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1 A imagem que Deus faz do homem Shofetim: Dt 16:18-21:9 (19.13) / Is 51:12-52:12 (51.12) / Hb 11.6 INTRODUÇÃO Ao nos aproximarmos do final do ano, de acordo com o calendário judaico estamos no mês de Ellul, o último do ano, fico me perguntando: quantas coisas o meu Deus fez por mim? Será que, como pessoa, sou melhor hoje do que eu era há um ano atrás? Que coisas eu perdi? Que coisas eu adquiri? Que coisas eu aprendi? Afinal, que imagens eu guardo sobre mim mesmo nesse ano que está se findando? Na nossa reflexão de hoje vamos ver alguns tipos de imagem que Deus faz do homem. A IMAGEM DO HOMEM: SUA VONTADE PARA COM A JUSTIÇA A primeira imagem que vamos tratar é a da justiça do homem. Em Dt 19 até o final de nossa parashá encontramos Deus orientando os israelitas sobre a necessidade de se ter cidades de refúgio Nelas, deveria se acolher todo homicida (Dt 19.3 / Nm 35.9-15 / Dt 4.41-43) que, sem intenção, matou alguém. Nessas cidades, shofetim e shoterim (juízes e oficiais – ou policiais – como vimos na semana passada) deveriam preservar a vida desse inocente. A existência dessas cidades estava diretamente relacionada às bênçãos de Deus em acrescentar mais terras cananeias aos israelitas (Dt 19.9). Porém, caso um homem tivesse matado intencionalmente alguém e se refugiado em uma dessas cidades refúgio, os shofetim e shoterim dessa cidade poderiam entregá-lo nas mãos do vingador do sangue e isso seria bom aos olhos de Deus (Dt 19.11-13). Para se julgar corretamente um homem acusado de homicídio Deus orienta o testemunho de duas ou três pessoas. Mas por quê? Uma das respostas poderia ser: a vontade do homem. Dizem alguns estudiosos que a vontade é soberana à razão. Como exemplo, vemos isso claramente através de um casal de noivos. Totalmente cegados pela paixão, contrariando a tudo e a todos, a despeito das diferenças econômicas, intelectuais, culturais e de caráter religioso, se eles já tomaram a decisão de casar, será inútil convencê-los do contrário. Mesmo que a razão diga o contrário, mesmo que os amigos mais chegados digam o contrário, mesmo que a Bíblia diga o contrário, a vontade de se casar é soberana a tudo e a todos. A isso os amantes chamam de amor. Outro exemplo poderia ser o da política. No nosso país, há pouco tempo, uma deputada foi julgada se perderia ou não o seu mandado em virtude de ter sido filmada recebendo suborno do delator do mensalão (Dep. Jaqueline Roriz, PMN-DF). Ela foi absolvida e isso causou muito constrangimento entre os cidadãos brasileiros. Por que alguém que foi filmado fazendo o que não devia não foi, de fato, penalizado? Um dos motivos está na vontade. Nenhum deputado tem vontade de perder seu mandato, por isso, com medo de a mídia gravar os seus próprios erros, é melhor não condenar a deputada para que, no futuro, todos continuem como políticos. Quando sou uma pessoa estudada, de certa classe social, de certo nível econômico e de certa beleza física, minha vontade fica mais vulnerável aos meus desejos e mais invulnerável aos pensamentos de Deus. Sendo assim, é mais fácil fazer aquilo que o meu coração pede, porque estou vulnerável a mim mesmo, do que fazer aquilo que Deus pede, porque estou invulnerável ao que Ele pede. Conscientemente ou não, quem pensa assim coloca Deus em um patamar de inferioridade, pois já sabe como Deus considera seu pensamento. Tanto a sua fé como sua razão estão em crise. No Salmo 94.11-14 encontramos um paralelo do que estamos falando = O Senhor conhece os pensamentos do homem...

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2º sermão sobre Dt 16:9-21:9 (parashá de shofetim)

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A imagem que Deus faz do homem Shofetim: Dt 16:18-21:9 (19.13) / Is 51:12-52:12 (51.12) / Hb 11.6 INTRODUÇÃO

Ao nos aproximarmos do final do ano, de acordo com o calendário judaico estamos no mês de Ellul, o último do ano, fico me perguntando: quantas coisas o meu Deus fez por mim? Será que, como pessoa, sou melhor hoje do que eu era há um ano atrás? Que coisas eu perdi? Que coisas eu adquiri? Que coisas eu aprendi? Afinal, que imagens eu guardo sobre mim mesmo nesse ano que está se findando?

Na nossa reflexão de hoje vamos ver alguns tipos de imagem que Deus faz do homem. A IMAGEM DO HOMEM: SUA VONTADE PARA COM A JUSTIÇA

A primeira imagem que vamos tratar é a da justiça do homem. Em Dt 19 até o final de nossa parashá encontramos Deus orientando os israelitas sobre a necessidade de se ter cidades de refúgio Nelas, deveria se acolher todo homicida (Dt 19.3 / Nm 35.9-15 / Dt 4.41-43) que, sem intenção, matou alguém. Nessas cidades, shofetim e shoterim (juízes e oficiais – ou policiais – como vimos na semana passada) deveriam preservar a vida desse inocente. A existência dessas cidades estava diretamente relacionada às bênçãos de Deus em acrescentar mais terras cananeias aos israelitas (Dt 19.9). Porém, caso um homem tivesse matado intencionalmente alguém e se refugiado em uma dessas cidades refúgio, os shofetim e shoterim dessa cidade poderiam entregá-lo nas mãos do vingador do sangue e isso seria bom aos olhos de Deus (Dt 19.11-13).

Para se julgar corretamente um homem acusado de homicídio Deus orienta o testemunho de duas ou três pessoas. Mas por quê? Uma das respostas poderia ser: a vontade do homem.

Dizem alguns estudiosos que a vontade é soberana à razão. Como exemplo, vemos isso claramente através de um casal de noivos. Totalmente cegados pela paixão, contrariando a tudo e a todos, a despeito das diferenças econômicas, intelectuais, culturais e de caráter religioso, se eles já tomaram a decisão de casar, será inútil convencê-los do contrário. Mesmo que a razão diga o contrário, mesmo que os amigos mais chegados digam o contrário, mesmo que a Bíblia diga o contrário, a vontade de se casar é soberana a tudo e a todos. A isso os amantes chamam de amor.

Outro exemplo poderia ser o da política. No nosso país, há pouco tempo, uma deputada foi julgada se perderia ou não o seu mandado em virtude de ter sido filmada recebendo suborno do delator do mensalão (Dep. Jaqueline Roriz, PMN-DF). Ela foi absolvida e isso causou muito constrangimento entre os cidadãos brasileiros. Por que alguém que foi filmado fazendo o que não devia não foi, de fato, penalizado? Um dos motivos está na vontade. Nenhum deputado tem vontade de perder seu mandato, por isso, com medo de a mídia gravar os seus próprios erros, é melhor não condenar a deputada para que, no futuro, todos continuem como políticos.

Quando sou uma pessoa estudada, de certa classe social, de certo nível econômico e de certa beleza física, minha vontade fica mais vulnerável aos meus desejos e mais invulnerável aos pensamentos de Deus. Sendo assim, é mais fácil fazer aquilo que o meu coração pede, porque estou vulnerável a mim mesmo, do que fazer aquilo que Deus pede, porque estou invulnerável ao que Ele pede. Conscientemente ou não, quem pensa assim coloca Deus em um patamar de inferioridade, pois já sabe como Deus considera seu pensamento. Tanto a sua fé como sua razão estão em crise.

No Salmo 94.11-14 encontramos um paralelo do que estamos falando = O Senhor conhece os pensamentos do homem...

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Deus já sabia que o homem teria crises com a vontade de fazer justiça com as próprias mãos. Por isso que mais de uma testemunha deveria se envolver no caso de julgamento dos homicidas das cidade refúgio. O julgamento honesto desses homicidas diminuiria a vontade de mentir, de fugir, de burlar a lei, etc., dos cidadãos daquelas cidades vizinhas. A IMAGEM DO HOMEM: SUA VONTADE PARA COM A FÉ RELIGIOSA

A segunda imagem que Deus faz do homem é a de que seu racionalismo pode minar a sua fé religiosa. A fé religiosa é diferente da crença, porque eu posso ser crente sem ser religioso. O racionalismo sempre entra em conflito com a fé religiosa, mas nem sempre entra em conflito com a crença. Vale lembrar uma recente pesquisa sobre o número de brasileiros que se dizem evangélicos, mas que não frequentam igreja nenhuma. Eu posso aceitar e acreditar que as doutrinas e ensinamentos de Deus trazem bênçãos, estão cobertos de cuidados, mas eu não vivo por eles. Assisto as aulas de sexta-feira à noite, não obedeço o horário que meus pais pedem para cumprir, não cuido dos alimentos que vou comer, enfim, embora eu acredite nas doutrinas de Deus, “minha vida sempre está em primeiro lugar”.

Contudo, para que isso não acontecesse com o povo de Israel, por orientações expressas de Deus aos homens que iriam lutar, muitos voltaram pra casa. Os motivos foram os mais estranhos possíveis:

a) Construção de uma casa (Dt 20.5); b) Plantação de uma vinha (Dt 20.6); c) Recém casados (Dt 20.7); d) Com medo e coração tímido (Dt 20: 8)

Assim, a crença de Deus no povo continuaria viva e a fé religiosa do povo seria

gradativamente restaurada (Dt 20). A crise espiritual seria minimizada e Deus poderia se fazer mais presente na vida dessas pessoas.

O profeta Ageu foi um dos personagens que passou por um episódio parecido. Ageu 1.1-5 = “Considerai vosso passado”. Isso tudo para lembrar que o nosso presente pode ser mais importante do que um dia foi no passado’. Veja os versos 6-9, quando Deus diz que a glória do segundo templo seria superior ao templo de Salomão.

A IMAGEM DO HOMEM: SUA VONTADE E FÉ PODEM SER RESTAURADAS

Por fim, a última imagem que Deus faz do homem é a de que sua vontade e sua fé religiosa podem ser restaurados por completo. Isaías 1:18, diz: “Vinde e arrazoemos...”; Isaías 51:12 = “Eu sou aquele que vos consola”; 52:1: “Reveste-te da tua fortaleza...”; o verso 9, diz: “O Senhor consolou Seu povo, remiu Jerusalém”. Essas passagens dos profetas nos fazem lembrar do carinho que Deus tem por cada um de nós e, ao mesmo tempo, no poder que a Palavra de Deus deve ter sobre cada um de nós.

Quando as tradições e opiniões pessoais passam a dominar nossa vida, acabamos lendo certas coisas na Bíblia que não estão ali. Isso é o que Deus quer acabar. Veja o exemplo de Copérnico (1473-1543). Ele afirmou que todos os planetas giravam ao redor do sol. Contudo, pelos ensinamentos geocêntricos de Ptolomeu, os líderes religiosos da época entenderam que o ser humano é o ponto central do amor e do cuidado de Deus, além do que o Sol era um objeto de adoração que desvirtuou a muitos desde os tempos primitivos do povo de Israel. Logo, Copérnico não poderia estar certo.

E você? Que tradição ou opinião pessoal te fazem ver coisas que a Bíblia não diz?

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CONCLUSÃO Em Romanos 12.3 (pedir para ler), diz: “Antes, pense segundo a medida da fé que

Deus repartiu a cada um”. Afinal, Hb 11.6 diz que sem fé é impossível agradar a Deus, porque nenhum de nós vive para si mesmo (Rm 14.7 e 8).

Se você já tem uma crença, ótimo! Seja isso o que ocupe o vosso pensamento (Fp 4.8). Mas a crença vai além do racional. “Nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que O amam” (1 Co 2.9).

Vamos, corajosamente, sem nenhum impedimento, pedir o amor de Deus em nossos corações? Que Deus te abençoe.