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Defensoria Pública-Geral 1 SGPDOC nº 5001/2014 São Paulo, 28 de janeiro de 2014 Ilustríssima Senhora LUCIA NADER Diretora-Executiva da Conectas Direitos Humanos Av. Paulista, nº 575, 19º andar, cj. 1901 CEP 01310-001 São Paulo - SP Prezada Diretora Executiva Ao ensejo da divulgação da versão preliminar do documento entitulado “Liberdade Provisória e Atuação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo: análise empírica de processos”, encaminhado ao subscritor por mensagem eletrônica datada de 07 de janeiro do corrente ano, reputo necessário o registro das considerações que seguem. Inicialmente cumpre esclarecer que a Defensoria Pública, ciosa de sua missão constitucional bem como dos desafios postos para as instituições do sistema de Justiça no sentido de monitorar e avaliar a sua atuação, apóia toda e qualquer iniciativa que fomente a criação de indicadores e métodos científicos voltados a esta finalidade. A administração superior da Defensoria Pública também tem dedicado parte de seu tempo para este trabalho, a fim de que possa conferir absoluta transparência no tocante à avaliação da atuação de seus membros, criando um banco de dados que congrega a totalidade das atividades registradas pelos defensores públicos em seus relatórios encaminhados mensalmente à Corregedoria da instituição.

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Defensoria Pública-Geral

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SGPDOC nº 5001/2014

São Paulo, 28 de janeiro de 2014

Ilustríssima Senhora LUCIA NADER Diretora-Executiva da Conectas Direitos Humanos Av. Paulista, nº 575, 19º andar, cj. 1901 CEP 01310-001 São Paulo - SP

Prezada Diretora Executiva

Ao ensejo da divulgação da versão preliminar do

documento entitulado “Liberdade Provisória e Atuação da Defensoria Pública

do Estado de São Paulo: análise empírica de processos”, encaminhado ao

subscritor por mensagem eletrônica datada de 07 de janeiro do corrente ano,

reputo necessário o registro das considerações que seguem.

Inicialmente cumpre esclarecer que a Defensoria

Pública, ciosa de sua missão constitucional bem como dos desafios postos para

as instituições do sistema de Justiça no sentido de monitorar e avaliar a sua

atuação, apóia toda e qualquer iniciativa que fomente a criação de indicadores e

métodos científicos voltados a esta finalidade.

A administração superior da Defensoria Pública

também tem dedicado parte de seu tempo para este trabalho, a fim de que

possa conferir absoluta transparência no tocante à avaliação da atuação de seus

membros, criando um banco de dados que congrega a totalidade das atividades

registradas pelos defensores públicos em seus relatórios encaminhados

mensalmente à Corregedoria da instituição.

Defensoria Pública-Geral

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Neste sentido, a preocupação relativa à análise da

atuação dos Defensores na área criminal certamente passa pela avaliação das

medidas adotadas a fim de que seja obtida a soltura dos acusados defendidos

pela instituição.

A fim de mensurar esta atividade foi esboçado o

indicador “pedidos de liberdade”, que abrange pedidos de liberdade

provisória, relaxamento de prisão e habeas corpus (endereçados ao 2º grau, STJ

e STF). No período de junho a dezembro de 2012 (considerando o período

apontado na pesquisa a partir de 25 de maio de 2012), considerando o número

de casos novos assumidos pelos Defensores Públicos das Varas Criminais

Singulares da Capital, podemos concluir que foram formulados 62,65 (sessenta

e dois inteiros e sessenta e cinco centésimos) pedidos de liberdade a cada grupo

de 100 casos novos. Se agregarmos os pedidos formulados pelos Defensores

Públicos da Unidade Dipo podemos concluir que foram formulados 102 (cento

e dois) pedidos de liberdade a cada grupo de cem processos de conhecimento

novos assumidos pela instituição, o que parece discrepar em muito da

conclusão do relatório.

Ao ensejo, e especificamente no que tange ao

documento em análise, cabe lembrar que no início de agosto de 2013 foi

realizada reunião entre as equipes técnicas dessa entidade e da Defensoria

Pública a fim de que pudessem ser apresentadas considerações acerca da última

versão, então disponível, do documento acima referido.

Diversas dúvidas e considerações de ordem

metodológica e conceitual foram suscitadas na ocasião. Ocorre que, da leitura

da versão ora apresentada, observo que não houve esclarecimento a respeito de

diversos questionamentos apresentados na ocasião, ou mesmo retorno quanto à

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solicitação de envio do banco de dados ou relação de feitos objeto da análise

para possível checagem.

Deste modo, tomo a liberdade de apresentar as

considerações técnicas que seguem a respeito do documento, parte delas já

apresentada anteriormente e não incorporada na nova versão do documento,

solicitando, se possível, manifestação da equipe técnica do Conectas sobre estes

pontos a fim de que possamos seguir contribuindo na avaliação do estudo.

Reitero, ainda, a solicitação de envio do banco de

dados da pesquisa ou, ao menos, da relação de processos e Varas que foram

analisados.

Certos de contar com a compreensão e colaboração

dessa entidade, confiamos que o aprofundamento da parceria estabelecida entre

a Defensoria e Conectas reverta no contínuo aprimoramento da atuação de

ambas as instituições e, sobretudo, no incremento da qualidade da assistência

jurídica prestado ao cidadão.

RENATO CAMPO PINTO DE VITTO Primeiro Subdefensor Público-Geral do Estado

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Notas sobre o Relatório Conectas: “Liberdade Provisória e Atuação da Defensoria Pública do Estado de São Paulo: Análise Empírica De Processos”.

1. OBJETIVO

Alguns apontamentos sobre o objetivo geral indicados na pesquisa:

“zelar pela implementação do plano bianual da Defensoria do Estado de São

Paulo resultante do III Ciclo de Conferências” (p. 3). E, para isso, “foi escolhida a

diretriz ‘pleitear a concessão de liberdade em todos os casos de prisão cautelar,

independentemente de análise de probabilidade de deferimento’” (p. 3).

Justificativa para escolha da diretriz: objetividade e importância da diretriz para

a Conectas – uma das entidades que participaram de sua proposição e aprovação.

Apesar do objetivo ser zelar pela implementação do plano bianual da

Defensoria, a escolha de uma única diretriz não é indicativo de (des)cumprimento do

plano. Assim, o objetivo da pesquisa está relacionado, na verdade, apenas ao

cumprimento desta meta específica.

“Malgrado todas as dificuldades relatadas, a pesquisa traçou um retrato fidedigno da dinâmica da prisão provisória na cidade de São Paulo. Para tanto, foram consultados 481 processos judiciais, sendo 390 processos com data da denúncia posterior ao plano bianual de atuação da Defensoria e 91, com data anterior. O objetivo foi verificar não somente o cumprimento da proposta aprovada na conferência da DPE, mas em que medida há diferença entre a situação pré-diretriz e pós-diretriz, isto é, qual o impacto da aprovação da diretriz na atuação concreta dos(as) defensores(as) públicos(as)”1 (p. 15).

Cabe ressaltar que não foi explicitado o número de réus (que figurou como a

unidade estudada nessa pesquisa) dos 91 processos com data anterior à aprovação do Plano de Atuação e tampouco como chegaram nesse número de casos de modo a possibilitar uma avaliação de impacto. Salvo engano, o único dado apresentado na pesquisa referente aos 91 processos anteriores à aprovação da diretriz em questão é a porcentagem de pedidos de liberdade efetuados, para comparação com o período posterior; mas não informa nem a quantos casos se refere essa porcentagem. Não é

1 Grifo nosso.

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possível afirmar que houve avaliação do impacto da aprovação da diretriz – pelo menos não com os dados e metodologia expostos no texto.

“a pesquisa foi além e procurou descobrir se há uma racionalidade que regula a intervenção dos(as) defensores(as), isto é, se as medidas tomadas seguem um padrão e, em caso positivo, de acordo com quais critérios” (p. 16).

A análise da racionalidade pretendida não é verificada no relatório, uma vez

que, se há diferença de tratamento em relação ao perfil, deve-se considerar que o perfil das pessoas dos casos analisados pode já estar “pré-selecionado” por uma atuação anterior à da Defensoria nos processos criminais.

Além disso, deve-se ressaltar que determinadas características do perfil do réu

são consideradas pelo julgador para análise do pedido, como, por exemplo, residência fixa e antecedentes criminais. Desse modo, e sem adentrar na problematização da exigência judicial, estas características também podem ser consideradas pelo defensor público na avaliação da melhor estratégia para soltura do réu.

Para análise da racionalidade que regula a intervenção específica dos

defensores, poderia ter sido analisada, por exemplo, a diferença dos pedidos por vara (com amostra estratificada), de modo a identificar se a estratégia de atuação dos defensores diverge de acordo com o juiz. Ou, ainda, poderia ter sido realizada uma análise qualitativa comparada dos casos com e sem pedidos de liberdade, de modo a identificar características comuns em cada um desses grupos.

“Observar as diferenças no tratamento dispensado pelo sistema de justiça criminal de acordo com variáveis como sexo, cor, idade, situação de moradia e trabalho e presença de antecedentes foi um dos objetivos do levantamento” (p. 23).

Além deste objetivo não estar diretamente relacionado ao objetivo central da

pesquisa, a seleção dos casos – sem considerar os dados do DIPO, com viés de seleção (destacado na parte da metodologia deste documento), sem demonstrar se a amostra é representativa da totalidade de casos e considerando apenas casos em andamento – não possibilita a avaliação pretendida.

“A presença de pedidos judiciais elaborados pela DPESP visando à liberdade das pessoas cautelarmente presas foi o principal propósito deste estudo” (p. 23).

“A proposta da pesquisa era verificar se a diretriz “pleitear a concessão de liberdade em todos os casos de prisão cautelar, independentemente da análise de

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probabilidade de deferimento” está sendo cumprida pelos(as) defensores(as) públicos(as)” (p. 39).

Apesar dos demais objetivos descritos acima, nos parece que este é o objetivo

geral da pesquisa, de acordo com o que efetivamente se propôs a fazer.

2. METODOLOGIA

De acordo com a descrição das dificuldades e metodologia, as estratégias para levantamento de dados foram:

1. Processos criminais em que havia prisão cautelar, em que um(a) ou mais réus(és) presos(as) eram assistidos(as) pela Defensoria e com denúncia posterior a 25 de maio de 2012 (p. 12)

Dados solicitados à DPESP, sem êxito.

2. Mesma solicitação feita ao DIPO e ao distribuidor. Também sem êxito.

3. Busca no E-SAJ no campo "nome da parte" por Defensoria Pública (p. 13) e, devido aos baixos resultados, inserindo nomes de homens e mulheres neste campo (p. 14) - foram preenchidos 73 formulários com o uso desta estratégia.

4. "A saída encontrada foi recorrer às pautas das audiências de instrução e julgamento de rés(us) assistidos(as) pela DPESP e anotar os números dos processos judiciais, para posterior consulta nos cartórios" (p. 14).

5. A equipe conseguiu, por fim, acessar os autos de processos por meio de autorização judicial. "Entre agosto e dezembro de 2012, a equipe de pesquisa acessou sistematicamente todos os processos judiciais em que havia pessoas provisoriamente presas assistidas pela DPESP e que haviam sido liberados para consulta por funcionários(as) do cartório" (p. 16).

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2.1. Observações específicas sobre as estratégias descritas acima:

Item 2. Apesar do DIPO não ter sido considerado no escopo da pesquisa, houve

solicitação dos dados deste departamento. Por quê? Foi alterado o escopo da pesquisa?

Em relação ao item 3, sobre a busca no E-SAJ:

Defensoria Pública não figura como parte, mas estaria no campo “nome do advogado”. Pode ter sido um equívoco na busca ou apenas na descrição desta busca no relatório.

A busca por nomes de “homens e mulheres no campo ‘nome da parte’” (p. 14), foi feita com nome de rés e réus? Ou de Defensoras e Defensores? Neste último caso, ocorreria o erro apontado acima (figura como advogado e não como parte) e se foi o primeiro (rés e réus), como foram selecionados estes nomes?

Não ficou claro se estes 73 formulários foram computados nos 470 casos analisados ou se foram desconsiderados.

Item 4:

Não ficou claro o cálculo realizado a partir da pauta de audiências: “Essas pautas são disponibilizadas em um mural no corredor próximo à sala em que ocorre a audiência. Isso foi possível com o cálculo aproximado da audiência, tendo como base a data do oferecimento da denúncia, recorte da pesquisa” (p.14).

Não informaram quantos processos foram identificados desta forma.

Item 5:

Quantos processos foram liberados para consulta dessa forma? E quantos processos foram consultados dessa forma (caso tenha sido utilizada a combinação dos levantamentos descritos nos itens 3 a 5)?

Qual a forma de seleção da amostra? Como foi calculado o tamanho da amostra necessária para o total de casos? Apesar de não terem sido liberados todos os processos, conseguiram obter o número total de processos, e mais especificamente de réus, para o cálculo da amostra?

2.2. Comentários gerais:

2.2.1. Levantamento de dados

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A exposição da metodologia mesclada com as dificuldades encontradas apontam para recortes feitos dentro de recortes que dificultam a compreensão da metodologia efetivamente aplicada. Sugestão: separar a metodologia efetivamente aplicada das dificuldades encontradas (as dificuldades poderiam até mesmo entrar como justificativa para algumas escolhas, mas é preciso deixar claro qual(is) o(s) levantamento(s) de dados efetivamente utilizado).

Não ficou claro se os dados apresentados se referem à metodologia descrita no

item 5 ou do 3 ao 5. Caso seja a soma dos levantamentos realizados nos itens 3, 4 e 5, faltou explicitar quantos casos com base em cada tipo de levantamento. Vale ressaltar que estes 3 tipos de levantamento enviesam a seleção de casos:

No item 3 porque não sabemos o critério (se há) para digitalização dos processos e, mesmo que não haja critério, não são todos os casos que estão disponíveis e, assim, não são todos os casos que tem probabilidade de serem selecionados na amostra.

No item 4 porque não sabemos quais foram os dias em que as pautas foram consultadas e não são todos os casos após a aprovação da diretriz que teriam chance de serem selecionados na amostra.

No item 5 porque os casos foram selecionados dentre os processos liberados pela consulta por funcionários(as) do cartório e não dentre todo o acervo de processos, ou seja, não são todos os casos que têm chance de serem selecionados na amostra.

“Os dados apresentados a seguir foram coletados a partir da consulta in loco a

390 processos criminais, distribuídos em 30, das 31, varas criminais do Fórum Criminal da Capital, situado no bairro da Barra Funda, no período de agosto até outubro de 2012” (p. 23).

Na versão preliminar deste relatório havia um gráfico discriminando o número

de processos consultados por vara, informação importante sobre o levantamento dos dados, mas este foi retirado na versão final. Aliás, deveria constar a informação e deveria ter sido realizada uma análise sobre as diferentes possibilidades de atuação das Varas, o que impactaria na análise do objeto do levantamento.

2.2.2. Amostra

“Nos 390 processos criminais acessados pela pesquisa havia 470 pessoas figurando como réus e rés. Para os fins deste relatório, cada pessoa que responde ao processo criminal foi considerada um caso” (p. 23).

Não há identificação do universo da amostra – 390 processos dentre quantos?

470 pessoas figurando como réus e rés dentre quantos no período? Sem identificação

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do universo não é possível identificar se a amostra, caso fosse aleatória, seria representativa.

A aleatoriedade na seleção de uma amostra é fundamental para a identificação de resultados não enviesados e representativos em relação à totalidade de casos. Para isso, é necessário selecionar a amostra, sem nenhum critério específico, dentre o universo total da “população” (casos) que se quer estudar. E, assim, é necessário conhecer o universo do objeto a ser estudado para que todos os casos deste universo tenham probabilidade de fazer parte da amostra (com exceção de populações infinitas/imensuráveis, cuja fórmula é outra). E, ainda assim, a amostra selecionada pode não ser representativa da população, de modo que, com base no tamanho da população (nesse caso número de réus presos cautelarmente com denúncia a partir de 25 de maio) é necessário identificar o coeficiente do erro amostral2.

Primeiramente, como não sabemos o tamanho do universo no caso desta

pesquisa não sabemos se a amostra é representativa. E, ainda, não há aleatoriedade na seleção, uma vez que a seleção é enviesada pela disponibilidade dos processos.

Se o intuito inicial era analisar todos os casos de prisão cautelar, a seleção dos

casos analisados deveria ter sido feita dentro deste universo. Excluir os casos do DIPO, enviesa a análise ao desconsiderar, por exemplo, a atuação bem sucedida da Defensoria dos casos que não chegaram a processos criminais (sobre este ponto ver item 2.2.5).

Os resultados, portanto, não são representativos do total de casos.

Não é explicitado no relatório como foi definido o tamanho da amostra do

grupo de controle (por que 91 processos?). E também não é explicitado o número de réus e rés nesses processos.

2.2.3. Delimitação do objeto

“O recorte da pesquisa inclui apenas processos em que houve a nomeação de defensor público, cujo(a) réu ou ré já foram presos(as) em algum momento do processo, e que possuem data da denúncia posterior à aprovação do último plano de metas da instituição” (p. 23).

Não é considerado na análise (ou pelo menos não está claro no texto) o

momento processual em que a Defensoria passou a atuar em cada processo. Para a

2 Para mais informações, ver:

TRIOLA, Mario F. Introdução à Estatística. Rio de Janeiro: Editora LTC, 1999. WOOLDRIDGE, Jeffrey M. Introdução à Econometria - Uma abordagem moderna. São Paulo, Thomson Learning, 2007.

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finalidade desta pesquisa, deveriam ter sido analisados apenas casos em que a Defensoria atuou durante o período de prisão, pois se a Defensoria tomou ciência após a soltura ou se havia advogado particular até a soltura, não haverá pedido de liberdade provisória realizado pela DPESP.

Inclusive, a análise do período entre a prisão e a realização do pedido pela

DPESP (p. 31), deveria considerar a data em que a DPESP passou a atuar no processo – item que consta no instrumento de coleta.

“Em 34 casos examinados pela pesquisa, o(a) juiz(a), de ofício, revogou a prisão preventiva ou concedeu a liberdade provisória. Em sete desses 34 casos (...), a liberdade provisória foi concedida mediante recolhimento de fiança” (p. 29).

No mesmo sentido da observação acima, os casos em que foi concedida a

liberdade sem recolhimento de fiança, deveriam ter sido excluídos da análise, uma vez que não havia possibilidade de pedido de liberdade a ser feito pela Defensoria Pública.

Não está explicitado no relatório qual o termo inicial e final da verificação dos

processos analisado.

2.2.4. Período

“a equipe de pesquisa dependia de sua colaboração para a separação dos processos judiciais de acordo com os critérios estabelecidos – prisão cautelar, remessa à DPESP e denúncia com data posterior a 25 de maio de 2012” (p. 13, grifo nosso).

Período do objeto de análise: denúncia posterior a 25 de maio de 2012. Não

ficou claro o fim do período analisado – apesar de estar claro que não poderia ser posterior a dezembro, não sabemos se a última denúncia analisada é anterior a dezembro.

"Entre agosto e dezembro de 2012, a equipe de pesquisa acessou sistematicamente todos os processos judiciais em que havia pessoas provisoriamente presas assistidas pela DPESP e que haviam sido liberados para consulta por funcionários(as) do cartório" (p. 16).

Período de levantamento de dados: entre agosto e dezembro de 2012.

“Os dados apresentados a seguir foram coletados a partir da consulta in loco a 390 processos criminais, distribuídos em 30, das 31, varas criminais do Fórum Criminal da Capital, situado no bairro da Barra Funda, no período de agosto até outubro de 2012” (p.23).

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Período de levantamento de dados: entre agosto e outubro de 2012. O período

de coleta de dados foi entre agosto e outubro (p. 23) ou entre agosto e dezembro (p. 16)?

“As prisões, realizadas entre 26 de janeiro e 24 de outubro de 2012, resultaram majoritariamente de flagrantes (462 ou 98,3%) (...)” (p. 25).

Período das prisões analisadas: entre janeiro e outubro de 2012.

2.2.5. Inquérito Policial, Processo Criminal e Prisões Cautelares

O relatório revela uma intensa e importante preocupação com os “impactos muito significativos na vida das pessoas em situação de prisão.” (p.8).

Neste sentido, não ficaram claras as razões pelas quais foi excluída a atuação da Defensoria junto ao DIPO, Central de Flagrantes e Plantões. Pois seriam nestas fases, efetivamente, o primeiro contato da Defensoria com muitas das prisões cautelares.

Ademais, se a análise despreza estes casos, a amostra a partir dos processos já estará enviesada, uma vez que o universo deveria ser as prisões cautelares em todas as suas modalidades. Ou seja, nos casos de prisões em flagrantes, temporárias e eventualmente até mesmo provisória, decretadas nos autos de um Inquérito Policial que em decorrência da atuação da Defensoria foram revogadas, ainda durante a tramitação no DIPO, estas prisões e atuações não foram computadas na pesquisa. O que revela um equívoco se a proposta é checar se a Defensoria está pleiteando a concessão de liberdade “em todos os casos de prisão cautelar”.

Aliás, o relatório destaca que a maior parte das prisões cautelares nos processos analisados são decorrentes de prisões em flagrantes: “As prisões, realizadas entre 26 de janeiro e 24 de outubro de 2012, resultaram majoritariamente de flagrantes (462 ou 98,3%), sendo bastante reduzida a quantidade de prisões preventivas ocasionadas por cumprimento de mandado expedido pela autoridade judiciária no curso de uma investigação. Esse dado revela de forma contundente a maneira pela qual se dá a atuação do sistema de justiça criminal e evidencia um desequilíbrio entre as atividades de repressão (flagrantes) e de investigação (cumprimento de mandados). Resultado bastante semelhante consta do relatório da pesquisa “Prisões em flagrante na cidade de São Paulo”, conduzida pelo Instituto Sou da Paz” (p.25). Por qual razão, então, a equipe excluiu a atuação prévia ao recebimento da denúncia?

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Diz o relatório que: “Assim, a pesquisa se voltou efetivamente aos processos criminais, ou seja, aos acontecimentos que deram origem a inquéritos policiais cujos relatórios finais, que ficam a cargo do(a) delegado(a) de polícia, foram remetidos ao(à) promotor(a) de justiça, que decidiu oferecer denúncia que foi, por seu turno, recebida pelo Poder Judiciário. Logo, restaram excluídos do estudo os casos cujo trâmite judicial se encerra no DIPO e quando não há oferecimento da denúncia” (p.16)

Ressalta-se que não foram apenas os inquéritos arquivados ou não findos (eventualmente ainda com diligências a serem realizadas) que foram excluídos da análise. Se, a solicitação feita nos cartórios judiciais estava circunscrita aos processos com prisão cautelar, excluiu-se, também, aqueles processos cuja prisão cautelar pode ter sido revogada ainda na fase do inquérito ou pode ter sido substituída por outra medida cautelar.

A fim de demonstrar a importância da análise da atuação no DIPO, destaca-se que de junho a dezembro de 2012 foram efetuados 6.044 pedidos de liberdade (liberdade provisória, habeas corpus e relaxamento de prisão) pelos defensores públicos nas varas singulares da Barra Funda e, neste mesmo período, foram efetuados 3.786 pedidos de liberdade no DIPO e 1.138 nos plantões judiciários realizados no Fórum da Barra Funda (ver tabela abaixo).

Dados da Capital - 2012 jan/12 fev/12 mar/12 abr/12 mai/12 jun/12 jul/12 ago/12 set/12 out/12 nov/12 dez/12

DIPO

Habeas corpus 156 337 263 246 271 258 167 349 430 231 172 195

Liberdade provisória 117 131 179 162 249 167 171 248 300 221 239 187

Relaxamento de prisão 69 56 73 58 109 34 96 106 37 78 53 47

Pedidos de liberdade 342 524 515 466 629 459 434 703 767 530 464 429

Varas Singulares

Habeas corpus 325 468 535 428 443 378 490 507 403 355 259 197

Liberdade provisória 375 512 489 495 517 430 458 527 400 377 418 221

Relaxamento de prisão 117 119 114 102 85 117 102 98 70 92 98 47

Pedidos de liberdade 817 1099 1138 1025 1045 925 1050 1132 873 824 775 465

Plantão Judiciário - Barra Funda

Habeas corpus 27 19 43 74 64 97 84 37 92 93 91 186

Liberdade provisória 122 122 73 64 122 71 52 10 62 21 28 93

Relaxamento de prisão 25 28 22 4 3 22 1 1 40 0 16 41

Pedidos de liberdade 174 169 138 142 189 190 137 48 194 114 135 320

Total Barra Funda

Habeas corpus 508 824 841 748 778 733 741 893 925 679 522 578

Liberdade provisória 614 765 741 721 888 668 681 785 762 619 685 501

Relaxamento de prisão 211 203 209 164 197 173 199 205 147 170 167 135

Pedidos de liberdade 1333 1792 1791 1633 1863 1574 1621 1883 1834 1468 1374 1214

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2.2.6. Habeas corpus

“verificou-se a existência de habeas corpus em três casos em que houve pedido

de liberdade na vara e em outros três casos em que não houve” (p. 29). Como foram identificados os habeas corpus? Houve leitura integral dos

processos, inclusive apensos e cotas manuscritas? Ou a identificação foi realizada a partir do pedido de informação ou de outra forma? Sendo de outra forma, qual teria sido?

A verificação de apenas 6 habeas corpus dentre os casos analisados nos

chamou atenção, uma vez que o número de habeas corpus impetrados nas Varas Singulares na Barra Funda é similar ao número de pedidos de liberdade provisória (2.589 e 2.831 entre junho e dezembro de 2012, respectivamente) e, se considerarmos a atuação dos defensores públicos no DIPO e nos Plantões Judiciários, os habeas corpus impetrados ultrapassam os pedidos de liberdade provisória (5.071 e 4701, respectivamente).

2.2.7 Instrumento de coleta

Embora a pesquisa se apresente como uma pesquisa quantitativa o instrumento de coleta do dado é qualitativo e na leitura do relatório são localizadas conclusões a partir de informações que a rigor não constam do instrumento de coleta.

Ou seja, é possível que durante a pesquisa, os pesquisadores tenham feito fizeram anotações além da informação indicada no roteiro. Todavia, este procedimento pode gerar equívocos, uma vez que um pesquisador pode adotar uma linha de anotações e categorias e outro pode adotar outra linha de anotação e categorias. Aliás, o mesmo pesquisador pode adotar procedimentos diferentes em datas diferentes.

Apenas para exemplificar, no que diz respeito à situação de trabalho, chamou a

atenção a seguinte passagem: “Em relação ao trabalho, as informações coletadas a partir dos autos dos processos criminais apontam que 40,9% (192) dos réus e rés estavam em situação de desemprego ou não tinham ocupação no momento da prisão, enquanto 50,8% (239) estavam empregados ou tinham ocupação. Em 8,3% (39) dos casos não havia informação quanto ao trabalho. No que diz respeito à situação de trabalho, é importante salientar que o trabalho sem a garantia de direitos trabalhistas e com baixos rendimentos é predominante” (p.44). Como a equipe de pesquisa pode concluir sobre as garantias trabalhistas e os baixos rendimentos se não há uma questão sobre garantia e sobre renda? É possível

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supor que o fato ocorra, entretanto concluir tais fatos sem a coleta sistemática deste dado na pesquisa parece revelar convicções preestabelecidas.

A questão sobre profissão está posta no questionário da seguinte maneira:

Profissão do(a) acusado(a)

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Como está nos

documentos policiais

Como está nos

documentos judiciais

Ainda, quanto a esta questão, a admissão de que a informação possa ser

encontrada em mais de um documento sem a orientação de em quais documentos o pesquisador deve buscar o dado, apenas aumenta a possibilidade de registros variados sobre a mesma informação. Outra imprecisão do formulário diz respeito à idade do denunciado, a esta categoria está associada a seguinte orientação: “calcular a idade que tinha na data da fase policial”. O cálculo deveria ser computado em dias? Não deveria haver a indicação onde os pesquisadores deveriam buscar a informação sobre a idade? Por exemplo: na qualificação da pessoa, no exame de corpo de delito ou em outro documento?

A questão 23 traz o seguinte conteúdo:

Está preso? 23 Sim Não

Este não era um requisito para a seleção dos processos analisados? Qual a

motivação desta questão? Por fim, abaixo da questão 34 há a seguinte orientação: “Se não teve pedido de liberdade provisória e nem de outra cautelar encerra-se

aqui o formulário. Se teve, prosseguir a coleta de dados” A orientação não observa os casos de impetração de habeas corpus e outros

pedidos que pudessem ter sido efetuados, ou seja, o pesquisador que não tem clareza quanto às possibilidades de pedidos a serem realizados não pode ter encerrado a coleta de dados equivocadamente?.

As questões levantadas provocam incertezas quanto ao levantamento de dados

e análises efetuadas.

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3. ANÁLISE DO RELATÓRIO

Quanto às analises realizadas destacamos os seguintes itens: 3.1. Ciclos de Conferência.

O relatório destaca o ponto seguinte: “(...)

Proposta: Intensificar o contato pessoal do Defensor Público com o preso provisório para qualificar sua defesa processual. Ação realizada: Criação de novos cargos de defensores no Fórum Criminal da Barra Funda.

Mesmo diante de uma ação que não foi especificamente concebida para o

propósito de intensificar o contato entre defensor(a) e preso(a) provisório(a), a DPESP considerou que a proposta foi implementada”.

Equivoca-se o texto de análise do relatório Conectas, uma vez que o relatório de monitoramento insere a proposta transcrita na página 893, sob o título de Propostas em implementação e não “implementada”.

Sem dúvida, criar novos cargos de defensores públicos, por si só, não

intensificará o contato pessoal do Defensor Público com o preso provisório para qualificar sua defesa processual. Entretanto, nenhuma política pode ser formulada neste sentido se não houver profissionais suficientes para realizar o atendimento.

3.2. Imprecisões analíticas

3.2.1. Gráficos No Gráfico 5 “Existência de pedido de medida cautelar diversa da prisão”

constam 136 casos de pedidos de aplicação de medida cautelar. Entretanto, na descrição do texto4 é possível identificar que tratam-se de 144 casos, sendo 136 em

3 Disponível em:

http://www.defensoria.sp.gov.br/dpesp/repositorio/0/documentos/confer%C3%AAncias/relatorio_monitoramento_alta.pdf 4 “Em 136 dos 188 casos em que se constatou o pedido de liberdade, houve também o pedido de

aplicação de medida cautelar diversa da prisão, ou seja, é comum que o pedido de aplicação de uma medida cautelar seja feito de forma subsidiária ao pedido de liberdade. Nos 56 casos restantes em que houve pedido de liberdade não houve o pedido de aplicação de medida cautelar. Em apenas oito casos

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que houve tanto pedido de liberdade quanto pedido subsidiário de medida cautelar diversa da prisão e 8 casos em que houve apenas o pedido de aplicação de medida cautelar independentemente do pedido de liberdade provisória. No gráfico estes 8 casos estão na categoria “não” ou “não consta”, pois a soma das categorias do gráfico 5 é 470 (totalidade dos casos). A soma das categorias dos Gráficos 6, 7 e 9 não totalizam 470 casos. É importante destacar o número de casos em que não foi possível identificar as informações analisadas.

3.2.2. Probabilidade do pedido de liberdade ter sido realizado após o levantamento dos dados da pesquisa

Nas páginas 31-2, há afirmação de que “por se tratar de pesquisa que lidou com

casos em andamento, é razoável supor que eventualmente poderia ter sido

apresentado algum pedido de liberdade após o momento da coleta, mas os números

anteriormente mencionados, se não descartam de todo essa possibilidade,

possibilitam inferir que a probabilidade de isso ter ocorrido é bastante baixa”.

Entretanto, ao analisarmos a distribuição da faixa de intervalo entre prisão e pedido de

liberdade e a faixa de intervalo entre prisão e coleta de dados, podemos calcular, para

cada faixa de intervalo entre prisão e coleta de dados, a probabilidade de que, caso

haja pedido de liberdade, ele seja posterior à coleta de dados5.

Faixa de dias Intervalo entre prisão e pedido

de liberdade

Probabilidade do pedido ser realizado

em cada intervalo

Intervalo entre prisão e coleta

de dados

Probabilidade do pedido de liberdade ter sido

realizado após a coleta dos dados (somatória da

probabilidade dos períodos após a coleta)

até 10 dias 36 19% - -

de 11 a 20 dias 14 7% 2 73%

de 21 a 30 dias 2 1% 1 72%

de 31 a 40 dias 7 4% 4 68%

se constatou o pedido de aplicação de medida cautelar independentemente do pedido de liberdade provisória” (p. 27, grifo nosso). 5 Para os pedidos de liberdade, foi calculada a probabilidade (p) dele ter sido realizado em cada faixa de

intervalo (p= pedidos realizados em determinado intervalo/ total de pedidos). Assim a probabilidade do pedido de liberdade ter sido realizado após a coleta dos dados é equivalente a soma da probabilidade de todos os períodos seguintes.

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de 41 a 50 dias 16 9% 22 60%

de 51 a 60 dias 29 16% 32 44%

de 61 a 70 dias 20 11% 41 34%

de 71 a 80 dias 18 10% 34 24%

de 81 a 90 dias 15 8% 50 16%

de 91 a 100 dias 12 6% 54

10% acima de 100 dias 18 10% 226

Destaca-se que esta é a probabilidade de cada intervalo, caso haja pedido. Não

é possível calcular a probabilidade de realização de pedidos de liberdade pois (a) não

temos o universo total para estimativa de erro da amostra e (b) como não foram

considerados os casos do DIPO, que compreende a primeira atuação da Defensoria, a

porcentagem de pedidos está enviesada.

3.2.3. Sobre o relatório da Defensoria “O uso do habeas corpus pela Defensoria do Estado de São Paulo”

Ao analisar as categorias criadas para identificar as teses sustentadas nos

habeas corpus impetrados pela Defensoria, o relatório conclui: “Dados do relatório também demonstram que na área penal os HCs são pouco usados como meio para a obtenção da liberdade no curso do processo judicial: a categoria de tese “liberatórios” perfaz 6,00%, ao passo que as categorias de tese “regime prisional e substituição por pena restritiva de direitos” e “fixação de pena” fundamentam quase 60% dos HCs” (p.29-30).

Vale lembrar que a atipicidade do fato sustentada em Habeas Corpus se dá

geralmente no início do processo e reconhecida a atipicidade, evidentemente que o paciente, se preso estiver, será colocado em liberdade.

Ademais algumas nulidades sustentadas em sede de habeas corpus podem

ocorrer ainda no início processual, como a nulidade decorrente da inépcia da denúncia, o que também levaria à soltura do paciente.

3.2.4. Leitura sobre a eficácia da Lei 12.403/2011 O relatório afirma que: “A chamada lei das cautelares (12.403/2011), que

promoveu mudanças no Código de Processo Penal, não surtiu tantos efeitos – é o que se depreende das informações obtidas a partir dos processos, ainda que não tenha

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sido esse o objetivo da pesquisa. Em 136 dos 188 casos houve o pedido de aplicação de medidas cautelares diversas da privação de liberdade de forma subsidiária ao pedido de liberdade. Em oito de 470 casos houve o pedido de aplicação de medida cautelar de forma autônoma. Ao contrário do que se anunciava quando da entrada em vigor da lei, o sistema de justiça criminal continua reiterando sua opção privilegiada pela prisão: na pesquisa, as cautelares assumem um papel bastante residual” (p. 40).

Ainda que seja razoável a conclusão acima, ela é apenas uma hipótese sem

comprovação pelo relatório, seja porque o universo pesquisado não foi dos casos de prisões cautelares, seja porque os processos pesquisados se referem apenas àqueles em tramitação na cidade de São Paulo, ou seja, a hipótese levantada deveria, ao menos, trazer o marcador espacial e não ser inserida como uma conclusão geral sem delimitação.

3.2.5. Utilização de informações da PNAD Segundo o relatório: “A grande maioria foi classificada como parda (219/46,6%)

e 15,7% (74), como preta. Ao considerar os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2011 para a região metropolitana de São Paulo, é evidente a desproporção, pois pardos perfazem 32,2% e pretos, 7,3% da população.38” (p.43)

Não ficou muito clara a análise elaborada, uma vez que o dado populacional

citado não foi desagregado para a cidade de São Paulo.

3.2.6. Análises pontuais

Nas páginas 33/35, há algumas análises pontuais. Em uma delas o texto trata

do princípio da insignificância:

“Do total de casos que constituíram o material empírico do estudo (470), 25 diziam respeito a situações em que se identificava o princípio da insignificância, como furto de peças de roupa, roubo de fraldas, xampu e lâmina de barbear. Em apenas um caso houve concessão de liberdade de ofício. Em 15 desses casos a DPESP realizou pedido de liberdade. Contudo, nenhum desses pedidos foi deferido na vara criminal.”

Foi averiguada a impetração de habeas corpus?

3.2.7. Perfil de deferimento e indeferimento “Nos casos em que houve deferimento do pedido (21 casos), o fundamento da

decisão se voltou principalmente ao cometimento de crime sem violência ou grave

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ameaça e à ausência de antecedentes criminais. Nas situações em que o pedido de liberdade foi indeferido (132 casos), é possível associar um maior número de indeferimentos ao perfil da pessoa presa, isto é, aquelas sem residência fixa, sem ocupação e com antecedentes criminais têm, segundo os dados coletados pela pesquisa, menores chances de alcançarem a liberdade, independentemente da gravidade do crime cometido”(p.32-3).

Seria interessante demonstrar os dados que comparam o perfil do deferimento e indeferimento.

3.3. Outras observações gerais

Faltam referências e fonte para algumas informações e afirmações realizadas no texto, como, por exemplo:

“O Estado de São Paulo concentra 34,7% da população prisional do país, sendo

a unidade da federação que lidera o ranking de número absoluto de presos. Esse imenso contingente de pessoas está submetido a um regime de privações que compromete muito mais do que a liberdade: o sistema prisional brasileiro é marcado pela falta de assistência médica, odontológica, social ou jurídica adequada e pela extrema carência material, que acarreta um pesado ônus para familiares e obriga a formação de relações de dependência entre os(as) presos(as), muitas vezes contribuindo para o fortalecimento das organizações criminosas nas prisões” (p. 4). “Os agentes encarregados da vigilância policial e do processamento dos crimes têm sua atuação pautada por uma lógica classificatória que mascara o cometimento de crimes por indivíduos de classes mais abastadas e que leva massivamente à prisão pessoas tachadas como perigosas” (p. 24).

O relatório apresenta conclusões que parecem estar preestabelecidas, uma vez

que não estão associadas aos dados levantados e não relacionam a literatura que poderiam embasar as conclusões apontadas.

Para exemplificar, indicamos o texto abaixo: “É importante salientar que esse dado diz mais respeito à atuação da polícia e

dos demais órgãos do sistema de justiça criminal do que à ocorrência de crimes, de acordo com o fenômeno da seletividade, segundo o qual instâncias repressivas privilegiam um determinado conjunto de indivíduos e suas condutas. Os agentes encarregados da vigilância policial e do processamento dos crimes têm sua atuação

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pautada por uma lógica classificatória que mascara o cometimento de crimes por indivíduos de classes mais abastadas e que leva massivamente à prisão pessoas tachadas como perigosas” (p. 24).

Forma de apresentação de dado

O Gráfico 1, da parte IV é o único, desta parte, que apresenta o dado em porcentagem – sem indicar que não se trata de número de casos, mas de porcentagem.