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Praça Thomé de Souza, s/nº, Centro – Salvador – Bahia CEP: 40.20-010 / Tel:. 3320-0100 / www.cms.ba.gov.br 1 SESSÃO ESPECIAL PARA DISCUTIR O PROJETO DE LEI DO VEREADOR MARCELL MORAES REALIZADA NA CÂMARA MUNICIPAL DE SAALVADOR NO DIA 6 DE MAIO DE 2013 SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Professor Edvaldo Brito, nos dê a honra de compor a Mesa. Convido Jacilene Nascimento para compor a Mesa, Ebomi Nice, Macota Valdina, Comanangi, Tata Eurico comandando diversos segmentos presentes nesta sessão. Pergunto também aos defensores do projeto se tem alguém que deseje, tem desejo de estar na Mesa para se manifestar. Convidar a ex-vereadora Olívia Santana também para fazer parte da Mesa. Por favor, pode abrir, solicitar à segurança que permita que os que estão aí retidos na portaria possam ter acesso ao plenário, no limite da tolerância da segurança do prédio. Solicito ao cerimonial e à administração que providencie cadeiras para colocar aqui, no centro, no centro aqui do plenário. Cada orador que vai utilizar o tempo, que estão na Mesa, terão cinco minutos, com a tolerância da nossa Mesa, e os que estão no plenário, que utilizarem da palavra, três minutos.

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Praça Thomé de Souza, s/nº, Centro – Salvador – Bahia

CEP: 40.20-010 / Tel:. 3320-0100 / www.cms.ba.gov.br

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SESSÃO ESPECIAL PARA DISCUTIR O PROJETO DE

LEI DO VEREADOR MARCELL MORAES REALIZADA NA

CÂMARA MUNICIPAL DE SAALVADOR NO DIA 6 DE MAIO DE

2013

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Professor Edvaldo Brito, nos dê a honra de compor a Mesa.

Convido Jacilene Nascimento para compor a Mesa,

Ebomi Nice, Macota Valdina, Comanangi, Tata Eurico

comandando diversos segmentos presentes nesta sessão.

Pergunto também aos defensores do projeto se tem

alguém que deseje, tem desejo de estar na Mesa para se

manifestar.

Convidar a ex-vereadora Olívia Santana também para

fazer parte da Mesa.

Por favor, pode abrir, solicitar à segurança que permita

que os que estão aí retidos na portaria possam ter acesso ao

plenário, no limite da tolerância da segurança do prédio.

Solicito ao cerimonial e à administração que providencie

cadeiras para colocar aqui, no centro, no centro aqui do

plenário.

Cada orador que vai utilizar o tempo, que estão na Mesa,

terão cinco minutos, com a tolerância da nossa Mesa, e os que

estão no plenário, que utilizarem da palavra, três minutos.

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SRA. VEREADORA ALADILCE DE SOUZA: - Pedimos

silêncio. Eu acho que esta é uma sessão histórica, importante, é

uma manifestação de luta e de afirmação do povo de santo

nesta Casa, que é a Casa do povo.

Gostaríamos de registrar que o requerimento para a

transformação da sessão foi aprovado pela maioria dos

vereadores e vereadoras desta Casa, tanto da bancada do

governo como da bancada de oposição, como dos

independentes.

Com votos contrários, apenas dois votos contrários,

registrados, pediram para ser consubstanciado em Ata, do

vereador Edvaldo Brito e o vereador Alfredo Mangueira.

Com a palavra, podemos começar, Lessa?

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Vamos combinar como é que será a fala.

V. Exa. quer falar, professor Edvaldo?

Então, primeiro orador inscrito, professor Edvaldo Brito,

vereador desta Casa, por cinco minutos.

SR. VEREADOR EDVALDO BRITO: - Eu queria dizer a

todos que aqui estão presentes que nem consideramos isso uma

luta de nós, pessoas de santo, com outros quaisquer

segmentos.

Nós consideramos isto que está aqui, a afirmação e a

reafirmação dos valores daqueles que cultuam os orixás nesta

terra, que pertence aos orixás.

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Se alguém tiver dúvida disso, Sr. presidente, eu quero

demonstrar, Sr. vereador Waldir Pires, a quem agradeço as

palavras de apoio, quero demonstrar, Sr. vereador, que os

orixás não punem ninguém, mas também eles se desgostam de

algumas pessoas.

E foi assim que ao destruírem uma casa de santo nesta

cidade, na gestão passada, todos os outros que fizeram isso

tiveram desgosto dos orixás.

E eu, então, em vez de falar, falar e falar, vou ver se o

meu povo responde, Sr. vereador Alfredo Mangueira, a uma

oração do orixá que abre caminhos. Quer ver que vão

responder?

ENCERRA O DISCURSO COM UM CANTO AOS ORIXÁS

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com

a palavra, Ebomi Nice.

SRA. EBOMI NICE: - Primeiro, quero agradecer a

Olodumaré e a Orunmilá. Quero agradecer a toda nossa

irmandade por ter comparecido e repudiado esse ato.

Esse projeto que foi tentado para nossa religião serviu

para demonstrar a união que temos, quando estamos juntos.

Com a força do Orixá, nada, nada, nada nos impede. Peço a

Olodumaré, peço a Oiyá, que sai, que assim como ela lutou

junto com Ogum nos campos, venceu sem colocarmos uma

lágrima, que nós venceremos todas.

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Muito obrigado. Peço a vocês, meus irmãos, meus

amigos, estarmos juntos.

Obrigada também a todos os vereadores desta Casa. Eu,

com 70 anos de idade, nunca tinha visto uma coisa dessa

contra uma religião dentro desta Casa.

Então, agradeço ao presidente desta Casa, Dr. Paulo

Câmara, e a todos os demais vereadores, que agora não sei o

nome de todos para agradecer, mas quero dizer que vocês estão

lutando por uma causa justa, uma causa de uma religião

milenar, a religião de matriz africana. O candomblé é milenar.

Então, estamos todos juntos. Não vamos nos preocupar,

porque em primeiro lugar temos a justiça divina, “Obanixá,

Xangô, Kaô kabecilê”. É justiça que estamos pedindo, é respeito

a nossa religião. Porque esse projeto é para os frigoríficos, para

os abatedouros, isso sim, que eles não fazem para defender a

humanidade e nós trabalhamos para defender a natureza, com

amor e respeito. Então, nós pedimos respeito.

Muito obrigada.“Axé Kaô kabecilê, Kabecilê, kabecilê”.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Muito obrigado, Eboni Nice.

Com a palavra, o vereador Everaldo Augusto, por cinco

minutos.

SR. VEREADOR EVERALDO AUGUSTO: - Senhor

presidente, Senhoras e Senhores vereadores, representantes

dos terreiros e das casas de santo, representantes do povo da

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Bahia, quero aqui falar em nome do PC do B, já que sou líder

desse partido nesta Casa, partido que acabou agora de

completar 21 anos, que tem sido durante sua trajetória um dos

mais ofensivos defensores da liberdade religiosa em nosso país.

Aliás, esse termo liberdade religiosa quem introduziu no

Parlamento brasileiro, na vida política brasileira foi o PC do B,

na Constituinte de 1945, através do então deputado Jorge

Amado, baiano que todos nós conhecemos, que colocou, pela

primeira vez na história do Brasil, a liberdade de culto religioso

na Constituição de 1946.

E de lá para cá, nós andamos muito; de lá para cá, nós

lutamos muito, ocupamos muitos espaços. E sabemos o quanto

é difícil para o pobre, para o negro, para o comunista, para

quem vive ao lado do povo, para a gente do povo ocupar espaços

nesta sociedade; é a muito custo. E nós, que andamos tanto e

chegamos até aqui, não podemos aceitar o mínimo sinal de

desrespeito a qualquer tipo de religião.

E o que vocês fizeram aqui hoje, com apoio dos partidos

que estão aqui nesta Mesa, vai ser lembrado por muito tempo.

O que vocês vieram fazer aqui hoje, resignados numa só ideia

de tirar desta Casa uma ofensa que, se passasse, perduraria

durante muito tempo como uma nódoa, como uma mancha na

vida desta cidade.

E nós do PC do B estamos aqui para dizer que nós

exigimos a retirada desse projeto. Esse projeto, nós já dissemos

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isso para o seu autor, inclusive, aconselhando-o. É um vereador

jovem, pode até ter sido movido por bons propósitos, mas o que

ele escreveu no papel é um crime contra o povo negro desta

cidade.

Dissemos a ele: “Marcell, retire o projeto. Se você quer

apresentar um projeto na Câmara de Vereadores, de proteção

aos animais, contra qualquer tipo de maltrato, você apresente,

mas não faça isso atingindo a alma da cidade, não faça isso

atingindo uma religião, um projeto feito de encomenda para

atingir uma religião que não é uma religião qualquer”. Todas

são importantes, mas essa a que nós estamos nos referindo,

como já foi dito aqui, é a nossa alma. É devido a essa religião

que nós somos baianos, que nós somos brasileiros. Se retirar

isso daí, a gente não é nada.

Então, não podemos aceitar esse tipo de violência. Por

isso que a posição do PC do B é muito clara. Nós achamos que

esse projeto deve ser retirado da pauta, porque ele é

inconstitucional, ele é inconsistente. A Constituição garante a

liberdade de culto, por isso que é inconstitucional, ele é

inconsistente. Com tantos problemas que nós temos nesta

cidade para ser discutido nesta Casa, ele apresenta um projeto

desses. Será que ele não tem mais o que fazer para apresentar

um projeto desses para agredir a consciência da cidade?

Eu me dei ao trabalho devido à insistência do vereador

Marcell, que eu acredito nos bons propósitos dele, mas a

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insistência dele que esse projeto era progressista. Fui verificar,

Sr, presidente, peguei a Declaração Universal dos Direitos dos

Animais, existe a Declaração Universal dos Direitos dos

homens, todo mundo sabe disso, mas a dos animais quase

ninguém sabe, mas existe também, é coisa recente, 1977, foi

aprovada pelo ONU, lá em Bruxelas. Li todos os seus artigos,

um por um, não tem um dizendo o papel, o lugar, o espaço dos

animais em qualquer tipo de religião.

Os animais têm um simbolismo: no candomblé, no

hinduísmo, em várias religiões E lá na Declaração Universal dos

Direitos dos Animais não tem uma palavra, portanto, esse

projeto não tem consistência. Quem tem estudo aqui, quem está

na faculdade ou mesmo quem tem um estudo acerca da

filosofia, existe um campo da filosofia chamado ética dos

animais, e a ética dos animais é para estudar a relação do

homem com os animais no plano material, não entra também

nesse simbolismo religioso. Então, além de ser inconstitucional,

além de ser inconveniente, ele é também inconsistente do ponto

de vista. Não há razão para que ele passe por esta Casa.

Pela retirada já deste projeto.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com

a palavra, Tata Comanangi.

SR. TATA COMANNAGI: - Irmãos eu quero que nós

analisemos. Há pouco tempo o Estado brasileiro, nós do

candomblé só poderíamos tocar ou fazer algo em nossas casa

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pedindo permissão ao Estado através da Jogos e Costumes.

Agora, um vereador, um homem do Partido Verde, um partido

que deveria estar de braços dados com o terreiro de candomblé,

que protege a natureza, faz uma coisa dessas? É um traidor ele

e traidor o Partido Verde. A gente nunca viu esse homem em

São Bartolomeu, nunca viu no Abaeté, nunca viu em Pituaçu,

em lugar nenhum para defender os animais nem a natureza.

Ele é covarde, se esconde debaixo das saias das mulheres. Isso

aconteceu ontem na Bandeirantes e agora ele não teve a

coragem de ficar aqui para enfrentar as besteiras que ele fez.

Ele deveria ser preso, porque ele está cometendo um crime de

intolerância religiosa. O PV nos deve essa, porque colocar um

homem maluco, insano para querer complicar, para querer

criar uma guerra que estava sossegada e agora vir à tona.

Esse homem é responsável pelo que acontecer daqui para frente

E com isso, gente, eu agradeço a todos vocês. N‟Zambi

Sambulá. Primeiro, eu vou aqui saudar nossos inquices e orixás

e voduns.

Eu vou cantar uma cantiga do caboclo que simboliza

todos nós.

(CANTANDO)

SOU BRASILEIRO, SOU BRASILEIRO SOU BRASILEIRO, SOU BRASILEIRO SOU BRASILEIRO, IMPERADOR

MAS EU SOU FILHO DO BRASIL SOU BRASILEIRO, O QUE EU SOU MEU PAI BRASILEIRO

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MINHA MÃE BRASILEIRA MEU PAI BRASILEIRO MINHA MÃE BRASILEIRA BRASILEIRO IMPERADOR

(SOU BRASILEIRO) EU SOU DO BRASIL (SOU BRASILEIRO) BRASILEIRO O QUE EU SOU

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com

a palavra, o vereador Léo Prates.

SR. VEREADOR LÉO PRATES: - Sr. presidente, meus

amigos, o que me traz a esta tribuna, infelizmente, não são boas

notícias. Mas o que me traz este dia são três coisas que vencem

qualquer batalha: a amizade, o amor e o princípio.

Hoje está aqui a ex-vereadora Olívia Santana, a

vereadora Aladilce, o vereador Edvaldo Brito, a vereador

Fabíola, o vereador Waldir Pires, gente das mais distintas

correntes ideológicas e pensamentos filosóficos unidos, mas é

porque algo no momento está errado na Câmara de Vereadores

de Salvador.

Quero dizer, ao iniciar esta minha fala, professor Waldir,

que os princípios que V. Exa. falou, inclusive, inconstitucionais,

aprendi dentro de minha casa.

Sou neto de um avô espírita e de uma avó batista. Sou

filho de uma mãe católica e de um pai espírita. Sou católico de

formação, mas o respeito e os princípios, principalmente, estão

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norteados pelo amor e a amizade que eu construí com o povo de

santo.

E a todos que estão aqui, eu queria saudá-los na pessoa

de um amigo que me viu nos piores e melhores momentos de

minha vida. Mas a diferença de religião nunca impediu de

sermos amigos e fiéis colaboradores. Refiro-me a Leonel

Monteiro, da AFA, presente neste evento. As diferenças

ideológicas e talvez a maior delas esta Casa nunca permitiu,

mesmo que divergindo veementemente do pensamento dele e ele

do meu, nunca me impediu de chamar o companheiro Hilton de

amigo, porque sou movido por sentimentos e princípios,

professor Waldir.

E quero aqui pegar a fala de Tata Comanangi,

principalmente, no final, quando fala do elemento e da luta do

povo de santo pela natureza e da defesa do princípio de

harmonia com a natureza. Tive aulas, inclusive, esta semana,

com Hilton Coelho.

E hoje, vereadora Olívia Santana, a recuperação do

Parque de São Bartolomeu se deveu e muito à luta do povo de

santo. Impressiona-me, e talvez me deixe estarrecido, em

pensar, neste momento, como disse professor Waldir, em se

atentar com o princípio mais básico do ser humano: o princípio

da crença que nada mais é do que o princípio do acreditar, do

crer; um elemento básico para nós vivermos um sonho, uma

realidade; a possibilidade de que nós sejamos um dia melhores

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do que somos hoje; a crença que existe em entidades ou santos

que são melhores do que nós e que nós podemos um dia ser

melhores.

É isso que todos nós acreditamos, é isso que nos une. E

aí, Tata, você me permita defender a diversidade de religião. Eu

também quero lhe dizer que a vice-prefeita, Célia Sacramento,

fez um comunicado dizendo que não concorda com esse projeto.

Nós não podemos pegar uma atitude individual e transformar

numa atitude partidária. Cabe ao partido tomar atitudes como

fez, porque, vereadora Fabíola Mansur e vereador Sílvio

Humberto, V. Exas. sabem o que é uma atitude individual

prejudicar um partido inteiro. V. Exas. viveram isso.

No mais, é dizer que a hora que este projeto for votado,

seja na CCJ, seja no plenário, este vereador é terminantemente

contra e votará com o povo e com a cultura desta cidade.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Obrigado.

Com a palavra, Makota Valdina, por cinco minutos.

SRA. MAKOTA VALDINA: - Em primeiro lugar, quero

saudar os vereadores desta Casa aqui presentes, o presidente

desta Câmara, e dizer que não podia nem sair hoje, mas estou

aqui porque sou, antes de qualquer coisa, uma militante negra.

Foi como militante negra que empunhei a bandeira,

empunhei a bandeira pela veia da religiosidade, da minha

espiritualidade, do candomblé. Em 1975 fui iniciada, nós

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também estávamos aqui descobrindo as formas, as nuances do

racismo, dos preconceitos, da discriminação contra nós, eu

empunhei a bandeira para militar, enquanto negra, a partir da

religião, porque comecei também a observar o quanto de

racismo pesava sobre nós.

E, chamo atenção de meus irmãos negros aqui: essa

coisa de intolerância, o termo não é esse, nós temos que lutar é

contra o racismo, sim.

No dia em que esta Nação, este Estado, esta cidade não

for racista, nós não teremos nenhum peso sobre nós enquanto

religiosos do candomblé; nós seremos aceitos, porque é normal,

porque a sociedade estará aceitando a pluralidade e a

diversidade que ela é.

Então, temos que lutar contra o racismo, sim, porque, à

medida que vamos conquistando, são migalhas diante de tudo o

que merecemos, são migalhas que temos conquistado. Mas, à

medida que vamos conquistando e ocupado espaços e uma

coisa que é fantástica, e uma coisa que é fundamental como

isso aqui, o poder de voz, o poder da fala.

Quanto tempo a gente viveu amordaçado! Esse poder, a

gente conquistou, a partir de 2003, nós conquistamos.

E quanto mais a gente vai avançando, a gente mostra

aquilo que a sociedade tem que dar para nós, tem que devolver

para nós, a maneira como esta sociedade tem que nos ver mais,

tanto mais esta sociedade mostra a sua cara racista. E mostra

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de várias maneiras, o racismo tem se sofisticado cada vez mais.

Atentem para isso, atentem para isso.

Eu dei algumas palavras com o vereador, que deveria

estar aqui e não está, mas eu estive com ele. Eu nem sei o nome

dele, eu sei que me levaram até ele e eu vou relatar aqui o que

eu falei com ele, porque é o que eu gostaria de dizer na

presença de todos.

Primeiro, eu disse que ele foi muito infeliz quando fez

um projeto desse.

Segundo, eu o fiz ver que deveria canalizar toda a

energia dele, já que ele era um ambientalista, para projetos que

realmente contemplassem isso. E chamei a atenção dele, que

está tão preocupado com os animais, que seres humanos, vidas

humanas, nossos jovens, nossas crianças estão sendo

assassinados.

Se ele quer contribuir para o equilíbrio do meio

ambiente, por que isso também é um problema ambiental, ele

faça um projeto nesse sentido.

Chamei a atenção dele que desta Casa, infelizmente,

decisões foram tomadas no sentido da devastação da nossa

Mata Atlântica, a exemplo do que a gente vê na Paralela.

Eu, que fui uma lutadora, junto a tantos outros, pelo

parque, quanto nós sinalizamos, quanto nós demos à Prefeitura

para que se movesse outro olhar em relação ao Parque

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Metropolitano de Pirajá, onde está o Parque São Bartolomeu.

Agora diz que tem um projeto.

Mas eu chamei a atenção do vereador, que eu acho que

está no início, começando, tem muito a aprender, e ele veio com

alguns argumentos, e eu disse a ele que, para mim, não é meio

nem meio mais, que eu só queria que ele retirasse este projeto.

Foi o meu pedido, o pedido que eu fiz em nome do meu

povo.

Eu gostaria de chamar a atenção sobre uma coisa: nós

precisamos fazer mais disso, nós temos que acompanhar

aqueles que nós colocamos nos lugares, porque se eu não votei,

se outro aqui não votou, mas todo mundo que se elege nesta

cidade se elege com o voto negro. Nós não somos maioria? Nós

temos que vigiar, não é colocar um vereador, um deputado, nós

temos que vigiar, e temos que fazer mais disso.

Eu agradeço muito, agradeço a todos os vereadores que

estão do nosso lado, que estão nos apoiando, mas eu agradeço

muito a sua atuação, Sílvio Humberto.

Esse está aqui para fazer o que a gente sempre quis.

Está aqui, foi eleito com o voto negro, é comprometido, dá conta

do que está fazendo, como tantos outros também.

É isso aí, continue vigiando, que foi para isso, é para

isso que nós queremos você aqui.

E que os inquices, porque esta cidade não é só de orixá,

esta cidade é, antes de tudo, muito feliz, foi como Anangí, dos

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índios, que são os donos da terra do Brasil. Depois dos índios,

negros que chegaram aqui. A história nos conta, foram negros

chegados do Congo e de Angola.

Então, esta cidade é também dos inquices, porque

Angola também tem língua. Angola não fala em yorubá, Angola

fala em quicongo. Esta cidade é dos vodun, porque vieram

negros também do Benin. E vieram, lógico, memória mais

recente que nós temos, negros do Reino de Ketu, da Nigéria.

Mas a gente tem que se lembrar de quem somos lá atrás.

Muito obrigado, desculpe, mas eu falo muito mesmo e

tenho que falar.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Vereador Alfredo Mangueira.

SR. VEREADOR ALFREDO MANGUEIRA: - Sr.

presidente, Srs. vereadores, meus irmãos, eu estou satisfeito,

hoje, nesta Casa.

Hoje foi um dia, para mim, de alegria. Não foi de tristeza

não. Não é só porque vocês estão aqui hoje não, é porque eu vi

dois evangélicos lutando pela gente. Dois evangélicos, desta

Casa, falaram favorável ao candomblé.

E eu vou destacar o nome dos dois: a vereadora Tia Eron

e o vereador Héber, defendendo. E o terceiro, o vereador Isnard,

também defendendo a gente.

Mas, meus irmãos, eu estava viajando, na terça-feira,

quando eu soube do projeto, eu estava em Ribeira do Pombal.

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Quando eu entrei no site estava lá a notícia do vereador

Marcell. Eu não me preocupei. Eu não me preocupei porque eu

tenho amigos nesta Casa, além de ter amigos, eu faço parte da

Comissão de Constituição e Justiça, da qual eu tenho certeza

que o vereador Waldir Pires, que estava aqui assistindo a

Valdina, neste momento, amanhã, às 11horas, vai dar o parecer

contrário.

Tenho certeza que o meu professor, que sempre me

ensinou e que veio para esta Casa para acabar de me ensinar

mais ainda, o professor Edvaldo Brito, vai acompanhar também

o parecer contrário. Tenho certeza de que o vereador Léo Prates,

que nos sucedeu aqui há 20 minutos, também vai dar o voto

contrário. Então, o processo está morto na comissão. Nós não

podemos nos preocupar.

Agora, valeu a pena a manifestação de vocês, porque

vocês estavam calados, entocados nas nossas roças. E nós

mostramos que temos cara, que somos gente e estamos aqui

para nos defender.

Se fosse para defender com unhas e dentes, nós íamos

defender com unhas e dentes. Mas graças a Deus, Oxalá não

quis isso.

Oxalá veio, jogou o manto dele e cobriu. E nós vamos

sair daqui vitoriosos com o voto derrotado na Comissão de

Constituição e Justiça.

Obrigado.

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SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Sra.

Jacilene.

SRA. JACILENE: - A bênção, minha mãe Jacira, meu pai

Guilherme, e todos os mais velhos e mais novos.

Eu quero agradecer primeiro a esse povo de inquice, de

vodus, de orixás, de caboclos e de encantados, que ocuparam

esse espaço e mostraram que temos religiosidade e não estamos

nessa religião à toa, e que ser de candomblé não é relativo e sim

é essência na nossa vida. E que não viemos aqui para brincar,

pois temos objetivos e não aceitaremos, de forma nenhuma,

emendas em projetos.

Queremos sim, a retirada do projeto, e convido os meus

irmãos aqui presentes para amanhã, às 11 horas, acompanhar

essa retirada. Precisamos estar aqui para acompanhar a

retirada do projeto, e é importante, neste momento, não tem

diferença de nação e nem partidária, é o povo de terreiro, de

orixá e de santo, de inquice, vodus e encantados, juntos com as

forças que todos eles nos dão para aqui estar e mostrar a cada

vereador desta Casa que temos religião, temos história, e que

essa história desta cidade foi feita por esse povo de resistência.

Nós resistimos aos Navios Negreiros, à clandestinidade, e por

que não vamos resistir a Marcell Moraes? Ele é muito pequeno

para a gente.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Registrando que os vereadores Luís Carlos Suíca, Gilmar

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Santiago e Moisés Rocha, da bancada do PT, estão em processo

de negociação com o autor do projeto, com um grupo de

vereadores conversando e negociando, pois essa é uma Casa da

negociação, do parlamento, do debate.

SRA. VEREADORA FABÍOLA MANSUR: - Quero pedir

agô a mãe Nicinha, Macota, Tata Comanangi; saudar o povo de

santo que vem a esta Casa, e unido, faz história. Porque esse

projeto vem errado desde a sua raiz. Não se mexe com o povo de

santo, não se mexe com uma religião que defende a natureza

mais do que todas, e sem natureza, não há candomblé, Mãe

Nicinha, sem candomblé não há povo de santo, sem povo de

santo não há Salvador, porque a história desta cidade é

intimamente relacionada ao povo de santo.

Esta Casa é a Casa do Povo e, portanto, a Casa do Povo

de santo é a Casa da democracia, e, portanto, a Casa do

respeito, do respeito à diversidade, do respeito às liberdades.

E quero saudar minha amiga, nossa subsecretária

Olívia Santana, que nesta Casa viu ser aprovada a lei que

combate a intolerância religiosa, e essa projeto é um retrocesso.

Não se pode discutir a natureza enquanto houver em nossas

mesas, já dizia Mãe Stella, no nosso prato, galinha, porco, boi,

vai ter também essas comidas e oferendas aos orixás. A nossa

religião, e eu que sou católica batizada, mas Oxossi que é o meu

guia.

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É o candomblé é a ponte entre o humano e o divino, e o

povo de santo é, sim, um povo que é sofrido, e respeitar a

religião, como não foi feito há anos, precisa esse povo estar

aqui, como Macota Valdina bem disse: “O povo de santo tem

que se unir com a força dos orixás, para trazer a esta Casa

projetos que são importantes, mas que também defendam a

tolerância a todas as religiões”. Como muito bem disse o nosso

vereador Alfredo Mangueira: “Todas as religiões têm que ser

respeitadas, os evangélicos, os católicos e o povo de santo”.

Mas, não pode haver um projeto que seja contrário a

tudo que foi conquistado e em detrimento de tantos outros para

as crianças negras, pobres, da periferia, essas, sim, seres

humanos que merecem ter os seus direitos preservados.

Eu acho que a gente faz história. Nós fizemos história e

faremos, e eu me orgulho, Macota, de ser companheira do

vereador Sílvio Humberto, aliás, nós defendemos pelo PSB a

tolerância, a liberdade individual.

Portanto, é nosso papel fundamental de nos incluir a

essa defesa e banir este projeto, porque democracia não é isso.

Democracia não é aceitar tudo, democracia é respeitar uma

tradição, é respeitar religião, é respeitar a Constituição Federal,

que determina liberdade de culto neste país.

Então, realmente, o manto de Oxalá está nesta Casa e

não mais sairá, e enquanto eu for vereadora desta Casa e

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Oxossi me guiar, Mãe Nicinha, projetos como esse não

passarão.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Para

que possamos ter a fala de todos, são dezenas que estão aqui

inscritos, gostaríamos de fazer um apelo aos oradores, do

respeito ao tempo, para que todos possam se pronunciar.

Com a palavra, a ex-vereadora Olívia Santana, por três

minutos.

SRA. OLÍVIA SANTANA: - Sr. presidente Arnando Lessa,

demais vereadores desta Casa presentes nesta sessão, que eu

considero que é uma sessão histórica. Eu quero dizer à toda

comunidade dos terreiros de candomblé, nas suas diferentes

nações, que esta é a primeira vez que eu venho a esta Casa em

uma sessão ordinária, desde que saí da Câmara Municipal de

Salvador.

Eu acho lamentável que tenhamos que, no dia de hoje,

deixar os nossos afazeres, coisas muito sérias, que cada mulher

que aqui está, cada homem, cada ialorixá, cada ebômi, como

muito bem disse a nossa querida Macota Valdina, todos tiverem

que deixar os seus afazeres para vir, mais uma vez, tratar do

racismo.

É impressionante como o racismo ocupa a vida da

população negra baiana e brasileira. Como nós temos, Dr.

Waldir Pires, que estã o tempo inteiro provando a nossa

capacidade de mobilização, de articulação política. Não foram

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poucos Ebomi Nice, Makota Valdina, vereadora Aladilce,

companheiros todos que aqui estão, não foram poucos os

telefonemas que eu recebi para falar desse ato do dia de hoje,

para pedir a minha presença nesta Casa, e eu dizia que não sou

mais vereadora, mas jamais deixarei de ser militante do

Movimento Negro, vereador Sílvio Humberto.

Nós estamos aqui cumprindo, mais uma vez, a tarefa de

defender aquilo que atinge a coisa mais profunda, que nem os

colonizadores conseguiram. Vereador Marcell, eu sinto muito a

ausência do dele aqui, gostaria de falar olhando nos olhos do

vereador Marcell, dizer para ele que se esse povo ultrapassou,

atravessou 300 anos, mais de três séculos de escravidão, de

colonialismo, de demonização do candomblé, muitos foram

queimados vivos.

Estou lendo um livro, A Ilha sobre o Mar, professor

Valdério, de Isabel Allende, que conta a história dolorosa dos

negros das Antilhas, do Haiti. Aqueles praticantes do Vodu,

quantos foram mortos nas fogueiras? Mas nem por isso o

candomblé deixou de existir.

Como é que pode passar na cabeça de um vereador de

primeira hora, que acabou de entrar nesta Casa, e tenho o

maior respeito à juventude, a juventude é uma necessidade

para podermos passar o bastão para alguém, mas é preciso ter

humildade, é preciso saber como chega, até porque, no

candomblé, antiguidade é posto, e todos nós sabemos disso.

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Eu quero finalizar dizendo que o vereador jamais poderia

entrar nesta Casa e ter a audácia de levantar uma luta como

essa, contra a alma da cidade, a essência da Cidade do

Salvador. Um vereador que faz um ato como esse, não entende

em que cidade está. Salvador não é a Europa, vereadora

Fabíola, Salvador é a África brasileira, e contra os africanos

soteropolitanos nenhum legislador desta cidade pode se

levantar, porque no momento em que o fizer, as Pretas Velhas

vão dizer a força que elas têm, guiadas por Iansã, por Oxum,

por Nanã e por todas as divindades de matriz africana.

Quero alertar os companheiros e os vereadores que,

além desse projeto que se refere às oferendas de animais que

são feitas nos terreiros de candomblé e que tem um significado,

sei que a jovem que estava ali com uma placa, e respeito o

direito dela de livre manifestação; agora não respeito o direito à

ignorância. Ignorância não é um direito, o „não saber‟ precisa

ser tocado pelas luzes do conhecimento.

Os terreiros de candomblé não são comunidades

primitivas que estão violentando o direito da vida dos pintinhos,

das galinhas ou de qualquer que seja o animal. A matança de

animais nos terreiros de candomblé tem um significado, de

alimentação da espiritualidade e de todas as pessoas que

chegam, inclusive, os ambientalistas, sérios, que frequentam os

terreiros da nossa cidade.

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Quero lembrar, vereador Arnando Lessa, para que,

também, não retirem esse projeto e depois venha por outras

vias tortas, pois há dois anos, quando vereadora, tive que correr

para Feira de São Joaquim para evitar um ataque semelhante a

esse, que era, exatamente, uma companheira ambientalista que

lá chegou com a guarnição policial querendo retirar dali todos

os animais vivos, porque disse que a feira estava vendendo

animais para serem sacrificados por religiões atrasadas.

Então, estejamos atentos e atentas, acho que esse

plenário já mostrou que é preciso estar atentos e fortes, nós

estamos muito mais do que isso.

Por isso, o vereador não foi capaz, ele tinha duas

alternativas aqui, depois do pronunciamento de todos os

vereadores que falaram favoráveis à derrubada do projeto, ele

poderia ter usado esta tribuna e dito: “Eu vou manter o projeto,

quero pedir urgência, quem for a favor, vote a favor, quem for

contra, vota contra”. Ele não teve coragem de levantar isso e

não teve coragem de retirar também o projeto. Então, não é

possível dialogar com quem não apresenta suas vozes. Com

quem não apresenta, claramente, as suas armas, não é possível

lutar.

Então, o vereador Marcell tem que fazer jus ao gesto que

ele teve, que é, exatamente, correr, sair deste plenário e não

enfrentar o debate. Se estiver com medo do povo de Salvador,

retire, imediatamente, o projeto e vá se recompor com a

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história, porque a mácula já ficou, infelizmente, na história de

vida de um menino tão jovem que começou a ser um legislador

da cidade. Só que ele começou por uma via torta. E aí vai

amargar, para sempre, ter atacado a essência da Cidade do

Salvador. Axé, vamos juntos, levantem-se, porque esta cidade é

nossa cidade e ninguém vai nos tratar como estranhos, muito

menos como primitivos. O candomblé é que civiliza a Bahia e o

nosso Brasil. É isso. Axé. Tudo de bom para nós.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com

a palavra, o Dr. Samuel Vida, por dois minutos.

DR. SAMUEL VIDA: - Eu quero iniciar saudando a

autoridade religiosa que nos representa maximamente aqui,

Ebomi Nice da Casa Branca, a quem eu tomo a bênção.

Invertendo o protocolo, quero saudar o vereador Edvaldo

Brito, tomando-lhe também a bênção, um homem de Ogum, e

através dos dois, cumprimento a todos os integrantes da Mesa,

assim como a todos os irmãos e irmãs que aqui se encontram.

A atual mobilização que nós presenciamos tem um

significado histórico que oferece, mais uma vez, uma lição do

povo de santo, do povo negro desta cidade para formação

civilizatória desta Salvador. É mais um capítulo, é mais uma

lição que, generosamente, é ofertada pelo povo de santo nesta

cidade, neste Estado, neste país. E há de entrar,

definitivamente nos anais do ponto de vista formal da Câmara,

e na história da cidade. E mais do que isso, sinaliza para um

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movimento que não terá recuo. Nós não negociamos a nossa

cidadania. Nós não negociamos a nossa dignidade. Mexer com

os nossos valores é nos desafiar a continuar lutando como

temos lutado há 500 anos neste país. E esta resposta deve ser

ouvida por todos que ainda duvidam da capacidade de

intervenção política da comunidade negra, do povo de santo em

nossa cidade.

É importante também dizer que o projeto combatido,

flagrantemente, abusa da suposição de que nós não

entendemos os direitos constitucionais que nos protegem, já

que se trata de um projeto inconstitucional de ponta a ponta.

Trata-se de um projeto que confronta o Artigo 5º, que garante a

liberdade religiosa de maneira ampla, pela primeira vez, fruto

da mobilização do povo de santo, do movimento negro, que

conseguiu fazer com que a Constituição de 88 retirasse as

últimas restrições que perduravam sobre o exercício da

liberdade religiosa em nosso país, quando se dizia que até a

anterior Constituição deveria se respeitar os bons costumes e a

moral. E com base nessa argumentação, nossas religiosidades

eram sistematicamente submetidas ao constrangimento do

controle policial, que nos vinculava, indiretamente, a práticas

delituosas, a práticas criminosas.

A Delegacia de Jogos e Costumes era responsável por

expedir um alvará para autorizar realização de cultos, uma

prática que, absurdamente, nos violava. Graças à insurgência

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do povo de santo, com a mobilização de várias pessoas, que

estão aqui, inclusive, presentes; nós conseguimos que o Estado

admitisse o equívoco, e no ano de 1976, em Salvador, foi

formalmente suprimida essa abjeta exigência e imposição

aviltante.

Mas em outros locais do país esse persistente absurdo

persistiu até 1988, e a Constituição cuidou de eliminar essas

condicionantes, exatamente para não dar margem à retomada

de práticas abusivas e discriminatórias contra a nossa

religiosidade.

Ademais, a Constituição Federal, no Artigo 19, dispõe

expressamente a proibição de que o Estado crie qualquer

embaraço ao funcionamento das religiões.

Evidente que esse projeto ao atentar contra o uso de

animais nos rituais religiosos, pretende sim, criar um

embaraço, inviabilizar nossa existência religiosa atingindo-a em

aspectos fundamentais, portanto, flagrantemente contraria à

Constituição Federal.

Não fora isso, conflita também com a Constituição

Estadual que, mais uma vez, no outro capítulo de mobilização

do povo de santo, fez constar um artigo, o Artigo 275, que

expressamente prevê o dever do Estado, e o Estado, leia-se não

apenas a estrutura governamental do Estado membro, mas

vincula também o município, deve tutelar os valores, as

práticas, as manifestações da religiosidade de matrizes

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africanas. E mais, contraria também a Lei Orgânica do

Município, que acolhe uma série de dispositivos tutelares às

manifestações culturais de tradição africana.

Portanto, do ponto de vista jurídico, nós não temos

dúvida de que ele fracassaria e seria rejeitado pela Comissão de

Constituição e Justiça. Mas a questão fundamental não é essa,

a questão fundamental diz respeito ao caráter racista,

intolerante, absolutamente discriminatório que este projeto

mobiliza.

E isso pode ser muito bem observado pelo fato de que

ele não é o primeiro no país, ele é a continuidade de outras

iniciativas que chegaram a ser aprovadas em cidades como

Piracicaba, e chegaram a ser aprovadas em Estados como o Rio

Grande do Sul, e que mereceram o nosso repúdio e a nossa

vitória pela declaração da inconstitucionalidade naqueles locais.

Trata-se, portanto, de parte de uma estratégia nacional

alimentada por uma cultura de racismo, de intolerância, que

persiste no interior da sociedade brasileira que,

lamentavelmente, conta com o Estado como um dos seus

fautores.

O Estado brasileiro pratica atos de racismo institucional

e, acreditando nessa possibilidade, é aqui que esse projeto se

apresenta.

Portanto, muito mais grave que a sua flagrante

inconstitucionalidade é o fato dele alimentar toda uma

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possibilidade de hostilidade, de resentimento, de ódio religioso,

de aviltamento dos nossos valores mais sagrados.

Nós colocamos, vereador Arnando Lessa, num

documento que será entregue a todos os senhores, trechos de

manifestações que começam a se projetar nas mídias sociais

dizendo que, inclusive, nós sacrificamos crianças e seres

humanos em rituais de candomblé, para o senhor ter ideia do

efeito nefasto que esse tipo de iniciativa provoca, alimentando

ressentimentos e discriminações, que já existem, e que

precisam ser combatidas pelo Poder Público.

O dever da Câmara é promover esclarecimento, acesso a

informação para que esse tipo de manifestação cesse. E não

alimentá-la com projetos extravagantes, descabidos, absurdos,

como esse projeto.

Por fim, eu quero chamar a atenção para um dado

importante: o vereador Marcell praticou, durante o período que

esse projeto tramitou, e eu espero que ele encerre a sua

tramitação ainda hoje, que é terminar as declarações que

diziam que a nossa religiosidade é arcaica, medieval, que ela

precisa evoluir e, hoje, ele teve o desplante, numa entrevista

dada no programa de Casemiro Neto, de dizer que teme pela

integridade física, e por isso mesmo não participava de debates

diretamente conosco.

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Ora, eu não tenho dúvida de que essa manifestação

implica em quebra de decoro parlamentar. E nós entendemos

que a Câmara deverá se pronunciar sobre isso.

O representante do povo, no exercício de suas

atribuições institucionais, não pode aviltar tradições

respeitadas como a nossa. Não pode incitar ao ódio e às

agressões.

Portanto, me parece que cabe perfeitamente a avaliação

da quebra do decoro e a aplicação das sanções que o Regimento

prevê e que a Câmara Municipal admite.

Axé.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Vereadora Aladilce.

SRA. VEREADORA ALADILCE DE SOUZA: - Sr.

presidente, Srs. vereadores, Sras. vereadoras, eu quero

concordar com quem disse aqui que esta sessão é histórica, e é

uma sessão emocionante.

Quero dizer do meu profundo respeito ao candomblé,

dizer que o vereador Marcell Moraes está completamente

equivocado, não é religião medieval. É uma religião que acolhe,

que cuida, que trata.

Respeito todas as religiões, mas não encontramos em

nenhuma outra religião o acolhimento, a solidariedade, o

respeito, o tratamento, o amor que encontramos quando

entramos em um terreiro, em uma casa de axé.

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Sinto-me filha de todos os babalorixás, das mães de

santo, de todos os tatás, e quero aqui manifestar o meu mais

profundo respeito.

Eu fiz o requerimento, vereador Arnando Lessa, vereador

Hilton, fiz um requerimento para que pudéssemos transformar

esta sessão em sessão especial porque eu acho que tem uma

questão fundamental, que é a questão do debate, da forma

como os projetos de lei são elaborados, são gerados e são

aprovados, vereador Hilton, vereador Sílvio, vereadora Fabíola,

que estão chegando, e chegando bem nesta Casa, mas nós

temos aqui muitas experiências de projetos, vereador Suíca,

inconstitucionais, que são aprovados e que estão até hoje aí.

Nós temos dezenas de projetos, vereador Waldir Pires,

V.Exa. recentemente deu um voto apontando as

inconstitucionalidades de um projeto que está na pauta desta

Casa.

Então, não basta, eu respeito e concordei, cheguei a

tentar fazer um acordo para retirar o meu encaminhamento,

ouvindo o vereador Edvaldo Brito e os outros que falaram, de

votarmos a inconstitucionalidade aqui e matar o projeto do

vereador Marcell Moraes. Mas ele nem aqui ficou para ouvir os

nossos argumentos.

Além de tudo, ainda falta com respeito para com a Casa,

porque ele deveria ficar para defender.

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Então, é a forma, e nada melhor do que termos esta

sessão que qualifica o nosso debate, qualifica qualquer matéria

e favorece a tomada de posição dos vereadores e vereadoras que

estão aqui, ou mesmo os que não estão, mas que estão em seu

gabinete, como ele deve estar no gabinete, ouvindo pela TV

Câmara. Espero que ele destampe o ouvido e retire o projeto.

Como é que se faz um projeto elaborado para golpear

uma religião, para golpear um povo, para atacar?

Os projetos têm que ter a discussão. Se nós estamos

aqui, vereador Waldir, em nome do povo, nós não podemos

tomar uma atitude e elaborar uma lei, um projeto de lei que vai

de encontro a esse povo.

Se nós temos qualquer projeto, qualquer proposição, nós

temos que fazer e propor, ouvindo.

Então, eu acho que esta sessão é educativa, qualifica o

debate, e é assim que deve ser, porque eu tenho certeza de que

o que nós ouvimos aqui, as manifestações de Ebomi Nice, de

Makota Valdina, de Camurugi, de todos os que já falaram,

Samuel Vida, fortalecem o povo de santo.

É uma manifestação de combate ao racismo sim, mas

qualifica esta Casa, sobretudo, e dá um recado: não façam um

projeto divorciado do povo. Nós não podemos propor nada aqui

sem discutir, sem ouvir o povo.

Eu quero finalizar dizendo que nós recebemos da

Ouvidoria Nacional da SEPI, e eu, como ouvidora desta Casa,

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trago aqui, para conhecimento público, uma manifestação de

preocupação da SEPI, que tem recebido, por sua vez,

manifestação de diversas instituições do país inteiro por conta

desse projeto.

Então, eu quero, aqui, deixar a minha integral

solidariedade, minha, do vereador Everaldo Augusto, que já se

colocou aqui, da bancada do PC do B, e dizer que nós não

podemos baixar a guarda.

Na Comissão de Constituição e Justiça já tem três

vereadores que, aqui, se posicionaram dizendo que vão votar

contrariamente, mas o fundamental é a mobilização, é o povo de

santo, e nós todos aqui dizendo não, dizendo ao vereador: retire

esse projeto.

Eu quero dizer a vocês que a prática, a atitude do

vereador, não só nesse projeto, mas já teve outro projeto, de

botar projetos para votar sem discussão e utilizando, inclusive,

de artifícios pouco recomendados aqui neste plenário.

Portanto, eu acho que a manifestação, a presença, a

mobilização vai garantir que a gente vire a página, essa página

de intolerância, essa página de ataque ao povo de santo nesta

cidade.

Axé, grande abraço. A luta continua!

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Antes de passar a palavra ao vereador Hilton Coelho, eu solicito

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à taquigrafia a retirada da palavra “sorrateira” da fala da

vereadora Aladilce de Souza.

Com a palavra, o vereador Hilton Coelho.

SR. VEREADOR HILTON COELHO: – Quando essa

bomba caiu sobre as nossas cabeças, eu me lembro que este

plenário ainda não estava nem muito cheio e alguns vereadores

se assustaram com a fala do vereador Marcel, algo ficou, de

cara, revelado: um profundo desconhecimento sobre o que ele

vinha tratando.

O vereador começou a falar de maneira emocionada

contra os rituais medievais que precisavam ser superados, por

exemplo, pelas religiões de matriz africana.

Isso liga a fala do vereador, esse deconhecimento, aos

ativistas, que eu queria que estivessem aqui, do Movimento de

Defesa dos Animais, que exibiram os cartazes ali com os

cachorrinhos. O que, na verdade, mostra a falta de propriedade

que parte do movimento, e o vereador Marcel vem tratando e

mostrando o seu olhar quando vem afirmar esse projeto.

Então, ele parte de um desconhecimento muito grande

quando fala do projeto, parte de um desconhecimento muito

grande, também, quando ele desconsidera qual é o significado

das religiões de matriz africana que várias pessoas falaram

aqui, historicamente.

Eu queria apenas falar do ponto de vista político. Seria

impossível pensar em Independência da Bahia sem considerar

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os terreiros de candomblé como um espaço de resistência viva

nesta cidade para expulsão dos portugueses.

Então, é essa ignorância, também, do ponto de vista

político, que vai orientando essa prática cega que norteou o

vereador Marcell a propor um projeto desse tipo. Uma

ignorância, como já foi falado aqui, de não entender que a

cosmologia, olhe, eu não sou religioso, gente, mas

generosamente, como a vereadora Aladilce, eu já convivi muito

nos terreiros de candomblé e pude perceber a generosidade no

cotidiano. Não entender que a cosmologia do candomblé

apresenta para as pessoas uma nova relação entre homens,

mulheres e a natureza, e dentro disso os animais, é uma

profunda ignorância!

Então, ele está atirando em um alvo completamente

desnorteado, um alvo completamente equivocado, e não

entender as forças que ele estava despertando.

Eu quero concluir falando que isso mostra, também, um

grande desconhecimento, porque nós não estamos falando aqui

contra o Movimento em Defesa dos Animais, essa não a grande

polêmica, gente. O grande problema foi que a iniciativa de parte

desse movimento, e do vereador Marcell, corrobora com uma

grande movimentação social que representa uma guerra hoje,

uma guerra que tem se revelado pelo apedrejamento de

senhoras, uma guerra que tem feito crianças serem jogadas na

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parede e passem por fraturas no seu rosto, pela postura

perversa que discursos deste tipo na prática tem estimulado.

E, por fim, o desconhecimento. E eu venho dizendo isso,

vários vereadores, o vereador Silvio Humberto, em vários

momentos a gente tem colocado os nossos enfrentamentos, o

desconhecimento de que a população negra, a cada dia que

passa, entende que a nossa felicidade é uma felicidade

guerreira.

Hoje, eu vim aqui de branco, mas não foi um branco de

paz, não, eu vim de branco, nesta tarde, com as cores da África,

porque eu vim guerrear. E eu não vim guerrear contra o

vereador Marcell, não, mas a tudo que ele representa se

somando a esta movimentação social perversa.

Neste presente, veio aqui outro guerreiro que está aqui

nesta plenária, o companheiro Hamilton Assis. Então, eu quero

dizer muito claramente, companheiro Hamilton, eu aprendi as

lições que você começou a me dar quando eu tinha 16 anos de

idade, e é por isso que eu venho aqui com esta propriedade e

com esta certeza a falar e reafirmar que a nossa felicidade é

uma felicidade guerreira.

E nós, do Partido Socialismo e Liberdade, estamos

completamente dispostos a estar perfilados por esta guerra, que

no fundo é uma guerra pela liberdade.

Vamos alçar pela construção da nossa liberdade.

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SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: - Com

a palavra, o Sr. Tata Eurico.

SR. TATA EURICO: - Eu gostaria, neste momento, que

só eu, mas só eu, aplaudisse este dito cujo vereador. Só eu para

ele.

Vereador, com este projeto manchou esta Casa. Com

este projeto manchou a Cidade do Salvador. E eu que estou até

agora presidente do Conselho Municipal das Comunidades

Negras, onde entendemos que não podemos avançar, discutir,

tecer a Conferência de Promoção da Igualdade Racial, enquanto

nesta Casa transitar tal projeto. É indigno para o Conselho das

Comunidades Negras discutir política de promoção de igualdade

racial tendo um projeto como este. Precisamos nos unir para

escolher nossos representantes.

Obrigado, Srs. vereadores, Sras. vereadoras, que aqui

estão a nos defender. Sei que muitos destes aqui não comeram

do nosso obi, do nosso orobô, mas sente no seu sangue, no seu

ser, a crueldade como estão querendo massacrar, como estão

querendo mutilar a religião de matrizes africanas, nós povos de

comunidades tradicionais.

Por isso, outro dia estive aqui nesta tribuna recebendo a

Medalha Zumbi dos Palmares e hoje volto a esta Casa com um

pesar. Mas, conclamo a todos e todas que invoquem Vila-Ma

Nzumbi para que responda na vida deste nefasto, para que Ikú

seja o seu caminho.

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Temos uma pequena moção do nosso Conselho e eu

gostaria que, por favor, ouvissem esta moção que vem do

Conselho das Comunidades Negras.

Moção de Repúdio.

O Conselho Municipal da Comunidades Negras, criado

nos termos do Decreto nº15330, de 18 de novembro de 2004,

conforme autorização constante na Lei nº 4.008, de 19 de julho

de 1989, órgão colegiado, de caráter consultivo, deliberativo e

normativo, vinculado à Secretaria Municipal da Reparação –

Semur -, torna público seu repúdio em face do Projeto de Lei nº

308/13, de autoria do vereador Marcell Moraes.

A proposta legislativa visa impedir a utilização de

animais em cultos religiosos, fato que inviabilizaria as liturgias

das religiões de matriz africana, indubitável a

inconstitucionalidade do aludido projeto, pois viola o principio

da liberdade religiosa que se encontra, devidamente,

consagrado na Constituição Federal de 1988.

Diante dos avanços da sociedade brasileira no campo da

garantia da liberdade religiosa e, de forma geral, dos direitos

humanos, o Conselho Municipal das Comunidades Negras

protesta pelo imediato arquivamento desse projeto.

Atenciosamente,

Eurico Alcântara dos Santos

Presidente do Conselho Municipal das Comunidades

Negras.

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SENHOR TATA EURICO: - Cântico com dança.

Se, é guerra que ele quer, guerra ele terá.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Antes de passar a palavra ao próximo orador, discordar de Tata

Eurico. Quero dizer que esta é uma Casa da democracia e que

esta sessão é uma demonstração inequívoca do respeito e,

acima de tudo, da importância desta Casa Legislativa.

Esta sessão é uma demonstração de que respeitamos as

divergências e debatemos todas elas com transparência e

afirmando cada dia mais esse poder na importância desta nossa

cidade.

Registrar a presença do Sindipoc - Sindicato da Polícia

Civil da Bahia; do Sindseps; do companheiro Everaldo que está

aqui inscrito e também pode usar a palavra. e passar a palavra

para o vereador Luiz Carlos Suíca, por três minutos.

SR. VEREADOR LUIZ CARLOS SUÍCA: - Sr. presidente,

Srs.. vereadores, Sras. vereadoras, meus irmãos, minhas irmãs.

Desde o início desta sessão que eu estava ali só observando,

porque muitas vezes eu prefiro observar ao invés de me

pronunciar. Mas ao voltar a esta Casa, eu precisava dizer

algumas palavras porque estou agoniado.

Antes de qualquer coisa, queria dizer que eu e o

companheiro Moisés, mais o companheiro Gilmar, desde a

última sessão, que teve um problema com o companheiro Sílvio

Humberto, que é um parceiro também de todas as horas,

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companheiro não só na defesa do Movimento Negro, mas,

também da educação do povo de santo.

Nós, a semana toda, estávamos preocupados em fazer

com que o vereador Marcell retirasse o projeto. Nós estávamos

em conferência o tempo todo, porque nós que estamos na

periferia e que fizemos campanhas nos terreiros de candomblé,

e que vivemos isso, e a minha mãe, filha de santo do Axé Opô

Afonjá, portanto, sou neto do Axé Opô Afonjá, sou filho de

Xangô, e não tolero injustiças.

Portanto, estávamos agoniados e até o momento, nós

não conseguimos fazer com que o vereador Marcell, que é um

vereador - o vereador Arnando Lessa sabe - que se ele

propusesse a fazer o que ele quer fazer, do ponto de vista dos

animais, seria um vereador talentoso, só que se perde ou se

perdeu, e pagou para ver quando dissemos que com o povo de

santo, com os Orixás não se brinca, e que não podia, de forma

nenhuma, legislar sobre uma causa que ele não conhece.

Portanto, eu não vim aqui para, meus irmãos e minhas

irmãs, jogar para o público, porque quem me conhece já sabe.

Mãe Jaciara que está aí, me conhece, sabe que eu não concordo

com intolerância, com racismo, com injustiça; pai Anderson, se

levante, por favor, ele sabe, não me conhecia e eu não o

conhecia, mas, no primeiro momento que esse babalorixá foi

agredido pela Polícia Militar, em Lauro de Freitas, fui o

primeiro ou um dos primeiros a chegar na casa dele para

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colocar a minha solidariedade e todos os meus préstimos.

Waldir Pires, que é um companheiro, que vou ter orgulho de

dizer que eu legislei com ele.

Quero dizer que, esta manifestação aqui hoje, ela não

pode parar porque nós conseguimos fazer de forma justa,

transformar essa sessão em especial. Aladilce; não podemos

fazer isso, até porque esta Casa, para uma boa parte, é uma

Casa de negociação de debate.

Nós sabemos que os vereadores da bancada do governo

estão muito preocupados em votar o Código Tributário. Então,

portanto, vários vereadores que, no primeiro momento, foram

contra transformar esta sessão estavam preocupados em não

atropelar o Código Tributário.

Então, por isso que temos que estar vigilantes, por isso

que quando o babalorixá Eurico chegou para mim e disse que

iria dormir nesta Casa, eu disse a ele que estava com ele,

porque nós deveríamos acampar nesta Casa, sim, para que esse

projeto fosse tirado hoje, para que impedíssemos que este

projeto não ficasse aí por muito tempo, e que o próprio Marcell

ou outro pudesse ganhar tempo.

Nós tínhamos era que convencê-lo a tirar o projeto hoje.

Portanto, teremos que estar aqui amanhã, quarta-feira, na

próxima segunda, até que este projeto saia, é ele que tem que

tirar. Não concordo, meu companheiro e amigo Sílvio Humberto,

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ele já foi derrotado, ele já está no pé de Exu, ele já está sendo

perseguido. Nós o derrotamos.

E aí, perder na CCJ, perder pelo voto, só seria mais,

companheiro, mais um rito. Ele é quem tem que vir aqui e

retirar o projeto, porque se não for assim, Exu, que abre os

caminhos, que abre os trabalhos, não será Exu. É isso que

acredito, é nessa força.

Ele tem que vir tirar este projeto.

SR. PRESIDENTE VEREADOR ARNANDO LESSA: -

Registrar a presença da CUT-Bahia, através de seus diretores

aqui presentes. Eu vou passar a palavra ao vereador Gilmar

Santiago, mas antes, em homenagem a um vereador que tem a

legitimidade, a representação e a importância do povo de santo

nesta Casa, eu vou transferir a presidência ao vereador Sílvio

Humberto, que ele venha continuar essa sessão.

Gilmar Santiago, por três minutos, depois Vilma Reis.

SR. VEREADOR GILMAR SANTIAGO: - Boa tarde a todos

e todas. Quero saudar as lideranças religiosas das religiões de

matriz africanas que aqui se encontram e dizer que esta sessão

de hoje é histórica porque toda vez que o povo de santo se

mobiliza, ele mostra sua força.

Aqui, vocês chegaram, ocuparam as galerias da Casa.

Existiam sugestões de que se pudesse ocupar a tribuna.

Lembro que o companheiro Valtério me perguntou se era

possível ocupar a tribuna aqui, o companheiro Samuel Vida, e a

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vereadora Aladilce fez um requerimento verbal para transformar

a sessão ordinária em especial. Nós negociamos com a liderança

do governo e com a Mesa e, ao final, diante da força da

mobilização, isso aconteceu.

E como disse o companheiro Suíca, nós ficamos durante

esse tempo juntos com o vereador Marcell e outros vereadores

tentando convencer o vereador Marcell a retirar o projeto. A

companheira Ebomi Nice conversou com ele, depois a Makota

Valdina tentou conversar com ele nesse sentido, junto com

Vilma Reis, e nós continuamos essa conversa.

Acho que isso demonstra que o vereador Marcell tem que

pensar bastante no que ele vai fazer daqui para a frente. E não

tenho nenhuma dúvida de que é possível que esse projeto seja

retirado pelo vereador na medida em que essa mobilização deu

provas de que ou ele retira ou essa mobilização vai continuar,

porque todas as vezes que se mexe com religiões de matriz

africana acontece isso.

Lembro muito bem, em 2007, quando a ex-secretária

Kátia Carmelo ousou derrubar um terreiro lá na Avenida Jorge

Amado, na época eu ocupava a Casa Civil, no primeiro governo

de João Henrique, e negociei diretamente não só o processo de

reerguer a casa, como de mandar para esta Casa um projeto de

regularização fundiária que foi aprovado e que precisa agora ser

regulamentado. Mas foi a mobilização do povo de santo que fez

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com que isso acontecesse. E não tenho nenhuma duvida de que

mais uma vez essa luta será vitoriosa.

Portanto, quero dizer aqui que a bancada de oposição,

constituída por sete vereadores do PT, dois vereadores do PSB,

dois do PC do B, são 11, e também não tenho nenhuma dúvida

que o vereador Hilton, do PSOL, que também faz oposição na

Casa, que esses vereadores, 12 vereadores, têm posição fechada

contra qualquer tentativa desse projeto ir adiante.

Mas nós não queremos apenas que esse projeto seja

retirado, nós queremos é que esse tipo de prática não continue

existindo aqui na Casa.

Para isso, inclusive, acho que esta é uma boa

oportunidade, vereador Edvaldo Brito, vereador Sílvio

Humberto, vereadora Aladilce, que está aqui na Mesa, vereador

Suíca, de se criar, já que se criaram tantos fretes parlamentares

aqui nesta Casa, de criar a Frente Parlamentar da Igualdade e

Contra a Intolerância Religiosa. E buscar, inclusive, que essa

Frente Parlamentar possa ser um espaço onde não apenas

vereadores da oposição, vi aqui a vereadora Eron Vasconcelos, o

vereador Isnard, que são de outra corrente religiosa, mas que

estão empenhados em buscar uma solução para essa situação.

Portanto, acho que o candomblé tem força suficiente

para fazer com que esta Casa, as pessoas, independente da

religião que professam, respeitem a religião que tem um marco

importante no processo civilizatório de nossa cidade.

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Podem contar conosco nessa luta.

SR. PRESIDENTE VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -

Obrigado, vereador Gilmar.

Com a palavra, Leonel Monteiro.

SR. LEONEL MONTEIRO: - Boa tarde a todos. A bênção

aos meus mais velhos, a bênção aos meus mais novos, a

bênção, minha Ebomi Nice, a bênção, Macota Valdina, meu

irmão Edvaldo Brito.

Eu quero dizer que quando tive as primeiras notícias

desta aberração nesta Casa, desse projeto proibindo o sacrifício

e a mutilação de animais em rituais religiosos, me causou

indignação tamanha que fiz aquilo que acho que deveria fazer:

me ajoelhei aos pés do orixá, aos pés, especificamente, de

Oxaguian, de Cassuté, e cantei.

MÚSICA

A bênção, orixá que parte para a guerra e nunca volta

sem vencer; Inquice, vodun, que vai à guerra e nunca volta sem

vencer.

E nós não vamos permitir, senhoras e senhores, que

ninguém mais derrube um terreiro nesta cidade. Que ninguém

fale da nossa religião sem saber o que está dizendo. Que

ninguém olhe nos olhos de senhoras, como estas aqui, para

falar que nossas crianças vão aprender a torturar animais.

Animal é quem diz isso.

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Nós não vamos permitir que sejamos colocados como

medievais. Medieval é quem não consegue enxergar um palmo

adiante do nariz e respeitar as diferenças.

Eu sou feliz, vereador Marcell, e forte porque sou filho

de Orixá, de Inquice e de Vodun, e me orgulho disto.

Ele não teve a hombridade de estar aqui conosco neste

momento, e nem de ir à imprensa, quando foi convocado.

Prometeu que iria e não foi.

Senhoras e senhores, tem gente que ainda não sabe, não

tem ideia do que a colocação que esse senhor fez no seu projeto

e na imprensa causa a nós. O simples fato de usarmos um

neguê, uma conta, de usarmos branco, já é suficiente para

termos nossos irmãos assassinados, para sermos agredidos

verbal e fisicamente, termos nossas casas invadidas.

Então, este projeto e esta fala do vereador Marcell

incitam o ódio religioso e nós não podemos permitir isso.

Este projeto é elitista, racista, intolerante e

inconstitucional. Muito já foi dito aqui, mas é preciso que nós

coloquemos novamente.

Parabéns aos vereadores. Todas e todos os vereadores

que estiveram aqui nesta tarde dignamente honraram esta Casa

contra esse projeto. O Sr. presidente também, que passou para

o nosso querido amigo a presidência.

Esta mancha que este vereador Marcell deixou na Casa,

felizmente, não vai macular a imagem da Casa por conta desses

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vereadores que hoje estiveram aqui, todos. E que merecem

nosso carinho e respeito.

Vereador Marcell, tenha a dignidade e a hombridade de

retirar esse projeto porque se você não retirar, nós retiraremos,

nós, povo do Axé.

E, amanhã, estaremos aqui, às 14 horas, aqui, amanhã,

para termos as notícias. Meio dia e meia, uma hora aqui, todos

aqui de novo.

Pai Anderson, o senhor foi agredido por aqueles policiais

e nós estamos com o senhor aonde for, o senhor sabe disso.

Nossos irmãos do Ventura estão precisando de nós também. A

roça já foi assaltada e até o ibá de sobô já levaram. Atentem

para isso, lá em Cachoeira, por favor.

Obrigado, e a bênção a todos. Axé.

SR. VEREADOR WALDIR PIRES: - Senhor presidente,

minhas colegas e meus colegas vereadores, minhas amigas,

meus amigos. Eu escutei tanto, acho tão bonita esta reação de

vocês, acho que isso engrandece tanto a nossa Casa, a beleza

de reação, e ao mesmo tempo um caminho que se abre

definitivamente na nossa história. É longa a luta de vocês, é

bonita a reação, a seriedade dela, a vontade de construir uma

sociedade decente e fraterna abrangendo todos, de todas as

cores, de todos os graus de fortuna ou de pobreza. Esta é a luta

que vocês representam hoje aqui, e que eu vou falar

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rapidamente, até porque o tempo precisa ser distribuído com os

outros, porque é a luta da humanidade.

Queria dizer a nossa irmã militante Ebomi Nice, e

também a nossa irmã militante Makota Valdina, queria dizer a

esta minha querida companheira, sabe que eu sinto tanto não

ter sido seu colega, mas a vida para mim ela se processa hoje

um ambiente de luta que me agrada enormemente, e que eu

quis viver, na realidade, esta é a luta da humanidade. A luta

contra o racismo é a luta contra as liberdades, é a luta contra

as igualdades que vem de quanto tempo, há quantos anos essa

humanidade vive?

Por isso, que eu quero dizer a vocês que eu fiquei

extremamente alegre com a rapidez da mobilização de vocês e

ao mesmo tempo com a vontade, a determinação, a energia de

levá-la adiante, que precisa da nossa paciência muitas vezes,

quando o mal é tão grande e tão forte.

Quantas vezes ele chega e abrange a nossa sociedade e

produz uma ditadura, e produz assassinatos, e produz torturas,

e produz exílio? Tantos companheiros! Vivemos este período

longo de 21 anos de luta. Essa é a luta para construir a

sociedade justa, a sociedade livre, a sociedade democrática, e

para ser democrática, ela hoje precisa não somente assegurar

as liberdades, a grande liberdade religiosa que foi sempre tão

oprimida ao longo de todo processo da civilização humana, a

proibição da liberdade espiritual e da crença, a matança,

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quantas vezes por motivos religiosos. Essa é a luta da

humanidade. Nós vamos continuá-la, nós temos que continuá-

la, nós não podemos perder nunca essa influência íntima,

espiritual da dignidade da pessoa humana, da dignidade do ser

humano, para construir as liberdades religiosas e para

construir todas as liberdades, inclusive, as liberdades políticas

e as liberdades das necessidades.

Então, quando se pratica o racismo, pratica-se o racismo

ofendendo toda a dignidade humana; quando se produz uma

sociedade de miséria, uma sociedade de fome, uma sociedade

de desemprego, está se humilhando a dignidade da pessoa

humana; e hoje, a grande luta do mundo contemporâneo, no

mundo todo é a de se construir as liberdades que assegurem a

dignidade política, a dignidade religiosa, a dignidade do homem,

da mulher, do jovem, da criança, a fé na nossa força, a fé na

nossa vontade, a fé, presidente, para que nós tenhamos a

vitória de uma sociedade decente.

SR. PRESIDENTE VEREADOR SILVIO HUMBERTO:

Sra. Vilma Reis.

SRA. VILMA REIS: - Boa tarde, para as pessoas que eu

não encontrei ainda. Meu nome é Vilma Reis. Nós sempre

dizemos o nosso nome e sobrenome, porque faz parte do modelo

civilizatório, a nossa tradição faz parte ter nome e sobrenome e

não dar nome a quem não tem nem apelido. E esse senhor que

apresentou esse projeto na Cidade do Salvador, uma cidade

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com 83% de negros, não tem nome nem sobrenome. A partir de

hoje, ele não representa os interesses da maioria desta cidade.

Esta cidade é nossa.

Nós queremos, primeiro, lembrar que há uma petição

rodando na internet desde ontem para que as pessoas

apresentem uma moção de repúdio a este vereador. Por isso,

minha gente, eleição tem implicações sérias, certo, Olívia?

Eleição tem implicações muito sérias, partidos não são todos

iguais, partidos políticos não são todos iguais.

E, como presidente do Conselho de Desenvolvimento da

Comunidade Negra do Estado da Bahia, nós estamos aqui para

dizer da nossa felicidade de ontem. Um jovem economista

negro, da Universidade Federal da Bahia, escreveu um texto

que todas nós estamos com orgulho, que é Nilton Luz. O texto

dele está aqui, publicado em várias páginas pelo Brasil afora,

dizendo, lembrando ao vereador Marcell Moraes, que nós não

somos, é verdade, não somos medievais, somos milenares. É

um desconhecimento dos momentos históricos da humanidade

por parte do vereador, e conhecimento serve para isso, uns

usam de forma equivocada para oprimir, nós estamos aqui

partilhando em nome da liberdade.

Outra coisa que nós nos preocupamos em vir dizer, aqui

hoje, é que assim como se tentou em Sorocaba, Piracicaba,

assim como se tentou na cidade de Petrolina, dia 24 de outubro

do ano passado, nós não podemos deixar em nenhuma cidade

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deste país que se crie aquilo que tão bem nos lembrou aqui o

nosso irmão Samuel Vida: ele não vai criar jurisprudência.

Agora, o inacreditável é que se aprovar essa lei em uma cidade,

cria jurisprudência para o conjunto do país, e nós não vamos

deixar o vereador fazer isso.

Esse é o risco, por isso a tentativa. Nós vamos mandar

para todas as pessoas que procurarem o Conselho, aqui está a

nota técnica da SEPI, desde o dia 24 de outubro, quando se

tentou contra a Mãe Renilda Bezerra, na cidade de Petrolina,

vítima do assédio violento de um Serviço de Vigilância Sanitária

na cidade de Petrolina, e junto com a rede de Terreiros de

Pernambuco nós tivemos que trazer esse documento para que o

Ministério Público de Pernambuco entendesse.

Aqui está também a denúncia da tentativa de um

parlamentar federal do Estado de São Paulo, que tentou fazer a

mesma lei que está se tentando fazer, nesse momento, em

Salvador. Não é uma coincidência, não foi um momento

desatento do vereador, existe um projeto nacional articulado,

quem viu a Carta Capital há duas semanas sabe que existe toda

uma articulação no país inteiro, para controlar as Casas

Legislativas, para aprovar questões que tem a ver com aborto,

com pesquisa com célula tronco, com ataque a religiões de

matriz africana e outras questões que têm a ver com

descriminalização.

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Por isso, para concluir, é muito importante dizer que a

questão que está em jogo aqui para nós é a crise de

representação no Estado brasileiro, e nós viemos aqui avisar ao

vereador Marcell Moraes que não haverá nada sobre nós sem

nós. Ele não nos representa, nós não somos minoria, não somos

carentes e não somos esforçados, somos maioria. Não somos

carentes, porque fomos secularmente roubados, não somos

esforçados, porque pessoas, inclusive, pessoas de pele clara ou

branca como ele, quando tem algum entendimento do que é

fazer parte da sociedade brasileira, nos chamam de inteligentes,

porque nós somos capazes de articular, inclusive, a existência

dele neste país até hoje.

Então, vivemos uma crise de representação onde as

pessoas pensam que os mandatos são delas. Os mandatos não

são delas, a sociedade soteropolitana deu um mandato a um

vereador, não é dele, não é, inclusive, nós queremos que o

partido dele se pronuncie nesse caso. Não vai dar para ninguém

ficar no armário, todo mundo vai ter que sair do armário, nós

queremos saber. Não vai dar porque tem muita coisa em jogo.

Eu tenho falado pouco, quando eu falo eu estou ficando

bastante cansada, mas hoje eu tinha que falar e vim falar

mesmo porque hoje é segunda-feira e nós gostamos de resolver

coisas no dia de segunda feira.

Para concluir, vereador Sílvio Humberto, nós estamos

com muito orgulho de sua presença aqui. Nós queremos

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terminar dizendo que, pessoa como o vereador Marcell, que

muitos antes dele vêm querendo criar carreira subindo em

nosso ombro, pisando em nosso lombo para crescer, dessa vez

não deu certo.

Nós estamos atentos, nós ficaremos de pé, e como

lembrou o vereador, só vale a pena, lembrando Steve Biko, ficar

viva se for com orgulho.

Então, a batalha está apenas começando e nós temos

certeza de uma coisa, as palavras de Newton nos fizeram

lembrar que a Bahia não está mais em 1976, como disse Tata

Comanangi, aqui no início desta sessão. Até 1976, nós

tínhamos que ir a Delegacia de Jogos e Costumes para tirar

licença, porque a nossa religiosidade era considerada

contravenção. Tínhamos que tirar licença para bater o

candomblé.

Nós entendemos quando as pessoas conseguem fazer

reportagens, Maca, sobre os escritores desta cidade que não

têm um único exemplo de escritor daqueles que vão ao Sarau

Bem Black. Isso, vimos ontem num certo jornal da cidade.

Mas, nós estamos aqui e vamos continuar. Nós

esperamos que o episódio Marcell Moraes seja um rápido

episódio na Bahia, porque quem tem muita pressa não chega,

se perde no caminho.

SR. PRESIDENTE VEREADOR SILVIO HUMBERTO: -

Sr. Hamilton Assis.

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SR. HAMILTON ASSIS: - Boa noite a todos e todas.

Sr. presidente, eu gostaria de pedir licença aqui aos

mais velhos, também aos mais novos, e dizer que eu me sinto

muito orgulhoso de participar desta manifestação, como tantas

outras manifestações que eu já participei. Uma delas, eu me

recordo, que é o que eu trago na alma, na minha essência, que

ficou expressa na voz de Mãe Rosa, quando ela deu a entrevista,

logo após a derrubada do seu terreiro, e perguntaram para ela o

que ela ia fazer. Ela disse: “ Meu filho, eu vou lutar, porque

quando a comunidade está ameaçada até Oxalá vai à guerra”.

Isso para mim foi um exemplo de que não se pode

duvidar da capacidade de luta, de resistência do nosso povo, da

sua história. E de que não é verdade que nós nos acomodamos,

de que nós não conhecemos os nossos direitos, mas que agora e

mais do que nunca está evidente que nós precisamos utilizar

dessa ferramenta poderosa que move a sociedade, que é a

política.

Eu tenho feito uma procissão de fé nos meus debates,

para convencer meus irmãos, meus pares, meus companheiros,

todos aqueles irmãos de luta, para dize: precisamos ensinar a

política para os nossos filhos, para os nossos irmãos, para

construir lutadores capazes de ocupar esta Casa, para fazer

projetos que venham transformar a realidade do nosso povo.

Digo isso aqui, porque nós precisamos ficar atentos a

um conjunto de outros projetos que devem estar emperrando

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esta pauta aqui e que sabemos que muitos deles estão ali para

servir os interesses dessa elite mesquinha, que nos oprime

historicamente há mais de 500 anos, que não tem coragem de

abrir mão dos seus direitos, dos seus privilégios, para acabar

com a pobreza e dar dignidade ao povo que é maioria desta

cidade.

Portanto, meus amigos, esta é uma luta que nós temos

que fazer aqui agora, mas sempre vigilante, observando a

Ordem do Dia desta Casa, porque, covardemente sempre está

sendo votado projeto contra os interesses do nosso povo, e não

é só do povo de matriz africana, é de todo o povo negro desta

cidade, mesmo aqueles que não professam as religiões de matriz

africana. Está aí o caso dos camelôs, está aí a situação dos

flanelinhas, das baianas do acarajé, e sabemos de tantos outros

que podemos enumerar aqui.

Portanto, irmãos, guerreiros de sempre, vigilantes,

vigilância sempre porque não basta eleger, temos que

acompanhar, porque a democracia nesta Casa só vai ser

garantida, os nossos direitos se nós ficarmos de olhos abertos e

sempre vigilantes, e não abrir a guarda, não baixar a guarda

nunca.

Axé para o nosso povo, e a luta é a nossa bandeira, essa

é sempre a nossa bandeira.

Muito obrigado.

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SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: - Muito obrigado,

Hamilton.

Agora a professora Amanaiara.

SRA. AMANAIARA MIRANDA: - Boa-noite, vou pedir

somente um pouco da paciência de vocês, pois estou sob o

efeito de uma violência sofrida na sexta-feira, sou filha de Mãe

Jacira, sou ekedi do Ilê Axé Bakugan

Na sexta-feira, no ponto do Extra, o que o vereador

Marcell diz ter medo, de um debate, eu tive num ponto de

ônibus. Eu que me achava cheia de mecanismos de defesa e

estratégias, nesse momento, sendo de Xangô, mas tenho o meu

junto com Oxalá, peguei o manto de Oxalá, o Alá de Oxalá, e

disse algumas palavras de ordem para a violência psicológica e

física que sofri, porque um evangélico veio com uma Bíblia

muito grossa, tocou no meu ombro, e naquele momento eu

disse algumas coisas e decidi passar para o outro lado do

ponto, porque senão eu seria mais um corpo estendido no chão.

Eles estavam em massa, na sexta-feira, por ser o dia

em que eles podem nos identificar pelo fato de estarmos de

roupas brancas.

Eu chorava muito no ônibus e as pessoas perguntavam

o porquê, se algum parente meu tinha falecido, e eu dizia que

tinha sido agredida. Liguei para minha mãe e procurei saber do

meu irmão pequeno, de santo, de dez anos, que já foi agredido

duas vezes, desde outubro para cá.

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Então, como é que uma criança que tem a coragem de

ser de uma religião que, historicamente, é discriminada, como é

que ela vai se manter, que coragem ela vai ter, já que foi

agredida duas vezes?

O caso que Hilton falou, contei também para uma

pessoa bem próxima dele, ele foi jogado contra a parede, ele é

um alabê, uma criança consagrada para ser alabê, yorubá, que

é o responsável pelos atabaques.

Fiquei muito preocupada e, nesse momento, passei para

o outro ponto do lado do Extra e eles estavam lá.

Estrategicamente, peguei um ônibus sem saber qual era o

destino, saltei na Rodoviária e eles novamente lá. Peguei outro

ônibus e saltei na Lapa e fui me refazer para que hoje estivesse

viva para lutar, pois essa lei que ele está propondo só fez

insuflar mais ainda os evangélicos contra a gente.

Alguns evangélicos, não vamos dizer todos, mas muitos,

por mais que não acreditemos, estamos no meio de uma guerra

santa. Essa é a realidade, porque todos os dias eu, mais outros

e outros e outras somos humilhados, a gente não se deixa

abater.

A gente precisa se preocupar, eu sou ekedi, e é a minha

identidade de ekedi que está aqui. É a minha identidade de

mulher negra, mas é a minha identidade também de professora

da rede municipal de Salvador que me faz estar aqui falando.

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Então, a gente tem que se preocupar com a

aplicabilidade da Lei 10. 639, que diz que tem que trabalhar os

conceitos, conteúdos, temáticas do povo africano e afro-

brasileiro, e a gente não tem acompanhado essa aplicabilidade

na Cidade do Salvador.

Dez anos depois, temos alguns limites, um deles é

trabalhar o respeito à religiosidade no ambiente escolar. Sabem

por quê? Porque, cotidianamente, a gente vem rememorando em

nossas escolas esse conteúdo, a religião do dominador, pois as

crianças desde o primeiro momento em que chegam à escola

são obrigadas a fazer o Pai Nosso, até nas escolas que dizem

aplicar a Lei 10 639.

Isso é uma rememoração do conteúdo dessa religião do

dominador, e aqui não estou fazendo a defesa de que a escola

brasileira vá fazer também os rituais do candomblé, porque a

única instituição que é responsável para oferecer e guiar as

crianças na religião é a instituição família. A religião escola vai

trabalhar consciência e a nossa religiosidade tem ciência.

Então, ou a gente decide que precisa acompanhar essa

educação desde a fase infantil, porque nós, adultos, as crianças

maiores, já estamos deformados, a gente se controla, a gente vai

ressignificar. Mas, a partir da educação infantil a gente tem a

possibilidade de instaurar outra sociedade neste país.

SR. PRESIDENTE VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -

Muito obrigado, Amanaiara.

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Vou passar a presidência da Mesa para a vereadora

Aladilce.

SRA. PRESIDENTE VEREADORA ALADILCE SOUZA: -

Com a palavra, o vereador Sílvio Humberto.

SR. VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: - Muito obrigado.

Que tarde! Makota Valdina, que tarde, que segunda-

feira, 6 de maio de 2013. Que dia!

Como os oradores e as oradoras que me antecederam

falaram aqui, de fato, escrevemos mais uma página na história

política da Cidade do Salvador. E escrevemos bem, escrevemos

certo por linhas tortas, com todo o respeito ao Criador.

Vou rememorar isso aqui. Na semana passada, nesta

hora mesmo, estávamos no embate, alguns dos vereadores,

vereadoras, com o vereador Marcell que, lembrando, nós

passamos bem ali no plenário. E quando eu o questionei em

relação ao projeto anterior, ele me disse, bem ali, antes de subir

aqui, assim: “Eu ainda tenho outro projeto polêmico.” E esse

era o projeto polêmico.

Eu aí disse, com uma simplicidade de quem estava

zangado no dia, e os que me conhecem sabem que naquele dia

eu estava esquisito, estava meio estranho, não sabia bem o

porquê, só vim compreender isso depois. Eu disse para ele ali:

olha, Xangô vai dar na sua cabeça. Ele não acreditou, pagou

para ver. Tome, está aí, pagou para ver.

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Quando ele subiu aqui eu tornei a fazer referência

naquele sentido que eu trouxe aqui: educar porque o nosso

trabalho é de convencimento.

E eu sei que as pessoas que me colocaram aqui fazem

referência a essa minha capacidade de convencer as pessoas.

Em nome desse convencimento, Makota, que eu quero dizer que

a missão está dada e a missão está sendo cumprida.

O nosso trabalho aqui, cada vez mais eu sei o que eu

estou fazendo, por que eu fui chamado, neste momento, para

estar aqui, do alto dos meus 50 anos, e mais de 30 anos de

militância negra nesta cidade. Estava acumulando forças,

acumulando forças para, neste momento, poder destilar em

projetos, projetos de lei, falas, convencer as pessoas.

Quanto ao projeto, eu estava lembrando que esse

projeto, Samuel, ele é cheio de “in”, ele é inconstitucional, ele é

inconsequente, ele é intolerante, e ele é indefensável. E é por

isso que ele correu, porque se ele tivesse condições de defendê-

lo, ele estaria, não fugiria do debate, na sexta-feira passada, na

Tudo FM. Eu estava lá, na paz de Oxalá, para poder recebê-lo,

mas ele fugiu, ele não ficou para o debate.

Então, gente, a pergunta é: quem é ele que se sente na

capacidade de desafiar três nações:, Gêge, keto e Angola? Só

sendo muito arrogante, ou só sendo, eu acho que tem uma

expressão que diz assim: ori okô? Não tem isso? Nem isso, não

é?

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Sinceramente, é essa arrogância que gera essa

inconsequência, essa intolerância, e eu me lembro do vereador

Gilmar aqui a perguntar, lembrando-se da campanha: “Onde

mora o seu racismo?”.

E nas palavras traduzidas de arcaica, de medieval, isso

destilou, saiu de dentro do armário, e aqui temos que exorcizar

esses demônios, os demônios da intolerância não podem

prosperar.

E eu quero dizer que eu estou aqui muito feliz porque

essa capacidade nossa de juntar gente, de trazer intelectuais,

de lideranças religiosas para cá, ele não contava com isso. Ele

achou que eram, simplesmente, palavras jogadas ao vento em

nome de uma autopromoção, se valer de uma bandeira

importante.

E, quero deixar aqui o meu registro, sou membro da

Frente Parlamentar em Defesa dos Animais, mas aqui tem uma

diferença, tem uma Frente em Defesa dos Animais e tem outra

que ele criou, porque ele não ouve, ele criou a Frente em Defesa

dos Animais e Meio Ambiente. Essa é a história da construção

desse vereador aqui dentro da Casa, aquele que não sabe ouvir,

tão jovem, 15 anos de meio ambiente, e querendo, como disse

Vilma Reis, desafiar uma religião milenar.

Acho que, às vezes, as pessoas acreditam que o menor

sempre pode vencer o maior, mas Davi só entrou para história

porque foi exceção. E exceção quer dizer que existe uma regra e

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essa regra quer dizer que você tem três nações poderosas que

vai vencer esse indivíduo tranquilamente.

E aqui quero chamar as pessoas, aproveitar esse

momento aqui, que estamos juntos, conclamar para outras

frentes de batalha; vencemos essa aqui, mas temos as creches

de nossa cidade, temos a educação publica de qualidade, que

precisamos acordar de manhã, de tarde e de noite, vereador

Hilton, lutando contra isso. A vitória que tivemos quando o

Ministério Público resolveu encaminhar à Prefeitura a

suspensão do contrato com Instituto Alfa e Beto, parte de

nossa missão sendo cumprida aqui.

Então, hoje quero encerrar meu pronunciamento,

dizendo que essa data, 6 de maio entra para História da Cidade

do Salvador, com aquele slogan que caracterizou a nossa

campanha: “Sozinhos nós somos fortes, mas juntos somos

inquebrantáveis”.

SRA. PRESIDENTE VEREADORA ALADILCE SOUZA:

Quero registrar a presença do Senalba/ Sindicato, da

CUT-Ba, e chamar para fazer uso da palavra a Sra. Ieda.

SRA. IEDA: - Bom, vou começar tomando a benção à

minha Macota Valdina, saudando a Mesa na pessoa simpática

de Aladilce, na pessoa aguerrida de Silvio, e ao nossos nossos

irmãos.

O que eu ia falar que estava me incomodando, Samuel

Vida já colocou aqui, não há possibilidade disso ser chamado de

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lei. E como já está claro, fiz um email distribuí para várias

pessoas e para os vereadores, dizendo que tem um louco aqui,

vereador ele não pode ser, que é o Monsieur Marcell.

O Monsieur Marcell, uma pessoa não brasileira, um

estrangeiro, que aqui chega, porque eles dizem: “Não sou desse

reino”, e não sendo desse reino nada mais natural que ele

desconheça os princípios legais do que é uma lei. Vim aqui, o

que moveu foi isso, Samuel.

Mas, quero dizer que para ser homem e dizer que pode,

ele deveria fazer uma lei que proibisse os padres de beberem,

porque bebem em serviço. Se houvesse uma lei que me

proibisse de matar para meu santo ou o santo de qualquer

pessoa que precisasse, eu mataria, porque eu posso ir presa por

matar para meu santo, não por estar envolvida com um pastor

que estupra uma criança e depois toca fogo. Posso ir presa por

matar para meu santo, nós sabemos que para o santo fazemos

qualquer coisa.

Terceiro, isso é uma Bíblia, isso é pemba. Arcaico é esse

livro que tem 1.900 anos. O candomblé se recicla. Aqui são

palavras escritas compiladas 100 anos após a morte de Cristo,

isso, sim, é arcaico é velho, é medieval.

SR. EVERALDO SANTOS: - Boa tarde a todos e a todas.

Eu quero saudar a Mesa na pessoa do vereador Silvio

Humberto, na pessoa da vereadora Aladilce Souza, do PC do B,

partido do qual faço parte com muito orgulho, tenho orgulho de

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ser comunista. Não sou ligado à nenhuma religião, mas, o

Movimento Social, neste momento, tem que estar aqui presente,

porque agora, professor Edvaldo Brito, essa tarde, tomei uma

aula de democracia.

A democracia se faz assim, protestando e lutando pelos

seus direitos. A própria Constituição e a democracia diz que se

faz apresentando o contraditório. Mas, vocês aqui não estão de

parabéns por apresentar o contraditório, mas por ser contra um

contraditório arbitrário de um vereador que chegou a esta Casa

– porque, infelizmente, professor Edvaldo Brito, muitas Casas

Legislativas estão mal frequentadas.

O nosso povo, às vezes, paga por isso. Infelizmente, nós,

cidadãos, temos que nos politizar e aprender a politizar os

nossos entes queridos, os nossos irmãos, para poder saber

votar. Porque a Cidade do Salvador, hoje, como a companheira

disse, que tem 83% das pessoas negras e onde só 9% dessas

pessoas estão nas universidades públicas deste Estado,

deveríamos e temos a obrigação de dar uma resposta. à altura

que vocês estão dando agora, mas dar uma resposta também

nas urnas, nas próximas eleições que estão por vir aí.

Companheiros e companheiras, pessoas como essas, me

perdoe a ousadia da palavra, nunca deveriam ter um único voto

sequer de uma pessoa negra, quer defender o animal, não é

dessa maneira, defender o animal é cuidar. Nós também somos

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raça humana. Nós somos animais, porém, animal vertebral. Nós

pensamos, nós não somos aqui outra coisa.

Quem de nós não gosta de ir a uma bela churrascaria, a

melhor que seja, para poder ter o direito a nos alimentar? Basta

ter condição. Alguns, em umas melhores, outros, em algumas

piores, e até nas nossas lajes, fazermos o nosso churrasco e

comermos uma galinha. Eu, por exemplo, sou fã de uma

galinha caipira, uma galinha de molho pardo, como minha

própria mãe me ensinou a fazer. Quer dizer que esse meu

direito, ele quer me tirar também? Isso é um direito que cada

um de nós temos e que querem nos tirar isso.

Está de parabéns, vereadora, quando, no momento, você

pôde propor essa audiência. Sabem por que, companheiros?

Você sabe que tem momentos da nossa vida que a gente tem

que pensar e dizer: “Há males que vêm para bem”. Porque se

não fosse este vereador, hoje vocês não estariam aqui

discutindo e trazendo não só este problema, onde essas

oligarquias que há muitos séculos nos perseguem, que tira de

nós os nossos direitos, mas é através desse momento que se

chama para a sociedade desta cidade a discussão de uma

religião onde muitos querem sacrificá-lo também.

Então, companheiros e companheiras, para concluir, eu

quero dizer que vocês estão de parabéns. E o Sindicato dos

Servidores da Prefeitura de Salvador, Sindseps, do qual eu faço

parte, está junto com vocês nessa luta e queremos dizer que

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estamos para o que der e vier. E não podemos permitir que

outro vereador tenha a ousadia de fazer o que esse fez.

E queremos ir mais além ainda. Esta Casa, ela tem um

dever moral de derrubar esse vereador é no voto, para mostrar

que ele tem que ficar sozinho. Sabe por quê? Porque vocês não

estão sozinhos, além de terem vários vereadores que cultuam

também, vocês têm muitos outros que mesmo não cultuando

apoiam, porque todos os seres humanos têm que ser

respeitados.

Muito obrigado a todos e a todas.

SR. VEREADOR EDVALDO BRITO: - Sr. presidente,

antes de V. Exa. encerrar a sessão, quero comunicar a todos

que amanhã vai haver a sessão da Comissão de Reparação, da

qual eu sou o presidente e que já fiz rodar na Casa que o

vereador Sílvio Humberto é participante também. Uma

convocação para que no dia de amanhã, nós escolhamos uma

data para uma sessão para discutir esse tema numa audiência

pública. Há males que vem para o bem, como eu vi agora, se

não fosse essa tentativa esdrúxula, idiota de nos atingir, nós

não estaríamos, portanto, mobilizados.

Além do mais, já estão confirmados os dois secretários

municipais, convocados por nós da comissão, para virem

discutir aqui, qual é a programação do governo municipal para

a assistência à saúde específica do negro nesta cidade. Por isso,

eu peço licença ao presidente, já que cantamos para Ogum no

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começo, encerrarmos com um Ageré bonito com a seguinte

cantiga, que quem está aqui sabe que eu quero dizer.

(Música).

SR. PRESIDENTE VEREADOR SÍLVIO HUMBERTO: -

Obrigado, professor Edvaldo Brito.

Antes de encerrar a sessão, eu gostaria que fosse

retirado os termos medieval e arcaico em relação à Bíblia,

porque não podemos “com ferro fere, com ferro será ferido”.

Então, em nome da pluralidade e esta é uma Casa da

democracia, gostaria que esses termos fossem retirados.

Declaro encerrada a sessão histórica que deu um basta

à intolerância religiosa.