Do liceu à faculdade…

1

2

3

4

Do liceu à faculdade

Vai o passo d’um anão

Mais vale seguir direito

Do que andar em contramão…

Dos pátios e zonas verdes

Levo lembranças felizes

Nesta Escola onde cresci

Decerto criei raízes…

Uma escola aristocrata

Pelo nome da patrona

Uma escola democrata

Que o sucesso ambiciona!

Quantos anos? Quantos foram?

2,3,4, 6…12…

Passaram num turbilhão,

De tudo, o que ficou?

Muito estudo ou emoção?

5

6

7

8

Professores graves e sérios,

Meigos, doces e quiméricos,

Duros, frios, de olhar cirúrgico,

Vibrantes de sonho e alegres!

Colegas- a melhor parte-

Porque só tem bons amigos

Quem é leal e tem arte

Pr’a dizer, mesmo doendo,

A verdade mesmo que mate!

Letras, desenhos e nºs

Equações e trampolins

E no Bar, cachorros quentes,

Quando as notas são ruins!

Sandes de atum- tão gostosas,

Queijos frescos apaladados,

Já nem falo das bifanas,

Com molhos variegados…

9

10

11

12

Se queria manter a linha

Tinha a sopa bem quentinha,

E as senhoras da cantina

Sempre a empurrar a frutinha!

E a D. Emília – que calma-

Tranquila até mais não,

Aguentava valente

As bichas que se formavam!

E as rotinas do bom estudante?

Livros novos a estrear!

Um ar um pouco pedante

Quando o 20 estralejar!

Mochilas companheironas

Pelas alças a quebrar

Porque andar a aprender

Não é mole, faz vergar !

13

14

15

16

No 7º, aprofundar as ciências naturais,

Não chamar bicho à baleia,

Nem às bactérias… vegetais,

Ter de tudo uma noção…

e discutir com os pais!

No 8º, olho-me ao espelho,

Ai meu Deus, que vou fazer ?

E aquela borbulha doida

que não pára de crescer?

Será que há espaço para mim

No grupo a que não pertenço?

Eu só quero é afirmar-me,

Ter uma voz e gritar !

Como a letra da canção,

Mas sempre a desafiar:

“ Já não há estrelas no céu (Todos os profs.)

a dourar o meu caminho,

17

por mais amigos que tenha,

sinto-me sempre sozinho.

De que vale ter a chave

de casa para entrar

ter uma nota no bolso

para cigarros e bilhar?

A Primavera da vida

É bonita de viver,

Tão depressa o sol brilha

Como a seguir, tá a chover

Para mim hoje é Janeiro

e está um frio de rachar

Parece que o mundo inteiro

se uniu para me tramar!

No 8º …são os átomos,

São os átomos e os sais

Estudo muito acompanhado

História em doses que tais…

18

19

20

21

Ai o 9º, o ano nove,

Tantas fadigas e brigas

Tanto Camões para amar,

E lá no topo de tudo,

Os exames para passar!

Ufa! Que trabalheira!

Sujeitar-me ao veredicto

De uma pauta traiçoeira

E aos castigos dos pais…

Ir para férias! Pensar…

Mas antes de pôr-me ao sol

Olhar com olhos de ver

o plano curricular!

Tantos cursos, tantas horas

E qual escolher afinal?

Ainda me sinto confuso

Sei lá eu o que vou querer

Pr’a vida profissional!

22

23

24

25

E os pais que não se calam:

“Vai para isto, vai pr’aquilo!”

Quem diz aos senhores adultos

Que a pressão faz rebentar?

Será que escolhi por mim

Ou me deixei pressionar?

Que o curso que a gente escolhe

Deve poder acabar !

Agora que conto 10

Já não quero andar para trás!

Quero é passar a tudo

Com + do que satisfaz!

Que maçada e que desgosto…

A média a estragar os planos…

JÁ não posso namorar,

Conviver com os amigos

Ir a jantares, festas de anos…

26

27

28

Que raio de sociedade

Esta onde a gente vive

Competir já nesta idade

Até traz a psoríase!

E agora que aqui cheguei

Estão-me sempre a repetir:

“ Força, coragem, alento!

E de tantas vezes isto ouvir

Eu até sei que aguento!

E pr’acabar esta festa

Quero jurar pelo alto

Que mesmo que eu desanime

E mesmo que o negro venha…

Ó Escola Marquesa de Alorna,

O bom filho à casa torna!

Ana Salema