setor aereo brasileiro transformacoes deficiencias

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UNIVERSIDADE GAMA FILHO CURSO: Logstica e Modais de Transporte

Aluno: Joo Paulo Santos Soubre Turma: 04/2009

SETOR AREO BRASILEIRO TRANSFORMAES, DEFICINCIAS E POSSIBILIDADES

Prof. Rogrio Gonalves de Castro

RIO DE JANEIRO/RJ Junho de 2010

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Joo Paulo Santos Soubre

SETOR AREO BRASILEIRO TRANSFORMAES, DEFICINCIAS E POSSIBILIDADES

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JOO PAULO SANTOS SOUBRE

SETOR AREO BRASILEIRO TRANSFORMAES, DEFICINCIAS E POSSIBILIDADES

Monografia apresentada como requisito parcial para obteno do ttulo de especialista em Logstica e Modais de Transportes.

Orientador: Prof. Rogrio Gonalves de Castro

Universidade Gama Filho Curso Logstica e Modais de Transportes Rio de Janeiro/RJ, 2010

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Joo Paulo Santos Soubre

SETOR AREO BRASILEIRO TRANSFORMAES, DEFICINCIAS E POSSIBILIDADES

Monografia

apresentada

como

requisito

para

obteno do ttulo de especialista em Logstica e Modais de Transportes.

Orientador: Prof. Rogrio Gonalves de Castro

Monografia julgada e aprovada.

Professor Orientador:____________________________

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AGRADECIMENTOS

Agradeo muito a Deus pelas oportunidades de ir to longe, e com especial carinho, a minha querida me Ana Maria, que esteve ao meu lado provendo seu inestimvel apoio nos momentos necessrios.

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RESUMO

Este trabalho tem como objetivo a anlise do momento por qual atravessa o setor areo brasileiro, mostrando como se tornou um dos mais promissores e caticos do planeta. Identifica suas possibilidades e principalmente, suas deficincias. O estudo enumera os fatores que afetam o funcionamento do setor no pas, questes de infraestrutura fsica e administrativa, sistema de controle de trfego areo potencialmente ineficiente e m gesto do oramento destinado ao sistema aeroporturio nacional. Esta pesquisa aponta os efeitos que o setor exerce na economia, meio-ambiente, opinio pblica e segurana nacional. Alm disso, investiga algumas possveis solues alternativas para os problemas do setor, incluindo sociedade, governo e os prestadores de servio areo. Palavras-chave: setor areo; aeroportos; deficincias; gesto; infra-estrutura;

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LISTA DE SIGLAS

ACI Airports Council International ANAC Agncia Nacional de Aviao Civil ATAERO Adicional de Tarifas Aeroporturias CENIPA Centro de Investigao e Preveno de Acidentes Areos CINDACTA Centro Integrado de Defesa Area e Controle do Espao Areo DECEA Departamento de Controle do Espao Areo EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecurias FAB Fora Area Brasileira IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica INPE Instituto de Pesquisas Espaciais INFRAERO Empresa brasileira de Infra-estrutura Aeroporturia OACI Organizao da Aviao Civil Internacional SISCEAB Sistema de Controle do Espao Areo SNEA Sindicato Nacional de Empresas Aerovirias TRL Transportation Research Laboratory

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SUMRIO

INTRODUO ............................................................................................................ 9 1 - CENRIO ATUAL DO SETOR AREO BRASILEIRO ....................................... 12 1.1 INFRA-ESTRUTURA AEROPORTURIA INADEQUADA ........................................ 12 1.1.1 - Situao da infra-estrutura aeroporturia das 12 cidades-sede para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. ................................................................. 14 1.1.2 O aeroporto de Congonhas .................................................................... 17 1.1.2.1 Acidentes ............................................................................................... 18 A tragdia do vo TAM 3054.............................................................................. 18 1.1.2.2 Providncias das autoridades ................................................................ 19 1.2 TARIFA AEROPORTURIA BRASILEIRA .......................................................... 20 1.3 - CONTROLE DE TRFEGO AREO DEFICIENTE:................................................ 22 1.3.2 O Escndalo do SIVAM.......................................................................... 23 1.3.3 A tragdia do vo GOL 1907..................................................................... 26 1.3.4 - Papel dos controladores de vo .............................................................. 27 2 - EFEITOS DO SETOR AREO NA SOCIEDADE BRASILEIRA. ........................ 29 2.1 - ECONOMIA .................................................................................................. 29 2.2 - MEIO-AMBIENTE .......................................................................................... 33 2.3 - OPINIO PBLICA ........................................................................................ 34 2.4 - SEGURANA NACIONAL ............................................................................... 35 3 POSSVEIS SOLUES PARA O SETOR AREO BRASILEIRO. .................. 38 3.1 - REMODELAO DO SISTEMA DE AVIAO CIVIL E O PAPEL DA ANAC ............. 38 3.2 - ALTERNATIVAS DE ACESSO A AEROPORTOS .................................................. 39 3.3 - REVISO DA MALHA AEROVIRIA .................................................................. 40 3.4 - ORGANIZAO DO CONTROLE E SEGURANA DE VO ..................................... 42 3.5 RESPONSABILIZAO DAS EMPRESAS AREAS ............................................. 43 CONSIDERAES FINAIS ...................................................................................... 45 REFERNCIAS ......................................................................................................... 48

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INTRODUO Pode-se definir como setor areo todo o conjunto de entidades presentes no funcionamento do sistema de transporte areo, que o responsvel pelo movimento de pessoas e mercadorias pelo ar com a utilizao de bales, avies ou helicpteros. O transporte areo normalmente utilizado para movimentar passageiros ou mercadorias urgentes ou de alto valor. Trouxe nova face para a logstica e o transporte de pessoas, reduzindo a relao distncia-tempo, ao percorrer rapidamente longas distncias. Oferece comodidade, rapidez e segurana. Logo, o avio suplantou outros meios de transporte de passageiros a mdia e longa distncia. Este modal de transporte demanda uma infra-estrutura de carter especfico de particularidades complexas para cumprir sua funo de maneira ideal. As instalaes aeroporturias requerem enormes espaos, complicadas e dispendiosas estruturas de entrada e sada das aeronaves. Por outro lado, os custos e a manuteno de cada avio so tambm bastante elevados. Tudo isto contribui para encarecer este meio de transporte. O Brasil tem papel de relevante destaque no transporte areo global. Possui um dos maiores trfegos areos do mundo e figura como um dos dez pases membros do Conselho da Organizao da Aviao Civil Internacional OACI1, desde sua fundao. Dentro do cenrio brasileiro, o setor passa no exatamente por uma crise, mas um turbilho de transformaes impactantes. Apesar de dcadas de inrcia, burocracia e incompetncia estatal, verificou-se o aumento extraordinrio do volume de passageiros e cargas proveniente do crescimento econmico do pas. Ainda que desastrosas administraes que levaram importantes empresas da rea falncia, surgiram outras novas e dinmicas companhias trazendo novo ritmo ao mercado. Tudo isso em meio a apages e graves acidentes sucessivos, principalmente nos ltimos anos.1

Agncia especializada das Naes Unidas para o desenvolvimento dos princpios e tcnicas de navegao area internacional e a organizao e o progresso dos transportes areos, de modo a favorecer a segurana, a eficincia, a economia e o desenvolvimento dos servios areos.

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[...] h ainda muito que se aperfeioar a gesto e as polticas pblicas do setor areo at que se alcance a finalidade ltima que termos o consumidor bem atendido em conjunto com a gerao de riqueza e progresso tcnico. (OLIVEIRA, 2009, p.22)

Deste modo, esta pesquisa tem como objetivo mostrar como o modal areo no Brasil consegue viver o incmodo dilema de ser, ao mesmo tempo, um dos mais turbulentos e um dos mais promissores mercados de todo o mundo, identificando as principais causas de suas ineficincias, bem como revelar seus efeitos nos demais setores do pas. A pesquisa almeja compreender os efeitos que as deficincias do setor areo brasileiro provocam em diversas reas no pas, assim como identificar possveis solues administrativas e operacionais para maior eficincia de utilizao do modal no Brasil. So as propostas desta pesquisa: a) Explicar as causas que, ao longo do tempo, transformaram a infra-estrutura do sistema areo brasileiro em um gigante promissor e ao mesmo tempo obsoleto, catico e dispendioso. b) Identificar e analisar as conseqncias trazidas pelas ineficincias do setor para a nao. Prejuzos para a economia e meio-ambiente, desconfiana da opinio pblica e possveis ameaas para a segurana nacional. c) Traar possveis solues para o setor, visando reconhecer erros de investimento, maior rigor com prestadores de servio e reformulao de polticas pblicas. A motivao que levou escolha do tema proposto para esse trabalho procurar revelar o quo importante foi e o transporte areo para um pas com dimenses continentais como o Brasil. Sendo um tema, na maioria das vezes, relegado ao segundo plano das principais preocupaes polticas e da opinio pblica, mas ainda assim essencial ao correto funcionamento das engrenagens do Estado mesmo com os grandes desafios enfrentados nos ltimos tempos. Graas nova realidade do pas, cada vez mais e mais pessoas viajam de avio pela primeira vez. Tornou-se imprescindvel pea na logstica nacional e alvo de interesse de mais profissionais pela rea. O setor areo brasileiro passa no

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momento atual por um perodo de profunda e bastante catica transformao, porm, no pode falar em crise ou muito menos uma retrao. Novas rotas surgem diariamente como opo ao mercado. Empresas de logstica florescem cada vez mais neste setor. As escolas de Aviao esto cheias de jovens desejosos de ingressar neste mundo apaixonante. Vos quase sempre com sua lotao mxima, e h cada vez mais empresrios desejando investir alto para que este pas continental faa jus honra de ser a ptria de Alberto Santos Dumont. Este trabalho uma monografia. Segundo Reis (2006, p. 19), uma monografia o resultado de uma pesquisa que analisa diversos aspectos relacionados ao assunto estudado sob os mais variados ngulos. Se ela for fundamentada nos mtodos e nas tcnicas de pesquisa, podendo se tornar uma real contribuio para o progresso da cincia. A pesquisa bibliogrfica deste trabalho ter como base livros, revistas, jornais e documentos oficiais publicados na imprensa e disponveis nos stios de rgos governamentais, podendo acrescentar informaes colhidas em trabalhos similares a este tema, esses dados podero ser levantados atravs de publicaes impressas ou mediante acesso rede mundial de computadores (Internet).

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1 - CENRIO ATUAL DO SETOR AREO BRASILEIRO

1.1 Infra-estrutura aeroporturia inadequada Com o governo militar instaurado no Brasil a partir de 1960, os militares desenvolveram poca um sistema que ganhou grande notoriedade no mundo at a dcada de 70 por sua eficcia e que moldou o sistema de transporte areo que persiste at hoje no pas. Esse sistema uniu a infra-estrutura da rede civil de aeroportos juntamente com as bases j prontas pela FAB. Assim, a maior parte dos principais aeroportos nacionais utilizada tanto pelo trfego civil e militar, fazendo uso dos mesmos instrumentos de auxlio navegao e controle de pouso e decolagem. Em 1972 foi criada a INFRAERO, que responsvel pela administrao dos principais aeroportos do pas. a quarta maior operadora aeroporturia do mundo em relao movimentao de passageiros e a segunda maior em quantidade de aeroportos. Para Branco (2009) nosso desenvolvimento, no que tange a sermos uma nao moderna, esta estatal, dentre outras, foi responsvel por grande parte dele. Essa empresa pblica atualmente tem sido alvo de grandes ataques da opinio pblica e de entes especializados do setor. Ainda segundo o autor, a estatal

administrada por brigadeiros e coronis da reserva possui em sua folha de pagamento funcionrios experientes, competentes e bem intencionados. Mas no atual momento um grande cabide de emprego numa empresa que se tornou gigante e incompetente. Ao longo dos anos, devido inrcia e at mesmo corrupo de administraes, a situao dos aeroportos brasileiros foi se tornando catica, com terminais antigos e superlotados, ptios congestionados, pistas sem sinalizao e manuteno adequadas, aliado a uma infra-estrutura precria de acesso aos aeroportos principalmente nas grandes cidades, foi tornando uma rotina quase insuportvel para profissionais da rea ou simples usurios do sistema. Principalmente a partir da dcada de 90, com a privatizao de setores da economia nacional e desregulamentao de mercados, o sistema foi questionado, porm no houve grandes mudanas. BRANDO (2007, p.30) afirma que [...] o

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sistema, fortemente regulado, burocrtico e hierarquizado [...] que na maior parte das vezes camuflava a concesso de privilgios s companhias areas e a indstria aeronutica nacional. Isso, em detrimento do servio proporcionado populao. A m aplicao de recursos visvel j h algum tempo para qualquer usurio. Para citar os mais problemas mais comuns, logo na chegada ao aeroporto, sente a falta de estacionamentos pblicos, se vendo obrigado a pagar preos exorbitais em estacionamentos privados sem estrutura equivalente ao preo pago. Logo depois, enfrenta com outros passageiros grandes filas devido s escassas de posies de check-in2, se aborrece com o pouco espao e falta de assentos nos sagues e salas de embarque, tm de lidar atrasos e cancelamentos constantes e poucas esteiras para retirada de bagagem. Como consolo, quase todos os aeroportos ganharam novos sanitrios e amplas reas com lojas e restaurantes. A falta de investimentos adequados na infra-estrutura evita que o setor acompanhe as exigncias do mercado. Geralmente, as causas apontadas so a falta de eficincia na concretizao de investimentos e o arrocho oramentrio. BRANDO (2007, p.93) menciona depoimento do presidente da SNEA3 na Cmara dos Deputados sobre verbas do setor: [...] desde 2003, cerca de 2,1 bilhes do fundo aeronutico e aerovirio formado com taxas e tarifas pagas por passageiros e empresas areas tenham sido contingenciados. Tambm cita outros fatores importantes que ajudam a explicar: a burocracia na administrao, projetos maldimensionados e a falta de foco na eficincia operacional. Podemos ainda citar outras explicaes acerca da ineficincia de

investimento no setor:[...] As taxas de embarque pagas pelos passageiros nos aeroportos somam uma bela montanha de dinheiro, que em 2006 atingiu cerca de 950 milhes de reais.2

[...] por determinao dos Ministrios da Fazenda e do

O check-in o primeiro passo a ser efetuado pelo passageiro (ou agncias de viagem para seus clientes que iro viajar) de transporte areo. Consiste no procedimento de apresentao deste a companhia area munido de seus documentos e bagagem, (via de regra, uma hora para vos domsticos e trs horas para vos internacionais). Com isso, segue a emisso de seu carto de embarque no vo e sua bagagem identificada e despachada para acomodao no poro da aeronave. Posies de check-in so balces ou baias das companhias areas onde o passageiro deve se apresentar. 3 SNEA Sindicato Nacional de Empresas Aerovirias. Representa empresas associadas que prestam servios areos junto a autoridades administrativas e judicirias, celebra contratos coletivos de trabalho e colabora com o Estado, como rgo tcnico e consultivo.

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Planejamento, a maior parte desses recursos fica retida nos fundos Aeronutico e Aerovirio, como forma de gerar o supervit primrio nas contas oficiais. Apenas 17% de todo o dinheiro arrecadado foram efetivamente utilizados [...] (Branco, 2009, p. 206)

No se pode argumentar que faltam recursos para obras de ampliao, modernizao e manuteno de reas e equipamentos. De acordo com a prpria INFRAERO, no ano de 2009 os resultados essencialmente operacionais da empresa trouxeram um lucro lquido de 338,9 milhes e o montante do saldo das disponibilidades da empresa chegou a R$ 1,4 bilhes. Foram investidos R$ 425 milhes em obras e equipamentos. 4 Porm, apesar de serem quantias vultosas primeira vista, tal investimento ainda se revela insuficiente para as necessidades aeroporturias do pas. Para uma nao que realizar a Copa do Mundo de Futebol de 2014 e tem a cidade que sediar os Jogos Olmpicos de 20165, ainda est muito aqum de prover uma infraestrutura que atenda altura estes eventos.

1.1.1 - Situao da infra-estrutura aeroporturia das 12 cidades-sede para a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Segundo estudo da SNEA, apresentado em Janeiro de 2010, a almejada Copa do Mundo de Futebol de 2014 a ser realizada no Brasil, corre srio risco de sofrer com um destaque bastante negativo perante o mundo no tocante aos seus aeroportos. De acordo com o estudo, na atual situao da infra-estrutura do transporte areo brasileiro, quando forem finalizadas as obras para a Copa do Mundo 6, as mesmas sero entregues j obsoletas e no atendero as demandas do mercado. Rolando Jenkins, diretor tcnico do SNEA, alerta: O projeto da Infraero mostra claramente que estamos correndo atrs do prejuzo, e no sendo pr-ativos.

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Fonte: Dados retirados do Relatrio Anual 2009. INFRAERO. A cidade-sede escolhida para realizar os Jogos Olmpicos de 2016 o Rio de Janeiro. 6 A previso de entrega da maioria das obras para 2013 e 2014, neste caso pouco tempo antes da competio.

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As previses do estudo, elaboradas pelo Airports Council International (ACI), muitos dos aeroportos das cidades-sede, j operam acima da capacidade mxima. Suas obras de ampliao sero inadequadas para o cenrio em 2014, o problema ser o mesmo e com expectativas de piora. Fora os visitantes esperados para a Copa do Mundo, o mercado interno dever aumentar, sobrecarregando ainda mais o sistema. Muitas das obras previstas ainda no esto nem no papel. Segundo declarao de Ronaldo Jenkins7, o transporte areo continuar sendo o principal meio de transporte dos visitantes e brasileiros, mas atrasos nos vos, filas quilomtricas no check-in, esteiras cheias de bagagens e desconforto dos passageiros no terminal sero cenas cada vez mais comuns se as coisas continuarem como esto. Como exemplo, podemos enumerar os cinco aeroportos de cidades-sede que necessitam de maior nvel de providncias8: Braslia O Aeroporto Juscelino Kubitschek encontra-se em uma das piores situaes do Pas, operando muito acima de sua capacidade (o local tem capacidade para 10 milhes de passageiros/ano, mas recebe 12,2 milhes de usurios), necessita ampliar a regio sul do terminal de passageiros, porm o projeto encontra-se em elaborao, ainda segundo informaes da INFRAERO. Com ou sem obras, a estimativa que o local receba cerca de 19,9 milhes de pessoas em 2014.

Belo Horizonte As obras previstas para o aeroporto de Confins, em Minas Gerais so: reforma e modernizao do terminal de passageiros e reestruturao e ampliao da pista de pousos e pista de taxiamento. O aeroporto recebeu 2,5 milhes de passageiros no ano passado e que tem previso de somente no ms de julho de 2014, movimentar 984 mil pessoas, aguarda a elaborao dos projetos. Mesmo aps

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Coordenador da Comisso de Segurana de Vo do Sindicato Nacional das Empresas Aerovirias (SNEA). 8 Fonte: SNEA.

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o final das obras (2013), Confins continuar operando muito prximo da sua capacidade. Guarulhos Maior aeroporto brasileiro, ano passado recebeu 21,6 milhes de

passageiros, uma nova pista para taxiamento dos avies e a implementao de um sistema de pista e ptio esto nos planos da INFRAERO. Segundo a empresa, todas as obras esto em processo de licitao, o problema que dois projetos, segundo o cronograma do Governo Federal, j esto atrasados: pista de txi (incio previsto para dezembro do ano passado) e construo do sistema e ptio (janeiro de 2010). Tambm est programado o terceiro terminal de passageiros. Porto Alegre O Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, tem previso de receber 8,8 milhes de passageiros em 2014, necessita ampliar sua pista, assim como o espao para o taxiamento das aeronaves, mas far somente reformas no terminal de passageiros. A obra, prevista para iniciar em abril de 2010 e terminar em junho de 2013, est com o projeto em fase de reviso. A demanda de usurios j est 1,6 milho acima da capacidade do aeroporto, segundo estudo da SNEA. Rio de Janeiro O Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro/Galeo Antonio Carlos Jobim apresenta uma capacidade ociosa em torno de 40%. Para atender a demanda, seria necessrio que o aeroporto possusse mais posies de estacionamento. Faz-se necessria a revitalizao e modernizao do Terminal 1 e a reforma geral com a complementao do Terminal 2, assim como a recuperao e revitalizao das pistas de pouso e de taxi.

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1.1.2 O aeroporto de Congonhas O melhor exemplo de caos aeroporturio no Brasil pode ser facilmente apontado como o aeroporto de Congonhas, principal hub9 do sistema areo nacional, fica situado praticamente no meio da cidade de So Paulo. Apesar das polmicas sobre sua localizao, desempenha papel fundamental como meio de integrao da cidade de So Paulo e as outras unidades da nao. Segundo a ltima publicao das contas regionais do IBGE de 2007, apesar de ter sofrido uma diminuio na participao do PIB brasileiro, o estado de So Paulo ainda a grande fora motriz da economia pas, respondendo por 33,92% do total. Em sua capital encontram-se dois dos maiores aeroportos do pas (Congonhas e Guarulhos) e ainda mais outro situado na cidade de Campinas (Viracopos) que vem ao longo dos ltimos anos ganhando espao como alternativa devido a acesso escasso pelos transportes de massa e saturao em relao aos que esto situados na regio metropolitana. Inaugurado em 12 de abril de 1936, Congonhas foi concebido como alternativa da cidade de So Paulo ao aeroporto Campo de Marte, que sofria constantes alagamentos com as enchentes do rio Tiet. Famoso na dcada de 1970 por ter um salo com vista para a pista que era utilizado para vrios tipos de eventos sociais. Depois da inaugurao do Aeroporto Internacional de So Paulo/Guarulhos em 1985, Congonhas devido a sua capacidade limitada e localizado praticamente no meio da cidade, passou a atender apenas aos vos domsticos. Ainda assim, o mesmo recebe vos internacionais de comitivas oficiais estrangeiras e nacionais, cabendo Polcia Federal realizar a imigrao das aeronaves. Mesmo depois da reduo no movimento do aeroporto, o mesmo permanece com trfego acima do seu limite, sendo um dos aeroportos mais movimentados do mundo. Em 2003, a INFRAERO deu incio a obras de reformulao e melhorias para adequar o aeroporto ao trfego de 12 milhes de passageiros/ano. As antigas salas9

Hub o termo utilizado no setor areo para um aeroporto que uma ou mais empresas areas utilizam como ponto de conexo para transferir seus passageiros ou carga em trnsito entre aeroportos que no so servidos por vos diretos trocam de aeronave para continuar sua viagem ao destino final. Muitas companhias areas tm seus hubs situados em aeroportos das cidades onde ficam sua sede, hangares ou terminais.

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de embarque deram espao a novas reas climatizadas e mais espaosas. O embarque que antigamente era feito a p, atualmente conta com 12 pontes de embarque.

1.1.2.1 Acidentes O aeroporto de Congonhas j foi local de dois grandes acidentes areos e freqentemente palco de vrios incidentes da aviao brasileira. Em 03 de maio de 1963 - o motor de um avio Convair da Cruzeiro do Sul pegou fogo pouco logo aps a decolagem10. A aeronave caiu perto do aeroporto, destruindo uma casa e matando 14 passageiros e 2 pessoas em solo. Em 31 de outubro de 1996, a queda do Vo TAM 402 deixou 99 mortos. O acidente foi causado por falhas mecnicas no avio11. Com essa tragdia, a localizao do aeroporto e a segurana das regies vizinhas comearam a ser amplamente discutidas na grande mdia, pois vrios imveis foram destrudos ou danificados com a queda da aeronave.

A tragdia do vo TAM 3054 No dia 17 de julho de 2007, o vo da TAM 3054 proveniente de Porto Alegre com 181 passageiros e tripulantes, toca o solo de Congonhas por volta das 18h48min. A aeronave no desacelera at o final da pista, levando o piloto a tentar aplicar um cavalo-de-pau sem sucesso, o aparelho varou o muro de conteno do aeroporto, passando por cima da Avenida Washington Luis e colidindo com o edifcio da TAM Express12, situado do outro lado. Levando a morte os ocupantes que

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No acidente morreram, alm do co-piloto Pedro Paulo de Moraes, 13 passageiros, entre eles o deputado Miguel Bahury, que trabalhou em comisses parlamentares criadas para examinar a segurana na aviao comercial brasileira. 11 Em simuladores de aeronaves da TAM, 58 dos melhores pilotos fizeram a simulao do vo 402, partindo de Congonhas e detectando a mesma falha do dia 31 de outubro de 1996. Incrivelmente todos - sem exceo - derrubaram o avio, pois no confiando nas leituras dos sistemas de turbina, aumentaram a potncia do motor direito levando ao desastre - como fez o piloto Jos Antnio Moreno. Fonte: Wikipdia. 12 O prdio pertencia mesma empresa proprietria do avio.

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estavam no avio e mais 18 pessoas que trabalhavam no prdio da TAM Express e pedestres. Esse acidente ficou marcado como o pior da histria da Amrica Latina e um dos trinta piores na histria da aviao mundial, levando o governo a refazer todas as rotas areas que utilizavam o aeroporto. Logo aps o acidente, as especulaes de suas causas giravam em torno da pista recm-reformada do aeroporto de Congonhas. A mdia criticou o governo e as condies da pista do aeroporto de Congonhas, supostamente liberada

precocemente para uso. O incio das operaes se deu sem a finalizao de um item a construo de ranhuras13, que fazem com que haja um maior escoamento da gua, causando o aumento da aderncia entre a aeronave e a pista, diminuindo o risco de aquaplanagem. Dois anos depois, o CENIPA divulgou os resultados das investigaes oficiais sobre o acidente sem apontar os responsveis pela tragdia. O relatrio mostra que um dos manetes que controlam as turbinas estava em posio de acelerao, quando deveria estar na posio neutra, mas no deixa claro se houve falha mecnica ou humana como causa do acidente.

1.1.2.2 Providncias das autoridades Em fevereiro de 2007, a Justia Federal de So Paulo determinou a proibio das operaes dos avies Fokker 100 e dos Boeing 737-300 e 737-800 no aeroporto de Congonhas. Na sentena, o juiz negou o pedido do Ministrio Pblico Federal de fechar a pista principal do aeroporto por causa do risco de derrapagens em dias de

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Tais ranhuras so tambm conhecidas como grooving ou strips. A pista de Congonhas, que curta, necessitava de uma reforma, pois a deficincia das ranhuras diminua a eficincia dos freios mecnicos, que atuam sobre as rodas, pneus e solo. Alardeada constantemente como bastante escorregadia em dias de chuva por pilotos e pelo controle de trfego areo, criou-se uma sensao de perigo iminente claramente identificvel pelos dilogos gravados na cabine. Todavia, mesmo molhada e escorregadia, em condies normais uma aeronave (mesmo com um reverso em pane e o peso dentro dos parmetros) conseguiria frear. Contudo, esta condio da pista praticamente anulava qualquer margem para erros.

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chuva, mas determinou a suspenso da operao dessas aeronaves para evitar acidentes. Consoante a deciso do juiz, o trnsito dos modelos Boeing 737-300, Boeing 737-700 e Fokker-100 em Congonhas arriscado porque eles utilizam mais de 80% da pista principal para pousar e decolar. O juiz solicitou ainda informaes complementares sobre o funcionamento dos Boeing 737-400 e poderia tambm determinar o cancelamento de suas operaes em Congonhas. Na prtica, nenhuma aeronave deixou de operar em Congonhas em razo de uma liminar concedida, em 07 de fevereiro de 2007, por um desembargador do Tribunal Regional Federal da 3 Regio. Mesmo depois do acidente do vo TAM 3054 onde medidas de modo que o aeroporto deixasse de ser hub e fosse usado apenas em viagens com destino ou origem de Porto Alegre, Braslia, Curitiba, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e interior de So Paulo, no surtiram efeito com o tempo. A presso da sociedade e das companhias areas fez com que a utilizao do aeroporto voltasse aos nveis anteriores.

1.2 Tarifa aeroporturia brasileira Contrariando a idia geral que muitas vezes veiculada na mdia e at mesmo em livros de experientes pilotos e entusiastas da aviao, que freqentemente tomam por base o grande montante arrecadado pela INFRAERO, inclusive com o polmico adicional ATAERO14, o Brasil no possui das maiores tarifas aeroporturias cobradas no mundo.As discusses acerca da modicidade das tarifas perdem qualquer razo de ser quando se procede anlise das tarifas cobradas pela Infraero em comparao com a mdia dos valores cobrados nos demais aeroportos mundiais. Afinal, as tarifas aeroporturias brasileiras ou se situam na mdia (como no caso da tarifa de pouso internacional) ou muito abaixo da mdia (como ocorre com as tarifas de pouso domstico, de auxlio navegao area em rota e de auxlios rdio-visuais em terminal), no havendo como

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ATAERO - Adicional de Tarifa Aeroporturia. Recolhido com as demais tarifas aeroporturias, para aplicao no aperfeioamento, reaparelhamento, reforma e expanso dos aeroportos e aerdromos brasileiros.

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sustentar-se a tese de que estaria havendo uma onerao excessiva dos preos cobrados. (Colho; Santiago e Moreira, 2009, p.10)

Dados da Infraero (apud Colho; Santiago e Moreira, 2009, p.10): Tarifa de pouso internacional: o preo cobrado no Brasil situa-se 3,69% acima da mdia de 41 pases; Tarifa de pouso domstico: o preo cobrado no Brasil situa-se 75,05% abaixo da mdia de 25 pases; Tarifa de auxlio navegao area em rota: o preo cobrado no Brasil situa-se 24,40% abaixo da mdia de 23 pases; Tarifa de auxlio rdio-visual em rea terminal de trfego areo: o preo cobrado no Brasil situa-se 54,07% abaixo da mdia de 16 pases. Segundo apresentao do Ministrio da Defesa, de acordo com o TRL15, numa pesquisa realizada sobre tarifas aeroporturias entre 50 aeroportos do mundo, o aeroporto de Guarulhos, a principal porta de entrada e sada do pas, ficou na 37 posio. Segundo esses dados, mais barato que aeroportos como Nova York-JFK (-86,11%), Paris (-52,77%), Lisboa (-30,55%), Cidade do Mxico (-80,55%) e Budapeste (-19,44%). Enquanto isso mais caro que aeroportos como Dubai (+100,11%), Singapura (+38,46%), Hong Kong (+44%) e Madrid (+9%). Como dado adicional, de acordo com a classificao de aeroportos elaborada pela ACI16, Guarulhos 62 maior aeroporto do mundo. Podemos comparar os custos de tarifas aeroporturias dos principais aeroportos atravs de um ranking de posies, atravs de um ndice que vai de zero (sem tarifao) a 100(mais caro), como mostra a Figura 1.

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TRL Transportation Research Laboratory. Centro britnico de pesquisa, consultoria, testes e certificao na rea de transportes. 16 ACI Airports Council International. Associao internacional de aeroportos que representa seus interesses comuns e fomenta cooperao com variados parceiros dentro do setor areo. Sediada em Genebra, Sua.

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Figura 1 Ranking de preos de tarifas aeroporturias dos 50 principais aeroportos. Fonte: TRL. (apud. Ministrio da Defesa 2007.)

Levando em considerao as particularidades de cada aeroporto, convm ressaltar que muitos dos aeroportos com tarifas mais caras ou mais baratas que Guarulhos apresentam infra-estrutura muito superior, condizente com o valor cobrado aos usurios. Tomando esses dados como referncia, conclui-se que, no caso do Brasil, a grande questo no a arrecadao de fundos, mas basicamente como e se so investidos em manuteno e melhorias.

1.3 - Controle de Trfego Areo deficiente: No Brasil, optou-se nos anos 1970 por criar um sistema nico para controlar tanto a aviao civil quanto a militar, ao contrrio do que acontece em outros pases. O controle de trfego areo brasileiro civil e militar de responsabilidade do Ministrio da Aeronutica e controlado por um conjunto de quatro unidades de monitoramento que se integram para cobrir todo o territrio nacional.

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Subordinados ao Departamento de Controle do Espao Areo - DECEA17, cada unidade regional do sistema leva o nome de CINDACTA18 - Centro Integrado de Defesa Area e Controle do Espao Areo. Fazendo assim, parte do SISCEAB. So rgos que por sua vez respondem diretamente ao comando da Aeronutica. Em Braslia, fica o CINDACTA-1; em Curitiba, o CINDACTA-2; em Recife, o CINDACTA-3; e em Manaus, o CINDACTA-4, baseado na estrutura do SIVAM Sistema de Vigilncia da Amaznia. A rede de controle de trfego areo brasileira, apesar das negativas dos militares da Aeronutica, deficiente. Problemas que vo desde a falta de manuteno dos equipamentos at as recentes greves dos operadores - cujo contingente insuficiente19 um dos mais mal remunerados do mundo trabalham sob extremo estresse e so responsveis por um nmero de aeronaves acima do limite previsto em regulamento. Os problemas continuam nas comunicaes por rdio. O Brasil tem mais de cinqenta freqncias de rdio para a comunicao entre os centros de controle em terra e os avies. No CINDACTA-1, por exemplo, nenhuma das freqncias funciona com 100% de clareza o tempo inteiro. O trecho entre Braslia e Manaus possui "reas de silncio", em que as comunicaes de voz ficam inoperantes por at quinze minutos. Alm disso, os radares tm zonas cegas, conhecidas tambm como sombras. Mesmo na rea do CINDACTA-4, que utiliza a rede do SIVAM, de custo estimado em 1,4 bilho de dlares, h zonas na regio amaznica em que os radares no conseguem detectar os avies no cu.

1.3.2 O Escndalo do SIVAM O Sistema de Vigilncia da Amaznia ou SIVAM um projeto elaborado pelas foras armadas do Brasil com a finalidade de monitorar o espao

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O DECEA compete planejar, gerenciar e controlar as atividades relacionadas segurana da navegao area, ao controle do espao areo, s telecomunicaes aeronuticas e tecnologia da informao. 18 O CINDACTA - Centro Integrado de Defesa Area e Controle de Trfego Areo cada uma das unidades que executam as atividades de controle do trfego areo comercial e militar, vigilncia do espao areo e comando das aes de defesa area no Brasil. 19 H 2.700 operadores de trfego areo no Brasil, na maioria militares - seriam necessrios mais 800 para que o monitoramento dos avies fosse feito de forma segura.

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areo da Amaznia. Conta com uma parte civil, o Sistema de Proteo da Amaznia, ou SIPAM20. Este projeto foi concebido pelas das Foras Armadas que desejavam garantir sua presena na Amaznia, com a finalidade de exercer maior vigilncia do crescente trfego areo na regio, combater o fluxo de pequenas aeronaves ligadas ao narcotrfico sul-americano que utilizam o Brasil como rota de distribuio de drogas e monitorar o meio-ambiente amaznico. At mesmo os sucessivos boatos de internacionalizao da Amaznia ajudaram a dar alma a idia. Segundo LEITE (2002), no ano de 1994 foi anunciado uma concorrncia internacional e 16 embaixadas brasileiras receberam portflios. A escolha ficou entre o grupo francs Thomson (que j tinha montado o sistema CINDACTA) e a americana Raytheon (ligada a CIA Central de Inteligncia Americana). De acordo com o autor, apesar de vrias empresas brasileiras fossem chamadas a apresentar propostas para participao em suas reas de especialidade, essas empresas foram dispensadas, sem explicao. Foi

encarregada da escolha uma empresa com experincia no campo, denominada Esca. Foi escolhida a empresa americana Raytheon, (atravs de espionagem industrial, intensa presso diplomtica e de escutas clandestinas at no gabinete da presidncia da repblica) que se especializara em tecnologias de interesse militar e estaria em declnio aps o fim da Guerra Fria, e cuja nica experincia em monitoramento ambiental se relacionava com a aplicao do "agente laranja" 21 nas florestas e povoados do Sudeste Asitico. Havia, at mesmo, sido processada recentemente pelo governo norte-americano por superfaturamento. Ainda segundo LEITE (2002), surpreendente foi o fato de que em uma srie de documentos publicados entre 1993 e 1995, que a monitorao por satlites j seria mais vantajosa, segura e moderna, tornando obsoleto um sistema de proteo ao vo baseado em radares. Ainda assim, a Raytheon no possua qualquer experincia em monitoramento ambiental, sendo que no Brasil, desde 1970, vrias20

SIPAM - Criado para integrar informaes e gerar conhecimento atualizado para articulao, planejamento e coordenao de aes globais de governo na Amaznia Legal brasileira, visando proteo, incluso social e ao desenvolvimento sustentvel da regio. 21 Agente laranja foi usado como desfolhante pelo exrcito norte-americano na Guerra do Vietn. (1959-1975). Na poca, era produzido e utilizado com um componente cancergeno que deixou vrios danos na populao local e em soldados norte-americanos.

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entidades, entre elas o INPE, a EMBRAPA e o IBAMA, j vinham realizando essa tarefa com grande eficcia. A Raytheon ainda adotou um software desenvolvido no INPE para operao do sistema de coleta de dados ambientais. Relata o autor que era ainda mais surpreendente era a opo tecnolgica(do Brasil) relativa vigilncia area, que s operacional quando o invasor j se encontra sobre o territrio nacional. Sem exceo, a partir dos anos de 1980, todos os pases, inclusive os Estados Unidos, vinham adotando para defesa uma outra tecnologia denominada OTH (over the horizon), que permitia detectar objetos voadores a trs ou quatro mil quilmetros da fronteira, portanto, com algum tempo para armar uma eventual defesa. Explica tambm, que esses novos sistemas, para cobrir um mesmo espao, so muito menos dispendiosos do que um sistema convencional de radares. Foi afirmado de maneira pfia que o OTH muito menos preciso do que um sistema de radares terrestres convencionais. Pois mais vantajoso saber da direo de uma aeronave a milhares de quilmetros de distncia de que a posio exata de uma aeronave j no seu espao areo. Alm do sistema escolhido de proteo ao vo e defesa do territrio nacional por tecnologias reconhecidamente obsoletas, com o monitoramento ambiental e o levantamento de recursos naturais j adequadamente feitos por entidades nacionais, a Esca, empresa brasileira que escolheu a americana Raytheon, inclua em seus quadros ex-oficiais da FAB e pagava adicionais salariais para oficiais da ativa. Caracterizando uma associao no mnimo suspeita entre a empresa contratada e o rgo pblico contratante. Essa simbiose foi desfeita e a Esca fechada quando se constatou que a referida empresa fraudara pagamentos de impostos. A escuta eletrnica no gabinete da presidncia revelou um esquema de jogos de influncia e suspeitas de que a prevaricao envolvia no apenas o chefe de gabinete, diplomata que afastado seria posteriormente recompensado com promoo em importante embaixada, certamente por ter evitado envolver seus superiores e outros polticos influentes da regio Norte. Gravaes mostravam o possvel envolvimento de lobista bem conhecido e representante da Raytheon no Brasil e propinas a influente senador da regio amaznica. Um incidente inesperado mostrou que "favores" eram estendidos por interessados diretos nos contratos do

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SIVAM e por lobistas at ao Ministro da Aeronutica da poca22, que teve de se reformar.

1.3.3 A tragdia do vo GOL 1907 Em 29 de setembro de 2006 um Boeing 737-800 da companhia brasileira Gol Transportes Areos, prefixo PR-GTD, com 154 pessoas a bordo, desapareceu dos radares areos s 16h48min enquanto cumpria a etapa de Manaus a Braslia do vo 1907. Os destroos do avio foram encontrados no dia seguinte, 30 de setembro, em uma rea densa de floresta amaznica na Serra do Cachimbo, a duzentos quilmetros de Peixoto de Azevedo, na regio norte do estado de Mato Grosso. A queda foi decorrente do choque da aeronave com um jato executivo Embraer Legacy 600, prefixo N600XL, que fazia a etapa Braslia-Manaus de seu vo de entrega a um cliente norte-americano, a empresa de txi areo

ExcelAire Services Inc. O Legacy conseguiu fazer um pouso de emergncia no Campo de Provas Brigadeiro Velloso, uma base da Fora Area Brasileira na Serra do Cachimbo, centro-sul do Par. Controladores de vo ficaram sob investigao foram temporariamente licenciados aps o acidente. A reduo do nmero de profissionais e um maior rigor no cumprimento das normas de segurana area geraram grandes atrasos nas decolagens em todos os aeroportos brasileiros, atingindo, em especial, a grande movimentao de passageiros no feriado de Finados, em 02 de novembro de 2006, e no feriado da Proclamao da Repblica, no dia 15 do mesmo ms. Apesar de negada pela Aeronutica, diversos rgos da imprensa brasileira noticiaram que os atrasos foram causados por uma operao-padro executada pelos controladores de vo de Braslia, como forma de protesto contra as condies de trabalho, especialmente falta de pessoal e ocasionando sobrecarga operacional. No dia 19 de novembro de 2006 e no dia seguinte, novos problemas aconteceram, desta vez atribudos ao rompimento de um cabo de fibra ptica do22

Brigadeiro Mauro Gandra.

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CINDACTA 2, em Curitiba, ocasionado por uma forte tempestade. No dia 05 de dezembro de 2006, aconteceram mais atrasos e cancelamentos de vos, que segundo as autoridades, foi causado por uma pane nos sistemas de comunicao do CINDACTA 1, em Braslia.

1.3.4 - Papel dos controladores de vo O choque entre o jato Legacy e um Boeing da Gol, em setembro de 2006, que provocou a morte de 154 pessoas, e as imensas filas e atrasos de vos que se seguiram nos aeroportos brasileiros trouxeram tona detalhes de uma profisso muito pouco conhecida dos brasileiros: a de controlador de trfego areo. Apontados pela mdia de que o acidente acima mencionado foi motivado por negligncia de controladores presentes no momento e sofrendo forte presso de oficiais superiores, os trabalhadores do setor iniciaram no fim de 2006 um movimento por melhores salrios e passaram a denunciar suas precrias condies de trabalho. No final de 2006, os controladores no precisaram fazer greve de fato. Apenas seguiram os regulamentos de segurana, ajustando o nmero de aeronaves sob responsabilidade de cada um ao limite regulamentar, para que o caos se estabelecesse nos aeroportos. A eles, so atribudas as mais diversas presses e acusaes de oficiais superiores e da mdia. Responsabilizados por paralisaes do trfego areo em virtude de fenmenos naturais como chuvas e nevoeiros. Quando tentam expor as verdadeiras situaes do trfego areo nos livros de ocorrncias dos rgos operacionais, sofrem duras perseguies da chefia militar. So acusados de insubordinados e sindicalistas ao executarem uma operao de segurana que consta em normas internacionais de aviao civil. Alm disso, tm sua dispensa mdica ou frias interrompidas pela convocao de oficiais superiores a fim de suprir a falta de operadores. Uma das reivindicaes dos controladores de trfego areo justamente a desmilitarizao de sua funo, colocada em debate pelo ministro da Defesa da

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poca Waldir Pires23 aps o incio da crise. Fora das mos da Aeronutica, o controle deixaria de ser a caixa de segredos que hoje. Alegando questes de segurana nacional, os militares relutam em prestar contas sobre um servio que influi na vida de milhes de brasileiros. Sob comando da Aeronutica, tambm no existe transparncia sobre o destino das taxas cobradas das companhias areas pelo servio de controle de trfego. Taxas que, em ltima anlise, influem nos preos das passagens24. Como militares, eles esto sujeitos s leis e rotina do quartel. No podem questionar ou contrariar ordens superiores, sob risco de punio. Entretanto, a retirada o controle areo das mos da Aeronutica no bem visto entre comandantes militares e especialistas. Segundo eles, a troca de comando pode ser perigosa, pois facilitaria a ocorrncia de greve, direito assegurado pela Constituio. No ano de 1981, nos Estados Unidos, pas onde o controle do espao areo de civil e militar separado, ocorreu uma greve de controladores de vo civis, considerada ilegal pelo governo. O presidente daquele pas na poca, Ronald Reagan25, deu ultimato aos controladores que retornassem ao servio. Como no foi atendido, demitiu os 11 mil grevistas, num total de 13 mil trabalhadores, sem chance de readmisso. Com isso, o trfego areo norte-americano ficou nas mos dos militares at que novos controladores fossem contratados.

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Ministro da Defesa do Brasil em 2006 e 2007. Em sua gesto, ocorreram os acidentes com o vo Gol 1907, em setembro de 2006, e com o vo TAM 3054, em julho de 2007. 24 Como mostrado no item anterior, est includa na taxa de embarque do passageiro as tarifas de auxlio navegao area em rota e de auxlio rdio-visual em rea terminal de trfego areo. 25 Presidente dos Estados Unidos da Amrica entre 1981 e 1989.

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2 - Efeitos do setor areo na sociedade brasileira.

2.1 - Economia De acordo com os ltimos dados revisados disponveis 26, dos 81 setores que compem a economia brasileira, o setor areo composto por trs deles: transporte areo de passageiros, transporte areo de carga e servios auxiliares do transporte areo. Classificado como um setor de fornecimento de servios finais de transporte, ou seja, do valor bruto de sua produo total (R$27,9 bilhes) a maior parte atende a uma demanda final de servio de transporte (R$20,7 bilhes), ao invs de uma demanda intermediria do servio usado como insumo no processo produtivo dos demais setores (R$7,2 bilhes). O setor grande demandador de insumos, principalmente da extrativa mineral, minerais no metlicos, siderurgia e comrcio. Logo, de importncia para o conjunto dos processos produtivos e na gerao de demanda para os demais setores da economia. Segundo Adyr (1990, apud Gonalves, 2009). A infra-estrutura aeroporturia personagem importante dentro de um pas, possuindo utilidade poltica e econmica. Politicamente, est ligada ao plano estratgico de desenvolvimento perseguido por uma nao, pois na alocao dos recursos necessrios iro privilegiar cidades ou regies que se beneficiaro pelo potencial da infra-estrutura e pode servir de instrumento de integrao nacional. Economicamente responsvel pelo efeito multiplicador que um aeroporto pode exercer na vida de uma comunidade, pois a presena de um terminal aeroporturio geralmente acompanhada pela melhoria da infra-estrutura urbana, ampliao dos servios, aumento na arrecadao de impostos e gerao de renda. Os efeitos podem ser diretos, advindas da prpria atividade econmica do aeroporto e das empresas que nele exercem suas atividades. Podem ser indiretos, quando representa os ganhos advindos do fluxo econmico propiciados pelos viajantes.26

Dados IBGE 2006.

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Pode-se considerar ainda os efeitos induzidos, que so os ganhos recebidos pelo efeito multiplicador na economia local dos impactos diretos e indiretos. Ainda segundo o autor:O desenvolvimento da aviao civil no representa um fim em si mesmo, mas um meio de alcanar os grandes objetivos do desenvolvimento global da sociedade em sua concepo mais abrangente. A aviao civil desempenha um papel catalisador: ela abre novos mercados aos produtores, facilita a divulgao de novas tecnologias, propicia o acesso aos servios essenciais comunidade e d suporte assistncia social. (Adyr, 1990, apud Gonalves, 2009, p.3)

Apesar do setor no pagar muitos impostos diretos quando comparado com a economia brasileira como um todo, ou relativamente aos demais. Ento, a importncia do setor areo para a economia como um todo quanto aos efeitos indiretos, ou seja, os efeitos que causa em outros setores pelo fato de demandar insumos dos mesmos e, assim, ao aumentar sua produo, para responder a um aumento de demanda, gera muita renda nos setores cuja produo precisa aumentar para atend-lo. Assim, o setor areo responsvel por 0,33% do PIB nacional. Adicionando impostos e deduzindo subsdios, o PIB a preos bsicos corresponde a 0,34% do PIB brasileiro 27. Porm, a participao do consumo de transporte areo como proporo do consumo total do pas, ou seja, sua participao para a economia bastante maior do que a participao no PIB. Trata-se dos impostos indiretos que contribuem com fatia maior do total de impostos indiretos brasileiros do que o setor areo contribui para o PIB brasileiro, indicando que o setor paga proporcionalmente mais impostos indiretos do que a mdia dos setores econmicos. Em 2006, chegou a 0,62% do PIB.28 As agncias de viagem so o setor que mais depende de transportes areos para produzir. Enquanto o setor qumico e o de servios prestados a empresas so os que mais sentem com aumentos ou diminuio da produo do setor, que demanda muito deles como insumos. A demanda por servios areos muito sensvel a mudanas de renda, em particular da renda dos mais ricos. Com isso, problemas de crise econmica e de

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Fonte: UNIVERSIDADE DE BRASLIA. Centro de Excelncia em Turismo CET Fonte: SNEA

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opinio pblica em relao infra-estrutura e acidentes prejudicam o setor pelo lado da demanda do seu servio final. O fato de que as empresas no comprarem equipamentos, mas sim adquirir as aeronaves por leasing29 torna a participao do trabalho maior do que a do capital no transporte areo. Isso porque antes de qualquer coisa, um setor gerador de demanda final e de menor produtor de valor adicionado. No transporte areo a participao das remuneraes do trabalho, incluindo os trabalhadores por conta prpria, de R$ 4,77 bilhes (excludas as contribuies sociais) contra uma remunerao do capital (empregadores + capital) de R$ 1,3 bilho. Assim, o setor intensivo em trabalho, uma vez que o peso deste nas remuneraes de 79%, contra 21% do capital. O setor tambm se destaca por ser um grande empregador de mo-de-obra qualificada, isso devido complexidade de operacionalizao de equipamentos e servios gerais. Apesar do cenrio difcil, uma situao atpica se revela no mercado. Segundo informaes do Ministrio do Turismo30, no ano de 2006, o faturamento da aviao comercial cresceu em mdia, 42,4% em relao a 2005. Uma das respostas para o paradoxo pode ser encontrada na expanso do turismo no Brasil, em especial do turismo de lazer domstico. Podemos afirmar com base nos dados acima, que as companhias areas tambm tm culpa pela crise area. Apesar de lidarem com a m infra-estrutura aeroporturia do pas, todas tm grande lucro e no ano de 2009, as duas principais companhias areas brasileiras, TAM e GOL ficam em primeiro lugar em lucratividade nas Amricas como mostra a tabela 1:

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O leasing um contrato denominado na legislao brasileira como arrendamento mercantil. As partes desse contrato so denominadas arrendador e arrendatrio, conforme sejam, de um lado, um banco ou sociedade de arrendamento mercantil e, de outro, o cliente. O objeto do contrato a aquisio, por parte do arrendador, de bem escolhido pelo arrendatrio para sua utilizao. O arrendador , portanto, o proprietrio do bem, sendo que a posse e o usufruto, durante a vigncia do contrato, so do arrendatrio. O contrato de arrendamento mercantil pode prever ou no a opo de compra, pelo arrendatrio, do bem de propriedade do arrendador. Fonte: Site do Banco Central do Brasil. < http://www.bcb.gov.br/pre/bc_atende/port/leasing.asp>. 30 Pesquisa Anual de Conjuntura Econmica do Turismo 2006

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Companhias areas mais lucrativas das Amricas

Empresa

Valor em US$

TAM (Brasil) GOL (Brasil) LAN (Chile) Southwest Airlines (EUA) Skywest (EUA)

771 milhes 493 milhes 231,4 milhes 99 milhes 83,6 milhes31

Tabela 1: Ranking das cinco empresas mais lucrativas das Amricas. Fonte: Economatica .

Os lucros adquiridos no correspondem totalmente ao servio prestado ao passageiro, porque junto dos rgos que administram o trfego areo, elas falham ao no garantir nem mesmo o mais elementar dos direitos dos passageiros: ser informado sobre os problemas e ter alguma previso sobre os atrasos. Alm disso, alteram horrios e configuraes de vo (escalas e conexes) visando lucratividade, que resultam serem prejudiciais aos clientes e jogando depois a culpa em problemas de radar ou meteorologia e desrespeitam novamente seus consumidores ao insistirem em vender mais passagens do que seus avies podem comportar. Por ltimo, mas no menos importante, deve-se registrar que a situao do setor areo interessa diretamente a classe mdia brasileira, da qual provm a maior parte dos passageiros. Cerca de 70% dos passageiros da aviao comercial brasileira viajam a trabalho. Alm disso, num pas das dimenses do Brasil e com estradas pssimas condies, o transporte de mercadorias por avio vital para o bom funcionamento da economia.

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Empresa de consultoria na rea de bolsas de valores.

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2.2 - Meio-ambiente Como toda rea urbana ou industrial onde transitam grandes volumes de pessoas e cargas diariamente, os aeroportos so um enorme centro produtor de vrias formas de poluio:A grandiosidade de muitos Terminais Aeroporturios que se constituem praticamente em cidades, por onde passam e trabalham milhares de pessoas, so mobilirios impactantes dentro das comunidades a que se inserem, aliado s externalidades ambientais causadas pela emisso de gases poluentes das aeronaves e a poluio sonora. A busca por prticas sustentveis que contribuam para uma economia menos agressivas ao meio ambiente chama a aviao civil para dentro desta discusso. (Gonalves, 2009, p.2)

Existe uma crescente preocupao pblica com relao proteo do meio ambiente contra o impacto do transporte areo nos ltimos anos, com discusses sobre a necessidade de utilizao de medidas eficazes para minimizar esses impactos. Uma vez que a poluio pode ser gerada em um aeroporto, bem como na rea em seu redor, os controles ambientais devem ser aplicados no aeroporto e seu entorno. No Brasil, a maioria das reclamaes contra aeroportos do rudo provocado pelas aeronaves (principalmente Congonhas e Braslia). Sendo que muitos outros aeroportos brasileiros ainda no esto totalmente adequados s normas ambientais e outros com suas obras de ampliao embargadas pela justia. (ex. Viracopos). Para amenizar os impactos locais e globais, importante controlar as emisses prejudiciais. Isto inclui a gesto de materiais perigosos e resduos slidos, pois os aeroportos podem transformar-se em significativa fonte de lixo e resduos perigosos provenientes de tintas, leos lubrificantes, sedimentos, solventes e produtos qumicos txicos manuseados nos aeroportos. Pelo fato de poder ter efeito sobre a sade humana e sobre a ecologia da rea adjacente, torna-se imperativo manter outros controles, tais como diretrizes de qualidade do ar e da gua, limites de rudo de motores de aeronaves, plano de gesto de resduos, planos ambientais emergenciais e planos para gesto ambiental.

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Os aeroportos podem operar com impacto ambiental limitado ao incorporarem planos e procedimentos de gesto ambiental com o planejamento do uso do solo. No passado, a gesto ambiental concentrou-se na reduo ou controle da poluio ao encontrarem formas de destinao dos resduos aps terem sido produzidos. Mais recentemente, as organizaes tm se voltado para a preveno da poluio, que est concentrada na reduo ou eliminao da necessidade do controle da poluio. Na Cpula de Aviao e Meio Ambiente, reunio internacional realizada em Genebra em abril de 2010, as grandes empresas da aviao mundial entre elas Embraer, Boeing, Bombardier e Airbus - assinaram o Aviation Industry Commitment to Action on Climate Change32, no qual se comprometeram a acelerar os investimentos em tecnologias e materiais que diminuam o impacto da atividade no meio ambiente.

2.3 - Opinio pblica O pas vem acompanhando desde o ano de 2003 com a falncia da Varig, principal companhia area brasileira, com a conseqente desativao de suas linhas domsticas e internacionais no absorvidas totalmente pelo mercado. Devagar, mas constante, a crise no setor foi tomando propores e resultou em caos com dois grandes acidentes33. Cenas de aeroportos lotados, filas interminveis e passageiros dormindo amontoados em sagues de embarque so atualmente comuns no imaginrio dos brasileiros. Em outubro de 2006 os problemas estruturais do sistema aeroporturio no Brasil vieram tona e comearam a ser debatidos. A partir disso, os jornais vm retratando quase que diariamente a chamada crise do setor areo. A imprensa tem feito extensa cobertura nas sucessivas crises no setor. Porm, vem desenvolvendo um papel que no condiz com aquele que seria de fato o seu dever perante a sociedade, muitas vezes esta publica informaes tortuosas e

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Comprometimento da Indstria Area para Agir Contra a Mudana Climtica. Traduo livre do autor. 33 Acidente GOL 1907 e TAM 3055.

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sensacionalismos baratos, destaques medocres com opinies equivocadas e tendenciosas que muitas vezes so emitidas por indivduos sem o mnimo conhecimento da rea. Ocorre uma verdadeira cadeia de comunicaes jornalsticas sem limites ticos e distorcidas mostras dos fatos ocorridos. A mesma imprensa no foi diferente diante dos acidentes que atravessaram a atual crise area por qual atravessa o pas. Vendendo a notcia como mercadoria, a imprensa revela seu carter mercadolgico, com base nos ditames das grandes corporaes financeiras, em contraponto com aquele que deveria ser o papel: respeitar a democracia, expandindo a informao sem censura, rezando pela veracidade dos fatos e dar voz aos vrios lados da notcia.

2.4 - Segurana nacional A Segurana Nacional no Brasil atribuio das Foras Armadas. No escopo de que envolve Segurana Nacional, vinculamos tudo aquilo que faz parte de reas sensveis de uma nao. Tais como energia nuclear, telecomunicaes, produo e distribuio de energia eltrica, fronteiras, marinha de guerra, marinha mercantil, aviao militar, aviao civil, entre outras. Possivelmente as Foras Armadas sejam a melhor opo, seno a nica, para controlar e operar determinadas atividades, mas talvez no outras. O controle de Aviao Civil, por exemplo, ao contrrio da Aviao Militar, em muitos pases est sob a responsabilidade de seus respectivos "Ministrios dos Transportes". No Brasil, responsabilidade da pasta do Ministrio da Defesa, mais especificamente do Comando da Aeronutica34. Aviao Civil no Brasil considerado um tema de Segurana Nacional. Porm no tratado com a devida seriedade que um tema desta relevncia exige. O transporte areo no Brasil uma concesso pblica35, explorada por empresas privadas civis. Entretanto, absolutamente todas as atividades que

34 35

Antigo Ministrio da Aeronutica Concesso de servio pblico a transferncia da execuo de servio a pessoa jurdica que demonstre ter capacidade para tal, que o far por sua conta e risco e por prazo determinado mediante contrato. A titularidade do servio no transferida, mas simplesmente a execuo.

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permitem o funcionamento da aviao civil brasileira, esto sob controle militar, direta ou indiretamente:

O Departamento de Controle do Espao Areo (DECEA) militar. Os Servios Regionais de Proteo ao Vo (SRPV) so militares. O Centro de Gerenciamento da Navegao Area (CGNA) militar. O Centro de Investigao e Preveno de Acidentes Aeronuticos (CENIPA) militar.

O representante do Brasil no Conselho da Organizao de Aviao Civil Internacional (OACI), militar36.

A Agncia Nacional de Aviao Civil (ANAC), do 2 escalo em diante, composta por indivduos realocados do extinto Departamento de Aviao Civil (DAC), ou seja, por militares da ativa e por militares da reserva (ou reformados).

A Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroporturia (INFRAERO) tambm conta com militares em sua folha de pagamento. O problema no est apenas no fato de toda esta estrutura que controla,

protege, gerencia, investiga, previne, representa internacionalmente, regula e fiscaliza a aviao civil estar sob controle militar. O principal problema desta estrutura est no fato de absolutamente todos os organismos citados acima estarem diretamente vinculados, mesmo que no explicitamente (como no caso da ANAC), uma mesma estrutura que sofre o risco de colapsar no caso da menor quebra hierrquica. Entra em crise interna depois de qualquer pequeno comentrio divulgado na imprensa. O excesso de controle por parte de uma nica organizao formada por indivduos que, por lei e princpios, que tm de obedecer a uma cadeia de comando, merece reflexo. No se pode muitas vezes obter lisura e clareza de informaes entregues por esses entes militares em possveis investigaes ou auditorias civis devido 36

Coronel Carlos Alberto Cirilo

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prerrogativas previstas em lei, mas que na verdade so utilizadas como escudo para eventuais erros ou negligncias de tais entes. Podemos exemplificar a afirmao acima citando o caso da investigao do acidente do vo GOL 1907, onde apesar dos requerimentos da Polcia Federal, a FAB reteu durante muito tempo a caixa-preta e impediu os controladores de vo presentes na hora do acidente de prestarem depoimento aos investigadores. A FAB se baseou em uma legislao internacional para alegar que o material seria entregue somente aps a concluso de sua prpria apurao, enquanto os controladores foram licenciados por um psiquiatra da prpria FAB sob o pretexto de estresse ps-traumtico e que logo eles no poderiam depor37.

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Como militares, eles somente podem ser investigados pela Justia Militar.

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3 Possveis solues para o setor areo brasileiro. 3.1 - Remodelao do Sistema de Aviao Civil e o papel da ANAC

Analisando a administrao do setor areo brasileiro no que d forma para o sistema brasileiro de aviao civil, encontramos uma rede de entidades civis e militares interligadas entre si, onde no so definidas com muita clareza as atribuies de cada uma. Existe certa confuso de responsabilidades de quem regula, fiscaliza e executa as operaes de infra-estrutura de navegao area e infra-estrutura aeroporturia. Destacando o papel da ANAC, que mesmo ainda tendo em seu quadro contingente militar herdado de seu antecessor38, ser a parte civil do Estado na formao do sistema brasileiro de aviao civil e concebendo que esta agncia reflexo de polticas colocadas em prtica no Brasil nos anos 1990, exige maior ateno ao que compete as delegaes deste rgo, at por que falar no interesse pblico pela garantia estatal de um sistema seguro e com qualidade dos servios. Uma das propostas da criao desta agncia reguladora foi a inteno de implantar a desmilitarizao do setor areo em seu mximo possvel, no atingindo a premissa maior de defesa do espao areo brasileiro, o que continua sendo responsabilidade da Fora Area Brasileira. A ANAC operacionaliza e disciplina a aviao civil quanto ao funcionamento do mercado de prestao de servios de aviao comercial entre outras modalidades congneres. Separando o que responsabilidade de natureza militar e o que responsabilidade de natureza civil, a regulamentao deveria basear-se sobre o que compete a defesa do estado e que abrange a sociedade civil. Desvincular o mximo possvel que a constituio federal permitir o poder decisrio aos ditames, diretrizes, intenes e aquelas de natureza militar. Ainda que a ANAC tivesse desempenho pouco satisfatrio nos primeiros cinco anos de sua criao, pode levar em considerao que a esta agncia recai certa inexperincia com o exerccio de regulao em um setor onde esta funo38

Antigo Departamento de Aviao Civil DAC. rgo militar subordinado ao Ministrio da Aeronutica. Fiscalizava tanto a aviao civil e a militar.

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cabia aos militares. A ANAC deve ser fortalecida, acelerando o processo de desmilitarizao e incorporando a participao da sociedade civil. Existem diversos problemas, especialmente na definio de um slido marco regulatrio para o setor que discipline e dinamize as atribuies de cada instituio componente. O fato de termos atualmente aeroportos incompatveis com regras de segurana do vo ou um sistema de controle obsoleto mais culpa da estrutura do sistema e da capacidade de cada rgo em cumprir com suas obrigaes. Somente vontade poltica em sanar estas questes e promover reformas, que se alcanar um nvel ideal de oferta de servio areo, com pessoal qualificado e com canais de controle social. Portanto, se faz necessrio reorganizar as engrenagens do sistema demarcando de forma clara e coesa as competncias e responsabilidades. Maior flexibilidade ao processo decisrio na ANAC e especificao de tarefas aos rgos responsveis ajudaria a organizar a resoluo dos problemas estruturais do setor areo. Seu posicionamento logstico no processo decisrio deve estar entre o interesse estratgico da nao e a transio do interesse pblico ao trato administrativo. H que fortalecer os canais de interlocuo com a sociedade civil, criando mecanismos slidos de controle social. Apesar da recente experincia de regulao de natureza civil ao setor e gigantesca crise area, devemos valorizar a ANAC no sentido de busca a oferta de servios aerovirios de excelncia, e principalmente com segurana e responsabilidade para com a vida do cidado comum e do usurio.

3.2 - Alternativas de acesso a aeroportos A maioria dos aeroportos das metrpoles brasileiras no possui nenhuma integrao com outros meios de transporte, exceto ligaes por nibus e txis, exatamente as mais ineficientes. Mesmo as ligaes por nibus so, em geral, feitas de maneira pouco integrada e convidativa aos passageiros. Isso dificulta a realizao das viagens, por inconvenincia e custo. No caso de centros urbanos maiores, que dispem de mais de um aeroporto, tal caracterstica dificulta a integrao de viagens entre dois aeroportos, visto que difcil deslocar-se de um aeroporto a outro.

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Em meio crise area por qual atravessa o setor, o foco direcionado para a infra-estrutura dos aeroportos: construo de novas pistas, novos terminais, novos aeroportos. Entretanto, de extrema importncia a questo da integrao dos diversos meios de transporte e os aeroportos. Situado a 38 km da capital mineira, o aeroporto de Confins, s esteve apto a receber a grande parte da demanda saturada do aeroporto da Pampulha aps a construo de uma nova rodovia, a linha verde 39. Como um dos motivos da saturao do aeroporto de Congonhas, a falta de opes para deslocamento do aeroporto de Guarulhos para o centro de So Paulo apontada. O deslocamento para aeroportos como o de Guarulhos e Congonhas, atualmente, em horrios de pico, uma tarefa praticamente impossvel, que pode inclusive inviabilizar algumas viagens mais curtas - pois o tempo de deslocamento mais o tempo de embarque podem ultrapassar 3 horas. Desta forma, exige-se deslocamentos atravs de trem integrado aos aeroportos. Portanto, incompleto pensar em ampliao de aeroportos sem pensar na integrao coordenada com outros meios de transporte.

3.3 - Reviso da malha aeroviria A remodelao da malha aeroviria brasileira vista como uma das solues para o setor areo. Esta reviso pode ter vrias formas, envolvendo a simples realocao de conexes entre grandes aeroportos at a construo de novos aeroportos ou a ampliao significativa de pequenos aeroportos. J fato que no mais conveniente manter a malha aeroporturia localizada somente nos aeroportos das grandes regies metropolitanas. Os aeroportos de So Paulo e Braslia recebem de 20 a 30% das decolagens e pousos de todo pas. Isso faz com que os aeroportos dessas cidades tenham maior dificuldade na organizao de seus vos, os quais ficam mais suscetveis a atrasos. Esses atrasos comprometem a malha inteira, visto que, como apontado39

O Projeto Linha Verde, lanado em 24 de maio de 2005 pelo governo do estado de Minas Gerais, um conjunto de obras virias em Belo Horizonte e regio metropolitana. O empreendimento inclui intervenes nas avenidas Andradas, Contorno e Cristiano Machado e na Rodovia MG-010. Uma via de trnsito rpido, com 35,4 km de extenso, ir ligar o centro de BH ao Aeroporto Internacional Tancredo Neves, na cidade de Confins.

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acima, as companhias areas montam a maioria de suas rotas com escalas nesses aeroportos. Logo, identifica-se que o problema da malha aeroviria alude diretamente com o problema estrutural dos aeroportos que no comportam o excessivo nmero de vos destinados a eles. As companhias areas optam por essas rotas, pois para elas mais lucrativo manter um avio com o maior tempo de vo possvel e, conseqentemente, fazendo maior nmero de escalas, do que manter vos diretos e sem escala, que possuem menos passageiros, prejudicando o consumidor, j que aqueles que desejam fazer viagens mais rpidas ficam muitas vezes suscetveis a escalas desnecessrias. Tomando como exemplo os vos do Acre at o Par, que fazem paradas em Braslia, ou alguns vos de Braslia at o Rio que param em So Paulo. As companhias alegam que o custo de uma reorganizao de sua estrutura de vos seria muito alto. Essa posio possui algum apoio da ANAC, que se mostra muito suscetvel s presses das empresas de aviao. Criou-se um antagonismo entre duas posies. A deciso das empresas de aviao, apoiada na inao da ANAC, possuidora da prerrogativa de reorganizar a malha aeroviria atravs dos HOTRANS40, de manter os vos repletos de escalas, sobrecarregando os aeroportos de So Paulo e Braslia. A posio contrria se faz pela Infraero, a Aeronutica e grande parte da opinio pblica, que acredita que h uma necessidade de se descentralizar os vos e aumentar a regionalizao dos mesmos na nossa malha. Cabe ressaltar que a necessidade de reformulao da estrutura de decolagens e pousos em nosso pas est diretamente relacionada com uma melhora da infra-estrutura aeroporturia. Mesmo que se consiga que as companhias de aviao mudem parte de seus vos para aeroportos de menor porte e disponibilizem um maior nmero de viagens diretas, inegvel a necessidade de melhora da estrutura de aeroportos do pas. As cidades de So Paulo e Braslia continuaro demandando um maior nmero de vos, dada sua condio de mais importantes centros econmicos e polticos do Brasil; sendo assim, projetos de melhora de seus aeroportos ou de construo de novos no podem e no devem ser descartados.

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HOTRAN. Horrio de Transporte. Designao de horrios s companhias areas de vos regulares.

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3.4 - Organizao do controle e segurana de vo A estrutura de controle e segurana de vo adotada no Brasil combina controladores de vo civis e militares, todos sob as ordens do Comando da Aeronutica. O controle areo militar, voltado para a segurana do espao areo nacional, realizado conjuntamente com o controle areo civil, destinado a garantir a segurana dos vos da aviao civil. Controladores civis e militares trabalham juntos, e as duas categorias apresentam descontentamento e reivindicaes. Por sua posio estratgica, tm alto poder de presso, sendo capazes de, com greves e operaes-padro, ainda que justas, disseminam o caos pela malha aeroviria. O sistema brasileiro para o controle de vos comerciais conta com mais militares do que civis, o que considerado algo "pouco flexvel" por muitos especialistas. Hoje no pas, trabalham como controladores cerca 2.188 militares e 575 civis. Porm, a militarizao do sistema no a causa nica dos problemas enfrentados no pas. As diversas panes nos sistemas de controle de vo, mais precisamente, nos Centros Integrados de Defesa Area e Controle de Trfego Areo, os CINDACTA, so reflexos de que o pas precisa de uma reestruturao no s organizacional, mas tambm tecnolgica. Segundo o presidente da Associao Brasileira de Controladores de Trfego Areo, 1 sargento Wellington Andrade Rodrigues, em depoimento CPI da Crise Area, situaes como duplicaes de pistas, falhas de freqncia, quedas do sistema e falhas de visualizao so constantes e induzem o controlador ao erro. De acordo com ele, o choque entre o jato Legacy e o avio da empresa area GOL em outubro de 2006 apresentou essa situao, pois o plano de vo apresentado pelo software no foi o mesmo autorizado pelo controlador. Neste sentido, podemos ainda destacar a existncia das chamadas zonas cegas, que, no entanto, so negadas pela aeronutica; bem como, as condies precrias de trabalho dos controladores que operam um setor com diversas aeronaves. Diante de todos estes problemas, torna-se bastante preocupante a segurana dos vos comerciais no pas, dado o crescimento do trfego areo.

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As aes necessrias para solucionar tais problemas devem transcorrer por uma profunda modernizao dos equipamentos dos CINDACTAS (computadores, radares, sistema eltrico) e por aes de fiscalizao efetiva. Contudo, indispensvel dizer que nossa proposta s se tornaria vlida se alcanar um de seus objetivos principais: a melhoria nas condies de trabalho dos controladores. A diminuio da quantidade de vos sob controle, muita acima das normas internacionais e o aumento salarial (um controlador dos EUA, por exemplo, ganha em mdia U$10 mil por ms, enquanto um brasileiro, com as mesmas atribuies recebe R$2 mil, para militares, e R$ 3.200, para civis) so as maiores reivindicaes. Se estas polticas forem aplicadas corretamente, no importa os

controladores serem militares ou civis, o que importa de fato a garantia da segurana dos vos.

3.5 Responsabilizao das empresas areas No panorama da crise area brasileira, boa parte da imprensa e as prprias companhias areas atribuem todas as responsabilidades aos organismos

governamentais pelos problemas existentes. Entretanto, a oferta de servios pelas empresas areas registra uma srie de problemas. Fatia considervel dos atrasos registrados deve-se a falhas operacionais das companhias. Os mecanismos de responsabilizao das companhias no tm sido suficientemente eficazes para coibir prticas como overbooking41, retardamento de vos para garantir conexes e cancelamento de vos. Diante de apages areos, falta de responsabilizao e consumidores insatisfeitos, muitos problemas so remetidos ANAC. Esta foi criada com o intuito de regular e fiscalizar as atividades de aviao civil e de infra-estrutura aeronutica e aeroporturia do pas. Boa parte dessa crise, no condiz somente com apages, mas sim com servios mal-prestados por parte das empresas areas.

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Prtica bastante disseminada no mundo inteiro, se configura quando uma empresa area vende mais bilhetes do que o disponvel em um determinado vo com base na mdia de desistncia dos vos anteriores.

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Grande parte dos passageiros est infeliz com o servio. Existe um nmero elevado de atrasos e de vos cancelados. Alm disso, o passageiro na maioria das vezes no recebe a informao adequada sobre o que est acontecendo e como deve proceder. Desse modo, acaba aguardando horas de atraso sem previso de resolver seu problema. Muitos consumidores j perderam vos pelo fato de ter que aguard-los, pois receberam informaes erradas e no procederam corretamente. Para resolver estes problemas o Ministrio da Justia tem fiscalizado algumas empresas para a certificao de que estejam cumprindo com o Cdigo de Defesa do Consumidor. Porm esta fiscalizao no constante, pois s acontece quando o Ministrio solicita. O mais difcil para o consumidor face de todos estes problemas a falta de transparncia das empresas. Uma boa parte das empresas tem dificuldade em admitir que os atrasos e as falhas sejam de suas prprias operaes. Geralmente, acabam delegando a culpa ao mau tempo, falha nos controladores, etc. Qualquer coisa que as isente de culpa e no manchem suas imagens diante do consumidor. Porm, j sabido que o consumidor tem direito e pode exigi-lo:Em se tratando de demandas que busquem a efetiva reparao por esta modalidade de dano, puramente moral, e no pelo simples fato de haver atrasado o vo, ou de algum prejuzo pela no chegada ao destino no horrio programado, o que, como restou claro, independe da vontade das companhias areas, responsabilidade direta das companhias e no da Unio, como pretendem fazer crer aquelas. (COSTA JNIOR, 2007, p.7)

Em resposta aos fatos e por sugesto da Ordem dos Advogados do Brasil, as autoridades decidiram estabelecer os Juizados especiais cveis nos aeroportos. Eles foram espalhados nos cinco principais aeroportos do pas, visando conciliao entre as pessoas prejudicadas e as empresas areas. Atualmente, temos os juizados nos seguintes aeroportos: Tom Jobim e Santos Dumont, no Rio; Congonhas e Guarulhos, em So Paulo; e Juscelino Kubitschek, em Braslia. Proposta efetiva, porm tmida que no se espalhou para os outros aeroportos do pas.

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CONSIDERAES FINAIS No processo de escolha deste tema, a dvida inicialmente apontada foi acerca de sua escassa bibliografia e dentre as poucas fontes disponveis, nem todas apresentando um nvel real de preciso ou mesmo de veracidade. Nos poucos livros encontrados sobre o tema, geralmente so escritos por pilotos ou ex-pilotos de avio que so declaradamente apaixonados sua profisso, o que na maioria das vezes confere s informaes contidas um carter emocional que prejudica um julgamento imparcial. Inclusive, diversas fontes oficiais do Estado apresentam certa discrepncia entre seus nmeros e a anlise dos mesmos, aps verificao mais detalhada, pode-se notar que os textos praticamente produzem uma outra leitura, naturalmente mais favorvel aos interesses em questo. O publicado em jornais e revistas sobre o tema, especialmente depois do incio da crise no setor, raramente pode ser levado em conta para uma pesquisa de nvel acadmico, devido ao alto ndice de sensacionalismo, parcialidade gritante e distoro de fatos apresentados. Na elaborao deste trabalho, procurou-se seguir o bom-senso e a imparcialidade na exposio dos fatos e na anlise dos mesmos. Foi dada prioridade a textos e dados de cunho acadmico para elaborar de maneira mais fiel a proposta apresentada. Foi possvel perceber o quanto o assunto o setor areo importante e estratgico, merecendo mais seriedade e ateno da questo na sociedade. Pois o contnuo aumento de consumo registrado particularmente nos ltimos anos tende a crescer de maneira exponencial, interferindo intimamente na poltica, economia e no desenvolvimento social da nao. Procurou se entender como o Brasil vive uma situao nica no mundo, que devido ao seu estrondoso crescimento econmico, se mostra figurando entre os maiores trfegos areos no globo, vos lotados, grande oferta de assentos, nmero recorde de pousos e decolagens, levando empresas nacionais a liderar ranking de lucratividade continental no ano de 2009 e proporcionando o surgimento de vrias empresas menores.

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Ao mesmo tempo se revela um cenrio catico que mistura a falta de estrutura fsica e compromisso administrativo. Aeroportos sem acesso fcil e totalmente entregue s vicissitudes das metrpoles, longas e demoradas filas, falta de conforto em salas de espera e embarque, recorrentes atrasos e cancelamentos, controle de trfego areo de eficcia duvidosa e escassez de informaes aos passageiros quanto a contratempos. Visvel a necessidade de obras de modernizao e ampliao mais abrangentes do que tm sido realizadas at agora pela INFRAERO. Inclusive, porque seremos palco da prxima Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olmpicos de 2016 a serem realizados no Rio de Janeiro. Vrios estudos e relatrios de diversas entidades nacionais e internacionais atestam a urgncia de tais obras, da qual j estamos atrasados. Curiosamente, verificou-se que no h ausncia alguma de verbas para ampliaes e modernizaes, devido alta receita proveniente das tarifas cobradas dos usurios do sistema. que acontece que as entidades estatais responsveis no do clara destinao para a verba em seu poder ou retida pela Unio em nome de supervits fiscais. Quando no, realizam obras de necessidade relevante ou as no raro as fazem de maneira insuficiente ou obsoleta. Verificou-se tambm a participao do setor na economia do pas, onde ajuda a impulsionar outros mercados como agncias de viagens e de servios prestados a empresas. um grande mercado consumidor de insumos, gerador de fontes de renda diretas e indiretas e empregador de mo de obra qualificada. Porm, como um produto de consumo relativamente caro, est sujeito a intempries da economia. Por ser um grande aglomerador de pessoas, carga, materiais e

equipamentos, tem considervel potencial poluidor. Logo, foi identificada a necessidade de rigorosa ateno quanto s normas ambientais especficas dentro dos aeroportos e em suas cercanias. No menos importante e de extrema importncia, foi claramente notado a urgente necessidade de reviso do Sistema Areo Brasileiro. Pois a estranha e confusa simbiose entre seus organismos civis, ANAC e INFRAERO, entram freqentemente em conflito de responsabilidade e hierarquia com os demais

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organismos militares que compem o sistema. A soluo mais vivel seria a separao completa e entre mbitos civis e militares, com cada um responsvel nico e direto sob sua parte. A sociedade tambm fica como responsvel pela colaborao e fiscalizao do setor, acompanhando desenvolvimento e manuteno de forma objetiva e imparcial, tendo como meta o bem-estar do Estado e seus cidados.

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