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SESC BRASIL n AGOSTO 2009 1
brASIL
J O R N A L I N T E R N O M E N S A L D O S E R V I Ç O S O C I A L D O C O M É R C I O
A G O S T O 2 0 0 9 - A N O 6 - N º 7 2 - D I S T R I B U I Ç Ã O N A C I O N A L - I S S N 1 9 8 3 - 7 6 2 3
entrevistaRepresentante da Unesco no Brasil, Timothy Ireland, fala sobre EJA e SESC LER
SeSc
Sala de aula de um dos oito Centros Educacionais do DR/AM inaugurados entre 2000 e 2004 Nesta edição Enciclo
pédia SESC:
Divisor de águasImplantado em várias cidades, o Projeto SeSc Ler muda para melhor a vida das pessoaspágs. 4 e 5
aconteceNo Paraná, Mesa Brasil SESCpresta contas online
Em setembro, mês de aniversário do SESC
e do JSB, o Jornal SESC Brasil traz novidades para você.
SESC BRASIL n AGOSTO 20092
PONTO De VISTA
eXPeDIeNTe
Antonio Oliveira Santos
Presidente do
Conselho Nacional
Maron Emile Abi-Abib
Diretor-Geral
Coordenação editorialSESC-DN/Assessoria de Divulgação e Promoção(Christiane Caetano, Marcella Marins, Denise Oliveira)Consultoria Editorial: Elysio Pires Jornal SESC Brasil é editado e produzido pela AG RioFotos - Banco de Imagem SESC NacionalJornalista responsável - Arlete Gadelha (MTb 13.875/RJ)Colaboraram para esta edição: Francisco Reis da Silva Leite (AC), Janayna Ávila e Danielle Cândido (AL),
Viviani C. de Freitas (AM), Juliana Coutinho (AP), Ivson Vivas (BA), Eugênia Cabral (CE), Marcus Alencar (DF), RS Comunicação (ES), Sandra Stefan (GO), Viviane Franco (MA), Miriam Braga (MG), Sueli Batista (MT), Virgínia Carromeu (MS), Lourdinha Bezerra (PA), Alex Marcio (PB), Ana C. Coelho (PI), Daniella Monteiro (PE), Karen Bortolini (PR), Keila Alves (RO), Catiúcia Ruas (RS), Roberta Sandreschi e Débora Murta Braga (SC), Aparecida Onias (SE) e Renato Pietro (TO). Impressão: Gráfica MinisterTiragem: 18 mil exemplares
AcONTece
Esta publicação segue as novas regras de ortografia da Língua Portuguesa
PrIMeIrO PASSO
n Teatro do Oprimido (DN)
O Departamento Nacional e o Ministério da Cultura
patrocinaram a 1ª Conferência Internacional de Teatro
do Oprimido, realizada pelo Centro do Teatro do Opri-
mido (CTO), no bairro da Lapa (RJ), de 20 a 26 de julho.
O evento teve a participação de pessoas de 25 países
e 16 estados brasileiros, que desenvolveram a pro-
gramação gratuita nos espaços Caixa Cultural (Teatro
Nelson Rodrigues e Teatro Arena, no Centro da cidade)
e CTO – no boêmio bairro da Lapa. A iniciativa foi um
tributo a Augusto Boal, teatrólogo falecido em maio de
2009. O homenageado via a cultura como um fator de
transformação dos indivíduos e da sociedade. Nome-
ado Embaixador Mundial do Teatro pela Unesco, em
março deste ano, Boal foi o criador do CTO, em cujos
laboratórios e seminários são elaborados e produzidos
projetos socioculturais, espetáculos teatrais e produtos
artísticos, tendo como base a Estética do Oprimido.
n Festival de Inverno mais quente em 2009 (rJ)
Pelo oitavo ano consecutivo o DR/RJ, subiu a serra
com o Festival de Inverno que aconteceu de 16 de julho
a 2 de agosto. Em 2009, as atividades se concentraram
nas cidades de Petrópolis e Teresópolis para evitar
grandes deslocamentos e oferecer mais conforto ao
público. Teatro, música, dança, literatura, cinema e artes
plásticas esquentaram o clima nas unidades: Espaço
Higino, SESC Teresópolis e SESC Quitandinha. O Qui-
tandinha apresentou peças como: Bibi Canta e Conta
Piaf, com Bibi Ferreira; Ensina-me a Viver, com Glória
Menezes; Dona Flor e Seus Dois Maridos, com Marcelo
Faria, Duda Ribeiro e Fernanda Paes Leme. Também se
destacaram no Festival os shows de Vanessa da Mata
e Alcione, apresentações de Ana Botafogo e Deborah
Colker, exposições sobre Ziraldo e Oscar Niemeyer, e a
literatura de Ruy Castro e Viviane Mosé.
Augusto Boal – o homenageado
Em seu discurso, na instalação do
1º Conselho Nacional do SESC em
1947, João Daut d’Oliveira reconhecia
os problemas sociais como “proble-
mas de massa e como problemas de
estrutura” e definia a ação do servi-
ço social como “instrumento de, não
apenas, alívio de situações individu-
ais desfavoráveis, mas também de
transformação e progresso social”.
Decorridos 57 anos, em 2004, o
Conselho Nacional aprova o texto das
“Diretrizes Gerais” que, seguindo o pensamento de nosso fundador,
reconhece “como necessário, o apoio àqueles menos favorecidos
dentro do processo competitivo pelo autodesenvolvimento e que
esse apoio, além de oferecer, objetivamente, melhores condições
materiais através da oferta de serviços, deve, sobretudo através
da ação educativa e transformadora, contribuir para que cada um
possa fazer mais, e obter mais, para si e para sua família”.
As histórias de vida de Eduardo Rodrigues, Marcolina da Cunha,
João de Deus, Wilson da Costa (páginas 4 e 5) e de milhares de
alunos e alunas que passaram pelo SESC LER, nos últimos dez anos,
são testemunhos de que os ideais de João Daut continuam orien-
tando as nossas ações.
A entrevista do representante da Unesco Timothy Ireland
(página 8) destaca a dignidade com que o SESC LER trata os alunos
e a “sua visão de alfabetização como parte de um processo maior”.
O reconhecimento pela Unesco da qualidade dos programas
de alfabetização e educação básica do SESC LER reforçam a nossa
convicção de que para a imensa maioria dos jovens e adultos que
passam pelos Centros Educacionais esse é apenas o primeiro passo
na construção de um futuro promissor.
Maron Emile Abi-Abib
Diretor-Geral do Departamento Nacional
SESC BRASIL n AGOSTO 2009 3
cUrTASn Multiplicadores (Se)
Em agosto o Regional em Sergipe
realiza mais uma edição do Encontro
de Agentes Comerciários (Enacom). O
evento, que acontece no Centro de Ativi-
dades Antonio Oliveira Santos, na cidade
de Nossa Senhora do Socorro, tem como
objetivo transformar os participantes em
agentes multiplicadores de informações
sobre as atividades, serviços e projetos
do SESC no estado. A expectativa é reunir
aproximadamente 200 comerciários.
n Orquestra de chorinho (MA)O Projeto Musicar prepara uma
Orquestra de Chorinho formada por
crianças e adolescentes de 11 a 16
anos, na Associação de Moradores
do Maiobão, comunidade carente da
grande São Luís.
n Maratona em Foz do Iguaçu (Pr)
Estão abertas as inscrições para
a Maratona Internacional de Foz do
Iguaçu. A antiga Maratona das Águas,
promovida pelo DR/PR, mudou de
nome em 2009, após unir-se à Asso-
ciação Internacional de Maratonas e
Corridas a Longa Distância (AIMS). A
prova acontece no dia 27 de setembro e
espera atrair cerca de 800 participantes.
n Mais e mais sorrisos (rS)
O DR/RS espalha sorrisos com o Pro-
grama Sorrindo para o Futuro. Depois de
atender mais de 192 mil crianças e rece-
ber o Prêmio Top Cidadania, em 2008, o
maior programa privado de promoção
da saúde escolar no estado espera aten-
der 210 mil crianças este ano. Para isso,
desenvolveu novas cartilhas educativas
que serão distribuídas junto a kits de es-
covação às 282 prefeituras participantes
no estado.
O sociólogo e filósofo francês Edgar
Morin proferiu uma palestra, dia 6 de
julho, no teatro da Escola SESC de Ensino
Médio, onde apresentou para professores,
alunos e convidados como: o Presidente
do Conselho Nacional do SESC, Antonio
Oliveira Santos, a Secretária do Ministério
da Educação, Maria do Pilar, entre outros, a
sua teoria do Pensamento Complexo, por
meio da qual propõe a interligação dos
conhecimentos, valoriza o complexo e com-
bate o reducionismo.
Ele defendeu a necessidade dessa in-
terligação entre os diversos saberes por
meio do engajamento do profissional de
educação: “O ensino deve incluir temas
globais e para isso é preciso a interdisci-
plinaridade. Um professor de história, por
exemplo, pode ampliar sua visão ao se
conectar com geografia, sociologia, eco-
nomia e outras disciplinas.”
Esta foi a segunda vez que Morin minis-
tra palestra na Escola, que conheceu antes
da inauguração no Rio de Janeiro, no final
de 2007. Entusiasta do trabalho realizado,
disse que a experiência da instituição pode
ser um passo importante para a reforma
educacional.
n No rastro das boas ações (Pr)
n Morin dá palestra na escola SeSc de ensino Médio (DN)
Morin: “A experiência do SESC pode ser um passo importante para a reforma educacional no Brasil”
n Juntos para não esquecer (Sc)
Seguindo a máxima que diz: “Exercitar
a memória desde cedo é o melhor remé-
dio para mantê-la em forma”, o DR/SC criou
a Oficina da Memória, com o objetivo de
ajudar os participantes a manter a mente
sempre ativa e evitar aqueles inconve-
nientes esquecimentos que atrapalham
qualquer um no dia a dia. A oficina surgiu a
partir de um estudo feito pela área técnica
do Regional em parceria com pesquisado-
res e especialistas da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Sob a supervi-
são da psicóloga Luciane Lemos da Silva,
os encontros acontecem na unidade SESC
Estreito até outubro e são abertos ao pú-
blico adulto, independente da idade.
n SeSc Praia tem novo centro de convenções (PI)O Complexo de Turismo e Lazer do SESC Praia, na praia do Barro Preto, em Luís
Correia, Piauí, inaugurou no dia 24 de julho um moderno centro de convenções com
capacidade para abrigar eventos nacionais e internacionais. O novo espaço tem um au-
ditório para 300 pessoas e salas de conferência com até 70 lugares, cada.
A partir de agosto o Mesa Brasil SESC ficará mais transparente no Paraná. O Re-gional criou um sistema de rastreamento das doações, que permite o monitoramen-to das entregas de alimentos às instituições beneficiadas. A responsável pelo projeto no estado, Dayane Bordignon, explica que “cada doador recebe um login e uma senha para ter acesso ao relatório de rastreabilida-de específico de sua doação, disponível no
site do Programa Mesa Brasil. É uma pres-tação de contas online e em tempo real”. O sistema foi desenvolvido em parceria com o DN, tomando como referência a exper-tise de empresas de logística. A demanda partiu da própria Direção do Regional, para aumentar a confiabilidade e segurança do programa que recebeu em 2009, até junho, 745 mil quilos de alimentos de 166 empre-sas doadoras no estado.
SESC BRASIL n AGOSTO 20094
MATÉrIA De cAPA
Há dez anos, o SESC LER rece-
bia seus primeiros alunos,
entre eles Marcolina Rosa
da Cunha, atualmente
com 69 anos e estudante
do Centro Educacional Presidente Médici
(RO). Da primeira aula, saiu chorando feito
criança, achando que nunca conseguiria
aprender a ler e escrever. Por morar longe,
Marcolina faltava muito, mas não desistiu.
Feliz com a transformação que aconte-
ceu na sua vida, comenta: “Antes só me
relacionava com os meus filhos e os ani-
mais domésticos, era ‘chucra’, não sabia
conversar com as pessoas. Hoje tenho
três famílias: meus filhos, o Grupo Jovem
Guarda (de idosos) e a Família SESC LER,
onde aprendi sobre meus direitos e deve-
res na sociedade em que vivo, a respeitar
as pessoas e exigir que me respeitem.”
semestre de 2008, a taxa de analfabetismo
prossegue em trajetória de queda no Brasil.
Em 2007, havia 14,1 milhões de analfabetos
com 15 anos ou mais de idade, o que dava
uma taxa de 10% da população. Em 2006,
essa taxa era de 10,4% e, em 1992, chega-
va a 17,2%. O SESC LER tem auxiliado nesse
processo quantitativa e qualitativamente.
Extensão da casaEduardo Rodrigues da Silva nasceu
em 1944. Era analfabeto, recém-separado
da família e levava a vida sem nenhuma
perspectiva. No SESC LER viu uma oportu-
nidade de mudança. Começou a estudar
no Centro Educacional em Vilhena (RO),
em 2001, na classe de alfabetização. Em
2006, concluiu o 1º Ciclo do Ensino Funda-
mental. Foi lá que ele se tornou um poeta e
radialista, sempre que pode divulga todos
os projetos e eventos promovidos pelo
SESC e aconselha aos seus ouvintes a es-
tudarem, exatamente como ele fez: “Ainda
não encontrei uma escola que me ensine
com tanto carinho e atenção como o SESC
LER, minha segunda família.”
Planejado para ir além da simples pres-
tação de serviços na área da Educação de
Jovens e Adultos, o projeto tem como meta
levar o desenvolvimento para regiões ca-
rentes do país, utilizando todo o potencial
da instituição em suas áreas de atuação:
educação, saúde, cultura e lazer.
Um dos seus princípios é o estabele-
cimento de parcerias com os governos
municipais. São eles que doam o terreno e se
comprometem a desenvolver as localidades
nas quais os Centros se inserem, por meio da
pavimentação de ruas, saneamento básico,
iluminação pública e, muitas vezes, até a ins-
talação de habitações populares. Em Tijucas,
na Grande Florianópolis, o Centro Educacio-
nal foi implantado numa região de lixão.
Ana Maria Teixeira Lima de Olivei-
ra, Orientadora Pedagógica, e Edson
Quaresma de Almeida, Encarregado Ad-
ministrativo, ambos há 10 anos no Centro
Educacional de Senador Guiomard, in-
formam que são, em parte, as atividades
desenvolvidas e programas implementa-
dos que contribuem para a permanência
da clientela e sua continuidade nos estu-
dos. Eles citam como exemplos: o programa
Ver para Aprender, que oferece atendi-
mento oftalmológico, desde a consulta à
aquisição de óculos e, quando necessário,
procedimento cirúrgico; eventos culturais,
SESC LER Xapuri (AC), um dos oito Centros Educacionais inaugurados em 1999
Projeto vai além dos bancos escolaresCentros Educacionais SESC LER influem positivamente na vida das pessoas.
Experiências como a de Marcolina se
repetem em cada um dos 65 Centros Edu-
cacionais, localizados em 18 estados do país.
Os primeiros foram inaugurados em 1999,
três no estado do Acre, nas cidades de Se-
nador Guiomard, Plácido de Castro e Xapuri,
e cinco em Rondônia: Ariquemes, Ji-Paraná,
Nova Mamoré, Vilhena e Presidente Médici.
Criado para atender à região ama-
zônica na área de Educação de Jovens e
Adultos (EJA), rapidamente se estendeu
ao Nordeste e chegou ao Sul do Brasil,
pelo estado de Santa Catarina. Primeiro no
município de Caçador (2002), depois Ca-
noinhas (2007) e, por último, Tijucas (2009).
De acordo com os dados da última Pes-
quisa Nacional por Amostra de Domicílios
(Pnad) do IBGE, divulgados no segundo Eduardo (esq.) já acabou seus estudos, mas conti-nua frequentando as atividades do SESC LER
Marcolina considera o SESC LER como uma de suas famílias
SESC BRASIL n AGOSTO 2009 5
como feiras de livros e shows com artistas
regionais; cursos profissionalizantes para
a melhoria da renda, como o de eletricis-
ta e instalador hidráulico; atendimento
odontológico, por meio do OdontoSESC,
também aberto à comunidade local.
As variadas atividades oferecidas tornam
possível realizações como a publicação dos
livros Mais que palavras (2006 e 2007), uma
seleção de textos em prosa e em verso pro-
duzidos pelos alunos do SESC LER Gurupi
(TO); ou a quarta edição,
em 2008, do Recital de
Poesias SESC LER Po-
xoréu (MT), por meio
do qual os estudan-
tes sobem ao palco e
recitam poesias de
escritores da cidade.
Com objetivo de
levar uma progra-
mação sistemática
de cinema para as
cidades contempladas pelo pro-
jeto, o Departamento Nacional assinou um
convênio com o Ministério da Cultura (MinC)
visando à implementação do circuito de
exibição digital de filmes nacionais. Com o
convênio, o MinC fornece equipamentos
de projeção para os Centros Educacionais
e, em contrapartida, o SESC adquire paco-
tes de filmes da Programadora Brasil. Ao
todo, 30 Centros Educacionais serão bene-
ficiados, sendo que 15 já receberam seus
equipamentos.
Na maioria das vezes, o Centro
Educacional é o único espaço social,
esportivo e de lazer na comunidade e
é mantido sempre de portas abertas. Lá
muitos comemoram
seus aniversários, 15
anos de filhas e até
casamentos.
Em vários Centros,
desde 2000, é desen-
volvido também o
Projeto Habilidades de
Estudo, direcionado às
crianças do 1º Ciclo do
Ensino Fundamental,
que ocupam os ho-
rários matutinos e
vespertinos, menos utilizados pelos
estudantes da EJA, em função do tra-
balho e afazeres domésticos.
As crianças frequentam o Habi-
lidade de Estudo no horário inverso
ao da escola, realizam as tarefas es-
colares e participam de atividades
pedagógicas, que objetivam à auto-
nomia intelectual e à ampliação do seu
universo sociocultural.
Mercado de trabalhoJoão de Deus Santos Martins, 40 anos,
e Wilson Souza da Costa, 31 anos, com-
provam que o SESC LER pode mudar para
melhor a vida das pessoas. Os dois estuda-
ram em Senador Guiomard (AC), entraram
no ano seguinte ao da inauguração, se
formaram e conseguiram conquistar me-
lhores empregos.
”Agradeço ao SESC o trabalho que tenho.
Antes fazia entregas em domicílio para uma
panificadora. Com bons professores, com-
pletei o Ensino Fundamental e fiz um curso
de eletricista no próprio Centro. Atualmente,
trabalho na área e consegui montar o meu
próprio negócio”, diz João de Deus.
Graças aos conhe-
cimentos adquiridos,
Wilson saiu de uma
fazenda e foi trabalhar
na construção civil: “Por
meio do SESC LER con-
segui arrumar o meu
primeiro emprego de
carteira assinada. Foi
lá também que tive
acesso a cursos profis-
sionalizantes como o
de eletricista, instala-
dor hidráulico e computação básica.”
Para manter em alta a eficiência a
equipe de docentes do SESC LER recebe
uma educação continuada, por meio de
cursos presenciais e a distância, além
de periódicos encontros como a quarta
edição da Semana Pedagógica do SESC
LER em Nova Mamoré (RO), onde foram
debatidos temas ligados à EJA.
A fim de dimensionar os resultados
que estão sendo obtidos, o projeto foi sub-
metido a uma avaliação que utilizou como
fontes de informações quatro diferentes
públicos: estudantes do último ciclo, egres-
sos que terminaram o curso, membros da
equipe (servidores) e representantes dos
diversos segmentos que interagem com
os Centros (veja box).
O SESC LER não para de crescer. Aos
atuais 65 Centros, vão se juntar mais três.
Um será inaugurado em outubro de 2009,
em Arapiraca (AL), e os outros dois estão
em construção, em Goiana (PE) e Samam-
baia (DF), com previsão de inauguração
para 2010. Este ano participam do projeto
cerca de 15 mil alunos.
Projeto vai além dos bancos escolares
Um dos casamentos realizado no SESC LER em Presidente Médici (RO)
Durante todo o ano de 2008, o Projeto SESC LER passou por
uma avaliação feita por técnicos da ONG Ação Educativa, es-
pecializada em análise de programas educacionais. Com base
numa amostra de oito Centros das regiões Norte, Nordeste e
Centro-Oeste, foi possível confirmar estatisticamente que o
projeto atinge seu público-alvo: 83,3% têm mais de 30 anos e
61,6% possuem renda bruta de até um salário mínimo.
Para Claudia Lemos Vóvio, coordenadora da avaliação, as
características do programa SESC LER são muito diferenciadas
dos demais programas de EJA existentes no país: “Ele é específi-
co, desde a infraestrutura, a criação dos Centros, passando pelo
modo flexível como organiza seu funcionamento, até o caráter
inovador de suas práticas educacionais que articulam interdis-
ciplinaridade no tratamento de temas e ações educativas e a
participação de todos os segmentos envolvidos e da comunida-
de.” O que mais chamou a atenção de Claudia foi o fato de um
projeto educativo causar impactos positivos de variadas ordens
nos municípios onde se encontra.
Avaliação positiva
SESC BRASIL n AGOSTO 20096
PreMIADOLeITOr
VeNceDOr DA eNQUeTe
Dicas ONDE IR
Casa Família Franzen – Construída em
madeira, entre 1913 e 1915, há mais de duas
décadas foi tombada pelo Patrimônio His-
tórico e transformada em museu.
A construção tem uma característi-
ca singular: as paredes do primeiro piso
são apenas encaixadas, sem utilização de
nenhum prego.
Lago Negro - As águas profundas, e de
um verde-escuro carregado, refletem a cor
dos pinheiros trazidos da Floresta Negra
da Alemanha. O lago é contornado por jar-
dins de azaleias e hortênsias. Outra atração
é o passeio de pedalinho.
Cascata do Caracol – A cascata fica em
Canela, a 6 quilômetros de Gramado. No local
é comum a prática de tirolesa ou o passeio
de teleférico para os menos aventureiros.
Paraíso de chocólatras – As fábricas
Prawer e a Caracol foram as duas indica-
das por Odirlei e Eunice, entre as muitas da
cidade. Durante a visita às lojas, os aprecia-
dores da iguaria conhecem a história do
cacau, acompanham parte do processo ar-
tesanal da produção e têm direito a provas
de diferentes tipos de chocolates.
Dois leitores contemplados
com viagens a Gramado
(RS), entre 2006 e 2008,
descrevem os encantos
do destino e dão dicas de
pontos turísticos da cidade, localizada no
alto da Serra Gaúcha. Gramado, segundo
eles, oferece surpresas que vão além das
hortênsias espalhadas em jardineiras nas
ruas e do estilo arquitetônico europeu de
suas casas.
O Analista de Produção do SESC Catan-
duva (SP), Odirlei Antonio Moretto e a gaúcha
Eunice Souza Barcelos da Silva, professora
de Geografia e Sociologia da Educação de
Jovens e Adultos (EJA) do SESC Palmas (TO),
tinham motivos diferentes e especiais para
vibrar com a premiação. Ele fazia planos para
conhecer o Sul do país com a
mulher. Para ela, nascida em
São Jerônimo, município que
fica a cerca de três horas de
Gramado, a viagem represen-
tava uma volta às origens.
“Fiquei emocionada quan-
do descobri que havia sido
sorteada. Na época, fazia dez
anos que eu não ia ao Sul,
onde vivi até os 46 anos. Ima-
ginem uma gaúcha, gremista,
de repente ter a oportunida-
de de voltar a respirar o cheiro
Chocolates artesanais, vinhos gaúchos e passeios na serra são atrativos do destino.
Sabores de GramadoSabores de Gramado
das rosas, do churrasco. Voltar a degustar o
saboroso vinho da Serra Gaúcha e ouvir o
sotaque dos pampas. Curtir aquele frio tão
familiar e tomar um bom chimarrão diante
de uma lareira, acompanhada pelo marido.
Só tenho a agradecer ao SESC pela realiza-
ção deste sonho”, afirma Eunice.
Odirlei destaca o atendimento, a culiná-
ria do Sul e as acomodações do hotel.
“Eu e Márcia, minha mulher, gostamos
de tudo. A caminho, tivemos a oportu-
nidade de experimentar o churrasco
gaúcho, em Porto Alegre. Na chegada ao
hotel, já em Gramado, fomos muito bem
recebidos e curtimos o luxo das acomo-
dações. Relaxamos à noite na piscina
aquecida, fizemos sauna e dormimos um
sono muito gostoso”, afirma.
A Auxiliar de Serviços Gerais da unidade SESC Arcoverde (PE), Ana Katya Alves Campelo, foi premiada com uma viagem ao Centro de Turismo e Lazer SESC Guaranhuns, região serra-na de Pernambuco. Ela teve seu cartão-resposta sorteado em meio a 762 cupons. Os 542 leitores que acertaram a pergunta da enquete responderam que Goiás passou a ter um Departa-mento Regional em 1948.
Odirlei ao lado de sua esposa e Eunice, nas fábricas de chocolate.
Fachada do Hotel SESC GramadoEunice em meio às flores Odirlei na Cascata do Caracol
Odirlei na Casa Família Franzen, visita imperdível
SESC BRASIL n AGOSTO 2009 7
Com o apoio dos pro-
fissionais das áreas de
Comunicação Social
dos Regionais, incan-
sáveis na busca de
informações exatas, uma viagem
por todo o Brasil e pelo tempo está
sendo orquestrada a várias mãos.
Tem gente ansiosa esperando
a vez do seu Regional. É o caso da
jornalista Keila Alves, Técnico Es-
pecializado em Comunicação do
DR/RO, que apesar do fascículo
de Rondônia ser o de número 22,
procurou conhecer com bastante
antecedência a estrutura do texto
a ser publicado em cada uma das
suas páginas:
“Quero levantar todas as in-
formações solicitadas com muita
tranquilidade e precisão. Acho a
produção da Enciclopédia SESC uma
ideia maravilhosa, gosto do que faço
e tenho muito carinho por esta insti-
tuição. Estou apenas há três anos na
Assessoria de Comunicação, mas foi
na Escola SESC, em Porto Velho, que
comecei os meus estudos.”
As páginas de cada fascículo
descrevem a história dos Regio-
nais – entremeada por dois a três
depoimentos de pessoas ligadas à
instituição –, apresentam sua linha
do tempo, uma mensagem do diri-
gente local e entrevista com uma
personalidade do estado que co-
nhece a atuação do SESC.
De acordo com Ivson Vivas Ma-
galhães, Analista de Divulgação e
Promoção Institucional do DR/BA
– fascículo número 5 –, não foi fácil
enfrentar o mundo dos arquivos à
procura dos fatos e fotos que fize-
ram a história do SESC Bahia:
“O trabalho de pesquisa foi
feito em equipe. Com o compro-
metimento de todos, foi possível
a construção de um cronograma
histórico do Regional. O sucesso
da Enciclopédia SESC se percebe
desde o primeiro encarte, sobre
o Acre, com projeto gráfico ex-
celente e qualidade do material
pesquisado. É um recurso para
gerações futuras de servidores e
interessados sobre o trabalho sin-
gular de nossa instituição.”
A próxima história a circular
será a do Departamento Regional
em Minas Gerais. Para completar
a coleção faltam 16 fascículos,
sendo 15 de Regionais e um do
Departamento Nacional, no qual
serão incluídas as histórias do
SESC Pantanal e da Escola SESC
de Ensino Médio.
enciclopédia SeSc: memória documentadaDirigentes, servidores e colaboradores falam sobre a importância para a instituição do resgate em fascículos de sua memória, por intermédio das realizações dos seus Departamentos Regionais.
“A Enciclopédia SESC foi uma excelente iniciativa do
Departamento Nacional. Por meio dela, é possível conhecer
as especificidades de cada Regional num país tão diverso.”
– Wilton Malta, Presidente do Sistema Fecomércio/SESC/
Senac – DR/AL
“Considero a edição do fascículo do DR/AP um aconteci-
mento da mais alta relevância para a instituição, pois mostrou a
trajetória construída com esforço e vontade de escrever muitas
outras páginas respingadas de alegria e beleza na história do
Amapá.” – Regina Valente, Diretora de Programas Sociais – DR/AP
“Na sociedade da informação, um dos desafios dos pro-
fissionais que trabalham com a memória é exatamente
preservar os fatos, acontecimentos e experiências vivenciados
no âmbito social, histórico e cultural. A Enciclopédia, organiza-
da pelo SESC, cumpre esse papel relevante.” – Tenório Telles,
escritor amazonense
“Em quatro páginas os fascículos da Enciclopédia SESC
mostram os anos de vida de cada Regional, em prol dos comer-
ciários e seus dependentes. ” – Mary-Nise Faria, Coordenadora
da Assessoria de Planejamento – DR/GO
“Sou um colecionador contumaz e adoro poder colecionar
a Enciclopédia SESC que, por meio de uma série de informa-
ções e entrevistas, me possibilita conhecer melhor o SESC e sua
história em cada Regional.” – Marco Aurélio Castro Rodrigues,
Técnico de Cultura do SESC Tubarão – DR/SC
“Além de uma ideia profícua e inovadora, a Enciclopédia
SESC é uma oportunidade de aprender um pouco mais sobre
o surgimento, acontecimentos marcantes e a importância das
ações da instituição em cada estado.” – Marcos Amorim da
Silva, Diretor Regional – DR/MT
Os 12 fascículos já distribuidos
SESC BRASIL n AGOSTO 20098
eNTreVISTA
Jornal SESC Brasil – Qual é a missão
da Unesco no Brasil?
Timothy Ireland – Em termos globais
a Unesco está empenhada em contribuir
ativamente para alcançar, em 2015, os Ob-
jetivos de Desenvolvimento do Milênio das
Nações Unidas, em especial os que têm por
meta a universalização do ensino primário,
a eliminação da disparidade de gênero na
educação básica, o combate ao HIV/AIDS,
malária e outras doenças e a busca da susten-
tabilidade ambiental. No campo especifico
da EJA, em consonância com as metas da EPT
(Educação para Todos), a Unesco se propõe
a cooperar na busca de meios para reduzir o
analfabetismo entre adultos em 50% e am-
pliar as oportunidades de aprendizagem dos
jovens e adultos.
JSB – Qual a importância dos progra-
mas de alfabetização de jovens e adultos
no país?
TI – Em primeiro lugar, friso a impor-
tância de programas de alfabetização
como instrumentos para garantir o direito
à educação de milhões de jovens e adultos
brasileiros. Entendemos a alfabetização
como parte de um processo que estabele-
ce o alicerce de todos os futuros processos
de aprendizagem e educação. Ao mesmo
tempo a alfabetização também é necessá-
ria para garantir o acesso a outros direitos:
os da saúde, da informação, do trabalho
decente etc.
JSB – O Programa SESC LER é chan-
celado pela Unesco, qual é o significado
desta chancela?
TI – A chancela da Unesco representa o reco-
nhecimento pela organização da qualidade dos
programas de alfabetização e educação básica
ofertados pelo Projeto SESC LER. Tal qualidade
é constatada em várias dimensões essenciais: a
visão da educação como um processo integra-
do à comunidade, a importância de instalações
adequadas para o processo educativo com
acesso a bibliotecas e espaços para o estudo, a
necessidade de permitir acesso a outros progra-
mas (saúde, esporte, lazer), a preocupação com
a formação dos educadores e com o material
didático utilizado nos processos educativos e o
reconhecimento da importância de processos
de avaliação tanto de aprendizagem quanto de
eficácia dos programas ofertados.
JSB – Que atributos do SESC LER o
senhor destaca como os mais importantes?
TI – Aos atributos já mencionados, acres-
centaria mais dois elementos importantes.
Primeiro, a dignidade com que o programa
trata os alunos e a sua visão de alfabetiza-
ção como parte de um processo maior. O
reconhecimento de que programas de curta
duração sem continuidade não resolvem o
desafio do analfabetismo ao mesmo tempo
em que não representam uma garantia
do direito à educação. Todos os brasileiros
possuem o direito a concluir, pelo menos, a
educação fundamental.
JSB – O que o senhor espera da Con-
fintea, a ser realizada pela primeira vez na
América Latina?
TI – Existe certo consenso sobre a neces-
sidade de avançar da retórica para a ação.
Desde a V Confintea realizada em Hambur-
go em 1997, claramente houve avanços – no
Brasil podemos citar como exemplos a cria-
ção do movimento dos fóruns estaduais de
EJA (pela sociedade civil) e a inclusão da EJA
no Fundeb (pelo governo federal) – mas em
termos gerais a expectativa que se criou em
Hamburgo não foi atendida. Os avanços foram
muito tímidos frente ao tamanho do desafio.
Lembraria que numa estimativa conservadora
ainda são 774 milhões de homens e mulheres
ao redor do mundo que não sabem ler e es-
crever dos quais dois terços mulheres. A crise
financeira atual tem mostrado que o obstáculo
não são recursos financeiros – os países indus-
trializados têm investido bilhões de dólares
para não permitir que certos bancos venham
a falir – o obstáculo maior continua sendo a
falta de vontade política. Assim, se espera que
a Conferência adiada para dezembro consiga
propor estratégias que incentivem a passa-
gem da retórica para a ação.
JSB – Daqui para frente: qual o melhor
caminho para evolução da EJA?
TI – Parece-me necessário fortalecer o
entendimento da EJA como uma parte im-
portante do processo de aprendizagem ao
longo da vida. Existem muitos espaços de
aprendizagem além da escola e instituições
de ensino, sem diminuir a importância desses
espaços formais de educação. Assim, acredi-
to que seja necessário reconhecer, explorar
e desenvolver as interfaces que a EJA tem
com diversas dimensões da vida – o mundo
do trabalho, o meio ambiente, a saúde, a ci-
dadania, o desenvolvimento sustentável, a
agricultura, a cultura e a paz mundial. A EJA
como parte do processo de aprendizagem
ao longo da vida pode nos ajudar a aprofun-
dar a nossa capacidade de aprender a ser, a
fazer, a conhecer e a conviver com os outros.
Num mundo repleto de conflitos e tensões,
os valores da fraternidade e da solidarieda-
de são valores fundamentais que exigem
uma base de entendimento comum que so-
mente processos de aprendizagem coletivos
podem construir.
eJA – garantia de acesso a cidadania
O mestre e doutor Timothy Ireland, especialista em edu-cação da representação no Brasil da Unesco (Organiza-ção das Nações Unidas para
a Educação, a Ciência e a Cultura), assumirá a coordenação da sexta edição da Conferên-cia Internacional de Educação de Adultos (Confintea), que ocorre a cada 12 anos. Pro-gramada para acontecer em Belém do Pará entre os dias 19 e 22 de maio, foi transferida por causa da influenza A (H1N1) para 1 a 4 de dezembro. Esta é a primeira vez que a Confintea será realizada na América Latina. Em entrevista, o ex-diretor do Departamen-to de Educação de Jovens e Adultos (EJA) do Ministério da Educação (2004 a 2007), fala sobre a Unesco, a EJA e o SESC LER.