esses modelos, tornou-se predominante o eleitor racional e calculador, no-aptico, bem informado sobre assuntos polticos e com pontos de vista definidos sobre estes assuntos, que decide o seu voto a partir de um conjunto complexo de fatores. Dentre esses fatores destacam-se clculos de utilidade pessoal, tendo em vista o objetivo de maximizar a sua ao; avaliao das plataformas polticas e do desempenho dos partidos e candidatos em relao s questes polticas consideradas pertinentes; avaliao das afinidades entre o seu ponto de vista e as propostas dos partidos e candidatos, e clculos sobre o modo mais eficaz de agir frente oferta eleitoral.

    A importncia atribuda a esses fatores varia de acordo com as circunstncias da disputa eleitoral. O eleitor, de forma anloga ao consumidor, escolhe em cada situao o partido e o candidato que julga ser o mais til para os fins polticos desejados. Cada eleio como uma nova compra em que mercadorias familiares e novas esto em oferta, e o eleitor procura escolher aquelas atravs das quais pode obter maiores ganhos (ELSTER, 1986; HIMMELWEIT, 1981).

    O comportamento deste tipo de eleitor pode ser previsto a partir do conhecimento das suas opinies e posies polticas, e dos seus interesses pessoais ou de grupo, pois sabe-se que ele ir procurar sempre, em cada situao diferente, agir de modo racional e estratgico visando defender da forma mais eficaz suas posies e seus interesses. As alternativas e propostas em jogo e o quadro da disputa de uma eleio permitem prever como um eleitor com determinados interesses e posies ir reagir frente oferta eleitoral.

    Nos modelos explicativos mencionados, entre outros que poderiam ser citados, comportamentos pouco previsveis foram deixados margem. Contudo, difcil explicar o comportamento eleitoral brasileiro da atualidade descartando os comportamentos pouco previsveis e privilegiando as variveis tradicionalmente estudadas.

    A partir da dcada de 1970, com as transformaes ocorridas no pas (industrializao, urbanizao, elevao do nmero de escolarizados e ampliao do alcance dos meios de comunicao de massa, especialmente da televiso) tornou-se insustentvel pensar a poltica brasileira a partir da lgica dos redutos eleitorais e do voto clientelista dependente dos cls familiares locais. Mantiveram-se relaes clientelistas em contextos rurais e urbanos, mas hoje o eleitor clientelista representa grupos limitados, quantitativamente menos relevantes, o voto clientelista atualmente uma modalidade de deciso eleitoral especfica que no pode ser generalizada como comportamento dominante.

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    A identificao partidria, considerada varivel-chave para a explicao do voto no Brasil na dcada de 1970, reduziu consideravelmente sua importncia com o fim do sistema bipartidrio (1979). Vrias pesquisas realizadas nas dcadas de 1980 e 1990 indicaram o declnio das taxas de preferncia partidria e o crescimento da proporo de eleitores que votam em funo do candidato (BAQUERO, 1986; SILVEIRA, 1988; MUSZYNSKI, 1989; 1990; MENEGUELLO, 1994). As eleies presidenciais de 1989 evidenciaram a frgil influncia da preferncia partidria, com a vitria de um candidato vinculado a uma sigla inexpressiva, organizada precariamente para a disputa eleitoral e com o desempenho medocre dos candidatos dos partidos brasileiros mais fortes no Congresso Nacional (PMDB e PFL).

    A varivel posio scio-econmica tampouco tem se demonstrado um guia seguro para a explicao do comportamento eleitoral brasileiro, o exame dos resultados das pesquisas eleitorais realizadas nos cinco ltimos processos eleitorais no nos permite delinear padres nacionais consistentes de associao entre indicadores scio-econmicos e inteno de voto. O voto classista pode ser observado no caso de setores assalariados sindicalizados (como os metalrgicos de So Bernardo do Campo) que apiam o Partido dos Trabalhadores. Mas o voto da grande massa de eleitores pauperizados, pouco escolarizados e politicamente desinformados, muitas vezes se dirigiu para candidatos conservadores, como ocorreu com a candidatura de Collor nas eleies presidenciais de 1989 (SINGER, 1990).

    Grupos ainda mais restritos correspondem ao perfil do votante ideolgico, informado, politizado, capaz de estruturar logicamente um conjunto de saberes especficos e contedos polticos; e do eleitor calculador-estratgico, que igual-mente dispe de saber poltico e escolhe seus candidatos em funo de afinidade com propostas, clculos de utilidade e estratgias de ao frente oferta eleitoral.

    Pesquisas realizadas desde a dcada de 1970 demonstram que a maioria dos eleitores brasileiros apresenta pouca informao poltica, pequeno grau de estruturao ideolgica e fraca inter-relao lgica entre suas idias polticas (REIS, 1978). O pequeno grau de coerncia, segundo uma lgica poltica, indicado pela grande massa de eleitores que escolhem candidatos politicamente dspares em um mesmo processo eleitoral, como se observou nas ltimas eleies gerais. As combinaes politicamente incoerentes verificadas pelas pesquisas de inteno de voto demonstram que, para a maioria dos eleitores, no a lgica propriamente poltica que preside a definio das alternativas escolhidas.

    H no Brasil um grupo considervel de eleitores de baixa renda, pouco informados politicamente e pouco escolarizados que no so clientelistas nem seguem padres de comportamento coerentes e previsveis. Como estes eleitores decidem o seu voto?.

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    A pesquisa que estou realizando sobre a deciso de voto no Brasil conduziu-me a incursionar neste terreno. Ao investigar tipos de eleitores e modalidades de deciso do voto, deparei-me com comportamentos que dificilmente podem ser enquadrados nas tipologias e teorias apresentadas pela literatura sobre o assunto. O mais interessante deles o que estou chamando de escolha intuitiva1.

    Este trabalho ir apresentar as caractersticas que definem esta modalidade de escolha eleitoral pouco previsvel, que no se apia em suportes racionais nem em padres de identificao estveis, mas em elementos primrios que socorrem eleitores desprovidos de saber poltico a tomar decises no mundo, para eles estranho, da poltica.

    Aspectos conceituais

    O termo intuio aparece com freqncia na literatura filosfica desde a

    antiguidade grega. Devido existncia de diferentes interpretaes e muitas controvrsias sobre o significado, o alcance e as implicaes do conceito de intuio, considero necessrio, mesmo que de forma breve e sucinta, delimitar e precisar o sentido com que ele ser empregado neste trabalho.

    Conforme a definio usual, intuio significa uma forma de descobrir uma certa realidade ou de apreender uma verdade, sem a utilizao do pensamento racional, discursivo e analtico. Esta forma de conhecimento pode ser mais ou menos limitada, ter maior ou menor poder de captar a realidade; reside a o foco central das principais controvrsias sobre o tema. encontradia na literatura a distino entre a intuio sensvel ou emprica, limitada percepo imediata de um objeto emprico por meio das sensaes, e a intuio intelectual ou eidtica (do grego eidos, essncia) que tem maior alcance, podendo captar imagens da essncia das coisas e das relaes e realidades transcendentes, que no so apreensveis pelos meios racionais.

    Kant, entre outros, negou a existncia da intuio intelectual, ou da possibilidade de se captar essncias sem o pensamento racional, discursivo e analtico. Em termos da anlise kantiana, o que mais se aproxima da idia de intuio intelectual o que ele chamou de intuio pura, forma pura de sensibilidade. A percepo emprica de um objeto como fenmeno no dada por si mesma, requer o concurso da intuio pura. Mas, para o conhecimento dos fenmenos no basta intuio: necessrio a utilizao de conceitos, produzidos pelo pensamento racional e analtico (KANT, 1985).

    1 Pesquisa: Tipos de eleitores e modalidade no Brasil.

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    Husserl, em um sentido contrrio, desenvolveu a concepo aristotlica de intuio intelectual ou notica (do grego noetiks, inteligente) no sentido de intuio essencial (do alemo Wesenanschauung) ou eidtica (do grego, eidetiks, essencial), uma apreenso originalmente criativa da essncia das coisas e das relaes, realmente existentes e imaginadas, muito alm da percepo imediata dos objetos. A intuio emprica pode transformar-se em essencial na medida que transcender a apreenso sensvel imediata e captar o qu das coisas, chegando at a essncia pura. Este processo corresponde a uma forma intuitiva de pensamento (HUSSERL, 1967).

    Diferentemente de Kant, que considera cegas as intuies sem conceitos, Husserl acredita que elas constituem uma forma de pensamento capaz de captar no somente objetos reais mas tambm metafsicos. Fenmenos no considerados pelo conhecimento cientfico poderiam ser percebidos e entendidos pelo pensamento intuitivo, de modo semelhante, os pensadores eclesisticos conceberam a intuio intelectual como intuio divina, forma atravs da qual Deus se compreende e compreende todo o existente, acessvel em parte ao homem atravs da meditao. Este conhecimento intuitivo no seria muito diferente do discursivo, pois os dois teriam por origem a mesma potncia intelectual, o esprito puro divino (S. TOMS DE AQUINO, 1973).

    O sentido que ser aqui atribudo ao termo compreende a noo de intuio sensvel e emprica, mas no se limita a ela. O objeto emprico ou sensvel constitui a referncia primria do conhecimento intuitivo, mas outros elementos de sensibilidade esto presentes neste modo de descobrir o que ou o que deve ser. No se trata da apreenso de realidades metafsicas, como a realizada atravs da sensvel percepo dos intelectuais ou da meditao dos religiosos, mas de uma percepo de pessoas comuns que no dispem de recursos intelectuais conceituais filosficos. Esta percepo no se pretende cientfica, no se pretende diferentemente do pensamento intuicionista superior ao conhecimento racional e discursivo, como um conhecimento efetivamente verdadeiro, capaz de captar a essncia das coisas. Embora as pessoas comuns muitas vezes no acreditem em verdades cientificamente comprovadas, preferindo manter suas crenas e idias oriundas de suas experincias e tradies, e utilizar seus recursos intuitivos para orientar sua ao, essas pessoas no acreditam que sua forma intuitiva de perceber as coisas corresponde a um mtodo de conhecimento superior ao saber racional analtico.

    Do ponto de vista do cientista, a intuio tem um papel importante como princpio e fonte de conhecimento, indicando possibilidades, hipteses, que precisam ser submetidas prova, verificao e anlise. Mas, do ponto de vista das pessoas comuns, desprovidas de saber intelectual, no interessa a verificao cientifica. A percepo intuitiva dessas pessoas um conhecimento espontneo, que no passa por provas, racionalizaes e no produz conceitos e teorias. O que

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    esta forma de conhecimento produz coincide com o que produzido. O resultado da intuio no encarado como suposio ou hiptese, mas como verdade, que vale por si mesma, no precisando ser comprovada.

    Intuio , deste modo, definida como uma forma de percepo (do alemo Wahrnehmung, tomar por verdadeiro) atravs da qual pessoas comuns, que dispem de pouco saber intelectual, encontram verdades. Tomar por verdadeiro o percebido no garante que seja verdadeiro o resultado da percepo: essas verdades podem corresponder realidade ou ser ilusrias. Isto depende de cada caso, de cada situao, mas, de qualquer modo, na perspectiva da argumentao aqui desen-volvida, tem pouca importncia. A iluso como diz Bourdieu no ilusria, no sentido de que as representaes e verdades dos sujeitos so elementos constitutivos de realidades objetivas. Seria trair a objetividade, desconsiderar o papel das represen-taes subjetivas na conformao dos fenmenos sociais (BOURDIEU, 1986). A percepo intuitiva a que estou me referindo tem um carter mundano: est ligada sensibilidade das pessoas comuns como relao cognitiva primria e natural do homem, utilizada freqentemente na vida cotidiana. Isto envolve as impresses, sensaes, percepes de evidncias e verdades obtidas atravs dos elementos da experincia cotidiana que o sujeito considera confiveis (o que ele v, o que ele ouve, o que ele sente), afeies e simpatias, atravs das quais se estabelecem identidades, e percepes que envolvem outras formas de sensibilidade. Embora se trate de pessoas comuns, que no utilizam mecanismos mentais especiais (como a meditao), sua intuio, produzida de forma espontnea, no se limita simples percepo emprica de objetos.

    Transcende percepo emprica como uma espcie de adivinhao instintiva que possibilita uma apreenso extra-racional de fenmenos. Sem nenhum elemento mediador, apreende totalmente o apreendido atravs da sensibilidade. Apreende, em um olhar, relaes de maior amplitude, como as existentes na produo e na contemplao artstica. O sujeito que produz utiliza sua sensibilidade intuitiva para a criao da sua obra. Esta intuio , por vezes, sentida como inspirao, quando repentinamente abre perspectivas imprevistas, permitindo ao artista atingir as formas estticas desejadas. O sujeito que contempla ouve sua sensibilidade intuitiva para apreender a qualidade esttica do objeto contemplado.

    Para a avaliao do que belo em obras de arte, todos utilizam a intuio. Alguns, que dispem de conhecimentos estticos e culturais, usam tambm estes conhecimentos para guiar suas intuies e para justificar racionalmente suas preferncias. Os que no dispem destes conhecimentos recorrem apenas a sua intuio. Analogamente, isto ocorre com um certo tipo de eleitor que dispe de pouco saber poltico: escolhe o melhor candidato, utilizando seus recursos intuitivos, sem a mediao de clculos racionais prprios do pensar e agir polticos.

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    Assim, o que estou chamando de escolha intuitiva, uma forma de deciso do voto que se realiza como o julgamento do quadro preferido para no iniciados nos assuntos das artes: por no disporem dos conhecimentos estticos e culturais necessrios para realizar uma escolha racionalmente justificada da preferncia, se valem, para identificar o quadro mais bonito, de seus recursos intuitivos. No sabem explicar precisamente porque certo quadro o mais bonito, do mesmo modo como no sabem expressar atravs de argumentos lgicos a preferncia por um candidato. Quando interrogados, acabam formulando respostas demasiada-mente genricas e inespecficas que tendem a se confundir numa mesma vala comum: escolhi este candidato porque era o melhor, gostei dele, etc. No sabem explicar racionalmente suas escolhas porque elas no foram feitas a partir de critrios racionais do pensamento discursivo e analtico, mas sim atravs de uma forma de conhecimento intuitiva, uma apreenso da realidade atravs da sensibilidade, que possibilita, em um olhar, a captao das imagens necessrias deciso eleitoral. Informao e participao poltica

    A escolha intuitiva uma forma de deciso eleitoral adotada por eleitores

    pouco informados sobre assuntos polticos, que no dominam os termos especializados da linguagem poltica, que no conhecem os saberes especficos (conceitos, problemas) do mundo poltico e que no sabem orientar sua ao de forma adequada e lcida neste terreno.

    Mesmo sem dispor dos recursos necessrios para orientar sua interveno poltica e sem dispor de experincia de participao em entidades, sociedades ou instituies, estes eleitores, no abrem mo da participao nas eleies. Diferenciam-se, deste modo, de outros eleitores tambm desprovidos de saber poltico, que se auto-excluem do processo eleitoral dizendo que no lhes interessa, por no gostar da poltica e dos polticos. Podem ser encontradas, no precrio repertrio conceitual dos eleitores intuitivos, idias pejorativas sobre os polticos e a poltica e muitas desconfianas em relao capacidade dos partidos e agentes polticos realizarem aes que atendam suas expectativas e seus interesses. Mas esses eleitores no so indiferentes em relao aos candidatos/partidos e descrentes em relao s possibilidades de que uma escolha eleitoral acertada possa produzir melhorias na situao da cidade, do estado, do pas.

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    Embora estejam objetivamente marginalizados no jogo poltico, fazem questo de votar, de exercer seu direito de escolher candidatos no processo eleitoral, rejeitando outras posturas adotadas por eleitores politicamente desinformados e excludos, como o voto nulo, o voto em branco e o voto ao acaso. Recusam-se tambm delegar o seu voto para pessoas de sua confiana pessoal (amigos, parentes, etc.) ou para grupos com os quais se identificam ou consideram confiveis (religiosos, comunitrios, partidrios, etc.). Como no abrem mo de exercer o direito de decidir seu voto e, ao mesmo tempo, no dispem das condies e dos conhecimentos especficos necessrios para uma ao lucidamente orientada no processo poltico e eleitoral, estes eleitores realizam sua escolha eleitoral valendo-se de seus recursos intuitivos.

    Clientelismo e Personalismo

    A incultura e a desinformao poltica foram muitas vezes associadas, pelos

    estudos sobre comportamento eleitoral no Brasil produzidos especialmente at a dcada de 1960, ao clientelismo e ao personalismo. Eleitores pouco informados politicamente, seriam manipulados pelos chefes polticos locais: seguiriam cegamente sua indicao de voto, em troca de favores e de benefcios pessoais imediatos ou em funo de fidelidade pessoal. O voto se daria em funo de uma identificao personalista, com o candidato ou com o chefe poltico local, e no em funo de uma afinidade com partidos e programas polticos (VIANNA, 1930; LEAL, 1949; JAGUARIBE, 1950).

    A escolha intuitiva diferencia-se muito destas modalidades de voto. Os eleitores intuitivos mostraram-se avessos relao clientelista: responderam negativamente s questes que sugeriam a possibilidade de obteno de benefcios imediatos atravs do voto e posicionaram-se contrariamente a esta prtica. Embora reclamem do Estado benefcios (como melhoria das condies da rua, esgoto, iluminao, escola, posto de sade, etc.) e considerem ser papel dos polticos e governantes garantir a realizao de tais servios, no aceitam utilizar o seu voto como mercadoria. Um poltico que fez muito pelo bairro pode receber o voto deste tipo de eleitor, mas o voto dado porque ao fazer muito o poltico demonstrou que bom, que comprometido, que merece receber o voto e no porque ele comprou o voto. O eleitor intuitivo faz questo de exercer seu direito de escolha e, assim, no aceita vender o seu voto. Quer manter sempre a possibilidade de alterar sua escolha, punindo os polticos que enganam e buscando alternativas que se mostrem mais acertadas.

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    O voto do eleitor intuitivo, em geral, definido em funo do candidato e no do partido, mas no se trata de um voto personalista na antiga acepo, como um voto dado em funo de admirao/devoo pessoal, de subordinao ao chefe poltico local, de fidelidade pessoal, de tradio familiar, regional ou de pertencimento reduto eleitoral. Este tipo de eleitor no se encontra preso a relaes de dependncia de carter tradicional e no fiel a nenhum candidato em particular. Tambm no costuma votar do mesmo modo que familiares, vizinhos, colegas de trabalho, etc. No segue, assim, o padro sociolgico do voto como produto da interao social (a tendncia dos membros de grupos de vizinhana, famlia, estudo, trabalho, religio, etnia, etc. terem um comportamento poltico e eleitoral semelhante, observada, por exemplo, pelos estudos de Lazarsfeld); nem tampouco o padro do voto como produto da identificao classista (a tendncia dos membros das classes sociais, quando possuem conscincia poltica, votarem nos partidos que defendem seus interesses), indicado por trabalhos que utilizam o modelo da conscincia de classe da tradio marxista (LAZARSFELD, 1966; PIZZORNO, 1976).

    A orientao do voto est associada menos aos laos e relaes socialmente estabelecidos e mais a uma deciso considerada individual ao estilo do individualismo do eleitor calculador racional (ELSTER, 1986). Sabe-se que, em funo de auto-estima e de consistncia cognitiva, as pessoas tm dificuldade de reconhecer as influncias que recebem e tendem a perceber suas aes como produto da sua deciso pessoal. Contudo, o exame das respostas de questes em que este vis subjetivo minimizado indicou que a escolha em grande medida marcada pelo selo pessoal do eleitor. Pessoas com insero social similar apresentaram opes eleitorais diferentes, orientadas no por referncias de grupos e segmentos sociais (religio catlica, classe trabalhadora, condio feminina, etc.), mas por imagens do que visto como certo e desejvel no comportamento dos polticos (honestidade, conduta limpa, sinceridade, compromisso com o povo, etc.). Volubilidade e racionalidade

    O eleitor intuitivo mostrou-se volvel, escolhendo candidatos e partidos

    distintos do ponto de vista poltico e ideolgico em cada processo eleitoral. E, ao contrrio do que poderia se esperar, estes eleitores no tentaram esconder a incoerncia das suas opes eleitorais atuais e anteriores, assumindo, sem qualquer constrangimento, sua posio de ter votado, em vrias ocasies, em candidatos poltica e ideologicamente muito distantes.

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    A elevada volubilidade lembra o comportamento instvel, verstil e varivel do eleitor calculador racional e consumidor que tem sido considerado nas ltimas duas dcadas relevante em pases europeus e nos Estados Unidos (HIMMELWEIT, 1981). Mas, a escolha intuitiva diferencia-se muito da escolha racional, na medida que no se apia em uma lgica de clculo racional sobre a oferta eleitoral. Os eleitores intuitivos entrevistados responderam negativamente questo Voc j deixou de votar no seu candidato ou partido preferido para votar em outro com mais chances de derrotar aquele que voc julgava ser o pior?, do mesmo modo que rejeitaram, em outras questes, o uso de clculos de utilidade pessoal para a deciso da ao poltica e eleitoral.

    As opes do eleitor intuitivo, diferentemente do racional/consumidor, raramente esto baseadas nas plataformas polticas dos partidos e candidatos. Ao invs de uma lgica poltica (examinar as propostas dos candidatos/partidos, avaliar a situao poltica e fazer um clculo racional do que mais apropriado para potencializar a sua ao no jogo poltico), este tipo de eleitor utiliza, para fazer a sua escolha eleitoral, uma lgica que tem mais a ver com o gosto e a simpatia e similar quela que ele utiliza no cotidiano para julgar as pessoas (julgar pelo que ela faz, pelo que ela passa). A escolha se d mais por identificao: o eleitor intuitivo se identifica a cada eleio com candidatos de diferentes partidos em funo de suas percepes sobre como deve ser o comportamento e o perfil do poltico.

    Poderia-se dizer que se trata de outro tipo de eleitor consumidor, desprovido de saber poltico, que compra os produtos poltico-eleitorais tendo em vista a imagem dos candidatos. No se pode negar que, em um certo sentido, seja possvel afirmar isto. Mas, considero prefervel utilizar a analogia com a avaliao de quadros do que com o ato de consumo por entender que, neste ltimo caso, o conhecimento e a lgica utilizada so distintos. Por mais escassa que seja a experincia do consumo de uma pessoa, a prtica de consumir produtos freqentemente proporciona a ela um conhecimento sobre os elementos da sua deciso incomparavelmente superior ao conhecimento que dispem os eleitores desinformados sobre o complexo mundo da poltica. A lgica utilizada para a deciso de consumo se apia na relao entre a utilidade (ou a desejabilidade) de um produto e a avaliao do seu preo, da sua qualidade, do atendimento e dos servios oferecidos pelo estabelecimento comercial. Se um consumidor considera muito til um determinado produto, mas no tem condies de adquiri-lo em funo do seu elevado preo, poder optar por um similar de qualidade inferior ou poder se endividar para adquirir o produto com a qualidade desejada. Se optar pelo preo mais baixo de um produto de qualidade inferior, poder sofrer decepo com o produto, em funo de sua menor durabilidade ou de seu fraco desempenho. Se optar pela maior qualidade, poder ter custos tambm elevados decorrentes das

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    dvidas contradas. O produto poder ser adquirido em uma loja que oferece um atendimento timo, rpido, mas que apresenta preos mais elevados, ou em outra loja, que apresenta preos mais baixos, mas oferece um atendimento pior, com longas e demoradas filas. A opo neste caso se d na avaliao do menor custo entre a diferena de preo e a perda de tempo/desgaste psicolgico. Este conjunto de elementos de clculo racional prprios da deciso de consumo no esto presentes na escolha intuitiva. A seleo de candidatos que faz o eleitor intuitivo e fracamente racional e fortemente emocional, definida por identificao com determinados candidatos.

    A lgica utilizada para as escolhas eleitorais no propriamente poltica. Embora elementos polticos sejam utilizados para justificar preferncias, esta utilizao bastante instrumental. Os eleitores intuitivos recolhem do discurso poltico que tm acesso alguns elementos pontuais que utilizam de forma nem sempre apropriada quando falam sobre poltica. As idias polticas utilizadas no so ordenadas logicamente e estruturadas no nvel de abstrao prprio do discurso poltico. Muitas vezes so idias desconexas e contraditrias do ponto de vista da lgica poltica. Esta desarticulao lembra o padro, observado pelos pesquisadores da escola de Michigan, do votante pouco informado e pouco escolarizado que expe idias polticas fracamente inter-relacionadas do ponto de vista lgico, no sendo possvel predizer suas opinies e atitudes a partir do conhecimento prvio de suas idias (CONVERSE, 1964; CAMPBELL, 1964).

    Os eleitores intuitivos apresentaram um aglomerado heterogneo de verdades polticas, pequenos blocos indivisveis de idias pr-fabricadas, retiradas do discurso poltico, a partir de um princpio no-poltico adquirido por simples familiarizao, de modo pr-reflexivo, e vinculadas s suas experincias concretas, imediatas e singulares. Da a aparncia catica e contraditria do pensamento deste tipo de eleitor que para usar os termos de Bourdieu fala de poltica sem possuir um discurso poltico e sem dispor do conhecimento dos meios de produo das suas opinies polticas (BOURDIEU, 1979).

    Quando colocado frente s contradies entre suas idias, este eleitor reage reafirmando as mesmas opinies. Se, por exemplo, ele sustenta certas posies que esto em desacordo com as idias de um candidato que ele considera bom, ele tende a manter as suas idias e a manter sua avaliao positiva sobre o candidato, como se fossem elementos distintos que no se inter-relacionam, definidos por motivos distintos. O candidato pode ser considerado bom porque ele passa isto, porque isto est no olhar dele, porque est escrito, porque ele age bem, etc.; e a idia pode ser tida como boa, mesmo sendo desaprovada por este candidato bom, porque ela se mostrou acertada a partir de experincias vividas. A contradio que existe do ponto de vista de uma lgica poltica no percebida quando se pensa a poltica a partir de um princpio intuitivo.

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    Viso do mundo poltico

    muito difcil falar em viso do mundo poltico dos eleitores intuitivos devido heterogeneidade de vises existente entre eles e ao carter tambm heterogneo, fragmentrio e desarticulado das idias polticas de cada um deles. Uns tm idias que se aproximam das de outros sob determinados aspectos e se diferenciam sob outros. As idias de um mesmo eleitor muitas vezes sugerem alinhamentos diferentes. Por outro lado, h muitas opinies e crenas sobre vrios assuntos que so comuns. Separando os blocos de idias por temas e desconsiderando a inter-relao entre eles, pode-se distinguir algumas clivagens principais e algumas idias comuns no pensamento deste tipo de eleitor.

    Entre as clivagens que apareceram com certa insistncia, figura em primeiro plano a oposio entre democracia e ditadura. Esta oposio no est associada autodefinio poltica e ideolgica. Foram encontrados tanto eleitores simpticos a governos autoritrios que se auto-definiram como sendo de esquerda ou de centro-esquerda (para eles uma pitadinha de Getlio Vargas ou um cara de pulso firme no comando seriam necessrios para promover as mudanas que o pas precisa no sentido de favorecer os mais pobres), como foram encontrados eleitores auto-definidos como de direita favorveis a governos autoritrios (especialmente do tipo militar) tendo em vista o objetivo de botar ordem na casa.

    Os eleitores favorveis democracia (tanto os situados mais esquerda, como mais direita no espectro poltico-ideolgico) defenderam este regime por motivos como o povo deve decidir, imagina uma ditadura com o Collor no poder, no se pode acabar com o direito de voto, o certo, etc. Houve quem condicionasse o regime ao governante, afirmando que se o governante for bom, um cara justo, bom que o governo seja uma ditadura.

    A defesa do regime democrtico pareceu, de um modo geral, pouco slida. Os que afirmaram preferir a democracia ditadura consideraram, em outras questes, problemas econmicos e polticos-morais mais importantes. Na pergunta sobre o governo que o Brasil precisa, as respostas mais recorrentes referiam-se melhoria dos salrios e da situao econmica do pas, defesa dos pobres e eliminao da corrupo, no sendo praticamente mencionada a necessidade de consolidao do regime democrtico ou de ampliao da democracia. A idia de democracia parece ser algo muito abstrato e distante para este tipo de eleitor.

    Outra clivagem que mostrou-se importante refere-se avaliao da situao do pas e ao modo de melhor-la. As respostas sobre os principais problemas do pas, a soluo para estes problemas e o governo que o Brasil precisa apresentaram uma tonalidade ora mais marcadamente econmica, ora mais marcadamente moral. Em muitos casos elementos econmicos e morais se misturaram nas respostas. Mas pode-se distinguir duas nfases: de um lado, em problemas econmicos (salrios,

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    custo de vida, misria, desemprego, etc.) e em sadas polticas que resolvam tais problemas (um governo que acabe com a misria, que defenda os que esto em pior situao); de outro lado, uma nfase em questes morais (corrupo, falta de carter, de decncia, de honestidade) e, em sadas polticas tambm moralizantes (governo honesto, limpo, que acabe com a corrupo, moralize o pas).

    Entre as idias comuns destacou-se a viso dos polticos como corruptos e enganadores, que no agem como deveriam e somente se preocupam com os seus interesses particulares. Ao invs de somente pensar em si mesmos, os polticos deveriam ajudar a sociedade, fazer o bem para todos, contribuir para melhorar a situao do pas. Ao invs de s dar discursos, os polticos deveriam agir mais e produzir mais resultados com suas aes.

    No entender dos eleitores intuitivos, os polticos no agem como deveriam em funo de razes morais (so safados, esto na poltica para isto mesmo), em funo de interesse pessoal (no querem perder sua boquinha, esto nessa por dinheiro, querem poder) e porque no podem (so abafados pelos de cima). Ao lado de explicaes mais simplistas e imediatistas, que percebem o problema como pessoal e moral (cada poltico individualmente mesquinho, egosta, oportunista, mentiroso, desonesto, ladro), aparecem explicaes que percebem o processo de cooptao (quando sobem, esquecem os de baixo) e a existncia de estrutura de poder, na qual indivduos tm poder limitado (tem gente bem intencionada que no consegue fazer o que deve porque os outros os de cima, os que tm grana no deixam).

    Entre as caractersticas que os polticos deveriam ter, foram apontadas predominantemente trs: 1) ser bom, isto , em cada momento, em cada situao, agir de modo correto, escolhendo a alternativa mais justa, tomando as decises mais certas; 2) ter compromisso com o povo, no sentido de ser ligado ao povo, ajudar os que mais precisam, fazer aes e obras em benefcio dos bairros pobres, ser acessvel, consultar as pessoas e resolver os problemas por elas apontados; 3) ser honesto, no sentido de ter um passado limpo (para uma dona de casa entrevistada seria necessrio, antes das eleies, fazer uma CPI de cada candidato); agir corretamente, no roubar e no se deixar corromper; no mentir, cumprir aquilo que diz; falar sinceramente, explicar as coisas como elas realmente so; aceitar a opinio da populao; e investir bem o dinheiro pblico.

    interessante observar que os entrevistados atriburam ao termo honesto no s o significado usual, mas tambm outro relacionado ao compromisso com o povo. O mesmo pode-se dizer em relao noo de competncia. O termo, encontradio no repertrio discursivo dos setores de classe mdia, praticamente no apareceu nas respostas dos entrevistados. Quando interrogados sobre o que ser competente eles, de um modo geral, reafirmaram o que j tinham dito antes: ajudar o povo, cumprir promessas, sentir o que o povo quer e fazer, etc. Os

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    significados atribudos aos termos honesto e competente so muito parecidos no imaginrio deste tipo de eleitor e esto associados idia do bom poltico realmente preocupado com o povo, que pode ser identificado atravs do trabalho realizado ou do que ele transmite quando fala, quando aparece na TV.

    A situao do pas caracterizada, de um modo geral, como pssima em funo da misria e pobreza, do descaso, da corrupo, etc. vista como decorrncia da ao de certos polticos (Sarney, Collor, etc.) ou dos polticos em geral. Muitos mostraram no saber ao certo como se chegou a esta situao, mas fez-se notar a inclinao de responsabilizar os governantes. Os problemas, de natureza econmica e moral, seriam causados pelos polticos e seriam resolvidos por polticos moralmente ntegros e comprometidos com a defesa dos mais pobres.

    No imaginrio deste tipo de eleitor h forte associao entre egosmo e corrupo, entre questes econmicas e morais. Os polticos que s pensam em si mesmos tendem a se apropriar dos recursos pblicos. Os que pensam no interesse pblico, deixando seus interesses particulares em um segundo plano, no se sentem tentados a levar vantagens, e, assim, mantm uma conduta honesta, moralmente inatacvel. Os que s pensam em si mesmos tornam-se desonestos. Os gananciosos no tm carter. A corrupo gera a injustia econmica (uns que pouco fazem tm de tudo, enquanto outros que do duro no tm nada). A corrupo no criticada apenas do ponto de vista moral; ela tambm vista como um problema econmico (a situao econmica do pas est ruim, os salrios esto baixos, porque tem muita gente no poder roubando o dinheiro pblico).

    Rejeitam, de um modo geral, a idia de querer levar vantagem em tudo. Acham que este um dos principais problemas do pas. Alguns so tolerantes com os que tentam melhorar o seu lado; como o caso de um entrevistado que descreveu uma situao onde procurou levar vantagem: meu primo tava trabalhando na campanha de um candidato do PL, e tava com dois carros do cara. Eu perguntei o que tinha pra fazer com o carro e me ofereci porque conheo a cidade inteira. Fiz o servio durante meio dia e depois fui pra praia com o carro do cara que tava com o tanque cheio.

    H uma crena generalizada na inexistncia de justia no Brasil; no sentido de desigualdade econmica acentuada (uns tm muito, enquanto outros tm muito pouco, tem gente que trabalha duro a vida inteira e no tem nada enquanto outros no precisam trabalhar e s gastam); no sentido de que todos no so iguais perante as leis (o pobre que rouba pouco punido e o rico que rouba muito no, as leis s so cumpridas quando para uns, os corruptos do poder roubam e no acontece nada); e no sentido que no feito o que certo, o que justo (no certo que um enganador s queira passar a perna no patro, queira ganhar mais sem trabalhar, passe atestado falso, do mesmo jeito que no certo que o patro s queira esfolar o empregado, tambm tem que reconhecer os direitos dele).

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    H esperana que a situao do Brasil melhore. Para melhorar preciso um governante bom, que seja honesto e comprometido com os pobres, e que tenha pulso firme, seja decidido e forte, tenha condies de se impor frente aos outros, fazendo valer a sua vontade. O governante e o governo precisam ser fortes porque seno eles no tero condies de enfrentar as inmeras dificuldades e a fora dos poderosos/ricos. Os dados examinados indicam que mantm-se vivo o mito do governante bem intencionado, que usa o seu poder, sua fora e vontade para defender os fracos e pobres que precisam de proteo. A sada vislumbrada depende de um homem especial, vocacionado e capacitado a mudar o jogo, para restabelecer a justia e a ordem.

    Como se sentem muito distantes deste homem especial, esses eleitores no conseguem se ver no poder: quem sou eu para estar no poder?. No conseguem imaginar o que fariam se estivessem no centro do poder de Estado: balbuciam medidas vagas como tomar contato com realidade, pra ver o que fazer; chamar pessoas honestas, trabalhadoras, que conhecessem bem a situao; identificar todos os roubos e punir os responsveis.

    Embora no se vejam em condies de governar e acreditem em um governante dotado de condies especiais, consideram necessrio, desejvel e possvel que o povo participe nas decises polticas. A participao popular vista como algo positivo para mudar a situao atual. O voto tido como um elemento muito importante, que exerce grande influncia no jogo poltico e pode possibilitar a esperada melhoria da situao do pas.

    Como tm por referncia uma base de saber poltico muito escassa no souberam emitir opinies sobre vrios assuntos como direitos de cidadania, direitos humanos, socialismo, capitalismo, privatizao, estatizao, entre outros. Contudo, o fato de conhecer pouco os assuntos polticos no os impediu de formular opinies sobre diversos problemas. Cometeram vrios erros de allodoxia (utilizao de palavras de forma indevida, atribuindo a elas significados muito diferentes dos corretamente definidos), mas no deixaram de tentar expressar os seus pontos de vista.

    Embora apresentem uma viso negativa em relao aos polticos, no se tornaram cticos em relao poltica. Acreditam que o voto pode mudar a situao e no abrem mo de utilizar esta arma para punir os polticos considerados ruins, traidores, desonestos, e para tentar colocar no poder alternativas melhores. Estas alternativas podem ser muito diferenciadas no espectro poltico-ideolgico e partidrio. Isto pouco importa para este tipo de eleitor, que, guiado por sua intuio e apoiado em idias e valores heterogneos como uma colcha de retalhos, escolhe ao estilo bricoleur candidatos politicamente dspares, situados em posies distintas ou opostas no jogo poltico.

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    Razes da identificao

    A escolha intuitiva se realiza por identificao com certo candidato. Esta

    identificao estabelecida a partir de que critrios, imagens e valores? Quais elementos fundam esta identificao?

    A identificao do eleitor intuitivo no est fortemente relacionada idia de pertencimento a um grupo (ns, os pobres) em oposio a outro grupo (eles, os ricos, os poderosos) indicada no estudo de Martinez-Alier e Boito Jnior (1978). Houve raras menes preferncia por candidatos comprometidos com o que ns pensamos e que so nossos (da decidi votar pro Olvio, pros nosso mesmo; votei pro Collares porque aquele ali era nosso mesmo). De um modo geral, a identificao est associada idia do melhor ou a do gosto. As respostas escolhi este candidato porque gostei dele ou porque ele era o melhor nos dizem muito pouco. As razes indicadas para a justificao do gosto ou da qualificao positiva so, de um lado, muito heterogneas, pois incluem desde vagas avaliaes de desempenho (fez um bom governo, um bom trabalho, agiu bem), avaliaes morais ( honesto, ningum tem nada contra ele, no enganador), polticas (defende o povo), at motivos pessoais idiossincrticos (situaes particulares de deciso, contatos pessoais com o candidato, identificao com idias ou aes pontuais, etc.); e, de outro lado, so muito instrumentais: o entrevistado responde que o poltico fez muito pelo povo porque acha que precisa dizer alguma coisa ao entrevistador e esta coisa dita a partir do que o entrevistado considera aceitvel e adequado como justificao poltica para uma entrevista. Justificativas instrumen-tais tendem a ser bvias e vagas, quando correspondem aos elementos gerais conhecidos pelos entrevistados como politicamente aceitveis. Ou especficas e heterogneas, quando correspondem ao que os entrevistados pinaram do discurso poltico e incorporaram a sua viso das coisas polticas.

    Esse tipo de resposta nos remete ao obscuro terreno do gosto que o prprio entrevistado, muitas vezes, no se v em condies de decifrar. Para Bourdieu, os gostos e as preferncias (as distines entre o que bonito e feio, bom e ruim, em vrios terrenos, inclusive no poltico) esto associados formao escolar e s condies materiais de existncia, expressando, assim, a posio na estrutura de classes da sociedade. As preferncias polticas se diferenciam conforme o ethos de classe, um sistema de valores implcito que as pessoas interiorizam desde a infncia, de modo pr-reflexivo, sem qualquer inculcao explcita, e a partir do qual produzem respostas a problemas diferentes. Os eleitores mais desprovidos de saber poltico so os que mais precisam recorrer aos esquemas de percepo do seu ethos de classe para produzir opinies e tomar decises polticas (BOURDIEU, 1979).

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    Por sua vez, os pesquisadores da escola de Michigan entendem que as atitudes, preferncias e identificaes polticas e partidrias formam-se cedo, atravs da socializao poltica, e so produto de um conjunto de fatores do background individual e de grupo do eleitor. Alguns destes fatores podem exercer maior ou menor influncia dependendo de cada situao contextual. De um modo geral, a classe social raramente considerada como fator-chave. Outras variveis so mais valorizadas, especialmente os estmulos psicolgicos e os nveis de escolaridade e de conceitualizao do mundo poltico. Embora atribua maior importncia aos sistemas de crenas e s motivaes psicolgicas, a escola de Michigan tende a explicar como Bourdieu as razes da identificao e da preferncia poltica como produto do contexto, isto , do processo de socializao e das experincias de vida dos indivduos e dos coletivos sociais (CAMPBELL, 1964; CONVERSE, 1964).

    O contexto, as experincias, a formao escolar e familiar, a posio de classe, o saber poltico, as heranas culturais so, sem dvida, elementos importantes para a estruturao de gostos, preferncias e identificaes. Mas so elementos contextualizadores que fornecem um mapa de quem socialmente o eleitor, de como ele se situa na estrutura social, de sua formao, das influncias que recebeu e de sua histria de vida, mas no explicam precisamente as opes e decises do sujeito. Neste tipo de explicao h, muitas vezes, o vcio da circularidade. Qualquer influncia recebida pode ser abarcada pelos conceitos de ethos de classe ou de background que, so muito amplos, explicam genrica-mente tudo, sem explicar precisamente nada. Eleitores com o mesmo ethos de classe ou com o mesmo background podem decidir o seu voto de modo diferente e podem se identificar com candidatos e partidos diferentes. E o que se observou nesta pesquisa: eleitores semelhantes do ponto de vista scio-econmico, da formao escolar, do saber poltico, das experincias vividas, diferenciaram-se em relao modalidade de deciso do voto (voto clientelista, partidrio, intuitivo) e em relao aos candidatos e partidos escolhidos. Os eleitores intuitivos, que possuem caractersticas scio-econmicas e informacionais similares, escolhem diferentes alternativas polticas a cada processo eleitoral. Se o contexto explicasse as preferncias polticas, os eleitores intuitivos tenderiam a escolher os mesmos candidatos. A volubilidade e heterogeneidade do voto intuitivo sugerem que no h necessariamente correspondncia entre as identificaes do que politicamente melhor e a posio de classe. Tambm no h correspondncia entre as preferncias e os sistemas de crenas, pouco estruturados e pouco coerentes, no caso de eleitores deste tipo, situados nos nveis inferiores da escala informacional.

    Os elementos contextuais e as experincias de vida so importantes na medida que fornecem o universo de smbolos que serve de referncia ao eleitor, mas as razes dos gostos, preferncias e aes polticas e eleitorais situam-se na

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    esfera do sujeito. o eleitor que seleciona neste amplo universo de smbolos alguns com os quais se identifica; ele que extrai das experincias que viveu certos ensinamentos (sujeitos diferentes podem de uma experincia semelhante retirar lies cujos sentidos so opostos); e, ele que pina do conjunto de imagens que ele teve acesso aquelas que considera belas, certas, boas e melhores. por isto que o eleitor que no ordena estas imagens e smbolos de uma forma racional, mas sim intuitiva, tende a montar colchas de retalhos ao invs de corpus ideolgicos estruturados.

    No caso da escolha intuitiva, a identificao construda, instantaneamente, a partir das percepes acerca do candidato: estava no bar vendo TV, foi s ver o Olvio falar e confirmei que era ele; o honesto a gente v, t no olhar da pessoa, no gesto, t escrito. Os eleitores recorrem s imagens e smbolos de sua experincia para, em um olhar, identificar instintivamente, intuitivamente o melhor a partir do que o candidato transmite no seu modo de falar, de olhar, de dizer coisas. Para esta identificao pouca importncia tem o contedo do discurso do candidato, sendo muito mais importante a forma, os smbolos utilizados, as idias-chave enftica ou repetidamente afirmadas, os atos que simbolizam estas idias-chave, os gestos, o olhar, os aspectos visuais que se associam ao candidato. So estes elementos que os eleitores intuitivos guardam e sabem reproduzir quando conseguem justificar suas preferncias.

    O modo intuitivo de identificao e escolha poltica muito singular: cada eleitor seleciona, pina elementos e imagens do seu universo de smbolos e, em cada processo, o eleitor estabelece intuitivamente as identificaes a partir dos elementos simblicos selecionados. Frente a frustraes, situaes agradveis ou desagradveis, novas experincias, os elementos selecionados podem mudar como um caleidoscpio. A montagem deste conjunto fragmentrio, heterogneo e varivel de smbolos e imagens feita de forma que lembra a linguagem do inconsciente, livremente associativa e fortemente simblica. Inmeras possibilidades de construo destes conjuntos de smbolos podem ser realizadas de acordo com as opes singulares do sujeito eleitor.

    Trata-se, assim, de um tipo de identificao muito distinta daquela forte e durvel indicada pela escola de Michigan, e tambm daquelas definidas por conscincia de classe (tradio marxista) e por ethos de classe (uma espcie de inconsciente de classe sugerido por Bourdieu). A identificao realizada pelo eleitor intuitivo varivel, voltil e volvel, instantnea, no se define pelo contexto, mas por elementos retirados deste contexto de forma instintiva, elementos fragmentrios tambm variveis, utilizados pontualmente em cada singular escolha intuitiva.

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    Consideraes finais

    H ainda muito para estudar sobre a modalidade de deciso eleitoral que estou chamando de escolha intuitiva. As primeiras impresses que alinhavei acima sugerem uma forma de deciso do voto que se diferencia marcantemente de outras formas encontradias nas teorias e tipologias da literatura sobre comportamento eleitoral.

    Os eleitores intuitivos possuem caractersticas scio-econmicas e informa-cionais similares aos eleitores objetiva e subjetivamente marginalizados, mas, diferentemente deles no se recusam a participar do jogo poltico e no abrem mo do seu direito de voto. No aceitam delegar o seu voto, ou troc-lo por benefcios pessoais imediatos, ao estilo do clientelismo tradicional. Embora votem em funo do candidato e no do partido, no podem ser confundidos com os eleitores identificados com lideranas personalistas; os eleitores intuitivos no seguem passiva e mecanicamente determinadas lideranas, no estabelecem com elas qualquer tipo de relao de dependncia, no so fiis, mas so volveis, escolhem em cada processo eleitoral alternativas diferentes.

    A volubilidade e o modo individual de tomar decises deste tipo de eleitor lembra a escolha racional orientada pela lgica do eleitor esclarecido calculador que escolhe candidatos e partidos como o consumidor escolhe produtos. Mas os eleitores intuitivos se diferenciam porque no utilizam clculos racionais, nem propostas e programas dos partidos e candidatos. No se valem, tampouco, para tomar suas decises, de uma viso do mundo poltico estruturada. As suas idias apresentam pouca inter-relao lgica e possuem traos idiossincrticos. As idias pr-fabricadas que retiram do discurso poltico, as lies que retiram das suas experincias, as imagens e os smbolos que selecionam e pinam do universo simblico que tiveram acesso em sua histria, formam um conjunto fragmentrio, heterogneo e varivel de elementos como um caleidoscpio.

    Para tomar suas decises recorrem aos seus elementos naturais, primrios, instintivos, utilizados para julgar as pessoas e as coisas no cotidiano. Recorrem sua sensibilidade. Julgam e escolhem os candidatos, do mesmo modo que uma pessoa que no dispe de conhecimentos estticos e culturais avalia uma obra de arte. A partir das imagens e smbolos incorporados definem, instantaneamente, em um s olhar, suas preferncias, identificaes e escolhas. No so identificaes fortes e durveis determinadas por elementos estruturais e contextuais, mas identificaes momentneas que se volatilizam, formadas intuitivamente a partir do quadro simblico singular de cada eleitor.

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