sessao 2 - ficha 1

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José Antonio Santos de Oliveira. GROSS, Eduardo. Escrita e sacralidade. In. GROSS, Eduardo (Org.) Manifestações literárias do sagrado. Juiz de Fora: UFJF, 2002, p. 7-16. “A escrita existe para revelar. Ela quer mostrar e comunicar. É uma conquista humana notória. (...). (...), ao revelar a escrita também esconde. Ao invés da comunicação imediata existe a mediação dos signos; (...).” (GROSS, 2002. p. 7-8). Palavras-chave: Escrita. Revelar. Signos. “(...) a escrita traz em si (...) um elemento privilegiado na discussão sobre a religião. A força de um testemunho objetivo, material, parece por si só conferir uma aura de sacralidade a um texto. (...). A escrita seduz, possuindo um poder intrínseco. Mas a escrita também reduz, recorta a mensagem, relevando de forma oblíqua. (...). O mistério da escrita se baseia na ambiguidade entre o poder de autoridade objetiva, material, transmitida pelo passado e a fragilidade da ausência que este poder revela.” (GROSS, 2002. p. 8). Palavras-chave: Texto. Sacralidade. Poder. “(...) a escrita foi utilizada para transmitir mensagens sagradas. (...). (...) os legados espirituais da humanidade foram sendo registrados por escrito, seja com o objetivo de se compartilhar tais conhecimentos, seja com o objetivo de preservá-los. (...). Escrever é, pois, um ato em que se resguardam elementos da sacralidade de uma tradição. Mas é também um ato de conflito religioso. A leitura religiosa

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Religião e literatura

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Jos Antonio Santos de Oliveira. GROSS, Eduardo. Escrita e sacralidade. In. GROSS, Eduardo (Org.) Manifestaes literrias do sagrado. Juiz de Fora: UFJF, 2002, p. 7-16.

A escrita existe para revelar. Ela quer mostrar e comunicar. uma conquista humana notria. (...). (...), ao revelar a escrita tambm esconde. Ao invs da comunicao imediata existe a mediao dos signos; (...). (GROSS, 2002. p. 7-8).Palavras-chave: Escrita. Revelar. Signos.(...) a escrita traz em si (...) um elemento privilegiado na discusso sobre a religio. A fora de um testemunho objetivo, material, parece por si s conferir uma aura de sacralidade a um texto. (...). A escrita seduz, possuindo um poder intrnseco. Mas a escrita tambm reduz, recorta a mensagem, relevando de forma oblqua. (...). O mistrio da escrita se baseia na ambiguidade entre o poder de autoridade objetiva, material, transmitida pelo passado e a fragilidade da ausncia que este poder revela. (GROSS, 2002. p. 8).Palavras-chave: Texto. Sacralidade. Poder.(...) a escrita foi utilizada para transmitir mensagens sagradas. (...). (...) os legados espirituais da humanidade foram sendo registrados por escrito, seja com o objetivo de se compartilhar tais conhecimentos, seja com o objetivo de preserv-los. (...). Escrever , pois, um ato em que se resguardam elementos da sacralidade de uma tradio. Mas tambm um ato de conflito religioso. A leitura religiosa revela sempre uma concepo do sagrado, e revela a ausncia de outras concepes concorrentes. (GROSS, 2002. p. 8).Palavras-chave: Mensagens. Registro. Preservar.(...) a relao entre literatura e religio de forma alguma monoplio de textos a que se atribui algum tipo de sacralidade. (...) os textos considerados profanos espelharam a religiosidade que os envolvia. (...) grandes epopias da antiguidade textos nos quais a arte, histria e religio aparecem entrelaadas de um modo que s artificialmente podem ser analisadas de forma separada. (...). (...) as belas letras tm representado de uma forma toda particular a sacralidade. Se a representao do que sagrado exige a beleza formal como nico veculo digno, por outro lado riqueza esttica por si s parece ter sido vista como uma pretenso de revelar algo que transcende a mera formalidade. (GROSS, 2002. p. 8-9).Palavras-chave: Monoplio. Sacralidade. Beleza.No processo de constituio das tcnicas de interpretao textual no passou desapercebida a analogia formal entre textos ditos religiosos e textos considerados profanos. (...). A beleza de certos textos literrios levou a que se considerasse sagrados (...). (...), a literatura religiosa espalhada por todas as culturas humanas fornece exemplos inumerveis de narrativas ou poemas sagrados que so peas literrias de alto valor esttico. (...). Nenhuma literatura pode ter tcnicas de anlise e de interpretao que sejam prprias somente sua forma particular. (GROSS, 2002. p. 9).Palavras-chave: Tcnica. Anlise. Literatura. (...), nem todos os modos de se conjugar os estudos da religio e da literatura mostram um carter plenamente satisfatrio. Uma primeira forma de conjugao seria a que pressuporia uma aceitao dogmtica da sacralidade de determinado corpo textual utilizando os conhecimentos analticos e interpretativos como meros instrumentos para o desdobramento de uma verdade inquestionvel dada de antemo. (...) esta sempre interna a um grupo religioso particular. S quem reconhece a sacralidade prvia de um texto vai reconhecer como legtima uma limitao meramente instrumental aplicao da anlise de sua forma ou contedo. (GROSS, 2002. p. 9-10).Palavras-chave: Ligao. Dogmtica. Grupo.Uma segunda forma de conjugao destes dois campos de estudo se d com o exerccio de anlise de textos literrios comuns. O ponto de partida para isso uma obviedade: textos religiosos so textos literrios. (...). A mera aplicao de um mtodo de anlise a um texto, independentemente de sua situao, significa sempre uma reduo e, consequentemente, uma perda de sentido. (GROSS, 2002. p. 10).Palavras-chave: Obviedade. Reduo. Sentido.A prevalncia dessas duas formas de anlise da relao entre literatura e religio revela ainda o problema da ausncia de uma tradio estabelecida na anlise de elementos, pressupostos ou resqucios de religiosidade em textos literrios que no apresentam uma reivindicao de sacralidade. (GROSS, 2002. p. 10).Palavras-chave: Problema. Ausncia. Tradio.(...)a descoberta de um problema uma das grandes conquistas do esprito humano. A demonstrao de que algo merece um estudo mais aprofundado cria esperana esperana porque no humanamente suportvel viver com verdades prontas, totais. Justamente isso o que j nos dizem a literatura e a religio em si mesmas. Ambas vivem da ambiguidade de uma presena que revela uma falta. A analogia entre elas, ento, revela de forma ainda mais contundente que talvez ainda no saibamos o suficiente nem sobre a literalidade religiosa, nem sobre a religiosidade literria. (GROSS, 2002. p.11).Palavras-chave: Descoberta. Verdade. Ambiguidade.Um primeiro eixo mostra a presena de resqucios de elementos religiosos em meio ao mundo moderno. A pura profanidade deste mundo moderno parece ser uma realidade que no se realiza sem lembranas do sagrado nele, em princpio, no teriam lugar. Afinal, s pela contraposio a um sagrado que uma realidade profana pode se estabelecer. (GROSS, 2002. p. 12).Palavras-Chave: Resqucios. Religiosos. MundoUm segundo eixo aponta para a busca por fundamentos comuns religio e literatura. (GROSS, 2002. p. 12).Palavras-chave: Busca. Fundamentos. Comuns.(...), um terceiro eixo nos apresenta anlises literrias de textos religiosos. Ao mesmo tempo que estas anlises aplicam tcnicas de interpretao externas reivindicao religiosa que lhes intrnseca, o fazem sem uma pretenso reducionista. (GROSS, 2002. p. 12).Palavras-chave: Anlise. Tcnica. Reducionista.(...) as aparncias de um mundo ps-religioso no conseguem apagar totalmente elementos que representam ligaes com o mundo dos mitos e dos smbolos. (...) metamorfose do religioso no literrio a busca empreendida no texto. (GROSS, 2002. p. 13).Palavras-chave: Mitos. Smbolos. Metamorfose.(...) s deixando a poesia ser poesia, s permitindo a ela a existncia esttica que lhe prpria, que ela pode manifestar o nada que aponta para a sua origem. A que se estabelece uma relao complexa com a origem da linguagem religiosa. (GROSS, 2002. p. 14). Palavras-chave: Poesia. Origem. Relao.(...) o carter indizvel da experincia mstica a poesia surge como o recurso para transmitir essa experincia que no pode ser comunicada pela linguagem ordinria. (GROSS, 2002. p. 14).Palavras-chave: Mstica. Poesia. Recurso. A escrita existe para revelar o que, por vezes, parece obscuro aos nossos olhos e sentidos; ela um signo que requer intepretao para se chegar ao mais profundo de seus significados e mensagens e, de um modo privilegiado, ajuda na discusso sobre a religio e na religio, afinal, na maioria das vezes, todas as religies tm seu legado espiritual deixado por escrito, seja para guard-los ou transmiti-los. Ao passo que a escrita seduz, ela recorta. Esta ambiguidade, notoriamente presente na escrita, nos mostra o carter foroso de um estudo mais profundo que perpasse a religio e a literatura, visto que as letras nos seduzem pela beleza de sua esttica e nos revelam, mesmo que em recorte, como o passado foi vivido e entendido.Os elementos sagrados de uma tradio ficam resguardados pela escrita. O Ato de escrever guarda em si um conflito: ao passo que se faz conhecer a sacralidade, deixa de lado concepes contrrias, pois apenas registra aquilo de que lhe interesse. Como ento conjugar, fazer uma ligao entre literatura e religio? Primeiro, para que se faa tal ligao, preciso colocar de lado qualquer monoplio de sacralidade, posto que textos literrios e religiosos podem ou no possuir a mesma especificidade de sacralidade, a saber, os textos considerados mais profanos deixam transparecer a religiosidade que os envolviam. Em textos antigos se torna difcil analisar, de formas separadas, a sacralidade e a profanidade, pois estas aparecem entrelaadas.Nenhum tipo de literatura dispe de tcnicas peculiares apenas ao seu modo de interpretar, pois dessa forma estaria enviesando a intepretao. Notamos que h textos literrios com uma religiosidade profunda, e textos religiosos com uma literalidade exuberante, com a mais alta beleza esttica.Por vezes, muitos dos modos de se fazer a ligao entre literatura e religio se torna insatisfatrio, pois muitos aceitam a sacralidade como dogma j presente no texto, algo que nos traz um problema, pois nem todos os textos literrios tm em si a sacralidade vista desse modo, a no ser dentro de um grupo que aceitaria essa forma de ligao. Outra forma encontrada seria a da obviedade, que tambm traz um problema, pois uma mera aplicao de interpretao faz um recorte e consequentemente uma perda de sentido. Notamos que essas duas formas de se conjugar literatura e religio traz em si outro problema: a ausncia de uma tradio com elementos de religiosidade em textos literrios que no apresentem sinais de sacralidade.Quando o ser humano descobre problemas em quaisquer reas da existncia, a se faz necessrio um pouco mais de ateno e aprofundamento, pois no se espera verdades prontas, dogmticas, mas a busca incessante pela tentativa de buscar respostas para tais problemas. Esse o ambiente em que se situa a tentativa de conjugao entre literatura e religiosidade, a presena e a falta; mbito que evidencia que ainda no sabemos muita coisa sobre a literalidade religiosa e a religiosidade literria. Muitos so os caminhos por onde podemos fazer a ligao entre literatura e religio e podem ser divididos em eixos: encontrar resqucios de religiosidade em meio ao mundo ps-moderno, pois em meio profanidade o mundo no se realiza sem as lembranas do sagrado, a saber, pela contraposio a um sagrado que uma realidade profana pode se estabelecer; um segundo eixo nos leva a uma busca por fundamentos comuns religio e literatura e, por fim, um terceiro eixo que apresenta anlises literrias de textos religiosos, aplicando tcnicas de interpretao externas obviedade religiosa que lhes intrnseca e sem uma pretenso reducionista. fcil perceber que mesmo em um mundo ps-moderno no se apaga a ligao entre smbolos e mitos, e a transformao do religioso no literrio a empreitada da anlise dos textos. preciso deixar a poesia ser poesia, a literatura ser literatura, para que seja possvel estabelecer uma relao complexa com a origem da linguagem religiosa, pois a poesia e a literatura surgem como recursos para transmitir o carter indizvel da experincia mstica que no pode ser comunicada pela linguagem ordinria.