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SEXUALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR E A TEORIA DA
APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA
Cleudinéia Aparecida Pereira
Colégio Estadual Abraham Lincoln – Kaloré-Pr. - [email protected]
Virginia Iara de Andrade Maistro
Depto de Biologia Geral- [email protected]
RESUMO
O presente trabalho fundamenta-se nos estudos sobre a Teoria da Aprendizagem
Significativa, segundo Ausubel, de modo a promover a análise dos limites e
possibilidades da proposta inserida, essencialmente centrada na temática da
sexualidade. O trabalho foi desenvolvido com alunos da 7ª série do Ensino
Fundamental de uma escola pública do Estado do Paraná. O estudo tem como objetivo
avaliar as potencialidades do trabalho desenvolvido na intervenção. Para a coleta de
dados, foram utilizadas atividades com metodologias específicas e adequadas,
incentivando o diálogo e a reflexão, nas quais os alunos trabalharam organizados em
grupos e individualmente. A proposta foi a exploração de temas polêmicos de modo
informativo e questionador, oferecendo condições para que o educando assuma seu
corpo e sua sexualidade com atitudes positivas, livres de medo ou culpa, preconceitos,
vergonha, bloqueios ou tabus. Diante das ações propostas e realizadas, alguns
resultados positivos foram percebidos, no sentido de constatar a mudança de opiniões
concernentes à temática abordada.
Palavras-chave: Projeto de intervenção. Aprendizagem Significativa. Sexualidade.
Ensino de Ciências.
ABSTRACT
This work is based on studies on the Theory of Meaningful Learning, according to
Ausubel, to promote the analysis of the limits and possibilities of the proposal included,
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mainly centered on the theme of sexuality. The study was conducted with students from
7th grade student at a public school in the State of Paraná. The study aims to evaluate
the potential of the work in the intervention. For data collection activities were used with
specific methodologies and appropriate, encouraging dialogue and reflection, in which
students worked in groups and organized individual. The proposal was explore
controversial issues in an informative and questioning, providing conditions for the
student take his body and his sexuality with positive attitudes, free from fear or guilt,
prejudices, shame, blockages or taboos. In view of the actions proposed and
implemented, some positive results were realized in order to observe the change of
opinion concerning the theme.
Keywords: Project intervention. Meaningful Learning. Sexuality. Science teaching.
1. INTRODUÇÃO
O Projeto de Intervenção Pedagógica na escola “SEXUALIDADE: educando
para a vida” fez parte, durante os anos de 2008 e 2009, do Programa de
Desenvolvimento Educacional - PDE, promovido pela Secretaria de Educação do
Estado do Paraná, do qual tivemos a oportunidade de participar. As atividades
desenvolvidas, bem como os resultados obtidos durante o período em que o projeto de
intervenção se realizou, subsidiaram a organização deste artigo, que foi elaborado
consoante à análise de pressupostos teóricos que sustentam a necessidade de se
discutir a sexualidade nas escolas.
Optamos implementar este projeto em uma 7ª série do ensino fundamental, do
turno vespertino, devido a constantes reclamações dos educadores quanto à
indisciplina e à falta de interesse dos educandos desta série, e que após diversas
reflexões com aqueles, levantou-se a hipótese de que esses problemas poderiam ser
causados pela inquietação e brincadeiras relacionadas à sexualidade e, por serem
inconvenientes, causavam constrangimentos, ofensas, culminando, muitas vezes, em
brigas e discussões. Outro fato que se observou foi o índice elevado de gravidez nessa
faixa etária. Pela nossa experiência no magistério e, principalmente, por atuarmos junto
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a adolescentes há muito tempo, sabemos que essas situações interferem no processo
de ensino-aprendizagem e aumentam evasão escolar.
Cotidianamente nos perguntamos qual o melhor caminho que devemos
percorrer para que os alunos tenham uma aprendizagem significativa, principalmente
em relação à educação sexual, que atenda os seus anseios, as suas inseguranças e
as suas expectativas. Ela se apresenta como um dos assuntos mais inquietantes e,
quase sempre, omitidos no cotidiano do educador. Cabe-nos, então, investigar como
abordar temas que remetam à sexualidade de maneira satisfatória e efetiva, visto que
nos livros didáticos, a abordagem dá ênfase à reprodução humana, mas não discutem
os assuntos polêmicos, como a homossexualidade, a pedofilia, e outros. Enfim, qual o
papel da escola perante a sexualidade? Como criar um espaço de discussão e
aprendizado, utilizando estratégia metodológica adequada, para que o educando da 7ª
série do ensino fundamental sinta a necessidade do conhecimento científico escolar,
do autoconhecimento, da valorização do corpo e da vida e das responsabilidades
quanto à sexualidade e o sexo?
É essencial criar espaços de discussão no contexto escolar sobre os mais
diversos temas que remetem à sexualidade, de modo que permitam ao educando,
questionar, sanar suas dúvidas, refletir e desenvolver sua capacidade de criticidade
para que possa assumir seu corpo e sua sexualidade como algo natural, incentivando
atitudes positivas, livres de medo ou culpa, preconceitos, vergonha, bloqueios ou
tabus. Dessa maneira, cabe ao professor ser um catalisador nas discussões, um
facilitador da conversa, prestando informações científicas, polemizando os temas
apresentados e garantindo o respeito à diversidade de opiniões e valores, sem ditar
normas ou condutas. Ele deve ficar atento às experiências dos alunos e às suas
histórias de vida. A diversidade de visões traz maior riqueza às discussões e o seu
confronto favorece o exercício da autonomia e da responsabilidade do educando. Deve
incluir nas discussões as dimensões biológicas, éticas, psicológicas, culturais, saúde
reprodutiva, gravidez na adolescência, DST, relações de gênero, aborto, paternidade
responsável, e outros.
Diante disso, o educador deve ajudar o educando a compreender como a
história da sexualidade foi construída ao longo do tempo, até chegarmos aos dias
atuais; o porquê dos tabus e dos preconceitos. Deve fornecer informações importantes
e permitir reflexões relacionadas à sexualidade, encarando-a como uma questão ligada
diretamente ao contexto social, influenciando e sendo influenciado por ela.
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2. SEXUALIDADE NO CONTEXTO ESCOLAR E A TEORIA DA APRENDIZAGEM
SIGNIFICATIVA
As Diretrizes Curriculares Estaduais de Ciências (DCE 2008) consideram que,
no processo de ensino e aprendizagem, a construção de conceitos pelo estudante não
diferencia, em nenhum aspecto, do desenvolvimento de conceitos do seu cotidiano. O
aprendizado e o desenvolvimento estão interligados e começam até mesmo antes do
nascimento, depois com os seus próximos e depois a escola, e continua ao longo da
vida dos sujeitos.
O educando vive inserido num contexto sociocultural, cujo conhecimento é
ampliado a todo o momento mediante as situações em que se contrastam as diferentes
concepções ou que permitem aumentar as interações cognitivas entre o conhecimento
que o aluno já possui e os momentos vivenciados por ele. Tem o direcionamento de
diferentes interlocutores com inúmeras experiências: pais, colegas, professores e
integrantes de seu entorno social.
No entanto, o aprendizado que o estudante traz consigo não é sistematizado,
como no contexto escolar. Neste, se tem por objetivo a assimilação do conhecimento
científico e a produção de mudanças no desenvolvimento do estudante.
Sabe-se, no entanto que:
A educação em Ciências deve proporcionar aos estudantes a oportunidade de desenvolver capacidades que neles despertem a inquietação diante do desconhecido, buscando explicações lógicas e razoáveis, levando os estudantes a desenvolverem posturas críticas, realizar julgamentos e tomar decisões fundamentadas em critérios objetivos, baseados em conhecimentos compartilhados por uma comunidade escolarizada. (BIZZO, 1998, p.144)
Aos professores cabe inserir atividades que favoreçam a espontaneidade do
aluno, permitindo a ele a construção de noções necessárias para a compreensão da
ciência. Dependendo da direção que o professor dá ao processo de ensino e
aprendizagem, o tema sexualidade pode se tornar relevante e merecedor de atenção
dos alunos ou insignificante e pouco atraente.
Desenvolvimento e aprendizagem são processos distintos, mas que caminham
juntos, onde ”tudo aquilo que o sujeito aprende é elaborado por ele, se incorpora.”
(VIGOTSKY, 2001, p.525)
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O educando somente pode aprender quando cria significações fundadas em sua
vida, que o auxiliem a compreender-se, “pois é preciso considerar que o estudante tem
capacidade de solucionar problemas, desempenhar tarefas, elaborar mapas mentais
de representação e construir conceitos com a ajuda de outras pessoas” (DCE 2008,
p.22). Quando a educação é imposta torna-se insignificante para o educando.
Segundo Ausubel, “quando o conteúdo escolar a ser aprendido não consegue
ligar-se a algo já conhecido, ocorre [...] a aprendizagem mecânica. [...] Assim, a pessoa
decora fórmulas, leis, mas esquece após a avaliação” (apud PELIZZARI et al., 2002, p.
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A aprendizagem significativa ocorre à medida que o novo conteúdo é
incorporado às estruturas de conhecimento de um aluno e adquire significado para ele
a partir da relação com o todo, com o contexto intelectual e cultural que o acompanha.
Tais conceitos seriam chamados de conceitos subsunçores, passando a ficar cada vez
mais elaborados e mais capazes de ancorar novas informações.
De acordo com Moreira (1999, p.53-54), Ausubel recomenda como estratégia
para manipular a estrutura cognitiva, o uso de organizadores prévios. Tais
organizadores prévios, nesse trabalho, seriam materiais preparatórios introduzidos,
que teriam a função de servir como elo entre o que o aprendiz já conhecia e o que ele
deve conhecer, apresentados antes do próprio material a ser aprendido. Buscando-se
garantir que a aprendizagem seja significativa para o aluno e que manifeste uma
disposição de relacionar o novo material, de maneira substancial a sua estrutura
cognitiva.
Segundo Oliveira (1997, p.10-11), cada indivíduo é um observador diferente que
observa mundos distintos. Portanto, é pensando assim que um educador deve levar o
conhecimento a uma sala de aula, ou seja, considerando que cada aluno é um sujeito
construído por um grupo social, que lida com diferentes tipos de conhecimentos,
interpretando-os a partir de suas ideias, seus valores e crenças, os quais por sua vez,
provêm das influências socioculturais que fazem parte de suas vivências.
Nesse sentido, devemos nos preocupar com o interesse e os aspectos dos
nossos alunos, para que tenha em sua personalidade uma formação integral, na qual a
sexualidade está presente e tem papel importante.
Uma maneira adequada de ampliar e/ou modificar as estruturas do aluno consiste em provocar discordância ou conflitos cognitivos que represente desequilíbrios a partir dos quais, mediante atividades, o
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aluno consiga reequilibrar-se, superando a discordância reconstruindo o conhecimento (PIAGET, 1997 apud PELIZZARI et al., 2001, p.40)
Para isso, é necessário que as atividades não sejam excessivamente simples, o
que provocaria frustração ou rejeição. Em resumo, o que é sugerido é a participação
ativa do sujeito, sua atividade autoestruturante, o que supõe a participação pessoal do
aluno na aquisição de conhecimentos, de maneira que eles não sejam uma repetição
ou cópia dos formulados pelo professor ou pelo livro-texto, mas uma reelaboração
pessoal.
Egypto (2003, p. 20) assim explica:
[...] a orientação sexual na escola pode ser concebida como uma intervenção pedagógica que favorece a reflexão sobre a sexualidade, problematizando os temas polêmicos, favorecendo ampla liberdade de expressão em ambiente acolhedor, que visa promover bem-estar sexual, vínculos mais significativos (a partir da própria relação professor-aluno) ampliando a cidadania.
Segundo esta constatação, o trabalho de intervenção na escola, a partir de
reflexões que problematizam os temas polêmicos, procurou estar atento e interessado
nas experiências vividas pelos alunos, visando promover vínculos significativos em sua
formação pessoal, rumo a uma sexualidade gratificante e responsável.
2.1 Observação da Realidade
A partir de análise realizada no contexto escolar da escola onde trabalhamos,
observou-se a necessidade da proposta de implementação e intervenção pedagógica,
com o tema Sexualidade. O trabalho foi desenvolvido durante o ano letivo de 2009,
com a participação de 28 alunos, sendo 17 alunas e 11 alunos, na faixa etária de 11 a
14 anos, do turno vespertino da 7ª série do Ensino Fundamental do Colégio Estadual
Abraham Lincoln- Ens. Fundamental e Médio, uma escola da rede de ensino público do
município de Kaloré (PR). A escola é de pequeno porte e os alunos que a frequentam
são de classe social média e baixa, provenientes de bairros urbanos e da zona rural.
Uma boa parte dos alunos dessa turma vem de lares desfeitos e sem muita
perspectiva de uma vida melhor, com autoestima baixa.
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A definição se deu por ser uma turma com dificuldade de relacionamento, devido
à falta de limites e agressões verbais, onde a sexualidade é tratada com descaso e
com vulgaridade; e se observa que alguns integrantes do grupo já têm iniciação sexual,
sem deter o conhecimento adequado das consequências que podem surgir devido à
prática sexual precoce.
3. METODOLOGIA
Primeiramente foi realizado um diálogo com os alunos com a finalidade de ouvir
os conhecimentos prévios dos mesmos sobre a sexualidade, com seguintes
questionamentos: de onde viemos? Como fomos formados? Como se dá a
fecundação? Todos os seres vivos para a perpetuação da espécie necessitam passar
pelo processo da fecundação? O diálogo foi aberto e permitiu que o aluno se
expressasse livremente com os colegas e com o professor. Os alunos se mostraram
participativos e interessados, mas não se pode confirmar a unanimidade, pois mesmo
com todo o incentivo, alguns não se propuseram a participar.
Com este primeiro contato, o professor-pesquisador solicitou aos alunos que
escrevessem no caderno e depois expusessem oralmente qual dos temas relacionados
à sexualidade eles achavam que era mais problemático e que gostariam de discutir
sobre ele. O tema mais apontado foi “gravidez na adolescência”, e por isso foi o objeto
central do estudo. Aplicou-se também um questionário de investigação, que será
analisado adiante, com o objetivo de obter maiores informações sobre a realidade de
cada aluno.
Após a análise dos conhecimentos prévios dos alunos, o professor pesquisador
elaborou o material introdutório, utilizando material didático-pedagógico respectivo a
algumas atividades da Unidade Didática (material composto por abordagem de uma
única unidade de um mesmo tema, contendo texto de fundamentação com as
respectivas atividades a serem desenvolvidas), organizado por ele durante a sua
participação no PDE 2008.
Este artigo tem o intuito de apresentar as manifestações da sexualidade
adolescente de uma maneira humanista, reflexiva e crítica, desprovida de preconceitos
e estereótipos. O objetivo é informar e permitir a reflexão sobre o tema, pela
população-alvo da pesquisa, considerando os aspectos individuais e valores pessoais.
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Tendo em vista esta realidade, organizamos este trabalho com atividades
teóricas e práticas que foram ministradas na sala de aula, sendo planejadas e
desenvolvidas em capítulos da seguinte maneira:
Capítulo I - Adolescência e Puberdade
Capítulo II - Relacionamentos afetivos: namorar ou ficar?
Capítulo III – Gravidez na adolescência
Capítulo IV – Aborto
Capítulo V – Relações de gênero
Capítulo VI – Diversidade sexual
Capítulo VII – Abuso sexual
A prática pedagógica utilizada se baseia numa concepção dialética do
conhecimento centrado no processo de construção em sala de aula, onde os alunos
passam a ser atores e autores do processo de aprendizagem. Como sugestões de
atividades estão disponibilizadas: mapas conceituais; júri simulado, interpretação de
texto, escada de valores, videoclipe (música Eduardo e Mônica – Renato Russo),
debates, confecção de painéis, pesquisas em livros e na Internet e subprojeto
“Cuidando do Ninho”.
4. DADOS E DISCUSSÃO
De acordo com o questionário de investigação elaborado e aplicado, foram
obtidos os seguintes dados:
Questão 1 - O que você pensa quando se fala em sexualidade?
Porcentagem Respostas 26% Prefiro não comentar 12% Nada 12% Penso em sexo 5% Falar sobre sexo 5% Em fazer filhos 5% Em fazer amor 5% Uma coisa normal 5% Pessoas não pensam no futuro 5% É um encontro com o homem e a mulher 5% Nada, porque não tenho idade pra essas coisas 5% Em besteira, uma coisa que não devemos fazer tão
cedo
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5% Tem que fazer se os dois querem 5% Beijar, transar, acariciar, troca de carinho entre o casal,
etc. Tabela 1-Público-alvo da intervenção: alunos da sétima série B do ensino fundamental/Tema: concepção de sexualidade.
Com esses dados podemos observar que os alunos confundem o conceito de
sexualidade com o de sexo propriamente dito. É importante salientar que um não
necessariamente precisa vir acompanhado do outro. “Sexualidade humana são
sentimentos e desejos nas mais variadas formas: no olhar, no toque, no jeito de andar,
de falar, de estudar ou trabalhar, [...] está em toda a nossa vida.” (Egypto, 2005, p.11)
Conforme vamos crescendo, descobrimos também o prazer provocado pelo
contato sexual, através do estímulo que fazemos em nós mesmos ou com outras
pessoas. Essa forma de exprimir a sexualidade vai se juntar às outras maneiras de
contato que já vínhamos vivendo desde bebês, gerando a sexualidade adulta. Pode-se
entender como constituinte de sexualidade a necessidade de admiração e gosto pelo
próprio corpo, por exemplo. A sexualidade de um indivíduo pode ser fortemente
afetada pelo ambiente sócio-cultural e religioso em que este se insere. Cabe a cada
um decidir qual o momento propício para que esta sexualidade se manifeste de forma
física e seja compartilhada com outro indivíduo através do sexo, que é apenas uma
das suas formas de se chegar à satisfação desejada.
Sayão (1997, p.100) aponta uma questão fundamental
[...] a escola precisa levar em consideração: A prática saudável da sexualidade supõe a conjunção de vários fatores: o funcionamento do corpo, os valores sociais, éticos e morais do meio em que vive a pessoa, as leis culturais e a estrutura psíquica. Assim, as informações puramente orgânicas (...) dizem sempre respeito ao corpo de um sujeito teórico, objeto de estudo das ciências anônimo, portanto: que não vive, não tem história, não deseja, não fala, não sofre, nem vive a angústia de crescer. Jamais serão utilizadas pelos jovens em sua vida sexual concreta. As informações sobre sexualidade só serão educativas quando tiverem o endereço postado corretamente. E com o remetente identificado e devidamente qualificado.
Para que o aluno possa entender a sua sexualidade, é necessário conhecer o
seu corpo, compreender as transformações que nele está ocorrendo, as alterações
físicas, psíquicas e sociais, sendo que estas duas últimas recebem interpretações e
significados diferentes, dependendo da época e da cultura na qual está inserida.
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Houve a necessidade de esclarecer, através de uma conversa simples, clara e
direta com os alunos, o que se entende por sexo e por sexualidade; explorando os
conhecimentos prévios dos estudantes, vinculados com os conhecimentos novos.
Ocorreu participação ativa dos alunos, onde foram sendo levantados vários
questionamentos:
A1- Como se faz sexo?
Muitos risos dos alunos. O aluno A1 ficou constrangido perante os demais.
P. O sexo é uma das formas mais intensa de contato entre duas pessoas. Uma
maneira de ter intimidade e mostrar o amor que um sente pelo outro. As pessoas têm
relações sexuais por prazer e também para procriação.
A relação sexual acontece com a penetração do pênis na vagina. Mas deve ser
realizada com muita responsabilidade, sabendo se respeitar e respeitando o parceiro.
A2- A primeira vez que transa pode ficar grávida?
P. Sim, para que isso não aconteça tem que se usar algum tipo de métodos
contraceptivos e, assim mesmo, não é 100% seguro.
A1- Mas se nunca menstruou?
A3- Aí não, né?
P. Quando vocês estudaram sobre o Sistema Reprodutor Humano, a professora
de Ciências explicou que a mulher tem um período em seu ciclo menstrual que
antecede a menstruação, chamado de período fértil, onde ocorre a ovulação, e a
mulher pode engravidar... A maioria dos alunos concordou, dizendo que se
lembravam... Muito bem, então, o que pode acontecer é que naquele mês a menina iria
menstruar pela primeira vez e teve ovulação. Se ela tiver relação sexual sem utilizar
métodos contraceptivos, ela poderá engravidar mesmo não havendo menstruado.
A4- Têm algumas meninas da mesma idade que já tem seios, e outras, não. Por
quê?
P. Cada organismo tem o seu tempo certo. Essas mudanças não acontecem ao
mesmo tempo para todos. Alguns mais devagar outros mais rápido. Não faz diferença
para o funcionamento sexual futuro, se você se desenvolve cedo ou tarde.
Mediante as respostas, fomos discutindo a Adolescência e as transformações
que ocorrem na puberdade.
Questão 2 - Que é ficar para você?
Porcentagem Respostas
11
37% Beijar, abraçar e se conhecer 16% Beijar 5% É uma coisa da vida e só para dar uns agarro mesmo 5% É beijar, abraçar, passar a Mão e transar 5% É se conhecer para namorar 5% É beijar, se abraçar e andar junto 5% Quando a mulher e o homem se gostam 5% Ficar não é o correto para se usar. 5% Namorar, conhecer e fazer sexo 5% É beijar na boca, namorar, fazer coisas com o devido
respeito Tabela 2. Público-alvo da intervenção. Participaram do estudo alunos da sétima série B do ensino fundamental/Tema: ficar. Questão 3 - Você já ficou?
Porcentagem Respostas 58% Sim 37% Não 5% Sim, mas sem ter relações Tabela 3. Público-alvo da intervenção. Participaram do estudo alunos da sétima série B do ensino fundamental/Tema: ficar.
Diante das repostas obtidas, percebe-se que ficar é compreendido das mais
diversas formas. Mas o mais importante foi a participação da maioria dos alunos e a
discussão que ocorreu frente às variadas respostas, o que permitiu ao professor
estimular a expressão das ideias, medos, anseios e dúvidas até mesmo daquele aluno
tímido. O papel do professor é o de problematizar e facilitar as discussões entre os
jovens, auxiliando-os a amadurecer suas opiniões, ao invés de impor suas ideias ao
grupo e de incentivá-los a buscar informações que enriqueçam a construção coletiva
de conhecimento.
3.1 Trabalhando Mapa Conceitual
Neste trabalho, a utilização dos mapas conceituais tem se apresentado como
uma ferramenta de ação pedagógica bastante útil à abordagem do tema gerador,
possibilitando que um conjunto de conceitos seja apresentado aos alunos, a partir do
estabelecimento de relações entre eles.
Para Moreira (2006, p.9), mapas conceituais são representações gráficas
semelhantes a diagramas que indicam relações entre conceitos ligados por palavras.
Mais especificamente, podem ser interpretados como diagramas hierárquicos que
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representam uma estrutura que vai desde conceitos mais abrangentes até os menos
inclusivos. São utilizados para auxiliar a ordenação e a sequenciação hierarquizada
dos conteúdos de ensino, de forma a oferecer estímulos adequados ao aluno.
Para realização do trabalho, os alunos foram divididos em grupos e o professor
orientou como se constrói um mapa conceitual.
A atividade proposta desenvolveu-se em várias etapas, a saber:
a) Escolha do tema gerador a ser discutido: “Ficar” b) Listagem de várias palavras soltas referentes ao tema para os alunos
construírem um mapa; c) Construção do mapa conceitual; .
Foto 1: PDE/2008. C.A.P.
d) Leitura dos textos: O QUE É NAMORO- (SUPLICY, 1988. p.86.) O “FICAR”, O NAMORO, O AMOR – (EGYPTO, 2005. p33-34)
e) Construção de um novo mapa conceitual
Foto 2: PDE/2008. C.A.P.
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Questão 4 - Já teve algum tipo de relação sexual? Com qual idade?
Porcentagem Respostas 84% Não 16% Sim, 13 anos
Tabela 4. Público-alvo da intervenção: alunos da sétima série B do ensino fundamental/Tema: relação sexual.
Questão 5 - Em sua opinião qual é a idade adequada para se iniciar a vida
sexual?
Porcentagem Respostas 26% 19 anos 16% 20 anos 12% Não tem idade 12% 18 anos 11% Não sei 5% 17 anos 5% 16 anos 5% Depois de casada 5% 11 anos 5% Quando achar que está no momento certo
Tabela 5. Público-alvo da intervenção: alunos da sétima série B do ensino fundamental/Tema: iniciação sexual.
Outros questionamentos foram introduzidos, como: Você sabe o que é DST?
Quais os métodos anticoncepcionais que conhece? Como ocorre a gravidez? Você se
acha preparado para assumir uma paternidade ou maternidade?
Buscou-se, nesse trabalho, a interação do adolescente com o seu cotidiano,
procurando destacar atividades metodológicas como: Júri simulado, onde se
expressam valores, consequências, aplicações para a nossa vida; mostrando-lhes que
uma ação não pensada pode modificar toda a sua vida. Principalmente, nessa área
sobre a sexualidade, em que a idade prepondera no auge da produção dos hormônios
sexuais e a satisfação do corpo se torna mais importante do que se pensar em um
futuro promissor. O conhecimento é o único caminho para que os jovens não se
exponham a mitos que podem trazer consequências indesejadas para suas vidas. A
falta de compreensão de como a sexualidade e o sexo devem ser encarados traz
inúmeros riscos - orgânicos e psicológicos.
Antes de iniciar a vida sexual, os jovens deverão ser orientados e
esclarecidos, através de conversas sobre os medos, as dúvidas, as pressões familiares
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e sociais. Dialogar sobre amor, amizade, namoro, casamento, filhos e projetos de vida.
Entender e discutir os questionamentos dos estudantes é fundamental, assim como é
necessário conhecer os métodos anticoncepcionais. Não significa que estamos dando
permissão. A função do professor deve ser de esclarecer sem permitir ou reprimir, de
não ditar regras de comportamento nem de se colocar como modelo, mas de dar
oportunidades para os indivíduos se conhecerem e confiarem uns nos outros.
Para trabalhar gravidez na adolescência foi utilizada uma prática pedagógica
onde o aluno iria cuidar de um ovo durante uma semana, como se fosse um filho –
“Bebê-ovo”.
Para Lorencini Jr (1997, p.95),
A sala de aula pode ser uma espécie de laboratório de possibilidades de expressão de liberdade, permitindo que os alunos pensem e reflitam sobre si próprios. Essa atitude crítica promove a autonomia pessoal com confiança e auto-estima, qualidades fundamentais para traduzir e transformar a decisão em ação.
Desse modo, o professor deve utilizar inúmeras atividades diárias para
realizar o trabalho de educação sexual de modo dinâmico, como jogos e dinâmicas de
grupo para promover a desinibição, a integração do grupo, a expressão dos
sentimentos e o compartilhamento de vivências.
Relatos de alguns alunos quanto à experiência “Cuidando do ninho”.
1- O “bebê-ovo” foi um filho de ficção, mas se fosse de verdade, o que isso
mudaria em sua vida? Que tipo de problemas podem surgir?
Foto 3: PDE/2008. C.A.P.
“Iria acabar com a mordomia. Parar de estudar, começar a trabalhar, parar de ir à
festa e baladas, onde tem barulho e acabar com toda mordomia”. (A1)
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“Iria mudar na escola, família, diversão... amigos... sustentá-lo.” (A2)
“Tem que ter muita responsabilidade, trabalhar para sustentar a família, dar
respeito e principalmente educação.” (A3)
“Podem surgir vários problemas, porque eu não tenho idade para ser pai, ele iria
atrapalhar meus estudos.” (A4)
“Eu acho que se eu tivesse um filho, eu ia cuidar dele com muito carinho e ensinar
muita coisa para ele, mas iria prejudicar se eu tivesse um filho agora. Iria atrapalhar
meus estudos...” (A5)
“Poderia surgir que eu tenho que trabalhar e sustentar o meu filho, mas só que
vale a pena ter um a mais na família, é sempre bom poder dar carinho e amor.”(A6)
“Eu teria que parar de estudar, sair, teria que começar a trabalhar e meus pais
não aceitariam, e até poderia perder alguns amigos.” (A7)
2-Que aprendizado resultou dessa atividade?
“tem que ter um cuidado reforçado.” (A1)
“Eu aprendi que cuidar de um filho é muito difícil e para ter um filho é preciso ser
planejado.” (A2)
“Trouxe um pouco de responsabilidade e mais conhecimento.” (A3)
“Eu aprendi que é difícil cuidar de um bebê.” (A4)
“Eu aprendi que quando for ter uma relação sexual, tem que usar preservativo,
para não pegar doenças e engravidar. “(A5)
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“Que devemos pensar muito antes de transar, pode até ocorrer doenças,
camisinha não é 100%, e também de ter filhos. “(A6)
“Eu vi que tudo que nós vimos e bom sobre a sexualidade, para nós termos noção
do que fazemos antes de correr riscos...” (A7)
Essa experiência permitiu aos alunos
uma reflexão sobre a importância da qualidade e da
responsabilidade nos relacionamentos afetivos, a
fim de que os educandos reflitam sobre as
implicações de uma gravidez fora de hora e sem
planejamento. Foto 4: PDE/2008. C.A.P.
4. CONCLUSÃO
A temática da sexualidade deve ser tratada e construída ao longo da vida dos
seres humanos, levantando-se discussões, assegurando reflexões, orientando e
garantindo o diálogo sobre os temas relacionados a ela, considerando como essencial
o exercício de aperfeiçoamento da cidadania, do juízo moral, de tomada de decisões e
de juízo de valores.
Abordar estes temas não é um fato simples, é complexo, coloca-se em contato
preconceitos, tabus, religiões, culturas intimamente arraigadas no ser humano. É, pois,
trabalhoso e gera mudanças em todos os sentidos, provocando apreensões e conflitos
e requerendo tempo e disposição. É de extrema importância esclarecer que educação
sexual não significa passar informações sobre sexo, mas, abordar, de forma tranquila e
sem tabus, a sexualidade como uma situação natural e satisfatória na vida de todos os
seres humanos. É essencial promover espaços que possibilitem escutar, debater e
refletir com os pais sobre temas relacionados à sexualidade dos jovens.
Nesta intervenção, criou-se um ambiente, onde o aluno se sentiu seguro e
tornou-se participativo, dando opiniões e fazendo questionamentos. A metodologia
utilizada contribuiu para que o aluno fosse o construtor de sua aprendizagem.
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Muitos dos dados foram condizentes com a literatura sobre os processos
cognitivos e emocionais dos educandos, principalmente ao buscarmos fazer a ponte de
ligação entre os conhecimentos do cotidiano com o conhecimento formal, através da
problematização. Algumas mudanças no comportamento dos educandos começaram a
ser sentidas, de forma sutil. Precisamos oferecer informações claras e objetivas e dar
continuidade ao trabalho começado, para que nossos alunos possam realmente formar
valores e conceitos que sejam enraizados na conduta e que não sofram mudanças
negativas como o tempo nem com o ambiente em que estão inseridos, colocando-os
em situações de riscos.
Esperamos que o nosso trabalho possa contribuir para diminuir as barreiras ao
debate do tema sexualidade e minimizar as dificuldades e preconceitos relacionados,
bem como subsidiar a formação de jovens críticos/ sujeitos de sua própria sexualidade.
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D. P. Teoria da Aprendizagem Significativa. In: PELIZZARI, A. et al. Curitiba: Revista PEC, v. 2, n. 1. 2001/2002. p. 37-42.
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