sessÃo especial para discutir o projeto de sr. … · eu acho que esta é uma sessão histórica,...
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SESSÃO ESPECIAL PARA DISCUTIR O PROJETO DE
LEI DO VEREADOR MARCELL MORAES REALIZADA NA
CÂMARA MUNICIPAL DE SAALVADOR NO DIA 6 DE MAIO DE
2013
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Professor Edvaldo Brito, nos dê a honra de compor a Mesa.
Convido Jacilene Nascimento para compor a Mesa,
Ebomi Nice, Macota Valdina, Comanangi, Tata Eurico
comandando diversos segmentos presentes nesta sessão.
Pergunto também aos defensores do projeto se tem
alguém que deseje, tem desejo de estar na Mesa para se
manifestar.
Convidar a ex-vereadora Olívia Santana também para
fazer parte da Mesa.
Por favor, pode abrir, solicitar à segurança que permita
que os que estão aí retidos na portaria possam ter acesso ao
plenário, no limite da tolerância da segurança do prédio.
Solicito ao cerimonial e à administração que providencie
cadeiras para colocar aqui, no centro, no centro aqui do
plenário.
Cada orador que vai utilizar o tempo, que estão na Mesa,
terão cinco minutos, com a tolerância da nossa Mesa, e os que
estão no plenário, que utilizarem da palavra, três minutos.
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SRA. VEREADORA ALADILCE DE SOUZA: - Pedimos
silêncio. Eu acho que esta é uma sessão histórica, importante, é
uma manifestação de luta e de afirmação do povo de santo
nesta Casa, que é a Casa do povo.
Gostaríamos de registrar que o requerimento para a
transformação da sessão foi aprovado pela maioria dos
vereadores e vereadoras desta Casa, tanto da bancada do
governo como da bancada de oposição, como dos
independentes.
Com votos contrários, apenas dois votos contrários,
registrados, pediram para ser consubstanciado em Ata, do
vereador Edvaldo Brito e o vereador Alfredo Mangueira.
Com a palavra, podemos começar, Lessa?
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Vamos combinar como é que será a fala.
V. Exa. quer falar, professor Edvaldo?
Então, primeiro orador inscrito, professor Edvaldo Brito,
vereador desta Casa, por cinco minutos.
SR. VEREADOR EDVALDO BRITO: - Eu queria dizer a
todos que aqui estão presentes que nem consideramos isso uma
luta de nós, pessoas de santo, com outros quaisquer
segmentos.
Nós consideramos isto que está aqui, a afirmação e a
reafirmação dos valores daqueles que cultuam os orixás nesta
terra, que pertence aos orixás.
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Se alguém tiver dúvida disso, Sr. presidente, eu quero
demonstrar, Sr. vereador Waldir Pires, a quem agradeço as
palavras de apoio, quero demonstrar, Sr. vereador, que os
orixás não punem ninguém, mas também eles se desgostam de
algumas pessoas.
E foi assim que ao destruírem uma casa de santo nesta
cidade, na gestão passada, todos os outros que fizeram isso
tiveram desgosto dos orixás.
E eu, então, em vez de falar, falar e falar, vou ver se o
meu povo responde, Sr. vereador Alfredo Mangueira, a uma
oração do orixá que abre caminhos. Quer ver que vão
responder?
ENCERRA O DISCURSO COM UM CANTO AOS ORIXÁS
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com
a palavra, Ebomi Nice.
SRA. EBOMI NICE: - Primeiro, quero agradecer a
Olodumaré e a Orunmilá. Quero agradecer a toda nossa
irmandade por ter comparecido e repudiado esse ato.
Esse projeto que foi tentado para nossa religião serviu
para demonstrar a união que temos, quando estamos juntos.
Com a força do Orixá, nada, nada, nada nos impede. Peço a
Olodumaré, peço a Oiyá, que sai, que assim como ela lutou
junto com Ogum nos campos, venceu sem colocarmos uma
lágrima, que nós venceremos todas.
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Muito obrigado. Peço a vocês, meus irmãos, meus
amigos, estarmos juntos.
Obrigada também a todos os vereadores desta Casa. Eu,
com 70 anos de idade, nunca tinha visto uma coisa dessa
contra uma religião dentro desta Casa.
Então, agradeço ao presidente desta Casa, Dr. Paulo
Câmara, e a todos os demais vereadores, que agora não sei o
nome de todos para agradecer, mas quero dizer que vocês estão
lutando por uma causa justa, uma causa de uma religião
milenar, a religião de matriz africana. O candomblé é milenar.
Então, estamos todos juntos. Não vamos nos preocupar,
porque em primeiro lugar temos a justiça divina, “Obanixá,
Xangô, Kaô kabecilê”. É justiça que estamos pedindo, é respeito
a nossa religião. Porque esse projeto é para os frigoríficos, para
os abatedouros, isso sim, que eles não fazem para defender a
humanidade e nós trabalhamos para defender a natureza, com
amor e respeito. Então, nós pedimos respeito.
Muito obrigada.“Axé Kaô kabecilê, Kabecilê, kabecilê”.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Muito obrigado, Eboni Nice.
Com a palavra, o vereador Everaldo Augusto, por cinco
minutos.
SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - Senhor
presidente, Senhoras e Senhores vereadores, representantes
dos terreiros e das casas de santo, representantes do povo da
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Bahia, quero aqui falar em nome do PC do B, já que sou líder
desse partido nesta Casa, partido que acabou agora de
completar 21 anos, que tem sido durante sua trajetória um dos
mais ofensivos defensores da liberdade religiosa em nosso país.
Aliás, esse termo liberdade religiosa quem introduziu no
Parlamento brasileiro, na vida política brasileira foi o PC do B,
na Constituinte de 1945, através do então deputado Jorge
Amado, baiano que todos nós conhecemos, que colocou, pela
primeira vez na história do Brasil, a liberdade de culto religioso
na Constituição de 1946.
E de lá para cá, nós andamos muito; de lá para cá, nós
lutamos muito, ocupamos muitos espaços. E sabemos o quanto
é difícil para o pobre, para o negro, para o comunista, para
quem vive ao lado do povo, para a gente do povo ocupar espaços
nesta sociedade; é a muito custo. E nós, que andamos tanto e
chegamos até aqui, não podemos aceitar o mínimo sinal de
desrespeito a qualquer tipo de religião.
E o que vocês fizeram aqui hoje, com apoio dos partidos
que estão aqui nesta Mesa, vai ser lembrado por muito tempo.
O que vocês vieram fazer aqui hoje, resignados numa só ideia
de tirar desta Casa uma ofensa que, se passasse, perduraria
durante muito tempo como uma nódoa, como uma mancha na
vida desta cidade.
E nós do PC do B estamos aqui para dizer que nós
exigimos a retirada desse projeto. Esse projeto, nós já dissemos
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isso para o seu autor, inclusive, aconselhando-o. É um vereador
jovem, pode até ter sido movido por bons propósitos, mas o que
ele escreveu no papel é um crime contra o povo negro desta
cidade.
Dissemos a ele: “Marcell, retire o projeto. Se você quer
apresentar um projeto na Câmara de Vereadores, de proteção
aos animais, contra qualquer tipo de maltrato, você apresente,
mas não faça isso atingindo a alma da cidade, não faça isso
atingindo uma religião, um projeto feito de encomenda para
atingir uma religião que não é uma religião qualquer”. Todas
são importantes, mas essa a que nós estamos nos referindo,
como já foi dito aqui, é a nossa alma. É devido a essa religião
que nós somos baianos, que nós somos brasileiros. Se retirar
isso daí, a gente não é nada.
Então, não podemos aceitar esse tipo de violência. Por
isso que a posição do PC do B é muito clara. Nós achamos que
esse projeto deve ser retirado da pauta, porque ele é
inconstitucional, ele é inconsistente. A Constituição garante a
liberdade de culto, por isso que é inconstitucional, ele é
inconsistente. Com tantos problemas que nós temos nesta
cidade para ser discutido nesta Casa, ele apresenta um projeto
desses. Será que ele não tem mais o que fazer para apresentar
um projeto desses para agredir a consciência da cidade?
Eu me dei ao trabalho devido à insistência do vereador
Marcell, que eu acredito nos bons propósitos dele, mas a
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insistência dele que esse projeto era progressista. Fui verificar,
Sr, presidente, peguei a Declaração Universal dos Direitos dos
Animais, existe a Declaração Universal dos Direitos dos
homens, todo mundo sabe disso, mas a dos animais quase
ninguém sabe, mas existe também, é coisa recente, 1977, foi
aprovada pelo ONU, lá em Bruxelas. Li todos os seus artigos,
um por um, não tem um dizendo o papel, o lugar, o espaço dos
animais em qualquer tipo de religião.
Os animais têm um simbolismo: no candomblé, no
hinduísmo, em várias religiões E lá na Declaração Universal dos
Direitos dos Animais não tem uma palavra, portanto, esse
projeto não tem consistência. Quem tem estudo aqui, quem está
na faculdade ou mesmo quem tem um estudo acerca da
filosofia, existe um campo da filosofia chamado ética dos
animais, e a ética dos animais é para estudar a relação do
homem com os animais no plano material, não entra também
nesse simbolismo religioso. Então, além de ser inconstitucional,
além de ser inconveniente, ele é também inconsistente do ponto
de vista. Não há razão para que ele passe por esta Casa.
Pela retirada já deste projeto.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com
a palavra, Tata Comanangi.
SR. TATA COMANNAGI: - Irmãos eu quero que nós
analisemos. Há pouco tempo o Estado brasileiro, nós do
candomblé só poderíamos tocar ou fazer algo em nossas casa
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pedindo permissão ao Estado através da Jogos e Costumes.
Agora, um vereador, um homem do Partido Verde, um partido
que deveria estar de braços dados com o terreiro de candomblé,
que protege a natureza, faz uma coisa dessas? É um traidor ele
e traidor o Partido Verde. A gente nunca viu esse homem em
São Bartolomeu, nunca viu no Abaeté, nunca viu em Pituaçu,
em lugar nenhum para defender os animais nem a natureza.
Ele é covarde, se esconde debaixo das saias das mulheres. Isso
aconteceu ontem na Bandeirantes e agora ele não teve a
coragem de ficar aqui para enfrentar as besteiras que ele fez.
Ele deveria ser preso, porque ele está cometendo um crime de
intolerância religiosa. O PV nos deve essa, porque colocar um
homem maluco, insano para querer complicar, para querer
criar uma guerra que estava sossegada e agora vir à tona.
Esse homem é responsável pelo que acontecer daqui para frente
E com isso, gente, eu agradeço a todos vocês. N‟Zambi
Sambulá. Primeiro, eu vou aqui saudar nossos inquices e orixás
e voduns.
Eu vou cantar uma cantiga do caboclo que simboliza
todos nós.
(CANTANDO)
SOU BRASILEIRO, SOU BRASILEIRO SOU BRASILEIRO, SOU BRASILEIRO SOU BRASILEIRO, IMPERADOR
MAS EU SOU FILHO DO BRASIL SOU BRASILEIRO, O QUE EU SOU MEU PAI BRASILEIRO
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MINHA MÃE BRASILEIRA MEU PAI BRASILEIRO MINHA MÃE BRASILEIRA BRASILEIRO IMPERADOR
(SOU BRASILEIRO) EU SOU DO BRASIL (SOU BRASILEIRO) BRASILEIRO O QUE EU SOU
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com
a palavra, o vereador Léo Prates.
SR. VEREADOR LÉO PRATES: - Sr. presidente, meus
amigos, o que me traz a esta tribuna, infelizmente, não são boas
notícias. Mas o que me traz este dia são três coisas que vencem
qualquer batalha: a amizade, o amor e o princípio.
Hoje está aqui a ex-vereadora Olívia Santana, a
vereadora Aladilce, o vereador Edvaldo Brito, a vereador
Fabíola, o vereador Waldir Pires, gente das mais distintas
correntes ideológicas e pensamentos filosóficos unidos, mas é
porque algo no momento está errado na Câmara de Vereadores
de Salvador.
Quero dizer, ao iniciar esta minha fala, professor Waldir,
que os princípios que V. Exa. falou, inclusive, inconstitucionais,
aprendi dentro de minha casa.
Sou neto de um avô espírita e de uma avó batista. Sou
filho de uma mãe católica e de um pai espírita. Sou católico de
formação, mas o respeito e os princípios, principalmente, estão
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norteados pelo amor e a amizade que eu construí com o povo de
santo.
E a todos que estão aqui, eu queria saudá-los na pessoa
de um amigo que me viu nos piores e melhores momentos de
minha vida. Mas a diferença de religião nunca impediu de
sermos amigos e fiéis colaboradores. Refiro-me a Leonel
Monteiro, da AFA, presente neste evento. As diferenças
ideológicas e talvez a maior delas esta Casa nunca permitiu,
mesmo que divergindo veementemente do pensamento dele e ele
do meu, nunca me impediu de chamar o companheiro Hilton de
amigo, porque sou movido por sentimentos e princípios,
professor Waldir.
E quero aqui pegar a fala de Tata Comanangi,
principalmente, no final, quando fala do elemento e da luta do
povo de santo pela natureza e da defesa do princípio de
harmonia com a natureza. Tive aulas, inclusive, esta semana,
com Hilton Coelho.
E hoje, vereadora Olívia Santana, a recuperação do
Parque de São Bartolomeu se deveu e muito à luta do povo de
santo. Impressiona-me, e talvez me deixe estarrecido, em
pensar, neste momento, como disse professor Waldir, em se
atentar com o princípio mais básico do ser humano: o princípio
da crença que nada mais é do que o princípio do acreditar, do
crer; um elemento básico para nós vivermos um sonho, uma
realidade; a possibilidade de que nós sejamos um dia melhores
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do que somos hoje; a crença que existe em entidades ou santos
que são melhores do que nós e que nós podemos um dia ser
melhores.
É isso que todos nós acreditamos, é isso que nos une. E
aí, Tata, você me permita defender a diversidade de religião. Eu
também quero lhe dizer que a vice-prefeita, Célia Sacramento,
fez um comunicado dizendo que não concorda com esse projeto.
Nós não podemos pegar uma atitude individual e transformar
numa atitude partidária. Cabe ao partido tomar atitudes como
fez, porque, vereadora Fabíola Mansur e vereador Sílvio
Humberto, V. Exas. sabem o que é uma atitude individual
prejudicar um partido inteiro. V. Exas. viveram isso.
No mais, é dizer que a hora que este projeto for votado,
seja na CCJ, seja no plenário, este vereador é terminantemente
contra e votará com o povo e com a cultura desta cidade.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Obrigado.
Com a palavra, Makota Valdina, por cinco minutos.
SRA. MAKOTA VALDINA: - Em primeiro lugar, quero
saudar os vereadores desta Casa aqui presentes, o presidente
desta Câmara, e dizer que não podia nem sair hoje, mas estou
aqui porque sou, antes de qualquer coisa, uma militante negra.
Foi como militante negra que empunhei a bandeira,
empunhei a bandeira pela veia da religiosidade, da minha
espiritualidade, do candomblé. Em 1975 fui iniciada, nós
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também estávamos aqui descobrindo as formas, as nuances do
racismo, dos preconceitos, da discriminação contra nós, eu
empunhei a bandeira para militar, enquanto negra, a partir da
religião, porque comecei também a observar o quanto de
racismo pesava sobre nós.
E, chamo atenção de meus irmãos negros aqui: essa
coisa de intolerância, o termo não é esse, nós temos que lutar é
contra o racismo, sim.
No dia em que esta Nação, este Estado, esta cidade não
for racista, nós não teremos nenhum peso sobre nós enquanto
religiosos do candomblé; nós seremos aceitos, porque é normal,
porque a sociedade estará aceitando a pluralidade e a
diversidade que ela é.
Então, temos que lutar contra o racismo, sim, porque, à
medida que vamos conquistando, são migalhas diante de tudo o
que merecemos, são migalhas que temos conquistado. Mas, à
medida que vamos conquistando e ocupado espaços e uma
coisa que é fantástica, e uma coisa que é fundamental como
isso aqui, o poder de voz, o poder da fala.
Quanto tempo a gente viveu amordaçado! Esse poder, a
gente conquistou, a partir de 2003, nós conquistamos.
E quanto mais a gente vai avançando, a gente mostra
aquilo que a sociedade tem que dar para nós, tem que devolver
para nós, a maneira como esta sociedade tem que nos ver mais,
tanto mais esta sociedade mostra a sua cara racista. E mostra
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de várias maneiras, o racismo tem se sofisticado cada vez mais.
Atentem para isso, atentem para isso.
Eu dei algumas palavras com o vereador, que deveria
estar aqui e não está, mas eu estive com ele. Eu nem sei o nome
dele, eu sei que me levaram até ele e eu vou relatar aqui o que
eu falei com ele, porque é o que eu gostaria de dizer na
presença de todos.
Primeiro, eu disse que ele foi muito infeliz quando fez
um projeto desse.
Segundo, eu o fiz ver que deveria canalizar toda a
energia dele, já que ele era um ambientalista, para projetos que
realmente contemplassem isso. E chamei a atenção dele, que
está tão preocupado com os animais, que seres humanos, vidas
humanas, nossos jovens, nossas crianças estão sendo
assassinados.
Se ele quer contribuir para o equilíbrio do meio
ambiente, por que isso também é um problema ambiental, ele
faça um projeto nesse sentido.
Chamei a atenção dele que desta Casa, infelizmente,
decisões foram tomadas no sentido da devastação da nossa
Mata Atlântica, a exemplo do que a gente vê na Paralela.
Eu, que fui uma lutadora, junto a tantos outros, pelo
parque, quanto nós sinalizamos, quanto nós demos à Prefeitura
para que se movesse outro olhar em relação ao Parque
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Metropolitano de Pirajá, onde está o Parque São Bartolomeu.
Agora diz que tem um projeto.
Mas eu chamei a atenção do vereador, que eu acho que
está no início, começando, tem muito a aprender, e ele veio com
alguns argumentos, e eu disse a ele que, para mim, não é meio
nem meio mais, que eu só queria que ele retirasse este projeto.
Foi o meu pedido, o pedido que eu fiz em nome do meu
povo.
Eu gostaria de chamar a atenção sobre uma coisa: nós
precisamos fazer mais disso, nós temos que acompanhar
aqueles que nós colocamos nos lugares, porque se eu não votei,
se outro aqui não votou, mas todo mundo que se elege nesta
cidade se elege com o voto negro. Nós não somos maioria? Nós
temos que vigiar, não é colocar um vereador, um deputado, nós
temos que vigiar, e temos que fazer mais disso.
Eu agradeço muito, agradeço a todos os vereadores que
estão do nosso lado, que estão nos apoiando, mas eu agradeço
muito a sua atuação, Sílvio Humberto.
Esse está aqui para fazer o que a gente sempre quis.
Está aqui, foi eleito com o voto negro, é comprometido, dá conta
do que está fazendo, como tantos outros também.
É isso aí, continue vigiando, que foi para isso, é para
isso que nós queremos você aqui.
E que os inquices, porque esta cidade não é só de orixá,
esta cidade é, antes de tudo, muito feliz, foi como Anangí, dos
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índios, que são os donos da terra do Brasil. Depois dos índios,
negros que chegaram aqui. A história nos conta, foram negros
chegados do Congo e de Angola.
Então, esta cidade é também dos inquices, porque
Angola também tem língua. Angola não fala em yorubá, Angola
fala em quicongo. Esta cidade é dos vodun, porque vieram
negros também do Benin. E vieram, lógico, memória mais
recente que nós temos, negros do Reino de Ketu, da Nigéria.
Mas a gente tem que se lembrar de quem somos lá atrás.
Muito obrigado, desculpe, mas eu falo muito mesmo e
tenho que falar.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Vereador Alfredo Mangueira.
SR. VEREADOR ALFREDO MANGUEIRA: - Sr.
presidente, Srs. vereadores, meus irmãos, eu estou satisfeito,
hoje, nesta Casa.
Hoje foi um dia, para mim, de alegria. Não foi de tristeza
não. Não é só porque vocês estão aqui hoje não, é porque eu vi
dois evangélicos lutando pela gente. Dois evangélicos, desta
Casa, falaram favorável ao candomblé.
E eu vou destacar o nome dos dois: a vereadora Tia Eron
e o vereador Héber, defendendo. E o terceiro, o vereador Isnard,
também defendendo a gente.
Mas, meus irmãos, eu estava viajando, na terça-feira,
quando eu soube do projeto, eu estava em Ribeira do Pombal.
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Quando eu entrei no site estava lá a notícia do vereador
Marcell. Eu não me preocupei. Eu não me preocupei porque eu
tenho amigos nesta Casa, além de ter amigos, eu faço parte da
Comissão de Constituição e Justiça, da qual eu tenho certeza
que o vereador Waldir Pires, que estava aqui assistindo a
Valdina, neste momento, amanhã, às 11horas, vai dar o parecer
contrário.
Tenho certeza que o meu professor, que sempre me
ensinou e que veio para esta Casa para acabar de me ensinar
mais ainda, o professor Edvaldo Brito, vai acompanhar também
o parecer contrário. Tenho certeza de que o vereador Léo Prates,
que nos sucedeu aqui há 20 minutos, também vai dar o voto
contrário. Então, o processo está morto na comissão. Nós não
podemos nos preocupar.
Agora, valeu a pena a manifestação de vocês, porque
vocês estavam calados, entocados nas nossas roças. E nós
mostramos que temos cara, que somos gente e estamos aqui
para nos defender.
Se fosse para defender com unhas e dentes, nós íamos
defender com unhas e dentes. Mas graças a Deus, Oxalá não
quis isso.
Oxalá veio, jogou o manto dele e cobriu. E nós vamos
sair daqui vitoriosos com o voto derrotado na Comissão de
Constituição e Justiça.
Obrigado.
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SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Sra.
Jacilene.
SRA. JACILENE: - A bênção, minha mãe Jacira, meu pai
Guilherme, e todos os mais velhos e mais novos.
Eu quero agradecer primeiro a esse povo de inquice, de
vodus, de orixás, de caboclos e de encantados, que ocuparam
esse espaço e mostraram que temos religiosidade e não estamos
nessa religião à toa, e que ser de candomblé não é relativo e sim
é essência na nossa vida. E que não viemos aqui para brincar,
pois temos objetivos e não aceitaremos, de forma nenhuma,
emendas em projetos.
Queremos sim, a retirada do projeto, e convido os meus
irmãos aqui presentes para amanhã, às 11 horas, acompanhar
essa retirada. Precisamos estar aqui para acompanhar a
retirada do projeto, e é importante, neste momento, não tem
diferença de nação e nem partidária, é o povo de terreiro, de
orixá e de santo, de inquice, vodus e encantados, juntos com as
forças que todos eles nos dão para aqui estar e mostrar a cada
vereador desta Casa que temos religião, temos história, e que
essa história desta cidade foi feita por esse povo de resistência.
Nós resistimos aos Navios Negreiros, à clandestinidade, e por
que não vamos resistir a Marcell Moraes? Ele é muito pequeno
para a gente.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Registrando que os vereadores Luís Carlos Suíca, Gilmar
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Santiago e Moisés Rocha, da bancada do PT, estão em processo
de negociação com o autor do projeto, com um grupo de
vereadores conversando e negociando, pois essa é uma Casa da
negociação, do parlamento, do debate.
SRA. VEREADORA FABÍOLA MANSUR: - Quero pedir
agô a mãe Nicinha, Macota, Tata Comanangi; saudar o povo de
santo que vem a esta Casa, e unido, faz história. Porque esse
projeto vem errado desde a sua raiz. Não se mexe com o povo de
santo, não se mexe com uma religião que defende a natureza
mais do que todas, e sem natureza, não há candomblé, Mãe
Nicinha, sem candomblé não há povo de santo, sem povo de
santo não há Salvador, porque a história desta cidade é
intimamente relacionada ao povo de santo.
Esta Casa é a Casa do Povo e, portanto, a Casa do Povo
de santo é a Casa da democracia, e, portanto, a Casa do
respeito, do respeito à diversidade, do respeito às liberdades.
E quero saudar minha amiga, nossa subsecretária
Olívia Santana, que nesta Casa viu ser aprovada a lei que
combate a intolerância religiosa, e essa projeto é um retrocesso.
Não se pode discutir a natureza enquanto houver em nossas
mesas, já dizia Mãe Stella, no nosso prato, galinha, porco, boi,
vai ter também essas comidas e oferendas aos orixás. A nossa
religião, e eu que sou católica batizada, mas Oxossi que é o meu
guia.
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É o candomblé é a ponte entre o humano e o divino, e o
povo de santo é, sim, um povo que é sofrido, e respeitar a
religião, como não foi feito há anos, precisa esse povo estar
aqui, como Macota Valdina bem disse: “O povo de santo tem
que se unir com a força dos orixás, para trazer a esta Casa
projetos que são importantes, mas que também defendam a
tolerância a todas as religiões”. Como muito bem disse o nosso
vereador Alfredo Mangueira: “Todas as religiões têm que ser
respeitadas, os evangélicos, os católicos e o povo de santo”.
Mas, não pode haver um projeto que seja contrário a
tudo que foi conquistado e em detrimento de tantos outros para
as crianças negras, pobres, da periferia, essas, sim, seres
humanos que merecem ter os seus direitos preservados.
Eu acho que a gente faz história. Nós fizemos história e
faremos, e eu me orgulho, Macota, de ser companheira do
vereador Sílvio Humberto, aliás, nós defendemos pelo PSB a
tolerância, a liberdade individual.
Portanto, é nosso papel fundamental de nos incluir a
essa defesa e banir este projeto, porque democracia não é isso.
Democracia não é aceitar tudo, democracia é respeitar uma
tradição, é respeitar religião, é respeitar a Constituição Federal,
que determina liberdade de culto neste país.
Então, realmente, o manto de Oxalá está nesta Casa e
não mais sairá, e enquanto eu for vereadora desta Casa e
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Oxossi me guiar, Mãe Nicinha, projetos como esse não
passarão.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Para
que possamos ter a fala de todos, são dezenas que estão aqui
inscritos, gostaríamos de fazer um apelo aos oradores, do
respeito ao tempo, para que todos possam se pronunciar.
Com a palavra, a ex-vereadora Olívia Santana, por três
minutos.
SRA. OLÍVIA SANTANA: - Sr. presidente Arnando Lessa,
demais vereadores desta Casa presentes nesta sessão, que eu
considero que é uma sessão histórica. Eu quero dizer à toda
comunidade dos terreiros de candomblé, nas suas diferentes
nações, que esta é a primeira vez que eu venho a esta Casa em
uma sessão ordinária, desde que saí da Câmara Municipal de
Salvador.
Eu acho lamentável que tenhamos que, no dia de hoje,
deixar os nossos afazeres, coisas muito sérias, que cada mulher
que aqui está, cada homem, cada ialorixá, cada ebômi, como
muito bem disse a nossa querida Macota Valdina, todos tiverem
que deixar os seus afazeres para vir, mais uma vez, tratar do
racismo.
É impressionante como o racismo ocupa a vida da
população negra baiana e brasileira. Como nós temos, Dr.
Waldir Pires, que estã o tempo inteiro provando a nossa
capacidade de mobilização, de articulação política. Não foram
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poucos Ebomi Nice, Makota Valdina, vereadora Aladilce,
companheiros todos que aqui estão, não foram poucos os
telefonemas que eu recebi para falar desse ato do dia de hoje,
para pedir a minha presença nesta Casa, e eu dizia que não sou
mais vereadora, mas jamais deixarei de ser militante do
Movimento Negro, vereador Sílvio Humberto.
Nós estamos aqui cumprindo, mais uma vez, a tarefa de
defender aquilo que atinge a coisa mais profunda, que nem os
colonizadores conseguiram. Vereador Marcell, eu sinto muito a
ausência do dele aqui, gostaria de falar olhando nos olhos do
vereador Marcell, dizer para ele que se esse povo ultrapassou,
atravessou 300 anos, mais de três séculos de escravidão, de
colonialismo, de demonização do candomblé, muitos foram
queimados vivos.
Estou lendo um livro, A Ilha sobre o Mar, professor
Valdério, de Isabel Allende, que conta a história dolorosa dos
negros das Antilhas, do Haiti. Aqueles praticantes do Vodu,
quantos foram mortos nas fogueiras? Mas nem por isso o
candomblé deixou de existir.
Como é que pode passar na cabeça de um vereador de
primeira hora, que acabou de entrar nesta Casa, e tenho o
maior respeito à juventude, a juventude é uma necessidade
para podermos passar o bastão para alguém, mas é preciso ter
humildade, é preciso saber como chega, até porque, no
candomblé, antiguidade é posto, e todos nós sabemos disso.
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Eu quero finalizar dizendo que o vereador jamais poderia
entrar nesta Casa e ter a audácia de levantar uma luta como
essa, contra a alma da cidade, a essência da Cidade do
Salvador. Um vereador que faz um ato como esse, não entende
em que cidade está. Salvador não é a Europa, vereadora
Fabíola, Salvador é a África brasileira, e contra os africanos
soteropolitanos nenhum legislador desta cidade pode se
levantar, porque no momento em que o fizer, as Pretas Velhas
vão dizer a força que elas têm, guiadas por Iansã, por Oxum,
por Nanã e por todas as divindades de matriz africana.
Quero alertar os companheiros e os vereadores que,
além desse projeto que se refere às oferendas de animais que
são feitas nos terreiros de candomblé e que tem um significado,
sei que a jovem que estava ali com uma placa, e respeito o
direito dela de livre manifestação; agora não respeito o direito à
ignorância. Ignorância não é um direito, o „não saber‟ precisa
ser tocado pelas luzes do conhecimento.
Os terreiros de candomblé não são comunidades
primitivas que estão violentando o direito da vida dos pintinhos,
das galinhas ou de qualquer que seja o animal. A matança de
animais nos terreiros de candomblé tem um significado, de
alimentação da espiritualidade e de todas as pessoas que
chegam, inclusive, os ambientalistas, sérios, que frequentam os
terreiros da nossa cidade.
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Quero lembrar, vereador Arnando Lessa, para que,
também, não retirem esse projeto e depois venha por outras
vias tortas, pois há dois anos, quando vereadora, tive que correr
para Feira de São Joaquim para evitar um ataque semelhante a
esse, que era, exatamente, uma companheira ambientalista que
lá chegou com a guarnição policial querendo retirar dali todos
os animais vivos, porque disse que a feira estava vendendo
animais para serem sacrificados por religiões atrasadas.
Então, estejamos atentos e atentas, acho que esse
plenário já mostrou que é preciso estar atentos e fortes, nós
estamos muito mais do que isso.
Por isso, o vereador não foi capaz, ele tinha duas
alternativas aqui, depois do pronunciamento de todos os
vereadores que falaram favoráveis à derrubada do projeto, ele
poderia ter usado esta tribuna e dito: “Eu vou manter o projeto,
quero pedir urgência, quem for a favor, vote a favor, quem for
contra, vota contra”. Ele não teve coragem de levantar isso e
não teve coragem de retirar também o projeto. Então, não é
possível dialogar com quem não apresenta suas vozes. Com
quem não apresenta, claramente, as suas armas, não é possível
lutar.
Então, o vereador Marcell tem que fazer jus ao gesto que
ele teve, que é, exatamente, correr, sair deste plenário e não
enfrentar o debate. Se estiver com medo do povo de Salvador,
retire, imediatamente, o projeto e vá se recompor com a
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história, porque a mácula já ficou, infelizmente, na história de
vida de um menino tão jovem que começou a ser um legislador
da cidade. Só que ele começou por uma via torta. E aí vai
amargar, para sempre, ter atacado a essência da Cidade do
Salvador. Axé, vamos juntos, levantem-se, porque esta cidade é
nossa cidade e ninguém vai nos tratar como estranhos, muito
menos como primitivos. O candomblé é que civiliza a Bahia e o
nosso Brasil. É isso. Axé. Tudo de bom para nós.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com
a palavra, o Dr. Samuel Vida, por dois minutos.
DR. SAMUEL VIDA: - Eu quero iniciar saudando a
autoridade religiosa que nos representa maximamente aqui,
Ebomi Nice da Casa Branca, a quem eu tomo a bênção.
Invertendo o protocolo, quero saudar o vereador Edvaldo
Brito, tomando-lhe também a bênção, um homem de Ogum, e
através dos dois, cumprimento a todos os integrantes da Mesa,
assim como a todos os irmãos e irmãs que aqui se encontram.
A atual mobilização que nós presenciamos tem um
significado histórico que oferece, mais uma vez, uma lição do
povo de santo, do povo negro desta cidade para formação
civilizatória desta Salvador. É mais um capítulo, é mais uma
lição que, generosamente, é ofertada pelo povo de santo nesta
cidade, neste Estado, neste país. E há de entrar,
definitivamente nos anais do ponto de vista formal da Câmara,
e na história da cidade. E mais do que isso, sinaliza para um
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movimento que não terá recuo. Nós não negociamos a nossa
cidadania. Nós não negociamos a nossa dignidade. Mexer com
os nossos valores é nos desafiar a continuar lutando como
temos lutado há 500 anos neste país. E esta resposta deve ser
ouvida por todos que ainda duvidam da capacidade de
intervenção política da comunidade negra, do povo de santo em
nossa cidade.
É importante também dizer que o projeto combatido,
flagrantemente, abusa da suposição de que nós não
entendemos os direitos constitucionais que nos protegem, já
que se trata de um projeto inconstitucional de ponta a ponta.
Trata-se de um projeto que confronta o Artigo 5º, que garante a
liberdade religiosa de maneira ampla, pela primeira vez, fruto
da mobilização do povo de santo, do movimento negro, que
conseguiu fazer com que a Constituição de 88 retirasse as
últimas restrições que perduravam sobre o exercício da
liberdade religiosa em nosso país, quando se dizia que até a
anterior Constituição deveria se respeitar os bons costumes e a
moral. E com base nessa argumentação, nossas religiosidades
eram sistematicamente submetidas ao constrangimento do
controle policial, que nos vinculava, indiretamente, a práticas
delituosas, a práticas criminosas.
A Delegacia de Jogos e Costumes era responsável por
expedir um alvará para autorizar realização de cultos, uma
prática que, absurdamente, nos violava. Graças à insurgência
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do povo de santo, com a mobilização de várias pessoas, que
estão aqui, inclusive, presentes; nós conseguimos que o Estado
admitisse o equívoco, e no ano de 1976, em Salvador, foi
formalmente suprimida essa abjeta exigência e imposição
aviltante.
Mas em outros locais do país esse persistente absurdo
persistiu até 1988, e a Constituição cuidou de eliminar essas
condicionantes, exatamente para não dar margem à retomada
de práticas abusivas e discriminatórias contra a nossa
religiosidade.
Ademais, a Constituição Federal, no Artigo 19, dispõe
expressamente a proibição de que o Estado crie qualquer
embaraço ao funcionamento das religiões.
Evidente que esse projeto ao atentar contra o uso de
animais nos rituais religiosos, pretende sim, criar um
embaraço, inviabilizar nossa existência religiosa atingindo-a em
aspectos fundamentais, portanto, flagrantemente contraria à
Constituição Federal.
Não fora isso, conflita também com a Constituição
Estadual que, mais uma vez, no outro capítulo de mobilização
do povo de santo, fez constar um artigo, o Artigo 275, que
expressamente prevê o dever do Estado, e o Estado, leia-se não
apenas a estrutura governamental do Estado membro, mas
vincula também o município, deve tutelar os valores, as
práticas, as manifestações da religiosidade de matrizes
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africanas. E mais, contraria também a Lei Orgânica do
Município, que acolhe uma série de dispositivos tutelares às
manifestações culturais de tradição africana.
Portanto, do ponto de vista jurídico, nós não temos
dúvida de que ele fracassaria e seria rejeitado pela Comissão de
Constituição e Justiça. Mas a questão fundamental não é essa,
a questão fundamental diz respeito ao caráter racista,
intolerante, absolutamente discriminatório que este projeto
mobiliza.
E isso pode ser muito bem observado pelo fato de que
ele não é o primeiro no país, ele é a continuidade de outras
iniciativas que chegaram a ser aprovadas em cidades como
Piracicaba, e chegaram a ser aprovadas em Estados como o Rio
Grande do Sul, e que mereceram o nosso repúdio e a nossa
vitória pela declaração da inconstitucionalidade naqueles locais.
Trata-se, portanto, de parte de uma estratégia nacional
alimentada por uma cultura de racismo, de intolerância, que
persiste no interior da sociedade brasileira que,
lamentavelmente, conta com o Estado como um dos seus
fautores.
O Estado brasileiro pratica atos de racismo institucional
e, acreditando nessa possibilidade, é aqui que esse projeto se
apresenta.
Portanto, muito mais grave que a sua flagrante
inconstitucionalidade é o fato dele alimentar toda uma
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possibilidade de hostilidade, de resentimento, de ódio religioso,
de aviltamento dos nossos valores mais sagrados.
Nós colocamos, vereador Arnando Lessa, num
documento que será entregue a todos os senhores, trechos de
manifestações que começam a se projetar nas mídias sociais
dizendo que, inclusive, nós sacrificamos crianças e seres
humanos em rituais de candomblé, para o senhor ter ideia do
efeito nefasto que esse tipo de iniciativa provoca, alimentando
ressentimentos e discriminações, que já existem, e que
precisam ser combatidas pelo Poder Público.
O dever da Câmara é promover esclarecimento, acesso a
informação para que esse tipo de manifestação cesse. E não
alimentá-la com projetos extravagantes, descabidos, absurdos,
como esse projeto.
Por fim, eu quero chamar a atenção para um dado
importante: o vereador Marcell praticou, durante o período que
esse projeto tramitou, e eu espero que ele encerre a sua
tramitação ainda hoje, que é terminar as declarações que
diziam que a nossa religiosidade é arcaica, medieval, que ela
precisa evoluir e, hoje, ele teve o desplante, numa entrevista
dada no programa de Casemiro Neto, de dizer que teme pela
integridade física, e por isso mesmo não participava de debates
diretamente conosco.
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Ora, eu não tenho dúvida de que essa manifestação
implica em quebra de decoro parlamentar. E nós entendemos
que a Câmara deverá se pronunciar sobre isso.
O representante do povo, no exercício de suas
atribuições institucionais, não pode aviltar tradições
respeitadas como a nossa. Não pode incitar ao ódio e às
agressões.
Portanto, me parece que cabe perfeitamente a avaliação
da quebra do decoro e a aplicação das sanções que o Regimento
prevê e que a Câmara Municipal admite.
Axé.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Vereadora Aladilce.
SRA. VEREADORA ALADILCE DE SOUZA: - Sr.
presidente, Srs. vereadores, Sras. vereadoras, eu quero
concordar com quem disse aqui que esta sessão é histórica, e é
uma sessão emocionante.
Quero dizer do meu profundo respeito ao candomblé,
dizer que o vereador Marcell Moraes está completamente
equivocado, não é religião medieval. É uma religião que acolhe,
que cuida, que trata.
Respeito todas as religiões, mas não encontramos em
nenhuma outra religião o acolhimento, a solidariedade, o
respeito, o tratamento, o amor que encontramos quando
entramos em um terreiro, em uma casa de axé.
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Sinto-me filha de todos os babalorixás, das mães de
santo, de todos os tatás, e quero aqui manifestar o meu mais
profundo respeito.
Eu fiz o requerimento, vereador Arnando Lessa, vereador
Hilton, fiz um requerimento para que pudéssemos transformar
esta sessão em sessão especial porque eu acho que tem uma
questão fundamental, que é a questão do debate, da forma
como os projetos de lei são elaborados, são gerados e são
aprovados, vereador Hilton, vereador Sílvio, vereadora Fabíola,
que estão chegando, e chegando bem nesta Casa, mas nós
temos aqui muitas experiências de projetos, vereador Suíca,
inconstitucionais, que são aprovados e que estão até hoje aí.
Nós temos dezenas de projetos, vereador Waldir Pires,
V.Exa. recentemente deu um voto apontando as
inconstitucionalidades de um projeto que está na pauta desta
Casa.
Então, não basta, eu respeito e concordei, cheguei a
tentar fazer um acordo para retirar o meu encaminhamento,
ouvindo o vereador Edvaldo Brito e os outros que falaram, de
votarmos a inconstitucionalidade aqui e matar o projeto do
vereador Marcell Moraes. Mas ele nem aqui ficou para ouvir os
nossos argumentos.
Além de tudo, ainda falta com respeito para com a Casa,
porque ele deveria ficar para defender.
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Então, é a forma, e nada melhor do que termos esta
sessão que qualifica o nosso debate, qualifica qualquer matéria
e favorece a tomada de posição dos vereadores e vereadoras que
estão aqui, ou mesmo os que não estão, mas que estão em seu
gabinete, como ele deve estar no gabinete, ouvindo pela TV
Câmara. Espero que ele destampe o ouvido e retire o projeto.
Como é que se faz um projeto elaborado para golpear
uma religião, para golpear um povo, para atacar?
Os projetos têm que ter a discussão. Se nós estamos
aqui, vereador Waldir, em nome do povo, nós não podemos
tomar uma atitude e elaborar uma lei, um projeto de lei que vai
de encontro a esse povo.
Se nós temos qualquer projeto, qualquer proposição, nós
temos que fazer e propor, ouvindo.
Então, eu acho que esta sessão é educativa, qualifica o
debate, e é assim que deve ser, porque eu tenho certeza de que
o que nós ouvimos aqui, as manifestações de Ebomi Nice, de
Makota Valdina, de Camurugi, de todos os que já falaram,
Samuel Vida, fortalecem o povo de santo.
É uma manifestação de combate ao racismo sim, mas
qualifica esta Casa, sobretudo, e dá um recado: não façam um
projeto divorciado do povo. Nós não podemos propor nada aqui
sem discutir, sem ouvir o povo.
Eu quero finalizar dizendo que nós recebemos da
Ouvidoria Nacional da SEPI, e eu, como ouvidora desta Casa,
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trago aqui, para conhecimento público, uma manifestação de
preocupação da SEPI, que tem recebido, por sua vez,
manifestação de diversas instituições do país inteiro por conta
desse projeto.
Então, eu quero, aqui, deixar a minha integral
solidariedade, minha, do vereador Everaldo Augusto, que já se
colocou aqui, da bancada do PC do B, e dizer que nós não
podemos baixar a guarda.
Na Comissão de Constituição e Justiça já tem três
vereadores que, aqui, se posicionaram dizendo que vão votar
contrariamente, mas o fundamental é a mobilização, é o povo de
santo, e nós todos aqui dizendo não, dizendo ao vereador: retire
esse projeto.
Eu quero dizer a vocês que a prática, a atitude do
vereador, não só nesse projeto, mas já teve outro projeto, de
botar projetos para votar sem discussão e utilizando, inclusive,
de artifícios pouco recomendados aqui neste plenário.
Portanto, eu acho que a manifestação, a presença, a
mobilização vai garantir que a gente vire a página, essa página
de intolerância, essa página de ataque ao povo de santo nesta
cidade.
Axé, grande abraço. A luta continua!
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Antes de passar a palavra ao vereador Hilton Coelho, eu solicito
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à taquigrafia a retirada da palavra “sorrateira” da fala da
vereadora Aladilce de Souza.
Com a palavra, o vereador Hilton Coelho.
SR. VEREADOR HILTON COELHO: – Quando essa
bomba caiu sobre as nossas cabeças, eu me lembro que este
plenário ainda não estava nem muito cheio e alguns vereadores
se assustaram com a fala do vereador Marcel, algo ficou, de
cara, revelado: um profundo desconhecimento sobre o que ele
vinha tratando.
O vereador começou a falar de maneira emocionada
contra os rituais medievais que precisavam ser superados, por
exemplo, pelas religiões de matriz africana.
Isso liga a fala do vereador, esse deconhecimento, aos
ativistas, que eu queria que estivessem aqui, do Movimento de
Defesa dos Animais, que exibiram os cartazes ali com os
cachorrinhos. O que, na verdade, mostra a falta de propriedade
que parte do movimento, e o vereador Marcel vem tratando e
mostrando o seu olhar quando vem afirmar esse projeto.
Então, ele parte de um desconhecimento muito grande
quando fala do projeto, parte de um desconhecimento muito
grande, também, quando ele desconsidera qual é o significado
das religiões de matriz africana que várias pessoas falaram
aqui, historicamente.
Eu queria apenas falar do ponto de vista político. Seria
impossível pensar em Independência da Bahia sem considerar
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os terreiros de candomblé como um espaço de resistência viva
nesta cidade para expulsão dos portugueses.
Então, é essa ignorância, também, do ponto de vista
político, que vai orientando essa prática cega que norteou o
vereador Marcell a propor um projeto desse tipo. Uma
ignorância, como já foi falado aqui, de não entender que a
cosmologia, olhe, eu não sou religioso, gente, mas
generosamente, como a vereadora Aladilce, eu já convivi muito
nos terreiros de candomblé e pude perceber a generosidade no
cotidiano. Não entender que a cosmologia do candomblé
apresenta para as pessoas uma nova relação entre homens,
mulheres e a natureza, e dentro disso os animais, é uma
profunda ignorância!
Então, ele está atirando em um alvo completamente
desnorteado, um alvo completamente equivocado, e não
entender as forças que ele estava despertando.
Eu quero concluir falando que isso mostra, também, um
grande desconhecimento, porque nós não estamos falando aqui
contra o Movimento em Defesa dos Animais, essa não a grande
polêmica, gente. O grande problema foi que a iniciativa de parte
desse movimento, e do vereador Marcell, corrobora com uma
grande movimentação social que representa uma guerra hoje,
uma guerra que tem se revelado pelo apedrejamento de
senhoras, uma guerra que tem feito crianças serem jogadas na
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parede e passem por fraturas no seu rosto, pela postura
perversa que discursos deste tipo na prática tem estimulado.
E, por fim, o desconhecimento. E eu venho dizendo isso,
vários vereadores, o vereador Silvio Humberto, em vários
momentos a gente tem colocado os nossos enfrentamentos, o
desconhecimento de que a população negra, a cada dia que
passa, entende que a nossa felicidade é uma felicidade
guerreira.
Hoje, eu vim aqui de branco, mas não foi um branco de
paz, não, eu vim de branco, nesta tarde, com as cores da África,
porque eu vim guerrear. E eu não vim guerrear contra o
vereador Marcell, não, mas a tudo que ele representa se
somando a esta movimentação social perversa.
Neste presente, veio aqui outro guerreiro que está aqui
nesta plenária, o companheiro Hamilton Assis. Então, eu quero
dizer muito claramente, companheiro Hamilton, eu aprendi as
lições que você começou a me dar quando eu tinha 16 anos de
idade, e é por isso que eu venho aqui com esta propriedade e
com esta certeza a falar e reafirmar que a nossa felicidade é
uma felicidade guerreira.
E nós, do Partido Socialismo e Liberdade, estamos
completamente dispostos a estar perfilados por esta guerra, que
no fundo é uma guerra pela liberdade.
Vamos alçar pela construção da nossa liberdade.
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SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com
a palavra, o Sr. Tata Eurico.
SR. TATA EURICO: - Eu gostaria, neste momento, que
só eu, mas só eu, aplaudisse este dito cujo vereador. Só eu para
ele.
Vereador, com este projeto manchou esta Casa. Com
este projeto manchou a Cidade do Salvador. E eu que estou até
agora presidente do Conselho Municipal das Comunidades
Negras, onde entendemos que não podemos avançar, discutir,
tecer a Conferência de Promoção da Igualdade Racial, enquanto
nesta Casa transitar tal projeto. É indigno para o Conselho das
Comunidades Negras discutir política de promoção de igualdade
racial tendo um projeto como este. Precisamos nos unir para
escolher nossos representantes.
Obrigado, Srs. vereadores, Sras. vereadoras, que aqui
estão a nos defender. Sei que muitos destes aqui não comeram
do nosso obi, do nosso orobô, mas sente no seu sangue, no seu
ser, a crueldade como estão querendo massacrar, como estão
querendo mutilar a religião de matrizes africanas, nós povos de
comunidades tradicionais.
Por isso, outro dia estive aqui nesta tribuna recebendo a
Medalha Zumbi dos Palmares e hoje volto a esta Casa com um
pesar. Mas, conclamo a todos e todas que invoquem Vila-Ma
Nzumbi para que responda na vida deste nefasto, para que Ikú
seja o seu caminho.
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Temos uma pequena moção do nosso Conselho e eu
gostaria que, por favor, ouvissem esta moção que vem do
Conselho das Comunidades Negras.
Moção de Repúdio.
O Conselho Municipal da Comunidades Negras, criado
nos termos do Decreto nº15330, de 18 de novembro de 2004,
conforme autorização constante na Lei nº 4.008, de 19 de julho
de 1989, órgão colegiado, de caráter consultivo, deliberativo e
normativo, vinculado à Secretaria Municipal da Reparação –
Semur -, torna público seu repúdio em face do Projeto de Lei nº
308/13, de autoria do vereador Marcell Moraes.
A proposta legislativa visa impedir a utilização de
animais em cultos religiosos, fato que inviabilizaria as liturgias
das religiões de matriz africana, indubitável a
inconstitucionalidade do aludido projeto, pois viola o principio
da liberdade religiosa que se encontra, devidamente,
consagrado na Constituição Federal de 1988.
Diante dos avanços da sociedade brasileira no campo da
garantia da liberdade religiosa e, de forma geral, dos direitos
humanos, o Conselho Municipal das Comunidades Negras
protesta pelo imediato arquivamento desse projeto.
Atenciosamente,
Eurico Alcântara dos Santos
Presidente do Conselho Municipal das Comunidades
Negras.
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SENHOR TATA EURICO: - Cântico com dança.
Se, é guerra que ele quer, guerra ele terá.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Antes de passar a palavra ao próximo orador, discordar de Tata
Eurico. Quero dizer que esta é uma Casa da democracia e que
esta sessão é uma demonstração inequívoca do respeito e,
acima de tudo, da importância desta Casa Legislativa.
Esta sessão é uma demonstração de que respeitamos as
divergências e debatemos todas elas com transparência e
afirmando cada dia mais esse poder na importância desta nossa
cidade.
Registrar a presença do Sindipoc - Sindicato da Polícia
Civil da Bahia; do Sindseps; do companheiro Everaldo que está
aqui inscrito e também pode usar a palavra. e passar a palavra
para o vereador Luiz Carlos Suíca, por três minutos.
SR. VEREADOR LUIZ CARLOS SUÍCA: - Sr. presidente,
Srs.. vereadores, Sras. vereadoras, meus irmãos, minhas irmãs.
Desde o início desta sessão que eu estava ali só observando,
porque muitas vezes eu prefiro observar ao invés de me
pronunciar. Mas ao voltar a esta Casa, eu precisava dizer
algumas palavras porque estou agoniado.
Antes de qualquer coisa, queria dizer que eu e o
companheiro Moisés, mais o companheiro Gilmar, desde a
última sessão, que teve um problema com o companheiro Sílvio
Humberto, que é um parceiro também de todas as horas,
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companheiro não só na defesa do Movimento Negro, mas,
também da educação do povo de santo.
Nós, a semana toda, estávamos preocupados em fazer
com que o vereador Marcell retirasse o projeto. Nós estávamos
em conferência o tempo todo, porque nós que estamos na
periferia e que fizemos campanhas nos terreiros de candomblé,
e que vivemos isso, e a minha mãe, filha de santo do Axé Opô
Afonjá, portanto, sou neto do Axé Opô Afonjá, sou filho de
Xangô, e não tolero injustiças.
Portanto, estávamos agoniados e até o momento, nós
não conseguimos fazer com que o vereador Marcell, que é um
vereador - o vereador Arnando Lessa sabe - que se ele
propusesse a fazer o que ele quer fazer, do ponto de vista dos
animais, seria um vereador talentoso, só que se perde ou se
perdeu, e pagou para ver quando dissemos que com o povo de
santo, com os Orixás não se brinca, e que não podia, de forma
nenhuma, legislar sobre uma causa que ele não conhece.
Portanto, eu não vim aqui para, meus irmãos e minhas
irmãs, jogar para o público, porque quem me conhece já sabe.
Mãe Jaciara que está aí, me conhece, sabe que eu não concordo
com intolerância, com racismo, com injustiça; pai Anderson, se
levante, por favor, ele sabe, não me conhecia e eu não o
conhecia, mas, no primeiro momento que esse babalorixá foi
agredido pela Polícia Militar, em Lauro de Freitas, fui o
primeiro ou um dos primeiros a chegar na casa dele para
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colocar a minha solidariedade e todos os meus préstimos.
Waldir Pires, que é um companheiro, que vou ter orgulho de
dizer que eu legislei com ele.
Quero dizer que, esta manifestação aqui hoje, ela não
pode parar porque nós conseguimos fazer de forma justa,
transformar essa sessão em especial. Aladilce; não podemos
fazer isso, até porque esta Casa, para uma boa parte, é uma
Casa de negociação de debate.
Nós sabemos que os vereadores da bancada do governo
estão muito preocupados em votar o Código Tributário. Então,
portanto, vários vereadores que, no primeiro momento, foram
contra transformar esta sessão estavam preocupados em não
atropelar o Código Tributário.
Então, por isso que temos que estar vigilantes, por isso
que quando o babalorixá Eurico chegou para mim e disse que
iria dormir nesta Casa, eu disse a ele que estava com ele,
porque nós deveríamos acampar nesta Casa, sim, para que esse
projeto fosse tirado hoje, para que impedíssemos que este
projeto não ficasse aí por muito tempo, e que o próprio Marcell
ou outro pudesse ganhar tempo.
Nós tínhamos era que convencê-lo a tirar o projeto hoje.
Portanto, teremos que estar aqui amanhã, quarta-feira, na
próxima segunda, até que este projeto saia, é ele que tem que
tirar. Não concordo, meu companheiro e amigo Sílvio Humberto,
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ele já foi derrotado, ele já está no pé de Exu, ele já está sendo
perseguido. Nós o derrotamos.
E aí, perder na CCJ, perder pelo voto, só seria mais,
companheiro, mais um rito. Ele é quem tem que vir aqui e
retirar o projeto, porque se não for assim, Exu, que abre os
caminhos, que abre os trabalhos, não será Exu. É isso que
acredito, é nessa força.
Ele tem que vir tirar este projeto.
SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -
Registrar a presença da CUT-Bahia, através de seus diretores
aqui presentes. Eu vou passar a palavra ao vereador Gilmar
Santiago, mas antes, em homenagem a um vereador que tem a
legitimidade, a representação e a importância do povo de santo
nesta Casa, eu vou transferir a presidência ao vereador Sílvio
Humberto, que ele venha continuar essa sessão.
Gilmar Santiago, por três minutos, depois Vilma Reis.
SR. VEREADOR GILMAR SANTIAGO: - Boa tarde a todos
e todas. Quero saudar as lideranças religiosas das religiões de
matriz africanas que aqui se encontram e dizer que esta sessão
de hoje é histórica porque toda vez que o povo de santo se
mobiliza, ele mostra sua força.
Aqui, vocês chegaram, ocuparam as galerias da Casa.
Existiam sugestões de que se pudesse ocupar a tribuna.
Lembro que o companheiro Valtério me perguntou se era
possível ocupar a tribuna aqui, o companheiro Samuel Vida, e a
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vereadora Aladilce fez um requerimento verbal para transformar
a sessão ordinária em especial. Nós negociamos com a liderança
do governo e com a Mesa e, ao final, diante da força da
mobilização, isso aconteceu.
E como disse o companheiro Suíca, nós ficamos durante
esse tempo juntos com o vereador Marcell e outros vereadores
tentando convencer o vereador Marcell a retirar o projeto. A
companheira Ebomi Nice conversou com ele, depois a Makota
Valdina tentou conversar com ele nesse sentido, junto com
Vilma Reis, e nós continuamos essa conversa.
Acho que isso demonstra que o vereador Marcell tem que
pensar bastante no que ele vai fazer daqui para a frente. E não
tenho nenhuma dúvida de que é possível que esse projeto seja
retirado pelo vereador na medida em que essa mobilização deu
provas de que ou ele retira ou essa mobilização vai continuar,
porque todas as vezes que se mexe com religiões de matriz
africana acontece isso.
Lembro muito bem, em 2007, quando a ex-secretária
Kátia Carmelo ousou derrubar um terreiro lá na Avenida Jorge
Amado, na época eu ocupava a Casa Civil, no primeiro governo
de João Henrique, e negociei diretamente não só o processo de
reerguer a casa, como de mandar para esta Casa um projeto de
regularização fundiária que foi aprovado e que precisa agora ser
regulamentado. Mas foi a mobilização do povo de santo que fez
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com que isso acontecesse. E não tenho nenhuma duvida de que
mais uma vez essa luta será vitoriosa.
Portanto, quero dizer aqui que a bancada de oposição,
constituída por sete vereadores do PT, dois vereadores do PSB,
dois do PC do B, são 11, e também não tenho nenhuma dúvida
que o vereador Hilton, do PSOL, que também faz oposição na
Casa, que esses vereadores, 12 vereadores, têm posição fechada
contra qualquer tentativa desse projeto ir adiante.
Mas nós não queremos apenas que esse projeto seja
retirado, nós queremos é que esse tipo de prática não continue
existindo aqui na Casa.
Para isso, inclusive, acho que esta é uma boa
oportunidade, vereador Edvaldo Brito, vereador Sílvio
Humberto, vereadora Aladilce, que está aqui na Mesa, vereador
Suíca, de se criar, já que se criaram tantos fretes parlamentares
aqui nesta Casa, de criar a Frente Parlamentar da Igualdade e
Contra a Intolerância Religiosa. E buscar, inclusive, que essa
Frente Parlamentar possa ser um espaço onde não apenas
vereadores da oposição, vi aqui a vereadora Eron Vasconcelos, o
vereador Isnard, que são de outra corrente religiosa, mas que
estão empenhados em buscar uma solução para essa situação.
Portanto, acho que o candomblé tem força suficiente
para fazer com que esta Casa, as pessoas, independente da
religião que professam, respeitem a religião que tem um marco
importante no processo civilizatório de nossa cidade.
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Podem contar conosco nessa luta.
SR. PRESIDENTE VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -
Obrigado, vereador Gilmar.
Com a palavra, Leonel Monteiro.
SR. LEONEL MONTEIRO: - Boa tarde a todos. A bênção
aos meus mais velhos, a bênção aos meus mais novos, a
bênção, minha Ebomi Nice, a bênção, Macota Valdina, meu
irmão Edvaldo Brito.
Eu quero dizer que quando tive as primeiras notícias
desta aberração nesta Casa, desse projeto proibindo o sacrifício
e a mutilação de animais em rituais religiosos, me causou
indignação tamanha que fiz aquilo que acho que deveria fazer:
me ajoelhei aos pés do orixá, aos pés, especificamente, de
Oxaguian, de Cassuté, e cantei.
MÚSICA
A bênção, orixá que parte para a guerra e nunca volta
sem vencer; Inquice, vodun, que vai à guerra e nunca volta sem
vencer.
E nós não vamos permitir, senhoras e senhores, que
ninguém mais derrube um terreiro nesta cidade. Que ninguém
fale da nossa religião sem saber o que está dizendo. Que
ninguém olhe nos olhos de senhoras, como estas aqui, para
falar que nossas crianças vão aprender a torturar animais.
Animal é quem diz isso.
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Nós não vamos permitir que sejamos colocados como
medievais. Medieval é quem não consegue enxergar um palmo
adiante do nariz e respeitar as diferenças.
Eu sou feliz, vereador Marcell, e forte porque sou filho
de Orixá, de Inquice e de Vodun, e me orgulho disto.
Ele não teve a hombridade de estar aqui conosco neste
momento, e nem de ir à imprensa, quando foi convocado.
Prometeu que iria e não foi.
Senhoras e senhores, tem gente que ainda não sabe, não
tem ideia do que a colocação que esse senhor fez no seu projeto
e na imprensa causa a nós. O simples fato de usarmos um
neguê, uma conta, de usarmos branco, já é suficiente para
termos nossos irmãos assassinados, para sermos agredidos
verbal e fisicamente, termos nossas casas invadidas.
Então, este projeto e esta fala do vereador Marcell
incitam o ódio religioso e nós não podemos permitir isso.
Este projeto é elitista, racista, intolerante e
inconstitucional. Muito já foi dito aqui, mas é preciso que nós
coloquemos novamente.
Parabéns aos vereadores. Todas e todos os vereadores
que estiveram aqui nesta tarde dignamente honraram esta Casa
contra esse projeto. O Sr. presidente também, que passou para
o nosso querido amigo a presidência.
Esta mancha que este vereador Marcell deixou na Casa,
felizmente, não vai macular a imagem da Casa por conta desses
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vereadores que hoje estiveram aqui, todos. E que merecem
nosso carinho e respeito.
Vereador Marcell, tenha a dignidade e a hombridade de
retirar esse projeto porque se você não retirar, nós retiraremos,
nós, povo do Axé.
E, amanhã, estaremos aqui, às 14 horas, aqui, amanhã,
para termos as notícias. Meio dia e meia, uma hora aqui, todos
aqui de novo.
Pai Anderson, o senhor foi agredido por aqueles policiais
e nós estamos com o senhor aonde for, o senhor sabe disso.
Nossos irmãos do Ventura estão precisando de nós também. A
roça já foi assaltada e até o ibá de sobô já levaram. Atentem
para isso, lá em Cachoeira, por favor.
Obrigado, e a bênção a todos. Axé.
SR. VEREADOR WALDIR PIRES: - Senhor presidente,
minhas colegas e meus colegas vereadores, minhas amigas,
meus amigos. Eu escutei tanto, acho tão bonita esta reação de
vocês, acho que isso engrandece tanto a nossa Casa, a beleza
de reação, e ao mesmo tempo um caminho que se abre
definitivamente na nossa história. É longa a luta de vocês, é
bonita a reação, a seriedade dela, a vontade de construir uma
sociedade decente e fraterna abrangendo todos, de todas as
cores, de todos os graus de fortuna ou de pobreza. Esta é a luta
que vocês representam hoje aqui, e que eu vou falar
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rapidamente, até porque o tempo precisa ser distribuído com os
outros, porque é a luta da humanidade.
Queria dizer a nossa irmã militante Ebomi Nice, e
também a nossa irmã militante Makota Valdina, queria dizer a
esta minha querida companheira, sabe que eu sinto tanto não
ter sido seu colega, mas a vida para mim ela se processa hoje
um ambiente de luta que me agrada enormemente, e que eu
quis viver, na realidade, esta é a luta da humanidade. A luta
contra o racismo é a luta contra as liberdades, é a luta contra
as igualdades que vem de quanto tempo, há quantos anos essa
humanidade vive?
Por isso, que eu quero dizer a vocês que eu fiquei
extremamente alegre com a rapidez da mobilização de vocês e
ao mesmo tempo com a vontade, a determinação, a energia de
levá-la adiante, que precisa da nossa paciência muitas vezes,
quando o mal é tão grande e tão forte.
Quantas vezes ele chega e abrange a nossa sociedade e
produz uma ditadura, e produz assassinatos, e produz torturas,
e produz exílio? Tantos companheiros! Vivemos este período
longo de 21 anos de luta. Essa é a luta para construir a
sociedade justa, a sociedade livre, a sociedade democrática, e
para ser democrática, ela hoje precisa não somente assegurar
as liberdades, a grande liberdade religiosa que foi sempre tão
oprimida ao longo de todo processo da civilização humana, a
proibição da liberdade espiritual e da crença, a matança,
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quantas vezes por motivos religiosos. Essa é a luta da
humanidade. Nós vamos continuá-la, nós temos que continuá-
la, nós não podemos perder nunca essa influência íntima,
espiritual da dignidade da pessoa humana, da dignidade do ser
humano, para construir as liberdades religiosas e para
construir todas as liberdades, inclusive, as liberdades políticas
e as liberdades das necessidades.
Então, quando se pratica o racismo, pratica-se o racismo
ofendendo toda a dignidade humana; quando se produz uma
sociedade de miséria, uma sociedade de fome, uma sociedade
de desemprego, está se humilhando a dignidade da pessoa
humana; e hoje, a grande luta do mundo contemporâneo, no
mundo todo é a de se construir as liberdades que assegurem a
dignidade política, a dignidade religiosa, a dignidade do homem,
da mulher, do jovem, da criança, a fé na nossa força, a fé na
nossa vontade, a fé, presidente, para que nós tenhamos a
vitória de uma sociedade decente.
SR. PRESIDENTE VEREADOR SILVIO HUMBERTO:
Sra. Vilma Reis.
SRA. VILMA REIS: - Boa tarde, para as pessoas que eu
não encontrei ainda. Meu nome é Vilma Reis. Nós sempre
dizemos o nosso nome e sobrenome, porque faz parte do modelo
civilizatório, a nossa tradição faz parte ter nome e sobrenome e
não dar nome a quem não tem nem apelido. E esse senhor que
apresentou esse projeto na Cidade do Salvador, uma cidade
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com 83% de negros, não tem nome nem sobrenome. A partir de
hoje, ele não representa os interesses da maioria desta cidade.
Esta cidade é nossa.
Nós queremos, primeiro, lembrar que há uma petição
rodando na internet desde ontem para que as pessoas
apresentem uma moção de repúdio a este vereador. Por isso,
minha gente, eleição tem implicações sérias, certo, Olívia?
Eleição tem implicações muito sérias, partidos não são todos
iguais, partidos políticos não são todos iguais.
E, como presidente do Conselho de Desenvolvimento da
Comunidade Negra do Estado da Bahia, nós estamos aqui para
dizer da nossa felicidade de ontem. Um jovem economista
negro, da Universidade Federal da Bahia, escreveu um texto
que todas nós estamos com orgulho, que é Nilton Luz. O texto
dele está aqui, publicado em várias páginas pelo Brasil afora,
dizendo, lembrando ao vereador Marcell Moraes, que nós não
somos, é verdade, não somos medievais, somos milenares. É
um desconhecimento dos momentos históricos da humanidade
por parte do vereador, e conhecimento serve para isso, uns
usam de forma equivocada para oprimir, nós estamos aqui
partilhando em nome da liberdade.
Outra coisa que nós nos preocupamos em vir dizer, aqui
hoje, é que assim como se tentou em Sorocaba, Piracicaba,
assim como se tentou na cidade de Petrolina, dia 24 de outubro
do ano passado, nós não podemos deixar em nenhuma cidade
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deste país que se crie aquilo que tão bem nos lembrou aqui o
nosso irmão Samuel Vida: ele não vai criar jurisprudência.
Agora, o inacreditável é que se aprovar essa lei em uma cidade,
cria jurisprudência para o conjunto do país, e nós não vamos
deixar o vereador fazer isso.
Esse é o risco, por isso a tentativa. Nós vamos mandar
para todas as pessoas que procurarem o Conselho, aqui está a
nota técnica da SEPI, desde o dia 24 de outubro, quando se
tentou contra a Mãe Renilda Bezerra, na cidade de Petrolina,
vítima do assédio violento de um Serviço de Vigilância Sanitária
na cidade de Petrolina, e junto com a rede de Terreiros de
Pernambuco nós tivemos que trazer esse documento para que o
Ministério Público de Pernambuco entendesse.
Aqui está também a denúncia da tentativa de um
parlamentar federal do Estado de São Paulo, que tentou fazer a
mesma lei que está se tentando fazer, nesse momento, em
Salvador. Não é uma coincidência, não foi um momento
desatento do vereador, existe um projeto nacional articulado,
quem viu a Carta Capital há duas semanas sabe que existe toda
uma articulação no país inteiro, para controlar as Casas
Legislativas, para aprovar questões que tem a ver com aborto,
com pesquisa com célula tronco, com ataque a religiões de
matriz africana e outras questões que têm a ver com
descriminalização.
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Por isso, para concluir, é muito importante dizer que a
questão que está em jogo aqui para nós é a crise de
representação no Estado brasileiro, e nós viemos aqui avisar ao
vereador Marcell Moraes que não haverá nada sobre nós sem
nós. Ele não nos representa, nós não somos minoria, não somos
carentes e não somos esforçados, somos maioria. Não somos
carentes, porque fomos secularmente roubados, não somos
esforçados, porque pessoas, inclusive, pessoas de pele clara ou
branca como ele, quando tem algum entendimento do que é
fazer parte da sociedade brasileira, nos chamam de inteligentes,
porque nós somos capazes de articular, inclusive, a existência
dele neste país até hoje.
Então, vivemos uma crise de representação onde as
pessoas pensam que os mandatos são delas. Os mandatos não
são delas, a sociedade soteropolitana deu um mandato a um
vereador, não é dele, não é, inclusive, nós queremos que o
partido dele se pronuncie nesse caso. Não vai dar para ninguém
ficar no armário, todo mundo vai ter que sair do armário, nós
queremos saber. Não vai dar porque tem muita coisa em jogo.
Eu tenho falado pouco, quando eu falo eu estou ficando
bastante cansada, mas hoje eu tinha que falar e vim falar
mesmo porque hoje é segunda-feira e nós gostamos de resolver
coisas no dia de segunda feira.
Para concluir, vereador Sílvio Humberto, nós estamos
com muito orgulho de sua presença aqui. Nós queremos
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terminar dizendo que, pessoa como o vereador Marcell, que
muitos antes dele vêm querendo criar carreira subindo em
nosso ombro, pisando em nosso lombo para crescer, dessa vez
não deu certo.
Nós estamos atentos, nós ficaremos de pé, e como
lembrou o vereador, só vale a pena, lembrando Steve Biko, ficar
viva se for com orgulho.
Então, a batalha está apenas começando e nós temos
certeza de uma coisa, as palavras de Newton nos fizeram
lembrar que a Bahia não está mais em 1976, como disse Tata
Comanangi, aqui no início desta sessão. Até 1976, nós
tínhamos que ir a Delegacia de Jogos e Costumes para tirar
licença, porque a nossa religiosidade era considerada
contravenção. Tínhamos que tirar licença para bater o
candomblé.
Nós entendemos quando as pessoas conseguem fazer
reportagens, Maca, sobre os escritores desta cidade que não
têm um único exemplo de escritor daqueles que vão ao Sarau
Bem Black. Isso, vimos ontem num certo jornal da cidade.
Mas, nós estamos aqui e vamos continuar. Nós
esperamos que o episódio Marcell Moraes seja um rápido
episódio na Bahia, porque quem tem muita pressa não chega,
se perde no caminho.
SR. PRESIDENTE VEREADOR SILVIO HUMBERTO: -
Sr. Hamilton Assis.
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SR. HAMILTON ASSIS: - Boa noite a todos e todas.
Sr. presidente, eu gostaria de pedir licença aqui aos
mais velhos, também aos mais novos, e dizer que eu me sinto
muito orgulhoso de participar desta manifestação, como tantas
outras manifestações que eu já participei. Uma delas, eu me
recordo, que é o que eu trago na alma, na minha essência, que
ficou expressa na voz de Mãe Rosa, quando ela deu a entrevista,
logo após a derrubada do seu terreiro, e perguntaram para ela o
que ela ia fazer. Ela disse: “ Meu filho, eu vou lutar, porque
quando a comunidade está ameaçada até Oxalá vai à guerra”.
Isso para mim foi um exemplo de que não se pode
duvidar da capacidade de luta, de resistência do nosso povo, da
sua história. E de que não é verdade que nós nos acomodamos,
de que nós não conhecemos os nossos direitos, mas que agora e
mais do que nunca está evidente que nós precisamos utilizar
dessa ferramenta poderosa que move a sociedade, que é a
política.
Eu tenho feito uma procissão de fé nos meus debates,
para convencer meus irmãos, meus pares, meus companheiros,
todos aqueles irmãos de luta, para dize: precisamos ensinar a
política para os nossos filhos, para os nossos irmãos, para
construir lutadores capazes de ocupar esta Casa, para fazer
projetos que venham transformar a realidade do nosso povo.
Digo isso aqui, porque nós precisamos ficar atentos a
um conjunto de outros projetos que devem estar emperrando
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esta pauta aqui e que sabemos que muitos deles estão ali para
servir os interesses dessa elite mesquinha, que nos oprime
historicamente há mais de 500 anos, que não tem coragem de
abrir mão dos seus direitos, dos seus privilégios, para acabar
com a pobreza e dar dignidade ao povo que é maioria desta
cidade.
Portanto, meus amigos, esta é uma luta que nós temos
que fazer aqui agora, mas sempre vigilante, observando a
Ordem do Dia desta Casa, porque, covardemente sempre está
sendo votado projeto contra os interesses do nosso povo, e não
é só do povo de matriz africana, é de todo o povo negro desta
cidade, mesmo aqueles que não professam as religiões de matriz
africana. Está aí o caso dos camelôs, está aí a situação dos
flanelinhas, das baianas do acarajé, e sabemos de tantos outros
que podemos enumerar aqui.
Portanto, irmãos, guerreiros de sempre, vigilantes,
vigilância sempre porque não basta eleger, temos que
acompanhar, porque a democracia nesta Casa só vai ser
garantida, os nossos direitos se nós ficarmos de olhos abertos e
sempre vigilantes, e não abrir a guarda, não baixar a guarda
nunca.
Axé para o nosso povo, e a luta é a nossa bandeira, essa
é sempre a nossa bandeira.
Muito obrigado.
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SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: - Muito obrigado,
Hamilton.
Agora a professora Amanaiara.
SRA. AMANAIARA MIRANDA: - Boa-noite, vou pedir
somente um pouco da paciência de vocês, pois estou sob o
efeito de uma violência sofrida na sexta-feira, sou filha de Mãe
Jacira, sou ekedi do Ilê Axé Bakugan
Na sexta-feira, no ponto do Extra, o que o vereador
Marcell diz ter medo, de um debate, eu tive num ponto de
ônibus. Eu que me achava cheia de mecanismos de defesa e
estratégias, nesse momento, sendo de Xangô, mas tenho o meu
junto com Oxalá, peguei o manto de Oxalá, o Alá de Oxalá, e
disse algumas palavras de ordem para a violência psicológica e
física que sofri, porque um evangélico veio com uma Bíblia
muito grossa, tocou no meu ombro, e naquele momento eu
disse algumas coisas e decidi passar para o outro lado do
ponto, porque senão eu seria mais um corpo estendido no chão.
Eles estavam em massa, na sexta-feira, por ser o dia
em que eles podem nos identificar pelo fato de estarmos de
roupas brancas.
Eu chorava muito no ônibus e as pessoas perguntavam
o porquê, se algum parente meu tinha falecido, e eu dizia que
tinha sido agredida. Liguei para minha mãe e procurei saber do
meu irmão pequeno, de santo, de dez anos, que já foi agredido
duas vezes, desde outubro para cá.
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Então, como é que uma criança que tem a coragem de
ser de uma religião que, historicamente, é discriminada, como é
que ela vai se manter, que coragem ela vai ter, já que foi
agredida duas vezes?
O caso que Hilton falou, contei também para uma
pessoa bem próxima dele, ele foi jogado contra a parede, ele é
um alabê, uma criança consagrada para ser alabê, yorubá, que
é o responsável pelos atabaques.
Fiquei muito preocupada e, nesse momento, passei para
o outro ponto do lado do Extra e eles estavam lá.
Estrategicamente, peguei um ônibus sem saber qual era o
destino, saltei na Rodoviária e eles novamente lá. Peguei outro
ônibus e saltei na Lapa e fui me refazer para que hoje estivesse
viva para lutar, pois essa lei que ele está propondo só fez
insuflar mais ainda os evangélicos contra a gente.
Alguns evangélicos, não vamos dizer todos, mas muitos,
por mais que não acreditemos, estamos no meio de uma guerra
santa. Essa é a realidade, porque todos os dias eu, mais outros
e outros e outras somos humilhados, a gente não se deixa
abater.
A gente precisa se preocupar, eu sou ekedi, e é a minha
identidade de ekedi que está aqui. É a minha identidade de
mulher negra, mas é a minha identidade também de professora
da rede municipal de Salvador que me faz estar aqui falando.
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Então, a gente tem que se preocupar com a
aplicabilidade da Lei 10. 639, que diz que tem que trabalhar os
conceitos, conteúdos, temáticas do povo africano e afro-
brasileiro, e a gente não tem acompanhado essa aplicabilidade
na Cidade do Salvador.
Dez anos depois, temos alguns limites, um deles é
trabalhar o respeito à religiosidade no ambiente escolar. Sabem
por quê? Porque, cotidianamente, a gente vem rememorando em
nossas escolas esse conteúdo, a religião do dominador, pois as
crianças desde o primeiro momento em que chegam à escola
são obrigadas a fazer o Pai Nosso, até nas escolas que dizem
aplicar a Lei 10 639.
Isso é uma rememoração do conteúdo dessa religião do
dominador, e aqui não estou fazendo a defesa de que a escola
brasileira vá fazer também os rituais do candomblé, porque a
única instituição que é responsável para oferecer e guiar as
crianças na religião é a instituição família. A religião escola vai
trabalhar consciência e a nossa religiosidade tem ciência.
Então, ou a gente decide que precisa acompanhar essa
educação desde a fase infantil, porque nós, adultos, as crianças
maiores, já estamos deformados, a gente se controla, a gente vai
ressignificar. Mas, a partir da educação infantil a gente tem a
possibilidade de instaurar outra sociedade neste país.
SR. PRESIDENTE VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -
Muito obrigado, Amanaiara.
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Vou passar a presidência da Mesa para a vereadora
Aladilce.
SRA. PRESIDENTE VEREADORA ALADILCE SOUZA: -
Com a palavra, o vereador Sílvio Humberto.
SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: - Muito obrigado.
Que tarde! Makota Valdina, que tarde, que segunda-
feira, 6 de maio de 2013. Que dia!
Como os oradores e as oradoras que me antecederam
falaram aqui, de fato, escrevemos mais uma página na história
política da Cidade do Salvador. E escrevemos bem, escrevemos
certo por linhas tortas, com todo o respeito ao Criador.
Vou rememorar isso aqui. Na semana passada, nesta
hora mesmo, estávamos no embate, alguns dos vereadores,
vereadoras, com o vereador Marcell que, lembrando, nós
passamos bem ali no plenário. E quando eu o questionei em
relação ao projeto anterior, ele me disse, bem ali, antes de subir
aqui, assim: “Eu ainda tenho outro projeto polêmico.” E esse
era o projeto polêmico.
Eu aí disse, com uma simplicidade de quem estava
zangado no dia, e os que me conhecem sabem que naquele dia
eu estava esquisito, estava meio estranho, não sabia bem o
porquê, só vim compreender isso depois. Eu disse para ele ali:
olha, Xangô vai dar na sua cabeça. Ele não acreditou, pagou
para ver. Tome, está aí, pagou para ver.
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Quando ele subiu aqui eu tornei a fazer referência
naquele sentido que eu trouxe aqui: educar porque o nosso
trabalho é de convencimento.
E eu sei que as pessoas que me colocaram aqui fazem
referência a essa minha capacidade de convencer as pessoas.
Em nome desse convencimento, Makota, que eu quero dizer que
a missão está dada e a missão está sendo cumprida.
O nosso trabalho aqui, cada vez mais eu sei o que eu
estou fazendo, por que eu fui chamado, neste momento, para
estar aqui, do alto dos meus 50 anos, e mais de 30 anos de
militância negra nesta cidade. Estava acumulando forças,
acumulando forças para, neste momento, poder destilar em
projetos, projetos de lei, falas, convencer as pessoas.
Quanto ao projeto, eu estava lembrando que esse
projeto, Samuel, ele é cheio de “in”, ele é inconstitucional, ele é
inconsequente, ele é intolerante, e ele é indefensável. E é por
isso que ele correu, porque se ele tivesse condições de defendê-
lo, ele estaria, não fugiria do debate, na sexta-feira passada, na
Tudo FM. Eu estava lá, na paz de Oxalá, para poder recebê-lo,
mas ele fugiu, ele não ficou para o debate.
Então, gente, a pergunta é: quem é ele que se sente na
capacidade de desafiar três nações:, Gêge, keto e Angola? Só
sendo muito arrogante, ou só sendo, eu acho que tem uma
expressão que diz assim: ori okô? Não tem isso? Nem isso, não
é?
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Sinceramente, é essa arrogância que gera essa
inconsequência, essa intolerância, e eu me lembro do vereador
Gilmar aqui a perguntar, lembrando-se da campanha: “Onde
mora o seu racismo?”.
E nas palavras traduzidas de arcaica, de medieval, isso
destilou, saiu de dentro do armário, e aqui temos que exorcizar
esses demônios, os demônios da intolerância não podem
prosperar.
E eu quero dizer que eu estou aqui muito feliz porque
essa capacidade nossa de juntar gente, de trazer intelectuais,
de lideranças religiosas para cá, ele não contava com isso. Ele
achou que eram, simplesmente, palavras jogadas ao vento em
nome de uma autopromoção, se valer de uma bandeira
importante.
E, quero deixar aqui o meu registro, sou membro da
Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, mas aqui tem uma
diferença, tem uma Frente em Defesa dos Animais e tem outra
que ele criou, porque ele não ouve, ele criou a Frente em Defesa
dos Animais e Meio Ambiente. Essa é a história da construção
desse vereador aqui dentro da Casa, aquele que não sabe ouvir,
tão jovem, 15 anos de meio ambiente, e querendo, como disse
Vilma Reis, desafiar uma religião milenar.
Acho que, às vezes, as pessoas acreditam que o menor
sempre pode vencer o maior, mas Davi só entrou para história
porque foi exceção. E exceção quer dizer que existe uma regra e
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essa regra quer dizer que você tem três nações poderosas que
vai vencer esse indivíduo tranquilamente.
E aqui quero chamar as pessoas, aproveitar esse
momento aqui, que estamos juntos, conclamar para outras
frentes de batalha; vencemos essa aqui, mas temos as creches
de nossa cidade, temos a educação publica de qualidade, que
precisamos acordar de manhã, de tarde e de noite, vereador
Hilton, lutando contra isso. A vitória que tivemos quando o
Ministério Público resolveu encaminhar à Prefeitura a
suspensão do contrato com Instituto Alfa e Beto, parte de
nossa missão sendo cumprida aqui.
Então, hoje quero encerrar meu pronunciamento,
dizendo que essa data, 6 de maio entra para História da Cidade
do Salvador, com aquele slogan que caracterizou a nossa
campanha: “Sozinhos nós somos fortes, mas juntos somos
inquebrantáveis”.
SRA. PRESIDENTE VEREADORA ALADILCE SOUZA:
Quero registrar a presença do Senalba/ Sindicato, da
CUT-Ba, e chamar para fazer uso da palavra a Sra. Ieda.
SRA. IEDA: - Bom, vou começar tomando a benção à
minha Macota Valdina, saudando a Mesa na pessoa simpática
de Aladilce, na pessoa aguerrida de Silvio, e ao nossos nossos
irmãos.
O que eu ia falar que estava me incomodando, Samuel
Vida já colocou aqui, não há possibilidade disso ser chamado de
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lei. E como já está claro, fiz um email distribuí para várias
pessoas e para os vereadores, dizendo que tem um louco aqui,
vereador ele não pode ser, que é o Monsieur Marcell.
O Monsieur Marcell, uma pessoa não brasileira, um
estrangeiro, que aqui chega, porque eles dizem: “Não sou desse
reino”, e não sendo desse reino nada mais natural que ele
desconheça os princípios legais do que é uma lei. Vim aqui, o
que moveu foi isso, Samuel.
Mas, quero dizer que para ser homem e dizer que pode,
ele deveria fazer uma lei que proibisse os padres de beberem,
porque bebem em serviço. Se houvesse uma lei que me
proibisse de matar para meu santo ou o santo de qualquer
pessoa que precisasse, eu mataria, porque eu posso ir presa por
matar para meu santo, não por estar envolvida com um pastor
que estupra uma criança e depois toca fogo. Posso ir presa por
matar para meu santo, nós sabemos que para o santo fazemos
qualquer coisa.
Terceiro, isso é uma Bíblia, isso é pemba. Arcaico é esse
livro que tem 1.900 anos. O candomblé se recicla. Aqui são
palavras escritas compiladas 100 anos após a morte de Cristo,
isso, sim, é arcaico é velho, é medieval.
SR. EVERALDO SANTOS: - Boa tarde a todos e a todas.
Eu quero saudar a Mesa na pessoa do vereador Silvio
Humberto, na pessoa da vereadora Aladilce Souza, do PC do B,
partido do qual faço parte com muito orgulho, tenho orgulho de
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ser comunista. Não sou ligado à nenhuma religião, mas, o
Movimento Social, neste momento, tem que estar aqui presente,
porque agora, professor Edvaldo Brito, essa tarde, tomei uma
aula de democracia.
A democracia se faz assim, protestando e lutando pelos
seus direitos. A própria Constituição e a democracia diz que se
faz apresentando o contraditório. Mas, vocês aqui não estão de
parabéns por apresentar o contraditório, mas por ser contra um
contraditório arbitrário de um vereador que chegou a esta Casa
– porque, infelizmente, professor Edvaldo Brito, muitas Casas
Legislativas estão mal frequentadas.
O nosso povo, às vezes, paga por isso. Infelizmente, nós,
cidadãos, temos que nos politizar e aprender a politizar os
nossos entes queridos, os nossos irmãos, para poder saber
votar. Porque a Cidade do Salvador, hoje, como a companheira
disse, que tem 83% das pessoas negras e onde só 9% dessas
pessoas estão nas universidades públicas deste Estado,
deveríamos e temos a obrigação de dar uma resposta. à altura
que vocês estão dando agora, mas dar uma resposta também
nas urnas, nas próximas eleições que estão por vir aí.
Companheiros e companheiras, pessoas como essas, me
perdoe a ousadia da palavra, nunca deveriam ter um único voto
sequer de uma pessoa negra, quer defender o animal, não é
dessa maneira, defender o animal é cuidar. Nós também somos
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raça humana. Nós somos animais, porém, animal vertebral. Nós
pensamos, nós não somos aqui outra coisa.
Quem de nós não gosta de ir a uma bela churrascaria, a
melhor que seja, para poder ter o direito a nos alimentar? Basta
ter condição. Alguns, em umas melhores, outros, em algumas
piores, e até nas nossas lajes, fazermos o nosso churrasco e
comermos uma galinha. Eu, por exemplo, sou fã de uma
galinha caipira, uma galinha de molho pardo, como minha
própria mãe me ensinou a fazer. Quer dizer que esse meu
direito, ele quer me tirar também? Isso é um direito que cada
um de nós temos e que querem nos tirar isso.
Está de parabéns, vereadora, quando, no momento, você
pôde propor essa audiência. Sabem por que, companheiros?
Você sabe que tem momentos da nossa vida que a gente tem
que pensar e dizer: “Há males que vêm para bem”. Porque se
não fosse este vereador, hoje vocês não estariam aqui
discutindo e trazendo não só este problema, onde essas
oligarquias que há muitos séculos nos perseguem, que tira de
nós os nossos direitos, mas é através desse momento que se
chama para a sociedade desta cidade a discussão de uma
religião onde muitos querem sacrificá-lo também.
Então, companheiros e companheiras, para concluir, eu
quero dizer que vocês estão de parabéns. E o Sindicato dos
Servidores da Prefeitura de Salvador, Sindseps, do qual eu faço
parte, está junto com vocês nessa luta e queremos dizer que
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estamos para o que der e vier. E não podemos permitir que
outro vereador tenha a ousadia de fazer o que esse fez.
E queremos ir mais além ainda. Esta Casa, ela tem um
dever moral de derrubar esse vereador é no voto, para mostrar
que ele tem que ficar sozinho. Sabe por quê? Porque vocês não
estão sozinhos, além de terem vários vereadores que cultuam
também, vocês têm muitos outros que mesmo não cultuando
apoiam, porque todos os seres humanos têm que ser
respeitados.
Muito obrigado a todos e a todas.
SR. VEREADOR EDVALDO BRITO: - Sr. presidente,
antes de V. Exa. encerrar a sessão, quero comunicar a todos
que amanhã vai haver a sessão da Comissão de Reparação, da
qual eu sou o presidente e que já fiz rodar na Casa que o
vereador Sílvio Humberto é participante também. Uma
convocação para que no dia de amanhã, nós escolhamos uma
data para uma sessão para discutir esse tema numa audiência
pública. Há males que vem para o bem, como eu vi agora, se
não fosse essa tentativa esdrúxula, idiota de nos atingir, nós
não estaríamos, portanto, mobilizados.
Além do mais, já estão confirmados os dois secretários
municipais, convocados por nós da comissão, para virem
discutir aqui, qual é a programação do governo municipal para
a assistência à saúde específica do negro nesta cidade. Por isso,
eu peço licença ao presidente, já que cantamos para Ogum no
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começo, encerrarmos com um Ageré bonito com a seguinte
cantiga, que quem está aqui sabe que eu quero dizer.
(Música).
SR. PRESIDENTE VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -
Obrigado, professor Edvaldo Brito.
Antes de encerrar a sessão, eu gostaria que fosse
retirado os termos medieval e arcaico em relação à Bíblia,
porque não podemos “com ferro fere, com ferro será ferido”.
Então, em nome da pluralidade e esta é uma Casa da
democracia, gostaria que esses termos fossem retirados.
Declaro encerrada a sessão histórica que deu um basta
à intolerância religiosa.