silêncio líquido

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[zine] A5, 16págs.

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(o gosto do desconhecido não tem cor. o espaço vazio traz intrigância em cócegas na nuca. o não saber vira engrenagem. tem som de piano no corredor vazio. o frio faz companhia para as observações alheias. é sexta-feira e te peço cidade: não engula mais meu ar. não engula de mim aquilo que inspira. solta o atado, o fado. leve seus barulhos de trânsito pra debaixo do tapete, encarpete-os. e no silêncio, que o corpo aja sem referência, cru. transitando e transeunte na verdade que é. na verdade que (re)apereceu para si e não quis que fosse embora.)

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na madrugada ela abriu a geladeira e se alimentou de ansiedade. a ansiedade foi tanta que deu indigestão e não conseguiu dormir. dentro da sua cabeça parecia que tinha fechado seus olhos apenas de uma maneira mais demorada, sem pegar no sono.

de manhã, enquanto o sol refletia na parede do quintal, diante do espelho disfarçava as olheiras, que descaradamente legendavam tamanha ansiedade. vestiu-se de amarelo. comeu duas metades de pães bem recheados.

saiu com o humor intolerante que gosta de ter quando dorme pouco. saiu e ao fechar a porta o sol forte invadiu sua retina, foi então que espremeu seus olhos como se não quisesse que o sol entrasse e o dia começasse dentro de si.

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ela imagina o vazio.

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- de madrugada o corpo para de corresponder a mente. falta harmonia. parece que os fluxos sanguíneos não seguem o ritmo das palavras que inundam a cabeça. o corpo não parece suficientemente cansado para dormir. a mente não está acordada o suficiente para fazer algo. é nesse exato momento que se sente inútil. as mãos agem automáticas descrevendo os atos. o ouvido em osmose suga música. a garganta engole ar frio, ressecando os lábios. no silêncio o estômago se alimenta de fome. os minutos são extensos e dispersos. a noite estranha o quarto. o quarto parece pequeno pra tanta preocupação e prece. se perde a dimensão e a pressa. -

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onde tácaminhandominh’alma?diga pra ela:volta pra casasenta na redee traz na malapalavras, horas e olharescalmosque dançam em parde volta,em valsa tranquila,nos mesmos ritmosdos pensamentos.

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Quem já engoliu um gole da água do mar - que beira a praia e preenche o oceano – sabe a sensação de sal que dá na língua. Sabe o sabor forte. Quem já engoliu-se e viu em um mar de amor, já sentiu a dor. Dores de sentimentos tratados sem cuidado. Já sentiu o calor, como se fosse o sol. O calor que preenche o peito depois de um olhar, uma frase ou abraço. As trocas de experiências de quem viajou sete mares, e quem morou numa ilha, faz sentido quando se tem a escolha. O que se escolhe e o que se deixa de escolher é como as ondas que trazem e tiram com suas espumas miudezas marinhas. Sensações doces e salgadas são marcadas como se fosse uma cicatriz de anzol. O que já se viveu, se vive, e escolhe, é um mar de palavras que vão pro profundo de nós e ficam se a gente mergulhar até lá e preenche-lo. Somos cheios de dias turbulentos e calmos. Não há tempo específico para dizer quem aprendeu a nadar no mar de amar. Semana passada mesmo eu me afoguei em goles. Ao longo dos dias tudo se faz rarefeito. Dói doar. Ama amar.Se enche de ar e o mar se transporta para o interno do corpo. A densidade da água e o ritmo das ondas a cada dia nos ensinam mais sobre nós mesmos. Castelos de areias são construídos em sonhos. Barcos se põem no porto. Os caminhos se pescam, as palavras se fisgam. E os dois veem o pôr-do-sol. Crente de que ele é mais bonito quando é visto em companhia e sob a brisa marinha.

três

mar

es m

eus,

noss

os.

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(racionalizar a força que deve vir das veias até impulsionar os pés para continuarem caminhando. os olhos leem as palavras onde a fé faz parte da frase, mas não da mente. o vento frio encolhe o corpo na cama. os fatos engolem os minutos em pensamentos longos. os olhos imaginam o futuro como um caleidoscópio construído ao longo das folhas do calendário. o inverno é seco, e a harmonia dos textos se depara com arritmia. é como se quisesse pausar a inércia e sentir as notas do silêncio, sentir mais. o arrepio. sentir-se, fluindo com o sangue no corpo. multiplicando como as células da pele, crescendo como os fios do cabelo.)

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dislexdislexidislexiadislexidislexdisledisldisdid.

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enquando ela andava pela rua hoje, com o frio dançando em seu rosto, pensou sobre o que pensa e não diz, seja com sons externos, seja com expressões no rosto. pensou sobre os segredos que conta pra sua própria mente. que conta, mente e desmente. pensou na existência liquida e insólida deles. nas verdades e mentiras que passeiam debaixo do seu tecido capilar, entre uma música e outra. entre uma calçada cinza e outra. entre algumas imaginações. descobriu que dentro de sua própria cabeça organizou gavetas pra guardar seus próprios segredos. descobriu que é gostoso, às vezes, guardar em si a autocumplicidade, ser o locutor e ouvinte dos seus segredos. seus, só seus. reparou que assim são mais fáceis de entender, tornam-se cada vez mais óbvios. e dessa forma também eles diminuem a chance de se espalharem, vazarem. ela acha que aí eles têm mais chances de continuar o que são. por mais que não confie tanto em sua cabeça.

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aspireexpireinspireespirrerespirerespirerespire

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textos e gentileza_ mirian tiemi c. takitowhttp://silencioliquido.blogspot.com.br/

fotografias e diagramação_ mariana tiemi khttp://www.behance.net/mrntk

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