siameses

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Projeto / Teatro

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Minutos antes de iniciar uma cirurgia de separação de seus corpos, dois irmãos xipófagos, dividem entre si, as angústias de uma decisão que mudará as suas vidas definitivamente, proporcionando-os a tão desejada liberdade.

Da ante-sala de espera do hospital e enevoados pelo mundo que até então fizeram parte, eles temem, que uma vez separados, venham a deparar-se com a solidão. Durante a espera, eles fazem um verdadeiro flash-back do que até então foram as suas vidas: encerrados numa jaula de circo ou fugindo da crueldade humana que sempre os viu como uma atração bizarra.

A partir da dúvida de um e da certeza do outro em realizar a operação de separação de seus corpos, eles refletem se seria realmente uma assertiva também fazer parte do mundo “normal”.

SinopSe

SinopSesiameses 03

Page 3: SIAMESES

propoStan

de dra-ma-

turgia

Também escrevi essa peça pensando em aspectos imagéticos, explorando o absurdo, o onírico, o surreal e, até mesmo, a musicalidade e a sonoridade das palavras. Pois teatro para mim também é uma partitura ou um poema que se transforma em ação.

É inegável que, em SIAMESES, há o mesmo clima de expectativa tão presente no clássico “Esperando Godot”, de Samuel Beckett. E, assim como o mestre Beckett, eu aproveito essa peça para homenagear também o Tim Burton, um dos meus cineastas prediletos e que me influenciou bastante durante todo o processo de produção textual de “Siameses”, pois foi a partir de uma cena de duas irmãs siamesas no filme “Big Fish” que eu tive a idéia de escrever SIAMESES.

Outro ponto que eu não posso esquecer de ressaltar é a história de vida dos gêmeos xifópagos Chang & Eng Bunker, nascidos em 1811 em SIÃO, atual Tailândia (daí a origem do nome siameses). Chang e Eng Bunker são, sem a menor sombra de dúvida, um dos casos de xifopagia mais conhecidos do mundo. Eles eram colados pelo ombro e permaneceram assim até o fim dos seus dias, morrendo aos 63 anos de idade. E juntos, Chang e Eng viraram uma das maiores atrações de CIRCO do seu tempo, fazendo shows pelo mundo afora. E foi nos Estados Unidos que eles conheceram duas irmãs (que não eram gêmeas) com quem se casaram e tiveram 22 filhos (12 de Eng e dez de Chang).

Fiquei imaginando o cotidiano de Chang & Eng Bunker, seus conflitos individuais, suas experiências pessoais, seus desejos em comum, o mundo de cada um deles (ou dos dois ao mesmo tempo) e até que ponto um se confundia no outro. Também foi inevitável pensar nos dois atores que pudessem encarnar essa idéia com talento, aliada também a uma similaridade na aparência física dos dois, o que encontrei entre os atores Bertrand Duarte e João Signorelli. Esta sugestão foi acatada pelo diretor Fernando Guerreiro, consolidando assim, o núcleo e os componentes fundamentais para o êxito dessa produção.

ZEn SallES

SIAMESES é uma peça teatral onde eu percorro um universo um tanto quanto fantástico, feito por dois seres que se confundem e se separam na eterna busca do ser (ser ou não ser?). Quem sabe esses dois seres absurdos não passam de uma metáfora do homem como uma extensão do outro, mesmo que cada homem seja único e exclusivo, mas que, por outro lado, sente uma irresistível necessidade de se completar naquilo que ele identifica como “o semelhante”. Talvez seja apenas o desejo de conquistar uma plenitude que nunca será totalmente “saciada”, talvez seja uma mera vontade de pertencer ao outro, ou de se expandir no outro... Enfim!

“a tarEfa da artE é tornar a rEalIdadE IMPoSSívEl.”

hEinEr müllEr

projeto de encenação 04 propoSta de dramaturgia05siameses

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projeto de encenação 06

O bizarro em contraponto com uma performance brechtniana “discutindo” a essência do texto. O contraste entre o a situação burlesca e patética de dois xipófagos vestidos numa camisola de hospital, no centro do picadeiro de um circo velho e atrasado, exibidos cruelmente nesta retrógrada programação, a solidão vivida pelos dois personagens. Verdadeiros micos, vítimas do humor negro humano, da avidez de sangue e do sadismo da interminável arena romana, assistidos cinicamente pelo público.

Os atores buscarão uma interpretação pautada no estudo e compreensão da musicalidade de cada frase. Cada palavra do roteiro de uma agonia interminável dos siameses e historicamente do homem: ser independente ou depender do outro? Este será o formato como os esses incomuns serão vistos pelo mundo supostamente normal (espectador). O silencio da dor em contraste com os ruídos da sociedade dos espetáculos, buscando sempre novos objetos de adoração. O clima rudimentar e pouco evoluído do circo será também acentuado por duas bocas de alto-falantes antigos – única fonte sonora durante o espetáculo – que emitirá um som limitado e distorcido, com os característicos chiados e “pulos” do vinil estragado, também reforçando o atraso relativo às

propoSta

de EnCE-nação

propoSta de encenação07

Um picadeiro de circo antigo e tosco (a antiga morada dos siameses de Zen Salles), rodeado por imagens tridimensionais de diversos exemplos de xipofagos. Elementos que evidenciam estranheza, arcaicidade, em contraponto com a presença de objetos e imagens de hospital que enunciam o contemporâneo como possibilidade de transformação e de ser uma prancha para estes siameses – se operados por um ameaçador bisturi gigante (colocado no painel central) - alçarem-se ao novo.

Dois siameses, dois opostos, a insegurança e a inquietação presentes em suas faces maquiadas como as máscaras carregadas do cinema expressionista.

UMa fábUla SobrE a SolIdão

siameses

joão signorelli, no espetáculo Gandhi - um líder servidor, já visto por mais

de 15.000 espectadores.

Bertrand duarte, no filme chileno daWSOn - iSLa 10, de Miguel littín, que

estréia no Brasil em Março de 2011.

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questões fundamentais da peça. O teatro é um canal utilizado para extrair as sensações e as revelações do indivíduo. Sua linguagem ritualística é imutável, mas, do ponto de vista contemporâneo, extrapola até o próprio palco. Em SIAMESES encontram-se elos importantes para indagações, constantemente renovadas e que nos soam intermináveis: O homem é realmente capaz de viver só? Até que ponto pode se depender do outro? Existem regras para isso? É saudável se necessitar eternamente de alguém? Ser só é estar ‘morto’? Estar com alguém é estar pleno? Depender de alguém é ser antigo e defasado? Como se libertar do outro sem sofrer, ou como ligar-se a alguém, sem a preocupação de estar sendo egoísta ou taxado de dependente-doentio?

SIAMESES é um exercício sentimental denunciando o homem ainda trilhando na rudimentar esfera dessa questão. A ironia que carrega no seu questionamento traz também a carpintaria de um texto contemporâneo, direto, de frases precisas, proferidas por dois seres ligados por uma contingência do destino e habilmente os coloca a ter que responder e decidir sobre um grande medo humano: A solidão.Esta é a zona de conflito a ser trabalhada e evidenciada na encenação. Estamos posicionados diante do mundo de quem se debate entre ser só ou viver aos pares ou coletivamente. Vamos aqui, refletir nos siameses do palco, os siameses da vida. Espelhar diante o homem os seus, medos, mazelas, contradições... Mesmo aquilo mais tosco, o mais patético, a coisa mais boba, ou a mais difícil de entender.

projeto de encenação 08 09siameses

fErnando gUErrEIro

propoSta de encenação

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A concepção cenográfica para o espetáculo SIAMESES, busca uma síntese entre os elementos do circo e do hospital. Se apóia no picadeiro de circo antigo, que está no nosso imaginário, porém criando uma atmosfera lúgubre, saem as cores e ficam os tons das sombras, reforçando o clima de mistério e quase de “terror” do cinema expressionista, uma das referências para o conceito desse trabalho.Alto falantes contribuem não só com o seu design de outro tempo, mas também com seu som próprio, característico de uma época, marcada pela artesania circense, bem como a pintura dos painéis num expressionismo ingênuo, luzes de ribalta e mastros de sustentação de lona, reforçam esse espaço, induzindo-nos a reunir com os elementos da nossa memória, a um lugar mágico-poético onde estaremos à mercê das forças que regem a arte, nos debatendo com o que o texto nos impõe: separar ou não o que está unido?

Uma maca de hospital paira sobre o picadeiro – denotando o peso da mudança, pela “possível” tomada de decisão dos personagens que aliada a uma grande imagem pintada no painel de uma mão segurando um bisturi, complementam o espaço cênico.

projeto de encenação 10 concepção de cenÁrio & Figurino11siameses

O Figurino está sob as mesmas leis que orientam o cenário. É uma mistura da roupa que os personagens “usavam” quando eram atração de circo, com a roupa para ir pra cirurgia. Os tons são escuros, casaca preta ou marrom curtida, podendo ser de veludo velho, veste os dois e tem as costas inteiriças, interligadas e com mangas internas. Eles estão com calças , camisas em tons crus e coletes, porém com o robe cirúrgico, entremeado com a casaca.

ZUartE JUnIor

ElEs Estão Com Calças, Camisas Em tons Crus E ColEtEs, porém Com o robE CirúrgiCo, EntrEmEado Com a CasaCa.concepção de

cenÁrio& Figurino

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projeto de encenação 12 13siameses concepção de cenÁrio & Figurino

uma maCa dE hospital paira sobrE o piCadEiro – dEnotando o pEso da mudança, pEla “possívEl” tomada dE dECisão dos pErsonagEns quE aliada a uma grandE imagEm pintada no painEl dE uma mão sEgurando um bisturi.

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concepção de iluminação

projeto de encenação 14 concepção de iluminação15siameses

A iluminação de SIAMESES é fria, difusa e propositadamente “defeituosa”. Na ribalta, as velhas lâmpadas transparentes e que demarcam o semicírculo do picadeiro (algumas queimadas, comprometem a seqüência) junto com momentos de alterações de rotação do áudio, oscilam intermitentemente ao sabor da precária voltagem, dando a impressão que vão falhar a qualquer instante. E assim acontece. Algumas queimam, outras voltam a funcionar acompanhando as memórias revividas e as novas emoções, porém fadadas a novas falhas. É o velho circo que apresenta os siameses, denotando com suas gambiarras, que está à beira de um colapso. O clima, às vezes expressionista e que ressalta a memória e emotividade dos xipófagos recorre aos “manjados” recursos de cores, com o vermelho, o azul, e o verde, ou a fusão destas cores, dependentes do clima emocional e onírico das cenas.

A atmosfera hospitalar paralelamente presente no cenário e objetos e peças (como uma maca dupla) e em painéis pintados que surgirão no fundo, pedem à luz um desenho destituído de cor. Nesta área, estes painéis receberão um banho difuso de luz fria, mas, por vezes levemente incrementada por um sutil amarelado que refletirá sutilmente, os rostos, os corpos dos personagens e os objetos e elementos hospitalares.

Independente do acompanhamento rigoroso do ritmo da peça e da abertura e encerramento de cada parte integrante da ação, a luz em SIAMESES favorecerá o desenho decadente do cenário, integrando-se a dessa decadência os limitados recursos técnicos deste circo, aproximando-se de estruturas de entretenimento populares como certos tipos de tendas ou barracões, do tipo a mulher que vira macaca, e similares do gênero.

PEdro dUtra

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A pesquisa também passará pelas velhas orquestrações de músicas popularmente conhecidas no mundo e que tocavam nos parques e nos circos deixando um ar de nostalgia ao invés de cumprir o que seus executores pretendiam que era dar um ar de bom gosto e atualidade nos repertórios escolhidos. Isso também cairá como uma luva para o que buscamos imprimir no clima de SIAMESES.

E por fim, entendemos que a sinergia com o processo é o que determinará a partitura final de SIAMESES.

A concepção musical de SIAMESES reforça a dimensão do arcaico. Os alto-falantes colocados no cenário, usados por circos nos anos 20/30, determinarão o padrão da música da peça com a sonoridade da época. Na história da música gravada, a cada década, podemos dizer assim, estabeleceu-se - por conta de recursos tecnológico-industriais – uma estética peculiar ao período. No inicio da indústria fonográfica, as gravações eram realizadas em disco de cera e reproduzidas em aparelhos de 75 rpm e não haviam recursos sofisticados de gravação nem de reprodução. Esse padrão sonoro das décadas de 20 e 30 hoje é perceptível e bem marcante.

As músicas quer sejam criações originais ou de época, além da sonoridade característica devem carregar nos arranjos a dinâmica circense em que alegria e suspense irão se revesar: A tristeza do adeus, a separação, o medo do desconhecido temas da peça sofrerão um tratamento musical, traduzido em um tema que conforme as necessidades será travestido com diversos arranjos. Em diversas situações durante a peça, sons interferem no desenrolar da trama, pontuando, concluindo, indicando, dialogando com os personagens. Isso coloca a sonoplastia no seu devido espaço, devendo ser trabalhada de acordo com sua importância.

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concepção demúSica& trilha

concepção de múSica & trilha

rIcardo lUEdy

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projeto de encenação 18

AUTOR: Zen SalleS

DIREçÃO: Fernando Guerreiro

ElENCO: Bertrand duarte joão SiGnorelli

CENáRIO E F IGUR INO: Zuarte

TR I lhA SONORA: ricardo luedy

I lUMINAçÃO: pedro dultra

ASS ISTêNCIA DE D IREçÃO: nadja turenko

ASSESSOR IA CUlTURAl : milena raynal

DES IGN: GaBriela díaZ

FOTóGRAFO: élcio carriço

DIREçÃO DE PRODUçÃO: Bertrand duarte

REAl IZAçÃO:

DURAçÃO: 80 MINUTOSRECOMENDADO PARA MAIORES DE 16 ANOS.

Ficha técnica